Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Existe um crescente interesse tanto por parte da O objetivo deste trabalho é propor um conjunto de
indústria como por parte da academia na aplicação diretrizes para a implementação do fluxo contínuo
de conceitos e princípios do paradigma da na construção civil. Essas diretrizes estão baseadas
Mentalidade Enxuta (ME) para melhorar a gestão nos princípios básicos da ME e sugerem o uso
da produção na construção civil, em função da sua combinado de ferramentas tradicionais da ME com
ênfase a eliminação de perdas, incluindo os ferramentas de Planejamento e Controle da
estoques da produção. Um dos princípios Produção (PCP) usadas na construção civil.
fundamentais da ME diz respeito à implementação
de fluxo contínuo nos processos de produção, que Conceitos fundamentais
significa produzir uma peça de cada vez sem
interrupção entre estes, ou seja, sem geração relacionados ao fluxo contínuo
estoque. (WOMACK; JONES, 1996; ROTHER; Conforme definido acima, o fluxo contínuo é a
SHOOK, 1999). Contudo, as interrupções no fluxo produção apenas do que é exigido pelo processo
de trabalho são bastante comuns não só na seguinte, ou cliente final, sem geração de estoque
construção civil (KOSKELA, 1992), mas também (ROTHER; SHOOK,1999). O impacto imediato da
em outras indústrias de manufatura (LIKER, implementação do fluxo contínuo é a redução o
2004). Segundo Takahashi e Osada (1993), isso lead time, ou seja, o intervalo de tempo entre a
ocorre por vários motivos, entre os quais: entrada da matéria-prima até a saída dos produtos
variações da capacidade de produção nos postos de acabados. A retirada do estoque de produção é
trabalho, longo tempo de setup, desequilíbrio entre fundamental para que os problemas de produção
as cargas de trabalhos de dois processos sejam explicitados e resolvidos (LIKER, 2004;
consecutivos, ocorrência de defeitos de qualidade e WOMACK; JONES, 1996).
quebra de equipamentos.
Além da necessidade de eliminar (ou reduzir) os
Com freqüência, para reduzir o impacto desses estoques, existem outros conceitos importantes
problemas na produção, mantêm-se grandes relacionados ao fluxo continuo, como por
estoques, principalmente os estoques em processo exemplo, velocidade de produção e estabilidade. A
(work-in-progress). Como os sistemas de produção velocidade de produção é a taxa com que os
são instáveis, com elevada variabilidade e com produtos devem ser entregues aos clientes no
falhas na gestão de recursos, são necessários tempo solicitado, devendo a mesma ser definida
estoques para proteger a produção, os quais pelo tempo takt, o tempo disponível para atender a
escondem os problemas que deveriam aparecer uma determinada demanda por parte do cliente
para serem resolvidos (HOPP; SPEARMAN, (ALVAREZ; ANTUNES JÚNIOR, 2001).
1996).
A estabilidade é apontada como um pré-requisito
Uma possível estratégia para reduzir estoques é a para iniciar a implementação dos princípios da ME
aplicação do princípio do fluxo contínuo, que é (SMALLEY, 2005). Há na bibliografia
apontado como um mecanismo indutor de recomendações sobre como obter estabilidade, mas
melhoria de todo o sistema de produção. De fato, não há consenso sobre o seu significado. Smalley
Liker (2004) apresenta alguns benefícios (2005) define estabilidade básica como a
decorrentes da implementação do fluxo contínuo: previsibilidade geral e disponibilidade constante
criação de flexibilidade real, aumento da em relação à mão-de-obra, aos materiais, às
produtividade, identificação de pontos de maquinas e aos métodos, denominados pelo autor
ociosidade e sobrecarga de trabalho no sistema, de 4M’s. O mesmo autor sugere que, além da
liberação de espaço e redução do custo de disponibilidade dos recursos, estes devem ser
estoques. adequados às necessidades dos processos. Por
Na construção civil existem alguns trabalhos que exemplo, em relação à mão-de-obra, não basta
chamam a atenção sobre a necessidade de se disponibilizar o número de trabalhadores
gerenciar os fluxos de produção nos canteiros de necessários – estes devem ser capacitados. De
obras (KOSKELA, 1992; 2000; SANTOS, 1999). forma similar Smalley (2005) sugere também que
Contudo, existe neste setor um inadequado as máquinas tenham a capacidade instalada real
entendimento da natureza destes fluxos suficientes apenas para suprir a demanda e que
(KOSKELA, 1992), em parte porque alguns dos exista um eficiente sistema de gestão cadeia de
conceitos envolvidos na implementação do fluxo fornecedores de forma que garanta a confiabilidade
contínuo na manufatura necessitam de adaptações. de entrega e qualidade dos materiais.
Liker e Meier (2007), por sua vez, definem medição de desempenho (BALLARD; HOWELL,
estabilidade como a capacidade de produzir 1998).
resultados coerentes e sistemáticos ao longo do
tempo, e a relacionam à melhoria contínua. Em um Ferramentas para
estudo empírico na produção de peças pré-
fabricadas de concreto, Samaniego (2007) implementação de fluxo
relaciona a estabilidade à quantidade de vezes que contínuo
os processos seguem parâmetros pré-definidos, tais
como a seqüência planejada e pouca variação nos Para implementação do fluxo contínuo, Rother e
tempos. Shook (1999) e Rother e Harris (2002) propõem a
seguinte seqüência de aplicação de ferramentas:
Na construção civil o conceito de estabilidade é
utilizado por Ballard e Howell (1998) para (a) elaboração de um mapa do estado atual do
descrever o impacto da implementação do Sistema sistema de produção;
Last Planner em empreendimentos de construção, (b) identificação, a partir deste mapa, dos
principalmente nos níveis de médio e curto prazos. processos que apresentam potencial de
No médio prazo são identificadas e removidas implementação de fluxo contínuo;
restrições e o curto prazo tem o papel de atribuir
pacotes de trabalho às equipes envolvidas (c) proposição do mapa de estado futuro no qual
diretamente na execução da obra, por meio de um se pode obter fluxo contínuo com base nas
processo participativo e sistemático (BALLARD; oportunidades de melhoria identificadas;
HOWELL, 1998; BALLARD, 1997). Em (d) detalhamento do processo, mudando para uma
comparação aos 4M’s (SMALLEY, 2005), no Last perspectiva mais operacional, por meio do Gráfico
Planner o plano de médio prazo enfatiza a de Balanceamento do Operador; e
necessidade de gerenciar vários tipos fluxos à
(e) elaboração da Tabela do Trabalho
montante da produção, similar aos 4M’s propostos
Padronizado Combinado.
por Smalley (2005), além de outros que são típicos
da construção civil, tais como espaço, projeto, e A seguir, é apresentada uma breve descrição de
instalações provisórias. cada uma dessas ferramentas (ROTHER; SHOOK,
1999; ROTHER; HARRIS, 2002):
Em relação à redução da variabilidade, Liker e
Meier (2007) apontam que a falta de estabilidade é (a) Mapa do Fluxo de Valor (MFV): seu objetivo
resultado da variabilidade de processos. Smalley é identificar a ocorrência de desperdícios e tentar
(2005) enfatiza a necessidade do trabalho eliminá-los por meio de um projeto do sistema de
padronizado para alcançar a estabilidade básica, no produção, ou seja, um estado futuro do sistema, no
qual devem ser estabelecidos procedimentos qual se adote o fluxo contínuo e a produção
precisos (altamente detalhados) para o trabalho dos puxada. Neste mapa são representadas todas as
operadores (MONDEN, 1993; SPEAR; BOWEN, etapas envolvidas nos fluxos de material e
1999). informação, necessárias para atender aos clientes,
desde o pedido até a entrega;
No Last Planner existem mecanismos para
conviver com a variabilidade inerente ao contexto (b) Gráfico de Balanceamento do Operador
da construção civil, incluindo o mecanismo de (GBO): após o MFV faz-se uma investigação
proteção da produção (shielding production) detalhada dos processos para balancear (igualar o
através dos seguintes processos: tempo de processamento) e otimizar o tempo do
operador. Para essa investigação usa-se o GBO,
(a) criação de uma janela de confiabilidade no
ferramenta que auxilia na distribuição do trabalho
horizonte de curto prazo, através da programação,
dos operadores em relação ao tempo takt. A
apenas, de pacotes de trabalho que tenham todas as
elaboração do GBO é composta por algumas
suas restrições removidas; e
etapas como: identificação dos elementos do
(b) estabelecimento de pacotes de trabalho trabalho1; eliminação do trabalho desnecessário
suplentes (tarefas reserva) no horizonte de curto (operações e processos que não agregam valor);
prazo, com todas as restrições removidas, caso medição dos tempos de cada elemento de trabalho
ocorram problemas no decorrer da semana que não com cronômetros; e distribuição do trabalho.
podem ser previstos anteriormente.
(c) Tabela de Trabalho Padronizado Combinado
Com relação à melhoria contínua, o Last Planner (TTPC): é elaborada após o GBO, na qual se tem
possui mecanismos eficazes para implementá-la, um desenho de operações mais detalhado. A
por meio de mecanismos de participação,
estabelecimento de curtos ciclos de controle e a 1
Definido como o menor incremento de trabalho que pode ser
transferido para uma outra pessoa (LEAN..., 2003).
principal diferença entre esta e o GBO é a determinação do seqüenciamento e dos ritmos dos
interação entre os diferentes operadores. processos-chave, considerados como elementos
Além das ferramentas apresentadas acima, no fundamentais para o estabelecimento de um tempo
takt para a obra; e
presente trabalho adotou-se a Linha de Balanço
(LB) no planejamento de longo prazo. Existe uma (b) aplicação das ferramentas MFV, GBO e TTPC
bibliografia bastante ampla sobre esta técnica para elaboração de uma proposta de
(ARDITI; ALBULAK, 1986; PRADO, 2002), mas implementação do fluxo contínuo.
só recentemente a sua aplicação passou a ser O trabalho foi divido em três etapas. Na primeira
discutida pela comunidade acadêmica interessada etapa, denominada de diagnóstico, foi realizado
na Produção Enxuta (SEPPÄNEN; KANKAINEN, uma análise do sistema de produção e elaborado o
2004). Entre os conceitos relacionados ao fluxo plano de longo prazo do empreendimento. Ainda
contínuo explicitamente utilizados na LB,
nesta fase, usaram-se o MFV do apartamento
destacam-se o tamanho do lote, tempo de ciclo e
padrão para auxiliar a identificação de alguns
ritmo de processos (BULHÕES; FORMOSO, problemas da produção, principalmente os
2004; SCHRAMM; RODRIGUES; FORMOSO, relacionados ao trabalho em progresso. Na
2006). segunda etapa, denominada de proposta de
implementação do fluxo contínuo, foram
Método de pesquisa selecionados os processos que poderiam ocorrer
em fluxo contínuo, e elaborados os mapas de fluxo
A estratégia de pesquisa adotada foi a pesquisa- de valor por processo, o GBO e a TTPC. Na
ação, definida por Thiollent (2005) como um tipo
terceira etapa foram feitas as análises dos dados,
específico de pesquisa com base empírica que é
sendo os resultados posteriormente discutidos com
concebida e realizada por meio de uma ação em
a direção da empresa. Em função problemas
que os pesquisadores e algumas pessoas
relacionados à disponibilidade de recursos na obra,
participantes da situação ou do problema estão
a proposta de melhoria não foi implementada pela
envolvidos de modo cooperativo. A realização da
empresa, que optou por alterar o sistema de PCP,
pesquisa-ação foi justificada principalmente pela
visando a obter estabilidade básica.
necessidade de realizar intervenções em
organizações para propor diretrizes para As etapas 2 e 3 caracterizaram-se pela
implementar fluxo contínuo em obras, a partir da permanência da pesquisadora na obra (num
abstração de conceitos que são utilizados na período de oito dias) e pela realização de
manufatura e a sua adaptação para a construção sucessivas reuniões entre pesquisadora, gerente de
civil. contrato e engenheira de planejamento. Além
desses intervenientes, foram envolvidos nas
Foram realizados dois estudos empíricos, em duas
decisões o representante do cliente e o diretor de
obras distintas, executadas por diferentes
suprimentos.
empresas. O primeiro estudo, realizado na obra A
teve como objetivo compreender os principais A obra B tratava-se de um condomínio horizontal,
elementos do fluxo contínuo no contexto de obras na cidade de Campinas - SP, formado por 59 casas.
de edificações e identificar os requisitos A obra teve o prazo de vinte meses, sendo que a
necessários para a sua implementação. O segundo mão-de-obra era totalmente subcontratada. Ao
estudo, realizado na obra B teve como objetivo longo da pesquisa foram estabelecidas proposições
investigar a estabilidade básica, considerada, no relacionadas ao uso do sistema Last Planner
trabalho, como um pré-requisito para a (BALLARD; HOWELL, 1998) como forma de
implementação de fluxo contínuo. obtenção da estabilidade básica.
A obra A consistiu na construção de um hotel, O trabalho foi dividido em três etapas. A primeira
localizado em Natal-RN, com cerca de 20.000 m² etapa, denominada de diagnóstico, iniciou-se por
de área construída, 397 apartamentos localizados uma reunião com os principais envolvidos na
em sete pavimentos, distribuídos em nove blocos gestão da obra (engenheiro da obra, assistente
distintos (A, B, C, D, E, F, G, H e I). A obra tinha técnico e mestre de obra) na qual se fez uma
o prazo de execução de dezessete meses e a mão- análise do PCP existente na obra. Neste período
de-obra era toda sub-contratada. fez-se, também, um estudo dos tempos de ciclos
dos processos produtivos em execução na obra. Na
A partir da revisão bibliográfica e observações
segunda etapa, denominada de melhorias no PCP,
iniciais em obra, foram formuladas as seguintes
optou-se por focar os trabalhos na melhoria do
proposições de pesquisa:
sistema de PCP, com base no Sistema Last
(a) utilização da Linha de Balanço como técnica Planner para obtenção da estabilidade básica, ao
de planejamento de longo prazo, por enfatizar a invés de propor diretamente a implementação do
fluxo contínuo. Nesta etapa foram implementados hierarquização do mesmo. A versão inicial deste
os níveis de planejamento de médio e curto prazos, plano havia sido elaborada pela engenheira de
adotando-se a LB como plano de longo prazo. A planejamento, que semanalmente o atualizava e
LB foi elaborada em conjunto por um dos apresentava em reunião com gerência da obra e
pesquisadores, o assistente técnico e o mestre de representante do cliente. A partir da atualização do
obras. Nesse processo foram introduzidos alguns plano, a engenheira fazia uma lista com as
conceitos de ME, tais como a redução do tempo de atividades que deveriam ser executadas na semana.
ciclo e identificação de processos que poderiam Entre os problemas observados no PCP, destacam-
ocorrer em fluxo contínuo. Na terceira etapa foram se os seguintes:
feitas as análises dos dados e posteriormente os (a) falta de programação de recursos (materiais,
resultados foram apresentados e discutidos com equipamentos e mão de obra) vinculada ao PCP;
representantes da empresa. As etapas 1 e 2
ocorreram ao longo de oito meses, sendo a (b) falta de definição do seqüenciamento de
principal fonte de evidência a participação da execução das atividades; e
pesquisadora em reuniões de curto e médio prazo (c) grande quantidade de estoque em processo; e
ao longo deste período.
(d) atrasos na entrega dos projetos executivos, os
Houve algumas importantes conexões entre os dois quais eram elaborados na própria obra por uma
estudos empíricos. O estudo empírico 1 permitiu a equipe de projeto local.
compreensão dos principais elementos do fluxo
contínuo e os requisitos para a sua implementação, A partir destes problemas, decidiu-se utilizar a LB
contribuindo para a estruturação do estudo 2, cujo para o planejamento de longo prazo. No 0 estão
foco foi a compreensão do papel do PCP na apresentadas algumas informações utilizadas para
criação da estabilidade básica. gerar a LB, cujos dados foram definidos em uma
reunião envolvendo a pesquisadora, a engenheira
de planejamento e o sub-empreiteiro de divisórias
Resultados dos estudos de gesso acartonado (dry wall), com base na
Estudo empírico 1 experiência de obras anteriores.
Em função da obra estar na fase de estrutura, não
Diagnóstico, elaboração do novo plano de
havia representantes de outras equipes para
longo prazo e MFV atual
participar da discussão dos ritmos adotados na LB.
No início deste estudo constatou-se que o plano de A partir dessas informações, elaborou-se a LB
longo prazo existente era informatizado e apresentada na 0, para um dos blocos do
excessivamente detalhado, não existindo uma empreendimento.
MU
MU
MU
MU
7 46
Chapisco
45
44
43
6 42
41
40
39
38
Figura 1 - Extrato da LB
5 37
36
35
PCP cronograma
Cliente
Fornecedores
Prazo: 17 meses
20.000 m²
Número de
apartamentos:: 397
E E E E E E E E E
T/C=1,5 h
T/C = 6,6 h T/C = 11 h T/C = 52,8 h T/C=2,9 h T/C=4,4 h T/C=1,5 h T/C=1,5 h T/C=1,5 h T/C=1,5 h
Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap Lote = 1 ap
1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno 1 Turno
Envoltória 1 Envoltória 2
87d
6d 2d 29d 17d 14d 9d Ø Ø Ø Ø
85h
6,6 h 11 h 52,8 h 2,9 h 4,4h 1,5h 1,5h 1,5h 1,5h 1,5h
Na LB (0) estão apresentados o seqüenciamento e por exemplo, períodos em que não ocorrem
os ritmos planejados dos principais processos quaisquer atividades, principalmente em função
envolvidos na execução do apartamento padrão, e dos processos terem ritmos diferentes e da postura
buscou-se, também, incorporar algumas melhorias por parte da gerência da obra de utilizar grandes
em relação ao plano de longo prazo existente, tais estoques e folgas para evitar interrupções e
como: interferências entre as equipes.
(a) redução do tamanho do lote, por meio da Após a elaboração da LB, passou-se para a
divisão das zonas de trabalho por apartamentos, ao elaboração do MFV atual do apartamento padrão,
invés de pavimentos; com a representação dos principais processos
(b) sincronização2 dos diferentes sub-processos envolvidos na sua execução. Os processos
do dry wall, ao contrário da prática corrente de se analisados no mapa foram obtidos diretamente da
dar um ritmo maior aos sub-processos iniciais LB. Porém, visando a reduzir o número de
(normalmente instalação de montantes). Esta processos, algumas mudanças no agrupamento das
sincronização foi obtida por meio de um atividades foram feitas:
redimensionamento das equipes; (a) marcação e dry wall 1 (redenominado dry wall
(c) introdução de folga planejada entre os sub- 1);
processos dry wall 1 e instalação 1, em função de (b) instalação 1, dry wall 2 e impermeabilização
problemas de projeto; e (redenominado dry wall 2); e
(d) busca pela redução de estoques em processo. (c) esquadria de alumínio, guarda-corpo e gesso
Porém, conforme observado na 0, houve limitações do shaft (redenominado esquadria de alumínio).
na implementação destas melhorias. Observam-se, Os estoques entre processos foram extraídos
também da LB, considerando-se as folgas na
execução do apartamento 23 (0), ou seja, a posição
2
Significa alcançar continuidade no fluxo de materiais média na LB, que tinha 46 apartamentos).
(produtos) entre as estações de trabalho através da retirada do
estoque em processo (BLACK, 1998)
PCP
Fornecedores
Cronograma Próximo
processo
E E E E
3,8 d
Ø 2d Ø
15,4 h
2,2h 4,4h 4,4h 4,4h
PCP
Fornecedores Cronograma
Próximo
processo
1d 2,4 d
12,1 h
5,5h 6,6h
6 x Takt time
55.08 h 50
69h Piso do banheiro
T/C = 34 h 34 h
30
20
39h Piso e rodapé do quarto
11 h
10
1 2 3
11h Tabeira da varanda Legenda
1 Trabalhador 1
3h Soleira da varanda
1h Soleira do banheiro 2 Trabalhador 2
3 Trabalhador 3
(a) (b)
Figura 6 - Conteúdo do Trabalho (a) e Gráfico do Balanceamento do Operador (b)
Foram propostas duas equipes de trabalho com estoque do tipo supermercado 3 tipo seqüencial
dois processos cada. Diminuiu-se o tamanho do entre as células com estoque controlado de, no
lote de transferência entre a marcação e o dry wall máximo, um apartamento. Esse estoque não
1 de 1 para ½ apartamento, reduzindo-se o TAV de poderia ser eliminado devido e a falhas de
15,4h para 12,1h. Foi proposto também um execução, detectadas no processo de marcação, e à
3
Estoque controlado de peças, no qual é armazenada uma
quantidade controlada de cada item produzido.
4
Dado extraído da LB.
3xTT=27,5 hs
T/C=24 hs 25
24 Piso e rodapé Piso banheiro
quarto
21 Piso e rodapé
20 quarto
Piso varanda
15 Parede
Banheiro
Tabeira Varanda
10
Soleira Varanda
Soleira Banheiro
0
1 2 3
para discussão e proposição de melhorias com os avaliar o avanço físico, sendo mensalmente
gestores da obra. produzido um gráfico comparando a produção
A aplicação do mapeamento do fluxo de valor prevista em relação à realizada. A empresa
utilizava um sistema de informação ERP
atual e futuro de processos de produção
considerados como críticos foi eficaz para (Enterprise Resource Planning), no qual os dados
identificar desperdícios e propor um conjunto de referentes ao avanço físico eram inseridos.
melhorias. Neste sentido, o roteiro proposto por Mensalmente, existia na empresa uma reunião com
todos os engenheiros e coordenadores de obra com
Rother e Shook (1999) contribuiu para estruturar a
o gerente de produção da regional, na qual eram
tomada de decisão referente à implementação de
conceitos e ferramentas da ME. O uso da GBO apresentados os resultados das obras no período.
permitiu distribuir grupos de operações entre os Porém, tanto o cronograma como o plano de longo
prazo inserido no ERP estavam desatualizados e
funcionários envolvidos na produção, visando
obter um balanceamento das equipes. Foi proposta não refletiam a realidade da obra.
a utilização da Tabela de Trabalho Padronizado Não havia um planejamento formal dos principais
Combinado para planejar o trabalho das equipes de fluxos das equipes, porém informalmente existia
forma explícita e controlar os fluxos de trabalho. um seqüenciamento para a execução das casas,
sendo a obra dividida entre dois sub-empreiteiros.
Na discussão final, a diretoria da empresa
Também não haviam sido definidos ritmos de
compreendeu o grande potencial para
implementação do fluxo contínuo. Porém, como a produção dos processos já iniciados: cada sub-
obra ainda enfrentava problemas relacionadas a empreiteiro tinha um ritmo de trabalho diferente,
contribuindo para o aumento da variabilidade em
falta de estabilidade básica, principalmente em
relação ao tempo de ciclo da execução desses
relação ao fornecimento de materiais e de mão-de-
obra capacitada. Por esta razão, a empresa optou processos. A 0, na qual são apresentados os
tempos de ciclo dos processos de radier, alvenaria
por priorizar a implementação do PCP
inferior e primeira laje, ilustra esta variabilidade.
hierarquizado, incluindo reuniões de médio e curto
prazo, para prioritariamente se identificar e Por exemplo, o radier foi executado, em média,
em 4,5 dias, variando entre 4 e 11 dias. Os dados
remover restrições.
do tempo de ciclo foram coletados durante três
meses, para todos os serviços executados neste
Estudo empírico 2 período.
Diagnóstico do PCP Após o diagnóstico, foram propostas ações de
No início do estudo, o planejamento da obra melhorias no PCP para aumentar a estabilidade,
limitava-se a um cronograma detalhado, não visando a criar condições iniciais para a
existindo outros níveis formais de planejamento. implementação do fluxo contínuo. Essas ações
Este plano era utilizado como referência para foram baseadas no Sistema Last Planner.
30
25,0
Tempo de ciclo (dias)
25
20
16,7
16,0
15
12,0 12,0
11,0
8,7 8,5
10
6,0
4,5 4,0
5
3,0
0
Radier Alvenaria Inferior Primeira laje
Processos
Produção média Produção Mediana Produção Máxima Produção Mínima
Louças e metais
Limpeza grossa
Limpeza fina
Nov
Out
Massa Corrida
Bancada
Ago
Batentes
Maio
Massa externa
Contra piso
Cobertura
Mar fev/07
Alvenaria - 2 pav
jan/07
Processos internos
Radier
Dec/06
LEGENDA
Radier
27-28
58-59
43-44
41-42
39-40
37-38
35-36
33-34
45-46
53-54
29-30
31-32
47-48
17-18
19-20
21-22
23-24
25-26
49-50
51-52
55-56
15-16
13-14
11-12
9-10
7-8
5-6
3-4
57
Figura 10 - LB da obra
No planejamento em nível de médio prazo, propôs- variabilidade de 19%. Nota-se claramente uma
se um horizonte de tempo de três meses e re- tendência de melhoria e de estabilidade no
planejamento mensal. Porém, este plano foi indicador PPC, com exceção de duas semanas, nas
realizado somente uma vez pela falta de quais ocorreram chuvas intensas na obra.
disponibilidade de tempo da equipe da obra. No Com relação às causas do não cumprimento de
curto prazo foram realizadas reuniões semanais, planos, observaram-se que os maiores problemas
que tinham a duração em torno de uma hora. A foram referentes ao planejamento e aos
intervenção realizada foi bem sucedida no sentido
suprimentos (0a). Dos problemas relacionados ao
de rotinizar e formalizar as reuniões de curto
planejamento verificou-se que os maiores
prazo, as quais sempre contavam com a percentuais eram relacionados à equipe produzindo
participação dos representantes das equipes de abaixo do planejado, à falta de mão de obra do
produção.
empreiteiro, à falha na programação de tarefas e ao
Para avaliar a eficácia do planejamento foram pacote de trabalho grande demais (0b). Com
utilizados os indicadores de PPC e as causas do relação aos suprimentos, verificou-se que e 10%
não cumprimento destes pacotes. Também foi dos problemas se relacionavam com a falta de
monitorado o tempo de ciclo de alguns processos. material. Ou seja, a maioria dos problemas era
Na 0 está apresentado o gráfico contendo o PPC ao interna à empresa e poderiam ser reduzidos através
longo do estudo. O PPC médio foi de 78%, com de melhorias na própria implementação do PCP.
desvio padrão de 15% e coeficiente de
(a) (b)
Figura 12 - Causas agrupadas e causas desdobradas dos não cumprimentos dos planos
35
29,0
30
Dias trabalhados
25
20
15 14,0 14,0
11,5 11,0
10,6 10,5
10 9,0
7,2 7,0
6,0 6,2 6,0
5,0
5 4,6 5,0 4,0 4,0 4,0
3,0
0
Radier Alvenaria Inferior Primeira laje Alvenaria superior Segunda laje
Processos
Produção média Produção Mediana Produção Máxima Produção Mínima
Ponto de
partida
Empreendimento
Unidade Repetitiva
Divide-se
em
Focos na Sub-Processo
implementação Detalha-
do fluxo se em
contínuo Operação
Figura 14 - Hierarquia de níveis de análise