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KOSELLECK, R. La discontinuidad del recuerdo.

In: Modernidad, culto a la muerte


y memoria nacional. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2011,
p.39-51.

Esta conferência abre com um relato pessoal, quando o autor foi feito prisioneiro
pelos russos em Auschwitz, em 1945. O ponto central é o momento em que Koselleck,
ao recusar a ordem de um soldado (que havia sido prisioneiro do campo), este o
repreendera violentamente, gritando: “Quieres que te rompa el cráneo, vosotros habéis
gaseado a milliones” (p.40). Segundo Koselleck, essa foi a primeira vez que lhe nasceu
a certeza de que os crimes nazistas eram reais.
A partir dessa história, Koselleck desenvolve duas teses. A primeira afirma que a
experiência primária (aquela que foi vivenciada concretamente pelo sujeito) é
intransferível. “Não há experiência primária que se possar ter ou acumular, que possa
ser transferida, pois precisamente o que caracteriza a experiência é ser intransferível,
nisso consiste a experiência” (p.40).
A segunda tese, decorrência da primeira, é a descontinuidade de toda recordação
(recuerdo), pois se as experiências não são transferíveis, toda experiência secundária
deve construir uma descontinuidade.
A experiência da geração que viveu em 1945 se estruturava de modo
segmentado, que constituíam espaços fragmentados, rupturas. Ao contrário da geração
de 1968, eles não tinham todo o conhecimento que se produziu depois sobre os crimes
nazistas. Daí a dificuldade da questão moral (e justa) colocada pela geração de 1968:
“afinal, quem foram os nazis senão os nossos pais?”. Pois os crimes cometidos foram
tão graves, que não poderiam ser concebidos por si mesmos – o que constitui também
uma questão moral.
“Según reza mi tesis, es necessario que el espacio de experiencia, que es
fragmentario y pluralista, casual e intransferible, se remonte de las experiencias
primarias para agregarse a um espacio de recuerdo constatado e institucionalizado, que
seguirá siendo secundario” (p.41-42).
Essas instituições se multiplicaram na Alemanha; mas tudo o que conseguem é
produzir mais e mais problemas, cujo conhecimento não pode ser pressuposto na
geração primária. “El passo de la experiencia primaria de origen plural y segmentario al
recuerdo institucionalizado es um processo constante, que em cada actualidad fija
cientificamente y ex post uma experiencia. [...] Siempre sale a la luz algo nuevo y
siempre se sabe algo diferente que antes” (p.42).
Um dos exemplos da descontinuidade é a transformação do conceito de vítima.
Até 1945, esse conceito tinha uma conotação ativa: o soldado se sacrificava por uma
causa, pela nação, etc. Esse era o horizonte subjetivo da experiência daqueles que
morreram em combate. Mas a partir de 1950, o conceito de vítima passou por uma
reinterpretação, que deslocou-o para uma conotação passiva: vítimas do fascismo, da
guerra, da tirania, etc.
Outro exemplo foi a transformado semântica do dia da “Libertação” (09/05).
Para a geração de 1845, esse dia representava uma derrota (dia da capitulação); já as
gerações posteriores a percebiam como “libertação” – “lo que de hecho e
ideologicamente era una falsedad” (p.43). “Y si ahora quiere reivindicarse la liberación
para todos los alemanes, es porque a esta reivindicación subyace una identificación con
los asesinados que los supervivientes reclaman para si em cuanto se identifican con
ellos. De ese modo la auténtica implicación de la que hay indícios por el extermínio de
milliones de judíos y otros grupos de la población, es puesta teoricamente entre
parêntesis. Si todos son victimas, ya no hay verdugos” (p.43).
A partir da tese da descontinuidade da recordação (experiência primária X
institucionalização secundária), Koselleck aborda três formas de tratamento dos crimes
nazistas: a explicação científica; o juízo moral; e a resposta religiosa. O que importa é
que nenhuma delas é satisfatória para explicar, julgar e refletir suficientemente o
inconcebível e o incompreensível.
“La vía científica, la moral y la religiosa llevan cada una a su manera a la
desesperación. Y, precisamente es esto, la desesperación, lo que debe ser retenido em el
recuerdo. Metafóricamente, cada paso lleva junto a la cámara de gas pero no a su
interior” (p.48).
Ao final, o autor comenta sobre a questão dos monumentos, e o perigo que eles
trazem de petrificação, isto é, de bloquear a própria recordação ao institucionalizá-la.
Após a polêmica a cerca de um monumento para os judeus, o autor finaliza
perguntando: é correto que na Alemanha só se erija um monumento aos judeus
assassinados? E quanto às outras vítimas? Ou se decida a erigir monumentos a todos os
grupos específicos de vítimas, ou se decide erigir um monumento aos carrascos. “toda
solución diferente a ésta fijaría huecos em el recuerdo, que provocaría que muchos
milliones de asesinados cayeran en el olvido” (p.50).
Para o autor, se os alemães seguem distinguindo os monumentos por grupos de
vítimas, estar-se0ia adotando os esquemas dos campos de concentração. “Pues lo que
ahora está erigiéndose lleva a la fuerza a un monumento antissemita” (p.51).
Sua proposta (ainda que seja tarde) consiste em que se recorde aos assassinados
não segundo as categorias das SS, mas sobre a base de fatos que criaram os autores: que
foram assassinados. Mas também o autor recorda que “no es nuestra competência erigir
monumentos a las víctimas – como les corresponderia a éstas, sino erigir um
monumento de los verdugos, por difícil que esto sea. Un monumento de los verdugos
que nos recuerdo quién tiene la responsabilidad de los asesinatos, los exterminios y el
gaseado. Hemos de aprender a vivir con esse recuerdo” (p.51).

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