Você está na página 1de 6

Transcrição da aula Magna com o cineasta Manthia Diawara ocorrida na sexta-

feira dia 31 de agosto as 10h30 no Cine Odeon como parte do Encontro de Cinema
Negro Zozimo Bulbul 2018

Quando chegou em Washington em 1973, Manthia Diawara era um jovem que ainda
tentava entender o que seriam ―estudos negros‖ (apesar de ter nascido em Mali, sua
educação inicial veio da formação clássica na França, onde não se falava ainda em
racialidade). E isto logo em Washington que sempre foi chamada de ―Cidade
Chocolate‖ (por sua população de maioria negra). Acabou tendo como professora uma
pensadora muito parecida e próxima das ideias de Angela Davis. Tendo vindo da
França, ele nunca havia tido uma professora negra. E o momento histórico afirmativo
era de Angela Davis, de vestidos de origem afrodescendente e James Brown se
apresentando com macacão branco no principal teatro de lá: Apollo. Então, pelo
momento histórico pungente, Manthia se perguntava o que a professora negra parecendo
Angela Davis teria a ensinar, um pouco descrente…
Esta professora Srta. Swan foi a primeira mulher negra a estudar na cidade de Little
Rock no Arkansas depois do processo de integração racial (pós momento Jim Crow).
E logo na primeira aula ela falou sobre Fanon, com o livro ―Pele negra e máscaras
brancas‖. Afinal, ler Fanon era condição para se engajar nos Panteras Negras na época,
mas a professora desmistificou que muita gente interpretava equivocadamente Fanon, e
em parte pelas mil traduções em diferentes línguas que seu livro recebeu:
Em inglês, por exemplo, você leria a frase: ―O fato da experiência da negritude‖.
Contudo, em francês, caso você traduza de forma igualmente literal para o português, a
mesma frase era na verdade: ―a experiência da vivência negra‖.O primeiro problema
com isso é que ―Fato‖ é algo biológico, enquanto que a ―experiência vivida‖ são suas
experiências de vida (mais orgânico e contextualizado).
Mas Manthia não está questionando a leitura errônea, não está criticando, e sim dizendo
que das diferenças de interpretação podemos entender mais sobre pós-colonialidade e
estudos de subalternidade. A questão retórica de fato é por que Fanon não era tão
popular em alguns países, dependendo da tradução que eles tivessem?
O livro ―Pele negra máscaras brancas‖ lida com uma neurose social sobre o complexo
de superioridade branca e inferioridade negra, e, como médico, Fanon queria curar isso.
Este era um momento em que a pessoa negra se olhava no espelho para tentar se
reconhecer na sociedade de supremacia branca. E se a pessoa acha que não se encaixa
aí, este livro não seria para você. Mas o interessante deste livro é que ele foi dirigido a
todas as pessoas negras e pessoas brancas do mundo.
Agora Manthia vai abrir um parênteses para voltar ao assunto. A forma como produz e
dirige seus filmes sempre foi usar a primeira pessoa, seja nos livros ou nos filmes, e era
inconsciente até compreender e assumir isso como parte da sua assinatura. Nos estágios
iniciais da carreira, não podia se comunicar na primeira pessoa porque tinha que provar
que podia se comunicar de forma objetiva como lhe era exigido. Por isso Manthia não
recomenda que as pessoas façam o mesmo que ele logo no começo de carreira. Ele
estava pensando nas teorias de relativização e relatividade, até conseguir assumir e
utilizar a primeira pessoa. Se olha seus filmes, ele sempre dialoga com Fanon, Ousmane
Sembene, e a tradição negra Norte Americana. Se é através da teoria que vai encontrar
sua voz e liberdade, tinha que ter um arcabouço teórico forte. E como veio de origem
francesa (de formação, após sair de Mali), teve de adaptar seu arcabouço teórico.
Neste momento, Manthia interrompe a aula magna e projeta para plateia cenas de seu
filme ―Negritude‖. — onde dialoga sobre o uso da câmera ―oculta‖ acompanhando na
rua as pessoas entrevistadas, para que elas pudessem agir naturalmente, mas ao mesmo
tempo dialoga que queria quebrar essa quarta parede para avisar seus agentes filmados
de que eles estariam sendo filmados, para que pudessem participar da reação com
consentimento de suas subjetividades).
Manthia foi aluno de Jean Rouch, e vale lembrar que Manthia é o único cineasta que fez
filmes sobre Rouch e também sobre o cineasta senegalês Ousmane Sembene e com
autorização de ambos (e brinca que ambos filmes lhe trouxeram desafios inerentes pela
notoriedade de ambos os nomes).
Manthia então faz uma pequena diferença a partir de Jean Rouch sobre Antropologia
visual e antropologia compartilhada: na teoria, esta segunda forma, a da antropologia
compartilhada, se diferenciava por devolver a câmera para eles e deixar que os
chamados nativos olhassem para as pessoas que estavam filmando — segundo Jean
Rouch. Mas Manthia vê um problema nesta parte ―compartilhada‖ porque não abarcava
a questão da hierarquia. Na época dos cinemas novos no mundo e do cinema direto e
cinema verité, o cinema de Jean Rouch estava à frente porque tirou os nativos de onde
filmava de meros coadjuvantes a protagonistas do cinema clássico (e Manthia brinca
que hoje ele próprio seria considerado clássico também, então não quis usar a expressão
como juízo de valor). Godard já se referiu a Rouch na história como uma ―lufada de ar
fresco‖… Mas Sembene criticou o mesmo Rouch como antropólogo porque olhava os
africanos como insetos, um objeto de estudo. Apesar de que o próprio Sembene
reconhecia ―Eu, um Negro‖ como seu filme favorito de Rouch, que retrata imigrantes de
Níger, independente de não deixar de problematizar que às vezes o personagem
acompanhado no filme é tratado como ―trazendo problemas‖ por ser um imigrante. Mas
se pegarmos o cinema clássico de Hollywood maniqueísta que dividia entre
personagens bons e personagens maus, o Cinema Novo foi imprescindível pra romper a
linearidade clássica. Assim como os produtores e realizadores de Los Angeles que se
autodenominaram de ―LA Rebellion‖ na década de 70 também foram fundamental. E
também foi fundamental a Nouvelle Vague que queria matar o autor, o protagonista e a
lineariedade como âncoras da história: eles diziam que queriam o fim ou o rompimento
do cinema hollywoodiano para que mais vozes fossem ouvidas. O fim do cinema ou da
história do cinema ocidental clássico é o início de onde escutamos novas e muitas vozes
(como Manthia referencia a maravilhosa noite do dia anterior no Encontro de Cinema
Negro Zózimo Bulbul). O problema é que muita gente encara isso como caótico, e
chamam o cinema da América Latina, por exemplo, de barroco, e ―barroco‖ não como
arte renascentista, e sim como agregadora de várias formas de fazer, outro tipo de
denominação barroca… O que também era importante para romper com a tradição
clássica.
E quando Manthia fez seus estudos e filmes sobre Ousmane e Rouch, os antropólogos
europeus e os produtores africanos, ambos os lados não gostaram. Os produtores
africanos estavam sofrendo da síndrome europeia de que ―só haveria uma forma de
contar uma história‖, e não múltipla — como pensando também nas teorias feministas
de que ―o âmbito pessoal é político‖ e por isso mesmo múltiplo — mas Manthia
percebeu que tinha que conduzir todos os seus filmes desta maneira: com visão plural.
Em seu filme sobre Ousmane (e Manthia aproveita para exibir parte do filme), o próprio
Ousmane fala para John Singleton que o entrevista e faz uma citação a ele, que Manthia
ora reitera:
A Europa mentiu três vezes para a África:
Que eles precisavam do ocidente, que o colonialismo estaria levando à civilização, e
que, depois, estaria levando à democracia. — Isto significa para Ousmane que quem não
tivesse consciência disso continuaria sendo escravizado.
Manthia retoma a questão das línguas e traduções, pois a parte inglesa da África
aprendia através do inglês da Bíblia, enquanto que na parte francesa até isso foi retirado.
Manthia ressalta que Ousmane Sembene quando escrevia ou filmava queria a escrita e a
fala em sua língua mãe, mas quando era traduzido para o francês, sempre acabava sendo
traduzido num estilo ―clássico‖ à la Guy de Maupassant, o que distorcia o original.
Manthia exemplifica a questão da valorização da cultura interna com o caso de 1971 –
onde um importante professor numa Universidade de renome reivindicou abolir o
departamento de inglês e ensinar as obras literárias escritas na África, na América
Latina, no Oriente Médio e etc, e isto o fez ser preso por 1 ano.
O cinema passa a ser algo que também produz linguagem. E isto constitui a vida de
Manthia como uma forma de reiterar e propagar essa mesma cultura natal.
Manthia fala então sobre Edouardo Glissant, e sobre ter tentado em sua carreira ser
clássico e um pouco mau (rebelde) também como ele. Se Ousmane e Fanon abriram a
mente e formação de Manthia, foi Glissant quem o libertou — foi amigo de classe de
Fanon e ambos foram alunos de Aime Cesaire. E fundaram o movimento da negritude,
apresentados por Fanon, Glissant…
Fanon critica o movimento por seu viés retencionista (de retenção). O questionamento é
que existe essa África ilimitável para a qual se pode retornar sempre, que compreende
todas as nações e até além, com fábulas como Wakanda (do universo do herói fictício
―Pantera Negra‖ da editora Marvel), mas que existiria uma noção de cultura nacional, e
que quando você se liberta você cria mais cultura.
No Brasil esse movimento por exemplo foi representado por Abdias Nascimento.
De forma objetiva, é a reunião de todas as religiões e reinos e etc…
E subjetivamente, diz respeito a que as pessoas negras teriam predisposição para uma
subjetividade, um movimento, etc, e logo num momento em que chegaram a dizer que
―a razão fosse branca e a emoção negra‖. Diante desta frase da época, Fanon ficou louco
com isso, ao explicar que não há nada mais irritante para o ser humano (branco) do que
lhe desafiar com algo irracional, então o movimento por esse pressuposto seria
irracional. Por isso Frantz Fanon era contra o essencialismo. Em ambos os livros ―Pele
Negra e Máscaras Brancas‖ e ―da terra‖, Fanon estava sempre questionando a si mesmo
e seu corpo, que está sempre mudando. E que, segundo o argumento de que o tigre não
anuncia sua tigretude, e sim pula na presa e a devora, por que deveria se anunciar sua
negritude ao invés de simplesmente ―ser‖? Então o que era negritude? Porque as
pessoas (racistas brancos) afirmavam que os negros não possuíam cultura nem
origem…? Para Glissant, a questão não era a negritude e sim sua aplicação: pois
precisam gritar ―i’m black, i’m glad and i’m brown‖ (nas letras da música de James
Brown) — precisam gritar justamente porque há sempre um movimento racista no
sentido contrário querendo apagar isso.
E além disso as vidas negras sempre foram alvo da violência policial, e, para incluir as
vidas negras para lembrar que todas as vidas importam, desembocamos no movimento
―Black Lives Matter‖ (―Vidas Negras Importam‖), mesmo que a direita tenha se
apropriado do movimento depois…
À luz desse contexto, Glissant teorizou que, independente do conceito e importância do
conceito do movimento de negritude, isso fez com que as pessoas em Diáspora fora da
África tenham se sentido menos negras, porque você deveria ser ―mais africano‖, mas
Glissant critica que o conceito de filiação está equivocado e advém dos brancos para
reafirmar sua legitimidade e superioridade através de um nicho. Para Glissant deveria se
substituir a supremacia branca por negra, e ao invés de procurar filiação deveria se
procurar afiliação. E no livro sobre Faulkner de Glissant, ―Faulkner, Mississipi‖, a
principal característica de força para a negritude é justamente serem bastardos, e deveria
partir do pressuposto de que todos os negros diaspóricos seriam ―mistos‖ ou, por falta
de Identidade relacional, ao invés de Identidade de raiz, Glissant apresenta um conceito
cuja tradução literal seria ―criolização‖ (mesmo que Manthia saiba e entenda que a
palavra ―criolo‖ no Brasil é controversa por ter conotação diversa). E no quando passa
de criolização para creolité ou creolidade você passa a criar identidades. ―Eu posso
mudar em função da minha relação com o outro sem que eu perca minha identidade ou
me destrua‖. E os racistas brancos possuem temor desta teoria. O racismo se torna medo
do outro. Glissant apresenta então 2 conceitos: 1) o direito de ser opaco. 2) uma resposta
/reação rápida para você poder ter adaptação às trepidações do outro.
Neste momento você tem um pensamento secreto que só lhe pertence e só você sabe,
mas que outra pessoa pode estar pensando a mesma coisa em outro lugar do mundo. A
questão é como criar uma ligação/união destes pensamentos sem precisar mantê-los
isolados e secretos apenas com você. Utilize e ocupe o espaço como exemplificado
nestas noites do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, e se conecte com o mundo,
ocupe os espaços no mundo, mas crie conexões entre estas ocupações. Você não deve
preservar sua solidão separada de seus parentes/semelhantes, pois deve compartilhar sua
solidão e trepidações e estabelecer uma ligação com as trepidações das pessoas do outro
lado do mundo como Palestina, Brasil, África, América Latina…
Sobre influência do movimento feminista e das mulheres:
Um exemplo que Manthia ressalta foi a intervenção de Toni Morrison (a quem não só
admira como se tornou grande amiga) que editou o trabalho de Bambara, de Angela
Davis e de várias escritoras etc, e isto num momento em que os estudos negros estavam
sendo questionados, e que os estudos estavam sendo liderados por homens, e também
por cisgêneros… Mas Manthia teve muita sorte de ter a professora mulher negra e
feminista, e que o momento acadêmico pedia para se ler as obras destas autoras negras.
E esta ocupação dos espaços expandiu para causas também como LGBTQ… E Angela
perpassou vários temas também, como o encarceramento negro, e a abolição feminista
também, pois a emancipação do homem de sua masculinidade também é importante
para a emancipação da mulher. E Bell Hooks também compartilha destas ideias que
Manthia expressa, e lembra da teoria de Laura Mulvey sobre como a mulher pode tirar
um prazer próprio do chamado ―male gaze‖ (―o olhar masculino‖), através do qual o
cinema foi filmado por tanto tempo, ―para o prazer do homem‖, o que não quer dizer
que as mulheres não pudessem tirar prazer daquilo que até poderia não ser destinado a
elas originalmente, mas era passível de ser reapropriado — segundo a teoria das
próprias autoras supracitadas.
No contexto americano, quando Manthia começou a trabalhar no campo acadêmico, o
campo da crítica cinematográfica negra já estava formado e já existia um público. Em
1977 Glissant narra essa história quando estava numa universidade em Boston, tendo
vindo de um contexto da Martinica e França onde não podia usar o termo raça: ―você
não seria um francês negro, e sim simplesmente um francês‖, o que o ajudava a ―virar
um cidadão‖ (igualdade, fraternidade e liberdade), e ele estava escutando essa crítica
negra e não conseguia compreender da mesma forma se tinha como referência o lugar
de onde vinha. E na verdade, desde 1915 o público negro já criava um olhar opositivo
às narrativas brancas como com ―O Nascimento de Uma nação‖ de D. W. Griffith, E
quando Manthia se colocou na crítica cinematográfica ele tentou se encontrar neste
olhar opositivo que já possuía uma formação muito forte (Seria o equivalente a se
comparar com o cenário no Brasil diante da mudança do olhar das chanchadas ao
Cinema Novo e ao cinema contemporâneo). E por isso Manthia lembra que Glissant
argumentava que você não conseguirá derrotar o discurso monolítico de terrorismo
eurocentrista aplicando outro discurso monolítico de forma terrorista ou com um
contradiscurso negro que anule aquele. A solução seria trabalhar com o imaginário
(lembrando que em francês há diferença entre as palavras imaginação e imaginário =
pois você pode escrever qualquer coisa com imaginação, mas você só vai alcançar o
lirismo de um poema com o imaginário, e você só irá conseguir construir novas formas
de olhar através de novos imaginários. — E nisso Manthia agradece muito ao cinema
brasileiro (cinema novo e etc) que já criou inúmeros imaginários para o mundo, mesmo
quando positivos ou mesmo os negativos para aprendermos com nossos erros também.
E isto se comunica também ao conceito da opacidade que Manthia falou um pouco
antes.
Manthia mencionou antes o livro ―Faulkner, Mississipi‖ que fala sobre as obras
produzidas por Faulkner, e Glissant começa com um diálogo para os negros falando:
―eu sei que vocês não gostam de ler Faulkner porque ele é racista, mas justamente por
isso deveria ser lido‖. Ele foi um dos modernistas mais famosos e seu estilo é famoso
até no Brasil com a principal característica de fingir estar Revelando, mas estava
escondendo na verdade. E ele sempre escreveu sobre os índios, os negros e o branco. E
escrevia sobre os negros e os indígenas como silhuetas, sem interiorização, mas
Faulkner os reconhecia como aqueles que constituíram a América, e o problema do
branco era como manter sua supremacia diante disso. E a negritude surgia sempre de
onde menos se esperava, onde Faulkner chegava à conclusão de que não dava para fugir
disso porque estava tudo tocado pela questão. Por isso Glissant celebrava o conceito de
―bastardos‖ na obra de Faulkner como uma vantagem. E o próprio Faulkner mudou o
próprio nome para poder transitar na elite a que não pertencia, para tentar ficar longe
dos conceitos de classe que ele achava que o contaminavam. Mas a questão do bastardo
é uma das maiores forças para Glissant que muita gente tratava como algo negativo,
mas que tinha de ser resgatado e valorizado. E por isso agradecia Faulkner.
No Brasil, Manthia acredita que quem se aproxima deste pensamento de Glissant em já
ter tentado reconhecer e falar sobre a racialidade no cinema brasileiro é Jean-Claude
Bernardet.
Manthia menciona, então, o conceito de ―Poecept‖ = poetry + concept = Entre teoria e a
poesia
Este conceito explicita que Glissant não estaria interessado em nenhuma teoria que não
seja poética, ou qualquer ciência que não seja poética, porque partir da poética é abraçar
o imprevisível.
Tanto a direita quanto a esquerda acusam quem levanta estes pensamentos como
etnicista.
O argumento é que devemos falar sim sobre identidade, mas especialmente de
identidade relacional. Porque se por um lado no contexto francês não se quer pegar
emprestada a política de Identidade comunitária como é feita nos EUA, mas também
não quer apagar identidades que estejam do lado de fora do hexágono. Então como fazer
para não apagar as identidades Rizomáticas? É isso que Glissant tenta levar para a
França porque ele era mais do que francês, pois era nascido na Martinica e também era
caribenho e americano, e queria provar que quem vinha destes Lugares também eram
franceses.
Sobre linguagem:
Quando Manthia estava fazendo seu filme sobre Glissant, este era da IDEC (maior
instituto francês de Cinema/audiovisual), mas ele saiu desta escola porque não gostava
da edição/montagem como lhe impunham, pois ele acreditava que era muita mentira. E
Glissant foi mais para o estudo de cinema através da etnografia. E Manthia perguntou
como faria o filme sobre ele sem montagem? E Glissant disse: ―aponte a câmera pra
água quando eu começar a falar e corta quando acabar.‖ Então Manthia levou ao pé da
letra e fez isso e pensou que seria visto como louco, mas acabou sendo um de seus
trabalhos mais consagrados e tido como autoralidade de arte, e chamado por museus e
outros lugares de arte para falar sobre ele.
Outro ponto importante é a língua como inglês, francês etc criaram uma sintaxe de
sincronia ou acronia tentando explicar o mundo mas estavam excluindo todo o resto do
mundo por qualquer língua que não se encaixasse nas línguas europeias. Na filosofia
isso teve um movimento de resgate chamado Virada/Retorno Linguístico, com grandes
nomes como Foulcaut, Derrida etc a resgatar filosofos como Heidegger e etc de modo
que todos estavam se autorreferenciando uns aos outros — uma metafilosofia e um
metacinema.
Todas estas línguas alimentaram umas às outras de modo circular. E auxilia as pessoas a
perceber a importa da teoria crítica. Mas por outro lado o que ocorre no campo do
capitalismo e outras descobertas, as línguas firam organizadas e reorganizadas de modo
a facilitar com que elas fossem ainda mais exploradas, mas por outro lado fez com que a
conexão entre os diferentes povos e propiciou novas linguagens e todas estão exigindo
serem ouvidas. Mesmo que tenha se tornado um clichê, as jovens e os jovens querem
ser ouvidos.
Isso tudo criou o que Glissant chama de O Mundo Local, e cada linguagem se tornou
um eco do mundo. Precisamos ouvir. Por isso as linguagens são tão importantes para
Glissant. Como fazer com que as Vozes provenientes de Bamako fossem ouvidas, do
Brasil etc…
E todos estavam disputando mesmo sendo amigos. E Glissant disse para Derrida que o
problema dele era ainda ter apenas um Deus monoteísta, quando temos vários deuses,
todos devem ser ouvidos.

Você também pode gostar