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Encontra-se sob exame dessa Corte o pedido de registro de candidatura para o mandato de
SENADOR do requerido FRANCINETO LUZ AGUIAR, cujo edital foi publicado no dia 14/08/2018.
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Municipal de São Bernardo do Campo – SP, teve contas de gestão, referentes ao exercício
financeiro de 2012, desaprovadas em face de irregularidades, graves e insanáveis, ocorridas na
aplicação de verbas repassadas voluntariamente a entidades privadas pelo município de São
Bernardo do Campo/SP por intermédio de convênio, as quais restaram caracterizadas como ato
doloso de improbidade administrativa – hipótese fática que atrai a incidência da causa de
inelegibilidade tipificada no art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n. 64/90.
A Lei Complementar n.º 64/90, a que se refere tal dispositivo constitucional, descreve, em
seu artigo 1º, as diversas hipóteses em que, além daquelas já previstas na Constituição, se
configurará a inelegibilidade.
Assim é que, de acordo com o disposto no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei
Complementar 64/90, com a nova redação conferida pela LC n.º 135/2010:
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Ressalvou, porém, a lei, uma hipótese em que, apesar de terem sido as contas rejeitadas,
não se configurará a inelegibilidade: aquela em que a decisão de rejeição tenha sido suspensa ou
anulada pelo do Poder Judiciário.
No caso dos autos, o impugnado teve rejeitadas as contas que apresentou enquanto gestor
do município de São Bernardo do Campo – SP, relativo ao exercício 2012, conforme decisão do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, por irregularidade insanável que configura ato doloso
de improbidade administrativa, o qual pode ser analiticamente sumarizado da seguinte forma:
ausência de Plano de Trabalho; não demonstração de eficiência, eficácia e economicidade do
ajuste; infringência aos incisos II e III, do §1º do artigo 116 da Lei Federal nº 8.666/93; o
cronograma de desembolso inicial não estimou o custo de cada atividade, não sendo possível
verificar se a supressão do repasse equivale às atividades não desenvolvidas, ou se houve
superestimação dos fluxos financeiros; ausência de metas, de especificação da quantidade de
participantes nas atividades propostas e de indicação da fonte utilizada para estimar os custos.
Veja-se, a propósito, a ementa dos acórdãos exarados pelo TCE e trechos dos respectivos
votos:
TC-020929/026/13
Órgão Público Concessor: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.
Entidade Beneficiária: Fundação de Apoio à Faculdade de Educação – FAFE.
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Responsáveis: Luiz Marinho e Francineto Luz de Aguiar (Prefeitos) e Silvia Luzia Frateschi
Trivelato (Diretor Administrativa).
Assunto: Prestação de contas – repasses públicos ao terceiro setor. Justificativas
apresentadas em decorrência de assinatura de prazo pelo Conselheiro Dimas Eduardo
Ramalho, publicadas no D.O.E. de 12-10-13, 02-11-13 e 21-05-14.
Exercício: 2012.
Valor: R$993.747,48.
Advogados: Douglas Eduardo Prado, Arcênio Rodrigues da Silva, Célia da Silva Castro e
outros.
Procurador de Contas: Rafael Antonio Baldo.
Vistos, relatados e discutidos os autos.
ACORDA a Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em sessão de
05 de maio de 2015, pelo voto dos Conselheiros Dimas Eduardo Ramalho – Presidente e
Relator, Edgard Camargo Rodrigues e da Auditora Substituta de Conselheiro Silvia
Monteiro, na conformidade do voto do Relator e das correspondentes notas taquigráficas,
julgar irregular a prestação de contas em exame, acionando-se o disposto nos incisos XV e
XXVII do artigo 2º, da Lei Complementar nº 709/93.
Deixar de condenar a Entidade à devolução dos valores, uma vez que apesar dos
desacertos verificados, não se apurou indícios de desvio ou manifesto prejuízo ao erário.
Transitado em julgado, será encaminhada cópia de oficio e da decisão, para ciência, à
Câmara Municipal de São Bernardo do Campo.
Determinou, por fim, seja notificado o atual Prefeito para, no prazo de 60(sessenta) dias,
informe as providências adotadas frente ao relatado nestes autos, inclusive apuração dos
responsáveis, eventuais punições administrativas aplicadas e medidas corretivas para
evitar a repetição das falhas.
Presente o Procurador do Ministério Público de Contas: Thiago Pinheiro de Lima.
Ficam, desde já, autorizadas vista e extração de cópias dos autos aos interessados, em
Cartório.
Trecho do voto respectivo:
2. VOTO
2.1. A defesa juntada aos autos não elidiu a totalidade das falhas aventadas
na instrução da matéria.
2.2. Não foram apresentados comparativos entre as metas propostas e os resultados
alcançados pela conveniada.
2.3. No tocante à economicidade, a alegação da Prefeitura de que o projeto de Bibliotecas
Escolares Interativas, por ser pioneiro no país e abranger questões técnicas e pedagógicas,
não permite mensurar o custo do investimento, e sim resultados qualitativos (fl. 137), não
deve prosperar, pois a ausência de um Plano de Trabalho eficiente, contendo metas,
composição de custos unitários e globais, e as fases de execução do objeto, impede que a
administração avalie a eficiência, eficácia e economicidade dos atos praticados,
denotando, ainda, infringência aos incisos II e III do § 1º do artigo 116 da Lei da Lei Federal
nº 8.666/1993.
2.4. De fato, assiste razão à Fiscalização ao afirmar que “o Cronograma de Desembolso
inicial não estimou o custo de cada atividade, não sendo possível verificar se a supressão
do repasse equivale às atividades não desenvolvidas, ou se houve superestimação dos
fluxos financeiros” (fl. 78).Tanto é assim que, por meio do Termo Aditivo assinado em
02/01/2013, o valor do Convênio foi significativamente alterado de R$ 3.069.213,78 para
R$ 1.944.504,74. Isto, aliado à ausência de metas, especificação da quantidade de
participantes nas atividades propostas e de indicação da fonte utilizada para estimar os
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É de bom alvitre lembrar que o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em estrita
obediência à legislação eleitoral, publicou recentemente, em 08/08/2018, Relação de
Responsáveis por Contas Julgadas Irregulares, na qual consta o nome do candidato FRANCINETO
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Contudo, não se tem notícia de que o impugnado tenha obtido, perante o Poder Judiciário,
qualquer medida suspensiva ou anulatória da r. decisão que rejeitara suas contas, com vistas à
suspensão da inelegibilidade de oito anos a que se refere o citado artigo de lei complementar,
estando, portanto, inelegível.
II – DO PEDIDO
c) a regular tramitação desta ação, nos termos dos arts. 4º e seguintes da Lei
Complementar n.º 64/90, para, ao final, ser julgada procedente a presente impugnação e
consequente indeferimento do pedido de registro de candidatura, em razão da inelegibilidade
verificada nos autos.
Protesta-se, finalmente, pela produção de provas, por todos os meios e formas em direito
admitidos, em especial pela juntada de novos documentos.
Deixa de atribuir valor à causa, porquanto inestimável e em face da própria natureza dos
feitos eleitorais.