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Projeto GEA-online (Grupo de Estudos Agostinianos)

1. A trajetória intelectual e religiosa.

Aurélio Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354 em Tagaste, importante


cidade da Numídia ( hoje Souk-Ahras ), África do Norte, na Argélia, pertencente a uma
família de quatro irmãos, dois homens e duas mulheres.
Seu pai, Patrício, era um africano romanizado, pequeno proprietário e
funcionário municipal. Ademais era impulsivo, infiel no matrimônio e pagão, só
recebendo o batismo no final da vida.
Sua mãe era uma cristã fervorosa que procurava suportar as infidelidades do
marido e orientar os filhos no caminho de Deus.
Nas suas Confissões, nos primeiros livros, Agostinho recorda os pecados da sua
infância e juventude, seu desinteresse pelos estudos e preferência pelo teatro, jogos,
amores sensuais e coisas vãs. O relato do furto das pêras1, segundo o qual Agostinho
com alguns amigos roubam frutas pelo prazer de roubar, indica o grau de
perversidade do homem após o pecado de Adão segundo o autor das Confissões.

Contudo, num determinado momento de sua vida, o hiponense tem contato com
o pensamento de Cícero e desperta para a Filosofia, para a busca da Sabedoria. Ele
quer entender para depois crer. Aproxima-se da Bíblia e não consegue entender suas
narrativas grosseiras, comparadas com o estilo elegante de Cícero.

Após essa decepção com as Escrituras aproxima-se dos maniqueus, os quais


prometiam levar a fé por meio da razão e também apresentavam uma certa resposta
para o problema da existência do mal no mundo que tanto incomodava Agostinho. A
partir de um pensamento dualista, o maniqueísmo afirmava a existência de dois
princípios absolutos: o bem e o mal.

O mal para os maniqueus é uma substância absoluta que tem o mesmo poder que
o bem e, ademais, se confunde com a matéria, má em si mesma.

Assim, o maniqueísmo substancializa o mal para isentar o princípio do bem de


toda a responsabilidade sobre o mal no mundo. Assim, a origem do mal seria o sumo
mal.

1 Confissões. II, 4, 9.

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Entretanto, Agostinho entende que há determinadas contradições e limitações no
maniqueísmo e isso levá-o a um certo sentimento cético em relação às verdades
metafísicas.

O contato com a tradição platônica foi essencial, pois lhe permitiu a descoberta
do homem interior2. Neste momento Agostinho começa a entender a importância de se
fazer uma inspeção do espírito, principalmente para conseguir superar todo tipo de
pensamento materialista. O autoconhecimento, o voltar-se sobre si mesmo, a via da
interioridade lhe parece, cada vez mais, como o caminho que lhe ajudará a reencontrar
Deus.

Todavia, Agostinho percebeu também insuficiências no platonismo, o qual


colaborou para que ele pudesse superar sua fase materialista. O platonismo vislumbraria
a pátria da bem-aventurança, mas não teria condições de nos fazer habitar nela, pois
além da conversão do intelecto é preciso a conversão da vontade e a abertura à graça de
Deus. Neste momento Agostinho salienta a importância das epístolas de Paulo na sua
vida e como ele foi se abrindo à graça divina e retornando à fé que sua mãe sempre lhe
ensinou.

Ora, percebemos que em toda essa narrativa presente nas Confissões a noção de
trajetória, de busca, é fundamental. O homem vai passando por várias etapas até atingir
o repouso tão almejado que nada mais é que possuir a Deus.

A conversão

2 Idem VII, 10, 16.

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Um dia, julgando ouvir a voz de uma criança: “Tolle, lege”, “Toma, lê”, abriu ao
acaso as Epístolas de São Paulo, que tinha ao lado e passou a sentir que “todas as trevas
da dúvida se dissipavam”. Fez-se batizar no sábado santo de 387, com seu filho e com
seu amigo Alípio.
Voltando à África, viveu vários anos em retiro de orações e estudos. Em 390
perdeu o filho. Tanta era a sua fama referente a ciência e virtudes, que o povo o
escolheu para o sacerdócio. Em 395 foi sagrado bispo no pequeno porto de Hipona. Ali
então desenvolveu intensa atividade teológica e pastoral, dando máxima expressão a
seus dons no plano da especulação, da interpretação da Bíblia e da penetração
psicológica da alma humana.
Morreu a 28 de agosto de 430 em Hipona no seu leito, cercado de cópias de
salmos penitenciais e de alguns amigos.

2. Os grandes temas

Talvez a vida e o coração de Agostinho mostre na realidade o profundo de todo


ser humano, isto é, um ser sedento de Deus, mas que muitas vezes tenta matar a sua
sede do divino com outras coisas que não o satisfazem. Logo, a questão sobre o divino e
como encontra-lo perpassa toda a obra agostiniana.
Com o intuito de explicitar a referida questão, o Doutor da graça precisa, de uma
certa maneira, analisar um conjunto de temas que estão correlacionados com a temática
central. É por isso que encontramos na produção de suas obras a presença de temas
como: a verdade, a vida feliz, a ordem, o mal, a criação, a inquietude humana, a
mediação crística, a iluminação, a graça, a salvação, o tempo e a eternidade, o amor, a
cidade de Deus, a vontade, a Trindade, a predestinação etc.
Para se obter uma compreensão da realidade divina, mesmo limitada, se faz
necessário abordar todos esses temas.
Todavia na abordagem dos assuntos apontados é preciso realizar esse exercício
de busca de compreensão valorizando tanto a fé quanto a razão. Uma colabora com a
outra e uma precisa da outra. Como ele mesmo experimentou em sua trajetória, a
separação das duas é a causa de uma compreensão confusa do real. Querer compreender
para depois crer foi justamente o seu erro. É preciso, portanto, entender e aceitar a
dinâmica da relação entre fé e razão para se conseguir se aproximar da realidade divina.

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Ademais, se faz necessário ir além da exterioridade adentrando o âmbito da
interioridade. Por quê?
O retorno do homem a Deus, como Agostinho salienta em vários momentos,
passa pela via da interioridade. Por meio da imagem da luz, ele afirma como ainda está
aprisionado a uma perspectiva exterior, sensível, como ele mesmo diz:

“A luz estava no meu interior, mas eu olhava para fora. Ela não estava em local
determinado, enquanto eu só olhava para as coisas situadas num certo lugar, sem
achar aí um lugar para repousar”.3

Assim, o que ele só consegue perceber é a luz corpórea, situada num espaço,
embora já parece perceber a necessidade de conceber a luz de outra maneira (pela via da
interioridade e não da exterioridade) e também reconheça como sua presunção o
afastava de Deus, isto é, como o ato moral orgulhoso obscurecia a mente, impedindo-a
de ver a verdade4.

Agostinho já começa a apontar que, se o homem pretende conhecer a Deus


precisa, então, voltar-se sobre si mesmo e buscar a Verdade, a beatitude, Deus, a partir
do registro da interioridade. Não pelo fato da exterioridade ser má em si mesma, mas
sim porque a exterioridade não se auto explica. Ela não é causa e nem fundamento de si
mesma. Logo, se faz necessário buscar uma outra instância de explicação e fundamento.

Em Confissões X, 1, 1, o bispo de Hipona expressa à Deus o desejo de conhecê-


lo assim como é conhecido por ele. Ora, no mesmo livro Agostinho diz:

“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis
que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-
me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava
contigo”.5

Vê-se que, para o autor das Confissões, não há de fato afastamento absoluto de
Deus. Mesmo que a criatura se afaste moralmente do seu criador, ainda permanece um
vínculo ontológico. Este vínculo mostra como o absoluto se faz presente no homem
interior, sendo mais íntimo do que o seu próprio íntimo. Entretanto, se o homem quer se
lembrar de Deus, conhecê-lo e superar seu afastamento moral, é preciso percorrer o

3 Idem. VII, 7, 11.


4 Cf. Conf. VII, 7, 11.
5 Conf. X, 27, 38.

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caminho que vai do exterior ao interior, começando pelos sentidos externos, indo para
os internos até vislumbrar os palácios da memória e constatar no seu interior uma
presença de algo absoluto, que está ligado à criatura, mas ao mesmo tempo a
transcende.

Desta maneira, percebemos que, para Agostinho, a inspeção do espírito e o


conhecimento de si é importante porque ajuda a criatura humana superar seu
esquecimento de Deus e de si mesma.

3. O Projeto

Há um certo tempo, em muitos lugares que vou pelo Brasil e também fora do
território nacional para dar Cursos e Palestras, encontro pessoas que apresentam um
interesse muito grande pelas obras de Santo Agostinho. Muitos chegaram a me pedir
que criasse um Curso de forma sistemática e contínua sobre o pensamento do referido
autor.

Com intuito de poder ajudar a todos criei então o GEA on-line. A finalidade do
Grupo de Estudos é analisar suas principais obras, tendo como ponto de partida seus

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Diálogos filosóficos (Contra Acadêmicos, A vida feliz, A ordem, Solilóquios, A música,
etc.) até seus últimos textos sobre a Graça e a predestinação. Um empreendimento,
portanto, longo, sem data para terminar.

Analisando também obras redigidas entre o período do seu batismo e o


sacerdócio, tais como: A quantidade da alma, O livre-arbítrio, A verdadeira religião e
as Oitenta e três questões diversas.

Ademais, abordaremos suas três grandes obras: suas Confissões, como também
A Trindade, até a sua monumental obra, A cidade de Deus.

Da mesma forma que alguns tratados anti-maniqueus, anti-donatistas e anti-


pelagianos serão lidos e explicitados.

Por fim suas cartas e sermões.

Com certeza é uma proposta ousada e grandiosa. Entretanto, é importante


salientar que a intenção do projeto não é fazer uma análise exaustiva e um comentário
minucioso de cada texto, mas sim permitir que cada aluno tenha uma compreensão das
ideias principais de cada obra a partir de um contato direto com o texto do autor.

4. Modo de trabalho

Começaremos nossos estudos com a primeira obra de Santo Agostinho, seu


Contra Acadêmicos.

Será disponibilizado uma vídeo-aula por semana a partir da primeira semana de


março. As dúvidas poderão ser enviadas por e-mail, pelo contato do site, como também
pela página do facebook. Conforme a necessidade serão feitas Lives apenas para o
grupo de alunos para explicitar as dúvidas enviadas.

Além disso, na parte exclusiva para os alunos, será fornecido em PDF um guia
de leitura e bibliografia para estudo sobre cada obra analisada.

Para participar do GEA é preciso fazer a inscrição pelo site


www.joelgracioso.com.br a partir de 19 de fevereiro.

O aluno poderá fazer sua inscrição nas opções: mensal, trimestral, semestral e
anual. Sendo que haverá um desconto a partir da modalidade trimestral. Assim os

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valores serão: mensal (R$ 44,00), trimestral (R$120,00), semestral (R$ 210,00) e anual
(R$ 360,00).

O aluno poderá fazer sua inscrição em qualquer momento. Mesmo que já tenha
começado o Grupo em março não tem problema inscrever-se por exemplo em maio,
pois todas as aulas gravadas ficarão disponíveis para os membros assistirem quantas
vezes quiserem e no horário que for mais conveniente.

Conto com sua participação. Não perca essa oportunidade. Com certeza é um
privilégio poder estudar o pensamento desde grande Doutor da Igreja, que não é por
acaso que é chamado de Mestre do Ocidente.

Prof. Dr. Joel Gracioso

Possui Mestrado e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo sobre Santo
Agostinho e Especialização em Teologia. Tem experiência no ensino de Filosofia e
Teologia, com ênfase em História da Filosofia Medieval, Patrística, Ética, Antropologia
Filosófica, Filosofia da Religião e Teologia Cristã Oriental. Estuda o final da
Antiguidade e o Medievo, e suas relações com o pensamento contemporâneo.

É Membro da Sociedade Brasileira para o Estudo da Filosofia Medieval e da Société


Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale. Coordena o Centro de Estudos
Agostinianos que possui a maior Biblioteca sobre Santo Agostinho na América Latina.
Faz parte também do Grupo de Trabalho: Filosofia na Idade Média da ANPOF.

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Ademais, leciona na Faculdade São Bento de São Paulo, na qual é coordenador
pedagógico do Curso de Filosofia e realiza, também, o Grupo de Pesquisa
Fenomenologia e Cristianismo voltado ao pensamento de Karol Wojtyla. Também
leciona no Seminário Maria Mater Ecclesiae do Brasil em Itapecerica da Serra e no
Instituto Superior de Filosofia Sede da Sabedoria na Diocese de Osasco.

Autor de livros e artigos nas áreas de Filosofia e Teologia, ministra cursos e palestras
em todo o Brasil e no âmbito Internacional.

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