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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

Procuradoria Regional Eleitoral do Estado do Piauí

EXCELENTÍSSIMO SENHOR RELATOR – EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO


PIAUÍ

Referente ao Processo n.º 0600753-68.2018.6.18.0000


Candidato: FRANCINETO LUZ DE AGUIAR
Cargo postulado: SENADOR
Partido ou Coligação: Partido Republicano Brasileiro – PRB

A PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL,


ELEITORAL por seu Procurador signatário, nos autos do
requerimento de registro de candidatura em epígrafe, vem à presença de Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 3º, caput, da Lei Complementar n.º 64/90, art. 38 da Resolução TSE n.
23.548/2017 e art. 77 da Lei Complementar n.º 75/93, propor, no quinquídio legal, a presente
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATURA objeto do pedido formulado
pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB) em favor de FRANCINETO LUZ DE AGUIAR, já qualificado
no RRC encartado aos autos, para o cargo de SENADOR, sob o n. 101, pelos motivos a seguir
expendidos:

I – DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Encontra-se sob exame dessa Corte o pedido de registro de candidatura para o mandato de
SENADOR do requerido FRANCINETO LUZ AGUIAR, cujo edital foi publicado no dia 14/08/2018.

Sucede que, como comprova a anexa documentação, extraída do sítio eletrônico do


Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), o ora impugnado, na condição de gestor
público, em conjunto com o Sr. Luiz Marinho e a Sra. Silvia Luzia Frateschi, à frente da Prefeitura

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Municipal de São Bernardo do Campo – SP, teve contas de gestão, referentes ao exercício
financeiro de 2012, desaprovadas em face de irregularidades, graves e insanáveis, ocorridas na
aplicação de verbas repassadas voluntariamente a entidades privadas pelo município de São
Bernardo do Campo/SP por intermédio de convênio, as quais restaram caracterizadas como ato
doloso de improbidade administrativa – hipótese fática que atrai a incidência da causa de
inelegibilidade tipificada no art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n. 64/90.

Trata-se, pois, de julgamento de prestação de contas de recursos repassados durante o


exercício de 2012, no valor de R$ 993.474,48, pela Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo
à Fundação de Apoio à Faculdade de Educação – FAFE, decorrente do convênio nº. 13/2011 – SE,
visando ao desenvolvimento do Programa de Biblioteca e Educação; e e-REBI (rede de informação
e comunicação), e Consultoria a Processo Seletivo de Infoeducador, destinados a professores,
técnicos de nível superior e médio, auxiliares e agentes de atendimento de bibliotecas escolares da
Rede Municipal de Ensino de São Bernardo do Campo, além da Coleção Biblioteca e Educação,
conjunto de publicações de caráter pedagógico, que versa sobre temáticas desenvolvidas pelo
programa de capacitação.

A Constituição da República, em seu artigo 14, estabelece as condições de elegibilidade,


definindo, desde logo, algumas hipóteses de inelegibilidade. O parágrafo 9º, do mesmo artigo,
prevê a possibilidade de estabelecimento de outras hipóteses, nos seguintes termos:

“Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua


cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do
mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta.”

A Lei Complementar n.º 64/90, a que se refere tal dispositivo constitucional, descreve, em
seu artigo 1º, as diversas hipóteses em que, além daquelas já previstas na Constituição, se
configurará a inelegibilidade.

Assim é que, de acordo com o disposto no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei
Complementar 64/90, com a nova redação conferida pela LC n.º 135/2010:

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Art. 1º São inelegíveis:


I - para qualquer cargo:
(...)
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas
rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade
administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido
suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito)
anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II
do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de
mandatários que houverem agido nessa condição;(Redação dada pela Lei Complementar
nº 135, de 2010)
A rejeição das contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas, de fato, reveste-
se de extrema gravidade, revelando, no mínimo, um desapego à coisa pública, que não se coaduna
com a moralidade e a probidade que a Constituição Federal exige de todo agente público (artigo
37, caput) e que, por isso mesmo, são expressamente referidas no citado artigo 14, § 9º, da CF.

Ressalvou, porém, a lei, uma hipótese em que, apesar de terem sido as contas rejeitadas,
não se configurará a inelegibilidade: aquela em que a decisão de rejeição tenha sido suspensa ou
anulada pelo do Poder Judiciário.

No caso dos autos, o impugnado teve rejeitadas as contas que apresentou enquanto gestor
do município de São Bernardo do Campo – SP, relativo ao exercício 2012, conforme decisão do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, por irregularidade insanável que configura ato doloso
de improbidade administrativa, o qual pode ser analiticamente sumarizado da seguinte forma:
ausência de Plano de Trabalho; não demonstração de eficiência, eficácia e economicidade do
ajuste; infringência aos incisos II e III, do §1º do artigo 116 da Lei Federal nº 8.666/93; o
cronograma de desembolso inicial não estimou o custo de cada atividade, não sendo possível
verificar se a supressão do repasse equivale às atividades não desenvolvidas, ou se houve
superestimação dos fluxos financeiros; ausência de metas, de especificação da quantidade de
participantes nas atividades propostas e de indicação da fonte utilizada para estimar os custos.

Veja-se, a propósito, a ementa dos acórdãos exarados pelo TCE e trechos dos respectivos
votos:
TC-020929/026/13
Órgão Público Concessor: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.
Entidade Beneficiária: Fundação de Apoio à Faculdade de Educação – FAFE.

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Responsáveis: Luiz Marinho e Francineto Luz de Aguiar (Prefeitos) e Silvia Luzia Frateschi
Trivelato (Diretor Administrativa).
Assunto: Prestação de contas – repasses públicos ao terceiro setor. Justificativas
apresentadas em decorrência de assinatura de prazo pelo Conselheiro Dimas Eduardo
Ramalho, publicadas no D.O.E. de 12-10-13, 02-11-13 e 21-05-14.
Exercício: 2012.
Valor: R$993.747,48.
Advogados: Douglas Eduardo Prado, Arcênio Rodrigues da Silva, Célia da Silva Castro e
outros.
Procurador de Contas: Rafael Antonio Baldo.
Vistos, relatados e discutidos os autos.
ACORDA a Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em sessão de
05 de maio de 2015, pelo voto dos Conselheiros Dimas Eduardo Ramalho – Presidente e
Relator, Edgard Camargo Rodrigues e da Auditora Substituta de Conselheiro Silvia
Monteiro, na conformidade do voto do Relator e das correspondentes notas taquigráficas,
julgar irregular a prestação de contas em exame, acionando-se o disposto nos incisos XV e
XXVII do artigo 2º, da Lei Complementar nº 709/93.
Deixar de condenar a Entidade à devolução dos valores, uma vez que apesar dos
desacertos verificados, não se apurou indícios de desvio ou manifesto prejuízo ao erário.
Transitado em julgado, será encaminhada cópia de oficio e da decisão, para ciência, à
Câmara Municipal de São Bernardo do Campo.
Determinou, por fim, seja notificado o atual Prefeito para, no prazo de 60(sessenta) dias,
informe as providências adotadas frente ao relatado nestes autos, inclusive apuração dos
responsáveis, eventuais punições administrativas aplicadas e medidas corretivas para
evitar a repetição das falhas.
Presente o Procurador do Ministério Público de Contas: Thiago Pinheiro de Lima.
Ficam, desde já, autorizadas vista e extração de cópias dos autos aos interessados, em
Cartório.
Trecho do voto respectivo:

2. VOTO
2.1. A defesa juntada aos autos não elidiu a totalidade das falhas aventadas
na instrução da matéria.
2.2. Não foram apresentados comparativos entre as metas propostas e os resultados
alcançados pela conveniada.
2.3. No tocante à economicidade, a alegação da Prefeitura de que o projeto de Bibliotecas
Escolares Interativas, por ser pioneiro no país e abranger questões técnicas e pedagógicas,
não permite mensurar o custo do investimento, e sim resultados qualitativos (fl. 137), não
deve prosperar, pois a ausência de um Plano de Trabalho eficiente, contendo metas,
composição de custos unitários e globais, e as fases de execução do objeto, impede que a
administração avalie a eficiência, eficácia e economicidade dos atos praticados,
denotando, ainda, infringência aos incisos II e III do § 1º do artigo 116 da Lei da Lei Federal
nº 8.666/1993.
2.4. De fato, assiste razão à Fiscalização ao afirmar que “o Cronograma de Desembolso
inicial não estimou o custo de cada atividade, não sendo possível verificar se a supressão
do repasse equivale às atividades não desenvolvidas, ou se houve superestimação dos
fluxos financeiros” (fl. 78).Tanto é assim que, por meio do Termo Aditivo assinado em
02/01/2013, o valor do Convênio foi significativamente alterado de R$ 3.069.213,78 para
R$ 1.944.504,74. Isto, aliado à ausência de metas, especificação da quantidade de
participantes nas atividades propostas e de indicação da fonte utilizada para estimar os

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custos, resultou, inclusive, na reprovação do citado Aditamento.


2.5. Diante do exposto, VOTO pela IRREGULARIDADE da prestação de contas em exame,
com acionamento do disposto nos incisos XV e XXVII do artigo 2º da Lei Complementar nº
709/93.

Após o julgamento alhures e publicação do acórdão foi interposto Recurso Ordinário


perante o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo que, por sua vez, não acolheu os argumentos
trazidos, mantendo a decisão originária (anexo).

Como visto, notadamente dos excertos em destaque, as inúmeras irregularidades


detectadas nas contas prestadas pelo requerido na qualidade de gestor, decorrente do exercício do
apontado cargo público, ostentam natureza insanável e enquadram-se como ato doloso de
improbidade administrativa tendo em vista que atenta contra os princípios da administração
pública, conforme previsto no art. 11 da Lei 8.429/92, descumprindo, outrossim, as normas
relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração
pública com entidades privadas.

Ressalta-se, inclusive, que a configuração do ato de improbidade por ofensa a princípio da


Administração Pública depende da demonstração do chamado dolo genérico ou lato sensu (STJ. 2ª
Turma. REsp 1383649/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2013), e não se exige o
dolo específico (elemento subjetivo específico) para sua tipificação (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp
307.583/RN, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013), bem como não é necessário que se
prove que o agente obteve enriquecimento ilícito do ato inquinado (STJ. 2ª Turma. REsp
1286466/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03/09/2013).

Nesse contexto, é patente a incidência da causa de inelegibilidade suscitada (artigo 1º,


inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n. 64/90), como, inclusive, sedimentado na jurisprudência
do egrégio TSE.

É de bom alvitre lembrar que o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em estrita
obediência à legislação eleitoral, publicou recentemente, em 08/08/2018, Relação de
Responsáveis por Contas Julgadas Irregulares, na qual consta o nome do candidato FRANCINETO

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LUZ DE AGUIAR, cujo trânsito em julgado aconteceu em 15/12/2015 (documento anexo).

Contudo, não se tem notícia de que o impugnado tenha obtido, perante o Poder Judiciário,
qualquer medida suspensiva ou anulatória da r. decisão que rejeitara suas contas, com vistas à
suspensão da inelegibilidade de oito anos a que se refere o citado artigo de lei complementar,
estando, portanto, inelegível.

II – DO PEDIDO

Diante do exposto, requer a PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL:

a) o recebimento da presente impugnação, com a documentação que a instrui;

b) a notificação do impugnado, no endereço constante do pedido de registro de


candidatura em exame e/ou do banco de dados desse egrégio Tribunal Regional Eleitoral, para,
querendo, apresentar defesa no prazo legal;

c) a regular tramitação desta ação, nos termos dos arts. 4º e seguintes da Lei
Complementar n.º 64/90, para, ao final, ser julgada procedente a presente impugnação e
consequente indeferimento do pedido de registro de candidatura, em razão da inelegibilidade
verificada nos autos.

Protesta-se, finalmente, pela produção de provas, por todos os meios e formas em direito
admitidos, em especial pela juntada de novos documentos.

Deixa de atribuir valor à causa, porquanto inestimável e em face da própria natureza dos
feitos eleitorais.

São os termos em que

Pede e aguarda deferimento.

Teresina, 18 de agosto de 2018.


PATRÍCIO NOÉ DA FONSECA
Procurador Regional Eleitoral

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