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Como citar este artigo: Jesus G. B., & Lima, T. C. (2018). Mulher vítima
de violência psicologica: contribuições clínicas da terapia cognitivo-
comportamental. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 7(1):114-119. doi:
10.17267/2317-3394rpds.v7i1.1640
Estudos Teóricos
Resumo | Diante dos elevados números de mulheres vi- Abstract | In view of the high numbers of women victims
timadas sem o devido acolhimento/tratamento no Brasil, without proper reception / treatment in Brazil, this study
este estudo pretende promover a discussão acerca da vio- intends to promote the discussion about psychological
lência psicológica, como desdobramento das outras for- violence, as a result of other forms of violence,
mas de violência, principalmente, da violência doméstica, especially domestic violence, which requires appropriate
que necessita das intervenções psicoterapêuticas adequa- psychotherapeutic interventions. Thus, as it presented
das. Assim, como apresentara viabilidade da utilização viability of the use of Cognitive-Behavioral Therapy (CBT)
da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para o tra- for the treatment of these cases. For this, a narrative review
tamento destes casos. Para isso realizou-se uma revisão of literature was carried out, which contemplates classic
narrativa de literatura, que contempla autores clássicos authors and scientific articles published in recent years.
e artigos científicos publicados nos últimos anos. Ao final, In the end, it was perceived, therefore, that there is an
percebeu-se, portanto, que há uma insuficiência de pesqui- insufficient research that deals with the damages caused
sas que versam sobre os danos provocados pela violência by the psychological violence, as well as the importance of
psicológica, bem como a importância da psicologia para the psychology for the empowerment of the women.
o empoderamento das mulheres.
Keywords: Victimized Women; Psychological Violence;
Palavras-Chave: Mulheres Vitimadas; Violência Psicológi- Psychotherapeutic Interventions.
ca; Intervenções Psicoterapêuticas.
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família, e que assuntos de família não devem sair configuração de violência. Realidade esta, revelada
de dentro de seus lares, reforçando o dito popular por pesquisa de revisão da literatura, realizada
que “em briga de marido e mulher ninguém mete no ano 2000, que mostrou que os 25 estudos
a colher”. Com o receio de que não sejam vistos encontrados confirmaram que a força policial,
pelos demais como família harmônica, percebe-se em muitos casos, se recusou atender o chamado
a naturalização das ofensas verbais praticadas por telefônico ou até mesmo registrar o ocorrido por
muitos homens em relação às mulheres, tratando- falta de lesões físicas (Borin, 2007).
as como propriedade, concebendo através de uma
perspectiva confessional, que foi para isso que ele Pesquisa feita na delegacia da mulher da cidade de
foi criado, para ser o mantenedor da família e, Sobral/CE, no período de abril a agosto de 2003,
consequentemente, o dono da mesma. Logo, esse concluiu que das 578 denúncias realizadas, 186
movimento silencioso serve de combustível para a foram registradas como sendo violência psicológica,
permanência da violência psicológica embutida nos seguida de 214 denúncias registradas como violência
lares (Souza & Cassab, 2010). moral, ameaças, perseguição e negligência, que
também se tratam de desdobramentos da própria
Felizmente essa realidade presente na relação violência psicológica. Ou seja, esse tipo de violência
afetiva entre homens e mulheres está mudando, é muito mais prevalente que a violência física, apesar
apesar de ser em ritmo lento, mas, a perspectiva de não ser tão externalizada, daí a importância da
de mudança, por si mesma, já é um avanço que realização de pesquisas recentes (Oliveira, Freire,
merece ser ressaltado. Neste contexto, atualmente, Jorge & Barros, 2003).
no Brasil, boa parte das mulheres não se limita
aos afazeres domésticos, mas, se ocupa com Dados de pesquisa realizada com 251 mulheres,
uma profissão, enfrentando dupla jornada de atendidas numa Unidade Básica de Saúde da
trabalho em prol da conquista por independência cidade de Porto Alegre/RS, demonstram a
financeira. Todavia, para muitas mulheres, devido prevalência de violência psicológica em 55% dos
à violência psicológica, essa independência talvez casos registrados, isto é, um total de 139 mulheres
nunca ocorra. Outro desdobramento de violência confirmou ter sofrido diversos episódios de insultos,
resultante em sofrimento psicológico dentro dos humilhação, intimidação ou ameaças por parte do
lares para essas mulheres com dupla jornada de companheiro (Kronbauer & Meneguel, 2005).
trabalho, é ter que deixar seus rendimentos com o
companheiro como condição de sua permissão para Trata-se de um tipo de violência que acontece
exercer uma profissão fora do ambiente doméstico. predominantemente no âmbito familiar, e por isso,
Outra situação encontrada, é que apesar de ter muitas vezes é entendida e interpretada como uma
condições financeiras para deixar o companheiro, questão privada e não como uma problemática
ela não consegue superar os laços que a prende em social. Entretanto, o fato da violência ocorrer
tal situação, pois se encontra presa na armadilha no interior do domicílio não nega sua natureza
do abuso psicológico produzida pelo companheiro pública. Um dado preocupante é que em países
(Souza & Cassab, 2010). em desenvolvimento, principalmente, na América
Latina, estudos recentes estimam que apenas 15%
Pesquisas em Psicologia sobre Violência a 25% das situações de violência intrafamiliar
Psicológica são denunciadas. Prática que, inevitavelmente,
desemboca na política da subnotificação, que
Em alguns casos, quando a mulher recorre às contribui para a invisibilidade deste fenômeno. Por
delegacias para prestar boletim de ocorrência conseguinte, reforça a percepção de que a violência
por ter sofrido violência psicológica (humilhação, é um ato legítimo, como também perpassa a ideia
intimidação, negligência, ameaças, etc.) por parte de que a mulher deve se responsabilizar como
de seus companheiros, a mesma não obtém o devido provocadora da violência (Aguiar & Roso, 2016).
acolhimento pelas entidades estatais responsáveis
pela proteção, sendo que a justificativa mais Estes números, apesar de elevados, não revelam
apresentada é a falta de evidências físicas para a a totalidade dos casos de violências domésticas
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e sexuais, pois muitas vítimas não recorrem aos pessoa sente, mas como ela interpreta a situação. A
órgãos de proteção, o que configura a persistência forma como as pessoas se sentem emocionalmente
da cultura da subnotificação. Assim, este relevante e a forma como se comportam estão associadas
dado não deve ser desprezado, visto que amplia a como elas interpretam e pensam a respeito
consideravelmente a urgência em investir no da situação. A situação em si não determina
acolhimento dos casos, pois, são muitos os motivos diretamente como elas se sentem ou o que fazem; a
para que a subnotificação seja tão elevada, onde sua resposta emocional é mediada pela percepção
destaca-se o fator medo, principalmente, das da situação. Assim, torna-se imprescindível promover
possíveis retaliações (Kind et al., 2013). este esclarecimento às mulheres, a fim de que se
empoderem e se desvencilhem do aprisionamento
Intervenções Psicoterapêuticas em Terapia gerado pela violência psicológica (Beck, 2013).
Cognitivo-Comportamental
Além disso, vale ressaltar que o objetivo da TCC é
Partindo-se da percepção de que a vítima se constitui promover o autoconhecimento para o autocontrole
a partir de suas relações, de uma história pessoal, e autonomia do paciente, através do empirismo
de um meio social, econômico e político. Sendo assim, colaborativo (atuação ativa tanto do psicoterapeuta
papel da psicologia é potencializar a reflexão da quanto do paciente, visto que o paciente é co-
mulher sobre estes agentes formadores da sua terapeuta), o que entra em total consonância
subjetividade a fim de empoderá-la. Neste sentido, com as realidades dessas mulheres. As principais
transformar as mulheres em agentes de sua própria características da TCC: focada no aqui e agora;
realidade, para ser capaz de construir estratégias e voltada para a resolução de problemas; sessões
tomar decisões que modifiquem seu cotidiano e suas estruturadas; uso frequente de tarefas de casa e
relações sociais, favorecendo interações saudáveis uso de técnicas tanto da psicologia cognitiva quanto
com seu meio, como também, fazer com que elas da psicologia comportamental (Wright, Basco &
resgatem sua condição de sujeito, bem como sua Thase, 2008; Rangé et al., 2011; Beck, 2013).
autoestima, suas vontades e desejos, que ficaram
escondidos e suprimidos durante todo o período A TCC é uma abordagem dotada de inúmeras
em que conviveram em uma relação marcada pela técnicas interventivas, no entanto, destacam-se a
violência (Aguiar & Roso, 2016). psicoeducação e a descoberta guiada. Sendo que
psicoeducação é um acessório ou procedimento
Neste sentido, destaca-se a terapia cognitivo- de uso terapêutico com a função de simplificar a
comportamental (TCC) como forma de psicoterapia queixa da paciente. Neste sentido, o psicólogo
que integra teorias de cognição e aprendizagem através de miniaulas, prescrição de exercício na
com técnicas de tratamento derivadas da terapia sessão, recomendação de leituras (principalmente
cognitiva e da terapia comportamental, capaz de a Lei Maria da Penha e outras literaturas acerca
atender, eficazmente às demandas de violências, da violência contra mulheres). A paciente que
tanto doméstica quanto psicológica. A TCC compreende bem o seu problema, as consequências
pressupõe que variáveis cognitivas, emocionais e o processo de tratamento tem maior probabilidade
e comportamentais estão funcionalmente inter- de tornar-se mais empoderada. Enquanto que a
relacionadas. O tratamento tem por objetivo descoberta guiada é a técnica mais usada na sessão,
identificar e modificar os processos de pensamentos frequentemente, para identificar pensamentos
desadaptativos e comportamentos problemáticos automáticos gerados a partir da violência sofrida.
da cliente por meio da reestruturação cognitiva e Por meio desta técnica o psicoterapeuta atua com o
técnicas comportamentais para obter mudanças em objetivo de ajudar a paciente a identificar conteúdos
direção ao empoderamento feminino (Vandenbos et cognitivos severos e inflexíveis, colocando-os como
al., 2010). suspeitas e não verdades absolutas (Wright, Basco
& Thase, 2008).
O processo psicoterapêutico parte do princípio
que não é a situação em si que determina o que a
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