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Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 1

UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS DEZEMBRO/2018


ÍNDICE

ÍNDICE................................................................................................................................. 2

SUMÁRIO EXECUTIVO ...................................................................................................... 3

CENÁRIOS MACROECONÔMICOS PARA 2019 .............................................................. 5

DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019 ................................................................................. 6


INTERNACIONAL ..................................................................................................................................... 6

DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019 ................................................................................. 7


BRASIL ...................................................................................................................................................... 7

DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019 ................................................................................. 8


RIO GRANDE DO SUL ............................................................................................................................. 8

1.CENÁRIO INTERNACIONAL ........................................................................................... 9


DESACELERAÇÃO À VISTA ................................................................................................................... 9

2. NÍVEL DE ATIVIDADE .................................................................................................. 24


RITMO DA RECUPERAÇÃO DECEPCIONA EM ANO REPLETO DE INCERTEZAS ......................... 24

3. INDÚSTRIA ................................................................................................................... 37
INDÚSTRIA BRASILEIRA CONFIRMA E GAÚCHA SUPERA EXPECTATIVAS ................................. 37

4. EMPREGO E RENDA ................................................................................................... 53


DESEMPENHO EM LINHA COM A RETOMADA DA ECONOMIA ....................................................... 53

5. SETOR EXTERNO E CÂMBIO ..................................................................................... 66


PONTO DE INFLEXÃO ........................................................................................................................... 66

6. INFLAÇÃO, JUROS E CRÉDITO.................................................................................. 80


QUANDO A TEORIA SE CONFIRMA NA PRÁTICA ............................................................................. 80

7. POLÍTICA FISCAL ........................................................................................................ 91


ESPERANDO AS REFORMAS............................................................................................................... 91

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O Brasil continua a convalescer após a crise mais intensa da sua história. Depois de
avançar 1,0% em 2017, o crescimento do PIB em 2018 deve ser de 1,3%. O desempenho da
economia brasileira nesse ano será muito inferior ao que esperávamos no final do ano passado
(avanço de 2,7%). Diversos fatores, alguns mais prováveis e outros extremamente inesperados,
tornaram o cenário repleto de incertezas, impactando profundamente a atividade nesse ano.
O cenário internacional, que nos últimos anos colaborou com as economias
emergentes na forma de uma ampla liquidez e apetite por ativos de maior risco, passou por
um ajuste profundo em resposta à política monetária mais restritiva dos EUA. A economia
brasileira, que havia se beneficiado do quadro anterior – um dos elementos fundamentais para
que atingíssemos a taxa Selic mais baixa da história –, acabou sendo afetada pelos influxos de
capitais, volatilidade cambial e desaceleração da economia argentina. Entretanto, mais uma vez o
colchão de segurança composto pelos US$ 380 bilhões de reservas internacionais evitou que a
nossa economia sofresse tanto quanto a Turquia e a Argentina, e apaziguou o risco de um
contágio.
A crise dos transportes produziu dias de agonia e foi o evento inesperado que
trouxe mais prejuízos para a atividade. A greve dos caminhoneiros deixou marcas na
organização da nossa economia que persistem até hoje. Inicialmente, além da atividade
paralisada, a confiança dos empresários, dos consumidores e do mercado de capitais foi
duramente impactada. Posteriormente, entre as reivindicações atendidas para pôr fim ao impasse,
o Governo promoveu a subvenção do preço do Diesel e publicou uma tabela para os fretes, com
preços mínimos muito acima dos praticados pelo mercado. Essas duas medidas ajudaram a
desorganizar ainda mais a economia, tendo em vista que o custo desse acordo recaiu sobre os
demais setores. Além disso, a Copa do Mundo e as Eleições somaram-se aos eventos que
ajudaram a desmobilizar e reduzir a atividade econômica. No varejo, também vale assinalar, a
base de comparação está elevada por conta da liberação de recursos do FGTS em 2017.
A realização de uma reforma da Previdência em 2018 foi postergada ainda na metade
de fevereiro. A intervenção nas forças de segurança no Rio de Janeiro consistiu num evento
importante para a frustração dos investimentos e do próprio crescimento esperado para ano.
Durante o regime de intervenção, é vetado realizar alterações na Constituição Federal. Essa
decisão sepultou a possibilidade de uma reforma da Previdência em 2018.
Todos os elementos do cenário nacional compuseram a conjuntura do Rio Grande
do Sul. A estimativa é de um crescimento de 1,1% em 2018, abaixo do projetado ao final do ano
passado (1,4%). No Estado, se observou uma queda mais intensa da produção do setor primário
em relação ao total do Brasil. Por outro lado, o avanço na indústria foi maior. Porém, o
desempenho dos segmentos foi muito heterogêneo, poucos setores com crescimento acentuado
puxaram o resultado agregado. A crise fiscal se agravou no final do ano e as medidas necessárias
para a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal não foram concretizadas, o que eleva o grau de
incerteza para 2019.
Tanto a indústria brasileira quanto a gaúcha deixaram para trás a mais profunda
recessão já registrada, mas ainda há um longo caminho para recuperar o que foi perdido
nos últimos anos. No período 2014-2016, a produção no Brasil caiu 16,7% e no Estado recuou
18,5%. Assim, os crescimentos de 2017 e 2018 somados não chegam a um terço do tombo
acumulado. Com isso, a produção industrial brasileira encerrará o ano 12,5% abaixo dos níveis de
2013, enquanto a gaúcha deve fechar 14,2% abaixo. São, portanto, tempos de recuperação para
o setor, que ainda carece de consolidação.

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Em que pese o mercado de trabalho brasileiro estar em trajetória de recuperação, em
linha com a atividade, o ano de 2018 foi frustrante. Os resultados foram próximos aos
prognósticos que fizemos no final do ano passado. O Brasil deve gerar em torno de 500 mil postos
de trabalho, com desemprego em 11,6%. No Rio Grande do Sul, a geração de empregos formais
foi muito baixa (cerca de 20 mil postos). Apenas uma pequena parcela dos empregos perdidos
com a crise foi recuperada em 2018 – por volta de 10%. A taxa de desemprego no Estado se
mantém em torno de 8,2% desde o 3º trimestre de 2016.
O cenário para a taxa de juros e a inflação continuou benigno. Assim como em 2017, a
menor renda disponível na economia diminuiu a demanda agregada e forçou menores correções
nos preços. Como esperávamos, o Banco Central do Brasil prosseguiu a redução de juros,
levando a taxa Selic ao seu menor patamar da história (6,50% ao ano).
A evolução das Finanças Públicas se manteve extremanemete preocupante, e será a
principal fonte de risco no mercado doméstico para 2019. O avanço das despesas
obrigatórias e o elevado patamar da dívida pública colocam em dúvida a estabilidade econômica
do País no médio prazo. O quadro fiscal do Rio Grande do Sul é ainda mais complicado. O
Estado ainda não aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal, de modo que os atrasos nos
pagamentos de servidores e fornecedores, que marcaram os últimos exercícios, tendem a
continuar em 2019. Está cada vez mais difícil enxergar um horizonte positivo para as finanças
gaúchas. O Estado está com os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal para a dívida
consolidada líquida e despesa com pessoal estourados, bem como um rombo previdenciário
astronômico.
Apesar de um resultado muito abaixo do esperado em 2018, os elementos que
sustentaram a projeção mais otimista ainda estão presentes. Além do menor endividamento
das empresas e famílias, destacamos o crescimento da população em idade ativa, o elevado grau
de ociosidade das plantas fabris, a diminuição do preço dos ativos reais e a obsolescência
tecnológica nas empresas, o que traz a necessidade de investimentos de manutenção e
atualização. Esse processo natural de esgotamento do ciclo recessivo se soma à baixa inflação e
a queda nas taxas de juros para criar o ambiente para a recuperação cíclica da economia.
Portanto, o cenário base contempla uma aceleração na taxa de crescimento brasileira
para 2,8% em 2019, em decorrência da diminuição da incerteza e do avanço na agenda de
reformas. O Rio Grande do Sul tende a apresentar uma aceleração menos intensa, com
crescimento de 2,4%, por conta da continuidade do delicado quadro das finanças públicas.
No cenário superior, projetamos uma aceleração mais forte no crescimento, com rápida
realização das reformas, melhora do quadro fiscal e cenário externo favorável para os
investimentos. No caso da economia regional, além do cenário nacional mais positivo, o avanço
da atividade e a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal atenuam os efeitos da crise nas
finanças públicas.
Acreditamos que, mesmo no cenário inferior, a economia brasileira apresentará
crescimento, apesar da expectativa de agravamento da crise fiscal devido ao atraso e/ou
frustração das reformas, em especial a da Previdência. No caso do Rio Grande do Sul, o baixo
crescimento decorre do agravamento na crise das finanças públicas estaduais e federais.

Acesse o trabalho completo em:


www.fiergs.org.br/economia/balanço-econômico-e-perspectivas

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CENÁRIOS MACROECONÔMICOS PARA 2019

Manutenção do cenário inflacionário determinado pela aceleração


Atividade permanece Inflação
do crescimento mundial
aquecida nos países
Estabilidade do crescimento impactado pela maior demanda das
Superior avançados, Comércio
economias desenvolvidas
acelerando o
INTERNACIONAL

crescimento mundial Dólar Dólar permanece no patamar atual


CENÁRIOS 2019

Desinflação mundial puxada pela queda do preço das commodities


Estabilização da taxa Inflação
energéticas
de crescimento
Diminuição do volume de comércio mundial por conta das tensões
PIB Base mundial, com pouso Comércio
comerciais entre Estados Unidos e China
suave das economias
Fortalecimento do Dólar por conta da política monetária mais
desenvolvidas Dólar
restritiva nos países desenvolvidos
Desaceleração da
Inflação Desinflação mais intensa devido ao menor nível de atividade
taxa de crescimento
mundial, com ritmo Desaceleração mais intensa como resposta ao recrudescimento da
Inferior Comércio
mais lento dos guerra comercial entre Estados Unidos e China
desenvolvidos e Forte valorização do Dólar em resposta à deterioração nas
Dólar
emergentes expectativas para o cenário internacional

Taxa de inflação acima da meta (4,25%), mas abaixo do limite


Inflação
Aceleração mais superior (5,75%), por causa da atividade mais forte
intensa, com rápida
Juros Aumento gradual já no primeiro semestre
implementação das
reformas, melhora do Valorização mais intensa em função do bom ambiente interno e
Superior Taxa de câmbio
quadro fiscal e externo
cenário externo Queda na taxa de desemprego, com expressiva geração de
Mercado de trabalho
favorável para os empregos formais
investimentos Crescimento moderado das exportações e recuperação do nível de
Setor externo
importação resultam no crescimento do superávit comercial
Taxa de inflação próximo à meta (4,25%) devido à elevada
Inflação
ociosidade provocada pela crise
Aceleração na taxa Manutenção da taxa durante a maior parte do ano, mas com
CENÁRIOS 2019

Juros
de crescimento em possibilidade de um leve aumento no segundo semestre
BRASIL

decorrência da
Base Taxa de câmbio Melhora no cenário proporciona valorização moderada
PIB diminuição da
incerteza e avanço na Leve queda na taxa de desemprego, com melhora na geração de
Mercado de trabalho
agenda de reformas empregos formais
Manutenção do superávit comercial como resultado do aumento
Setor externo
das importações mais do que proporcional às exportações
Inflação ligeiramente abaixo da meta. A desvalorização cambial
Inflação
será compensada pela fraca atividade nesse cenário
Mesmo com a inflação baixa, os juros permanecerão no patamar
Baixo crescimento Juros
atual visando acomodar riscos externos
com o agravamento
da crise fiscal devido Taxa de câmbio Agravamento da crise fiscal provoca intensa desvalorização
Inferior
ao atraso e/ou
Manutenção da taxa de desemprego, com baixa geração de
frustração das Mercado de trabalho
empregos formais
reformas
Estagnação das exportações, conjuntamente com o desempenho
Setor externo aquém do esperado para as importações resultam em uma leve
redução do superávit comercial

Melhora do cenário internacional mitiga parte dos efeitos da


Setor Externo
Aceleração mais elevada base de comparação da balança comercial
intensa em resposta à Considerando a renovação das alíquotas, haverá um crescimento
Superior Arrecadação de ICMS
melhora expressiva robusto da arrecadação
RIO GRANDE DO SUL

do cenário nacional Forte queda na taxa de desemprego, com expressiva geração de


Mercado de Trabalho
empregos formais
CENÁRIOS 2019

Recuo das exportações da indústria em resposta à crise da


Aceleração da taxa Setor Externo
Argentina
de crescimento
Considerando a renovação das alíquotas, haverá um crescimento
PIB Base impulsionada pela Arrecadação de ICMS
ligeiramente acima da atividade
melhora do cenário
Queda na taxa de desemprego, com melhora na geração de
nacional Mercado de Trabalho
empregos formais
Superávit menor em função da base elevada e do agravamento da
Baixo crescimento Setor Externo
crise econômica na Argentina
por conta do
Considerando a não renovação das alíquotas, haverá uma queda
Inferior agravamento da crise Arrecadação de ICMS
substancial das receitas
das finanças públicas
Manutenção da taxa de desemprego, com baixa geração de
estaduais e federais Mercado de Trabalho
empregos formais

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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019

INTERNACIONAL
2016 2017 2018* 2019**

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)


Estados Unidos 1,6 2,2 2,9 2,5
China 6,7 6,9 6,6 6,2
Japão 1,0 1,7 1,1 0,9
Zona do Euro 1,9 2,4 2,0 1,9
Europa emergente 3,3 6,0 3,8 2,0
Reino Unido 1,8 1,7 1,4 1,5
Ásia emergente 6,5 6,5 6,5 6,3
América Latina e Caribe -0,6 1,3 1,2 2,2
Argentina -1,8 2,9 -2,6 -1,6
Brasil -3,5 1,0 1,3 2,8
Chile 1,3 1,5 4,0 3,4
México 2,9 2,0 2,2 2,5
Mundo 3,3 3,7 3,7 3,6

Inflação (% a.a. – fim de período)


Estados Unidos 2,2 2,2 2,1 2,3
China 2,1 1,8 2,6 2,3
Japão 0,3 0,6 1,4 1,7
Zona do Euro 1,1 1,4 1,9 1,7
Europa emergente 4,2 6,8 10,6 8,5
Reino Unido 1,2 3,0 2,3 2,1
Ásia emergente 2,6 2,8 3,4 3,0
América Latina e Caribe 4,6 5,9 6,8 4,9
Argentina - 24,8 40,5 20,2
Brasil 6,3 2,9 4,3 4,1
Chile 2,8 2,3 2,9 3,0
México 3,4 6,8 4,3 3,1
Mundo 3,0 3,3 4,2 3,6
Fonte: FMI. Projeções: Brasil – FIERGS/UEE. Demais Países: FMI.
* Estimativa Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
** Previsão Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS

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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019

BRASIL
2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)***
Agropecuária 13,0 -0,5 -3,5 1,1 3,0
Indústria 0,0 1,6 1,5 3,0 4,0
Serviços 0,3 1,4 1,8 2,7 3,5
Total 1,0 1,3 1,6 2,8 3,6

Inflação (% a.a.)
IGP-M -0,5 9,0 2,4 4,3 7,4
INPC 2,1 4,0 2,9 3,4 4,9
IPCA 2,9 4,3 3,2 4,1 5,3

Produção Física Industrial (% a.a.)


Extrativa Mineral 4,5 0,4 3,1 4,0 5,0
Transformação 2,3 2,9 1,5 2,9 4,6
Indústria Total 1 2,5 2,5 2,0 3,2 4,2

Empregos Gerados – Mercado Formal (mil vínculos)


Agropecuária 34,2 5,3 6,8 10,2 13,4
Indústria -140,0 28,8 146,2 239,5 348,7
Indústria de Transformação -14,8 10,5 116,6 171,0 224,6
Construção Civil -116,2 7,9 26,4 57,1 87,5
Outras -9,1 10,4 3,2 11,4 36,6
Serviços 92,5 460,6 400,8 608,6 814,5
Total -13,3 494,7 553,8 858,3 1.176,7

Taxa de desemprego (%)


Fim do ano 11,8 11,6 11,9 11,3 10,7
Média do ano 12,7 12,3 12,6 12,0 11,4

Setor Externo (US$ Bilhões)


Exportações 216,8 235,1 235,1 244,9 252,1
Importações 150,7 172,1 175,0 181,4 185,4
Balança Comercial 66,1 63,0 60,1 63,5 66,7

Moeda e Juros (% a.a.)


Meta da taxa Selic – Fim do ano 7,00 6,50 6,25 6,50 8,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)2 1,5 13,6 11,8 -0,2 -14,9
Taxa de Câmbio – Final do período 3,31 3,76 4,20 3,75 3,20

Setor Público (% do PIB)


Resultado Primário -1,7 -1,5 -1,7 -1,3 -0,3
Juros Nominais -6,1 -5,8 -6,1 -5,6 -5,3
Resultado Nominal -7,8 -7,3 -7,8 -6,9 -5,6
Dívida Líquida do Setor Público 51,6 52,3 54,5 53,3 52,1
Dívida Bruta do Governo Geral 74,0 77,6 80,1 78,5 77,3
¹ Não considera a Construção Civil e o SIUP
² Variação em relação ao final do período anterior
* Estimativa Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
** Previsão Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
*** O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado

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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2019

RIO GRANDE DO SUL


2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)***
Agropecuária 11,4 -2,5 0,5 2,5 4,5
Indústria 0,2 2,0 1,8 2,8 4,0
Serviços -1,8 1,2 1,5 2,0 3,3
Total 1,0 1,1 1,2 2,4 3,8

Empregos Gerados – Mercado Formal (mil vínculos)


Agropecuária -1,5 -2,0 0,9 1,5 1,8
Indústria -12,2 1,2 4,0 15,0 26,1
Indústria de Transformação -5,9 1,4 0,9 9,4 18,0
Construção Civil -3,9 0,4 -0,1 2,4 4,8
Outras -2,3 -0,6 3,1 3,3 3,4
Serviços 5,4 19,7 22,5 38,0 53,5
Total -8,3 18,9 27,3 54,6 81,5

Taxa de desemprego (%)


Fim do ano 8,0 7,7 7,7 7,3 7,0
Média do ano 8,4 8,2 8,2 7,8 7,4

Balança Comercial (US$ Bilhões)


Exportações 17,8 20,9 16,6 17,2 17,9
Industriais 12,6 15,2 11,6 12,4 12,9
Importações 9,9 11,7 11,5 11,9 12,4
Saldo Comercial 7,9 9,2 5,1 5,3 5,5

Setor Público (R$ Bilhões)


ICMS 31,9 33,4 33,0 35,7 36,6

Indicadores Industriais (% a.a.)


Faturamento real 3,9 4,1 3,9 6,3 7,6
Compras -1,3 10,6 2,8 5,3 8,8
Utilização da capacidade instalada 1,2 2,0 1,1 1,5 1,9
Massa salarial 1,2 -2,6 1,0 2,6 3,5
Emprego -1,1 0,9 0,7 1,2 1,7
Horas trabalhadas na produção -1,6 0,1 2,8 3,5 4,2
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS 0,4 3,0 2,4 3,9 5,6

Produção Industrial 1 (% a.a.) 0,5 4,7 1,4 3,0 4,2


¹ Não considera a Construção Civil e o SIUP
* Estimativa Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
** Previsão Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
*** O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado

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1.CENÁRIO INTERNACIONAL

DESACELERAÇÃO À VISTA

O balanço de riscos da economia global aponta para desaceleração do crescimento, no curto e


longo prazo, reduzindo potenciais surpresas positivas para o crescimento mundial.

Após um período de estabilidade financeira e do bom ambiente para os negócios em 2017,


o sentimento do mercado sofreu uma mudança súbita a partir do segundo trimestre de 2018.
Embora a percepção de risco tenha aumentado a instabilidade financeira ao redor do globo, a
expansão da atividade econômica mundial em 2018 deve ficar próxima a observada no ano
passado.
Apesar da franca expansão da economia norte-americana, impulsionada pelo estímulo
fiscal herdado da reforma tributária, algumas das economias desenvolvidas – Alemanha, Reino
Unido e Japão, por exemplo – deram sinais de desaceleração da atividade econômica no último
trimestre de 2018. Enquanto isso, as economias emergentes convivem com pressões externas em
decorrência do enxugamento de liquidez internacional, especialmente aquelas com maior
fragilidade dos fundamentos econômicos, como é o caso de Argentina, Brasil e Turquia.
Alguns vetores foram responsáveis pela deterioração da conjuntura externa, dos quais se
destacam a política monetária restritiva do Federal Reserve (FED), a valorização do dólar, o
recrudescimento das tensões comerciais e a crise dos emergentes. O menor diferencial de juros
entre a taxa básica doméstica e os FED funds dos Estados Unidos, resultou na reversão do fluxo
de capitais, enquanto as tensões comerciais e o fortalecimento do dólar frente às demais moedas
aumentaram os custos para tomadores de empréstimos em moeda forte, pressionando o balanço
de pagamentos de diversas economias.
Embora as condições do mercado ainda permaneçam acomodatícias e, de alguma forma,
favoráveis ao crescimento econômico, estas mesmas condições podem se alterar abruptamente,
a depender de um aperto generalizado das políticas monetárias dos bancos centrais das
economias desenvolvidas, o que pode interromper os fluxos de capitais no mercado internacional
e jogar um balde de água fria na expansão do PIB Mundial.

Mundo

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a expectativa de crescimento do


PIB mundial para 2018 é de 3,7%. Embora o avanço estimado para este ano ainda seja robusto,
assimetrias na sua dinâmica têm surgido ao longo do ano.
Conforme aponta o Índice de Gerente de Compras para o setor de manufaturados (PMI)
ilustrado no Gráfico 1.1, é possível perceber um aumento do número de compras dos
manufaturados nos três primeiros meses do ano, haja vista o forte impulso do crescimento global
em 2017. Contudo, após o início das tensões comerciais no fim de março e dos indicativos de
desaceleração da economia chinesa, o índice iniciou uma trajetória de queda até o fim do primeiro
semestre do ano, com sinais de estabilização da atividade após uma leve recuperação dos países
desenvolvidos nos meses de julho e agosto. O resultado parece estar em linha com os principais
indicadores de atividade econômica de algumas economias desenvolvidas, como é o caso da
Alemanha e Japão. Ambas têm no setor externo um grau elevado de inserção nas cadeias globais
de valor, sobretudo na indústria automobilística. Pela primeira vez nos últimos três anos, a
Alemanha assinalou retração de 0,8% da atividade econômica em relação ao terceiro trimestre em

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termos anualizados, ao passo que o Japão apresentou um decréscimo de 1,2% sob a mesma
base de comparação.
Nesse sentido, os sinais de desaceleração da economia mundial têm contribuído cada vez
mais para o aumento do pessimismo e da incerteza, o que tem provocado uma redução modesta
do volume do comércio ao longo de 2018, mas que deve ter impactos mais intensos nos próximos
anos.

Gráfico 1.1. PMI de manufaturas Gráfico 1.2. Confiança dos consumidores


(Desvio em relação ao patamar de 50 pontos: valores (Índice de base fixa: 2010 = 100)
positivos indicam aumento no número de pedidos em
relação ao mês anterior)
10 Mundo 125 Mundo
8 Desenvolvidos 120 Desenvolvidos
Emergentes Emergentes
6 115

4 110

2 105

0 100

-2 95

-4 90
abr/12
ago/12

ago/13

abr/14
ago/14
abr/13

abr/15
ago/15

abr/16
ago/16

abr/17
ago/17

abr/18
ago/18
dez/12

dez/13

dez/14

dez/15

dez/16

dez/17
ago/17
ago/12

abr/13
ago/13

abr/14
ago/14
abr/12

abr/15
ago/15

abr/16
ago/16

abr/17

abr/18
ago/18
dez/12

dez/13

dez/14

dez/15

dez/16

dez/17

Fonte: Markit Economics. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: Haver Analytics. Elaboração: FIERGS/UEE.

Guerra Comercial

Em 2018, observou-se a ascensão do discurso protecionista sobre o comércio em âmbito


mundial. Mais recentemente, os Estados Unidos impuseram uma série de tarifas sobre seus
parceiros comerciais, bem como o anúncio de outras medidas comerciais, mas que ainda não
entraram em vigor. Em contrapartida, os signatários do NAFTA, a China e alguns países da União
Europeia anunciaram tarifas equivalentes como retaliação aos Estados Unidos, o que deu início a
uma verdadeira guerra comercial que trouxe consigo sérios riscos ao mercado global.
Para estimar as consequências econômicas das disputas comerciais sobre a economia
mundial, o FMI analisou o impacto direto das barreiras comerciais, como também a influência das
tensões sobre confiança e, portanto, no horizonte de planejamento das empresas e reação dos
mercados financeiros em decorrência do aumento do custo de capital das empresas. Para tanto, o
FMI considerou quatro cenários: (I) Os Estados Unidos impõem uma tarifa de 10% sobre todas as
importações de alumínio, 25% sobre as importações de aço, além de duas tarifas que recaem
sobre Bens de Consumo e Intermediários importados da China, sendo 25% sobre US$ 50 bilhões
e 10% sobre US$ 200 bilhões em mercadorias. Em retaliação, os parceiros comerciais também
elevam suas tarifas, assim como a China, que responde com uma tarifa de 7% sobre US$ 60
bilhões em produtos estadunidenses, elevando-se a 17% em 2019; (II) Os Estados Unidos
novamente estabelecem uma tarifa de 25% sobre US$ 267 bilhões em produtos chineses,
enquanto a China retribui com outra tarifa de 25% sobre US$ 137 bilhões em mercadoria dos
EUA; (III) Os Estados Unidos sancionam tarifas de 25% sobre a importação de carros e peças
automotivas, no valor de US$ 350 bilhões, enquanto seus parceiros comerciais respondem com a
mesma alíquota sobre as importações de automóveis americanos; (IV) Potencial impacto das
tensões comerciais sobre a confiança e, portanto, os planos de investimento das empresas; (V)
Potencial impacto de um aperto nas condições financeiras das firmas.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 10
Gráfico 1.3. Impacto das tensões comerciais sobre a economia mundial
(% – Desvios em relação ao PIB real)

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

LP
0
-0,1
-0,2
-0,3
-0,4
-0,5
-0,6
-0,7
Cenário I
-0,8
Cenário I + II
-0,9 Cenário I + II + III
-1 Cenário I + II + III + IV
Cenário I + II + III + IV + V
Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE.

Observe, no Gráfico 1.3, que o impacto da introdução de todas as barreiras comerciais


elencadas sobre a expansão da economia mundial para 2018 é significativo, assinalando um
desvio de -0,1 p.p. do PIB. O cenário se torna ainda mais crítico para os anos posteriores, quando
os efeitos da guerra comercial provocariam uma redução estimada em 0,8 p.p. da atividade
econômica mundial para os anos de 2019 e 2020, respectivamente. Ademais, as expectativas
sugerem uma redução permanente do PIB mundial em 0,4 p.p., denotando um caráter
contraprodutivo das tarifas no longo prazo.
Nesse sentido, as barreiras comerciais podem prejudicar as cadeias globais de valor e
retardar a disseminação de novas tecnologias, reduzindo assim a produtividade e o bem-estar em
âmbito mundial. Além disso, mais restrições às importações também tornariam os bens de
consumo menos acessíveis, limitando assim as possibilidades de consumo de muitas famílias
vulneráveis economicamente.

Estados Unidos

De acordo com as estimativas do Bureau of Economic Analisys (BEA), a economia norte-


americana irá crescer 2,9% em 2018. O bom resultado da atividade, observada nos três primeiros
trimestres do ano, é fruto de um pacote de estímulos fiscais, baseado na combinação da
expansão de gastos em infraestrutura, redução de regulamentações e corte de impostos para o
setor privado.

Gráfico 1.4. Crescimento do PIB real dos Estados Unidos


(Var. % contra trimestre imediatamente anterior)

2,9 3,0
2,5 2,6 2,6
2,3
2,1
1,9
1ºT/17

2ºT/17

3ºT/17

4ºT/17

1ºT/18

2ºT/18

3ºT/18

4ºT/18

Fonte: BEA. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 11
A política pró-cíclica não só impulsionou a atividade econômica, mas também resultou na
criação de 2,13 milhões de novos postos de trabalho entre janeiro a outubro, culminando na
menor taxa de desemprego desde o final da década de 60 (3,7%, ao fim de outubro). Embora a
atividade econômica dos Estados Unidos dê sinais de que esteja acima do pleno emprego, a
inflação de preços ao consumidor para outubro atingiu o patamar de 2,2% ao ano, permanecendo
dentro da meta estabelecida pelo Comitê de Política Monetária Americana (FOMC).

Gráfico 1.5. Crescimento dos salários e Gráfico 1.6. Taxa de desemprego dos
inflação dos Estados Unidos Estados Unidos
(Var. % anualizada) (Em pontos percentuais)
6,0
Taxa salarial 12,0
5,0
Inflação 10,0
4,0
8,0
3,0
6,0
2,0
4,0
1,0 3,4 3,7
2,0
0,0
0,0

jul/74

jul/85

jul/96

jul/07
abr/10

jul/18
abr/77

abr/99
jan/69

jan/80

abr/88
out/71

out/82

jan/91
out/93

jan/02
out/04

jan/13
out/15
-1,0
4ºT/13
1ºT/10

4ºT/10

3ºT/11

2ºT/12

1ºT/13

3ºT/14

2ºT/15

1ºT/16

4ºT/16

3ºT/17

2ºT/18

Fonte: OCDE. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: BEA. Elaboração: FIERGS/UEE.

Em vista disso, a combinação de uma perspectiva de crescimento econômico robusto, com


expectativa de inflação moderada e aumento do nível de confiança do empresariado industrial
americano propiciou um ambiente favorável para expansão da atividade no setor privado,
evidenciado pela valorização dos principais indicadores do mercado de equity dos Estados
Unidos. No Gráfico 1.5, é possível perceber a evolução da trajetória da razão entre o preço e lucro
por ação do mercado acionário dos Estados Unidos. O crescimento da razão sugere uma
expectativa positiva sobre os lucros futuros por parte dos participantes do mercado. O bom
desempenho do mercado de equity dos Estados Unidos pode ser justificado pelos lucros robustos
obtidos pelo setor privado, impulsionados pela recente reforma tributária.

Gráfico 1.7. Confiança dos empresários da Gráfico 1.8. Índice de Preço/Lucro por ação
indústria dos Estados Unidos (Em pontos percentuais)
(Desvio percentual em relação à neutralidade)
30,0 27
26
20,0
25
10,0 24

0,0 23
22
-10,0
21
-20,0 20

-30,0 19
18
-40,0
17
jan/03

out/12

dez/14

fev/17
fev/04

jun/08
jul/09
mar/05
abr/06
mai/07

ago/10
set/11

jan/16

mar/18
nov/13

jun/14

jun/15

jun/16

jun/17

jun/18
set/14

set/16
set/13

set/15

set/17

set/18
dez/13
mar/14

dez/14
mar/15

dez/15
mar/16

dez/16
mar/17

dez/17
mar/18

Fonte: OCDE. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: Bloomberg Finance L.P. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 12
No entanto, o Federal Reserve (FED) têm demonstrado preocupações sobre um possível
risco de recessão, quando colocado em perspectiva o comportamento da curva de juros, de curto
e longo prazo, dos títulos da dívida americana. Em ciclos de expansão econômica, expectativa de
inflação mais alta e elevação da taxa de juros, a taxa de retorno dos títulos de longo prazo
crescem mais do que as taxas de retorno de títulos de curto prazo. Por outro lado, quando há
fraco crescimento econômico, baixo nível de inflação e taxa de juros, a curva de juros tende a se
achatar. Uma maneira de verificar este comportamento é avaliar o spread entre os títulos da
dívida americana, com maturidades de 10 e 2 anos.
Historicamente, este spread se mostra um bom indicativo de recessões, prevendo de
maneira satisfatória as crises da economia americana na década de 80 e 90, o estouro da bolha
dot.com nos anos 2000 e, por último, a crise do subprime em 2008, conforme mostram as áreas
hachuradas em cinza, no Gráfico 1.9. Nesse sentido, é possível observar que a diferença entre a
taxa de retorno dos títulos da dívida americana vem caindo desde o segundo semestre de 2014, o
que indica um achatamento da curva de juros. Este movimento deflagra uma percepção da
reversão futura da política monetária e dos ciclos econômicos desfavoráveis.

Gráfico 1.9. Spread entre os títulos com maturidade de 10 e 2 anos


(Em pontos percentuais)

2,5

1,5

0,5

-0,5

-1,5

-2,5
set/88

set/16
set/78
set/80
set/82
set/84
set/86

set/90
set/92
set/94
set/96
set/98
set/00
set/02
set/04
set/06
set/08
set/10
set/12
set/14

set/18

Fonte: Federal Reserve Economic Data. Elaboração: FIERGS/UEE.

Com a expectativa de reversão do ciclo econômico e do crescimento do PIB acima do seu


potencial, o FED tem se preocupado com o superaquecimento da economia e de uma possível
aceleração inflacionária para os próximos meses. Para conter o ímpeto da inflação, a autoridade
monetária já sinalizou para ao menos mais uma elevação da taxa de juros até o fim de 2018 e,
possivelmente, mais três para 2019. O considerável estímulo fiscal pode antecipar a decisão de
elevação da taxa de juros pelo FED para alcançar o dual mandate – pleno emprego, preços
estáveis e taxas moderadas de juros de longo prazo.
No que se refere ao NAFTA, a renegociação do acordo de livre comércio teve como
objetivo modernizar e reequilibrar o comércio entre os signatários (Estados Unidos, Canadá e
México), especialmente em relação ao setor automotivo. Com isso, os Estados Unidos pretendem
mudar as regras de origem para aumentar o conteúdo norte-americano dentro da cadeia de
produção. De acordo com as estimativas do FMI, os três países se beneficiariam de uma
renegociação bem-sucedida do NAFTA, na qual haveria espaço para o aumento do fluxo de
comércio, bem como o crescimento real do PIB entre os membros.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 13
Gráfico 1.10. Taxa de juros dos Estados Unidos esperada pelo mercado
(Em % a.a.)
3,0
2,8 set/17
2,6 mar/18
2,4
2,2 set/18

2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
jun/18

jun/19

jun/20

jun/21
set/17

set/18

set/19

set/20

set/21
mar/18

mar/19

mar/20

mar/21
dez/17

dez/18

dez/19

dez/20
Fonte: Federal Reserve Economic Data. Elaboração: FIERGS/UEE.

União Europeia e Zona do Euro

A atividade econômica da União Europeia (UE) deve fechar 2018 com um crescimento de
2,2%, ao passo que as expectativas sobre a expansão do PIB da Zona do Euro, união monetária
que agrupa 19 dos 28 países da UE, giram em torno de 2,0% para este ano. Embora a Zona do
Euro tenha alcançado bons resultados no primeiro semestre, sustentado por políticas
macroeconômicas que favoreceram o crescimento do consumo privado, o enfraquecimento da
demanda externa por Bens Intermédios e de Capital – que representam dois terços das
exportações de bens da Zona do Euro para o resto do mundo – contribuiu para a redução das
perspectivas de crescimento da região. O Gráfico 2.1 mostra a correlação entre o nível de
atividade e o Indicador de Sentimento Econômico da Zona do Euro, que agrega o nível de
confiança de setores como a indústria (40%), serviços (30%), consumidores (20%), vendas do
comércio (5%) e construção civil (5%). Após o crescimento das exportações no último semestre
de 2017, é possível perceber um declínio do índice de Sentimento e da atividade econômica,
precisamente quando se inicia o aperto de liquidez global e o início das tensões comerciais.

Gráfico 1.11. Índice de Sentimento Econômico da Zona do Euro e PIB


(Média trimestral: 100 = 1ºT/2003 e var. % do trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior)
125 Sentimento Econômico PIB 5
Índice de sentimento Econômico

PIB - Var. % mesmo trimestre ano

120 4
115 3
110 2
105 1
anterior

100 0
95 -1
90 -2
85 -3
80 -4
75 -5
70 -6
3ºT/04

3ºT/10

3ºT/16
1ºT/03
4ºT/03

2ºT/05
1ºT/06
4ºT/06
3ºT/07
2ºT/08
1ºT/09
4ºT/09

2ºT/11
1ºT/12
4ºT/12
3ºT/13
2ºT/14
1ºT/15
4ºT/15

2ºT/17
1ºT/18

Fonte: Eurostat e Comissão Europeia. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 14
Além disso, parte da desaceleração no terceiro trimestre reflete a menor produção de
automóveis, principalmente na Alemanha, à medida que as montadoras se adaptam para cumprir
a meta de redução de gases poluentes. Como resultado, no terceiro trimestre deste ano, a
economia alemã apresentou um recuo de 0,8% na comparação com o igual trimestre de 2017.
Na Itália, a taxa de retorno dos títulos soberanos atingiu a máxima em quatro anos em
decorrência da incerteza sobre o novo governo de coalizão e da condução da política fiscal. Até
agora, transbordamentos para outros mercados têm sido razoavelmente contidos, mas existe um
risco real de contágio para outras economias, especialmente sobre aquelas que possuem
fundamentos macroeconômicos mais fracos e baixo estoque de reservas internacionais.

Gráfico 1.12. Spread entre as taxas de retorno dos títulos europeus


(Em pontos percentuais)
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
jun/18
jun/18
jul/18
jul/18
jul/18
jan/18
jan/18
jan/18
fev/18
fev/18

abr/18
abr/18
mai/18
mai/18

ago/18
ago/18
set/18
set/18
mar/18
mar/18

out/18
out/18
Itália Espanha Portugal

Fonte: Bloomberg Finance L.P. Elaboração: FIERGS/UEE.

Para contrabalancear os efeitos do arrefecimento da economia na Zona do Euro, o Banco


Central Europeu (BCE), em junho, anunciou a extensão do Quantitative Easing até o final do ano,
ao mesmo tempo em que sinalizou para a redução das compras de ativos mensais, de € 30
bilhões para € 15 bilhões em outubro. O afrouxamento monetário faz sentido, uma vez que a
inflação dentro da união monetária ainda permanece sob controle. Além disso, o BCE também se
comprometeu a manter as taxas nos níveis atuais, pelo menos até julho de 2019.
Por último, a possibilidade de um Brexit “sem compromisso” aumenta o risco da introdução
de barreiras comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia. Atualmente, o Reino Unido é um
dos maiores parceiros comerciais da UE, representando cerca de 13% de seu comércio de bens e
serviços. Embora todos os resultados prováveis da saída do bloco imponham custos sobre a
economia de ambos, um acordo que minimize a introdução de barreiras comerciais reduziria o
impacto sobre o crescimento da renda das duas partes.

Japão

Apesar dos sinais de desaceleração apontados na apuração da atividade econômica do


terceiro trimestre de 2018, a expectativa de crescimento para o PIB japonês é de uma expansão
da ordem de 1,1%. Desde a introdução da política econômica do primeiro ministro Shinzo Abe, o
Abenomics continua a colaborar para a manutenção do crescimento do Japão. As três flechas,
compostas pelo afrouxamento monetário agressivo, consolidação fiscal e reformas estruturais de
fomento ao crescimento do investimento privado, têm sido bem sucedidas para estabilidade do

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 15
País, afastando os riscos de deflação e recessão econômica. Apesar destes esforços, o
enfraquecimento da demanda externa e a desaceleração econômica da China prejudicaram a
economia japonesa, já que boa parte da sua força se concentra no setor exportador de
manufaturas. Mesmo assim, a perspectiva para as exportações do Japão é de um crescimento de
3,9% para este ano.

Gráfico 1.13. PIB do Japão Gráfico 1.14. Volume de exportações de


(Var. % anual) Bens e Serviços do Japão
(Var. % anual)
9,3
2,0
1,7 6,7
1,5 1,4
1,1 3,9
1,0 2,9
1,7
0,8
0,4
-0,1
2012

2013

2014

2015

2016

2018
2017

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE.

Conforme as estimativas do FMI, a atividade do país asiático está acima do seu produto
potencial. Alterações na legislação trabalhista que visaram a maior participação da mulher e de
trabalhadores com idade avançada contribuíram para o aumento da oferta de mão-de-obra no
mercado de trabalho japonês, culminando na menor taxa de desemprego (2,9%) desde 1993.

Gráfico 1.15. Taxa de desemprego Gráfico 1.16. Curva de juros do Japão


(Em pontos percentuais) (Em pontos percentuais)
6,5 0,20 Longo Prazo
0,15 Curto Prazo
5,5 0,10
0,05
4,5 0,00
3,5 -0,05
2,9 -0,10
2,5 -0,15
-0,20
jan/18

mai/18

out/18
fev/18

jun/18
jul/18
mar/18
abr/18

set/18
ago/18

nov/18

1,5
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018

Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: Bank of Japan. Elaboração: FIERGS/UEE.

Em relação ao nível de preços, a expectativa de inflação do Japão ronda os 1,2%,


permanecendo abaixo da meta, mesmo com a economia operando acima do PIB potencial. Com
isso, o Banco Central do Japão (BoJ) adotou uma abordagem mais paciente na condução da
política monetária. Para tanto, o BoJ sinalizou que irá manter a taxa básica de juros em patamares
negativos por um período mais extenso, fixando a meta em 0% a.a. Ainda, a autoridade monetária
modificou a sua curva de juros de longo prazo para permitir uma banda de desvio maior em
relação a curva de juros de curto prazo. Ao que tudo indica, a postura da política monetária
seguirá frouxa, estimulando assim a expansão do consumo, do crédito e do investimento privado.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 16
No entanto, o ambiente de taxa de juros em níveis extremamente baixos, somado a
transformação demográfica da população japonesa, podem comprimir a rentabilidade das
instituições financeiras locais. Portanto, riscos associados a este tipo de política monetária podem
persistir e devem impor desafios particulares para os bancos japoneses nos próximos anos.

Emergentes
O grupo de países que compõem as economias emergentes e em desenvolvimento deve
continuar a se expandir no mesmo ritmo que em 2017 e possivelmente voltarão a registrar um
crescimento de 4,7% neste ano, segundo as projeções do FMI. Importantes acontecimentos
reduziram as perspectivas de surpresas positivas para os emergentes em razão do gradual
aumento da incerteza no cenário externo. O enxugamento da liquidez internacional e a própria
desaceleração da economia chinesa, somados às tensões comerciais levaram a uma intensa
volatilidade nos mercados emergentes, resultando na reversão do fluxo capital, assim como fortes
desvalorizações cambiais frente ao dólar, principalmente sobre aquelas economias de maior
fragilidade nos fundamentos macroeconômicos e com maior risco político.

Gráfico 1.17. Volatilidade das economias emergentes


(Índice)
40
35
30
25
20
15
10
out/17

abr/18

jul/18

out/18
dez/17

mar/18

mai/18

nov/18
nov/17

jan/18

fev/18

jun/18

ago/18

set/18

Fonte: Chicago Board Options Exchange. Elaboração: FIERGS/UEE.

Para avaliar a vulnerabilidade das economias emergentes, consideramos um índice


baseado em seis indicadores: (1) razão entre o saldo em conta corrente e PIB; (2) razão entre
dívida pública bruta e PIB; (3) razão entre as reservas internacionais e o PIB; (4) razão entre a
dívida externa e exportações anualizadas; (5) média da taxa de inflação anual dos últimos três
anos; (6) variação do crédito bancário concedido ao setor privado em proporção ao PIB dos
últimos cinco anos.

Gráfico 1.18. Índice de vulnerabilidade econômica


(Índice)
100

77
71 71
60
47 48 50 50 51
43 44
30 30 34
27
MAL

POL

COL
COR

FIL

IND

IDN

AFS
MEX
RUS

HUN

CHI

CHL

BRA

TUR

ARG

Fonte: FMI, BIS e Banco Mundial. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 17
Em síntese, estes indicadores avaliam a condição de liquidez e solvência de uma nação,
como também a sua resiliência em relação a choques de juros e do câmbio. O índice de
vulnerabilidade econômica varia de 0 a 100 pontos, sendo que economias mais vulneráveis
possuem valores próximos à centena. Dentre o conjunto de países emergentes analisados,
Argentina, Brasil e Turquia se mostraram os três países com maior fragilidade em seus
fundamentos. Não por acaso, ambos apresentaram as desvalorizações cambiais mais acentuadas
durante o ano, em relação a cesta de moedas dos países emergentes.

Gráfico 1.19. Maiores desvalorizações cambiais em relação ao dólar


(Índice base fixa: jan/2018 = 100)
250
Argentina
230
210 Turquia
190 Brasil
170
150
130
110
90

ago/18
jan/18
jan/18
fev/18

set/18
abr/18

out/18
mai/18
mai/18
jun/18
mar/18
mar/18

jul/18
jul/18
Fonte: Federal Reserve Economic Data. Elaboração: FIERGS/UEE.

Por outro lado, o panorama para as economias emergentes da Ásia segue positivo,
registrando um forte crescimento de 6,5% em relação a 2017. Impulsionada pela recuperação da
demanda doméstica, a Índia se destaca e deve registrar uma expansão de 7,3% para 2018.
Em relação ao principal emergente do continente europeu, a Rússia está se recuperando
da recessão de 2015/16, em resposta da política econômica e do aumento dos preços
internacionais das commodities energéticas. O crescimento projetado para 2018 é de 1,7%,
sustentado pela recuperação do consumo privado da expansão do crédito.
Já a economia mexicana continuou a mostrar resiliência diante de um ambiente complexo.
O consumo privado continua a ser o principal fator de impulso da atividade, apoiado pelas
exportações de manufaturados. Enquanto isso, o investimento privado se mantém reprimido pela
incerteza sobre o futuro do acordo comercial com os Estados Unidos. Portanto, a atividade
econômica vem crescendo a um ritmo moderado e deve atingir, ao fim de 2018, uma expansão de
2,1%.

China
De acordo com as estimativas do FMI, a economia chinesa deve fechar 2018 com uma
expansão de 6,6%. Apesar do crescimento econômico previsto, a estimativa de crescimento para
o PIB é a menor desde a década de 90, o que mostra uma desaceleração em curso para a
atividade econômica do País. Os sinais de arrefecimento têm origem na estratégia para contornar
a crise de 2009, quando o governo central chinês expandiu consideravelmente o crédito para os
governos locais que, por sua vez, promoveram investimentos em empresas estatais e
infraestrutura. Nesse sentido, distorções foram geradas por meio da política creditícia, refletindo
sobre o endividamento acentuado e o excesso de oferta em diversos segmentos.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 18
Gráfico 1.20. PIB da China Gráfico 1.21. Volume de exportações de
(Var. % em relação ao ano anterior) bens e serviços da China
(Var. % em relação ao ano anterior)
10,6 8,8 9,3
9,5
7,9 7,8 7,3 5,5
6,9 6,7 6,9 6,6 4,3
1,1

-2,2
2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE.

Outro fator que contribuiu para a redução das expectativas sobre a China neste ano,
embora em menor grau, foi a materialização da guerra comercial, disseminando um impacto
negativo não apenas para o setor exportador, mas também sobre as decisões de investimento das
firmas. O recrudescimento das relações comerciais com Estados Unidos veio a se intensificar a
partir do segundo trimestre deste ano, com rodadas consecutivas do aumento de tarifas de ambos
os lados. O FMI estima que o impacto da guerra comercial sobre a economia chinesa,
considerando o pior cenário1, seria de uma redução estimada em 0,4 p.p. do PIB. Apesar da perda
do ímpeto do setor exportador a partir do segundo semestre deste ano, as boas condições da
economia mundial no primeiro trimestre de 2018 compensaram, em parte, o volume exportado em
2018, na qual a expectativa de crescimento é da ordem de 5,5.

Gráfico 1.22. Relação Crédito/PIB da China


(Em pontos percentuais)
220 213

200

180

160

140

120
115
100
jul/03

jul/05

nov/06
jul/07

jul/09

jul/11

jul/13

nov/14
jul/15

jul/17
nov/04

nov/08

nov/10

nov/12

nov/16
mar/04

mar/06

mar/08

mar/10

mar/12

mar/14

mar/16

mar/18

Fonte: BIS. Elaboração: FIERGS/UEE.

No que se refere à alavancagem da economia chinesa, a partir de 2017 o governo da


China foi capaz de estabilizar a relação do crédito/PIB por meio de uma forte regulação financeira
sobre o setor imobiliário e de instituições financeiras não-bancárias, o que ajudou a desalavancar
a economia. Naturalmente, o controle do risco financeiro via contenção do crédito resultou em um
ritmo mais lento da atividade econômica já no primeiro semestre de 2018. Como resposta a
desaceleração, a política monetária foi aliviada através de dois cortes no compulsório bancário,

1
Para mais informações sobre os diferentes cenários, recomenda-se a leitura do tópico “Guerra Comercial”, no início deste capítulo.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 19
dando sinais de um novo aumento da relação crédito/PIB, deflagrado no fim do terceiro trimestre
de 2018.
No entanto, o lento progresso da agenda de reformas estruturais, sobretudo as reformas
que envolvem a reestruturação das empresas estatais visando a redução da capacidade
instalada, bem como as pressões do aperto creditício ao setor privado e das tensões comerciais,
tem provocado um sentimento de pessimismo sobre as perspectivas da economia chinesa. Em
decorrência desta frustração geral, o índice da bolsa de Shangai despencou a partir de maio,
representando uma queda de 18,4% no ano.

Gráfico 1.23. Índice da Bolsa de Shangai


(Em pontos)
3.800
3.600
3.400
3.200
3.000
2.800
2.600
2.400
jan/17

jan/18
mai/17

mai/18
mar/17

mar/18

jul/18
nov/16

jul/17

set/17

nov/17

set/18

nov/18
Fonte: CEIC. Elaboração: FIERGS/UEE.

Por último, a consolidação de Xi Jinping no poder por mais dez anos sob o comando do
governo chinês abriu espaço para o estabelecimento de sua doutrina. A decisão deve manter a
estabilidade na gestão de política econômica e da continuidade da agenda de ajustes estruturais,
priorizando a gestão de riscos financeiros e desalavancagem da economia.

Argentina

Após uma expressiva recuperação da atividade econômica ao longo do ano de 2017, a


Argentina novamente deve apresentar queda do PIB, na qual é esperado um decréscimo de 2,6%
em relação ao ano passado. O fracasso na política gradualista de estabilização fragilizou a
economia do País, deixando-o em situação vulnerável frente ao enxugamento de liquidez no
mercado global.

Gráfico 1.24. PIB da Argentina


(Var. % em relação ao ano anterior)
6,0

2,4 2,7 2,9

-1,0
-1,8
-2,5 -2,6
2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Fonte: INDEC e Banco Mundial. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 20
Além disso, o aumento do déficit externo, intensificado pela quebra de safra agrícola deste
ano, contribuiu para o aumento da percepção de risco generalizada que resultou na saída de
capitais externos. Os crescentes desequilíbrios no balanço de pagamentos gerados a partir daí
resultaram em uma acentuada desvalorização cambial, alcançando uma máxima histórica do peso
em relação ao dólar (ARS/US$ 41,29). Para o contingenciamento da saída de recursos do país, o
banco central interveio no mercado cambial com a venda do estoque de reservas internacionais,
que se mostrou insuficiente tanto para conter a fuga de capitais quanto para estabilização da
moeda argentina. Portanto, para equilibrar o balanço de pagamentos e afastar o risco de default
no curto prazo, o governo se viu obrigado a recorrer a dois empréstimos junto ao FMI.

Gráfico 1.25. Desvalorização cambial do peso argentino


(Taxa de câmbio ARS/USD)

43

38

33

28

23

18
mai/18

jun/18
mai/18
jan/18
jan/18
fev/18
mar/18
mar/18

out/18
out/18
abr/18

jul/18
jul/18

set/18
ago/18

nov/18
Fonte: INDEC e Banco Mundial. Elaboração: FIERGS/UEE.

Em contrapartida ao socorro recebido, o FMI exigiu um forte controle monetário, bem como
a aceleração do ajuste fiscal e a adoção do regime de câmbio flutuante para o peso argentino.
Medidas como a manutenção da taxa de juros acima dos 60% a.a. – a mais elevada do planeta
atualmente – assim como a elevação do compulsório sobre posições cambiais são sinais de uma
política monetária bastante restritiva de contenção do ímpeto inflacionário. Ademais, de acordo
com o orçamento proposto para 2019, a reorientação da política fiscal do governo Macri deve ser
intensificada, projetando um déficit fiscal primário nulo através de um severo corte de gastos
públicos e de uma nova fonte de arrecadação obtida a partir do imposto sobre exportações.

Gráfico 1.26. Desequilíbrios internos e Gráfico 1.27. Taxa de inflação da Argentina


externos da Argentina (Var. % acumulada em 12 meses)
(Var. % em relação PIB)
2,0 40,5
1,0 34,4
0,0 29,5 31,2
-1,0 25,0 25,4 25,4 25,5 26,3
-2,0
-3,0
-4,0
-5,0 Resultado Primário
-6,0 Saldo em Transações Correntes
-7,0
abr/18

ago/18
mai/18
jan/18

mar/18
fev/18

jun/18

jul/18

set/18
3ºT/10

1ºT/13

1ºT/16
1ºT/10

1ºT/11
3ºT/11
1ºT/12
3ºT/12

3ºT/13
1ºT/14
3ºT/14
1ºT/15
3ºT/15

3ºT/16
1ºT/17
3ºT/17
1ºT/18

Fonte: OCDE. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: OCDE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 21
Perspectivas para 2018
O cenário base para o ano de 2019 indica uma manutenção da taxa de crescimento
econômico do PIB mundial observada em 2018. O grupo de países desenvolvidos, cuja dinâmica
de crescimento foi bastante assimétrica durante este ano, deve apresentar uma leve
desaceleração, enquanto o crescimento das economias emergentes possivelmente se estabilizará
nos patamares atuais.
O ritmo da atividade econômica dos Estados Unidos deve se abrandar em 2019. O
pacote de estímulos fiscais ainda produzirá efeitos positivos sobre a atividade econômica norte-
americana, mas com uma intensidade mais limitada. Para assegurar que a política fiscal não
alimente uma aceleração inflacionária, o Federal Reserve deverá adotar uma postura mais
restritiva, com a possibilidade da taxa de juros se elevarem em 2019.
Para a Zona do Euro, a taxa de crescimento do PIB do bloco deve apresentar uma leve
desaceleração no próximo ano. A introdução de barreiras comerciais sobre o setor automotivo,
assim como outras medidas terão um impacto sobre as exportações do bloco. Para sustentar a
demanda interna e favorecer as condições de financiamento dentro da Zona do Euro, a política
monetária permanecerá frouxa ao menos até julho de 2019.
A economia do Japão também deve desacelerar em 2019 em decorrência do aumento de
impostos sobre o consumo e do enfraquecimento da demanda externa. A política monetária
acomodatícia deve estimular a expansão do investimento privado, embora a taxa de juros em um
nível extremamente baixo pode comprometer a rentabilidade das instituições financeiras. Além
disso, a transformação da estrutura etária da população japonesa cria uma necessidade de
reestruturação da previdência social do País e pode vir a ser o grande desafio macroeconômico
para os próximos anos.
Já a Argentina se comprometeu a acelerar o ritmo das reformas para estabilização da sua
economia através de políticas econômicas excessivamente restritivas. A combinação de medidas
ajuste fiscal e do enxugamento de liquidez possivelmente levará a uma profunda recessão da
economia argentina no próximo ano. Contudo, a medida de ajuste se faz necessária para
restaurar a confiança e a retomada do crescimento no longo prazo.
A expectativa para a economia da China é uma de uma ligeira desaceleração do
crescimento econômico para 2019. O desaquecimento da atividade econômica está atrelado aos
desequilíbrios internos gerados pelo endividamento dos governos locais e da excessiva
alavancagem causada pela expansão do crédito. Com o provável enfraquecimento do setor
externo em razão das barreiras comerciais impostas sob os produtos chineses e dos sinais de
moderação da produtividade industrial, a política monetária e fiscal mais frouxa devem aliviar as
pressões e sustentar a atividade econômica em 2019.
No cenário superior, espera-se uma aceleração moderada do crescimento mundial,
estimulada pela atividade econômica dos países desenvolvidos. Sob este cenário, imaginamos a
diminuição da aversão ao risco dos agentes econômicos, em razão de um possível abrandamento
da guerra comercial e da moderação dos FED funds, propiciando um alívio nas condições de
financiamento global. Não acreditamos que esse impulso virá dos países emergentes com
fundamentos macroeconômicos vulneráveis, uma vez estes ainda necessitam de algum ajuste
para superar entraves para captação dos fluxos de investimentos.
No cenário inferior, a perspectiva é de uma desaceleração da expansão da economia
global, conduzida por uma política monetária mais restritiva entre as economias avançadas,
causando um aperto mais forte de liquidez no mercado internacional além da intensificação da
guerra comercial travada entre Estados Unidos e China.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 22
Tabela 1.1. Projeções para o PIB
(Var. % em relação no ano anterior)

2018* 2019**
Economias Avançadas 2,4 2,1
EUA 2,9 2,5
Zona do Euro 2,0 1,9
Alemanha 1,9 1,9
França 1,6 1,6
Itália 1,2 1,0
Espanha 2,7 2,2
Japão 1,1 0,9
Reino Unido 1,4 1,5
Canadá 2,1 2,0
Emergentes e em Desenvolvimento 4,7 4,7
África do Sul 0,8 1,4
Europa emergente 3,8 2,0
Rússia 1,7 1,8
China 6,6 6,2
Índia 7,3 7,4
Oriente Médio 2,4 2,7
Brasil 1,3 2,8
México 2,2 2,5
Mundo 3,7 3,6
Fonte: FMI/WEO. * Estimativa Brasil FIERGS/UEE. ** Previsão Brasil FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 23
2. NÍVEL DE ATIVIDADE

RITMO DA RECUPERAÇÃO DECEPCIONA EM ANO REPLETO DE INCERTEZAS

O processo de recuperação cíclica da economia avançou em ritmo aquém do esperado por conta
do cenário interno turbulento.

O Brasil começa a convalescer após a crise mais intensa da sua história. Depois de
avançar 1,0% em 2017, o crescimento do PIB em 2018 deve ser de 1,3%. O desempenho da
economia brasileira nesse ano será muito inferior ao que esperávamos no final do ano passado
(avanço de 2,7%). Diversos fatores, alguns mais prováveis e outros muito inesperados,
impactaram profundamente a atividade nesse ano.
O cenário internacional, que nos últimos anos colaborou com as economias emergentes na
forma de uma ampla liquidez e apetite por ativos de maior risco, passou por um ajuste profundo
em resposta à política monetária mais restritiva do Banco Central dos EUA (FED). A economia
brasileira se beneficiou desse quadro – um dos elementos fundamentais para que atingíssemos a
taxa Selic mais baixa da história –, mas acabou sendo afetada pelos influxos de capitais,
volatilidade cambial e desaceleração da economia argentina. Entretanto, mais uma vez o colchão
de segurança composto pelos US$ 380 bilhões de reservas cambiais internacionais evitou que a
nossa economia sofresse tanto quanto a Turquia e a Argentina, e apaziguou o risco de um
contágio.
A retomada dos investimentos também foi inferior ao que projetávamos. No cenário de
referência para 2018, a taxa de juros mais baixa e a base de comparação muito deprimida
ajudaria a impulsionar os investimentos. O fato é que a incerteza não deu trégua durante todo o
ano, o que se refletiu em grande variação na confiança dos agentes.
No rol de eventos inesperados, a intervenção nas forças de segurança no Rio de Janeiro
consistiu num evento importante para a frustração dos investimentos e do próprio crescimento
esperado para 2018. Durante o regime de intervenção, é vetado realizar alterações na
Constituição Federal. Essa decisão do Governo Michel Temer, ainda na metade de fevereiro,
sepultou a possibilidade de uma reforma da Previdência em 2018, bem como pode ter antecipado
as tensões e incertezas eleitorais.
Além disso, a crise dos transportes produziu dias de agonia, e foi o evento que trouxe mais
prejuízos para a atividade. A greve dos caminhoneiros deixou marcas na organização da nossa
economia que persistem até hoje. Inicialmente, além da atividade paralisada, a confiança dos
empresários, dos consumidores e do mercado de capitais foi duramente impactada.
Posteriormente, entre as reinvindicações atendidas para pôr fim ao impasse com os
caminhoneiros, o Governo promoveu a subvenção do preço do Diesel em R$ 0,49 e publicou uma
tabela para os fretes, com preços mínimos muito acima dos praticados pelo mercado. Essas duas
medidas ajudaram a desorganizar ainda mais a economia, tendo em vista que o custo desse
acordo recaiu sob os demais setores.
A Copa do Mundo e as Eleições também foram eventos que ajudaram a desmobilizar e
reduzir a atividade econômica. No varejo, também vale assinalar, a base de comparação em 2018
está elevada por conta da liberação de recursos do FGTS em 2017.
Todos os elementos do cenário nacional compuseram a conjuntura do Rio Grande do Sul,
resultando em impactos de maior ou menor magnitude na atividade regional. A estimativa é de um
crescimento de 1,1% em 2018, abaixo do projetado ao final do ano passado (2,0%). No Estado, se
observou uma queda mais intensa da produção do setor primário, em relação ao total do Brasil, e

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 24
a melhora na indústria foi muito heterogênea, poucos setores com crescimento intenso puxaram o
resultado agregado. A crise fiscal se acentuou no final do ano e as medidas necessárias para a
adesão ao Regime de Recuperação Fiscal não foram implementadas, o que eleva o grau de
incerteza para 2019.
A projeção de continuidade no processo de retomada está calcada na capacidade dos
governos que assumirão em 2019 de recolocar as finanças públicas numa trajetória de solvência.
Nesse contexto, a realização da reforma da Previdência é uma condição necessária, mas não
suficiente para que se reverta definitivamente a crise fiscal. O Brasil e o Rio Grande do Sul
precisam avançar nas reformas que irão alavancar a competitividade e adequar o tamanho do
setor público a uma estrutura mais enxuta.

Setor Primário desacelera, setor Terciário começa a engrenar, mas atividade avança pouco

Apesar do crescimento aquém do esperado, o processo de recuperação parece ter


ganhado impulso ao longo de 2018. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central para o
Brasil e o Rio Grande do Sul mostra a perda de força da retomada cíclica ao longo de 2018. No
Brasil, verificou-se crescimento na comparação interanual em todos os trimestres, e a retomada
acelerou ao longo do ano, conforme mostra a Tabela 2.1. No segundo trimestre, o ritmo foi abaixo
do esperado, o que deve prejudicar o desempenho do ano.
No caso do Rio Grande do Sul, como veremos adiante, a queda na produção agrícola no
início do ano impactou o dado do primeiro trimestre, e o estado começou o ano com a atividade
em retração. De certo modo, essa queda no setor primário já era esperada, pois a safra do ano
anterior havia sido recorde, o que elevou a base de comparação estatística. Por sua vez, a
recuperação apresentada no terceiro trimestre pode ser consequência da boa safra de trigo e do
crescimento da produção industrial, tema que será abordado no capítulo seguinte.

Gráfico 2.1. Índice de Atividade Econômica Tabela 2.1. Índice de Atividade Econômica
do Banco Central do Banco Central
(Var. % acum. 12 meses) (Em %)
10,0

5,0
1,4 Ac. 12
0,0
1ºTrim. 2ºTrim. 3ºTrim jan-set
0,9 meses
-5,3 2018/17
até set.
-5,0 Var. mesmo trim. ano anterior
BR RS -7,1 RS -2,5 0,0 4,5 0,5 0,9
-10,0
BR 0,8 0,9 1,7 1,1 1,4
dez/04

set/07

fev/14

dez/15
out/06

mai/11

out/17
set/18
jul/09

mar/13

jan/15
nov/05

ago/08

abr/12
jun/10

nov/16

Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

Conforme mencionado, a contração na produção e produtividade da Agropecuária em


2018 já era algo esperado. A Safra de grãos de 2016/2017, que atingiu 238 milhões de toneladas
no BR e 36,2 milhões de toneladas no RS, contou com condições climáticas e de produtividade
espetaculares, atingindo o maior volume da história. A Safra de grãos de 2017/2018 foi
considerada boa pelos produtores (227 milhões de toneladas no BR e 33,3 milhões no RS), a
segunda maior, apesar da queda de 8,0% e 4,4% no BR e no RS, respectivamente.
Como mostra a Tabela 2.2, no caso do Rio Grande do Sul, a colheita das principais
culturas de verão teve queda na produtividade: arroz, -0,7%; milho, -10,3%; e, soja, -8,3%. Por

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 25
outro lado, o trigo, cultura de inverno, apresentou um avanço substancial em relação à safra
passada, com destaque para o avanço de 68,2% na produtividade. No agregado, a retração na
produtividade da safra de grãos gaúcha foi de 8,1%. Para a economia brasileira, as principais
culturas também registram queda de produtividade. Porém, a retração de 5,7% em comparação
com 2017 foi menos intensa do que a registrada no Estado.

Tabela 2.2. Produtividade da Agricultura


(Quilogramas por hectare)
Brasil Rio Grande do Sul
Var. % Var. %
Safra 2017 Safra 2018 Safra 2017 Safra 2018
2018/17 2018/17
Arroz 6.144 6.265 2,0 7.924 7.869 -0,7
Milho (1ª Safra) 5.577 5.267 -5,6 7.302 6.552 -10,3
Milho (2ª Safra) 5.581 4.903 -12,1 - - -
Soja 3.392 3.380 -0,4 3.385 3.104 -8,3
Trigo 2.217 2.839 28,1 1.774 2.983 68,2
Cana-de-açúcar 74.044 72.950 -1,5 43.627 43.022 -1,4
Fumo 2.228 2.113 -5,2 2.189 1.984 -9,4
Uva 21.895 20.262 -7,5 19.782 17.601 -11,0
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

No setor Terciário, em que pese o crescimento esperado, os resultados foram difusos.


Enquanto no Comércio varejista verificou-se uma recuperação mais intensa, nos Serviços, o
volume de atividade mostrou contração. O volume de vendas no Varejo no Rio Grande do Sul
avançou 6,8% no acumulado do ano até setembro, o que representa uma desaceleração em
relação à taxa de crescimento verificada no mesmo período do ano passado. Com exceção das
vendas de Livros, jornais, revistas e papelaria, todas as demais atividades mostraram
crescimento. Os números para o agregado do País foram um pouco piores. Além desses, os
segmentos de Móveis e eletrodomésticos; Tecido e vestuário; e, Combustíveis e lubrificantes
apresentaram resultados negativos.
No que se refere aos dados do Comércio gaúcho, chama atenção o expressivo
crescimento verificado em 2017 e 2018. Os dados da arrecadação de ICMS para o setor parecem
corroborar com a pesquisa do IBGE. No acumulado dos nove primeiros meses de 2017 em
relação ao mesmo período de 2016, a arrecadação de ICMS do varejo avançou 17,6%. No
mesmo período do ano de 2018, a arrecadação cresceu 4,5%, sempre em termos reais
deflacionado pelo IPCA. Esse descasamento entre o volume de vendas e a arrecadação pode
ocorrer por diversos motivos, entre eles: deflator utilizado, resquícios de alíquotas mais baixas no
início de 2016, consolidação do setor em empresas de maior porte e não participantes do Simples.
Apesar de todas essas diferenças, a direção do crescimento da arrecadação corrobora com os
dados da pesquisa do comércio.
A atividade nos Serviços continuou em queda em 2018. Em comparação com o acumulado
de janeiro a setembro do ano passado, o segmento apresentou contração tanto no Brasil quanto
no Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, o máximo que uma leitura positiva dos dados permite
é a perda de intensidade das quedas.
O setor de Serviços ainda sofre com a queda da atividade nos demais segmentos da
economia e com o baixo crescimento da renda. Destaca-se também a maior elasticidade renda do
setor de Serviços em relação ao Comércio, o que indica que quando a renda diminui, a demanda
no setor de serviços tende a cair mais do que no Comércio. Também se verifica uma maior
dependência da atividade do Setor Público e da Indústria.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 26
Tabela 2.3. Volume de vendas no Comércio varejista
(Var. %)
Rio Grande do Sul Brasil
jan-set 2017/16 jan-set 2018/17 jan-set 2017/16 jan-set 2018/17
Combustíveis e lubrificantes 11,1 2,9 -3,2 -5,8
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo 1,3 5,1 0,4 4,4
Tecidos, vestuário e calçados 26,2 7,8 7,9 -3,0
Móveis e eletrodomésticos 8,4 5,3 8,8 -1,0
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos 0,6 5,5 0,9 5,4
Livros, jornais, revistas e papelaria -21,2 -10,4 -3,6 -10,1
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação 17,9 20,7 -1,1 -0,2
Outros artigos de uso pessoal e doméstico 7,7 14,8 1,7 7,3
Veículos, motocicletas, partes e peças 20,1 12,3 0,4 15,7
Material de construção 2,9 3,1 7,5 3,9
Volume de vendas no comércio varejista ampliado 11,0 6,8 2,7 5,2
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

No Brasil, os serviços profissionais, administrativos e complementares tiveram a maior


contribuição para a queda na atividade agregada. Já no Estado, os serviços de informação e
comunicação contribuíram mais intensamente para a retração.

Tabela 2.4. Volume de Serviços


(Var. %)
Rio Grande do Sul Brasil
jan-set 2017/16 jan-set 2018/17 jan-set 2017/16 jan-set 2018/17
Serviços prestados às famílias -2,8 -0,9 -1,2 -0,8
Serviços de informação e comunicação -10,5 -4,5 -2,6 -1,2
Serviços profissionais, administrativos e complementares 7,5 2,4 -8,0 -1,9
Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio -0,6 -3,3 0,8 1,3
Outros serviços -8,0 7,2 -9,6 1,6
Volume de Serviços -4,3 -1,7 -3,7 -0,4
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Para 2019, acredita-se que a melhora no mercado de crédito e o crescimento da renda real
impulsionarão ainda mais o Comércio e poderão reativar o setor de Serviços. O ritmo de
recuperação dessas atividades será determinante para a estimativa da velocidade de recuperação
da economia como um todo.

Investimentos e Indústria da Construção ainda mostram fraqueza

Os investimentos no Brasil fecharam 2017 com queda de 1,6% em relação a 2016, a


terceira contração anual consecutiva. Em percentual do PIB, a Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF), proxy para os investimentos nas contas nacionais, atingiu 15,6%, o seu menor patamar.
Esse foi o menor nível desde 1965. Destaca-se a diminuta contribuição dos investimentos
públicos, 1,8%.
O quadro que levou a essa derrocada já é bem conhecido e tem sido descrito nos últimos
Balanços Econômicos da FIERGS. Entretanto, com o passar do tempo, vale destacar que fica
cada vez mais claro que a crise de 2015-2016 foi a mais intensa da nossa história e o principal
motivo para isso é que ela foi gestada e concebida internamente. Diferentemente de outras
ocasiões, o cenário externo exerceu pouca ou nenhuma influência sobre essa recessão. Essa
também é uma das explicações para que o processo de recuperação ocorra tão lentamente.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 27
A literatura econômica sobre crises tem mostrado que o remédio para atenuar o ciclo
recessivo deve ser a atuação conjunta das políticas fiscal e monetária. Em poucas palavras, o
governo deveria promover maior impulso fiscal através da expansão do gasto público, ao mesmo
tempo em que as taxas de juros são conduzidas paulatinamente para baixo. Essa coordenação
das políticas fiscal e monetária têm sido a base para a atuação de todos os governos durante
recessões agudas.
Entretanto, a crise brasileira foi decorrência de um colapso na atividade por conta do
esgotamento de um modelo calcado na expansão da demanda, mas também por conta de uma
crise fiscal e de confiança, num ambiente em que a inflação estava fugindo do controle do Banco
Central. Geramos a tempestade perfeita. Coube ao novo governo reduzir a política fiscal
expansionista e aumentar os juros para evitar o colapso macroeconômico do País. Assim, a
intensa queda da atividade, do emprego, da renda e dos investimentos foi o preço pago para
evitar uma crise inflacionária, cambial e de financiamento da dívida pública.
A equipe econômica que assumiu após o impeachment obteve sucesso para restaurar a
estabilidade de preços, avançar em medidas que melhorem a competitividade e administrar o
rombo nas finanças públicas por um par de anos. Entretanto, a crise fiscal foi apenas retardada.
Em outras palavras, é como se atrasássemos a contagem regressiva de uma bomba que irá
explodir. Ganhamos algum tempo, mas se não for desarmada, a tragédia será grande. É nesse
ambiente de extrema incerteza quanto à solvência das finanças do País no longo prazo que tem
ocorrido recuperação econômica. Por isso não se estranha o baixo desempenho dos
investimentos, que em última análise refletem a expectativa com relação ao País no longo prazo.

Gráfico 2.2. Investimento total (FBCF) e Gráfico 2.3. Estoque de trabalhadores na


investimento público Construção e Produção industrial dos
(% do PIB) insumos típicos da Construção
(Média em 12 meses | Dez 2012 = 100)
25 20,9 110
20 100
15,6 90
15 80
10 70
4,6 60 Estoque de trabalhadores
5 1,8
50 Produção de Insumos
0 40
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017

dez/13
dez/12

dez/14

dez/15

dez/16

dez/17
jun/13

jun/14

jun/15

jun/16

jun/17

jun/18

Investimento Público FBCF


Fonte: IGMI-C/IBRE/FGV. Elaboração: FIERGS/UEE.

Os investimentos começaram a reagir em 2018. Os dados das contas nacionais do


primeiro semestre mostraram que a Formação Bruta de Capital Fixo avançou 3,6% em relação ao
mesmo período de 2017. A retomada da Indústria de Transformação, que será analisada com
mais detalhes no próximo capítulo, tem ajudado nessa recuperação, conforme mostra o
desempenho do segmento de Bens de Capital. Contudo, a Construção Civil, tanto no segmento de
Obras de infraestrutura, quanto de Edificações, mostrou resultados negativos. O PIB do setor no
primeiro semestre registrou contração de 1,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. E,
conforme mostra o Gráfico 2.3, tanto a produção física dos insumos industriais típicos para a
construção quanto o estoque de trabalhadores permanecem estagnados até setembro de 2018. O
comportamento dos insumos para o setor são um bom indicativo da queda na atividade. Em
setembro de 2018, a produção dos insumos típicos ficou 28,8% abaixo do registrado em setembro

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 28
de 2013. No mesmo período de comparação, o estoque de trabalhadores no setor foi 36,2%
menor.
O boom da indústria da Construção na última década ocorreu em parte por conta dos
investimentos nos imóveis comerciais. O ótimo momento do consumo impulsionou a construção
de lojas, shoppings, lajes corporativas, hotéis, galpões, etc. Como podemos ver nos Gráficos 2.4 e
2.5, essa decisão de investimentos estava calcada na busca por retornos elevados, possibilidade
que se tornou escassa com o avançar da crise. O Gráfico 2.4 mostra a evolução do retorno na
forma de valorização do capital e de geração de renda dos investimentos em imóveis comerciais.
Já no Gráfico 2.5 é apresentado o retorno agregado (ganho de capital mais a renda gerada) em
relação ao CDI, que é considerada taxa livre de risco da economia brasileira. Portanto, com a
queda na rentabilidade devido à elevada vacância, os investimentos no setor ficaram paralisados.
Em termos de perspectivas, a queda na taxa de juros é um ingrediente necessário para
que o setor volte à atividade. A taxa Selic no seu menor patamar histórico nos ajuda a construir
um cenário mais positivo para o segmento nos próximos anos. Porém, o crescimento da renda e a
confiança completam o pilar que poderá sustentar uma reação na Construção de edificações.

Gráfico 2.4. Taxas de Retorno Anualizadas Gráfico 2.5. Retorno total dos imóveis
dos imóveis comerciais comerciais e CDI
(% a.a.) (% a.a.)
12 2,0 30
1,3 Capital Renda Retorno total
10 0,6
0,0
25 CDI
8 9,0 8,8 8,8 8,7 8,7 8,5 0,2
7,9 7,5 20
6 7,2 6,8 6,7
4
15
2
0 10
-0,2 -0,6 -0,7 -0,8 -0,6 -0,1
-2 5
2016.I

2016.III

2017.III

2018.I
20167IV
2015.IV

2016.II

2016.IV
2017.I
2017.II

2018.II

2008.II

2011.II

2014.II

2017.II
2001.II
2002.II
2003.II
2004.II
2005.II
2006.II
2007.II

2009.II
2010.II

2012.II
2013.II

2015.II
2016.II

2018.II
Fonte: IGMI-C/IBRE/FGV. Elaboração: FIERGS/UEE.

Quando olhamos para as obras de infraestrutura, a crise fiscal nos três âmbitos de governo
é o principal determinante da crise no segmento. Além disso, a Operação Lava Jato atingiu as
maiores empresas do setor, o qual está passando por um processo de reestruturação profundo.
Ainda não há como saber como essa atividade irá se organizar após os escândalos de corrupção.
Existem diversas possibilidades, tais como a maior presença de empresas estrangeiras, a
pulverização da atividade em empresas de menor porte e a reestruturação das empresas
tradicionais.
Por outro lado, o que sustenta uma visão mais positiva é o discurso da nova equipe
econômica liderada por Paulo Guedes, e de diversos candidatos em âmbito estadual, em favor da
realização de concessões e privatizações. É importante destacar que o Governo Temer avançou
nas concessões de estradas e aeroportos. No RS, destacamos o caso da BR 290 no trecho sul,
da BR 386 e do Aeroporto Salgado Filho. Entretanto, sabemos que existe uma defasagem
considerável entre o início desses processos e o período mais intenso de obras.
Essa tímida recuperação dos investimentos sem a contribuição da construção civil é um
fenômeno típico da recuperação cíclica pela qual estamos passando. Na medida em que o
horizonte de certezas for ampliado, a recuperação deve ganhar mais fôlego.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 29
Desalavancagem e estabilidade macroeconômica: o combustível da retomada

No final de 2017, a elaboração das perspectivas para 2018 tinha como pilar fundamental a
retomada mais intensa da economia pela via do consumo. O controle da inflação e a queda na
taxa de juros sustentavam esse cenário. Outro fator importante para o cenário de referência era a
continuidade das reformas, em especial a da Previdência. Entretanto, essa possibilidade foi
abandonada muito cedo, o que contribuiu para a redução na confiança dos agentes econômicos.
A frustração da reforma da Previdência no primeiro trimestre aproximaria as nossas
previsões do cenário inferior. Porém, a greve dos caminhoneiros produziu dias de agonia,
abreviou 2018 e atrasou ainda mais o processo de recuperação. Outros eventos, tais como a
Copa do Mundo, as Eleições e o grande número de feriados, também contribuíram para a menor
atividade.
Dessa forma, mais um ano de baixo crescimento e elevada incerteza contribuiu para
continuidade do processo de desalavancagem da economia brasileira. O Gráfico 2.6, que mostra
o endividamento do setor privado não financeiro em percentual do PIB, ilustra esse processo. No
final de 2015, o endividamento atingiu o seu valor máximo (76,8%) no período analisado (desde
março de 1996), após crescer quase ininterruptamente desde a crise de 2008. Nesse período, em
que mais dívidas foram pagas do que contraídas, o grau de endividamento do setor privado ao
final do primeiro trimestre de 2018 voltou ao patamar do final de 20122.

Gráfico 2.6. Endividamento do setor privado não financeiro


(% do PIB)

90
Dívida do setor privado não financeiro 76,8
80
Dívida das empresas não financeiras
70 Dívida das famílias 68,4
60
49,2
50
43,8
40
30 27,6
24,6
20
10
0
mai/98

out/03

mai/11
mar/96

out/16
abr/97

jun/99
jul/00

set/02

dez/05
jan/07
fev/08
mar/09
ago/01

nov/04

abr/10

jun/12
jul/13

set/15
ago/14

nov/17

Fonte: BIS. Elaboração: FIERGS/UEE.

O impacto da desalavancagem para a retomada da economia não ocorre apenas por conta
da maior possibilidade de crescimento das concessões de crédito no futuro, mas existe outro
canal importante de impacto no curto prazo: a redução do comprometimento da renda das famílias
com o pagamento do serviço da dívida. Dessa forma, uma melhora financeira, no caso da
continuidade de crescimento da economia, encontra as famílias e empresas com orçamentos mais
equilibrados.

2
O Capítulo 6 traz uma análise mais detalhada sobre as concessões de crédito em 2018.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 30
Em trabalho que analisa mais de 20 economias no período pós-crise, Biggs et al. (2010)3
cunhou o conceito de “impulso de crédito”4. Esse impulso é representado pela taxa de
crescimento do fluxo de crédito em relação ao crescimento do PIB. Os resultados empíricos
mostraram que o crescimento do PIB é positivamente correlacionado com o crescimento no fluxo
de empréstimos. O ponto mais interessante do trabalho para nós é a medida de impulso de crédito
em proporção do PIB. Tendo em vista que, mesmo em momentos de queda no estoque de
crédito, o impulso pode começar a apresentar crescimento, pois a queda do produto é mais
intensa. Os autores utilizam esses conceitos para entender o caso das “economias fênix”, aquelas
que voltam a crescer mesmo quando o estoque de crédito ainda não apresenta expansão.
No Gráfico 2.7, é apresentado o cálculo do impulso de crédito para a economia brasileira,
juntamente com o crescimento da demanda (consumo e investimento). Podemos ver que a
correlação entre as duas variáveis é elevada. Biggs et al. (2010) encontrou a mesma correlação
para outras economias e também realizou testes para entender a causalidade entre as variáveis.
Os resultados mostram que a melhora na atividade causa uma melhora no impulso de crédito,
esse primeiro impulso gera um processo que se retroalimenta em termos de crescimento, o qual
gera um ciclo virtuoso.

Gráfico 2.7. Impulso de crédito e Consumo mais Investimento


(Var. % acumulada em 12 meses)
12 4
10 3
8 2
6 1
4
0
2
-1
0
-2
-2
-4 -3
Consumo e investimento (Var.% anual) -4
-6
-8 Impulso de crédito (% do PIB) – Eixo direito -5
-10 -6
2002.IV

2009.IV

2016.IV
2006.II

2013.II
2003.IV

2004.IV

2005.IV

2006.IV

2007.IV

2008.IV

2010.IV

2011.IV

2012.IV

2013.IV

2014.IV

2015.IV

2017.IV
2003.II

2004.II

2005.II

2007.II

2008.II

2009.II

2010.II

2011.II

2012.II

2014.II

2015.II

2016.II

2017.II

2018.II

Fonte: IBGE e BACEN. Elaboração: FIERGS/UEE.

Se pelo lado da demanda por crédito, a recuperação cíclica tende aquecer a procura por
financiamentos, por outro lado, parte da redução das concessões decorreu da menor propensão
das instituições financeiras em ofertar crédito. Mesmo com a queda na taxa básica de juros da
economia, parece que muitas instituições optaram por não expandir os empréstimos e manter
uma maior posição em caixa.
Trimestralmente, o Banco Central publica o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) no
qual divulga uma sondagem realizada com as Instituições Financeiras denominada de Pesquisa

3
Biggs, Michael, Thomas Mayer and Andreas Pick (2010), “Credit and Economic Recovery: Demystifying Phoenix Miracles”, Working
Paper Series, SSRN Electronic Journal.
4
O impulso de crédito no período é definido como ( ∑ ∑
), em que é o saldo de crédito e é o PIB
nominal trimestral.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 31
de Estabilidade Financeira (PEF)5. O objetivo da pesquisa é identificar e acompanhar a percepção
das entidades reguladas quanto aos riscos à estabilidade financeira, e pode ser vista com um
termômetro para entender quais fatores estão influenciando a tomada de decisão dessas
instituições.
O resumo do resultado é publicado no REF conforme a Tabela 2.5, no qual as respostas
foram agregadas em quatro temas. Por exemplo, no risco “Cenário Internacional” está somando
os itens “política monetária nos EUA” e “guerra comercial EUA e China”, de forma que a
frequência não corresponde necessariamente ao número de instituições que citaram determinada
categoria de riscos.
Os resultados da PEF mostram que os riscos advindos do cenário internacional ganharam
importância entre aqueles que as instituições financeiras avaliam como os mais relevantes para os
próximos três anos. Essa questão tem probabilidade médio-alta (10%-30%) com impacto médio
sobre o sistema financeiro. O segundo tipo de risco mais citado é o “Político”, seguido pela
“Inadimplência e Recessão” e pelos “Riscos Fiscais”.
Desses quatro itens elencados, apenas o primeiro não diz respeito ao cenário econômico-
financeiro doméstico. Destaca-se que a sondagem foi realizada antes das Eleições de 2018, o que
significa que parte do risco político pode ter se dissipado. Além disso, a possibilidade de passar
uma reforma da Previdência também deve diminuir a percepção de agravamento da crise fiscal
nos próximos anos.

Tabela 2.5. Pesquisa de Estabilidade Financeira


Percepção das instituições financeiras sobre os principais riscos à estabilidade financeira nos próximos três anos,
considerando probabilidade e impacto no SFN*
Frequência (%) Ago 2018
Risco
Fev 2018 Mai 2018 Ago 2018 Probabilidade Impacto
Cenário Internacional 51 49 76 Médio-alta Médio
Riscos Políticos 64 71 67 Médio-alta Alto
Inadimplência e Recessão 56 58 55 Médio-alta Médio
Riscos Fiscais 56 49 44 Médio-alta Alto
*Pergunta: “Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando
probabilidade e impacto no SFN? Descreva os três riscos em ordem de importância (o mais importante primeiro, considerando a
combinação de probabilidade de ocorrência do evento e magnitude do impacto em termos de perdas relativamente ao volume de ativos
do SFN)”.
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

Diante do longo período recessivo acreditamos que, mesmo sem um vetor de crescimento
com muito destaque, a atividade deve avançar mais aceleradamente dentro do que entendemos
como uma recuperação cíclica. Nesse processo, a expansão do crédito terá papel fundamental na
medida em que o quadro de estabilidade macroeconômica fique consolidado.

O que é recuperação cíclica e até onde ela pode nos levar?


Após um período longo de recessão ou estagnação, diversos fatores começam a
influenciar para que a atividade econômica volte a acelerar. Além da desalavancagem, citada
anteriormente, destacamos o crescimento da população em idade ativa, o elevado grau de
ociosidade das plantas fabris, a diminuição do preço dos ativos reais e a obsolescência
tecnológica nas empresas, o que traz a necessidade de investimentos de manutenção e

5
Conforme assinala o Banco Central no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de outubro de 2018: “A amostra da PEF é formada
por 55 instituições financeiras, que representam 95% do sistema financeiro em termos de ativos, envolvendo bancos públicos, bancos
de desenvolvimento, bancos privados nacionais, bancos estrangeiros e bancos privados nacionais com participação estrangeira”.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 32
atualização. Esse processo natural de esgotamento do ciclo recessivo se soma à baixa inflação e
a queda nas taxas de juros para criar o ambiente para a recuperação cíclica da economia.
Esse grau de ociosidade da economia se reflete na abertura do hiato do produto, que é a
diferença entre o PIB corrente e o potencial, e ajuda a avaliar o grau de ociosidade da economia
ou o quanto a demanda agregada está abaixo da oferta agregada. Dessa forma, o PIB potencial é
uma medida de quanto a economia pode crescer sem gerar pressões inflacionárias. O Gráfico 2.8
mostra essas três variáveis, sendo que apenas o PIB é uma variável observável, as demais são
estimadas através de métodos econométricos.

Gráfico 2.8. PIB, PIB potencial e hiato do produto


(Média de 2002=100 | Hiato do produto em % do potencial no eixo da direita)
6%

160 Produto Potencial PIB Efetivo Dessaz. Hiato de Produto


4%

140
2%

120
0%

100
-2%

80 -4%

Previsão
60 -6%
1993 T1
1993 T4
1994 T3
1995 T2
1996 T1
1996 T4
1997 T3
1998 T2
1999 T1
1999 T4
2000 T3
2001 T2
2002 T1
2002 T4
2003 T3
2004 T2
2005 T1
2005 T4
2006 T3
2007 T2
2008 T1
2008 T4
2009 T3
2010 T2
2011 T1
2011 T4
2012 T3
2013 T2
2014 T1
2014 T4
2015 T3
2016 T2
2017 T1
2017 T4
2018 T3
2019 T2
2020 T1
2020 T4
Fonte: IPEA. Previsão e Elaboração: FIERGS/UEE.

No terceiro trimestre de 2016 foi quando ocorreu o maior grau de abertura do hiato do
produto dos últimos 30 anos. Após esse período, o crescimento da economia voltou, mas o
potencial continuou encolhendo até o terceiro trimestre de 2017, o que resultou no fechamento
mais forte do hiato nesse período. A partir do final de 2017, o produto potencial voltou a crescer,
de modo que o ritmo de fechamento do hiato desacelerou.
Destacamos que esse fenômeno de queda no potencial de crescimento é algo possível de
acontecer. Depois da crise de 2008, foram realizados estudos para diversas economias
mostrando que após uma recessão severa é possível que parte do potencial de crescimento seja
destruído. Isso decorre da desinstalação (fechamento) de muitas plantas, do longo período de
desemprego, da falta de investimentos e da interrupção de recursos para pesquisa e
desenvolvimento.
No período para qual temos dados, até o segundo trimestre de 2018, observa-se um
crescimento muito baixo do PIB potencial, 0,1% ao trimestre. Acreditamos que na medida que a
economia volte a crescer mais aceleradamente, o potencial também voltará a avançar. Caso
ocorra, esse movimento de crescimento do PIB e do PIB Potencial ajudará a retardar o
fechamento do hiato do produto.
Desse modo, um grande desafio é projetar qual a taxa de crescimento do PIB potencial ao
longo dos próximos períodos. No exercício mostrado no Gráfico 2.8, optamos por adotar uma
hipótese conservadora e supor que o PIB potencial crescerá, em média, 1,6% ao ano até o final
de 2020. Essa taxa de crescimento é inferior à média de 2,5% registrada entre 1994 e 2018. O

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 33
resultado dessa estimativa mostra que ao final de 2020 ainda não teríamos o completo
fechamento do hiato do produto.
Analisando o período 2018 e 2019, podemos elencar alguns aspectos conjunturais, muitos
deles já discutidos ao longo desse trabalho, os quais prejudicaram o crescimento em 2018, mas
que podem ajudar a impulsionar o resultado de 2019. O Quadro 2.1 mostra essa relação de
eventos que ajudaram a derrubar o crescimento. A expectativa é de que 2019 seja um ano mais
típico em termos de atividade, e que os governos consigam realizar medidas que comecem a
endereçar os desequilíbrios fiscais, as quais ajudarão na redução da incerteza.
Dessa forma, podemos destacar os principais motores para que o crescimento em 2019
seja maior do que em 2018, são eles: o aumento da confiança, a desalavancagem dos agentes
econômicos, o impulso de crédito proporcionado pelos juros mais baixos, a retomada da atividade,
a inflação baixa, a elevada ociosidade nas firmas e no mercado de trabalho.

Quadro 2.1. Fatores conjunturais que influenciarão o crescimento

Elaboração: FIERGS/UEE.

Por outro lado, quando analisamos períodos mais longos, a capacidade de crescimento da
economia brasileira estará diretamente ligada à realização das reformas microeconômicas que
visam a maior produtividade, melhores índices de educação, ambiente de negócios mais
amigável, diminuição da burocracia, etc. Todas essas reformas resultarão num aumento da
competitividade da economia brasileira. Essa melhora sistêmica também impulsionará a economia
pelo lado da oferta, resultando numa aceleração do PIB potencial e abrindo espaço para o
crescimento da renda com menores pressões inflacionárias.
Essas reformas de que o Brasil precisa compõem um diagnóstico amplamente conhecido,
mas de difícil realização no arranjo político-institucional no qual o Brasil esteve inserido durante o
período pós-Constituição de 1988. Assim, esperamos que os novos governos, Federal e Estadual,
e, principalmente, a próxima legislatura – Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias
Legislativas – encontrem meios de avançar com essa agenda.
Caso o Brasil atrase a realização das reformas necessárias para melhorar a
competitividade e dar sustentabilidade para as contas públicas, o avanço do PIB potencial será
menor, ou voltará a estagnar, o que significa que o fechamento do hiato será mais rápido,
resultando num período mais curto de crescimento sem pressões inflacionárias. Portanto, a
extensão e magnitude do ciclo econômico serão determinadas pela política e pela capacidade dos
governos endereçarem os desequilíbrios fiscais e realizarem a modernização do nosso arcabouço
institucional visando à maior competitividade.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 34
Perspectivas para 2019
Após um resultado muito abaixo do esperado em 2018, o crescimento deve acelerar em
2019, tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul. O processo de recuperação cíclica da
economia continua em curso e o desempenho pode surpreender negativa ou positivamente a
depender de dois elementos, que, até o momento, são os principais focos de incerteza para 2019.
O primeiro refere-se ao cenário internacional. O recrudescimento da guerra comercial entre
EUA e China pode afetar dramaticamente as perspectivas de crescimento da economia chinesa, e
tende a derrubar o preço das commodities e desestimular o ingresso de novos investimentos
estrangeiros no Brasil. O segundo risco mais relevante diz respeito à aprovação da reforma da
Previdência. Quanto antes ela for a aprovada e mais efetiva forem as mudanças do ponto de vista
da sustentabilidade da Previdência, mais sustentável será o cenário de confiança e otimismo
gerado pela eleição do novo governo. Por outro lado, uma reforma superficial prejudicaria as
perspectivas de médio e longo prazo do país, o que enseja um comportamento mais cauteloso por
parte dos empresários, investidores e consumidores.
No que se refere à economia gaúcha, a recuperação da economia nacionalmente tende a
ser o fator mais que determinante para o crescimento do Estado. No melhor cenário, projetamos
uma manutenção da crise fiscal do Estado, que será administrável na medida que ocorra a
adesão ao Regime de Recuperação Fiscal do Estado.
Portanto, o cenário base contempla a aceleração na taxa de crescimento em decorrência
da diminuição da incerteza e avanço na agenda de reformas. O Rio Grande do Sul tende a
apresentar uma aceleração menos intensa no crescimento em decorrência da continuidade do
delicado quadro das finanças públicas.
No cenário superior, há previsão de uma aceleração mais intensa no crescimento, com
rápida realização das reformas, melhora do quadro fiscal e cenário externo favorável para os
investimentos. No caso da economia regional, além do cenário nacional mais positivo, o avanço
da atividade e do processo para adesão ao Regime de Recuperação Fiscal atenua os efeitos da
crise nas finanças públicas.
Acreditamos que, mesmo no cenário inferior, a economia brasileira apresentará
crescimento, apesar da expectativa de agravamento da crise fiscal devido ao atraso e/ou
frustração das reformas, em especial a da Previdência. No caso do Rio Grande do Sul, o baixo
crescimento decorre do agravamento na crise das finanças públicas estaduais e federais.

Tabela 2.6. Perspectivas para 2018 – Brasil


(Var. % do PIB*)
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Agropecuária 13,0 -0,5 -3,5 1,1 3,0
Indústria Total 0,0 1,6 1,5 3,0 4,0
Serviços 0,3 1,4 1,8 2,7 3,5
PIB Total*** 1,0 1,3 1,6 2,8 3,6
Fonte: IBGE. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE. *** O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs setoriais
são projetados a valor adicionado.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 35
Tabela 2.7. Perspectivas para 2018 – Rio Grande do Sul
(Var. % do PIB*)
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Agropecuária 11,4 -2,5 0,5 2,5 4,5
Indústria Total 0,2 2,0 1,8 2,8 4,0
Serviços -1,8 1,2 1,5 2,0 3,3
PIB Total*** 1,0 1,1 1,2 2,4 3,8
Fonte: FIPE. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE. *** O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs setoriais
são projetados a valor adicionado.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 36
3. INDÚSTRIA

INDÚSTRIA BRASILEIRA CONFIRMA E GAÚCHA SUPERA EXPECTATIVAS

Entretanto ainda há um longo caminho para recuperar o que foi perdido nos últimos anos.

O cenário previsto no final de 2017 para atividade industrial em 2018 foi, em grande parte,
confirmado: a continuidade do processo de recuperação cíclica, na forma muito lenta, gradual e
volátil, iniciado no final de 2016. Da mesma forma, foram ratificados os protagonismos da
demanda interna como propulsor e da incerteza político-econômica, como o grande limitador do
processo.
De fato, a redução dos juros e da inflação, a geração de emprego e o crédito menos
restrito contribuíram para a trajetória positiva da demanda doméstica, limitada, sobretudo, pelo
cenário eleitoral mais imprevísivel desde a redemocratização, juntamente com o desemprego
menor, mas ainda em nível elevado. O resultado líquido desses condicionantes foi um
crescimento insatisfatório da demanda interna, que foi considerada pelos industriais o segundo
maior entrave do setor em 2018, perdendo apenas para a elevada carga tributária.
O cenário externo também confirmou seu papel secundário com a situação pouco
favorável ao comércio e investimentos em países emergentes. Apesar disso, as exportações
industriais brasileiras cresceram 7,0% em 2018 até setembro. O acirramento da crise argentina
impediu um desempenho melhor, afetando com mais intensidade as vendas externas gaúchas,
que ficaram estagnadas no período. A taxa de câmbio foi outro elemento que influenciou
negativamente, sendo considerada pelos industriais brasileiros o quarto maior problema
enfrentado pelo setor em 2018. A volatilidade e a desvalorização afetaram o planejamento das
empresas e os preços das matérias-primas.
A greve dos caminhoneiros acabou trazendo ainda mais instabilidade ao já conturbado
cenário econômico, derrubando a atividade e aumentando os custos das empresas e a incerteza.
Quase todos indicadores acusaram seus efeitos, muitos apresentando resultados históricos. Por
conta do episódio, segundo as pesquisas, a logística de transportes foi considerada pelos
empresários um dos principais problemas para indústria em 2018, sendo o que mais ganhou
importância em relação a 2017.
Nesse cenário, os indicadores conjunturais, que avaliam a atividade industrial, tanto no
país quanto no estado, apresentaram taxas positivas nas comparações com o ano passado, em
grande parte, devido aos efeitos carregamento de 2017, que foram bastante positivos. Ou seja,
não foi necessário crescer na margem para gerar uma taxa positiva no ano. A produção industrial
brasileira, por exemplo, prevista para avançar 2,5% em 2018, deve ter um desempenho um pouco
abaixo da previsão feita no final do ano passado: +3,0%. Já a indústria gaúcha surpreendeu
positivamente: a projeção foi de 3,0%, mas deve aumentar 4,7%.
É importante ressaltar que recuperação não é crescimento. As altas das produções
brasileira e gaúcha em 2017 e 2018 somadas não chegam a um terço do tombo acumulado nos
três anos anteriores.
A expansão da indústria em 2018 foi heterogênea. Mais uma vez, foi grande o
protagonismo de Veículos automotores, responsável por mais de 70% do crescimento da
produção nacional e mais da metade da produção industrial gaúcha.
Nesse contexto, a confiança empresarial evoluiu em linha com o esperado diante da
elevada incerteza e do fraco ritmo da economia que dominou o ano de 2018. De moderada (início
do ano) a baixa (greve dos caminhoneiros), a confiança atingiu seu pico histórico em novembro

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 37
(eIeições). As pesquisas mostraram ainda que a indústria diminuiu seu nível de ociosidade, não
acumulou estoques indesejados e seus maiores obstáculos foram a elevada carga tributária, a
demanda interna insuficiente e o alto custo da matéria-prima. Diante disso, o cenário em 2018
não foi muito propício aos investimentos. Os indicadores de intenção de investir da indústria
seguiram a evolução da confiança: de moderada (início do ano) a baixa (greve dos
caminhoneiros), voltou a crescer em novembro (eIeições).
Para o próximo ano, a indústria nacional bem como a estadual deve seguir o processo de
recuperação cíclica iniciada no ano passado e mantida em 2018. A produção brasileira deve
crescer 3,2% em 2019, enquanto no Estado, deve aumentar um pouco menos, por conta da base
maior, +3,0%.
O panorama projetado para o próximo ano mantém a demanda interna como propulsor do
crescimento. A grande mudança é o fim da incerteza política, um dos principais fatores restritivos
ao desempenho da indústria brasileira nos últimos anos. A incerteza, todavia, deve continuar no
campo econômico, associada às dificuldades e ao ritmo do avanço das reformas, principalmente,
a da Previdência. O cenário externo, por sua vez, não deve ajudar pelo canal comercial e deve
continuar sendo um componente de incerteza e instabilidade pelo canal financeiro, principalmente
sobre a taxa de câmbio, que vai depender também do contexto doméstico.

Recuperação não é crescimento

No ano passado, a indústria brasileira deixou para trás a mais longa e profunda recessão
já registrada. Nos anos de 2014 (-3,0%), 2015 (-8,2%) e 2016 (-6,4%), a produção no Brasil caiu
16,7% e no Estado (-4,2%, -9,8% e -6,0%), recuou 18,5%. Respectivamente, as altas (de 2,5% e
0,5%) de 2017 e, se confirmadas, as previsões (de 2,5% e 4,7%) para 2018 somadas não chegam
a um terço do tombo acumulado.
Com isso, a produção industrial do Brasil e do Rio Grande do Sul encerrará o ano de 2018
entre 12,5% e 14,2% abaixo dos níveis de 2013. Ou seja, apesar do melhor desempenho em
2018, a indústria gaúcha está um pouco mais distante dos níveis de 2013.
No ritmo previsto para 2018, a produção nacional só deve voltar aos patamares anteriores
à crise (2013) em, aproximadamente, 5 anos. Já a recuperação gaúcha seria mais rápida, em 3
anos, mas, vale destacar que a taxa de 2018 (base para esta projeção) foi a maior desde 2010 e
dificilmente se repetirá nos próximos anos diante das limitações do cenário econômico. Ademais,
os resultados demonstram que, apesar das taxas diferentes em 2018, o ritmo de recuperação da
indústria nacional e regional é semelhante.

Gráfico 3.1. Produção Industrial – Brasil Gráfico 3.2. Produção Industrial – RS


(Var. % em relação à base) (Var. % em relação à base)

Base
-3,0
Base
-11,0 -4,3
-12,5
-14,6
-16,7 -15,3 -14,2
-18,5 -18,1

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 38
São, portanto, tempos de recuperação, e que ainda carece de consolidação, visto que
depende das reformas e do ajuste fiscal. Há um longo caminho para recuperar o que foi perdido
nos últimos anos.

Indústria brasileira em 2018: Recuperação é muito lenta e desigual entre setores

O cenário previsto para 2018 se confirmou, podendo ser comprovado pelos dois dos
principais indicadores de atividade industrial brasileiro, a produção (IBGE) e o faturamento real
(CNI). Os dois indicadores no final do ano passado deixaram um efeito carregamento – empurrão
estatístico para 2018 – fortemente positivo: de 4,3%, no caso da produção, e de 3,0%, no caso do
faturamento real. Isso significa que se ambos tivessem estabilizados no nível de dezembro de
2017 teriam registrado uma expansão anual nos mesmos percentuais. Ou seja, não precisavam
crescer.
Foi o que aconteceu com o indicador de produção (com ajuste sazonal), que não
conseguiu sustentar o patamar de dezembro de 2017 (base do carregamento), passando de um
processo de estagnação na margem (em relação ao mês anterior) na primeira metade do ano,
para uma desaceleração após a crise dos caminhoneiros. Diferentemente, o Faturamento real
ficou estagnado no primeiro semestre, mas voltou a crescer no terceiro trimestre. A evolução
descrita pelos indicadores é mostrada nos Gráficos 3.3 e 3.4..

Gráfico 3.3. Produção Industrial – Brasil Gráfico 3.4. Faturamento Real – Brasil
(Índice de base fixa mensal 2012=100 – com ajuste (Índice de base fixa mensal 2012=100 – com ajuste
sazonal) sazonal)
95 120
90 110
85 100
80 90
75 PRODUÇÃO CARREGAMENTO 2017 80 FATURAMENTO REAL CARREGAMENTO 2017

70 70
fev/18

ago/18

set/18
jan/18

abr/18

jun/18

jan/18

fev/18

ago/18

set/18
abr/18

mai/18
mar/18

mai/18

mar/18

jun/18

jul/18
jul/18

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: CNI/Indicadores Industriais do Brasil. Elaboração:


FIERGS/UEE.

Em termos anuais, a produção brasileira mostrou uma desaceleração na taxa de


crescimento: iniciou 2018 crescendo 2,8% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2017,
1,7% no segundo e 1,2% no terceiro, encerrando os nove primeiros meses com uma alta
acumulada de
%. Sem crescimento na margem, a taxa positiva só foi possivel pelo efeito do carregamento de
2017 (+4,3%). No faturamento real, a desaceleração foi, relativamente, menor: de 6,4% para
5,4%, sendo uma boa parte da taxa também herança estatística (+3,0%).
Essa diferença de 3,5 pontos entre os dois indicadores percentuais sugere: a) redução de
estoques, b) bases diferentes (a produção cresceu 2,5% em 2017 e o faturamento estagnou); c)
impacto da desvalorização cambial (13,0% de janeiro a outubro) no faturamento em reais, e d)
introdução de componentes industriais importados no processo de fabricação.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 39
Acrescenta-se que, apesar da alta mais intensa em 2018, o faturamento real esta mais
distante dos níveis dos primeiros nove meses de 2013 do que a produção: -18,2% ante -13,3%.

Gráfico 3.5. Produção Industrial – Brasil Gráfico 3.6. Faturamento Real – Brasil
(Var % em relação) (Var % em relação)

Mesmo trimestre ano anterior Acum. no ano Mesmo trimestre ano anterior Acum. no ano

2,8

1,9
1,7 6,4 6,4
1,2
3,3 5,4

1° trim 2018 2° trim 2018 3° trim 2018 1° trim 2018 2° trim 2018 3° trim 2018

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: CNI/Indicadores Industriais do Brasil. Elaboração:


FIERGS/UEE.

A decomposição da produção por grandes categorias de uso, que agrega os produtos


segundo o seu destino, mostrou um cenário predominantemente positivo em 2018, com destaque
para Bens de consumo duráveis (+11,6%). O segmento, que responde por 10,2% da produção
total, deu a maior contribuição para a expansão da indústria no ano, puxado por automóveis para
passageiros (+15,2%) e eletrodomésticos da linha “marrom” (+11,1%) com destaque para
aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo. Melhores
condições de crédito, inflação baixa, geração de empregos, juros menores, Copa do Mundo e
maior confiança dos consumidores pesaram a favor do segmento, enquanto a taxa de
desemprego e a incerteza elevados foram os principais entraves.
Apesar da taxa expressiva, a produção de Bens de consumo duráveis nos nove primeiros
meses de 2018 apenas recupera parte das perdas e continua 22,2% abaixo do período
equivalente de 2013.
Os resultados também são positivos para o segmento de Bens de capital. A categoria, que
responde por 30,6% da produção industrial brasileira, cresceu 8,5% nos primeiros nove meses de
2018 na comparação o mesmo período de 2017. Esse segmento, que ainda demonstra uma
defasagem superior a 31,0% em relação ao mesmo período de 2013, foi impulsionado pela maior
produção de equipamentos de transporte industrial (+15,5%), especialmente, caminhões e ônibus
(+44,3%) e cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores (+58,8%). O processo de
renovação de frotas dos transportadores, que contaram também com o aumento de preços do
frete, impulsionou o avanço desses segmentos. Destacaram-se também os segmentos de
equipamentos de informática e periféricos (+28,5%) e máquinas e equipamentos de uso na
extração mineral e na construção (+24,4%).
Já o segmento de Bens de consumo semi e não-duráveis, relativamente mais
dependendente da renda e do emprego, responsável por 23,3% da produção total, ficou estável
nos primeiros nove meses de 2018 (+0,1%), reflexo do comportamento do mercado de trabalho
ruim e da menor demanda externa por alimentos. Também foram fatores negativos, a greve dos
caminhoneiros, o inverno menos rigoroso que o esperado, a paralisação das empresas durante a
Copa do Mundo e o aumento dos Bens de consumo duráveis (de maior valor) e das importações
do segmento.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 40
Por fim, o maior segmento da indústria nacional, que responde por 59,7% do total, Bens
intermediários (insumos, matérias-primas para a indústria e autopeças, além de aço, borracha e
plásticos) cresceu somente 1,0% no período, sinalizando a recuperação lenta e gradual do setor
industrial brasileiro como um todo, impactado também pelo crescimento das importações desses
produtos (+12,3%) no período.

Gráfico 3.7. Produção Industrial – Categorias de Uso – Brasil


(Var. % acum. em 2018 até setembro)

Bens de capital 8,5

Bens intermediários 1,0

Bens de consumo 2,4

Bens de consumo
semiduráveis e não duráveis 0,1

Bens de consumo duráveis 11,6

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE.

Numa perspectiva anual, a análise dos resultados mostra que além de lenta, a
recuperação é desigual entre os setores. Há uma predominância de resultados positivos no
acumulado de janeiro a setembro ante o mesmo período do ano passado: 16 dos 26 pesquisados.
A indústria de Veículos automotores, reboques e carrocerias (+16,5%) forneceu, novamente em
2018, a maior contribuição para resultado agregado, com mais de 70% do total (1,36 p.p.),
impulsionada por automóveis, caminhões, reboques e semirreboques, e autopeças. Outras
contribuições positivas relevantes sobre o total nacional vieram de Metalurgia (+5,5%), de Coque,
produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,9%), de Celulose, papel e produtos de
papel (+5,8%), de Máquinas e equipamentos (+4,5%), de Equipamentos de informática, produtos
eletrônicos e ópticos (+8,0%), de Farmoquímicos e farmacêuticos (+4,5%) e de Borracha e
plástico (+2,4%).
Por outro lado, as principais influências negativas vieram de setores ligados à Bens de
consumo semi e não duráveis. Produtos alimentícios (-3,9%), foi de longe a maior (-0,63 p.p.),
pressionada pela menor produção de açúcar cristal e VHP, carnes e miudezas de aves
congeladas, rações e sucos concentrados de laranja. Vale destacar também os resultados
negativos vindos dos setores de Vestuário e acessórios (-3,7%) e de Couro e calçados (-4,3%). As
quedas das exportações, o inverno menos rigoroso que o esperado, a greve dos caminhoneiros, o
maior gasto com a aquisição de bens duráveis são fatores que pressionaram o desempenho
desses setores.
A decomposição setorial mostrou que o crescimento do faturamento real em 2018 também
não foi compartilhado por todos os setores: dos 21, apenas doze registraram expansão na
comparação entre os meses de janeiro a setembro de 2018 e 2017.
Os setores que forneceram as maiores contribuições positivas foram Alimentos (+7,5%),
Veículos automotores, reboques e carrocerias (+11,2%), Máquinas e equipamentos (+20,2%),
Metalurgia (+15,8%) e Químicos (+10,6%). Entre os nove setores que registraram queda no
período, as maiores pressões vieram de Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis
(-7,8%), Bebidas (-14,2%), Têxteis (-13,9%), Farmoquímicos e farmacêuticos (-9,3%) e Impressão
e reprodução de gravações (-20,6%).

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 41
Os indicadores divulgados pela CNI complementam as informações sobre a evolução da
atividade industrial em 2018, corroborando a lentidão e gradualismo da recuperação em curso.
Conforme mostra o Gráfico 3.8, as horas trabalhadas na produção (+0,4%) acompanharam
o ritmo lento da produção, assim como o nível de emprego (+0,4%). A conclusão que se poderia
tirar desses números é de um ligeiro aumento da produtividade, já que os dois indicadoes
cresceram menos que a produção. A UCI registrou um grau médio no ano de 77,7%, 0,5 p.p.
apenas a mais do que no mesmo período de 2017. Nesse período, a massa salarial real foi o
único indicador que caiu, -1,5%.

Gráfico 3.8. Indicadores Industriais do Brasil


(Var. % acum. em 2018 até setembro)

Faturamento real 5,4

UCI (em p.p.) 0,5

Horas trabalhadas na
0,4
produção

Emprego 0,4

Massa salarial real -1,5

Fonte: CNI. Elaboração: FIERGS/UEE.

A Tabela 3.1 mostra os resultados setoriais para os principais indicadores industriais


divulgados no país, evidenciando que o crescimento em 2018 não é compartilhado por todos.

Tabela 3.1. Indicadores de conjuntura – Indústria do Brasil – Setores


(Var. % acum. em 2018 até setembro)
Faturamento Horas trabalhadas Massa salarial
UCI* Emprego Produção
real na produção real

Extrativa - - - - - 0,3
Alimentos 7,5 1,0 -1,9 -0,2 0,1 -3,9
Bebidas -14,2 2,3 -0,6 0,8 2,0 1,4
Tabaco - - - - - -3,9
Têxteis -13,9 -4,8 2,7 -1,3 7,6 -1,7
Vestuário e acessórios -5,9 -4,7 -1,2 -2,8 -3,5 -3,7
Couros e calçados 3,4 -1,5 -0,7 -0,6 5,6 -4,3
Produtos de Madeira 6,5 -2,4 2,6 0,3 -2,0 4,5
Celulose, papel e produtos de papel 0,9 -2,6 0,6 -1,5 0,0 5,8
Impressão e Reproduções de gravações -20,6 -10,5 0,3 3,9 -2,1 -2,2
Derivados de petróleo e biocombustíveis -7,8 1,2 -7,6 -0,6 -3,1 1,9
Químicos 10,6 -3,9 1,8 -3,1 -8,4 -
Outros produtos químicos - - - - - 0,5
Farmacêuticos -9,3 17,2 0,6 5,8 -10,4 4,5
Sabões, detergentes, prods de limpeza, cosm. - - - - - 1,2
Borracha e de material plástico -2,1 3,4 2,8 -0,3 -1,3 2,4
Minerais não metálicos 7,4 -1,7 2,5 -2,9 -5,7 -0,3
Metalurgia 15,8 7,1 2,6 4,3 4,5 5,5
Produtos de metal 7,8 1,9 -0,8 4,1 0,3 2,0
Equip. inform, prod. eletrônicos e óticos - - - - - 8,0
Máquinas, aparelhos e mat. elétricos 3,0 -4,8 0,8 1,9 1,6 -0,8
Máquinas e equipamentos 20,2 2,6 3,5 1,7 -3,7 4,5
Veículos automotores 11,2 9,0 4,2 6,2 5,0 16,5
Outros equipamentos de transporte 1,0 -29,0 0,0 -17,1 -35,0 -1,0
Móveis -1,7 1,5 -0,3 3,7 4,8 1,6
Produtos diversos -5,1 -2,1 2,7 -3,7 -2,1 -1,3
Manutenção, rep. e inst. de máq. e equipam. - - - - - 0,7
Indústria de tranformação 5,4 0,4 0,5 0,4 -1,5 2,2
Indústria geral - - - - - 1,9
Fonte: IBGE. CNI. Elaboração: FIERGS/UEE.
* Em pontos percentuais.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 42
Indústria gaúcha cresce mais que a brasileira, acelerando o ritmo no terceiro trimestre
Compartilhando o mesmo cenário econômico, a indústria gaúcha evoluiu em 2018 além da
indústria nacional e do esperado no final do ano passado. A evolução pode ser dividida em dois
estágios distintos: o primeiro semestre com um ritmo muito baixo e o terceiro trimestre em
crescimento acelerado, especialmente na produção.
Com heranças estatísticas positivas de 6,3% e 3,5%, respectivamente, a produção
industrial e o Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS), termômetro do nível de atividade no
Estado, evoluíram positivamente em 2018, mas de forma irregular.
Conforme ilustram os Gráficos 3.9 e 3.10, no início do ano, os indicadores mostravam
desaceleração na margem, sobretudo no primeiro trimestre. A produção industrial gaúcha em
março estava 3,9% abaixo de dezembro de 2017 (base do carregamento), com ajuste sazonal,
desempenho em linha com o IDI/RS (-3,6%). Em abril, ocorreu uma recuperação, interrompida
pela greve dos caminhoneiros no mês seguinte. Apenas no terceiro trimestre de 2018, a tendência
de recuperação ganha intensidade. A produção dispara (+10,5% sobre o segundo trimestre). Em
setembro, último dado disponível, os dois indicadores estavam, respectivamente, 3,0% e 0,9%
acima do último mês do ano passado.

Gráfico 3.9. Produção Industrial – RS Gráfico 3.10. Índice de Desempenho


(Índice de base fixa mensal 2012=100 – com ajuste Industrial – RS
sazonal) (Índice de base fixa mensal 2006=100 – com ajuste
sazonal)
105 95
100 92
95
90 89
85 86
80
75 PRODUÇÃO CARREGAMENTO 2017
83 IDI/RS CARREGAMENTO 2017
70 80
dez/17

abr/18
jul/18

ago/18
dez/17

fev/18

jul/18

set/18
fev/18

abr/18

jan/18

jun/18
jan/18

set/18

mar/18

mai/18
mai/18
jun/18
mar/18

ago/18

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: CNI/Indicadores Industriais do Brasil. Elaboração:


FIERGS/UEE.

O baixo dinamismo da primeira metade do ano e a retomada no terceiro trimestre


evidenciados na margem também são visíveis quando os números de 2018 são comparados com
o ano anterior.
A produção industrial gaúcha, depois de registrar taxas próximas da estabilidade no
primeiro (+0,8%), no segundo (+0,4%) trimestre e, por consequência, no primeiro semestre
(+0,7%), cresceu 12,4% no terceiro, encerrando os nove primeiros meses do ano com avanço de
4,7%. Todos comparados com o período equivalente do ano passado. Comportamento
semelhante, ainda que bem menos intenso, mostrou o IDI/RS, que passou de 1,9% de alta nos
primeiros seis meses para 2,6% no acumulado até setembro.
Entre os componentes do Índice de Desempenho Industrial gaúcho (IDI/RS), o faturamento
real e as compras industriais (insumos e matérias-primas) apontaram um ritmo mais intenso,
exibindo crescimentos de 3,6% e 10,0%, respectivamente, no acumulado dos primeiros nove
meses de 2018 na comparação com igual período do ano passado. Já o emprego (+0,9%)
acompanhou a direção do ciclo, registrando alta menor. A indústria gaúcha operou, em média,

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 43
com 80,3% de sua capacidade produtiva nos nove primeiros meses do ano, 1,5 p. p. maior que a
do mesmo período de 2017. Já as horas trabalhadas na produção (-0,5%) e a massa salarial real
(-2,8%) caíram no mesmo período de comparação.

Gráfico 3.11. Produção Industrial – RS Gráfico 3.12. Índice de Desempenho


(Var. % em 2018) Industrial – RS
(Var. % em 2018)

Mesmo trimestre ano anterior Acum. no ano Mesmo trimestre ano anterior Acum. no ano
12,4

4,7 3,9
2,5
1,3 2,6
0,9
0,4
1° trim 2018 2° trim 2018 3° trim 2018 1° trim 2018 2° trim 2018 3° trim 2018

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: FIERGS/Indicadores Industriais do RS. Elaboração:


FIERGS/UEE.

Os desempenhos inferiores do emprego e das horas trabalhadas comparativamente ao da


produção (+4,7%) indicam um aumento da produtividade da indústria gaúcha em 2018. Esses
resultados são apresentados no Gráfico 3.13.

Gráfico 3.13. Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul


(Var. % acum. em 2018 até setembro)

Compras industriais 10,0

Faturamento real 3,6


Utilização da capacidade
instalada 1,9

Emprego 0,9
Horas trabalhadas na
produção -0,5

Massa salarial real -2,8


Fonte: FIERGS/Indicadores Industriais do RS.

A recuperação da indústria gaúcha em 2018 foi menos assimétrica entre os setores que a
brasileira. Dos quatorze pesquisados no RS, dez mostram expansão da produção no ano, mas
apenas quatro crescem acima da média geral, sendo que dois – Veículos automotores e Celulose
e papel (+36,8%) – respondem por mais de 80% dela.
Assim como no País, mais uma vez, o setor de Veículos automotores foi o principal
responsável pelo aumento da produção no Estado, crescendo 21,1% nos primeiros nove meses
de 2018, relativamente a igual período de 2017, e contribuindo com 2,5 pontos percentuais, mais
da metade da taxa global de 4,2% no período. Assim como no Brasil, o avanço reflete, em grande
parte, o segmento voltado aos bens de capital, como reboques e semirreboques, carrocerias de
ônibus, além das autopeças (bens intermediários). No caso ds reboques e semirreboques, o
principal fator foi o processo de renovação de frotas dos transportadores, que contaram ainda com

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 44
aumento dos preços do frete. Vale destacar, porém, que essa alta expressiva trata-se apenas de
uma retomada: a metade da queda verificada no ciclo recessivo de 2014 a 2016, precisando
crescer ainda 40% para atingir os níveis de produção de 2013.
A intensidade desse cenário se propagou pela cadeia produtiva, em especial, no segmento
de bens intermediários, tais como os setores de Produtos de metal (+9,8%) e de Metalurgia
(+13,3%) que também tiveram influências relevantes no desempenho industrial gaúcho em 2018.
O resultado da Metalurgia também contou com as exportações (+34,7%).
O setor de Celulose e papel, com uma alta de 36,6% em 2018 ante 2017, forneceu o
segundo maior impacto positivo no dado geral. Além disso, ele é um dos dois únicos setores que
produzem em nível acima do mesmo período de 2013: +106,2%. O resultado positivo reflete o
desempenho das exportações, que, no mesmo período, cresceram 82% em Dólar. Vale lembrar,
que em 2015 a principal empresa do setor no estado ampliou sua capacidade de produção e no
ano passado foi afetada por uma longa e inesperada parada para manutenção.
O setor de Máquinas e equipamentos (+3,2%) também contribuiu de forma relevante
devido à maior produção de máquinas para extração ou preparação de óleo ou gordura animal ou
vegetal, tratores agrícolas e aparelhos elevadores ou transportadores para mercadorias. Outras
máquinas e implementos agrícolas (semeadores, plantadeiras ou adubadores) pressionam
negativamente, em linha com a queda das exportações de máquinas agrícolas (-19,4% de janeiro
a setembro de 2018 sobre o mesmo período de 2017), sobretudo para a Argentina.
As quedas setoriais mais importantes foram registradas na produção de Químicos (-2,9%),
sobretudo petroquímicos, que teve uma redução nas exportações (-26,0%) devido, em grande
parte, a uma parada programada para manutenção em uma grande unidade produtora; Bebidas (-
6,9%), vinhos, champanha e refrigerantes, devido à queda na safra da uva (-18,0%) no Estado e a
mudança na tributação para refrigerantes. Alimentos (-0,7%) como suco de frutas e carnes de
aves, impactada pelas dificuldades para as exportações provocadas por barreiras criadas por
importantes parceiros comerciais (União Europeia, Arábia Saudita e China), além da greve dos
caminhoneiros que afetou a todos.
Em termos setoriais, os Indicadores Industriais do RS avançaram em dez dos dezessete
setores pesquisados. Os resultados também corroboram o protagonismo do segmento metal-
mecânico, sobretudo, Veículos automotores, cuja atividade cresceu 16,5% no acumulado de
janeiro a setembro de 2018 ante a igual período do ano passado, exibindo taxas expressivas no
faturamento (+17,0%), nas horas trabalhadas na produção (+18,1%), no emprego (+18,7%) e nas
compras industriais (+17,3%).

Gráfico 3.14. Produção Industrial – RS Gráfico 3.15. Índice de Desempenho


(Var. % em doze meses) Industrial – RS
(Var. % em doze meses)
Veículos automotores Veículos automotores
35 Metal-mecânica
35 Metal-mecânica
25 Total RS 25 Total RS
15 15
5 5
-5 -5
-15 -15
-25 -25
-35 -35
dez/09

dez/11

dez/13

dez/15

dez/17
ago/10
abr/11

ago/12
abr/13

ago/14
abr/15

ago/16
abr/17

ago/18

dez/09

dez/11

dez/13

dez/15

dez/17
ago/10
abr/11

ago/12
abr/13

ago/14
abr/15

ago/16
abr/17

ago/18

Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: FIERGSI/Indicadores Industriais do RS. Elaboração:


FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 45
No mesmo sentido, as indústrias de Metalurgia (+16,9%), Produtos de metal (+3,7%),
Borracha e plásticos (+3,3%) e Tabaco (+2,5%) também deram contribuições importantes para o
desempenho positivo da atividade industrial em 2018. Em sentido contrário, as atividades de
Bebidas (-2,1%), Têxteis (-7,9%) e Vestuário e acessórios (-6,8%) forneceram os maiores
impactos negativos.
Portanto, novamente, confirma-se a importância do complexo metal-mecânico no
desempenho da indústria gaúcha. O segmento foi responsável por quase 84,0% do resultado
global da produção, muito superior aos 28,0% de participação no PIB industrial gaúcho e,
sustentou todo o crescimento do faturamento, mesmo correspondendo a um quarto da receita de
vendas industriais do estado. O setor de Veículos automotores sozinho foi responsável por 80%
do crescimento do faturamento total da indústria gaúcha do ano. Os Gráficos 3.14 e 3.15 ilustram
a forte associação entre os desempenhos do segmento metal-mecânico da indústria gaúcha ao
longo do tempo.
Na Tabela 3.2 são mostrados os resultados setoriais para o ano de 2018 dos principais
indicadores de conjuntura divulgados para a indústria gaúcha. Fica claro, que também no Rio
Grande Sul, nem todos os setores compartilham as taxas positivas em 2018.

Tabela 3.2. Indicadores de conjuntura – Indústria do Rio Grande do Sul – Setores


(Var. % acum. em 2018 até setembro)
Faturamento Compras Horas trabalhadas Massa salarial
UCI* Emprego IDI Produção
real industriais na produção real

Alimentos -6,1 -3,4 -1,0 0,5 1,3 2,7 0,7 -0,4


Bebidas -14,5 2,9 -0,2 8,0 -0,1 -5,2 -2,1 -7,3
Tabaco 16,1 10,5 - -2,4 0,4 -2,0 2,5 -3,5
Celulose, papel e prods. de papel - - - - - - - 36,7
Têxteis -26,8 -11,0 8,2 -7,5 -6,9 -3,6 -7,9 -
Vestuário e acessórios -14,8 -9,6 15,4 -11,4 -6,1 -8,0 -6,8 -
Couros e calçados 4,8 6,5 -0,7 -4,7 -3,4 -4,3 -0,4 2,3
Couros -1,3 10,5 -4,8 5,0 -3,9 -6,5 2,3 -
Calçados 5,6 6,0 -0,5 -5,1 -3,4 -4,6 -1,3 -
Produtos de Madeira 19,8 1,0 1,5 -4,4 -2,6 0,4 2,7 -
Impressão e Reprod. de gravações -26,7 -24,1 - -1,2 0,8 1,1 -8,1 -
Químicos, der. de petróleo e biocomb. -2,0 18,0 -2,9 -10,0 3,5 -1,4 0,1 -
Derivados de petróleo e biocomb. - - - - - - - 4,1
Outros produtos químicos - - - - - - - -2,9
Borracha e de material plástico 4,8 18,0 1,3 -1,4 1,0 0,7 3,3 -4,5
Borracha -0,4 11,0 0,2 -4,1 0,3 -1,0 -0,2 -
Minerais não-metálicos - - - - - - - 2,7
Metalurgia 12,2 51,4 10,4 9,1 1,0 -16,0 16,9 12,2
Produtos de metal 2,5 18,2 2,5 0,4 2,6 -0,7 3,7 9,8
Equip. inform, eletrônicos e óticos 22,9 43,3 1,0 -1,9 0,7 1,8 19,5 -
Máquinas, apar. e mat. elétricos 1,7 0,8 2,8 -7,4 -7,4 3,9 -0,3 -
Máquinas e equipamentos 0,4 9,0 2,0 -1,0 -2,9 -5,2 1,0 3,2
Máquinas agrícolas -3,6 8,1 -1,3 -2,0 -5,0 -3,6 -0,3 -
Veículos automotores 17,0 17,3 6,9 18,1 18,7 -5,6 16,5 21,1
Móveis -2,2 -1,6 1,0 1,4 3,5 -3,4 -0,4 3,6
Indústria total 3,6 10,0 1,5 -0,5 0,9 -2,8 2,6 4,7
Fonte: FIERGS-IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.
* Em pontos percentuais.

A avaliação dos empresários: confiança, de moderada a baixa, dispara com o resultado das
eleições

Além dos indicadores de natureza quantitativa apresentados até aqui, é importante


completar o diagnóstico do cenário econômico da indústria em 2018 analisando também
elementos subjetivos obtidos através da Sondagem Industrial, pesquisa de opinião com
empresários do setor. Dada a semelhança da opinião dos empresários gaúchos e brasileiros,
avaliaremos conjuntamente seus resultados.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 46
O principal indicador, muito associado às condições econômicas, é o Índice de Confiança
do Empresário Industrial (ICEI), pois confiantes, os empresários tendem a aumentar
investimentos, a produção e o emprego. Ocorre o inverso, na ausência da confiança.
Crescendo desde o segundo semestre de 2017, o ICEI atingiu no primeiro trimestre seu
maior nível em 2018, com a pespectivas de crescimento econômico, inflação controlada, juros em
queda e a possilibiidade de aprovação da Reforma da Previdência. Nos meses de abril e maio, o
insucesso da Reforma da Previdência, a incerteza política crescente, o desempenho econômico
abaixo do esperado, a volatilidade do câmbio e a maior instabilidade externa impactavam
negativamente o otimismo empresarial, interrompendo sua trajetória ascendente, mas ainda
mantendo-a em nível positivo.
Mas, em junho e julho, a confiança registrou a segunda maior queda desde 2010, atingindo
os menores níveis desde o início de 2017, quando então refletia os efeitos da crise dos
caminhoneiros. Nos meses seguintes, com a dispersão de seus efeitos, a confiança recupera
parte do terreno perdido, sem retornar, todavia, aos níveis anteriores a junho, contida também
pelo quadro eleitoral que se apresentava cada vez mais polarizado e incerto.
Porém, em novembro (último dado disponível), com a eleição de um candidato a
Presidente da República aparentemente comprometido com as reformas estruturais e o ajuste
fiscal, a confiança disparou e atingiu o maior valor desde abril de 2010 (67,7 pontos), registrando
crescimento recorde.

Gráfico 3.16. Índice de Confiança do Empresário Industrial – Brasil e RS


(Em pontos)
RS
Brasil 65,5
63,8

50
set/14
fev/15

ago/17
nov/13

nov/18
jan/13

jan/18
abr/14

dez/15

out/16
jun/13

mai/16

jun/18
mar/17
jul/15

Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

A abertura por componentes – condições atuais e expectativas – mostra comportamentos


comuns: até maio de 2018 mantinham-se acima da linha divisória dos 50 pontos, o que significa,
respectivamente, condições atuais melhores e expectativas otimistas, embora já mostrassem
algum declínio, sobretudo, com relação às avaliações da economia brasileira.
As trajetórias descendentes se acentuam em junho com a greve dos caminheiros, jogando
os indicadores de condições atuais para o terreno negativo (abaixo os 50 pontos), que só se
recupera em novembro, quando registrou a maior alta mensal (+8,8 pontos) já registrada e atingiu
56,0 pontos. De junho a outubro, a confiança empresarial passa a ser sustentada exclusivamente
pelas expectativas, que também recuaram, mas mantiveram-se positivas.
Com o resultado do segundo turno da Eleição presidencial, o índice de expectativa em
novembro dispara e alcança 70,2 pontos, 11,5 pontos a mais do que o mês anterior, a maior alta
desde 2010, início da série histórica do indicador. O otimismo com o futuro da economia brasileira
em novembro não era tão grande desde abril de 2010.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 47
As expectativas dos empresários de um futuro melhor para a economia brasileira são
indícios relevantes que sugerem a manutenção do processo de recuperação da atividade
industrial em 2019, no Brasil e no RS.

Gráfico 3.17. Índice de Condições Atuais Gráfico 3.18. Índice de Expectativas


(Em pontos) (Em pontos)
RS RS 70,2
Brasil Brasil 69,1

50 56,0
53,4

50
dez/15

dez/15
mai/16

mar/17

mai/16

mar/17
jul/15

set/14

jul/15

ago/17
jan/13

nov/13

set/14
fev/15

jan/13
abr/14

out/16

ago/17
jan/18

nov/18

nov/13

fev/15
abr/14

out/16

jan/18

nov/18
jun/13

jun/18

jun/13

jun/18
Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

Entre os temas tratados pela Sondagem Industrial, um se destaca mostrando o nível de


ociosidade do setor, pois, além de ser mais um indicativo importante para avaliar a evolução da
atividade, demonstra a disponibilidade da oferta de atender uma retomada da demanda sem
pressões inflacionárias e a necessidade de investimentos.
Dois indicadores são divulgados: o grau médio de utilização da capacidade instalada (UCI)
e a UCI em relação ao usual. O primeiro é divulgado em forma de percentual médio, variando de
zero a 100% (capacidade plena) e o segundo, variando de zero a 100 pontos, tendo os 50 pontos
como marca divisória entre UCI acima e abaixo do nível usual.
Os resultados mostram que grande parte da indústria brasileira e gaúcha operou com
ociosidade em 2018, ainda que menor do que o ano anterior. O grau médio de utilização da
capacidade instalada (UCI) aumentou 2 p.p. e 1 p.p. para 67% e 66% na média anual até
setembro no Brasil e no Estado, respectivamente, em relação ao ano passado. Assim como os
demais indicadores, entretanto, não voltou aos patamares anteriores à crise (2013), quando
giravam em torno de 74% no país e 72,0% no estado.

Gráfico 3.19. Utilização da Capacidade Gráfico 3.20. Índice UCI efetiva-usual


instalada (Grau médio) (Em pontos)
(Em %)

75 RS Brasil RS Brasil
74
73
72 72 72 72
70 50

67 48 48
67 66 66
65 64 65 65 45
4443 45
4343
4142 4040
36
3435 35

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

No mesmo sentido, o indicador de UCI-efetiva usual, que leva em conta o nível de uso
habitual, permaneceu abaixo da linha divisória dos 50 pontos em 2018. Nesse patamar, o índice

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 48
revela que os empresários consideraram o uso do parque produtivo abaixo do normal ao longo de
2018, embora venha se aproximando, em linha com o processo de recuperação do setor.
Portanto, a ociosidade na indústria não ajuda os investimentos, mas significa espaço para
uma maior intensidade da produção no curto prazo e médio prazo sem pressões inflacionárias.
Esgotada a capacidade ociosa, dependendo ainda de outros fatores, as empresas retomam
investimentos.
Outro indicador importante da Sondagem revela o comportamento dos estoques. O
acúmulo de estoques é causado por vendas inferiores às esperadas e repercutem negativamente
na produção futura, causando, em casos de grande acumulação, reduções nas jornadas de
trabalho e férias coletivas.
De fato, percebe-se no Gráfico 3.21, que apenas em maio em 2018, devido à greve dos
caminhoneiros, houve acúmulo importante no Brasil e no Estado. Na maior parte do ano, os
indicadores que os medem ficaram próximos dos 50 pontos, que denotam estoques compatíveis
com o nível planejado pelas empresas. Em outubro, último dado disponível, a indústria gaúcha já
tinha equalizado o excesso de maio, enquanto a nacional estava próximo do ajuste.
Percebe-se, portanto, que os estoques ajudaram a produção industrial em 2018 e não
devem ser um fator de restrição ao desempenho da indústria nos próximos meses.

Gráfico 3.21. Indicadores de estoques em relação ao planejado – Brasil e RS


(Em pontos)

51,2
50
50,3

RS
Brasil
nov/13

fev/15

ago/17
jan/13

set/14

jan/18
abr/14

dez/15
mai/16
out/16
jun/13

jun/18
mar/17
jul/15

Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

A Sondagem Industrial também procura saber trimestralmente quais os principais


problemas enfrentados pelas empresas. De acordo com as indústrias entrevistadas em 2018, a
elevada carga tributária continua sendo o maior entrave ao desempenho do setor: cerca de quatro
em cada dez empresários brasileiros assinalaram a alternativa. De caráter estrutural, a carga
tributária figura quase sempre no topo desse ranking, sendo um dos principais fatores que
determinam a baixa de competitividade do setor.
A demanda interna foi considerada insuficiente pelos empresários, sendo o segundo maior
problema enfrentado pelas empresas no ano, percebido com mais intensidade no Estado do que
no Brasil. De fato, apesar do crescimento, os condicionantes mais positivos foram insuficientes
para gerar um desempenho satisfatório da demanda interna neste ano.
A falta ou alto custo da matéria-prima foi o terceiro maior obstáculo enfrentado pela
indústria em 2018, sendo mais relevante para os empresários gaúchos, devido à desvalorização
cambial e ao aumento dos preços internacionais, que impactou a cadeia produtiva do setor. O
índice preços ao produtor (IPP/IBGE) de bens intermediários cresceu nos últimos doze meses
encerrados em setembro 26,1%, puxado por derivados de petróleo, petroquímicos, minérios de

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 49
ferro beneficiados, produtos siderúrgicos e adubos e fertilizantes. A capacidade limitada de
repasse aos preços, diante do crescimento econômico modesto, impacta as margens das
empresas, inibindo os investimentos.
A taxa de câmbio com a sua trajetória de desvalorização e de muita volatilidade em 2018,
foi o quarto maior problema enfrentado pela indústria brasileira em 2018. A desvalorização
provoca aumento nos preços dos insumos importados, enquanto a volatilidade impacta o
planejamento das empresas. Com seu perfil relativamente mais exportador, a taxa de câmbio
afeta mais intensamente a indústria gaúcha.
Os empresários gaúchos e brasileiros, elencam ainda, com percentuais similares, a
logística de transporte, a falta de capital de giro, a inadimplência dos clientes, a competição
desleal, as taxas de juros, a burocracia excessiva e a falta ou alto custo de energia.
Na comparação com 2017, ganharam maior importância, os problemas com a logística de
transporte, a taxa de câmbio e a falta ou alto custo da matéria prima. Por ourto lado, perderam
importância relativamente ao ano passado, principalmente, a demanda interna insuficiente, a
elevada carga tributária, as taxas de juros elevadas e a inadimplência dos clientes.

Gráfico 3.22. Principais problemas enfrentados em 2018 – Brasil e RS


(Em % e pontos percentuais)
41,5 -9,4
Elevada carga tributária
46,2 -4,7
31,8 -9,9
Demanda interna insuficiente -6,9
38,7
Falta ou alto custo da 26,0 14,6
matéria prima 16,2 9,8

18,5 10,4
Taxa de câmbio 6,8
11,7
Dificuldades na logística de 17,9 11,1
transporte 10,3 7,6

17,1
Falta de capital de giro
19,6
16,1
Competição desleal
16,2
16,0 -6,6
Inadimplência dos clientes
22,2 -6,2
15,1 -8,7
Taxas de juros elevadas
21,4 -6,3
Falta ou alto custo de 13,2
Diferença em
energia 12,5 p.p. ante 2017
11,8
Burocracia excessiva RS BR
11,3
Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

Diante desses problemas, o cenário em 2018 não foi muito propício aos investimentos da
indústria. Os indicadores de intenção de investir iniciaram o ano em alta, principalmente no
Estado, exibindo no primeiro quadrimestre seus maiores valores, bem cima das médias históricas,
que são iguais para ambos. Em maio, inicia o processo de acomodação, acompanhando o menor
otimismo econômico e o avanço da incerteza eleitoral. Em junho, com a greve dos caminhoneiros,
a desaceleração ganha força e em julho atingem suas mínimas no ano. Nos três meses seguintes,
há uma ligeira recuperação, que em novembro se intensifica com os resultados das eleições, mas
sem voltar aos níveis do início do ano. Quanto maior o índice, maior é a disposição para o
investimento e, portanto, as perspectivas no curto prazo para os investimentos industriais, com o
aumento em novembro, ficaram um pouco mais animadoras.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 50
Gráfico 3.23. Indicadores de Intenção de Investir – Brasil e RS
(Em pontos)

54,5
53,8
48,3

RS Brasil Média

set/14

ago/17
nov/13

fev/15

nov/18
jan/18
abr/14

dez/15

out/16
mai/16

jun/18
mar/17
jul/15
Fonte: CNI/FIERGS. Elaboração: FIERGS/UEE.

Perspectivas para 2019 – Indústria segue recuperação em todos os cenários


A produção industrial brasileira deve avançar 2,5% em 2018, desempenho um pouco
abaixo da previsão feita no final do ano passado: +3,0%. Já a produção da indústria gaúcha
surpreendeu positivamente: a projeção foi de 3,0%, mas deve crescer 4,7%. O nível de atividade
no estado, medido pelo Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS), deve encerrar 2018 crescendo
3,0%, um pouco menos do que os 3,6% sugeridos pelo cenário básico. Portanto, em linhas gerais,
os resultados confirmaram as projeções realizadas no final do ano passado.
Para 2019, em todos os cenários propostos, tanto o setor industrial brasileiro quanto o
gaúcho devem continuar crescendo. Com o desfecho da eleição, a incerteza política, um dos
principais fatores restritivos ao desempenho da indústria brasileira nos últimos anos, diminuiu e
deve tornar o cenário político-econômico menos nebuloso no ano que vem. Sem crises políticas e
sem efeito carregamento de 2018, o desempenho positivo projetado para 2019, mantém o
protagonismo da demanda interna, que deve continuar se beneficiando da baixa inflação, das
taxas de juros menores e melhores condições no mercado de trabalho e de crédito. O
desemprego ainda elevado deve ser um elemento restritivo.
O cenário externo deve continuar sendo um componente de incerteza e instabilidades,
principalmente para a taxa de câmbio. Mesmo com a projeção de crescimento mundial, as
exportações de manufaturas devem contribuir pouco para o desempenho do setor industrial em
2019, principalmente com a crise da Argentina, um dos principais parceiros comerciais do setor.
No entanto, diante da grave crise fiscal, os riscos internos seguem importantes. Nesse
sentido, o ritmo do avanço das reformas pode influenciar o desempenho do setor industrial, ainda
que seus impactos mais relevantes fiquem para os anos posteriores. Mesmo assim, se conseguir
encaminhá-las a contento deve haver um avanço da confiança e espaço para uma retomada mais
firme da atividade industrial. Caso contrário, com o agravamento das contas públicas, a indústria
tende a ter um desempenho menor em 2019, assim como toda economia brasileira.
No cenário básico, a produção brasileira deve crescer 3,2%. Já no estado, a produção
deve aumentar um pouco menos, por conta da base maior, +3,0%. A atividade industrial gaúcha,
medida pelo IDI/RS, deve registrar uma expansão de 3,9%.
No cenário superior, as taxas aceleram para, respectivamente, 4,2% (produção do Brasil),
4,2% (produção do RS) e 5,6% (IDI/RS). No cenário inferior, a expansão da produção nacional
desacelera para 2,0%, movimento que será mais intenso na produção gaúcha (+1,4%), reduzindo
também o avanço do nível de atividade para 2,4%.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 51
Tabela 3.3. Perspectivas para a produção industrial do Brasil
(Var. % acum. no ano)
Cenários 2019**
2017 2018* Inferior Base Superior
Indústria extrativa 4,5 0,4 3,1 4,0 5,0
Indústria de transformação 2,3 2,9 1,5 2,9 4,6
Produção industrial 2,5 2,5 2,0 3,2 4,2
Fonte: IBGE/PIM-PF. *Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Tabela 3.4. Perspectivas para a indústria do RS


(Var. % acum. no ano)
Cenários 2019**
2017 2018* Inferior Base Superior
Faturamento real 3,9 4,1 3,9 6,3 7,6
Compras industriais -1,3 10,6 2,8 5,3 8,8
Utilização da capacidade instalada 1,2 2,0 1,1 1,5 1,9
Massa salarial real 1,2 -2,6 1,0 2,6 3,5
Emprego -1,1 0,9 0,7 1,2 1,7
Horas trabalhadas a produção -1,6 0,1 2,8 3,5 4,2
Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS) 0,4 3,0 2,4 3,9 5,6
Produção industrial 0,5 4,7 1,4 3,0 4,2
Fonte: IBGE/PIM-PF. FIERGS/Indicadores Industriais do RS. *Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 52
4. EMPREGO E RENDA

DESEMPENHO EM LINHA COM A RETOMADA DA ECONOMIA

Os resultados de 2018 foram melhores em relação aos anos anteriores, mas o sentimento que fica
é que poderiam ter sido muito superiores aos observados.

Em que pese o mercado de trabalho brasileiro estar em trajetória de recuperação, em linha


com o desempenho da atividade econômica, o ano de 2018 pode ser caracterizado como
frustrante. Os resultados foram próximos aos prognósticos que fizemos no final do ano passado.
O Brasil deve gerar em torno de 500 mil postos de trabalho com desemprego em 11,6%. Contudo,
diversos analistas esperavam que o desfecho fosse melhor, com a taxa de desemprego caindo
para perto de 10% e a geração de empregos formais passando de 1 milhão. O próprio Ministério
do Trabalho divulgou uma estimativa de criação de 1,8 milhão de vagas de emprego para 2018.
Ainda no primeiro trimestre, as estimativas começaram a ser revistas em função do
desempenho muito abaixo do esperado para a economia. As projeções de crescimento do PIB
para 2018, por exemplo, que estavam entre 2,5% e 3,0% no final de 2017, caíram para 1,5% em
junho. Para deixar a situação ainda mais difícil, a greve dos caminhoneiros em maio serviu para
enterrar as expectativas de melhora consistente do mercado de trabalho. A confiança dos
consumidores e empresários foi abalada em função dos desdobramentos da greve e das
incertezas que as eleições trouxeram ao País, travando investimentos com potencial de geração
de empregos. A realidade é que o Brasil ficou em compasso de espera. Ao final de 2018, o País
não terá recuperado nem 20% das 2,9 milhões de vagas formais perdidas entre 2015 e 2017.
No Rio Grande do Sul, o desempenho foi inferior ao observado no País. A geração de
empregos formais foi muito baixa, com meses típicos de abertura de vagas com saldo muito ruim.
Apenas uma pequena parcela dos empregos perdidos com a crise foi recuperada em 2018 – por
volta de 10%. Quanto à taxa de desemprego, ela se mantém em torno de 8,2% desde o 3º
trimestre de 2016. Com uma geração pífia de vagas, tanto formais quanto informais, a taxa de
desemprego só não subiu em função da saída de pessoas da força de trabalho. Cabe destacar
também que a população do RS é relativamente mais velha do que a brasileira. Portanto, muitas
pessoas que saíram do mercado provavelmente não voltarão.
Para 2019, a expectativa é de continuidade de melhora nos indicadores relativos ao
mercado de trabalho. A taxa de desemprego do Brasil deve seguir seu padrão sazonal de
elevação no primeiro trimestre do ano para, em seguida, começar a cair. No entanto, na média, o
movimento se dará com uma taxa abaixo da observada em 2018. Cabe salientar que esperamos
que o desemprego não recue tanto, mesmo com uma melhora expressiva da economia, em
função da volta de pessoas de fora da força de trabalho. Ao perceberem que aumentaram as
chances de conseguir um emprego, os desalentados podem voltar a buscar uma colocação e
segurar a taxa de desemprego em níveis elevados. Quanto ao mercado formal, a expectativa é de
geração de vagas acima do observado em 2018.
No caso do Rio Grande do Sul, o cenário traçado está em linha com o esperado para o
Brasil em termos de geração de vagas formais. Quanto à taxa de desemprego, nossa expectativa
é de uma queda maior frente à projetada para o Brasil. O motivo é que o potencial de pessoas que
podem voltar ao mercado de trabalho com a melhora da economia é menor no RS do que a média
nacional. Assim, com uma maior demanda de empregados por parte das empresas, deve ocorrer
uma migração das pessoas desocupadas para a situação de ocupadas, fazendo a taxa de
desemprego cair.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 53
Desemprego

Como tradicionalmente ocorre em todos os inícios de ano, o desemprego começou 2018


em alta. Após oito meses consecutivos de queda na margem entre maio e dezembro do ano
passado, recuando para 11,8%, a taxa de desemprego do Brasil, medida pela Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), iniciou uma trajetória de alta em janeiro de 2018, com elevação também em
fevereiro e pico de 13,1% atingido em março, conforme mostra o Gráfico 4.1.
Em função das mudanças nas leis trabalhistas, que entraram em vigor em novembro de
2017, houve muita desinformação a respeito da subida da taxa de desemprego, com a “culpa" da
elevação sendo colocada na nova legislação. Não passava de um movimento sazonal típico do
início do ano, cuja explicação é que os temporários que foram admitidos para as festas do final de
ano e demitidos em dezembro, engrossam o contingente de desocupados em busca de uma
colocação efetiva. Além disso, com a entrada do Ano Novo, as pessoas se sentem mais
confiantes em conseguir um emprego, o que aumenta a procura e pressiona a taxa de
desemprego.
Portanto, como esperado, após o pico de março, a taxa iniciou uma trajetória de queda,
chegando a 11,9% no trimestre encerrado em setembro, o último dado observado até a
elaboração deste texto. Na média entre janeiro e setembro, a taxa de desemprego em 2018 foi de
12,5%, um patamar 0,5 ponto percentual (p.p.) abaixo do observado no ano passado (13,0%).
Na comparação interanual, a taxa de desemprego observada no trimestre jul-ago-set/2018
(11,9%) foi 0,5 p.p. menor frente a observada no mesmo período de 2017 (12,4%). Para o cálculo
dessa taxa, procede-se a divisão entre o número de pessoas desocupadas (PD) e a força de
trabalho – tecnicamente conhecida como população economicamente ativa (PEA) –, composta
pela soma da população desocupada (PD) com os ocupados (PO). Para melhor entender a
dinâmica da taxa de desemprego, é pertinente observar os movimentos que ocorreram nessas
populações. Os dados estão reportados na Tabela 4.1.

Gráfico 4.1. Taxa de desemprego – Brasil Tabela 4.1. Subdivisões da população –


(Em % da força de trabalho) Brasil
(Em mil pessoas)
15 13,7 Var.
14 13,1 3ºT/17 3ºT/18 Var. %
abs.
13
11,8 População 207.270 208.782 1.512 0,7
12
12,4
11 11,9 PIA 168.722 170.311 1.589 0,9
10
8,9 PEA 104.258 105.114 856 0,8
9
8 7,1 6,9 6,8 PO 91.297 92.622 1.325 1,5
7
6 PD 12.961 12.492 -469 -3,6
5 PNEA 64.464 65.198 734 1,1
set/12

set/13

set/14

set/15

set/16

set/17

set/18
mar/12

mar/13

mar/14

mar/15

mar/16

mar/17

mar/18

Taxa de
12,4 11,9 -0,5 -4,4
desemprego (%)

Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.
OBS: (1) No eixo horizontal estão reportados os meses de OBS: PIA = População em Idade Ativa (14 anos ou mais); PEA =
encerramento do trimestre móvel. (2) Os pontos verdes em População Economicamente Ativa (ou Força de Trabalho); PO =
destaque referem-se aos trimestres encerrados em setembro de População Ocupada; PD = População Desocupada; PNEA =
cada ano, enquanto os pontos pretos aos picos atingidos nos População Não Economicamente Ativa (ou Fora da Força de
primeiros trimestres de 2017 e 2018. Trabalho); Taxa de desemprego = PD/PEA.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 54
No Brasil, o sentido das variações das duas populações contribuíram para a queda da taxa
na comparação interanual. Por um lado, o número de desempregados passou de quase 13,0
milhões nos três meses até setembro de 2017 para 12,5 milhões em igual período de 2018 (-469
mil ou 3,6%). Por outro lado, a população ocupada passou de 91,3 milhões para 92,6 milhões no
mesmo período (+1,3 milhão ou +1,5%). Uma discussão mais detalhada sobre a qualidade do
aumento da ocupação será feita abaixo.
No Rio Grande do Sul, apesar da série histórica não mostrar um comportamento sazonal
bem definido como no caso do Brasil, a evolução da taxa de desemprego se mostrou parecida
com a nacional em 2017 e 2018, como ilustra o Gráfico 4.2. O valor mais alto de toda a série foi
alcançado no primeiro trimestre de 2017 (9,1%) e a taxa também apresentou elevação na
passagem do quarto trimestre de 2017 (8,0%) para os primeiros três meses de 2018 (8,5%). A
questão é que o desemprego apresenta tendência de queda mais suave no RS frente ao
observado no Brasil. Desconsiderando o pico de 9,1%, a taxa de desemprego gaúcha se mantém
em torno de 8,2% desde o terceiro trimestre de 2016. A contar do pico da série, a taxa de
desemprego do RS caiu relativamente menos (0,5 p.p.) que a brasileira (1,8 p.p.).

Gráfico 4.2. Taxa de desemprego – Rio Tabela 4.2. Subdivisões da população – Rio
Grande do Sul Grande do Sul
(Em % da força de trabalho) (Em mil pessoas)
10 9,1 Var.
3ºT/17 3ºT/18 Var. %
9 abs.
8 População 11.314 11.346 32 0,3
6,8 8,2 8,0 8,2
7 PIA 9.447 9.476 29 0,3
6 PEA 6.105 5.961 -144 -2,4
5,2
4,6 4,8
5 PO 5.613 5.474 -139 -2,5
4 PD 491 487 -4 -0,8
3 PNEA 3.342 3.515 173 5,2
1ºT/12

3ºT/13

1ºT/16

3ºT/18
3ºT/12
1ºT/13

1ºT/14
3ºT/14
1ºT/15
3ºT/15

3ºT/16
1ºT/17
3ºT/17
1ºT/18

Taxa de
8,0 8,2 0,2 1,6
desemprego (%)

Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.
OBS: Os pontos verdes em destaque referem-se aos terceiros OBS: PIA = População em Idade Ativa (14 anos ou mais); PEA =
trimestres de cada ano, enquanto o ponto preto ao pico atingido População Economicamente Ativa (ou Força de Trabalho); PO =
no primeiro trimestre de 2017. População Ocupada; PD = População Desocupada; PNEA =
População Não Economicamente Ativa (ou Fora da Força de
Trabalho); Taxa de desemprego = PD/PEA.

Na comparação interanual, a taxa de desemprego do RS subiu de 8,0% no terceiro


trimestre de 2017 para 8,2% no mesmo período de 2018. Conforme o IBGE, a despeito da
variação numérica, a taxa se mostrou estatisticamente estável. No entanto, os movimentos nas
populações foram distintos dos observados no Brasil, conforme a Tabela 4.2. Em primeiro lugar, a
população em idade de ativa (PIA), ficou estável em relação ao 3º trimestre de 2017. No entanto,
houve movimentos distintos entre seus dois componentes: a população na força de trabalho (PEA)
e a população fora da força de trabalho (PNEA). Por um lado, a força de trabalho foi reduzida em
144 mil pessoas frente a um ano antes. Esse resultado se deu pela combinação de estabilidade
no número de desocupados e perda de 139 mil ocupados6. Por outro lado, a população fora da
força de trabalho foi aumentada em 173 mil pessoas, atingindo seu segundo maior valor desde o
início da pesquisa, atrás apenas do trimestre imediatamente anterior (2ºT/2018: 3,54 milhões). Ou

6
Em termos numéricos houve perda de 4 mil desocupados, mas a variação não se mostrou significativa estatisticamente.

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seja, este é um indicativo de que essas pessoas pararam de trabalhar por motivo de
aposentadoria ou simplesmente deixaram de procurar emprego no Rio Grande do Sul.
A desagregação dos dados por faixa etária nos ajuda a entender a situação. O aumento
observado na população fora da força de trabalho teve como contribuição a entrada de 174 mil
pessoas com 60 anos ou mais nesse grupo (+11,1%). Um movimento semelhante ocorreu no
primeiro trimestre (+180 mil) e no segundo trimestre deste ano (+194 mil). As perspectivas de uma
reforma no sistema previdenciário podem estar associadas a esta constatação, de modo que o
temor e a desinformação quanto às possíveis mudanças aceleraram o processo de saída dos
mais velhos do mercado de trabalho. Cabe destacar que entre 2013 e 2017, em média, a
população fora da força de trabalho aumentou em 40 mil pessoas ao ano7.
Portanto, os dados indicam que está havendo uma migração das pessoas ocupadas que
perdem ou deixam seus empregos diretamente para fora da força de trabalho (não procuram
emprego), e esse movimento tem deixado a taxa de desemprego praticamente estável, mesmo
com a perda de ocupados no RS.

Subutilização da força de trabalho e desalento

As estatísticas tradicionais de desemprego possibilitam uma visão geral do mercado de


trabalho, mas escondem a realidade enfrentada por muitas pessoas. Com o objetivo de retratar de
forma mais abrangente as condições da população brasileira, o IBGE incorporou diversos
indicadores às análises da PNAD Contínua. Para melhor entendimento dos conceitos, as
subdivisões do mercado de trabalho estão reportadas no Gráfico 4.3.
Em primeiro lugar, entre os empregados, há um grupo de indivíduos que gostaria de ter um
trabalho com maior carga horária, os chamados subocupados por insuficiência de horas
trabalhadas, que somaram 6,8 milhões de pessoas no trimestre até setembro de 2018 no Brasil.
Além disso, dentro da população fora da força de trabalho (PNEA) encontra-se a força de
trabalho potencial, composta por dois grupos de pessoas: 1) aquelas que buscaram emprego,
mas não estavam disponíveis para trabalhar por algum motivo; 2) pessoas que não procuraram
emprego, mas gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar. No trimestre
encerrado em setembro de 2018, esse grupo totalizava 8,0 milhões de pessoas que possuíam
potencial de se transformar em força de trabalho.
Ao incorporarmos nessa conta o “tradicional” número de desempregados (pessoas
desocupadas, à procura de emprego e disponíveis para assumir uma vaga: 12,5 milhões), chega-
se a um total de 27,3 milhões de pessoas subutilizadas no mercado de trabalho. Esse número se
mostrou 2,1% maior frente a um ano atrás, quando eram 26,8 milhões de pessoas nessa
condição.
Por essa ótica mais ampla, a taxa de desemprego ganha outro nome e passa a se chamar
“Taxa composta de subutilização da força de trabalho”, calculada como a razão entre o
contingente de subutilizados (27,3 milhões) e a força de trabalho ampliada (113,1 milhões),
composta pela soma da força de trabalho (105,1 milhões) com a força de trabalho potencial (8,0
milhões). Essa taxa foi de 24,2% no trimestre encerrado em setembro de 2018, acima da
verificada no respectivo período de 2017 (23,9%).

7
Dado esse aumento expressivo de pessoas acima dos 60 anos na PNEA, é preciso observar os dados de 2019 para tirar conclusões
quanto a esse movimento. É possível que tenha ocorrido algum problema amostral na pesquisa do IBGE, ou seja, houve algum tipo de
viés que selecionou para as entrevistas um grande grupo de pessoas idosas. Portanto, essa expressiva migração pode não estar
representando a realidade.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 56
Gráfico 4.3. Subdivisões do mercado de trabalho – 3º trim/2018 – Brasil e Rio Grande do Sul

POPULAÇÃO TOTAL

BR RS
208,8 mi 11,3 mi

POPULAÇÃO EM POPULAÇÃO ABAIXO


IDADE ATIVA (PIA) DA IDADE ATIVA
(14 anos ou mais) (menores de 14 anos)
BR RS BR RS
170,3 mi 9,5 mi 38,5 mi 1,8 mi

População População Não


Economicamente Economicamente
Ativa (PEA)* Ativa (PNEA)**
BR RS BR RS
105,1 mi 6,0 mi 65,2 mi 3,5 mi

População Força de Fora da Força de


População
Desocupada Trabalho Trabalho
Ocupada (PO)
(PD) Potencial (FTP) Potencial
BR RS BR RS BR RS BR RS
92,6 mi 5,5 mi 12,5 mi 487 mil 8,0 mi 183 mil 57,2 mi 3,3 mi

Ocupados que Subocupados por Buscaram trabalho, Não buscaram


trabalham horas insuficiência de mas não estavam trabalho, mas
suficientes horas (SUBOC) disponíveis estavam disponíveis
BR RS BR RS BR RS BR RS
85,8 mi 5,2 mi 6,8 mi 285 mil 0,4 mi 20 mil 7,6 mi 163 mil

Total de subutilização da força de trabalho


PD + SUBOC + FTP

BR: 27,3 mi RS: 955 mil

 Xtrabalho
Taxa composta de subutilização da força de Desalentados Não desalentados

(PD + SUBOC + FTP) / (PEA + FTP)


BR RS BR RS
BR: 24,3% RS: 15,5% 4,8 mi 83 mil 2,8 mi 80 mil
Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.
* A PEA também pode ser chamada de População na Força de Trabalho. ** A PNEA também pode ser chamada de População Fora da
Força de Trabalho.

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Por fim, outro assunto que merece destaque em 2018 é o desalento no mercado de
trabalho brasileiro. Na definição técnica, são pessoas que não realizaram busca efetiva por
trabalho, mas gostariam de ter um emprego e estavam disponíveis para trabalhar, sendo que a
busca não foi realizada por: 1) não ter conseguido trabalho adequado; 2) não ter experiência
profissional ou qualificação; 3) não haver trabalho na localidade em que residia; ou 4) não
conseguir trabalho por ser considerado muito jovem ou muito idoso. Em termos mais simples e
diretos, são pessoas que perderam a esperança de encontrar um emprego. O número de
brasileiros nessa condição cresceu de forma quase ininterrupta desde o 3º trimestre de 2014,
chegando a atingir 4,83 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2018 (valor mais alto da
série) e recuando levemente para 4,78 milhões no terceiro trimestre.
A dificuldade de colocação no mercado é evidenciada pelos dados de desocupação por
tempo de procura. O número de pessoas que busca trabalho há dois anos ou mais chegou a 3,2
milhões no 3º trimestre de 2018 no Brasil, um recorde para a pesquisa do IBGE com início em
2012 e um contingente 2,75 vezes maior que o observado no respectivo período de 2014 (1,2
milhão).
No caso do Rio Grande do Sul, as estatísticas se mostram melhores em relação ao
restante do País. O total de pessoas subutilizadas foi estimado em 955 mil no terceiro trimestre de
2018, o que corresponde a uma taxa composta de subutilização da força de trabalho de 15,5%.
São 285 mil subutilizadas por insuficiência de horas e 183 mil enquadradas na força de trabalho
potencial, além das já mencionadas 487 mil pessoas consideradas desocupadas. Na comparação
interanual (3ºT/2018 contra 3ºT/2017), o atual número de subutilizados caiu 3,3% (-33 mil
pessoas) e a taxa composta foi 0,2 ponto percentual menor. Quanto aos desalentados,
diferentemente do ocorrido no Brasil, onde houve aumento de 12,6%, no RS o número ficou
praticamente estável, passando de 82 mil para 83 mil no período (+0,9%).

População ocupada e informalidade

Conforme exposto acima na discussão sobre a taxa de desemprego, a população ocupada


do Brasil apresentou crescimento de 1,3 milhão de pessoas entre os terceiros trimestres de 2017
e 2018. O aumento de pessoas empregadas sempre é um dado positivo. São mais pessoas
participando do mercado de trabalho, gerando mais renda e, consequentemente, mais demanda
por bens e serviços. No entanto, quando olhamos para a qualidade das ocupações que foram
criadas, o cenário não se mostra tão favorável.
Do total de ocupados que o Brasil ganhou em um ano, mais de 1 milhão (78,6% do total)
estão alocados no mercado de trabalho informal, conforme a Tabela 4.3. Com isso, a taxa de
informalidade (proporção de trabalhadores informais no total de ocupados) foi de 43,8% no
terceiro trimestre de 2018, uma elevação frente a um ano antes (43,3%) e o maior valor já
observado.
Já o número de ocupados em empregos formais apresentou crescimento de apenas 284
mil pessoas, com o agravante de que houve redução no número de trabalhadores do setor privado
com carteira assinada (-328 mil). A alta do grupo foi puxada pelos trabalhadores por conta-própria
com CNPJ (+349 mil).
No Rio Grande do Sul, na mesma base, houve redução tanto no número de trabalhadores
formais (-68 mil ou -1,9%) quanto de informais (-71 mil ou -3,5%). A maior redução dos informais,
em termos proporcionais, fez a taxa de informalidade passar de 36,4% para 36,0%. Portanto, no
RS não houve o aumento da ocupação puxado pela informalidade como ocorreu no Brasil, mas
sim uma queda até maior do mercado informal frente à redução do mercado formal.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 58
Tabela 4.3. População ocupada – Brasil e Rio Grande do Sul
(Em mil pessoas)
BRASIL RIO GRANDE DO SUL

3ºT/17 3ºT/18 Var. abs. Var. % 3ºT/17 3ºT/18 Var. abs. Var. %
POPULAÇÃO OCUPADA 91.296 92.621 1.325 1,5 5.612 5.473 -139 -2,5
MERCADO FORMAL 51.773 52.057 284 0,5 3.569 3.501 -68 -1,9
Privado com carteira 33.300 32.972 -328 -1,0 2.214 2.198 -16 -0,7
Doméstico com carteira 1.832 1.811 -21 -1,1 115 92 -23 -20,0
Setor público com carteira 1.260 1.293 33 2,6 95 89 -6 -6,3
Militar e servidor estatutário 7.762 7.879 117 1,5 459 471 12 2,6
Empregador com CNPJ 3.391 3.525 134 4,0 305 253 -52 -17,0
Conta-própria com CNPJ 4.228 4.577 349 8,3 381 398 17 4,5
MERCADO INFORMAL 39.523 40.564 1.041 2,6 2.043 1.972 -71 -3,5
Privado sem carteira 10.910 11.511 601 5,5 474 456 -18 -3,8
Doméstico sem carteira 4.344 4.448 104 2,4 223 240 17 7,6
Setor público sem carteira 2.468 2.560 92 3,7 87 103 16 18,4
Empregador sem CNPJ 854 904 50 5,9 38 42 4 10,5
Conta-própria sem CNPJ 18.683 18.919 236 1,3 993 943 -50 -5,0
Familiar auxiliar 2.264 2.222 -42 -1,9 228 188 -40 -17,5
Taxa de informalidade (%) 43,3 43,8 0,5 1,2 36,4 36,0 -0,4 -1,0
Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.

Empregos formais (CAGED)

Quando nos referimos ao mercado formal na seção anterior, estamos nos baseando nos
dados coletados pela PNAD Contínua, uma pesquisa realizada pelo IBGE através de entrevistas
aos domicílios, de modo que as informações são declaradas pelas pessoas aos entrevistadores.
Uma fonte de informações mais completa para retratar o mercado de trabalho formal brasileiro,
especificamente no tocante aos trabalhadores com contrato regido pela CLT, é o Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados (CAGED), composto por registros administrativos informados
pelas empresas ao Ministério do Trabalho. De declaração obrigatória por lei, o CAGED registra as
movimentações de trabalhadores celetistas ocorridas no mês.
Há uma diferença considerável de resultados entre as duas fontes de dados. Enquanto a
PNAD indica redução no número de empregados do setor privado brasileiro com carteira no último
ano, o CAGED aponta para a criação de vagas. Como os dados do Ministério do Trabalho são
registros administrativos informados pelas empresas, é razoável acreditar que sejam mais
confiáveis para representar a situação do mercado de trabalho formal. Um dos motivos que
reforçam essa percepção é que os resultados evidenciados pelo CAGED estão em linha com a
melhora recente da atividade econômica, ainda que de forma tímida. Além disso, enquanto a
PNAD é feita por amostragem, o CAGED, em tese, registra todas as movimentações no mercado
formal.
Em linhas gerais, 2018 pode ser considerado um ano de frustração para o mercado de
trabalho com carteira assinada. A geração de empregos do Brasil deve fechar o ano próxima aos
prognósticos que fizemos no final do ano passado – por volta de 500 mil vagas geradas. Tendo
em vista que o mercado de trabalho é o último pilar da economia a se recuperar nas crises –
assim como é o último a cair –, era difícil esperar uma melhora mais expressiva. No entanto,
diversos analistas estimavam que a geração de empregos formais passasse de 1 milhão. O
próprio Ministério do Trabalho previa a criação de 1,8 milhão de vagas para 2018, considerando

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 59
um crescimento do PIB na ordem de 3%. O fato é que a economia não deslanchou e o que se viu
foi a continuidade da recuperação lenta e gradual iniciada em 2017.

Tabela 4.4. Geração de empregos formais por setores – Brasil e Rio Grande do Sul
(Saldo em mil vínculos)
BRASIL RIO GRANDE DO SUL
Acum. Acum.
Acum. Acum. Acum. Acum. Acum. Acum.
12 meses 12 meses
jan-out/17 2017 jan-out/18 jan-out/17 2017 jan-out/18
até out/18 até out/18
Agropecuária 104.348 34.255 73.185 3.092 -787 -1.539 -1.596 -2.348
Indústria 84.426 -139.967 234.464 10.071 6.146 -12.144 17.646 -644
Extrativa -1.738 -5.343 2.662 -943 -307 -412 -151 -256
Transformação 120.912 -14.784 138.497 2.801 8.035 -5.919 14.395 441
Alimentos 43.503 14.220 37.172 7.889 1.088 -561 3.794 2.145
Bebidas -3.943 -3.503 1.600 2.040 -532 -527 180 185
Tabaco 473 -264 233 -504 735 -16 712 -39
Têxteis 10.871 4.044 3.180 -3.647 225 -31 -315 -571
Vestuário e Acessórios 18.508 -1.901 -5.140 -25.549 550 -112 -510 -1.172
Couro e Calçados 12.926 -7.974 11.719 -9.181 1.670 -3.196 879 -3.987
Produtos de Madeira 2.797 -691 6.995 3.507 -11 -202 -109 -300
Celulose e Papel 3.319 2.113 1.469 263 168 14 -106 -260
Impressão e Reprodução -2.211 -4.025 -709 -2.523 -15 -190 -106 -281
Refino de Petróleo 11.975 -3.492 13.494 -1.973 -34 -21 24 37
Químicos 3.360 -97 2.907 -550 480 -173 585 -68
Farmacêuticos 1.221 495 5.432 4.706 -15 -50 112 77
Borracha e Plástico 11.423 6.280 6.386 1.243 1.606 694 1.895 983
Minerais não Metálicos -9.331 -15.194 1.974 -3.889 -400 -674 121 -153
Metalurgia 3.602 2.456 6.926 5.780 100 -83 447 264
Produtos de Metal -1.390 -6.455 5.144 79 1.193 172 1.083 62
Equipamentos de Informática e Eletron. 896 -1.429 -90 -2.415 213 83 33 -97
Material Elétrico 1.005 -1.281 2.357 71 -25 -221 542 346
Máquinas e Equipamentos -3.731 -7.188 9.196 5.739 449 -669 2.310 1.192
Veículos Automotores 12.156 13.171 17.728 18.743 1.084 1.809 3.866 4.591
Outros Equiptos de Transporte -3.373 -5.210 -3.789 -5.626 -1.251 -1.676 -1.503 -1.928
Móveis 2.716 -268 3.878 894 179 -379 666 108
Produtos Diversos 2.413 -778 5.189 1.998 221 -76 352 55
Manut e Rep de Maq e Equiptos 1.727 2.187 5.246 5.706 357 166 -557 -748
Serv. Ind. de Utilidade Pública (SIUP) -1.046 -3.709 12.562 9.899 -1.327 -1.874 142 -405
Construção -33.702 -116.131 80.743 -1.686 -255 -3.939 3.260 -424
Construção de Edifícios -32.486 -70.957 27.673 -10.798 -2.220 -4.361 366 -1.775
Obras de Infraestrutura 1.250 -24.550 22.843 -2.957 1.166 625 633 92
Serviços para Construção -2.466 -20.624 30.227 12.069 799 -203 2.261 1.259
Serviços 144.695 93.085 482.930 431.320 1.937 5.389 15.450 18.902
Comércio -25.449 51.974 -1.818 75.605 -953 5.551 -3.744 2.760
Demais serviços 170.144 41.111 484.748 355.715 2.890 -162 19.194 16.142
Total da economia 333.469 -12.627 790.579 444.483 7.296 -8.294 31.500 15.910
Fonte: MTb/CAGED. Elaboração: FIERGS/UEE.
OBS: Dados ajustados com as declarações enviadas fora do prazo ao MTb.

No acumulado de janeiro a outubro de 2018, o Brasil apresentou geração de 790,6 mil


empregos. Foi o melhor resultado para o período desde 2014. Além disso, em todos os meses
houve mais contratações do que desligamentos e, com exceção dos meses de maio, junho e
outubro – os dois primeiros impactados pela crise no setor de transportes –, os saldos se
mostraram melhores frente ao mesmo período de 2017. Com isso, a geração de postos no
acumulado em 12 meses até outubro foi de 444,5 mil vagas. Portanto, será o primeiro ano com
saldo positivo de vagas do CAGED após três anos de perdas. Contudo, o número de vagas

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 60
geradas – a ser confirmado em torno dos 500 mil – não chega a recuperar 20% das 2,9 milhões
perdidas entre 2015 e 2017.
No País, os três grandes setores da economia apresentaram criação de vagas no
acumulado em 12 meses até outubro: Agropecuária (+3,1 mil), Indústria (+10,1 mil) e Serviços
(+431,3 mil). Quanto ao setor industrial, o resultado positivo se deve principalmente aos Serviços
Industriais de Utilidade Pública – SIUP, com geração de 9,9 mil vagas. A Indústria de
transformação também apresentou abertura de empregos, mas houve uma forte desaceleração
nos últimos meses, de 45,4 mil vagas geradas no acumulado em 12 meses até abril, para 29,8 mil
em setembro e para apenas 2,8 mil em outubro, o último dado observado. Caso continue nessa
trajetória de declínio, o setor vai encerrar o ano com perdas pela quinta vez consecutiva, dado que
apresenta retração desde 2014. A Construção, por sua vez, segue com dificuldades de retomada
e o saldo de empregos, no acumulado em 12 meses, se mostra negativo há 50 meses (desde
setembro de 2014), estando em 1,7 mil vagas perdidas no acumulado até outubro de 2018. Por
fim, a Indústria Extrativa também registrou perda de vagas no período (-943).
No Rio Grande do Sul, o acumulado dos 10 primeiros meses de 2018 apresenta geração
de 31,5 mil postos de trabalho, o melhor resultado para o período desde 2014. Já no acumulado
em 12 meses até outubro, em função da inclusão no cálculo das dispensas de trabalhadores
temporários que ocorrem em dezembro, o saldo se reduz para 15,9 mil vagas abertas. Se
confirmado esse número, a reposição frente a perda de mais de 156 mil vagas entre 2015 e 2017
ficará próxima dos 10%. Portanto, o desempenho do mercado formal do Rio Grande do Sul na
recuperação da crise se mostra mais lento do que o observado no Brasil.
Em termos setoriais, no acumulado em 12 meses até outubro de 2018, a Agropecuária (-
2,3 mil) perdeu vagas, e os Serviços (+18,9 mil) apresentaram o melhor resultado. Quanto à
Indústria gaúcha, após figurar no campo positivo entre maio e julho nessa base de comparação,
resultados que indicavam o início de uma recuperação do emprego depois de 46 meses
consecutivos de perdas (desde julho/14), registrou forte desaceleração, que culminou na perda de
644 vagas no acumulado em 12 meses até outubro. A Construção segue com fechamento de
vagas nessa base (-424) e a Transformação, o principal segmento da indústria, registou saldo
acumulado de 441 postos, uma forte desaceleração frente ao acumulado até setembro (+1,6 mil)
e ainda maior se comparada ao saldo acumulado até julho (+4,5 mil). Os setores de Veículos
automotores (+4,6 mil), Alimentos (+2,1 mil) e Máquinas e equipamentos (+1,2 mil) foram os
destaques positivos, enquanto Couro e calçados (-4,0 mil), Outros equipamentos de transporte (-
1,9 mil) e Vestuário e acessórios (-1,2 mil), registraram os piores desempenhos. Portanto, os
dados evidenciam mais um ano ruim para o emprego industrial gaúcho. Confirmado o acumulado
em 12 meses, será o quinto ano consecutivo de perdas.

Modernização trabalhista

Passado um ano da entrada em vigor da nova legislação trabalhista (Lei 13.467/2017, com
validade a partir de 11 de novembro de 2017), já é possível auferir seus primeiros resultados em
diversas frentes relacionadas ao mundo do trabalho. Pelo lado da justiça do trabalho, houve uma
redução significativa no número de processos trabalhistas. Segundo dados do Tribunal Superior
do Trabalho (TST), entre janeiro e setembro de 2018, foram recebidas 1,29 milhão de novas
ações pelas Varas do Trabalho, uma redução de 36,1% frente ao observado no mesmo período
do ano anterior (2,01 milhões).
No mercado de trabalho, os primeiros dados mostram que as novas formas de contratação
já estão sendo usadas pelas empresas, ainda que de forma incipiente. O chamado contrato de

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 61
trabalho intermitente, onde o empregado trabalha sob demanda, foi uma forma de contratação
criada pela nova legislação. Entre novembro de 2017 e outubro de 2018, segundo os dados do
CAGED, foram 54,9 mil contratações e 14,0 mil desligamentos nessa modalidade, gerando um
saldo de 40,9 mil empregos abertos no Brasil8. Quanto ao trabalho em regime de tempo parcial,
que sofreu alterações com a nova lei, foram 61,6 mil admissões e 40,4 mil desligamentos no
período, com saldo de 21,2 mil empregos gerados em nível nacional.
Além das novas formas de contratação, a nova legislação trabalhista também trouxe a
possibilidade de rompimento do contrato de trabalho mediante acordo entre empregador e
empregado. De novembro de 2017 a outubro de 2018, 142,6 mil desligamentos utilizaram a nova
modalidade, representando 1,0% do total de desligamentos do período. A princípio esse
percentual parece baixo, mas, quando analisada sua evolução ao longo do tempo, percebe-se que
há uma trajetória de aumento. De fato, nos primeiros 6 meses de vigência, o percentual médio foi
de 0,7%, subindo para 1,2% de média nos seis meses seguintes. Além disso, em outubro de
2018, último dado observado, foi onde a nova modalidade atingiu seu maior percentual no total de
desligamentos (1,3%).
É muito cedo para se tirar uma conclusão definitiva quanto aos impactos da modernização
trabalhista sobre as diversas faces da relação entre empregados e empregadores, assim como na
economia do país. No entanto, os dados já revelam que empregos estão sendo gerados com as
novas formas de contratação, bem como o desligamento por acordo apresenta crescimento entre
formas de rompimento do contrato de trabalho.
Ademais, é preciso ter em mente que a atividade econômica encontra-se em processo de
recuperação da maior crise de sua história. Sem crescimento econômico não há geração de
empregos. À medida que as empresas e trabalhadores continuarem se adaptando com as novas
possibilidades e a economia estiver mais aquecida, a tendência é que esses números se tornem
mais expressivos e melhorem as relações trabalhistas do país, gerando aumento da formalização
e trazendo maior segurança jurídica aos agentes econômicos.

Renda

A recuperação lenta da economia, aliada à elevada ociosidade no mercado de trabalho,


são fatores que contribuíram para a manutenção dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores
brasileiros ao longo de 2018. De acordo com os dados da PNAD Contínua, do IBGE, o rendimento
médio real habitualmente recebido, considerando todos os trabalhos do indivíduo, foi estimado em
R$ 2.222 no trimestre encerrado em setembro de 2018, resultado que se mostrou estável
estatisticamente frente ao observado no mesmo período de 2017 (R$ 2.208), apesar do aumento
de R$ 14 ou 0,6%. A estabilidade nos rendimentos reais em 2018 fica evidente no Gráfico 4.4.
Aliás, segundo cálculos do IBGE, a variação da renda contra o mesmo trimestre do ano anterior
não apresenta variação significativa em termos estatísticos desde o trimestre encerrado em
setembro de 2016, onde o rendimento médio real estava em R$ 2.158.
No Rio Grande do Sul, o comportamento da renda se mostra em linha com o do Brasil. O
rendimento médio real recebido por todos os trabalhos, já descontado o efeitos da inflação, foi
estimado em R$ 2.420 no terceiro trimestre de 2018, revelando estabilidade em relação aos R$
2.459 do mesmo período do ano passado. Não há variação na comparação interanual desde o
terceiro trimestre de 2014, quando o rendimento médio estava em R$ 2.447.

8
Cabe ressaltar que os dados relativos às novas formas de contratação ainda não foram totalmente incorporados às bases de dados
que o Ministério do Trabalho mantém em seu site. Somente dados a partir de abril/18 estão contemplados. Para o período de
novembro/17 a março/18, as informações foram buscadas nas apresentações de divulgação do CAGED que o órgão disponibiliza
todos os meses. Portanto, pode haver uma pequena diferença entre os dados aqui apresentados e o que realmente ocorreu.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 62
Gráfico 4.4. Renda média real habitualmente Gráfico 4.5. Renda média real habitualmente
recebida por mês de todos os trabalhos – recebida por mês de todos os trabalhos –
Brasil Rio Grande do Sul
(Em R$) (Em R$)
2.260 2.600
2.240 2.222 2.541
2.213 2.550
2.220 2.199
2.200 2.500 2.459
2.208
2.180 2.450 2.441
2.160 2.447
2.199 2.400
2.140 2.158 2.420
2.120 2.350
2.100 2.132 2.380 2.353
2.300
2.080
2.060 2.250
set/12

set/13

set/14

set/15

set/16

set/17

set/18
mar/12

mar/14

mar/15

mar/16

mar/17
mar/13

mar/18

3ºT/13

1ºT/17
3ºT/12
1ºT/13

1ºT/14
3ºT/14
1ºT/15
3ºT/15
1ºT/16
3ºT/16

3ºT/17
1ºT/18
3ºT/18
Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.
OBS: Deflator médio do trimestre jul-ago-set/2018 utilizado para OBS: Deflator médio do terceiro trimestre de 2018 utilizado para
deflacionar os valores. deflacionar os valores.

Perspectivas 2019

Aos poucos o Brasil está se recuperando das perdas da crise. Para o fechamento de 2018,
a expectativa é de criação de 494,7 mil postos de trabalho com carteira assinada no Brasil, o
primeiro resultado positivo após três anos de perdas. Todos os setores da economia devem
apresentar saldo positivo, mas alguns muito próximos de zero, como na Indústria de
Transformação e na Construção (não será surpreendente se esses setores encerrarem o ano com
saldo negativo). Quanto à taxa de desemprego, o comportamento sazonal deve a encaminhar dos
atuais 11,9% para um patamar próximo de 11,6% no último trimestre de 2018, fazendo com que a
média do ano (12,3%) fique abaixo da observada no ano passado (12,7%).
No Rio Grande do Sul, a geração de vagas formais esperada para esse ano é de 18,9 mil,
com a Indústria tendo desfecho muito próximo de zero. Assim como no Brasil, o setor de Serviços
sustenta o resultado positivo do Estado. A taxa de desemprego gaúcha deve encerrar o ano de
2018 em 7,7% da força de trabalho, com média anual de 8,2%.
Para 2019, em todos os cenários a geração de empregos será mais intensa frente a
observada em 2018. No cenário base, há uma expectativa de criação de 858,3 mil postos de
trabalho no País. Entre os setores de atividade, os Serviços devem abrir o maior número de
vagas, com saldo positivo de 608,6 mil. Já na Indústria, a criação de empregos deve chegar aos
239,5 mil, com um desfecho bastante positivo na Transformação (+171,0 mil) e considerável na
Construção (+57,1 mil). Ainda no cenário base, o Rio Grande do Sul deve criar 54,6 mil vagas,
com destaque para o setor de Serviços (+38,0 mil) e melhora na Indústria (+15,0 mil) em
comparação aos anos anteriores.
No cenário superior, a geração de empregos do Brasil pode passar de 1 milhão de vagas
(1.176,7 mil), o que não ocorre desde 2013. Se beneficiando do bom desempenho da economia
nacional, o Rio Grande do Sul pode criar 81,5 mil empregos.
No cenário inferior, a abertura de vagas não deve ser expressiva no Brasil (+553,8 mil).
Mesmo assim, deve ficar acima da observada em 2018. No mesmo sentido da economia nacional,

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 63
na pior das hipóteses, o RS apresentará um avanço frente ao ano anterior, com criação de 27,3
mil postos.
Quanto à taxa de desemprego, as perspectivas para 2019 apontam que há um potencial
maior de queda no Rio Grande do Sul em relação ao Brasil. Como pode ser observado no Gráfico
4.6, a parcela de pessoas desalentadas na população fora da força de brasileira é superior em
relação à observada em solo gaúcho. O mesmo ocorre para a parcela da Força de Trabalho
Potencial na população fora da força de trabalho (Gráfico 4.7). Portanto, ao perceberem uma
melhora na economia, esse contingente que havia perdido as esperanças de encontrar um
emprego pode voltar a buscar uma vaga, mantendo a taxa de desemprego brasileira em níveis
elevados, risco que é menor no Rio Grande do Sul.

Gráfico 4.6. Parcela de desalentados na Gráfico 4.7. Parcela da Força de Trabalho


População Não Economicamente Ativa Potencial na População Não
(PNEA) – Brasil e Rio Grande do Sul Economicamente Ativa (PNEA) – Brasil e Rio
(Em %) Grande do Sul
(Em %)

8 7,3 14
RS RS 12,2
6,6 11,7
7 BR BR
12
6 5,5
10 9,4
5 8,5
7,6
4 3,1 8 7,2
2,9 2,9 6,4
3 2,3
6
2 5,7 5,7 5,6 5,8
2,1 2,5 2,4 5,2 5,2
1,9 4
1 1,4 4,5
1,2 0,9
0 2
1ºT/12
3ºT/12
1ºT/13
3ºT/13
1ºT/14
3ºT/14
1ºT/15
3ºT/15
1ºT/16
3ºT/16
1ºT/17
3ºT/17
1ºT/18
3ºT/18

3ºT/14

1ºT/16
1ºT/12
3ºT/12
1ºT/13
3ºT/13
1ºT/14

1ºT/15
3ºT/15

3ºT/16
1ºT/17
3ºT/17
1ºT/18
3ºT/18
Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE/PNAD Contínua. Elaboração: FIERGS/UEE.

Segundo nossas estimativas, a taxa de desemprego do Brasil fechará 2019 em 11,3%


(cenário base), variando entre 11,9% (cenário inferior) e 10,7% (cenário superior). Em termos
de média do ano, as expectativas apontam para uma taxa de 12,0% (cenário base), podendo
chegar a 12,6% na pior das hipóteses (cenário inferior) e 11,4% no melhor desempenho
(cenário superior).
No Rio Grande do Sul, a taxa de desemprego deve ficar em 7,3% no último trimestre de
2019 (cenário base), com possibilidade de manter o patamar observado de 7,7% ao final de 2018
caso a economia não melhore (cenário inferior) ou cair para 7,0% em função de um desempenho
acima do esperado da atividade econômica (cenário superior).
Portanto, em termos de magnitude, a queda da taxa de desemprego deve ser mais intensa
no RS frente à verificada no Brasil, tanto em termos de média do ano (BR: -0,2 p.p.; RS -0,4 p.p.)
quanto em termos de fim de período (BR: -0,3 p.p.; RS: -0,4 p.p.).

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 64
Tabela 4.5. Perspectivas – Brasil
Geração de postos formais de trabalho – Em mil vínculos
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Agropecuária 34,2 5,3 6,8 10,2 13,4
Indústria -140,0 28,8 146,2 239,5 348,7
Transformação -14,8 10,5 116,6 171,0 224,6
Construção Civil -116,2 7,9 26,4 57,1 87,5
Outras -9,1 10,4 3,2 11,4 36,6
Serviços 92,5 460,6 400,8 608,6 814,5
Total -13,3 494,7 553,8 858,3 1.176,7
Taxa de desemprego – Em %
Fim do ano 11,8 11,6 11,9 11,3 10,7
Média do ano 12,7 12,3 12,6 12,0 11,4
Fonte: MTb/CAGED. IBGE/PNAD Contínua. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Tabela 4.6. Perspectivas – Rio Grande do Sul


Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Agropecuária -1,5 -2,0 0,9 1,5 1,8
Indústria -12,2 1,2 4,0 15,0 26,1
Transformação -5,9 1,4 0,9 9,4 18,0
Construção Civil -3,9 0,4 -0,1 2,4 4,8
Outras -2,3 -0,6 3,1 3,3 3,4
Serviços 5,4 19,7 22,5 38,0 53,5
Total -8,3 18,9 27,3 54,6 81,5
Taxa de desemprego – Em %
Fim do ano 8,0 7,7 7,7 7,3 7,0
Média do ano 8,4 8,2 8,2 7,8 7,4
Fonte: MTb/CAGED. IBGE/PNAD Contínua. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 65
5. SETOR EXTERNO E CÂMBIO

PONTO DE INFLEXÃO

Fatores domésticos e externos podem alterar a dinâmica da balança comercial do Brasil.

Ao longo dos últimos quatro anos, as exportações se mantiveram em um ritmo acelerado,


guiado pela maior rentabilidade do setor exportador em função de um câmbio mais desvalorizado
e da recuperação dos preços de algumas commodities importantes para o Brasil, bem como a
estabilidade do volume de transações do comércio internacional. Por outro lado, as importações
apresentaram uma queda significativa no biênio 2015/2016 em decorrência da severa recessão
econômica. A partir de 2017, é possível perceber que a recuperação da atividade econômica
brasileira já esboça uma tímida retomada da demanda por bens importados. Em decorrência
destes movimentos, superávits comerciais robustos e sucessivos foram observados neste
período, fazendo a balança comercial compensar parte dos efeitos negativos da crise sobre o
balanço de pagamentos.
Contudo, as turbulências do cenário internacional podem dar início a um ponto de inflexão
do setor externo do País nos anos que estão por vir. Os resultados da balança comercial
apurados até setembro sugerem que as importações têm crescido mais do que proporcionalmente
às exportações, especialmente a partir do segundo trimestre, quando iniciaram as tensões
comerciais e a greve dos caminhoneiros. Embora parte deste resultado seja a influência do novo
regime especial aduaneiro Repetro-Sped, que adicionou um montante considerável ao valor
importado, ainda sim o superávit comercial apresentaria uma redução em relação aos anos
anteriores. No que se refere ao setor externo do Rio Grande do Sul, o desempenho das vendas
externas ficou marcado por duas plataformas de petróleo e gás, adicionando um montante
substancial ao valor exportado total. No entanto, desde maio os embarques para a Argentina tem
se reduzido em função da grave crise econômica que assola o País vizinho, o que tem sido
particularmente ruim para o setor secundário do Estado.
Quanto à taxa de câmbio, observou-se uma enorme variabilidade ao longo de 2018 em
virtude de fatores externos e domésticos, como o enxugamento da liquidez internacional e do risco
político associado às eleições. Desde março, o Real iniciou uma trajetória de desvalorização
frente ao dólar, chegando a atingir um pico de R$/US$ 4,21, máxima histórica desde a adoção do
Plano Real, em termos nominais. Contudo, o câmbio registrou uma leve valorização após as
eleições, voltando aos patamares observados no início de agosto.
Para 2019, a perspectiva é de estabilização do superávit comercial nos mesmos
patamares deste ano, como produto do crescimento das importações, impulsionada pela
recuperação da atividade econômica do Brasil, e da desaceleração das exportações, de acordo
com as projeções para a redução do volume de comércio internacional. Nesse sentido, o déficit do
saldo em Transações Correntes não deve sofrer pressões do lado comercial, a depender da
evolução do cenário externo. Já a taxa de câmbio deve se apreciar moderadamente por conta da
aceleração da atividade econômica e diminuição da incerteza, mas limitada pela redução do
diferencial internacional de juros e aperto de liquidez global.

Balanço de pagamentos
No acumulado de janeiro a setembro de 2018, o saldo em transações correntes
apresentou um déficit de US$ 7,3 bilhões, correspondendo a uma acentuada variação negativa da

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 66
ordem de 170,8% em comparação ao mesmo período de 2017. O resultado indica que a
poupança doméstica não foi capaz de financiar os investimentos totais realizados no País, sendo
necessária a complementação via recursos externos, também conhecidos como poupança
externa.

Tabela 5.1. Balanço de pagamentos


(Em US$ milhões)
Diferença
jan-set/17 jan-set/18
Var. (%) US$ milhões
TRANSAÇÕES CORRENTES -2.745,1 -7.434,8 -170,8 -4.689,6
Balança Comercial e Serviços 26.880,1 16.187,7 -39,8 -10.692,4
Balança Comercial 51.227,4 41.001,4 -20,0 -10.226,0
Serviços -24.347,3 -24.813,7 -1,9 -466,4
Renda Primária -31.365,7 -25.458,7 18,8 5.906,9
Renda Secundária 1.740,4 1.836,3 5,5 95,9
CONTA CAPITAL 326,4 379,8 16,4 53,4
CONTA FINANCEIRA -1.168,9 1.018,6 187,1 2.187,4
Investimento Direto 49.191,3 53.339,7 8,4 4.148,4
Investimento Direto no Exterior -2.935,4 1.131,7 138,6 4.067,0
Investimento Direto no País 52.126,7 52.208,0 0,2 81,3
Investimento em Carteira -8.920,0 -572,7 93,6 8.347,3
Derivativos 135,1 -2.107,6 -1.660,2 -2.242,7
Outros Investimentos -30.067,9 -38.128,9 -26,8 -8.061,0
Ativos de reserva -11.507,4 -11.511,8 -0,0 -4,4
ERROS E OMISSÕES 3.587,6 6.036,4 68,3 2.448,7
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

 Déficit em Transações Correntes aumenta em 2018

Ao contrário do ano passado, quando a balança comercial apresentou uma expansão do


superávit comercial, a redução do saldo em US$ 10,2 bilhões em 2018, comparado ao acumulado
de janeiro a setembro de 2017, foi determinante para o resultado do saldo em transações
correntes. Esta queda pode ser justificada pelo regime aduaneiro conhecido como Repetro-Sped9,
na qual plataformas de petróleo e gás foram contabilizadas como importação, no valor de US$ 7,3
bilhões, reduzindo assim o superávit da balança comercial no período. Sem a influência das
plataformas, a balança comercial no acumulado do ano registraria US$ 23,5 bilhões, saldo pouco
inferior ao verificado na mesma base de comparação. De acordo com os registros da balança
comercial, é possível observar que, desde maio, o superávit vem se reduzindo à medida que as
importações crescem mais do que proporcionalmente às exportações no comparativo mês-a-mês.
No que se refere ao balanço de rendas, a saída líquida de renda primária foi inferior ao
acumulado do ano passado (+US$ 5,5 bilhões), influenciando positivamente o déficit em conta
corrente. Ainda, a conta remessa de lucros e dividendos apresentou um saldo líquido acumulado
em US$ 4,7 bilhões.
Quanto ao balanço de serviços, o fluxo se manteve em um déficit de US$ 24,8 bilhões,
próximo do patamar alcançado em 2017, queda de apenas 1,9%. A conta viagens internacionais
ainda permanece como a cifra que mais impactou o resultado, embora a desvalorização da taxa
de câmbio tenha desincentivado o aumento da demanda pelo turismo internacional.

9
Para mais detalhes sobre o regime aduaneiro especial Repetro-Sped, recomenda-se a leitura do penúltimo tópico deste capítulo.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 67
Gráfico 5.1. Transações Correntes do BP do Brasil
(Em US$ bilhões)
3,0

1,0

-1,0

-3,0

-5,0
2015
-7,0
2016
-9,0
2017
-11,0 2018
-13,0
Jan

Mar

Mai

Set
Abr
Fev

Jul

Ago
Jun
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

 Conta Financeira:

O saldo da conta Financeira no acumulado dos últimos três trimestres foi de US$ 1,0
bilhão, apresentando um saldo de US$ 2,2 bilhões a mais em comparação com ano passado. Os
Investimentos Diretos no País (IDP) se mantiveram robustos este ano, apresentando uma taxa de
variação de apenas 0,2% em relação a base de comparação. Já os Investimentos Diretos no
Exterior (IDE) diminuíram em relação a 2017, acumulando US$ 1,1 bilhão ao fim de nove meses,
em comparação com os US$ 2,9 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.
Em relação aos investimentos em carteira, houve uma intensa recuperação no acumulado
de janeiro a setembro deste ano. Feita a abertura pelos investimentos no exterior, verifica-se um
saldo de US$ 3,2 bilhões, em comparação aos US$ 5,0 bilhões registrados em 2017. Portanto, o
resultado é um indicativo de menor saída líquida de recursos do País. Já nos investimentos no
País, o saldo registrado totalizou US$ 12,2 bilhões ao final de setembro, significando um aumento
da demanda por investimentos em renda fixa.
Entre todas as cifras da Conta Capital e Financeira, os Derivativos chamam atenção pela
sua expressiva variação percentual negativa (-1.660,2%). Só de janeiro a abril, acumulou-se um
saldo de US$ 1,4 bilhão, enquanto o mês de agosto sozinho registrou quase o mesmo saldo dos
primeiros quatro meses do ano, assinalando US$ 1,3 bilhão. Entre os quatro primeiros meses do
ano, este comportamento pode ser justificado pelo sentimento de incerteza do mercado em
relação ao Brasil, o que fez a demanda por estes instrumentos financeiros aumentarem por parte
dos investidores, seja por motivos especulativos ou por proteção, enquanto que o segundo
movimento observado em agosto está atrelado à incerteza política gerada pela corrida
presidencial.

Taxa de câmbio
A taxa de câmbio registrou enorme variabilidade ao longo de 2018. A mínima do ano foi de
R$/US$ 3,14, em janeiro, até atingir o valor de R$/US$ 4,21, em setembro, sendo esta a máxima
histórica desde a adoção do plano real, em termos nominais. Desde março, observamos uma
desvalorização contínua do real frente ao dólar até meados de junho, onde permaneceu até
metade de agosto orbitando no intervalor entre R$ 3,69 e R$ 3,92. Este comportamento está
ligado a fatores externos e internos, dos quais podemos elencar a elevação da taxa de juros

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 68
básica dos Estados Unidos e a diminuição do diferencial de juros entre a SELIC e os FED Funds,
bem como o início da guerra comercial, crise dos emergentes e, por último, a greve dos
caminhoneiros. Estes eventos ajudam a compreender a desvalorização da taxa de câmbio no
primeiro semestre, em razão da deterioração dos retornos dos ativos em moeda nacional por
estrangeiros, além do aumento do risco percebido em função da fragilidade de alguns
fundamentos macroeconômicos, provocando uma reversão dos fluxos aplicados no País.
Uma nova escalada da desvalorização do real, iniciada ao fim de agosto, se deve ao
processo eleitoral e o risco político associado. Notícias e pesquisas relacionadas aos
presidenciáveis adicionavam ainda mais volatilidade ao mercado cambial, na qual a reação do
mercado variava de acordo com a ascensão ou queda de candidatos menos comprometidos com
uma agenda reformista. Sob este cenário, o Real chegou a atingir a máxima histórica desde a
introdução do Plano Real, assinalando uma taxa de câmbio de R$/US$ 4,21, desvalorização de
34,1% em relação a mínima registrada em 2018.

Gráfico 5.2. Taxa de Câmbio


(Em R$/US$)

4,4

4,2

4,0

3,8

3,6

3,4

3,2

3,0
jul/17

jul/18
nov/16

jan/17

mai/17

set/17

nov/17

jan/18

mai/18

set/18

nov/18
mar/17

mar/18

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FIERGS/UEE.

De acordo com um estudo publicado pelo IBRE/FGV, a dinâmica da desvalorização foi


distinta entre a primeira e segunda quinzena do mês de setembro. Na primeira, a contribuição dos
fatores externos foi predominante sobre o câmbio, enquanto os fatores domésticos e o impacto do
diferencial de juros se anulam, em partes. Em contrapartida, a segunda quinzena demonstra uma
inversão, na qual fatores externos contribuíram mais do que proporcionalmente à soma dos
impactos dos componentes domésticos e do diferencial de juros para a valorização da taxa de
câmbio, onde é possível notar uma ligeira queda na taxa de câmbio para o período.

Tabela 5.2. Decomposição das variações da taxa de câmbio R$/US$


(Em % e pontos percentuais)
De 31/08 a 13/09 De 13/09 a 28/09
Contr. (p.p.) Part. % Contr. (p.p.) Part. %
Fatores externos 3,82 102 -10,6 284,6
Fatores domésticos -1,2 -31,9 3,74 -100,3
Diferencial de juros 1,12 29,8 3,14 -84,3
Desvalorização (+) /
3,75 100,0 -3,72 100,0
Valorização (-) do câmbio - %
Fonte: FGV/IBRE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 69
Outro ponto a se destacar ao longo de 2018 foi a aceleração da volatilidade sobre o
mercado internacional que pressionou as economias emergentes. Após um bom início de ano, os
fluxos de capital para os mercados emergentes enfraqueceram consideravelmente nos trimestres
posteriores. Em especial, as evidências sugerem que os fluxos de carteira não residentes, que
foram intensos durante 2017 e início de 2018, se tornaram negativos entre os meses de maio e
junho de 2018, consistentes com as pressões cambiais em várias economias emergentes. Em
seguida, os fluxos de carteira parecem ter se estabilizado durante o mês de julho, juntamente com
as valorizações cambiais. No entanto, as saídas foram retomadas em agosto, em meio ao
enfraquecimento do sentimento dos investidores após a depreciação da lira turca e do peso
argentino.

Gráfico 5.3. Volatilidade do mercado acionário dos emergentes


(Índice)

40

35

30

25

20

15

10
jun/18
dez/17
dez/17

jul/18
jul/18
ago/18
nov/17

jan/18
fev/18
fev/18

abr/18
abr/18
mai/18

set/18
set/18

nov/18
out/17
out/17

mar/18

out/18

Fonte: Chicago Board Options Exchange. Elaboração: FIERGS/UEE.

Outra análise importante envolve o confronto do desempenho do Real ao longo do ano em


relação à cotação de outras moedas-commodity. Assim como no caso do Brasil, os produtos
básicos para os países listados na Tabela 5.3 apresentam grande relevância em suas respectivas
pautas de exportação, o que torna a comparação adequada. Observe que todas as moedas que
compõem a cesta registraram desvalorização ante o Dólar. Portanto, o comportamento da taxa de
câmbio brasileira seguiu a mesma tendência, sugerindo que grande parte da trajetória do Real foi
conduzida pelo cenário externo.

Tabela 5.3. Variação do Real e de outras moedas-commodity em relação ao Dólar


(Em %: (-) representa valorização e (+) representa desvalorização)
Entre 16/11/17 Entre 02/01/18
e 16/11/18 e 16/11/18
Dólar - Nova Zelândia -0,4 3,3
Coroa Norueguesa 2,8 3,8
Dólar Canadense 3,0 5,1
Dólar Australiano 3,4 6,7
Peso Chileno 6,3 8,9
Real 14,4 14,8
Rande - África do Sul -0,9 16,0
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 70
Comércio Exterior do Brasil
Entre janeiro e setembro, o saldo da balança comercial do Brasil foi de US$ 41,1 bilhões,
desempenho 20% inferior em relação ao igual período do ano anterior e o segundo maior da série
histórica, iniciada em 1997. De acordo com as projeções mais recentes do Relatório FOCUS,
2018 deverá fechar com superávit de US$ 58 bilhões: US$ 9 bilhões a menos do que o valor
registrado em 2017.

Gráfico 5.4. Saldo da balança comercial do Brasil


(Em US$ bilhões)
30 8

25 6

20 4

15 2

10 0

5 -2
Saldo Exportações Importações
0 -4
nov/15

nov/16

nov/17

mai/18
mai/15

mai/16

mai/17
jul/15

jul/16

jul/17

jul/18
set/15

jan/16

set/16

jan/17

set/17

jan/18

set/18
mar/15

mar/16

mar/17

mar/18

Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

A diferença entre o resultado esperado para balança comercial de 2018 e o realizado em


2017, no entanto, foi influenciado pelo Repetro-Sped, regime aduaneiro especial que acrescentou
US$ 7,3 bilhões em plataformas de petróleo e gás como importação, contribuindo para a redução
da estimativa para superávit deste ano. Excluindo-se o efeito das plataformas sobre as
importações, seria observado um superávit comercial de US$ 65 bilhões no acumulado para 2018,
ficando apenas US$ 1,4 bilhão abaixo do valor verificado em 2017.
No acumulado dos últimos doze meses, percebe-se uma trajetória de redução contínua do
superávit comercial desde o início de janeiro, deflagrado pelo crescimento das importações mais
do que proporcionalmente às exportações no comparativo do mês ante o mesmo mês do ano
anterior. Destacam-se o recrudescimento das tensões comerciais, a greve dos caminhoneiros e a
crise econômica da Argentina como fatores fundamentais para explicar o a dinâmica da redução
da balança comercial para este ano, provocando uma desaceleração mais intensa do superávit
comercial a partir de maio de 2018.
No que tange ao desempenho das exportações no acumulado de janeiro a setembro de
2018, observamos uma expansão de 9,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ao
analisar por fator agregado, os produtos semifaturados apresentaram queda de 4,0%, enquanto
os manufaturados e os produtos básicos registraram expansão de 6,3% e 12,0%,
respectivamente. Entre os produtos básicos, os embarques das commodities agrícolas e
energéticas tiveram papel fundamental para o resultado, das quais se destacam os produtos do
complexo da soja – farelo de soja (31,8%) e soja em grãos (19,5%) – e petróleo em bruto (36,6%).
Cabe ressaltar que a China teve papel fundamental para o aumento dos embarques dos produtos
básicos, cujo excedente do fluxo de exportações de soja e petróleo, juntos, totalizam US$ 7,9
bilhões no ano (+33,3%).

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 71
Já para os manufaturados, as exportações fictas10 influenciaram no bom resultado do
acumulado, uma vez que houve um crescimento expressivo de 348,4% em relação ao ano
passado. No entanto, o resultado da categoria poderia ter sido ainda melhor se não houvesse a
redução dos embarques de bens manufaturados para a Argentina, país que convive com uma
grave crise econômica e forte desvalorização cambial, prejudicando assim a sua capacidade de
importação de bens. Feita a abertura por setores de atividade (CNAE 2.0), percebe-se que a
queda se concentra nos segmentos de Veículos automotores (-US$ 672 milhões) e Máquinas e
equipamentos (-US$ 175 milhões). Por último, a retração dos semifaturados se deve a redução de
42,3% no valor exportado de açúcar de cana.
Em última análise, dos 25 segmentos avaliados pela CNAE 2.0 para a Indústria, destacam-
se as categorias Extrativa mineral (16,7%), Outros materiais de transporte11 (53,99%) e Celulose e
papel (28,1%). Com isso, a Indústria brasileira embarcou US$ 8,4 bilhões a mais, em comparação
com o igual período do ano passado, resultando em um crescimento de 6,4%.
Apesar de uma série de eventos adversos que afetaram o setor externo, é inegável que a
desvalorização do Real tem sido um elemento fundamental para o aumento do valor exportado
neste ano, diferentemente do que ocorreu ano passado, quando houve uma valorização do
câmbio no mesmo período considerado para a análise. A assertiva é corroborada pelo Índice de
Rentabilidade das Exportações Brasileiras, divulgado pela FUNCEX, na qual aponta o câmbio
como o elemento que mais acrescentou nos ganhos de rentabilidade do setor. O Índice ainda
ressalta que preços das exportações e custos de produção também contribuíram para o bom ritmo
da rentabilidade apurada.

Tabela 5.4. Índice de Rentabilidade das Exportações Brasileiras e seus componentes


(Var.% acum. no período)
Acumulado Acumulado
(jan-set/18) 12 meses
Rentabilidade 11,0 8,3
Preço das exportações 4,8 4,4
Taxa de câmbio nominal 13,5 9,7
Custo de produção 7,0 5,6
Fonte: FUNCEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

No que se refere à demanda por importações pelo Brasil, o montante total importado
somou US$ 135,4 bilhões, representando uma expansão de 21,6% no acumulado de janeiro a
setembro deste ano, em comparação com igual período do ano anterior. A base de comparação
deprimida, a contabilização de US$ 7,3 bilhões em plataformas de petróleo e gás como
importação, conjuntamente com a recuperação da atividade industrial brasileira impulsionaram a
demanda por mercadorias, sobretudo por Bens de capital (+77,2%).
Ao fim deste ano, espera-se que a balança comercial do Brasil atinja US$ 57,4 bilhões,
sendo que o valor exportado chegue a US$ 233,3 e as importações US$ 175,9, segundo as
estimativas de mercado do Boletim FOCUS.

10
As exportações fictas são operações de venda de produtos nacionais para o exterior, sem que haja a saída deste bem do território
nacional. Tais exportações têm origem no regime aduaneiro Repetro.
11
Outros materiais de transporte contemplam as exportações fictas das plataformas de petróleo e gás, já comentadas anteriormente.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 72
Comércio exterior do Rio Grande do Sul

As exportações do Rio Grande do Sul cresceram 21,0% no acumulado entre janeiro a


outubro de 2018, em comparação com o igual período do ano anterior, totalizando US$ 17,9
bilhões. Este é o segundo melhor resultado considerando toda a série histórica iniciada em 1996.
Dentre todos os produtos que fazem parte da pauta de exportações do Estado, a mercadoria soja
em grãos, item com a maior representatividade sobre o total exportado pelo Estado (23,5%),
acumulou US$ 4,2 bilhões no agregado, registrando alta de 5,4%.
Contudo, as exportações fictas de duas plataformas de petróleo e gás influenciaram
decisivamente para a variação observada. Neste ano, o Estado exportou duas plataformas de
petróleo e gás, sendo a primeira registrada para a Holanda, em fevereiro, por US$ 1,5 bilhão, e a
segunda para o Panamá, no valor de US$ 1,3 bilhão no mês de agosto, agregando US$ 2,8
bilhões ao montante exportado. Desconsiderando o efeito estatístico causado pelas exportações
fictas, a taxa de crescimento das exportações teria sido um pouco mais modesta, assinalando
uma expansão de apenas 1,8%.
O quadro se torna mais crítico quando analisada a influência sobre a Indústria gaúcha. No
acumulado do ano, os embarques da Indústria do Estado registraram uma expansão de 27,5%,
sendo o maior crescimento apresentado desde 2013. No entanto, excluindo as exportações fictas
do total registrado pela Indústria, ao invés de um excelente resultado, observaríamos uma ligeira
retração de 0,2%, considerando a mesma base de comparação.

Gráfico 5.5. Influência das plataformas sobre as exportações do Rio Grande do Sul
(Var. % acum. de janeiro a outubro 2018/2017)
Com plataformas
27,5
Sem plataformas

21,0

1,8

-0,2

Exportações Totais Exportações da Indústria


Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

Não por acaso o resultado da Indústria já assinala queda no acumulado do ano até
outubro. Ainda que muitos elementos possam ser destacados para ajudar a explicar a retração
observada, dois fatores principais contribuem para o resultado: a crise econômica da Argentina12
e a greve dos caminhoneiros. A reversão das vendas de mercadorias para a Argentina veio em
maio, quando se observa a primeira queda mensal dos embarques da Indústria gaúcha. A partir
daí, exportou-se US$ 227 milhões a menos em comparação com acumulado do ano anterior,
representando uma retração de 14,8%.

12
Para mais detalhes sobre a crise econômica da Argentina, recomenda-se a leitura do tópico sobre o País no Capítulo 1 – Cenário
Internacional.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 73
Para mostrar a ruptura na dinâmica13 das exportações durante 2018, dividimos o ano entre
os cinco primeiros e os cinco últimos meses, momento do qual se iniciam os eventos supracitados
e se verifica a regressão dos embarques da Indústria. De janeiro a maio, observou-se um
crescimento de 13,2% ao passo que o período compreendido entre junho a outubro assinalou
retração de 13,0%, em relação as respectivas bases de comparação para o ano de 2017. Além
disso, o valor médio exportado da Indústria nos cinco primeiros meses (US$ 1,1 bilhão) difere dos
cinco últimos (US$ 982 milhões), sugerindo uma quebra de tendência marcada pela mudança dos
eventos mencionados anteriormente.
Embora o choque da greve dos caminhoneiros tenha provocado perdas substanciais sobre
a atividade econômica e, consequentemente, sobre as exportações, seu impacto foi transitório,
diferentemente do cenário externo, que dá sinais de uma mudança persistente no comportamento
da demanda mundial por importações. Para avaliar a dinâmica da demanda externa por
mercadorias de origem gaúcha, foi construído um índice com base nas importações dos principais
parceiros comerciais do Estado, ponderadas pela importância média na nossa pauta de
exportações ao longo dos últimos quatro anos (2014 a 2017). De acordo com o Gráfico 5.6 é fácil
ver a correlação do indicador em relação ao valor total exportado pelo Rio Grande do Sul,
mostrando que o movimento do cenário externo tem um impacto mais significativo sobre a
balança comercial do Estado e, consequentemente, sobre a Indústria. A variação acumulada em
12 meses do indicador apontava um crescimento contínuo da demanda externa desde o final de
2016, atingindo o pico justamente em maio deste ano. No entanto, nos três meses seguintes,
observou-se uma ligeira queda do indicador, sinalizando o início de uma desaceleração da
demanda por importações gaúchas. Já as exportações gaúchas também apresentam uma
desaceleração na taxa de variação acumulada em 12 meses a partir de maio, corroborando com a
análise anterior.

Gráfico 5.6. Índice de demanda externa e exportações totais do Rio Grande do Sul*
(Var. % acum. em 12 meses)
30 Demanda
Externa
25
Exportações
20 Totais do RS
15
10
5
0
-5
-10
-15
-20
ago/08
abr/09

ago/10
abr/11

ago/12
abr/13

ago/14
abr/15

ago/16
abr/17

ago/18
dez/07

dez/09

dez/11

dez/13

dez/15

dez/17

Fonte: OMC. MDIC/SECEX. *Exportações totais sem operações extraordinárias, como plataformas de petróleo e energia elétrica.
Elaboração: FIERGS/UEE.

Ao analisar a Indústria de transformação do Estado por abertura da CNAE 2.0, notamos


que entre as 24 categorias para as quais houve informações disponíveis, apenas 10 registraram
expansão do valor exportado. De acordo com o índice de difusão – média dos últimos três meses
da quantidade de setores que apresentaram variação percentual positiva no respectivo mês em
13
Os resultados aqui apresentados desconsideram o cômputo das plataformas de petróleo e gás, com intuito de obter uma análise
mais assertiva sobre a conjuntura do setor externo gaúcho.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 74
relação ao mesmo período do ano anterior –, é possível perceber uma inflexão a partir de abril
2018, quando o indicador cai consideravelmente até junho, demonstrando uma tímida
recuperação de agosto a setembro. Mesmo assim, os modestos avanços do indicador após o mês
de julho permanecem abaixo da média histórica, explicitado pela linha cinza no Gráfico 5.7.

Gráfico 5.7. Difusão de crescimento das exportações da Indústria do RS


(Número de setores que registraram alta nas vendas externas no mês em relação ao mesmo período do ano anterior –
média móvel de 3 meses)
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
jul/07

jul/12

jul/17
jan/05

abr/06

jan/10

abr/11

jan/15
out/03

abr/16
out/08

out/13

out/18
Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

Já no acumulado de janeiro a outubro de 2018, a principal contribuição para o


desempenho da Indústria é referente à categoria Outros materiais de transporte (15.888.9%). O
crescimento expressivo do segmento é justificado pelas exportações fictas de duas plataformas de
petróleo e gás, de acordo com o regime aduaneiro Repetro-Sped, já discutido anteriormente.
Outro destaque da Indústria foi o segmento Coque e derivados do petróleo e
biocombustíveis (154,3%), onde o valor exportado atingiu US$ 89 milhões no acumulado até
outubro. A franca expansão dos preços internacionais das commodities de energia, sobretudo o
petróleo, ajuda a explicar o resultado, uma vez que somente a mercadoria óleo combustível foi
responsável por US$ 45 milhões a mais exportados no período considerado.
Por último, a categoria Celulose e papel, importante segmento da pauta de exportações
gaúchas, teve contribuição positiva para o resultado, desempenhando uma taxa de variação de
79,7% em relação ao acumulado do mesmo período para 2017. Embora haja uma expansão da
demanda pelas mercadorias deste segmento, em linha com o que vem acontecendo a nível
nacional, o resultado expressivo da categoria também foi influenciado pela base deprimida do ano
passado, quando a CMPC Celulose Riograndense interrompeu a produção para manutenção da
planta, produzindo um efeito estatístico positivo considerável sobre o resultado.
Em contrapartida, 14 categorias da pauta de exportações da Indústria gaúcha sofreram
retração, considerando os embarques dos últimos dez meses de 2018 em comparação com igual
período do ano anterior. A Indústria de produtos alimentícios assinalou queda de 6,7% no
acumulado, provocando um impacto relevante sobre o total, já que a categoria possui uma
participação de 14,8% no total exportado. Ao desagregar a categoria por subclasses, observamos
uma queda expressiva no complexo da carne (-27,8%), especialmente pela redução de US$ 446
milhões no somatório dos embarques da carne de frango e suína in natura. A redução substancial
dos embarques tem origem nos embargos às carnes brasileiras, sob a forma de barreiras
fitossanitárias introduzidas principalmente por Arábia Saudita, China e União Europeia.
A segunda categoria com maior saldo negativo foram os Químicos (-8,3%). Além da base
de comparação elevada, em março deste ano diversas plantas do polo petroquímico realizaram
paradas técnicas para manutenção, o que contribuiu para a redução da produção industrial e,
consequentemente, das exportações do segmento.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 75
Tabela 5.5. Exportações do Rio Grande do Sul por setor CNAE 2.0
(Em US$ milhões)
jan- jan- US$
Part. (%) Part. (%) Var. (%)
out/17 out/18 milhões
Material de transporte 18 0,1% 2.878 16,0% 15888,9% 2.860
Alimentos 2.846 19,2% 2.655 14,8% -6,7% -191
Químicos 1.561 10,5% 1.432 8,0% -8,3% -129
Fumo 1.243 8,4% 1.221 6,8% -1,8% -22
Veículos automotores, reboques e carrocerias 1.162 7,8% 1.162 6,5% 0,0% 0
Couro e calçados 804 5,4% 763 4,3% -5,1% -41
Celulose e Papel 399 2,7% 717 4,0% 79,7% 318
Máquinas e equipamentos 669 4,5% 703 3,9% 5,1% 34
Produtos de metal 419 2,8% 389 2,2% -7,2% -30
Borracha e plástico 234 1,6% 247 1,4% 5,6% 13
Madeira 155 1,0% 165 0,9% 6,5% 10
Móveis 152 1,0% 160 0,9% 5,3% 8
Metalurgia 112 0,8% 151 0,8% 34,8% 39
Materiais elétricos 201 1,4% 136 0,8% -32,3% -65
Produtos diversos 106 0,7% 101 0,6% -4,7% -5
Coque e derivados do petróleo 35 0,2% 89 0,5% 154,3% 54
Minerais não-metálicos 69 0,5% 69 0,4% 0,0% 0
Têxteis 46 0,3% 40 0,2% -13,0% -6
Vestuário e acessórios 42 0,3% 37 0,2% -11,9% -5
Equip .de informática, eletrônicos e ópticos 30 0,2% 31 0,2% 3,3% 1
Bebidas 12 0,1% 15 0,1% 25,0% 3
Farmoquímicos e farmacêuticos 17 0,1% 12 0,1% -29,4% -5
Extrativa mineral 12 0,1% 11 0,1% -8,3% -1
Impressão e reprodução de gravações 1 0,0% 1 0,0% 0,0% 0
Total da Indústria 10.345 69,8% 13.185 73,5% 27,5% 2.840
Básicos 4.368 29,5% 4.663 26,0% 6,8% 295
Transações Especiais 108 0,7% 93 0,5% -13,9% -15
Total Geral 14.822 100,0% 17.941 100,0% 21,0% 3.119
Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

Outro destaque negativo fica por conta de Materiais elétricos, com redução de US$ 65
milhões nas vendas externas, em comparação igual período do ano anterior, sendo este o maior
recuo (-32,3%) entre as 24 categorias avaliadas. O aumento atípico dos embarques deste
segmento no ano passado deixou a base de comparação mais elevada, produzindo um efeito
estatístico substancial sobre o resultado observado.

Gráfico 5.8. Exportações da Indústria do Rio Grande do Sul


(Em US$ bilhões)
19,7

16,1
15,6 15,2
14,4
13,8
13,0 13,2 12,7 12,4 12,6
2010

2017
2008

2009

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2018*

Fonte: FUNCEX. *Estimativa FIERGS/UEE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 76
Por último, caso confirme as nossas projeções, o valor total exportado pela Indústria do Rio
Grande do Sul totalizará US$ 15,2 bilhões ao fim de 2018, representando uma expansão de
21,1% em comparação ao ano de 2017, anotando assim o segundo maior valor da série histórica,
iniciada em 1996. Ao desconsiderar a contabilização das plataformas, o resultado seria diferente:
o setor secundário registraria US$ 12,4 bilhões em mercadorias vendidas ao exterior, implicando
em uma retração de 1,4%.
Por sua vez, as importações do Estado do Rio Grande do Sul totalizaram US$ 9,3 bilhões,
desempenho que se mostra 18,9% superior considerando a mesma base de comparação do ano
anterior. Feita a abertura por categoria de uso, observa-se expansão em todas as quatro setores,
liderado por Combustíveis (+56,3%), na qual a maior contribuição veio das compras de petróleo
em bruto. Logo em seguida, a alta dos Bens Intermediários (+17,8%) se deve as importações de
naftas para petroquímica, enquanto Bens de consumo (+14,4%) e Bens de Capital (+4,8%) são
puxados por veículos automotores.

Tabela 5.6. Importações do RS por categoria de uso


(Em US$ milhões)
jan- jan- US$
Part. (%) Part. (%) Var. (%)
out/17 out/18 milhões
Intermediários 4.590 58,5% 5.409 58,0% 17,8% 819
Consumo 1.198 15,3% 1.371 14,7% 14,4% 173
Capital 1.290 16,5% 1.352 14,5% 4,8% 62
Combustíveis 764 9,7% 1.194 12,8% 56,3% 430
Total Geral 7.842 100,0% 9.326 100,0% 18,9% 1.484
Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.

Mesmo com uma taxa de câmbio desfavorável em relação ao ano passado, houve um
aumento considerável da demanda por importações no acumulado de janeiro a outubro de 2018.
Fatores como a base de comparação deprimida desde a crise de 2015 e a recuperação pró-cíclica
da atividade industrial do Rio Grande do Sul contribuíram significativamente para o resultado.
Como mostra o Gráfico 5.9, existe uma correlação entre aumento das compras externas e o
aumento da produção física do Estado.
Segundo as projeções da demanda por importações do Rio Grande do Sul para o fim do
ano, a expectativa é de que sejam importados US$ 11,7 bilhões, finalizando 2018 com alta de
17,7% em relação a 2017.

Gráfico 5.9. Importações totais do RS em valor e produção física da Indústria do RS


(Var. % acum. em 12 meses)
80 10
Importações em valor - var. %

70 8
Produção física - var. %

60 6
50 4
40 2
30 0
20 -2
10
0 -4
-10 -6
-20 -8
-30 -10
-40 -12
-50 -14
abr/12

out/15
mai/16
mar/08
out/08
mai/09
dez/09
jul/10
fev/11

nov/12
set/11

jan/14

fev/18
jun/13

ago/14
mar/15

dez/16
jul/17

set/18

Importações Produção Física Industrial


Fonte: MDIC/SECEX e IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 77
Repetro-Sped
Visando o benefício de isenções fiscais aos investimentos ligados a atividades de
exploração e desenvolvimento do setor de petróleo e gás, o regime aduaneiro especial conhecido
como REPETRO concedia incentivos a exportação de máquinas e equipamentos fabricados em
território nacional para o exterior, mesmo que não houvesse saída física do bem do País. Em
contrapartida, estes mesmos bens eram importados sob o regime de admissão temporária,
embora não fossem contabilizados como importação no registro da balança comercial, uma vez
que a propriedade já pertencia a outra jurisdição. Só este ano, o estado do Rio Grande do Sul
exportou duas plataformas de petróleo e gás, sendo a primeira registrada para a Holanda, em
fevereiro, por US$ 1,5 bilhão, enquanto o Panamá adquiriu a segunda no valor de US$ 1,3 bilhão,
no mês de agosto, agregando US$ 2,8 bilhões ao montante exportado.
No entanto, a Lei nº 13.586/2017 sancionou o regime Repetro-Sped, que agora permite a
importação destes mesmos bens com a promessa de isenções de tributos federais. Logo, a lei
criou incentivos para que as empresas repatriassem os bens anteriormente exportados. Em vista
disso, existe a expectativa de que por algum tempo haja a elevação das importações, com
objetivo de regularizar as operações realizadas anteriormente. A nível nacional, a diferença do
valor importado já se torna visível, com um aumento de US$ 7,3 bilhões no acumulado de janeiro
a setembro de 2018. Portanto, é possível que vejamos algum tipo de alteração nas importações
do Rio Grande do Sul em breve, causadas pela mudança do regime aduaneiro especial.

Perspectivas para 2019


O Balanço de Pagamentos do Brasil novamente deve registrar uma leve deterioração no
ano que estar por vir. A expectativa é de que o déficit em Transações Correntes se mantenha em
2019, em função do crescimento mais do que proporcional das importações em relação às
exportações. Os desembarques deverão responder positivamente a aceleração da atividade
econômica brasileira, incluindo o comércio de bens, serviços e rendas em comparação com 2018.
Já o crescimento das vendas externas totais deve desacelerar, uma vez que a base está bem
mais elevada e as projeções apontam para uma diminuição do volume de comércio internacional,
em razão das crescentes tensões comerciais, iniciadas por Estados Unidos e China. Ademais, a
Conta Financeira pode sofrer um movimento razoável de saída de capitais, principalmente entre
os mais voláteis, a depender da evolução do cenário externo.
Com relação à taxa de câmbio, esperamos uma apreciação modesta do Real em relação
ao Dólar no ano que vem. Isso se deve, em primeiro lugar, a aceleração da atividade econômica
em decorrência da diminuição da incerteza, assim como o avanço na agenda de reformas
proposta pelo novo governo. Contudo, a redução ainda maior do diferencial internacional de juros
pode ser um fator limitante para a queda da taxa de câmbio. A expectativa é de que o Federal
Reserve continue a elevar a taxa básica de juros americana, embora os Bancos Centrais do
Japão e da Zona do Euro sinalizaram com uma política monetária mais acomodatícia para 2019.
Em razão da crescente incerteza, acreditamos em flutuações mais intensas em comparação às
observadas nos últimos anos.
O comércio exterior do Rio Grande do Sul deve apresentar comportamentos distintos,
dependendo do tipo de mercadoria e do setor. De acordo com a CONAB, a safra mundial de soja
em grãos para 2019 deve ser a maior da história, com estimativa da produção de 120 milhões de
toneladas da commodity. A China, principal compradora do produto no Rio Grande do Sul,
sobretaxou a soja originária dos Estados Unidos em 25%, tornando a soja americana menos

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 78
atrativa em relação à brasileira e criando espaço para expansão do valor exportado desta
mercadoria no Estado. No caso dos produtos industrializados, espera-se que algumas categorias
apresentem queda nos embarques: (1) Veículos automotores, reboques e carrocerias e (2)
Máquinas e equipamentos são mercadorias que tradicionalmente fazem parte da pauta de
importação da Argentina; (3) Outros materiais de transporte, em razão de uma base de
comparação elevada. Em contrapartida, espera-se alguma recuperação dos setores de Alimentos
e Químicos, simplesmente por conta de uma base de comparação deprimida.
No cenário superior, acreditamos que a combinação da expansão econômica da
atividade brasileira e de um cenário externo estável pode ocasionar em um aumento do saldo da
balança comercial do Brasil. Consideramos ainda que a estabilidade externa será resultante do
crescimento das economias desenvolvidas, mantendo assim o fluxo de comércio internacional.
No cenário inferior, esperamos a desaceleração mais intensa do comércio internacional,
em razão do recrudescimento da guerra comercial, somada ao baixo crescimento da economia
brasileira e atraso das reformas. Sob este cenário, a expectativa é de uma leve redução do
superávit comercial, em razão da estagnação das exportações, em concomitância com o
desempenho aquém do esperado para as importações.

Tabela 5.7. Perspectivas para a taxa de câmbio


(Em R$/US$)
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Taxa de Câmbio – Desv. (%) 1,5 13,6 11,8 -0,2 -14,9
Taxa de Câmbio – Fim de período 3,31 3,76 4,20 3,75 3,20
Fonte: BCB. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Tabela 5.8. Perspectivas para as variáveis de comércio exterior – Brasil


(Em US$ bilhões)
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Exportações 216,8 235,1 235,1 244,9 252,1
Importações 150,7 172,1 175,0 181,4 185,4
Saldo Comercial 66,1 63,0 60,1 63,5 66,7
Fonte: MDIC/SECEX. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Tabela 5.9. Perspectivas para as variáveis de comércio exterior – Rio Grande do Sul
(Em US$ bilhões)
Cenários 2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Exportações 17,8 20,9 16,6 17,2 17,9
Industriais 12,6 15,2 11,6 12,4 12,9
Importações 9,9 11,7 11,5 11,9 12,4
Saldo Comercial 7,9 9,2 5,1 5,3 5,5
Fonte: MDIC/SECEX. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 79
6. INFLAÇÃO, JUROS E CRÉDITO

QUANDO A TEORIA SE CONFIRMA NA PRÁTICA

A despeito da greve dos caminhoneiros e da aceleração da taxa de câmbio durante a corrida


eleitoral, a inflação continuou baixa em 2018, apoiada na fraca atividade econômica.

A recessão em que o país mergulhou no triênio 2014-201614 enfraqueceu drasticamente a


demanda e gerou grande ociosidade na economia. Na esteira deste processo, iniciou-se em 2016
uma trajetória de desinflação, que culminou no IPCA fechando 2017 em 2,95%, o menor nível
para o encerramento anual desde 1998 e, pela primeira vez desde a introdução do regime de
metas, ficando abaixo da banda inferior da meta. O movimento foi a teoria se confirmando na
prática: a menor renda disponível na economia diminuiu a demanda agregada e forçou menores
correções nos preços.
Em 2018, houve a continuidade deste processo. Não fosse a greve dos caminhoneiros, o
IPCA teria se mantido bem abaixo da meta de inflação. Até maio, o índice acumulado nos últimos
doze meses estava em 2,85%, mas, com a variação de 1,26% somente em junho, pulou para
4,39% nesta base. Os meses seguintes, contudo, afastaram qualquer receio de que o choque
pudesse implicar em uma aceleração mais aguda da inflação. Em outubro deste ano, o IPCA doze
meses ficou em 4,56%, e deve encerrar o ano muito próximo à meta (4,50%). Nossa estimativa é
de IPCA de 4,27% no fim de 2018, o que seria um valor relativamente baixo dado os
acontecimentos de maio.
Como esperávamos no encerramento de 2017, o Banco Central do Brasil (BCB) continuou
a redução de juros em 2018. A autoridade monetária cortou em 0,25 p.p. a Selic em cada um dos
dois primeiros encontros do ano. Na reunião de maio, contudo, o mercado esperava um terceiro
corte de 0,25 p.p., que não aconteceu. Apesar da inflação baixa, o BCB entendeu que os juros
estavam suficientemente baixos para levar a inflação à meta no horizonte relevante15, encerrando
ali o ciclo de redução dos juros. Posteriormente, a greve dos caminhoneiros fez com que a
convergência para a meta tenha sido mais rápida do que o esperado, o que, de certa forma,
corroborou a posição de que novos cortes não eram necessários.
Para 2019, o nosso cenário base é de IPCA em 4,11% ao ano, perto da meta de 4,25%.
Caso haja uma retomada mais forte no crescimento, o índice pode até acelerar marginalmente,
mas não deve haver uma guinada nos preços. Os fundamentos da macroeconomia atual,
principalmente das variáveis ligadas à ociosidade dos fatores de produção (taxa de desemprego e
nível de utilização da capacidade instalada na indústria) sugerem um comportamento benigno dos
preços em 2019. Além disso, a condução da política monetária da atual gestão recuperou a
credibilidade do BCB perante aos agentes e ancorou as expectativas, o que certamente facilitará a
convergência dos preços em direção a meta.
Neste cenário benigno, é provável que o BCB mantenha os juros onde estão durante boa
parte de 2019. O nosso cenário base é de taxa Selic em 6,50% no encerramento de 2019.
Acreditamos que os riscos inflacionários são baixos e, se não houver nenhum evento
extraordinário nesse interim, não deve haver necessidade de uma subida mais rápida dos juros já

14
Embora não tenha ocorrido variação negativa do PIB em base anuais em 2014, o Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos
(CODACE) da FGV mostrou que a recessão se estendeu do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016, com variação
acumulada de -8,6% do pico até o vale.
15
O COPOM não define explicitamente qual o seu horizonte relevante de política monetária. A maioria dos artigos estima que o
impacto da política monetária se dá em até dois anos. Neiss e Nelson (2003), em um dos trabalhos mais citados nessa área de
pesquisa, apontam que o impacto mais elevado sobre a inflação ocorre seis trimestres após a decisão da política monetária.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 80
em 2019. Caso a atividade reaja muito acima do esperado, o Banco Central poderia começar um
ciclo de alta de juros menos gradual do meio para o fim do ano, o que levaria a Selic a 8,00% a.a.
no fim de 2019 visando à convergência da inflação em 2020. Contudo, esse cenário é pouco
provável. Estados e União estão sem espaço fiscal para maiores investimentos, a crise da
Argentina – um dos nossos principais parceiros comerciais – tem reduzido drasticamente a
demanda por exportações brasileiras e há o risco de desaceleração concomitante nas economias
avançadas em 2019, o que tende a reduzir as exportações. Estes fatores dificultam um estímulo
adicional da demanda16, de modo que a atividade deve continuar seu movimento cíclico, sem
maiores pressões sobre os preços.

Núcleos recuaram e expectativas estão ancoradas


O Gráfico 6.1 mostra o IPCA acumulado em doze meses e ilustra bem o que foi dito na
introdução do capítulo. É notável a intensidade da desaceleração a partir de 2015 assim como a
sua estabilização no meio de 2017. Fica evidente também o “degrau” na linha do Gráfico na
passagem de maio para junho deste ano, causa direta da greve dos caminhoneiros. Em junho,
houve variação de 1,26% no IPCA, a maior taxa para o mês desde 1995. Foi um evento bastante
atípico, que não repercutiu somente sobre os preços dos combustíveis, mas também sobre a
cadeia de alimentos em função do desabastecimento durante a greve e do tabelamento dos
fretes.

Gráfico 6.1. IPCA


(Var. % acumulada em 12 meses)
Dez/15:
10,67%

Dez/16:
6,29% Jun/18:
Dez/14: 4,39%
6,41% Dez/17:
2,95% Out/18:
4,56
Mai/18:
2,85%
out/14
jan/15

jul/15
out/15
jan/16

jul/16
out/16
jan/17

jul/17
out/17

jul/18
out/18
abr/15

abr/16

abr/17

jan/18
abr/18

Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

A Tabela 6.1 mostra isso mais claramente. Nota-se que, em comparação com 2017, houve
aceleração em alguns grupos do IPCA, em especial nos Transportes (principalmente
combustíveis) e em Alimentação e bebidas. No primeiro caso, as influências da greve dos
caminhoneiros e do aumento do preço do petróleo foram decisivas na variação, pois encareceram
os combustíveis. No segundo caso, é preciso lembrar da supersafra agrícola de 2017, que gerou
deflação nos preços dos alimentos. Com a dissipação do choque sobre os alimentos, uma leve
aceleração desse grupo do IPCA era esperada. No entanto, com o desabastecimento gerado pela
greve e o encarecimento dos fretes, ocorreu uma correção mais forte. Ressalta-se que, somente
em junho, a variação do grupo foi de 2,03%.
16
Para entender melhor estas razões, ver Capítulo 2 – Atividade.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 81
Por outro lado, a tabela aponta para desacelerações em outros grupos, com destaque para
Vestuário (roupas e calçados) e Saúde (médicos, medicamentos, higiene pessoal, por exemplo).
Na verdade, quando analisados os grupos que não foram diretamente afetados pela greve, nota-
se um comportamento mais favorável, com desinflação na maioria dos casos, o que sugere que a
aceleração do índice geral foi causada somente pelo choque dos caminhoneiros.

Tabela 6.1. IPCA Grupos e Núcleos


(Var. % anual)
Grupos
2017 2018* Evolução
ÍNDICE GERAL 2,95 4,56 Subiu
Alimentação e bebidas -1,87 3,34 Subiu
Habitação 6,28 6,55 Subiu
Artigos de residência -1,49 2,25 Subiu
Vestuário 2,89 0,84 Caiu
Transportes 4,10 7,40 Subiu
Combustíveis (veículos) 8,85 20,07 Subiu
Saúde e cuidados pessoais 6,51 5,13 Caiu
Despesas pessoais 4,38 3,18 Caiu
Educação 7,08 5,24 Caiu
Comunicação 1,75 0,02 Caiu
Núcleos
2017 2018* Evolução
Médias aparadas com suavização 3,47 3,57 Subiu
Médias aparadas sem suavização 3,03 2,70 Caiu
Dupla ponderação 3,48 3,41 Caiu
Núcleo sem administrados e alimentos (EX0) 3,14 2,61 Caiu
Núcleo por exclusão (EX1) 3,83 3,55 Caiu
Núcleo por exclusão (EX2) 2,75 2,31 Caiu
Núcleo por exclusão (EX3) 2,82 2,35 Caiu
Média dos Núcleos 3,22 2,93 Caiu
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.
*2018 é variação acumulada em 12 meses até outubro, últimos dados disponíveis.

Outra forma de ver isso é através da segunda parte da Tabela 6.1, que traz os núcleos de
inflação calculados pelo Banco Central. O núcleo de inflação, também denominado de inflação
subjacente, é uma medida que procura captar a tendência dos preços. Desconsidera, portanto, os
distúrbios resultantes de choques temporários. Observa-se que, em comparação com a variação
acumulada em 12 meses de dezembro de 2017, houve queda em seis dos sete índices
subjacentes calculados pelo Banco Central, o que reforça a percepção de um comportamento
benigno da inflação.
Os núcleos estão em níveis historicamente baixos. O Gráfico 6.2 apresenta os últimos dez
anos para três dos índices subjacentes disponíveis. Dois fatos ficam muito evidentes. Primeiro,
observa-se um recuo expressivo em todos os núcleos a partir do final de 2015 e do início de 2016,
acompanhando a recessão. Segundo, houve uma estabilização na inflação nos meses mais
recentes, o que indica que a inflação medida pelo IPCA deve ter parado de cair. Nota-se que não
há indicação de reversão no fim da amostra, mesmo com a greve dos caminhoneiros.
Diante desse cenário, as expectativas para os próximos períodos se encontram bem
ancoradas. O Gráfico 6.3 mostra a mediana das expectativas dos agentes coletadas pelo Boletim
Focus do Banco Central. Tanto as expectativas de inflação para 2019 quanto às projeções para
2020 se encontram ancoradas, isto é, próximas de suas metas de 4,25% a.a. e 4,00% a.a.,

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 82
respectivamente. Esse é um dos legados da gestão atual do Banco Central, que recuperou a
credibilidade do compromisso da instituição com inflação baixa, facilitano a convergência da
inflação em direção à meta.

Gráfico 6.2. Núcleos do IPCA Gráfico 6.3. Expectativas para o IPCA


(Variação % acumulada em 12 meses) (Variação % anual)
9,5 5,0

7,5 4,5

5,5 4,0

3,5 3,5

1,5 3,0

jan/18

fev/18

mar/18

set/18

out/18
mai/18

ago/18
abr/18

jul/18
out/08

out/14
out/09

out/10

out/11

out/12

out/13

out/15

out/16

out/17

out/18
Médias sem suavização EX0 EX3 IPCA 12 meses à frente IPCA 2019 IPCA 2020

Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: Boletim Focus BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

A teoria se confirmando na prática


Em 2017, o choque de oferta dos alimentos puxou para baixo a maioria dos indicadores de
inflação no Brasil, dificultando a percepção de real magnitude da desinflação. A deflação nos
preços dos alimentos pressionou os índices para baixo, confundindo o entendimento do que era
desinflação de fato e o que era fruto do choque dos alimentos no recuo do IPCA. Em 2018,
entretanto, não houve um fato exógeno que “explicasse” os preços para baixo. Pelo contrário,
predominaram os choques altistas sobre os índices, como a greve dos caminhoneiros e a corrida
do câmbio durante as eleições17. Mesmo assim, como foram mostrados, os núcleos de inflação se
reduziram.
A explicação por trás desse fenômeno deriva do mercado de trabalho e da
macroeconomia. William Phillips, economista neozelandês, demonstrou um dos principais fatos
estilizados da teoria econômica, a chamada Curva de Phillips. A curva mostra que existe, no curto
prazo, um trade-off entre inflação e desemprego.
O canal de transmissão entre inflação e desemprego decorre da menor renda disponível
na economia quando há maior desocupação. Isso acontece por diversas razões, seja porque
menos empregos são criados ou porque os empregos criados pagam menores salários. O
resultado é a menor demanda por bens e serviços.
Como se sabe, quanto menor a demanda, menor é o poder das empresas em aumentar
seus preços e maior é a competição entre as mesmas nesse mercado reduzido. Isso gera
incentivo para que diminuam seus preços com o objetivo de elevar a demanda por seus produtos.
Sob esta lógica, portanto, maiores taxas de desemprego devem implicar em menores taxas de
inflação. Foi exatamente isso que aconteceu nos últimos dois anos. A recessão de 2014-2016
trouxe elevada ociosidade no mercado de trabalho, o que teve impacto decisivo sobre os preços
ao consumidor.
Entre os itens da cesta de consumo, o desaquecimento do mercado de trabalho tende a se
manifestar mais claramente sobre os Serviços (por exemplo, atendimento médico, salão de

17
Para saber mais, ver Capítulo 5 – Setor Externo e Câmbio.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 83
beleza, seções de cinema, alimentação fora de casa, serviços domésticos, transporte etc.)
relativamente aos demais bens da economia. Isso acontece basicamente por três razões.
Primeiro, porque costumam ser mais intensivos em mão-de-obra do que as atividades do setor
primário e secundário. Logo, uma redução na taxa de desemprego gera pressão sobre os salários
e, consequentemente, sobre os custos das firmas, o que encarece o preço final. Depois, porque
são produtos que não podem ser comercializados com outros países, de modo que tendem a
responder mais as condições de oferta e demanda interna. Quando um indivíduo nota, por
exemplo, que os restaurantes em que almoça no intervalo do trabalho estão mais caros, ele não
pode optar por comer em outra cidade ou em outro país. Dessa forma, com o aumento do
emprego e da demanda na economia, existe uma pressão mais evidente sobre os preços deste
bem. Um terceiro fator que ajuda a entender porque os preços do setor terciário respondem mais
ao ciclo econômico é que, quanto maior é a renda disponível, maior é o gasto proporcional em
serviços na economia. Para entender isso, basta pensar em uma família que entra em dificuldade
financeira. Geralmente, os primeiros cortes são feitos sobre os gastos de lazer (restaurantes,
cinema etc). Isto é, alguns serviços tendem a ser menos essenciais para as famílias, o que faz
com que sejam menos demandados quando há maior restrição financeira.
Esses fatores em conjunto explicam a desinflação dos serviços em consequência da crise.
No Gráfico 6.4, observa-se a elevação da taxa de desemprego na passagem de 2014 para 2015
em resposta a recessão. Considerando a média móvel em doze meses, que expurga as
sazonalidades, o percentual de desocupados saiu de 6,8% no fim de 2014 para 12,8% em outubro
de 2017. Acompanhando esse movimento, a inflação dos serviços caiu vertiginosamente, tendo
atingido o menor valor em quase vinte anos no último mês de outubro (3,03% na variação
acumulada em 12 meses).
O Gráfico 6.4 também evidencia a correlação negativa entre a taxa de desemprego e a
inflação de serviços no Brasil, que, na amostra, chega a -0,78. Nota-se que, durante a primeira
metade da década atual, quando a desocupação foi mais baixa, a inflação dos Serviços foi
persistentemente mais alta, só vindo a cair com o arrefecimento do mercado de trabalho.

Gráfico 6.4. Desemprego e inflação de Gráfico 6.5. Esboço de uma Curva de Phillips
serviços no Brasil
(MM12 para desemprego e variação % acumulada para (MM12 para desemprego e variação % acumulada para
inflação) inflação – Dez/03 até Out/18)

14,0 IPCA 9,0


(Inflação Serviços (t+6))

Taxa de desemprego
11,0 7,7

8,0 6,4

5,1
5,0
3,8
2,0
dez/04

mar/11

mar/16
dez/09

dez/14
jun/07

jun/12

jun/17
mar/06

set/08

set/13

set/18

2,5
6,0 8,0 10,0 12,0 14,0
(Taxa de Desemprego)
Fonte: IBGE e BCB. Taxa de desemprego é uma interpolação Fonte: IBGE e BCB. Taxa de desemprego é uma interpolação
entre a PME e a PNAD Contínua, feita pela FIERGS/UEE. entre a PME e a PNAD Contínua, feita pela FIERGS/UEE.

Para melhor ilustrar o argumento, o Gráfico 6.5 esboça uma Curva de Phillips para o
período analisado. A figura relaciona a taxa de desemprego com a inflação de serviços 6 meses à
frente, complementando a análise do Gráfico 6.4. No eixo vertical, está a inflação de serviços e no

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 84
eixo horizontal a taxa de desemprego. Nesse sentido, a linha pontilhada representa um esboço de
uma Curva de Phillips. Como preconizado pelo economista William Phillips, ela é negativamente
inclinada, expressando o trade-off de curto prazo entre inflação e corroborando os argumentos
expostos nessa seção.
Em função do seu peso no IPCA (36%), a desinflação global tem sido fortemente
influenciada pelos Serviços. Contudo, a inflação de outras categorias de produtos também caiu
durante a crise. Os bens produzidos pela indústria (correspondem a 23% do IPCA) também se
desinflacionaram em decorrência da recessão, tendo atingido seu mínimo histórico em agosto de
2017 (0,73% na variação acumulada em 12 meses). Desde então esse componente vem subindo
devagar, mas ainda continua baixo, tendo chegado a 2,02% em outubro deste ano.
As razões desse declínio são análogas a Curva de Phillips para o mercado de trabalho. As
indústrias têm operado com baixos níveis de utilização da capacidade instalada, revelando uma
demanda fraca por seus produtos, o que, consequentemente, pressiona os preços para baixo.
Esses dois fatos estão bem ilustrados nos Gráficos 6.6 e 6.7. Nota-se que o IPCA dos bens
industriais “andou junto” do nível de utilização da capacidade instalada durante a crise.

Gráfico 6.6. Utilização da Capacidade Gráfico 6.7. IPCA Bens Industriais


Instalada (Variação % acumulada em 12 meses)
(Em % da capacidade instalada)
87,0 7,5

84,0 6,0

81,0 4,5

78,0 3,0

75,0 1,5

72,0 0,0
out/14

out/15

out/16

out/17
jun/14

fev/15
jun/15

fev/16
jun/16

fev/17
jun/17

fev/18
jun/18
out/18
jan/15
jan/12

jan/13

jan/14

jan/16

jan/17

jan/18
jul/12

jul/17
jul/13

jul/14

jul/15

jul/16

jul/18

UCI - FGV (MM12) UCI - CNI - Dessasonalizado


Fonte: IBGE e BCB. Taxa de desemprego é uma interpolação entre Fonte: IBGE e BCB. Taxa de desemprego é uma interpolação
a PME e a PNAD Contínua, feita pela FIERGS/UEE. entre a PME e a PNAD Contínua, feita pela FIERGS/UEE.

A ociosidade industrial também indica que, na média, não haverá a necessidade de


maiores investimentos para a ampliação do parque industrial no curto prazo, o que gera
perspectivas de demanda mais baixas em outros setores e projeções relativamente menores para
a inflação como um todo.
Podemos estender a teoria por trás da Curva de Phillips para toda a economia através do
conceito de hiato do produto. O hiato do produto é a diferença entre o produto observado e o
produto potencial. Dessa forma, quando o hiato é positivo, significa que a economia está
crescendo acima do seu potencial e, quando negativo, é porque a economia está abaixo do
potencial.
Define-se o produto potencial como o nível de produto que determinada economia é capaz
de produzir sem que haja aceleração da inflação. Assim, quando se produz mais do que o produto
potencial, há um sobreaquecimento da economia, o que gera o recrudescimento de pressões
inflacionárias. Por outro lado, quando uma economia produz menos do que seu produto potencial,
a demanda agregada se reduz e a inflação desacelera.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 85
O Gráfico 6.8 apresenta o hiato do produto defasado e o desvio do IPCA em relação à
meta. Ou seja, ele relaciona o hiato do produto observado no ano anterior com eventuais desvios
da inflação em relação à meta em decorrência do hiato. É interessante notar, primeiramente,
como os desvios da meta são majoritariamente positivos. Isto é, a inflação tem ficado
persistentemente acima da meta nos últimos 15 anos, o que ajuda a explicar o porque temos
ainda uma das maiores taxa de juros nominais do mundo.
A curva do hiato do produto, por sua vez, mostra a magnitude da última recessão, que
levou o PIB a ficar 6% abaixo do seu nível potencial.
Mas o ponto mais relevante para nossa análise é a correlação entre as duas variáveis.
Pela amostra, observa-se que, quando o hiato se eleva, a inflação sobe no período seguinte e
quando ele se reduz, a inflação cai. Apenas em 2015 o sentido do movimento das variáveis não
foi o mesmo. Cabe lembrar que a inflação acelerou naquele ano essencialmente por conta do fim
do represamento de preços (principalmente nos administrados energia elétrica e combustíveis).

Gráfico 6.8. Hiato do Produto (t-1) e Desvios da Meta de Inflação


(Var. % anual)
8
6
4
2
0
-2
-4
Desvios do IPCA em relação à meta
-6 Hiato do Produto (t-1)
-8 2018*
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017

Fonte: IBGE e BCB. Cálculos FIERGS/UEE.


*2018 é a diferença entre variação acumulada em 12 meses até outubro e a meta de inflação.

Em conjunto, essas análises mostraram que a desinflação dos últimos anos esteve
fundamentada na grande ociosidade deixada pela crise, tanto no mercado de trabalho quanto na
indústria. Essa lógica, portanto, corrobora nossa visão de que a inflação em 2019 deve continuar
em trajetória benigna. Acreditamos que é improvável uma aceleração da atividade em magnitude
suficiente para pressionar os índices de preços no ano que vem.
Sabe-se que as expectativas dos agentes são um canal muito importante na propagação
de choques inflacionários. Nesse sentido, as expectativas de inflação ancoradas próximas à meta
diminuem o risco e sustentam nossas projeção de inflação baixa para o próximo período. Dessa
forma, projetamos IPCA em 4,11% no fim de 2019, abaixo da meta de inflação.

Fim do ciclo expansionista e perspectivas para os juros


Como esperado no fim de 2017, o Banco Central (BCB) continuou a redução de juros em
2018, cortando em 0,25 p.p. a Selic em cada um dos dois primeiros encontros do ano. Na reunião
de maio, contudo, o mercado se frustrou à espera de um terceiro corte que não aconteceu. Apesar

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 86
da baixa inflação, o BCB entendeu que os juros estavam suficientemente baixos para levar a taxa
à meta no horizonte relevante, encerrando ali o ciclo de redução dos juros. Posteriormente, a
greve dos caminhoneiros fez com que a convergência para a meta tenha sido mais rápida do que
o esperado, o que, de certa forma, corroborou a posição de que novos cortes não eram
necessários.
O risco inflacionário mais mencionado ao longo de 2018 foi o câmbio. De fato, a taxa de
câmbio subiu durante boa parte do ano, o que levou a autoridade monetária a monitorar mais de
perto os riscos externos na tentativa de controlar o efeito pass-through (o repasse da
desvalorização cambial para os demais preços da economia). É provável que a decisão de não
cortar os juros na reunião de maio tenha sido causada justamente pela noção de que o cenário
externo piorara, o que exigia maior grau de pragmatismo na ocasião. De fato, esse risco
aumentou em setembro e outubro com a escalada da taxa de câmbio (bateu recordes
históricos)18. Entretanto, com a definição eleitoral, houve uma forte correção do câmbio apoiada
na percepção dos agentes de que o candidato eleito seria, entre os dois concorrentes do segundo
turno, o mais comprometido com as reformas. Evidentemente, com o câmbio mais baixo, o risco
de pass-through se reduziu.
Em função disso, nossa perspectiva para a política monetária é de manutenção da taxa
Selic. A inflação está baixa e recuperação da economia é muito lenta.
Mesmo que haja uma desvalorização cambial ao longo de 2019, que poderia ser causada,
por exemplo, por uma eventual inabilidade de aprovação de reformas essenciais para a solvência
fiscal no Congresso, ou por uma piora significativa no cenário internacional que desvalorize o
Real, acreditamos que o impacto do câmbio na inflação se daria somente no fim do ano ou talvez
em 2020. Isso porque, entendemos que a fraca atividade reduziria esse efeito nesse cenário. Por
isso, acreditamos em uma taxa de juros estável em 2019, com um leve viés de alta no fim do ano.
Fazendo um exercício de projeção para períodos mais à frente (2020 em diante), parece
inevitável que haja um aumento da taxa Selic. Atualmente, o diferencial de juros entre a Selic e os
fed funds (os títulos do tesouro americano) é o mais baixo desde a implantação do regime de
metas de inflação, o que reduz o prêmio de investimento no Brasil. Com o aumento gradual dos
juros nos EUA, esse spread ficará ainda menor. Isso tende a significar fuga de capitais em direção
aos EUA, pressionando a taxa de câmbio brasileira19.

Gráfico 6.9. Expectativa de taxa Selic do Focus


(Em taxa anual fim – Fim do período)

8,00
7,50
7,25
7,00
6,50
13/07/2019
27/07/2019
10/08/2019
24/08/2019
07/09/2019
01/12/2018
15/12/2018
29/12/2018
12/01/2019
26/01/2019
09/02/2019
23/02/2019
09/03/2019
23/03/2019
06/04/2019
20/04/2019
04/05/2019
18/05/2019
01/06/2019
15/06/2019
29/06/2019

21/09/2019
05/10/2019
19/10/2019
02/11/2019
16/11/2019
30/11/2019
14/12/2019
28/12/2019

Fonte: BCB. Cálculos FIERGS/UEE.

18
Para saber mais, ver Capítulo 5 – Setor Externo e Câmbio.
19
Para saber mais, ver Capítulo 5 – Setor Externo e Câmbio.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 87
Ao mesmo tempo, crescem os riscos de desaceleração da economia global, o que
diminuiria o apetite de risco em relação aos emergentes. Com isso, o câmbio poderia sofrer uma
maior depreciação o que, no limite, implicaria em aumento de juros, principalmente se houver uma
melhora concomitante da demanda interna.
Essa visão se expressa nas projeções dos participantes do Boletim Focus. De acordo com
a mediana das expectativas, haveria uma elevação já no meio do ano que vem na taxa Selic, que
passaria para 7,00% a.a. O mercado acredita que ocorreriam aumentos a partir dali, e que a Selic
chegaria em 8,00% a.a. ao fim de 2018.
Nós, por outro lado, não acreditamos em um aumento tão rápido. Nosso cenário base é de
manutenção da taxa em 6,50% a.a. durante todo o ano de 2019, em linha com as últimas
sinalizações do COPOM, que reconheceu que os riscos se tornaram menos assimétricos no
sentido de alta.
Deve ser considerado que, com a já anunciada mudança na presidência do banco a partir
de 2019, fica difícil precisar como será a transição da condução da política monetária. O atual
presidente, Ilan Goldfajn, tem perfil acadêmico, de um macroeconomista por excelência. Já seu
substituto, Roberto Campos Neto, é um nome mais ligado às operações do dia-a-dia do mercado
financeiro. Eventualmente, isso poderia significar inflexões na política monetária.

Resposta do crédito pessoa jurídica e troca de guarda na composição do crédito

O mercado de crédito acelerou em 2018, puxado pela concessão de crédito livre às


pessoas jurídicas e a continuidade da retomada nas concessões às famílias. No acumulado no
ano até setembro, as concessões de crédito subiram 8,3% em relação ao mesmo período do ano
passado, com o crédito livre subindo 9,7% e o direcionado caindo 5,8%.
Esse quadro é parecido com o do fim do ano passado, quando houve crescimento de 1,2%
nos livres e queda de 10,7% no direcionado. A diferença está na velocidade de expansão do
crédito livre, que aumentou consideravelmente em 2018. A categoria fechou 2017 caindo 3,8%,
mas, no acumulado no ano até setembro, apresentou a variação de 14,2%, o que mostra que
houve uma expressiva reversão da queda. Essa é a maior taxa nessa base de comparação desde
o início da série iniciada em 2012. No crédito livre para as pessoas físicas, a aceleração não foi
tão grande assim. Houve um aumento marginal na taxa de crescimento, que terminou 2017 em
5,3% mas que, em setembro de 2018, foi de 6,4%.

Tabela 6.2. Concessões de Crédito por modalidade


(Acumulado de jan-set – Em R$ bilhões constantes – out/17)
Var. (%)
2017 2018
real
Livre 2.279,7 2.501,3 9,7
Pessoa Física 967,7 1.104,9 14,2
Pessoa Física 1.312,0 1.396,4 6,4
Direcionado 244,8 230,5 -5,8
Total Direcionado PJ 106,8 91,3 -14,5
Total Direcionado PF 138,0 139,2 0,9
Total 2.523,6 2.731,8 8,3
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.

O mercado de crédito dá sinais de uma saída mais consistente da crise. Isso fica evidente
quando se analisa o Gráfico 6.10, que apresenta o saldo da carteira de crédito em percentual do
PIB. Observa-se como o saldo com recursos livres respondeu após quase cinco anos de queda,

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 88
chegando a 24,7% do PIB em setembro de 2018. O saldo de crédito com recursos direcionados,
por sua vez, continuou caindo, em função da crise fiscal e da incapacidade do governo em
continuar financiando o crédito na economia. Dessa forma, a participação do saldo com recursos
livres em relação ao total tem aumentado em detrimento da redução da carteira de crédito
direcionado. Em 2017, o crédito livre, que encerrou o ano respondendo por 51,3% do total da
economia, subiu para 52,9% a sua participação no último mês de setembro.

Gráfico 6.10. Saldo da carteira de crédito Gráfico 6.11. Saldo de crédito livre
(Em % do PIB) (Em participação % do saldo total)
29 28
27 27 27
28
27 27 66,5 67,5
25 24,3 24,7 63,6
61,6 60,5
23 26 58,9
25 25 55,5
23 23,1
21,9 52,2 52,9
20 50,9 50,1 51,3
18
17
12 16
Livre Direcionado
13
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018

2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. *2018 é o observado em Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. *2018 é o observado em
setembro. setembro.

Em função da expansão do crédito, é pertinente verificar a trajetória do endividamento e do


comprometimento da renda das famílias. As estatísticas disponíveis continuam mostrando uma
desalavancagem das famílias, o que deve favorecer o consumo e a atividade no ano que vem.
Diferentemente do período de crise, o endividamento não deve ser um entrave ao crescimento.
Além disso, a redução da inadimplência de famílias e empresas apoia a noção de que houve uma
melhora substancial nas condições de crédito da economia.

Gráfico 6.12. Endividamento e Gráfico 6.13. Inadimplência


Comprometimento (Em % do total)
(Em % da renda)

47 24 5 6

45 23 4 5
22 4
43 3
21 3
41 2
20 2
39 19 1 1
37 18
0 0
jul/12

jul/14

jul/16

jul/18
mar/11
nov/11

mar/13

mar/15

mar/17
nov/13

nov/15

nov/17

jan/17
out/11

jul/13
dez/12

abr/15
mar/11

mai/12

fev/14
set/14

nov/15
jun/16

ago/17
mar/18

Endividamento Comprometimento (eixo dir.) PJ PF (eixo dir.)


Fonte: BCB. Fonte: BCB.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 89
Perspectivas para 2019

Em 2018, a inflação teve o comportamento esperado. Não fosse a greve dos


caminhoneiros, o IPCA teria se mantido bem abaixo da meta de inflação, como mostra o
comportamento desinflacionário dos núcleos de inflação. Nossa expectativa para o fechamento de
2018 é de IPCA em 4,27%.
Em nosso cenário base para 2019, o IPCA se mantém baixo, encerrando o ano em 4,11%,
muito próximo da meta (4,25%). Na construção dessa projeção, foi ponderado principalmente a
ociosidade dos fatores de produção (conforme discutidas ao longo do texto) e a taxa de câmbio
relativamente comportada. Esse contexto abre a possibilidade de continuação da recuperação
cíclica da economia sem maiores recrudescimentos inflacionários.
Apoiado nisso, acreditamos que o Banco Central irá manter a taxa Selic no patamar atual,
com um leve viés de alta caso haja uma recuperação acima do esperado que ameace a
convergência da meta de inflação em 2020. A não ser que ocorra um evento extraordinário, tal
qual foi a greve dos caminhoneiros, o cumprimento da meta em 2019 não deve ser problema.
Isso, na nossa visão, só levaria o Banco Central a subir os juros buscando a meta de 2020. Deve
ser ressaltado, contudo, que a mudança na presidência do banco sempre traz um risco de inflexão
na política monetária o que, nesse caso específico, aumenta até pelos perfis distintos de Ilan
Goldfajn e Roberto Campos Neto. Mas, acreditando em uma transição suave, mantemos nossa
posição.
Dado os imensos desafios ao crescimento, não é absurdo considerar um cenário inferior
em que a atividade não se recupere conforme o esperado. Isso poderia acontecer, por exemplo,
por causa de uma frustração com o não andamento das reformas. Levando isso em consideração,
a inflação desaceleraria, o que proporcionaria espaço para uma política monetária mais frouxa.
Da mesma forma, podemos considerar um cenário antagônico, em que o crescimento se
daria de forma mais robusta, impulsionado pelo novo governo emplacando as reformas
necessárias e o cenário externo se mantendo favorável. Isso empurraria a inflação para níveis
mais elevados, obrigando a autoridade monetária a aumentar a Selic mais rapidamente. Nesse
contexto, a meta da taxa básica poderia terminar o ano próxima dos 8,00% a.a.

Tabela 6.3. Perspectivas para 2019


(Em % a.a.)
2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
IPCA 2,95 4,27 3,20 4,11 5,33
INPC 2,10 3,96 2,92 3,43 4,88
IGP-M -0,50 8,98 2,43 4,27 7,36
Taxa SELIC (meta, fim de período) 7,00 6,50 6,25 6,50 8,00
Fonte: IBGE. FGV. BCB. * Estimativa: FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 90
7. POLÍTICA FISCAL

ESPERANDO AS REFORMAS

Chegamos ao 5º ano consecutivo de déficit primário do Setor Público Consolidado.


O resultado deverá ser melhor do que a meta em 2018, mas, sem reformas que equacionem a
questão previdenciária e deem maior flexibilidade para a fixação de despesas, as contas irão
permanecer no vermelho por mais tempo.

Acompanhar as finanças públicas tem sido uma tarefa desgastante. Temos sido repetitivos
em ressaltar os sucessivos déficits primários, o crescimento assombroso da despesa primária, a
trajetória galopante da dívida pública, a margem reduzida para investimentos públicos, a rigidez
orçamentária excessiva e a consequente insustentabilidade fiscal.
Neste Balanço 2018 & Perspectivas 2019, mais uma vez, chamamos atenção para alguns
dos desafios fiscais que ainda temos que enfrentar se quisermos colocar as finanças públicas nos
eixos.
Acreditamos que o Setor Público Consolidado apresentará déficit primário de 1,5% do PIB
no fechamento de 2018, abaixo da meta para este ano (2,2% do PIB) e inferior ao registrado em
2017 (1,7% do PIB). Mesmo que haja uma melhora de curto prazo, causada pela elevação da
arrecadação tributária com a recuperação cíclica da economia e de algumas receitas atípicas, o
problema é estrutural. O governo eleito parece mais comprometido com o fiscal. Contudo, quando
se trata da administração pública e da dificuldade de realizar o ajuste necessário, devemos ter
sempre um pé atrás.
Para 2019, o cumprimento da meta de 1,75% de déficit também não deverá ser problema.
O teto dos gastos será mantido de forma que o aumento das receitas levará gradualmente a um
déficit mais contido. Projetamos primário negativo em 1,3% do PIB no fim do próximo ano, em
nosso cenário base. Com isso, a dívida pública deve continuar se expandindo, com a DBGG
chegando a 78,5% do PIB em nosso cenário base para o encerramento de 2019, valor muito
elevado para o padrão dos emergentes. Só haverá a contenção desse avanço com o retorno do
superávit primário.
A situação é ainda mais complicada para o Rio Grande do Sul. O Estado ainda não aderiu
ao Regime de Recuperação Fiscal, portanto os atrasos nos pagamentos de servidores e
fornecedores, que marcaram os últimos exercícios, tendem a continuar em 2019. A causa disso é
um crescimento desproporcional das despesas ao longo dos anos, gerando seguidos déficits
orçamentários e estrangulando o fluxo de caixa. Se o Rio Grande do Sul fosse uma empresa, já
teria fechado suas portas há tempos.
É difícil enxergar um horizonte positivo para as finanças gaúchas. O Estado está com os
limites da Lei Responsabilidade Fiscal para a dívida consolidada líquida e despesa com pessoal
estourados, um rombo previdenciário astronômico e ainda depende da postergação das alíquotas
de ICMS majoradas para se financiar. Se nada for feito para modificar o comportamento da
despesa, a situação só tende a piorar em função da questão demográfica e do aumento do
número de servidores inativos.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 91
Setor Público Consolidado
Considerando os dados disponíveis até a elaboração deste documento, observou-se uma
melhora nos indicadores de curto prazo. O déficit primário do Setor Público Consolidado20 no
acumulado de janeiro a setembro deste ano foi de R$ 59,3 bilhões, o que representa uma redução
em relação aos R$ 85,9 bilhões verificados no mesmo período de 2017 (à preços constantes).
Decompondo o resultado, nota-se que a melhora é fruto de dois movimentos: (i) a redução
do déficit do Governo Central21 (de R$ 105,7 bilhões para R$ 76,9 bilhões); e (ii) a expansão do
superávit das empresas estatais (de R$ 1,2 bilhões para R$ 3,3 bilhões). No primeiro caso, a
melhora do superávit do Governo Federal foi fundamental, já que o déficit do INSS cresceu de R$
148,6 bilhões no acumulado até setembro de 2017 para R$ 157,1 bilhões no mesmo período
deste ano. No caso das estatais, a melhora se deu tanto em nível federal quanto nos entes
subnacionais. Assim, a influência da redução do superávit dos governos regionais sobre o
resultado do setor público consolidado foi compensada. Tais números podem ser observados na
Tabela 7.1.

Tabela 7.1. Resultado Primário do Setor Gráfico 7.1. Resultado Fiscal do Setor Público
Público Consolidado Consolidado
(Acumulado no ano jan-set – Em R$ bilhões constantes (Em % do PIB)
– IPCA set/18)
2017 2018
2,2 1,8 -0,6 -1,3
Governo Central -105,7 -76,9 -1,9 -1,7
-2,5
Federal -105,0 -76,4 -4,5 -4,8
-5,6
Federal s/ INSS 43,6 80,6 -6,1 -5,9
INSS -148,6 -157,1 -2,3 -3,1 -8,4 -6,5
Banco Central -0,7 -0,5 -6,2
-7,8 -7,2
Estados 14,4 11,7 -9,0
-10,2
Municípios 4,3 2,6
2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018*
Empresas Estatais 1,2 3,3
Federais -0,5 0,8
Estaduais 1,7 2,3 Primário Juros Nominais Nominal
Municipais 0,0 0,1
Setor Público Consolidado -85,9 -59,3
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. Para 2018, o resultado é o
acumulado em 12 meses até setembro.

Como esperado, a saída da recessão tem gerado uma melhora gradual nos resultados
primários. O Gráfico 7.1 apresenta o resultado acumulado em 12 meses em percentual do PIB.
Nota-se que o déficit se estabilizou no meio do ano passado, terminando 2017 em 1,7% do PIB
(R$ 110,5 bilhões), abaixo da meta de 2,4% (R$ 163,1 bilhões) definida pela LDO. Em setembro
de 2018 (último dado), o valor caiu para 1,3% do PIB, e a expectativa é que essa tendência
continue nos próximos meses. Isso acontece porque a elasticidade das receitas às variações na
atividade econômica é maior do que um, o que implica que quando o PIB cresce 1,0%, por
exemplo, a arrecadação de tributos cresce em uma taxa maior. Dessa forma, a tendência é que o
déficit primário caia no curto prazo, em resposta a recuperação cíclica da economia.
Os juros nominais também recuaram na comparação com 2017. A causa mais imediata foi
o ciclo de redução da taxa Selic, que tem diminuído gradualmente o custo da dívida pública. Nos

20
O Setor Público Consolidado é composto pelo setor público não financeiro do país. Entram na conta, portanto, Governo Federal (com
INSS), Governos Regionais, Empresas Estatais regionais e federais (sem contar Eletrobrás e Petrobrás) e o Banco Central.
21
O resultado do Governo Central é composto do resultado agregado do Governo Federal (com INSS) e do Banco Central.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 92
últimos meses, contudo, houve uma piora marginal em decorrência da desvalorização cambial de
setembro e do aumento nos juros pré-fixados com os riscos eleitorais.
Com isso, o resultado nominal continuou a sua tendência de melhora. Após atingir incríveis
10,7% do PIB no auge da recessão em 2016, o déficit foi de 7,2% do PIB no acumulado em 12
meses até setembro deste ano.

Dívida Pública
Em decorrência dos déficits primários recorrentes, a dívida pública manteve sua escalada
em 2018. Após fechar 2017 em 74,0% do PIB, a Dívida Bruta do Governo Geral22 (DBGG)
acelerou para 77,2% do PIB em 2018, segundo o último dado disponível (setembro). Entre as
principais causas da aceleração no ano estão a incorporação de juros nominais (aumento de 4,6
p.p.), o efeito da desvalorização cambial (aumento 0,9 p.p.), as emissões líquidas da dívida
(aumento de 0,4 p.p.) e o crescimento do PIB nominal (redução de 2,5 p.p.).
A Dívida Líquida do Setor Público não financeiro (DLSP), por sua vez, avançou 0,6 p.p. do
PIB em relação ao fim de 2017. Com isso, a DLSP saiu de 51,6% do PIB em dezembro de 2017
para 52,2% do PIB em setembro de 2018. Esse avanço até setembro refletiu, essencialmente, a
incorporação de juros nominais (aumento de 4,5 p.p.), o déficit primário (aumento de 0,9 p.p.), o
efeito da desvalorização cambial acumulada de 21% (redução de 3,1 p.p.) e o efeito do
crescimento do PIB nominal (redução de 1,8 p.p.).
Nota-se aqui uma questão interessante: enquanto a desvalorização do câmbio ao longo do
ano contribuiu para retardar o avanço da DLSP, ela influenciou positivamente a DBGG. Isso
aconteceu por causa do efeito que a desvalorização cambial tem sobre o cálculo das reservas
internacionais (em dólares). Quando ocorre uma depreciação do Real, o valor das reservas em
moeda nacional aumenta. Isso implica em redução da DLSP, um conceito líquido que, por
definição, desconta os ativos públicos do passivo bruto. Já no caso da DBGG, não entram no
cômputo os ativos do governo. Logo, a desvalorização cambial gera apenas um aumento na
dívida pública indexada ao dólar23.

Gráfico 7.2. Dívida Pública Gráfico 7.3. Comparação internacional – 2017


(Em % do PIB) (DBGG em % do PIB – Conceito FMI*)
77,2
DBGG 105,4
DLSP
74,0
74,0
52,1 52,2
49,6 49,0 45,3
51,6
34,7
set/13

set/15
mar/16

mar/18
set/11
mar/12
set/12
mar/13

mar/14
set/14
mar/15

set/16
mar/17
set/17

set/18

Países Brasil Emergentes Países América


avançados no G-20 emergentes Latina

Fonte: BCB. Fonte: FMI e BCB apud. Apresentação da Secretária do Tesouro


Nacional em 19/07/2018, no Seminário da IFI. * Por opção, a DBGG
mostrada no Gráfico foi calculada segundo a metodologia do FMI, a
exceção da dívida brasileira, cuja metodologia utilizada foi a do
BCB, visando a coerência com o valor da DBGG apresentado no
Gráfico anterior.

22
O Governo Geral é composto do Governo Federal (com INSS) e dos Governos Regionais.
23
Para uma discussão acerca do nível adequado de reservas internacionais, ver o Capítulo 5 – Setor Externo e Câmbio.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 93
Como bem ilustrado pelo Gráfico 7.2, a dívida pública continuou sua expansão em 2018. É
pertinente, diante desse contexto, comparar o tamanho da dívida bruta brasileira com o dos
demais países do mundo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) disponibiliza algumas
estatísticas à respeito, que estão resumidas no Gráfico 7.3. Nota-se que a DBGG no Brasil é bem
mais alta do que nos demais emergentes e nos pares latino-americanos. Na média, estes tinham
dívidas abaixo de 50% do PIB em 2017.
É importante ressaltar que as DBGGs mostradas no Gráfico 7.3 foram calculadas segundo
a metodologia do FMI. No caso da dívida brasileira, optou-se por utilizar a metodologia do BCB24,
apenas para manter a coerência com o valor da DBGG apresentado no Gráfico 7.2. No cálculo da
DBGG tal qual a metodologia do FMI, a DBGG brasileira encerrou 2017 em 83,1% do PIB, o que
deixa o Brasil ainda pior na comparação. Nesse sentido, observa-se que a nossa DBGG está bem
mais próxima do padrão das economias avançadas do que dos demais emergentes.

Governo Central
Em função da elevada participação do Governo Central25 no resultado do Setor Público
Consolidado, é imprescindível analisar como se comportaram as principais rubricas de receitas e
despesas em 2018.
Sob o conceito acima-da-linha, que calcula o resultado primário a partir do cotejamento das
receitas e despesas primárias, o Governo Central foi deficitário em R$ 82,1 bilhões no acumulado
até setembro deste ano (a preços constantes). Como mostra a Tabela 7.2, O rombo é
consideravelmente menor do que o verificado no mesmo período do ano passado, quando o
déficit foi de R$ 114,1 bilhões.
A melhora decorreu da expansão da receita líquida em taxa superior à despesa primária
total (5,9% contra 2,3%). No âmbito da receita, o aumento é natural na medida em que ocorreu
aumento da base tributária com a melhora da atividade. No entanto, alguns fatores fizeram com
que a receita fosse ainda maior: (i) elevação do PIS/COFINS sobre os combustíveis em julho de
2017; (ii) elevação de R$ 5,1 bilhões relativa ao Programa de Regularização Tributária ‐ PERT,
cujo efeito está distribuído em diferentes rubricas de arrecadação (Imposto de Renda, IPI,
COFINS e CSLL), PRT e demais parcelamentos da Dívida Ativa; (iii) elevação da taxa de câmbio
média, que impactou decisivamente a arrecadação com importação; (iv) elevação atípica das
receitas não administradas pela Receita Federal (RFB) devido a desvalorização cambial, a
elevação do preço internacional do petróleo no período e das receitas com a 15ª rodada de
concessão de petróleo e gás e da 4ª rodada de partilha do pré-sal.
Pelo lado da despesa, houve o crescimento de 8,9% das despesas discricionárias de todos
os poderes, explicado principalmente pelo Executivo. É comum observar esse movimento em
anos eleitorais. O crescimento modesto das Despesas Obrigatórias em 2018 (0,8%), por outro
lado, se deve principalmente a redução no Abono e Seguro-desemprego em função da queda no
número de demissões na economia e da racionalização nos Subsídios, Subvenções e Proagro.
No que diz respeito ao resultado do Regime Geral de Previdência Social (Arrecadação
líquida para o RGPS menos Benefícios previdenciários), houve aumento no déficit, que passou de
R$ 148,6 bilhões no acumulado de janeiro até setembro de 2017 para R$ 157,3 bilhões no mesmo

24
Grosso modo, a diferença entre a metodologia do FMI e a do BCB é que, no primeiro caso, considera-se como dívida todos os títulos
do Tesouro na carteira do Banco Central, enquanto, no segundo caso, não são considerados os títulos livres.
25
Geralmente, o resultado do Governo Central acima-da-linha diverge marginalmente do resultado abaixo-da-linha, mostrado na seção
do Setor Público Consolidado. Enquanto o resultado acima-da-linha é calculado a partir do cotejamento de receitas e despesas
primárias, no abaixo-da-linha, o primário é dado pela variação da DLSP somada às privatizações e descontados os ajustes
patrimoniais. A STN tem atuado no sentido de entender as razões dessa diferença e buscado reduzi-las.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 94
período do ano corrente. A expansão da despesa em 2,0% em termos reais foi determinante
nesse movimento.

Tabela 7.2. Resultado Primário do Governo Central


(Acumulado jan-set – Em R$ bilhões constantes – IPCA out/17)
Variação Influência
Discriminação 2017 2018
(%) (p.p.)
Receita total 1.037,4 1.101,3 6,2 7,4
Receitas administradas pela RFB 643,6 685,3 6,5 4,8
Imposto de Importação 24,8 31,0 25,0 0,7
IPI 34,8 41,6 19,4 0,8
Imposto de Renda 267,8 272,9 1,9 0,6
IOF 27,1 27,6 2,0 0,1
COFINS 163,4 187,3 14,6 2,8
PIS/PASEP 43,9 49,7 13,3 0,7
CSLL 57,0 61,7 8,3 0,6
CPMF 0,0 0,0 n.a. n.a.
CIDE Combustíveis 4,6 3,3 -28,6 -0,2
Outras 20,3 10,2 -49,7 -1,2
Arrecadação Líquida para o RGPS 278,4 278,0 -0,1 0,0
Receitas Não Administradas pela RFB 115,4 137,9 19,5 2,6
Transferências aos estados e municípios 177,0 189,8 7,2 -1,5
Receita líquida 860,4 911,4 5,9 5,9
Despesa total 975,3 997,6 2,3 2,3
Despesas obrigatórias 796,6 803,0 0,8 0,6
Benefícios Previdenciários 427,0 435,4 2,0 0,9
Pessoal e Encargos Sociais 218,3 220,3 0,9 0,2
Outras Despesas Obrigatórias 151,3 147,3 -2,6 -0,4
Abono e Seguro Desemprego 43,7 41,6 -4,8 -0,2
Benefícios de Prestação Continuada da LOAS/RMV42,3 42,7 0,7 0,0
Subsídios, Subvenções e Proagro 18,5 13,0 -29,7 -0,6
Demais 46,8 50,1 7,0 0,3
Despesas Discricionárias 178,7 194,7 8,9 1,6
Fundo Soberano do Brasil 0,0 4,1 n.a. n.a.
RESULT. GOV. CENTRAL ("acima da linha") -114,9 -82,1 n.a n.a
Resultado RGPS -148,6 -157,3 n.a n.a
Fonte: STN e IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE. *Despesas Discricionárias aqui incluem despesas obrigatórias com controle de fluxo.

Desafios fiscais do próximo governo


O País discute há praticamente quatro anos a necessidade de se ajustar o quadro fiscal.
No entanto, pouco se fez nessa direção. Dado o momento de transição de governo, é interessante
revisitar brevemente alguns temas.
Um dos principais desafios da próxima gestão é a diminuição da rigidez orçamentária.
Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, praticamente toda a receita liquida do Governo
Central está comprometida com as chamadas despesas obrigatórias. Basicamente, as despesas
obrigatórias são aquelas que a União tem a obrigação legal ou contratual de realizar, ou seja, são
despesas cuja execução é mandatória. São exemplos os direitos individuais (previdência,
assistência social, seguro-desemprego), mínimos constitucionais, vinculações e salários dos
servidores. Dentro desse gasto, os maiores grupos são pessoal e encargos sociais e os benefícios
da previdência social. As despesas discricionárias, por sua vez, não decorrem de uma obrigação
legal ou constitucional, portanto, são passíveis de limitação financeira. Em outras palavras, o
governo tem algum poder de decisão sobre as despesas discricionárias.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 95
O Gráfico 7.4 mostra que, em 2015, os gastos obrigatórios chegaram a 100% da Receita
líquida do Governo Central, e se mantiveram próximas disso desde então. Portanto, naquele ano,
toda a receita foi comprometida com despesas as quais o governo não tinha controle algum, cujo
crescimento é vegetativo e alheio às suas decisões. Assim, mesmo que o governo cortasse todas
as despesas discricionárias, ainda assim haveria a dificuldade de se gerar superávit primário.

Gráfico 7.4. Despesas obrigatórias Gráfico 7.5. Receitas e despesas primárias


(Em % da receita líquida) (Em % do PIB)
100 100 102 101 98 21
89
77 80 81
73 42 47 48
39
47 19
34 36 36
32

28 35 31 28 27
17
20 21 23 24

21 22 21 21 22 23 24 25 24 15
Receita líquida Despesa
13
2012

2015
2010

2011

2013

2014

2016

2017

2018*

set/00

set/04
set/98

set/02

set/06
set/08
set/10
set/12
set/14
set/16
set/18
Benefícios previdenciários
Demais
Pessoal e encargos sociais
Fonte: STN. *Acumulado em 12 meses até setembro de 2018. Fonte: STN. Elaboração: FIERGS/UEE.

O maior problema é que as despesas obrigatórias respondem por 91% da despesa


primária26. Nesse contexto, o crescimento do gasto total passa a ser determinado pelo
comportamento das despesas obrigatórias, já que a margem de ajuste – composta pelas
despesas discricionárias – é muito pequena. Dessa forma, o déficit se torna inevitável em
momentos de crise. Como mostra o Gráfico 7.5, existe uma tendência praticamente linear no
crescimento da despesa primária do Governo Central ao longo dos últimos vinte anos,
determinada principalmente pela trajetória das despesas obrigatórias.
Em função da óbvia dificuldade política envolvida no corte de gastos públicos, os ajustes
fiscais nas últimas duas décadas foram feitos via aumento da carga tributária. Isso levou o Brasil a
ter uma carga tributária bruta muito alta para os padrões dos emergentes e próxima a de países
desenvolvidos. Isso sugere que não existe espaço para mais aumentos de impostos, ainda mais
diante da baixa qualidade dos serviços públicos prestados por aqui. Dessa forma, os ajustes daqui
para frente terão que ser feitos pela contenção de despesas.
O teto dos gastos (Emenda Constitucional nº95) foi uma tentativa de endereçar o
problema. Contudo, ele é apenas uma sinalização, isto é, um compromisso com a equalização
fiscal, mas que não resolve o problema. Como mostra o Gráfico 7.8, a Secretaria do Orçamento
Federal (SOF) calcula que 9% das despesas sujeitas ao teto são compostas por gastos
discricionários. Isto é, existe uma margem de somente 9% para a redução das despesas em
relação ao teto. A dificuldade é que, na medida em que o gasto obrigatório avança através de seu
crescimento vegetativo, o governo é obrigado a comprimir as despesas discricionárias para que a
despesas total caiba no teto. Obviamente, chegará um momento em que não haverá mais espaço

26
É importante notar que o montante de despesas obrigatórias calculado pela Tabela 7.2. é menor do que os 91% da despesa primária
total informados aqui. Isso acontece porque a metodologia utilizada na Tabela 7.2. para definir as despesas discricionárias é a mesma
dos resultados do Relatório do Tesouro Nacional. Por essa definição, incluem-se despesas obrigatórias com controle de fluxo dentro do
grupo de despesas discricionárias, que são gastos obrigatórios que o governo tem o poder de fazer a programação financeira ao longo
do exercício, mas não pode limitar seu empenho. Dessa forma, a melhor terminologia para o grupo Despesas Discricionárias da Tabela
7.2. seria “despesas com controle de fluxo”. Quando se somam as despesas obrigatórias da Tabela 7.2. com as despesesas
obrigatórias com controle de fluxo do grupo é que se chega aos 91% de despesas obrigatórias.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 96
para esse tipo de corte, e as despesas romperão o limite. A projeção da SOF é que isso
acontecerá em 2023.
Duas questões devem ser abordadas nesse ponto. Primeiro, cortar despesas
discricionárias implica em cortar os investimentos públicos, que já têm sofrido bastante com a
crise. Cálculo da Instituição Fiscal Independente (IFI) apontou que os investimentos públicos
chegaram a 1,8% do PIB em 2017, considerando todos os níveis de governo. Segundo a IFI, este
seria o menor nível já registrado na série histórica, iniciada em 1947.

Gráfico 7.6. Evolução da Carga Tributária Gráfico 7.7. Carga Tributária Bruta –
Bruta Comparação internacional
(Em % do PIB) (Em % do PIB)
33,4 36,6
32,4 32,1
27,6
32,1

16,4
26,4

Brasil Economias Emergentes Países de


1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016

Desenvolvidas Renda Baixa

Fonte: RFB. Fonte: RFB e FMI apud. Apresentação da Secretária do Tesouro


Nacional em 19/07/2018, no Seminário da IFI.

Depois, nota-se pela projeção do Gráfico 7.8 que os gastos com previdência são o
principal fator de pressão sobre o orçamento, respondendo atualmente por 44% das despesas
sujeitas ao teto. Na verdade, como mostra a Tabela 7.3, essa tem sido a tendência nos últimos
vinte anos. Analisando o crescimento das despesas primárias do Governo Central de 1999 até
2017, nota-se que, do crescimento observado de 4,9 p.p. do PIB, a despesas com previdência foi
responsável por 3,1 p.p.. É por isso que as projeções da SOF indicam que os benefícios
previdenciários irão consumir 55% do teto em 2023 se nada for feito, restando cada vez menos
recursos para áreas como saúde, educação e infraestrutura.

Gráfico 7.8. Projeção para evolução dos Tabela 7.3. Evolução da despesa primária do
limites da EC-95 Governo Central
(Em % do teto dos gastos) (Em % do PIB)
6 4 3 1 Diferença
9 1999 2017
26 26 (p.p.)
26 26 26
25 Pessoal 4,4 4,3 0,0
21 20 Benefícios RGPS 5,4 8,5 3,1
23 22 21 Discricionárias
22 Subsídios 0,1 0,6 0,5
Demais obrigatórias
Pessoal e encargos
Custeio administrativo 2,0 1,2 -0,8
50 53 55 Benefícios RGPS Custeio Saúde e Educação 1,7 2,1 0,4
44 46 48
Custeio Gastos Sociais 0,6 2,1 1,6
Investimento com MCMV 0,5 0,7 0,2
-1
Total 14,6 19,5 4,9
2018 2019 2020 2021 2022 2023
Fonte: Secretaria do Orçamento Federal. Fonte: STN. Elaboração: FIERGS/UEE

A situação se tornou insustentável. Para piorar, o fim do bônus demográfico terá


implicações severas sobre o financiamento da Previdência, pois reduzirá o número de potenciais
contribuintes e aumentará os possíveis beneficiários. Como mostra o Gráfico 7.9, as projeções do

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 97
IBGE indicam que a razão de dependência (razão entre o grupo de pessoas com idade entre 0 e
14 anos e com 65 anos ou mais e o grupo de 15 a 64 anos de idade) atingiu seu mínimo, o que
significa que só ela irá aumentar a partir de agora.
Se as regras previdenciárias não forem revistas, não será possível honrar o compromisso
com a sustentabilidade fiscal formalizado pelo teto dos gastos27. Mesmo com a proposta de
reforma da Previdência em tramitação no Congresso, ainda haveria a necessidade de novas
reformas mais à frente, tamanho é o desafio demográfico e a generosidade do sistema atual.

Gráfico 7.9. Evolução da razão de dependência


(Razão entre o grupo de pessoas com idade entre 0 e 14 anos e com 65 anos ou mais de idade
e o grupo de 15 a 64 anos)

48,1
47,1 47,4
46,5
45,7 45,6
44,6 44,8
44,1 44,0 44,3
2010

2012

2014

2016

2018

2020

2022

2024

2026

2028

2030
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.

Rio Grande do Sul e a questão previdenciária


Foi mais um ano complicado para as finanças públicas gaúchas. Mesmo com a liminar do
STF que suspendeu o pagamento do serviço da dívida com a União a partir de agosto de 2017 e
com as alíquotas de ICMS majoradas desde 2016, o Estado não tem conseguido honrar seus
compromissos de curto prazo. Por conta disso, os pagamentos têm atrasado e os serviços
públicos se deteriorado cada vez mais. Sem a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, não há
possibilidade obter novos financiamentos e, com isso, a situação irá continuar. Os meios
extraordinários de financiamento (saques do caixa único, os depósitos judiciais, aumentos de
impostos etc.) se esgotaram e o RS parece caminhar para um estado de completa paralisia fiscal.
O déficit orçamentário projetado pela LOA 2018 era de R$ 6,9 bilhões. Com a liminar junto
ao STF e os recursos da venda de ações preferenciais do Banrisul, o déficit financeiro deve
terminar o ano menor. Como mostra a Tabela 7.4, até outubro deste ano, o déficit orçamentário foi
de R$ 4,5 bilhões, a preços constantes. O resultado é pior do que o verificado no mesmo período
do ano passado (R$ 2,2 bilhões).
No comportamento da receita, se destaca a variação de 5,2% no IPVA. Nota-se também
um acentuado crescimento em Outras receitas correntes (26,7%), em função dos ganhos com
multas e juros e receitas de dívida ativa. Do lado da despesa, observa-se um crescimento de 3,8%
acima da inflação no gasto com Aposentadorias e reformas e de 2,5% nas Pensões militares.
Também chama atenção o aumento de 318,7% nos Juros e encargos da dívida em relação a
27
Para entender melhor o desequilíbrio previdenciário, recomenda-se a leitura do amplo estudo desenvolvido pelo Banco Mundial: “Um
ajuste justo”. Destacamos alguns pontos que são necessários para a gradual sustentabilidade do sistema: (i) um aumento na idade
mínima de aposentadoria para homens e mulheres, compatível com a expectativa de vida do brasileiro; (ii) eliminação da
aposentadoria por tempo de contribuição; (iii) aumento do tempo de contribuição para o requerimento da aposentadoria por idade; (iv)
revisão dos regimes especiais; (v) combate a regressividade do sistema.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 98
2017. Esse número, contudo, é enganador. Em 2017, ainda estava em vigor o acordo de
descontos decrescentes no serviço da dívida em função da renegociação de 2016, o que fez com
que o crescimento dessa rubrica fosse muito acentuado, pois o desconto foi zerado
gradativamente ao longo de 2018. Por outro lado, ainda vale a liminar do STF que suspendeu o
pagamento da dívida com a União a partir de agosto de 2017, dessa forma, não deveria haver
crescimento nessa rubrica. Acontece que o critério utilizado na tabela é a despesa empenhada e
os valores suspensos estão sendo empenhados porém não estão sendo pagos. Calculamos que o
resultado orçamentário seria R$ 2,6 bilhões menor se fosse considerado o que foi pago de serviço
da dívida apenas. Optamos por não registrar dessa forma, pois esses valores estão sendo
computados como restos a pagar e, portanto, terão que ser quitados mais à frente.

Tabela 7.4. Estimativa da execução do orçamento


(Em R$ milhões constantes IPCA out/18 – Acumulado de janeiro a outubro – Despesa empenhada)
Em R$ milhões Variação
Conta
2017 2018 (%)
RECEITAS 51.137,3 52.668,9 3,0
Receitas Correntes 40.239,4 41.019,8 1,9
Tributárias 32.788,7 33.135,0 1,1
ICMS 26.962,2 27.102,3 0,5
IPVA 1.940,6 2.041,3 5,2
Taxas 1.500,8 1.530,8 2,0
Demais Receitas Tributárias 2.385,1 2.460,6 3,2
Transferências 7.060,4 7.005,8 -0,8
Contribuições 2.621,8 2.564,5 -2,2
Outras receitas correntes 2.608,4 3.305,8 26,7
(-) Deduções de Receitas Correntes -4.839,9 -4.991,4 3,1
Receitas de Capital 508,9 1.015,6 99,6
Receitas Intra-orçamentárias 10.389,0 10.633,5 2,4
DESPESAS 53.304,6 57.184,1 7,3
Despesas Correntes 40.835,5 42.781,1 4,8
Pessoal e encargos sociais 23.267,2 23.584,9 1,4
Aposentadorias e reformas 9.904,5 10.276,8 3,8
Vencimentos e vantagens (civis) 7.500,7 7.302,4 -2,6
Pensões (militares) 2.463,1 2.525,7 2,5
Vencimentos e vantagens (militares) 1.329,9 1.484,6 11,6
Demais Pessoal e encargos sociais 859,6 1.025,0 19,2
Juros e encargos da dívida 500,4 2.094,9 318,7
Outras Despesas Correntes 17.067,9 17.101,3 0,2
Transferências a municípios 8.030,2 8.179,9 1,9
Serviços de Terceiros (Pessoas Jurídicas)
3.976,8 4.044,1 1,7
Serviços de Terceiros (Pessoas Físicas) 316,2 299,5 -5,3
Material de consumo 428,6 447,1 4,3
Serviços de consultoria 27,6 33,3 20,8
Demais Outras Despesas Correntes 1.532,3 1.535,0 0,2
Despesas de Capital 1.392,7 2.579,9 85,2
Investimentos 681,9 1.355,1 98,7
Inversões financeiras 39,6 76,3 92,7
Amortização da Dívida 671,2 1.148,5 71,1
Despesas Intra-orcamentarias 11.076,4 11.823,1 6,7
RESULTADO ORÇAMENTÁRIO -2.167,3 -4.515,2 n.a.
Fonte: Finanças Públicas em Tempo Real SEFAZ-RS.
Elaboração: FIERGS/UEE. Nota: o resultado é uma prévia do RREO.

Nesse contexto de crise, é pertinente fazer um acompanhamento da arrecadação de


ICMS, a principal rubrica de receita do Estado. Analisando a receita bruta do imposto no
acumulado até outubro deste ano, nota-se que houve um crescimento de 2,0% na comparação
com o mesmo período de 2017. O principal determinante nesse avanço foi o ganho com a

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 99
arrecadação na Transformação (7,5%), em resposta a melhora da produção industrial do
Estado28.

Tabela 7.5. Arrecadação de ICMS por setor de atividade


(Em R$ milhões constantes IPCA out/18 – Acumulado no ano até outubro)
Variação
SETOR 2017 2018
(%)
AGROPECUÁRIA 159 157 -1,0
INDÚSTRIA 15.944 16.847 5,7
EXTRATIVA 64 64 -0,9
TRANSFORMAÇÃO 12.683 13.639 7,5
ALIMENTOS 1.543 1.520 -1,4
BEBIDAS 1.568 1.524 -2,8
VESTUÁRIO E TÊXTIL 190 183 -3,4
COURO E CALÇADOS 321 333 3,9
CELULOSE E PAPEL 251 240 -4,4
DERIVADOS DE PETRÓLEO E BIOCOMBUSTÍVEIS 4.266 4.586 7,5
QUÍMICOS 1.099 1.425 29,7
BORRACHA E PLÁSTICO 546 518 -5,1
MINERAIS NÃO METÁLICOS 347 349 0,5
METALURGIA 218 248 13,8
PRODUTOS DE METAL (EX. MÁQ. E EQUIP.) 444 466 5,0
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS 389 450 15,8
VEÍCULOS 502 631 25,7
MÓVEIS 228 226 -0,8
OUTROS SETORES DA TRANFORMAÇÃO 773 940 21,6
SIUP 3.186 3.135 -1,6
CONSTRUÇÃO CIVIL 11 10 -11,1
SERVIÇOS 10.483 10.151 -3,2
COMÉRCIO 7.853 7.837 -0,2
TRANSPORTE, ARMAZENAGEM E CORREIO 285 289 1,3
ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO 128 145 13,3
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 2.180 1.840 -15,6
OUTROS SERVIÇOS 37 40 7,7
SEM CNAE 1.016 992 -2,4
TOTAL 27.602 28.147 2,0
Fonte: SEFAZ – Dados abertos da arrecadação estadual. Elaboração: FIERGS/UEE.

Para 2019, projetamos arrecadação de ICMS em R$ 35,7 bilhões. Todavia, em caso de


não prorrogação das alíquotas majoradas, cuja proposta não foi votada na Assembleia Legislativa
do Estado até o fechamento deste texto, a receita pode ser de R$ 33,0 bilhões, o que significaria
uma redução nominal no valor arrecadado. Por outro lado, em caso de prorrogação e um avanço
mais robusto da atividade a arrecadação pode ser de R$ 36,3 bilhões.

Gráfico 7.10. Déficit do RPPS Gráfico 7.11. Matrículas pessoal ativo e inativo
(Em % da receita corrente líquida) (Em % do total de matrículas)
58,5
57,2
55,3
53,2 53,3
51,8 52,1 52,7 52,5
Inativos
-23,7 -23,8
-24,7 Ativos
-25,3 48,2 47,9 47,3 47,5
-26,0 -25,9 46,8 46,7
44,7
42,8
41,5
-28,1
2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

-30,1

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Fonte: RREO. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: Boletim de Pessoal SEFAZ-RS. Elaboração: FIERGS/UEE.

28
Se quiser saber mais, ver Capítulo 3 – Indústria.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 100
A principal causa da inequação orçamentária do RS é o desequilíbrio previdenciário. Como
mostra o Gráfico 7.10, o déficit do Regime Próprio dos Servidores do Rio Grande do Sul tem
aumentado consecutivamente. Em 2017, o déficit do RPPS gaúcho foi equivalente a 30,1% da sua
receita corrente líquida (ou R$ 10,6 bilhões). Nessa métrica, foi o maior entre todos os estados.
Isso acontece porque as despesas com previdência têm aumentado em taxas muito
maiores do que a capacidade do Estado de sustenta-las. Em estudo recente, o economista Darcy
Santos mostrou que de 2004 até 2017, a despesa com previdência cresceu a uma taxa média
anual de 5,1% enquanto a receita corrente líquida cresceu a uma média de 3,5% a.a. apenas. Ou
seja, as despesas cresceram acima da arrecadação, mesmo em um período extremamente
favorável à receita – em função do “boom” das commodities e do elevado crescimento econômico
que se originou dali.
Como mostra o Gráfico 7.11, o número de matrículas de inativos em relação às de ativos
tem crescido constantemente, de modo que o déficit continuará sofrendo pressão nos próximos
anos.
Fica evidente um antagonismo nas finanças do Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo em
que Estado tem aumentado sua dimensão via aumento de despesa, tem perdido a capacidade de
realizar investimentos, isto é, de gerar desenvolvimento e riqueza para o estado. Considerando a
média dos investimentos de 2004 a 2017, o Rio Grande do Sul foi o estado que menos investiu
entre todas as unidades da federação, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional. Com
uma média de 4,1% de sua receita corrente líquida dedicada aos investimentos por ano, o estado
ficou bem atrás dos demais, mesmo daqueles com perfil de desenvolvimento semelhante.

Gráfico 7.12. Média de Investimento Público 2004-2017


(Em % da RCL)

21,6

18,3

15,5 15,6

11,6 12,2
10,9 11,1 11,1 11,5
10,0 10,2
9,3 9,4
8,6 8,6 8,6 8,8 8,9 9,1
7,9
7,0
6,3 6,4 6,4 7,0
4,1

RS SE PR RN SP GO SC MG BA PE DF PB RJ PA AP PI ES MS AL RR RO MA MT AM CE TO AC
Fonte: Anexos do PAF e STN. Elaboração: FIERGS/UEE.

Sem equacionar a questão previdenciária, não há horizonte para o Rio Grande do Sul.
Evidentemente, isso depende da aprovação de uma reforma da Previdência em nível federal que
dê mais autonomia às gestões subnacionais dos RPPS. Como apontou estudo do FMI de 2017,
intitulado “Um ajuste mais justo”, os problemas de curto e médio prazo do RPPS dos entes
subnacionais são, em geral, causados pelas regras de integralidade e paridade, que foram
eliminadas para os trabalhadores que entraram depois de 2003, mas não para os que entraram
antes. No entanto, é preciso encontrar soluções que enfrentem o déficit no curto/médio prazo,
dividindo o ônus do ajuste entre todos da sociedade, inclusive os que já estão aposentados.
Nesse estudo, o FMI apresentou algumas propostas para tornar o RPPS dos entes subnacionais
mais sustentáveis: (i) reduzir ulteriormente as taxas de reposição; (ii) desvinculação do benefício
previdenciário mínimo do salário mínimo, corrigindo-o somente pela inflação; (iii) introduzir um

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 101
tributo sobre a renda previdenciária de forma a neutralizar o esperado aumento dos déficits
previdenciários subnacionais ao longo dos próximos anos. Esse pode ser um bom ponto de
partida para a nova gestão do Estado.

Perspectivas para 2019


A análise dos resultados até o momento indica que o déficit primário ficará abaixo de meta
desse ano. Para o fim do ano, projetamos um déficit primário de 1,5% do PIB para o Setor Público
Consolidado, com a DBGG acelerando para 77,6% do PIB e a DLSP indo a 52,3% do PIB.
Para o ano que vem, o cenário fiscal é de manutenção de déficit primário. Por mais que o
governo eleito tenha sinalizado um maior comprometimento com as questões fiscais, as reformas
necessárias são politicamente muito custosas e, no curto prazo, as despesas do Governo Central
são em sua grande maioria obrigatórias. Portanto, existe pouca margem de ajuste, o que implica
que a probabilidade de reversão do quadro deficitário logo no próximo exercício é quase nula.
Em nosso cenário base para 2019, o qual atribuímos a maior probabilidade de ocorrência,
calculamos déficit primário do setor público consolidado em 1,3% do PIB, menor que do que
nossa estimativa para 2018 e do que a meta de primário para 2019 (-1,75% do PIB). Nesse
contexto, a dívida pública aumentaria, com a DBGG chegando a 78,5% do PIB e a DLSP
alcançando 53,3% no fim do ano.
Consideramos que pode emergir um cenário mais favorável, impulsionado pelo ganho de
confiança na aprovação de reformas com resposta imediata na atividade econômica e na receita
tributária. Eventuais privatizações e concessões também poderiam ajudar a receita primária a ter
um crescimento mais robusto, levando a um déficit primário bem mais contido de -0,3% do PIB.
Neste cenário superior, está embutida a possibilidade de racionamento dos gastos públicos, com
a revisão na concessão de benefícios, o enxugamento do custeio da máquina com a diminuição
do número de ministérios e outras medidas que impactem a despesa de curto prazo. Com menor
déficit e maior crescimento do PIB, estimamos que a DLSP chegará a 52,1% do PIB e a DBGG
chegará a 77,3% do PIB no cenário superior.
No cenário inferior, haveria dificuldade na aprovação de reformas, o que iria prejudicar
ainda mais a retomada e a arrecadação. Além disso, supomos nesse cenário que o governo não
conseguiria emplacar as medidas de contenção de despesa que espera, de forma que o déficit
primário se manterá praticamente estável em relação a 2018, próximo de 1,7% do PIB. Com isso,
a DLSP avançara rapidamente para 54,5% do PIB e a DBGG para 80,1% do PIB.
Para o Rio Grande do Sul, projetamos a arrecadação de ICMS bruta, conforme apurada no
portal do CONFAZ. No cenário base, com a atividade evoluindo conforme esperado e a renovação
das alíquotas de ICMS, a arrecadação do tributo será de R$ 35,7 bilhões. O cenário superior é
uma versão do cenário base com crescimento mais robusto, que levaria a arrecadação para R$
36,6 bilhões. Caso a atividade não reaja como esperado e não haja renovação das alíquotas de
ICMS, estimamos que a receita cairia para R$ 33,0 bilhões, dificultando ainda mais a gestão
financeira do Estado.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 102
Tabela 7.6. Projeções para 2019 – Brasil
(Em % do PIB)
2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
Resultado Primário -1,7 -1,5 -1,7 -1,3 -0,3
Juros Nominais -6,1 -5,8 -6,1 -5,6 -5,3
Resultado Nominal -7,8 -7,3 -7,8 -6,9 -5,6
Dívida Líquida do Setor Público 51,6 52,3 54,5 53,5 52,1
Dívida Bruta do Governo Geral 74,0 77,6 80,1 78,8 77,3
Fonte: BCB. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Tabela 7.7. Projeções para 2019 – Rio Grande do Sul


(Em R$ bilhões)
2019**
2017 2018*
Inferior Base Superior
ICMS 31,9 33,4 33,0 35,7 36,6
Variação Nominal 5,8% 4,7% -1,4% 6,6% 9,3%
Fonte: CONFAZ. * Estimativa FIERGS/UEE. ** Previsão FIERGS/UEE.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 103
BALANÇO
ECONÔMICO

Fonte:
Unidade de Estudos Econômicos
FIERGS
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO Equipe Técnica:
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Economista-Chefe:
André Francisco Nunes de Nunes
Presidente
GILBERTO PORCELLO PETRY
Núcleo de Conjuntura

Economistas:
Giovani Baggio
João Ricardo Rodrigues Moreira
Víctor Henriques de Oliveira

Núcleo Estatístico – NEST

Economista Responsável:
Ricardo Filgueras Nogueira

Assistente Administrativa:
As opiniões emitidas nesta publicação Cristina da Silva Castro
são de exclusiva e inteira responsabilidade
dos autores, não exprimindo,
necessariamente, o ponto de vista desta Estagiário:
Federação. Este documento não constitui Henrique D’Ávila Nunes
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comprar ou vender qualquer ativo e nem é
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tipo.
É permitida a reprodução deste texto e E-mail: economia@fiergs.org.br
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proibidas.

Dezembro 2018 | Balanço 2018 & Perspectivas 2019 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 104

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