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BRUNA FONTANA

PRISÕES CAUTELARES E AS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Projeto de Monografia apresentado ao curso de


Bacharelado em Direito, Escola de Direito e Relações
Internacionais, Faculdades Integradas do Brasil –
UniBrasil.

Orientador: Prof. Ms. Valmor Antonio Padilha Filho

CURITIBA
2017
1

1 APRESENTAÇÃO

No sistema do Código de Processo Penal de 1941 a prisão em flagrante significava


presunção de culpabilidade e a prisão se convertia automaticamente em prisão cautelar, sem
qualquer decisão judicial.
Ademais, no antigo Código de Processo Penal, existiam cinco tipos de prisão cautelar,
sendo elas: prisão em flagrante, prisão preventiva, prisão temporária, prisão decorrente de
pronúncia e prisão decorrente de sentença recorrível. As últimas duas eram evidentemente
contrárias ao principio da presunção de inocência, antecipando-se o Juízo de culpabilidade.1
Após o advento das Leis 11.689/2008 e 11.719/2008 passaram-se a existir apenas
três espécies de prisão cautelar: flagrante, preventiva e temporária.
Atualmente, com o advento da lei de reforma do Código de Processo Penal, existem
duas hipóteses de prisão cautelar: preventiva e temporária. A prisão em flagrante, quando
presente os requisitos, deve ser convertida em prisão preventiva.2
A prisão temporária não foi diretamente modificada pela Lei n. 12.403/2011.3
“A maior inovação desta reforma do Código de Processo Penal em 2011, ao lado da
revitalização da fiança, é a criação de uma polimorfologia cautelar, ou seja, o estabelecimento
de medidas cautelares diversas da prisão, nos termos do artigo 319, rompendo com binômio
prisão-liberdade, até então vigente”.4
Várias são as medidas cautelares alternativas colocadas a disposição do juiz, estando
presentes no art. 319 do Código de Processo Penal. Com isso, a prisão cautelar deve ocupar
sua posição de extrema ratio da ultima ratio, que é o direito penal, em outras palavras “ a
prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar” (art. 282, parágrafo 6º do CPP). 5
A aplicação das medidas cautelares previstas na Lei 12/403/2011 deve obedecer ao
binômio: necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal
e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais e adequação

GOMES, Luiz Flavio; MARQUES, Ivan Luís. Prisão e Medidas Cautelares.3. ed., São Paulo: Revista dos
1

Tribunais, 2012. p. 21-22.


Idem.
2

LOPES JUNIOR., Aury. Prisões Cautelares. 4 ed., São Paulo: Saraiva, 2013. p. 165.
3

Ibidem, p. 145.
4

GOMES, Luiz Flavio; MARQUES, Ivan Luís. Op., cit., p. 23-24..


5
2

da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou


acusado”, conforme Art. 282, incisos I e II do Código de Processo Penal.

2 OBJETO E OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Realizar a revisão bibliográfica sobre o tema, analisando a respectiva evolução


doutrinária, jurisprudencial e normativa, aprofundando o estudo sobre a importância da
aplicação das medidas cautelares diversas da prisão em detrimento da privação de liberdade.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O presente trabalho tem como objetivos específicos:


 analisar cada espécie de prisão cautelar;
 analisar a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão.

3 JUSTIFICATIVA

Os estudos e debates sobre o tema prisões cautelares e as medidas cautelares


diversas da prisão têm como fim analisar a aplicação das prisões cautelares, principalmente
da prisão preventiva, em um contexto onde cada preso custa em torno de R$ 2.400,00
(Constatação feita pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, que participou no dia 10/11/2016 do 4º
Encontro do Pacto Integrador de Segurança Pública Interestadual e da 64ª Reunião do
Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), em Goiânia/GO)6 para o
Estado e quase todas as Delegacias e Penitenciárias do pais estão com superlotação.

6
CÀRMEN LÚCIA diz que preso custa 13 vezes mais do que um estudante no Brasil. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83819-carmen-lucia-diz-que-preso-custa-13-vezes-mais-do-que-um-estudante-
no-brasil>. Acesso em: 12 mar. 2017.
3

Portanto, considerando o contexto atual vislumbra-se a necessidade de se refletir


sobre a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão ao invés de cogitar a construção
de mais penitenciárias visando a aplicação da lei penal de forma eficaz e o restabelecimento
do indivíduo na sociedade.

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Lei nº 12.403/2011 trouxe relevantes alterações no que se refere à prisões e


liberdade provisória, além disso, trouxe inúmeros alternativas a restrição de liberdade.
Eugênio Pacelli elencou dez sínteses conclusivas sobre a matéria, sendo elas:
(...) 1) Embora a Lei 12.403/11 mantenha a distinção conceitual entre prisões, medidas cautelares e liberdade
provisória, é bem de ver que todas elas exercem o mesmo papel e a mesma função processual de acautelamento
dos interesses da jurisdição criminal;
2) As medidas cautelares, quando diversas da prisão, podem ser impostas independentemente de prévia prisão
em flagrante (art. 282, § 2º, CPP), ao contrário da legislação anterior, que somente previa a concessão de
liberdade provisória para aquele que fosse aprisionado em flagrante delito. Por isso, podem ser impostas tanto na
fase de investigação quanto na do processo;
3) As referidas medidas cautelares, diversas da prisão, poderão também substituir a prisão em flagrante (art. 310,
II, e art. 321, CPP), quando não for cabível e adequada a prisão preventiva (art. 310, II, CPP);
4) A liberdade provisória, agora, passa a significar apenas a diversidade de modalidades de restituição da
liberdade, após a prisão em flagrante. O art. 321, CPP (ausentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, o
juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319...)
deve ser entendido nesse sentido (de restituição da liberdade do aprisionado) e não como fundamento para a
decretação de medidas cautelares sem anterior prisão em flagrante. A base legal para estas últimas providências
reside no art. 282, § 2º, CPP;
5) A prisão preventiva tanto poderá ser decretada independentemente da anterior imposição de alguma medida
cautelar (art. 282, § 6º, art. 311, art. 312 e art. 313, CPP), quanto em substituição àquelas (cautelares) previamente
impostas e eventualmente descumpridas (art. 282, § 4º, art. 312, parágrafo único, CPP);
6) Poderá, do mesmo modo, ser decretada como conversão da prisão em flagrante, quando presentes os seus
requisitos (art. 310, II, CPP), e forem insuficientes as demais cautelares; 7) A prisão preventiva poderá também ser
substituída por medida cautelar menos gravosa, quando esta se revelar mais adequada e suficiente para a
efetividade do processo (art. 282, § 5º, CPP);
8) Quando decretada autonomamente, ou seja, como medida independente do flagrante, ou, ainda, como
conversão deste, a prisão preventiva submete-se às exigências do art. 312 e do art. 313, ambos do CPP; quando,
porém, for decretada subsidiariamente, isto é, como substitutiva de outra cautelar descumprida, não se exigirá a
presença das situações do art. 313, CPP;
9) Nenhuma medida cautelar (prisão ou outra qualquer) poderá ser imposta quando não for cominada à infração,
objeto de investigação ou de processo, pena privativa da liberdade, cumulativa ou isoladamente (art. 283, § 3º,
CPP); do mesmo modo, não se admitirá a imposição de cautelares e, menos ainda, da prisão preventiva, aos
crimes para os quais seja cabível a transação penal, bem como nos casos em que seja proposta e aceita a
suspensão condicional do processo, conforme previsto na Lei 9.099/95, que cuida dos Juizados Especiais
Criminais e das infrações de menor potencial ofensivo;
10) Em se tratando de crimes culposos, a imposição de medida cautelar, em princípio, não será admitida, em face
do postulado da proporcionalidade; contudo, quando – e somente quando – se puder antever a possibilidade
concreta de imposição de pena privativa da liberdade ao final do processo, diante das condições pessoais do
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agente, serão cabíveis, excepcionalmente para os crimes culposos, as cautelares do art. 319 e art. 320, segundo a
respectiva necessidade e fundamentação.
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Diante disso, conclui-se que a Lei 12.403/2011 trouxe diversas mudanças, como
tornar a prisão em flagrante uma prisão “semi-cautelar”, de forma que deverá ser convertida
em prisão preventiva, mas apenas se preencher os requisitos previsto no artigo 312 do
Código de Processo Penal.
Ademais, trouxe as diversas medidas cautelares menos gravosas que deverão ser
aplicadas quando se revelarem mais adequadas. O que no contexto atual é uma solução,
tendo em vista a superlotação das penitenciárias e Delegacias do País.
Além disso, analisando a Lei, é possível constatar que ela trouxe uma garantia à
aplicação do principio da presunção da inocência, uma vez que para ser decretada qualquer
prisão cautelar deverá ter uma decisão judicial fundamentada, para a prisão preventiva ainda
deverá ser fundamentada no art. 312 do Código de Processo Penal, diferente do Código
anterior, onde a prisão cautelar era aplicada de forma automática. De acordo com Eugênio
PACELLI, as atuais regras das cautelares surgem precisamente para o excesso de
encarcerização provisória. 8
A prisão em flagrante, tem hoje, natureza pré cautelar. Essa prisão pode ser realizada
por qualquer cidadão (flagrante facultativo) e autoridades policiais (flagrante obrigatório ou
compulsório).
As hipóteses de flagrante estão descritas no art. 302 do CPP, em rol taxativo:
“Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de
cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois,
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.” A
doutrina aderiu a seguinte classificação: Flagrante próprio ou real, que é aquele onde o
agente é surpreendido quando esta cometendo a infração penal ou o agente acaba de
cometer a infração penal; Flagrante impróprio é aquele que o agente é perseguido logo após a
infração penal em situação em que se possa presumir que é o autor do delito; Flagrante
presumido ou ficto, aquele que o agente é encontrado logo após a infração, com instrumentos

PACELLI, Eugênio; COSTA, Domingos Barroso da. Prisão Preventiva e Liberdade Provisória: A reforma da Lei 12.403/11.
7

São Paulo: Atlas, 2013. p. 494-495


PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 18. ed., São Paulo: Atlas., 2014. p. 496.
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armas, objetos que façam presumir ser ele o autor; Flagrante preparado ou provocado, a
autoridade policial instiga o agente a cometer o crime com o intuito de surpreendê-lo em
condição de flagrância, nesse caso, não há crime, conforme súmula 145 do STF; Flagrante
forjado ou artificial, aquele que a autoridade policial cria uma situação de flagrante inexistente;
Flagrante esperado ou aguardado, aquele que a autoridade policial monitora as atividades do
agente, até que o agente cometa a infração criminal, ocasião em que a autoridade efetua a
prisão em flagrante; Flagrante postergado ou prorrogado, quando a autoridade policial
consegue agir de forma a postergar a prisão para obter maiores informações à respeito do
crime.
A prisão em flagrante possui algumas formalidades, que estão previstas nos artigos
304 e 306, §1º e §2º, do Código de Processo Penal:

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua
assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo,
após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria
Pública.
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o
motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

Presentes, todas as formalidades da prisão em flagrante, conforme o artigo 310 do


Código de Processo Penal, o Juiz poderá: converter em prisão preventiva, quando presente
os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal e se revelarem insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão ou conceder liberdade provisória.
A prisão preventiva poderá ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou
instrução processual. Os requisitos para decretação da prisão preventiva estão previstas no
artigo 312 do Código de Processo Penal, são eles: Garantia da ordem pública (perigo de
reiteração criminosa e periculosidade do agente); garantia da ordem econômica (coibir
ataques a ordem econômica financeira); conveniência da instrução crimina l (acusado
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inviabiliza ou dificulta a produção de provas); para assegurar a aplicação da lei penal (rico do
executado frustrar a execução da pena).
A prisão temporária, segundo Aury Lopes Junior., é “uma das modalidades de prisão
cautelar de cunho persecutório penal, decretada na fase de investigação criminal, com o
objetivo de aprimorá-la, tornando-a eficiente, dentro dos parâmetros constitucionais”. A prisão
temporária é regulada pela Lei 7.960/1989. Possui como requisitos, previstos no artigo 1º da
lei:

Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II - quando o
indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III -
quando houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: homicídio doloso;
sequestro ou cárcere privado; roubo; extorsão; extorsão mediante sequestro; estupro; epidemia com resultado de
morte; envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte; quadrilha ou
bando; genocídio; tráfico de drogas; e crimes contra o sistema financeiro.

O prazo de duração da prisão temporária é de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco,
nos casos de comprovada necessidade. Em crimes hediondos e equiparados o prazo é de
trinta dias, sendo possível a prorrogação por igual período.
As medidas cautelares diversas da prisão, também conhecidas como medidas
alternativas, possuem como escopo a diminuição da utilização da prisão cautelar, uma vez
que esta nem sempre é necessária ao fim que se destina podem ser impostas tanto na fase
de investigação quanto na fase processual.
As medidas cautelares estão previstas no artigo 319, do Código de Processo Penal,
quais são: comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,
para informar e justificar atividades; proibição de acesso ou frequência a determinados
lugares quando (normalmente relacionadas ao fato para evitar o risco de novas infrações);
proibição de manter contato com pessoa determinada (normalmente proibição de contato com
a vítima); proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução; recolhimento domiciliar no período noturno e
nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave
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ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de


reiteração; fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial; monitoração eletrônica.
Diante do exposto, a revisão bibliográfica sobre o tema neste trabalho será realizada
com as obras supracitadas, entre outras, de maneira a apresentar conceitos e problematizá-
los a fim de que se possa trabalhar de maneira mais aprofundada.

5 METODOLOGIA

O presente trabalho utilizará o método bibliográfico, baseando-se na construção


doutrinária e normativa.
A pesquisa bibliográfica sobre o tema, por meio de doutrina será o método de
procedimento específico do trabalho em questão.

6 CRONOGRAMA

PERÍODO DE EXECUÇÃO – 2017

ATIVIDADES
MAIO

AGO
MAR

NOV
OUT
ABR

DEZ
SET
FEV

JUN

JUL

Definição Problema X X X X X X
Elaboração do Pré-Projeto X
Entrega do Pré-Projeto X
Coleta de Fontes X X X X X X
Elaboração Monografia X X X X X
Entrega Monografia X
Defesa X
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7 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO INICIAL

GOMES, Luiz Flavio; MARQUES, Ivan Luís. Prisão e Medidas Cautelares.3. ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2012.

LIMA, Marco Antonio Ferreira; NOUEIRA, Ranieri Ferraz. Prisões e Medidas Liberatórias. São
Paulo: Atlas, 2011.

LOPES JUNIOR., Aury. Prisões Cautelares. 4 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.

MENDOÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais. São Paulo:
Método, 2011.

PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 18. ed., São Paulo: Atlas., 2014.

PACELLI, Eugênio; COSTA, Domingos Barroso da. Prisão Preventiva e Liberdade Provisória:
A reforma da Lei 12.403/11. São Paulo: Atlas, 2013.
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