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CURSO DE PSICOLOGIA

Amanda Oliveira Santana - 28250080


Isabella Narryman Valezin - 28229570
Mayara Araujo Rocha - 28250441

AS CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVA


COMPORTAMENTAL - TCC PARA COMPREENDER OS ASPECTOS
PSÍQUICOS NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Guarulhos
2020
Amanda Oliveira Santana - 28250080
Isabella Narryman Valezin - 28229570
Mayara Araujo Rocha - 28250441

AS CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVA


COMPORTAMENTAL - TCC PARA COMPREENDER OS ASPECTOS
PSÍQUICOS NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Projeto de trabalho especialmente redigido como parte


dos requisitos necessários para aprovação da Disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso – Psicologia.

Orientador: Prof.ª. Dra. Tatiana Lima de Almeida.

Guarulhos
2020
RESUMO

O presente trabalho tem como intuito abordar as contribuições da terapia cognitiva


comportamental – TCC, para compreender os aspectos Psíquicos na violência
doméstica e por meio de suas técnicas, como auxiliar na mudança de comportamento
das vítimas e agressores no universo da violência doméstica. Buscou-se conhecer o
que é violência, violência doméstica e Terapia Comportamental Cognitiva – TCC.

Palavras-chave: Violência doméstica, aspectos Psíquicos, Terapia Comportamental


Cognitiva – TCC.
ABSTRACT

This work aims to address the contributions of cognitive-behavioral therapy - CBT, to


understand the psychic aspects of domestic violence and through its techniques, as
an aid in changing the behavior of victims and aggressors in the universe of domestic
violence. We seek to know what is violence, domestic violence and Cognitive Behavior
Therapy - CBT.

Keyword: Domestic violence, Psychic aspects, Cognitive Behavior Therapy – CBT.


SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6
1.1 – PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................................................. 7
1.2 – JUSTIFICATIVA....................................................................................................................... 7
1.3 – OBJETIVOS............................................................................................................................ 7
1.3.1 – Primário ............................................................................................................................ 7
1.3.2 – Secundário ........................................................................................................................ 8
1.4 – MÉTODO .............................................................................................................................. 8
2 – REVISÃO TEÓRICA ................................................................................................................... 9
2.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA............................................................................................................ 9
2.2 TRABALHANDO COM VÍTIMAS E AGRESSORES UTILIZANDO A TERAPIA COMPORTAMENTAL
COGNIVA .................................................................................................................................... 13
3 – RESULTADO E DISCUSSÃO...................................................................................................... 16
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 18
5 – REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 19
1 – INTRODUÇÃO

Para compreender a aplicabilidade e eficácia da Terapia Comportamental


Cognitiva – TCC no tratamento dos distúrbios ocasionados pela violência sofrida no
ressinto doméstico, ou seja, violência doméstica faz-se necessário discorrer sobre o
que é violência, violência doméstica e Terapia Comportamental Cognitiva – TCC.

Entende-se como violência, de uma maneira geral, como sendo o desrespeito


e a violação de qualquer direito humano, sendo visto como um fenômeno ocasionado
por diversas causas e efetivado de várias formas. Assim sendo, tal violência pode ser
exercida de maneira intencional por meio de força física ou de uma relação de poder,
sendo efetivada com um ato violento ou por meio de ameaças contra si mesmo, contra
outro sujeito e ainda contra um grupo especifico ou toda uma comunidade
(BRUSCHINI, 1993).

Como resultado desta violência pode-se chegar a diversos resultados como


lesão física, danos psicológicos, deficiência do desenvolvimento bem como ao
extremo da morte.

A violência denominada domestica tem como característica principal ser


praticada dentro do ambiente familiar, ou seja, dentro do lar, sendo seu agente
executor (agressor ou agressora) como sendo aquele indivíduo que mantêm, ou que
manteve em algum período do tempo, um vínculo relacional intimo com a vítima
(DINIZ; ANGELIM, 2003). Tal violência manifesta-se por meio da violência física
propriamente dita que na maioria das vezes deixa marcas de sequelas pelo corpo,
sendo necessário exames de corpo de delito para sua efetiva averiguação bem como
a violência psicológica que, de uma maneira bem ampla, ocasiona danos e prejuízos
à saúde emocional e mental da vítima, ocasionando grande prejuízo nas relações
interpessoais dentro do lar bem como fora dele, podendo destacar, neste caso o
ambiente profissional, social e acadêmico.

Podemos ressaltar que no que tange a violência doméstica não se restringe


apenas às mulheres, mas também a idosos, adolescentes, crianças e pessoas com
deficiências ou seja indivíduos que encontram-se em situação de vulnerabilidade.
A Terapia Comportamental Cognitiva, desenvolvida e colocada em pratica nos
anos 60 baseia-se principalmente como sendo uma abordagem diretiva, estruturada
que foca no tempo presente e tendo seus objetivos bem debilitados que visa a
modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais, sendo bastante eficaz
na resolução da maioria dos transtornos ocasionando uma redução do sofrimento do
indivíduo e auxiliando na lida das dificuldades do dia a dia.

Por meio de uma revisão bibliográfica sobre o que venha ser violência, violência
doméstica e Terapia Comportamental Cognitiva refletir sobre quais os benefícios e
aplicabilidade desta última sobre os possíveis danos oriundos da violência doméstica
sofrida pela vítima, bem como no auxílio aos agressores.

1.1 – PROBLEMATIZAÇÃO

Quais as contribuições da Terapia Comportamental Cognitiva e sua


aplicabilidade na busca de uma mudança comportamental das vítimas e agressores
no contexto da violência doméstica?

1.2 – JUSTIFICATIVA

A presente pesquisa tem sua relevância acadêmica e social na medida em que


buscaremos, por meio de referencial teórico pertinente, e levantamento de dados da
violência doméstica ocorrida na atualidade, e a compreensão das técnicas utilizadas
pela Terapia Comportamental Cognitiva, bem como sua utilização e eficácia na
aplicabilidade, com vítimas e agressores, buscando por meio de uma mudança
comportamental dos mesmos atenuar o sofrimento causado aos envolvidos.

1.3 – OBJETIVOS

1.3.1 – Primário

Compreender as contribuições da Terapia Comportamental Cognitiva – TCC


no enfrentamento dos danos causados pelo fenômeno da violência doméstica.
1.3.2 – Secundário

 Identificar na literatura aspectos da dinâmica cotidiana que venham


fomentar a violência doméstica;
 Compreender como a Terapia Comportamental Cognitiva – TCC, por
meio de suas técnicas, pode auxiliar na mudança comportamental de
vítimas e agressores no universo da violência doméstica.

1.4 – MÉTODO

Para a execução dessa pesquisa utilizou-se, como técnica de coleta, o


levantamento de material bibliográfico, através de artigos acadêmicos pertinentes,
livros e levantamento de dados, junto ao site CAPES, sobre a violência doméstica
cotidiana.

Para Barros e Lehfeld (2000, p.70), “a pesquisa bibliográfica é a que se efetua


tentando resolver um problema ou adquirir conhecimentos a parti do emprego
predominante de informações advindas de material gráfico, sonoro e informatizado”

Gil (1999, p. 65), por sua vez salienta que: “a pesquisa bibliográfica é
desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos”.

Detectou-se a pesquisa bibliográfica quando se fez uso de materiais já


elaborados: livros, artigos científicos, revistas, documentos eletrônicos e
enciclopédias na busca e alocação de conhecimento sobre a influência do marketing
pessoal no processo de seleção, correlacionando tal conhecimento como abordagens
já trabalhadas por outros autores.

A análise dos dados será realizada de acordo com a Análise de Conteúdo de


Bardin. Para Bardin (1977) a análise de conteúdo é o conjunto de instrumentos
metodológicos que podem ser utilizado, procedimentos sistemáticos e objetivos.
2 – REVISÃO TEÓRICA

2.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Os atos de violência nas relações interpessoais vêm sendo cada vez mais
constantes e se tornaram uma das queixas mais comuns em instituições jurídicas,
policiais e de saúde, especialmente os que ocorrem no âmbito doméstico. Ainda
assim, existem muitos mitos e tabus, limitações que impedem os crimes domésticos
de serem denunciados e mesmo reconhecidos como tal (DINIZ; ANGELIM, 2003).

Para compreendermos melhor tais mitos e medos, precisamos refletir sobre o


conceito atual de família e as bases sobre as quais ele foi construído. Segundo
Bruschini (1993), precisamos desnaturalizar a família e entendê-la como um produto
mutável da sociedade, ou seja, que assume características e definições variáveis de
acordo com as ideologias e os constructos sociais e históricos. Dessa forma, a autora
afirma que o modelo familiar que conhecemos hoje é resultado de muitas
transformações e variações, e começou a se estabelecer aproximadamente no início
do século XX, tendo mantido, porém, os elementos patriarcais provenientes de seus
estágios em épocas anteriores.

As famílias patriarcais concedem ao homem a autoridade sobre todos os


membros e assuntos considerados familiares, sendo que o controle da sexualidade
feminina recebe atenção especial. Essa autoridade masculina é validada através das
ligações biológicas e sexuais, frequentemente reforçadas pelos discursos religiosos.
Dessa forma, o marido possui poder sobre a esposa pois é seu parceiro sexual, e
sobre os filhos porque os gerou. Por muito tempo, assumindo as atuais mudanças na
visão social e até mesmo científica sobre o assunto, essa mesma idealização familiar
foi a responsável por invalidar o que chamamos de outras configurações familiares,
como famílias homoafetivas ou sem a presença dos genitores (avós, parentes ou
tutores como responsáveis legais) (BRUSCHINI, 1993).
Essa compreensão mais ampla nos auxilia a entender as raízes sociais e
culturais dos crimes domésticos e dos mitos e medos que os cercam. Azevedo, Guerra
e Vaiciunas (1993, p. 208) consideram nossa sociedade como sendo “de classes e de
uma cultura adultocêntrica e patriarcal”, fazendo com que a atenção sobre as
mulheres e as crianças seja menor e minada por preconceitos. Não por acaso, a maior
incidência da violência doméstica ocorre nesses grupos, como citado anteriormente.
De fato, a valorização do modelo preestabelecido da família nuclear patriarcal, em
uma sociedade que considera a juventude e a beleza como ideais a serem mantidos,
a heterossexualidade como norma e padrão e a produtividade como sinônimo de
funcionalidade, contribui para definir a vulnerabilidade do grupo alvo dos crimes
domésticos: mulheres, crianças e adolescentes (frequentemente num contexto de
lgbtfobia), idosos e portadores de necessidades e/ou condições de saúde especiais
(DINIZ; ANGELIM, 2003).

Esses fatos encontram-se nas origens da violência doméstica porque nos


concedem as características do que é considerado o perfil mais comum de quem
comete crimes domésticos: homem; provedor financeiro; legalmente maior de idade;
considerado saudável física e mentalmente. Obviamente existem crimes domésticos
cometidos por pessoas que possuem outras características ou não se enquadram em
nenhuma das apresentadas, mas a maioria dos casos possui o agressor descrito
acima, independente da função que exerce na família, pai, irmão, tio, avô, namorado,
vizinho, tutor, pois como apresentado anteriormente, a estrutura e o conceito de
família são mutáveis e adaptáveis, mas geralmente alguém a quem se é atribuída a
função de cuidar e proteger (DINIZ; ANGELIM, 2003).

Outro conceito que deve ser analisado criticamente e que é reforçado pela
estrutura patriarcal é o de que a família e o ambiente familiar são redutos seguros.
Desde o início do século XX, quando o ideal de família atual começa a se firmar, o
grupo familiar se privatizou, a família extensa cede seu lugar à família nuclear e o
ambiente familiar passa de grandes propriedades e fábricas, onde familiares e não
familiares trabalhavam e conviviam juntos, para as residências particulares, quase
sempre desvinculadas do trabalho. Esse movimento, unido a colocação da mulher na
posição de responsável pelo afeto e cuidado físico da residência, fez com que a família
e seu “lar” se tornassem o local de segurança, protegido dos perigos e da violência
presentes no lado de fora. O pai é a figura protetora por excelência, guardião de tudo
e todos dentro do entendimento de família, e a mãe cuida da aparência desses bens
e das emoções das crianças, que somente pouco tempo antes da privatização da
família tornaram-se de fato importantes e merecedores das preocupações parentais,
sendo que o papel da mãe cuidadora foi se desenhando ao mesmo tempo em que a
escola infantil se desenvolve como lugar de formação intelectual e comportamental
(BRUSCHINI, 1993).

Este mito de que a violência é exclusiva do ambiente extra familiar, reforçado


constantemente pela mídia e meios de comunicação, tem por consequência outro
mito: de que a violência não acontece dentro de casa. Essa crença, encarada como
verdadeiro tabu consiste numa das principais causas da dificuldade em se denunciar
os crimes domésticos e, ainda hoje, em se acreditar em tais crimes. Por um lado, o
segredo familiar impede a vítima de considerar os abusos sofridos como indevidos e,
quando são entendidos como tal, o medo de trair o vínculo familiar impede a denúncia.
Tanto esse “segredo” como o vínculo familiar podem ser considerados de várias
formas, não apenas no sentido emocional, mas no financeiro e no social, por exemplo.
Indivíduos dependentes financeiramente e/ou inseridos em contextos que consideram
a família e seus membros mais importantes do que a liberdade e a saúde individuais,
como visto em alguns discursos religiosos, encontram maior dificuldade em aceitar a
violência doméstica como tal e muito mais em procurar ajuda, seja médica, policial,
social ou psicológica (DINIZ; ANGELIM, 2003).

Assim, silêncios e segredos falam de muitos medos que pessoas envolvidas


costumam sentir. Tanto crianças e adolescentes quanto mulheres adultas
frequentemente sofrem pressões e ameaças por parte da pessoa que os
violenta.

Tais pressões e ameaças somadas ao sentimento de lealdade para com o


familiar (pai, tio, avô, marido) silenciam as pessoas. Ademais, existe o medo
de ser incompreendida e de não receber apoio; o medo de ser culpabilizada
e/ou responsabilizada pelo ocorrido; e o medo de ser desvalorizada e/ou
estigmatizada tanto pelo grupo familiar mais próximo quanto pela sociedade
em geral (DINIZ; ANGELIM, 2003, p. 22).

Do outro lado do mito e do ideal da segurança familiar estão os profissionais


que muitas relutam em acreditar, ou mesmo em se dispor a investigar as denúncias
explicitas ou as evidências prováveis de violência doméstica. O fato de algumas
práticas violentas serem silenciosas também contribui para a demora ou dificuldade
em identificar tal violência. Dentre os crimes domésticos mais comuns encontramos
“o abuso sexual de crianças e adolescentes, incesto, estupro conjugal, espancamento,
abuso de idosos” (DINIZ; ANGELIM, 2003, p. 22), crimes que podem resultar em
marcas físicas observáveis, mais facilmente reconhecidas, mas muitas vezes não
acontece dessa forma. Mesmos os crimes citados podem apresentar consequências
intangíveis, e crimes especificamente psicológicos, como assédio sexual e moral,
intimidação, coação, bullying, situações que envolvem e levam a humilhação, medo,
vergonha e constrangimento, etc., conseguem passar despercebidos mesmo a
pessoas consideradas íntimas das vítimas, mesmo a pessoas pertencentes ao grupo
familiar, tanto pelo caráter subjetivo da violência, quanto pelo silêncio do abusado.
Sobre isso, Diniz e Angelim (2003, p. 22) exemplificam:

Mulheres casadas que vivenciam violência em suas relações conjugais,


movidas pelo medo do marido e por sentimentos de proteção aos filhos,
hesitam em expor “detalhes” da intimidade, ou seja, situações de sexo não
consensual, estupro, humilhação, etc. Mulheres sofrem coerção para que
mantenham relações sexuais em situações de doença e debilidade, o que
pode agravar seu estado de saúde. Existem ainda situações em que a mulher
é forçada a ter relações sexuais com outras pessoas ou a presenciar relações
sexuais; ou então a mulher é forçada a ouvir o parceiro relatar sobre relações
sexuais mantidas com outras pessoas.

Tais violências, mesmo sendo consideradas silenciosas, poderiam ser


identificadas mais fácil ou eficazmente, caso não houvesse outra situação que não
apenas compromete investigações e diagnósticos, como também representa causa e
consequência de violências domésticas: a omissão e o consentimento dos demais
membros familiares. Tal situação é mais presente em casos de incesto, caracterizado
por comportamentos sexuais entre membros da família, sendo que acontece mais
comumente entre pais e filhas. Sobre isso, Cohen (1993, p. 220) afirma:

O tipo de aproximação terapêutica familiar deverá ser diferente em cada caso.


Mas em todos os casos devemos responsabilizar a família como um todo e
não somente o agressor e sua vítima, pois toda a família é conivente com tal
situação.

Vimos que o contexto familiar onde ocorre a violência é complexo e diverso.


Os atos violentos geralmente ocorrem em relações de poder, onde tal poder é
legitimado pelo conceito socialmente aceito de família. O desafio a esse poder e a
afronta a sua autoridade, assim como a traição as leis e aos segredos familiares,
caracterizam as causas da violência familiar, considerando o ponto de vista do
agressor. Cohen (1993) aponta a cumplicidade do núcleo familiar nos casos de
violência e, quando isso acontece, pois certamente existem exceções, acontece
justamente devido aos segredos e mitos acerca da segurança e dos vínculos do
ambiente familiar (DINIZ; ANGELIM, 2003).
2.2 TRABALHANDO COM VÍTIMAS E AGRESSORES UTILIZANDO A
TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNIVA

Muitas podem ser as consequências da violência doméstica em suas vítimas.


As físicas são as mais fáceis de observar e, superficialmente falando, mais fáceis de
tratar também. Já as consequências psicológicas, além de mais complexas e muitas
vezes silenciosas, são também mais extensas. Transtorno de estresse pós-
traumático, síndrome do pânico, crises de ansiedade, dissociação e transtornos
psicóticos são algumas das marcas mais profundas, além de comportamentos como
estresse constante, insônia, dificuldades alimentares, mau rendimento escolar,
manifestações obsessivas, fóbicas, enurese (perda do controle da bexiga), encoprese
(resistência a defecar, resultando no vazamento involuntário) e problemas
psicossomáticos (COHEN, 1993, p. 219). Quando a violência cometida é o incesto,
suas consequências podem ser mais drásticas:

Nas crianças, há um aparecimento precoce da sexualidade genital; nas


adolescentes, a menarca (para muitos povos está vinculada com a perda da
pureza ou castidade) é vivida como uma reação violenta de vergonha: o
sangue pode ser vinculado ao incesto e sentido como um castigo, sinal de
uma ferida indelével (COHEN, 1993, p. 219).

Ou ainda:

As vítimas do incesto podem senti-lo como um equivalente mental de morte


biológica, ou seja, como uma aniquilação interna de suas estruturas
biológicas, ficando deste modo impedidos de crescer e de modificar sua vida
mental (COHEN, 1993, p. 212).

Tais consequências podem causar danos permanentes, gerando sofrimento


intenso e “levando a alterações de comportamento que possivelmente mobilizarão
todas as esferas da vida” (GOMES, 2012, p. 674). Alguns desses comportamentos
alterados são, muitas vezes, similares aos encontrados em pessoas com estresse
pós-traumático, sendo: choque, negação, recolhimento, confusão, entorpecimento,
depressão, desesperança, baixa autoestima, sentimentos de incapacidade,
ansiedade, irritabilidade, perda de memória, abuso de álcool e drogas,

Pensamentos intrusivos, como sonhos e revivências das situações abusivas,


e também sintomas de evitação, evitando lembrar as situações de agressão
vividas. Também estão presentes sintomas de hiperexcitablidade
autonômica, como alterações no sono, surtos de raiva, dificuldade de
concentração, hipervigilância e propensão para “assustar-se” de forma
exagerada (GOMES, 2012, p. 674).
Todos esses comportamentos apresentam uma origem similar, advinda das
transformações nos esquemas cognitivos em decorrência da violência sofrida, ou seja,
das situações e experiências traumáticas. As memórias relativas tendem a ser
reprimidas ou esquivadas, uma tentativa da vítima que lhe causa alívio momentâneo,
uma sensação de segurança em relação ao medo do que aconteceu, mas que não
dura, retornando mais forte a cada vez. Isso é o que se chama reforço negativo na
Teoria Comportamental Cognitiva, ou TCC (sigla também utilizada para designar a
Terapia Comportamental Cognitiva, prática psicoterápica fundamentada na teoria de
mesmo nome), e é basicamente o foco do tratamento com vítimas de violência
doméstica (GOMES, 2012).

Os esquemas cognitivos são formas que nosso cérebro utiliza para


compreender e decifrar o mundo a nossa volta, sendo baseados na nossa percepção
do mesmo e nas nossas interações com o meio, o que influencia a mesma percepção,
dando-lhe um tipo de direcionamento sobre como captar os estímulos externos e
tentar compreende-los, numa estrutura psíquica de recepção, decifração e registro.
Quando tais interações nos causam medo e sofrimento, como nos casos de violência
doméstica, os esquemas são modificados e a compreensão do mundo é
transformada, pois os registros cognitivos são marcados pelo medo. Então, a
percepção busca os mesmos medos no meio externo, fazendo com a vítima entre
numa sucessão de reforços negativos, tentando fugir do trauma vivido e, na verdade,
desta forma, revivendo-o constantemente (BECK, 1997).

Por essa razão a TCC é a abordagem psicoterápica mais utilizada no


tratamento de vítimas de violência doméstica, assim como nos casos de transtorno de
estresse pós-traumático (nem sempre casos de crimes domésticos podem ser
enquadrados no diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático, ou TEPT),
muitas vezes em conjunto com um tratamento farmacológico e, por conseguinte,
psiquiátrico. A abordagem terapêutica, portanto, consiste em trabalhar os esquemas
desenvolvidos a partir das experiências de violência e suas lembranças para modificá-
los, fazendo com que o medo e o sofrimento deixem de ser revividos por meio do
reforço negativo. Para tanto, o enfrentamento das situações que causam angústias é
necessário, utilizando-se técnicas como o reforço positivo, onde um comportamento é
reforçado positivamente para que ele seja repetido, modificando o esquema cognitivo.
Desta forma, uma vítima é levada a vivenciar uma experiência que lhe remeta ao
trauma vivido e enfrentá-la, sem fugir ou negar como vinha fazendo, e recebendo um
estímulo positivo como resultado, como por exemplo uma satisfação mais duradoura,
conseguir sair sozinha, relembrar a violência sofrida sem reviver o sofrimento, ou
simplesmente a felicitação da (o) terapeuta, dessa forma facilitando com que esse
enfrentamento se repita, até que o esquema seja modificado e o sofrimento do trauma
não seja mais revivido. Importante citar, contudo, que todas as práticas terapêuticas
devem ser sugeridas e realizadas de acordo com o paciente, respeitando os estados
emocional e físico da vítima, o que requer a sensibilidade técnica, o conhecimento e
domínio da teoria e da prática por parte do profissional, para não aumentar o
sofrimento do indivíduo ou lhe causar novos (GOMES, 2012).

No que tange aos agressores, a disponibilidade de tratamentos psicológicos e


mesmo de estudos específicos sobre não é tão grande quanto aos concernentes as
vítimas de violência doméstica. Poderíamos apontar alguns conceitos sociais e
culturais para teorizar sobre o motivo de quem comete crimes ser preferencialmente
punido apenas e não punido com possibilidade de reabilitação, mas não seria o foco
de nosso presente trabalho. Porém, algumas vezes faz parte da pena do acusado
passar por tratamento psicológico, e a TCC também é bastante preferida em tais
casos (a outra situação mais comum de agressores que buscam terapia é quando
assistentes sociais e/ou psicólogas (os) que trabalham com possíveis vítimas
“sugerem” que os possíveis suspeitos passem por acompanhamento e, mais
raramente, quando o próprio agressor decide procurar o tratamento por perceber o
sofrimento que causa a seus familiares). A terapia comportamental cognitiva, portanto,
trabalha com a mesma base teórica com as vítimas e com os agressores, utilizando
as práticas que envolvem a modificação dos esquemas cognitivos e a utilização de
reforço positivo e negativo (CORTEZ; PADOVANI; WILLIAMS, 2005).

Conforme o exposto sobre a teoria dos esquemas cognitivos, os profissionais


que trabalham com os agressores a partir da Teoria Comportamental Cognitiva
buscam modificar os esquemas cognitivos ligados aos impulsos violentos, assim
também como os ligados aos sentimentos de ciúme, baixa autoestima, insegurança,
minimização e negação da violência, apontados como comuns em violentadores
domésticos. Entretanto, primeiramente a abordagem terapêutica se inicia pela
descoberta de tais características e seus esquemas, pois cada indivíduo possui um
esquema próprio ligado a violência cometida, de acordo com sua percepção do meio,
conforme explicado. Assim, a prática psicoterápica é conduzida a fim de modificar os
esquemas ligados a respostas agressivas, buscando eliminar ou reduzir sua violência.
Temas como assumir a responsabilidade pela agressão e o controle da raiva são
muito trabalhados, e algumas outras técnicas, além dos reforços, são utilizadas, como
o role-playing, que consiste em colocar metaforicamente os agressores que passam
em terapia no lugar de suas vítimas, para que compreendam as outras percepções
dos fatos, uma técnica muito utilizada em terapias grupais, uma modalidade
terapêutica comum nesses casos específicos (CORTEZ; PADOVANI; WILLIAMS,
2005).

Apesar de não serem tão comuns quanto às práticas voltadas para o


atendimento das vítimas, os trabalhos com os agressores domésticos possuem
resultados positivos, com os comportamentos violentos sendo reforçados
negativamente pelos próprios pacientes com o decorrer do processo terapêutico e,
podemos presumir e confirmar através dos não tão prolíficos estudos sobre, que tais
trabalhos psicoterápicos são uma forma eficaz de remediar e prevenir os males e
sofrimentos desencadeados e decorrentes das diversas formas de violência
doméstica (CORTEZ; PADOVANI; WILLIAMS, 2005).

3 – RESULTADO E DISCUSSÃO

A partir dos estudos sobre a TCC em casos de violência doméstica, é possível


identificar que a violência contra a mulher é um fato social cada vez mais presente em
nosso cotidiano. A compreensão das diversas violências no âmbito doméstico, requer
um retrocesso teórico e histórico.

Segundo Bruschini (1993), precisamos desnaturalizar a família e entendê-la


como um produto mutável da sociedade. Famílias com aspectos patriarcais concedem
ao homem a relação de poder sobre sua companheira. Para os autores Azevedo,
Guerra e Vaicuinas (1993, p.208) nossa sociedade é considerada “de classes e de
uma cultura adultocêntrica e patriarcal".
Para Silva & Oliveira (2015), a violência contra a mulher é um problema de
proporções mundiais, que pode ser entendida pela desigualdade de gênero, que
resulte ou possa resultar em dano físico, psicológico, sexual ou patrimonial para a
mulher. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2019) a cada
ano cerca de 1.3 milhão de mulheres são agredidas no Brasil, ressaltando o índice do
ranking mundial de violência doméstica onde o país se encontra no 5° lugar.

A Terapia Comportamental Cognitiva tem como objetivo promover o


autoconhecimento, autocontrole e também autonomia. Nesse sentido, consegue
identificar e modificar os processos de pensamentos desadaptativos e os
comportamentos considerados problemáticos por meio da reestruturação cognitiva e
técnicas comportamentais para conseguir mudanças.

Com base nos dados dos artigos e referenciais teóricos é de fácil compreensão
que diversos são os danos causados pela violência cotidiana de milhares de mulheres,
tornando-se questão de política e saúde pública. Tais consequências podem
ocasionar danos permanentes, Gomes (2012) traz a temática enfatizando que a
violência gera sofrimento intenso levando alterações de comportamento que
possivelmente mobilizarão todas as esferas da vida”. Por essa razão a TCC é a
abordagem psicoterápica mais utilizada no tratamento de vítimas de violência
doméstica, assim como nos casos de transtorno de estresse pós-traumático, a
abordagem, portanto, consiste em trabalhar os esquemas desenvolvidos e modificá-
los.

Causas como estresse pós-traumático pode ocorrer em vítimas de violência


doméstica e a TCC tem eficácia comprovada para esse tipo de transtorno,
considerada como tratamento de primeira escolha (MENDES et al., 2008; BISSON &
DEANGELIS, 2008). Eventos pós-traumático já existentes corroboram para o
surgimento de sentimentos disfóricos e comportamentos desadaptativos, o que pode
favorecer o desenvolvimento de patologias (BECK, 1997).

O impacto dessa realidade afeta diretamente sobre a visão e percepção da


mulher sobre si mesma, para Cortez; Padovani; Williams (2005) apesar de não ser tão
comum às práticas voltadas para atendimento das vítimas, é de suma importância
trabalhos com os agressores, pois traz resultados positivos e tais trabalhos
psicoterápicos são uma forma eficaz de remediar e prevenir males e sofrimentos
decorrentes das diversas formas de violência.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegarmos no final desse trabalho, consideramos que ele apresenta uma


tentativa de compreensão da Terapia Cognitiva Comportamental e a violência
doméstica.

A violência doméstica contra a mulher é um tema atual que precisa ser exposto,
reconhecido e abordado com alternativas de enfrentamento. Durante as pesquisas e
estudo sobre a temática descrita, é notável como a desigualdade de gênero impacta
diretamente na relação de poder entre o homem e a mulher, resultando nas diversas
violências que enfrentam no âmbito doméstico.

A TCC em relação a violência contra a mulher, possui o papel de potencializar


a reflexão da mesma sobre sua subjetividade, buscando aspectos de
empoderamento, integrando teorias de cognição, emoção e comportamento.

A violência traz consigo danos dos mais diversos na vida da vítima, portanto é
necessário investimento em pesquisas e serviços de proteção às mulheres.
5 – REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A.; VAICIUNAS, N. Incesto ordinário: a vitimização


sexual doméstica da mulher-criança e suas consequências psicológicas. In:
AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. (Org.). Infância e violência doméstica:
fronteiras do conhecimento. São Paulo: Cortez, 1993. cap. 3 - b, p. 195-210.
BECK, J. S.Terapia cognitiva: teoria e prática. Tradução Sandra Costa. Porto Alegre:
Artmed, 1997.
BRUSCHINI, C. Teoria crítica da família. In: AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A.
(Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. São Paulo:
Cortez, 1993. cap. 1- c, p. 49-80.
COHEN, C. O incesto. In: AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. (Org.). Infância e
violência doméstica: fronteiras do conhecimento. São Paulo: Cortez, 1993. cap. 3 -
c, p. 211-26.
CORTEZ, M. B.; PADOVANI, R. C.; WILLIAMS, L. C. A. Terapia de grupo cognitivo-
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