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A tradição canonística
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Graciano é contemporâneo dos primeiros glosadors (v. infra, Error: Reference source not found); os seus dicta correspondem às
glosas ao Corpus iuris civilis.
Com o contínuo desenvolvimento do direito da Igreja, o Decreto foi-se
desactualizando, tornando necessárias compilações complementares. Em 1234,
Gregório IX encarrega o dominicano espanhol Raimundo de Penhaforte, também
professor em Bolonha, de completar a compilação de Graciano. O resultado foram as
Decretales extra Decretum Gratiani vacantes [Decretais que extravasam o Decreto de
Graciano], divididas em cinco livros 2 . Em 1298, Bonifácio VIII completa-as com mais
um livro, o chamado Liber sextum (ou simplesmente Sextum). Clemente V acrescenta-
lhes as Clementinas (1314). João XXII, as Extravagantes de João XXII (1324). E, nos
finais do século XV, aparecem ainda uma outra colecção oficial, as Extravagantes
comuns. Ao conjunto destas colecções passou a chamar-se Corpus iuris canonici, à
semelhança do nome dado à compilação justinianeia de direito civil 3.
2
Esta sistematização tornou-se num modelo para compilações jurídicas seguintes. É, por exemplo, a utilizada nas Ordenações
portuguesas.
3
O Corpus iuris canonici manteve-se em vigor até 1917, data de publicação do Codex iuris canonici [Código de direito canónico].
4
A fonte são duas decretais, uma de Alexandre III, outra de Inocêncio III.
estabelecimento do processo inquisitório, com uma maior preocupação da averiguação
da verdade material 5.
10
Sobre isto, v. Villey, 1968, 109 ss.
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Bártolo: "aut loquimur in spiritualibus et pertinentibus ad fidem et stamus canoni...; aut loquimur in temporalibus, et tunc in terris
subiectis Ecclesiae, et sine dubio stamus decretalibus; aut in terra subiectis Imperio, et tunc, aut servare legem est inducere
peccatum... et tune stamus canonibus...; aut non inducit peccatum...et tunc stamus legi..." [ou nos referimos a coisas espirituais e
pertencentes à fé e observamos os cânones ...; ou falamos de coisas temporais e estamos em terras sujeitas ao poder temporal da
Igreja, e então observamos sem dúvida as decretais, ou estamos em terras sujeitas ao Império e então, se observar as suas leis induzir
em pecado, observamos os cânones; ou, se não induzir, observamos a lei] (Super Cod., I, 2 de sacr. eccles., 1 priv.). Sobre isto, bem
como sobre a restante matéria desta alínea, Calasso, 1954, 177-9 e 487-90.