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Perturbação de Personalidade
A perturbação de personalidade – ou a área do estudo da patologia da personalidade - existe
quando a disfunção cumulativa deste conjunto de traços atinge uma intensidade ou uma
gravidade que leve a sofrimento do próprio ou dos outros ou o comprometimento do
desempenho sócio-relacional da pessoa em diversas áreas da sua vida (relações
amorosas, trabalho, sociabilidade, etc.).
A Perturbação de Personalidade consiste num padrão persistente, duradouro mal-
adaptativo de experiências internas e comportamentos [formas de pensar, sentir e agir] que
tendem a ser rígidas e inflexíveis1, desviando-se acentuadamente do esperado [expetativas]
para o contexto cultural de pertença da pessoal, gerando disfunção em diversas áreas: (1)
cognitiva, ou seja, as formas de percepção e interpretação de si próprio, dos outros e dos
acontecimentos estão alteradas a ponto de ter dificuldade na mudança, “optando” antes
andar em negação2 face aos factos da realidade social onde está inserido(a), adoptando
estratégias defensivas agressivas para rebater esses mesmos factos da realidade, refugiando-
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Ainda que as pessoas tendam a responder sempre do mesmo modo a uma situação, a maioria é propensa a
tentar outro caminho, se a primeira resposta for ineficaz. Quando isso não acontece – porque a pessoa
«bloqueia» e fixa-se sempre na mesma forma perante as situações, não se adaptando - podemos estar
perante uma perturbação da personalidade.
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As pessoas com alterações da personalidade não têm, geralmente, consciência de que o seu
comportamento ou os seus padrões de pensamento são desadequados; pelo contrário, muitas vezes
acreditam que os seus padrões são os normais e os correctos. Isto deve-se ao ter um SuperEgo muito rígido
(a vergonha social é muito forte e dominante) que não permite ao Ego evoluir, através do erro pessoal.
se na sua “realidade autocriada”, Estas crenças muito fortes e duradouras são geralmente
difíceis de flexibilizar em terapia; (2) afetiva, o que significa que respostas emocionais não são
apropriadas no que diz respeito à variedade, intensidade, labilidade e adequação das mesmas
face às situações; (3) das relações interpessoais e (4) do controlo dos impulsos. Este
padrão persistente de perturbações, de funcionamento alterado, manifesta-se
progressivamente até ao início da idade adulta, mantendo-se depois dessa altura, sendo
estáveis durante o tempo, condicionando défices no funcionamento social, ocupacional ou
noutras áreas importantes do funcionamento, levando a distress (aflição), comprometendo o
funcionamento da pessoa, o que tem um impacto negativo na sua vida e nos dos que o
rodeiam – quer, por exemplo, ao nível do funcionamento social (podendo conduzir, por
exemplo, ao isolamento social, incapacidade de estabelecer e/ou manter relações próximas
com os outros, comportamentos exagerados de “apego” no relacionamento com os outros)
e ocupacional (por exemplo, a atividade profissional começa a sofrer as consequências deste
tipo de funcionamento).
Geralmente, a configuração “patológica” de traços de personalidade que a pessoa apresenta
tem um “porquê” para se ir assim estruturando ao longo da sua vida, muitas vezes
remontando ao seu passado longínquo – a pessoa, no passado, teve de ser assim para que
de alguma forma conseguisse “sobreviver” psicologicamente e emocionalmente, apesar de ser
uma estratégica desadaptativa, socialmente, no médio e longo prazo.
Porém, quando num determinado momento do percurso de vida há a necessidade que essa
estrutura se adapte aos outros e ao mundo, a pessoa pode não ter a flexibilidade suficiente
para o fazer – o caminho desadaptativo nas relações mais profundas já é outro, e a pessoa
ficou com um mapa cognitivo desatualizado e que já não funciona: a continuar a insistir nesse
caminho, vai continuar a perder-se e a colidir com outros ou simplesmente a não ter a
capacidade relacionar-se, de forma duradoura e mais densa. Há, por vezes, uma incapacidade
de estar no presente, porque se funcionasse muito em termos de vivências do passado,
andando constantemente com referências ao passado e a não viver o presente, de forma
imparcial, sem juízos de valor com base no passado.
Curiosamente, e ao contrário da maioria das outras perturbações, as pessoas com
perturbações de personalidade não têm, geralmente, consciência de que os seus padrões
comportamentais ou de pensamento são desadequados, tendo a forte convicção e crença de
que o problema está no outro, e nunca, em momento algum, no(a) próprio(a). Isso denota uma
das características das pessoas com perturbações de personalidade: A rigidez e
inflexibilidade em mudarem, começando com a incapacidade de introspeção pessoal séria,
imparcial, desprovida de erros de autoavaliação, com sinceridade e honestidade. Estes “filtros”
que apresentam na sua forma de olharem e verem o “mundo”, impede-as de desenvolvimento
pessoal e emocional, para a maturidade relacional, de forma descontraída, serena e tranquila.
É através das pessoas que as rodeiam ou se relacionam no dia-a-dia, que mais facilmente se
identifica este tipo de sintomas, com esses comportamentos descritos, dado que o seu
comportamento desadequado pode causar atritos, hostilização e dificuldades aos outros, por
não conseguirem manter uma relação enviesada, contaminada com essas auto-percepções
erróneas na maneira de ajuizarem e verem o mundo. Muitas vezes, as pessoas com
perturbações de personalidade acabam por procurar lidar com as suas emoções e o sofrimento
que, também vão sentindo ao verem, na prática, a consequência dessas situações com os
outros, através de estratégias desadaptativas, como é o caso do consumo de substâncias
(como o álcool, drogas ou excesso de medicação), padrões desregulados no relacionamento
com os outros (excessivo isolamento ou excessiva proximidade, a ponto de abafar ou
anular o outro, tipo fusional), comportamentos auto-lesivos, rituais compulsivos, formas de
comunicação agressivas ou manipuladoras (aqui, passo por mentir integralmente ou,
através da omissão de parte, por forma a obter o elemento que o(a) favoreça para o seu
ponto de vista), entre outros.
Alguns estudos apontam para uma prevalência de 11% a 23% de Perturbações de
Personalidade na população geral.
Existem diversas perturbações da personalidade, que podem ser reunidas em três grupos
distintos, com base em semelhanças descritivas. No entanto, frequentemente, as pessoas
apresentam perturbações da personalidade de grupos distintos em simultâneo. Os vários
subtipos específicos [e agrupados] são: