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ESCRIVÃO 2018

Noções de Direito

Nós vivemos em sociedade. Ou seja,


não vivemos na selva. Moramos em
cidades, que ficam dentro de
estados, que ficam dentro de
algum país. Para que as pessoas
convivam umas com as outras sem
muitos conflitos, existem leis que
regulam o que pode e o que não
pode fazer. Nesta parte, vamos
estudar algumas noções gerais do
conjunto de leis que temos que
seguir – esse conjunto de leis é o
que se chama de “Direito”.
Por que as leis
são assim?

Para entender as leis, é preciso


voltar ao tempo das cavernas.
Calma, nosso passeio pela História
será bem rápido.

Podemos dizer que o ser humano se


torna realmente diferente dos outros
animais quando passa a definir regras
para viver em sociedade. Antes disso, o
ser humano vivia em bandos como
qualquer outro animal. Isso não
significa que entre outros animais não
existam regras de convivência. A
diferença fundamental da convivência
humana para a convivência de outras
espécies é que nós temos consciência
das regras. Inclusive, podemos alterá-
las ou mesmo transgredi-las.

Abelhas, por exemplo, são animais que


vivem em grupo. Existem milhares de
abelhas numa colmeia. Elas realizam
diversas atividades diárias e cada uma
parece saber exatamente o que fazer.
Abelhas não questionam as leis
internas de sua sociedade. Não há
alteração há milênios. Em todas as
colmeias as leis de convivência são as
mesmas. Exceto em filmes de
animação, não vemos abelhas
insatisfeitas ou procurando mudar as
regras de convivência.
O mesmo acontece com os primatas.
Urangotangos vivem em grupos
também e não sentem necessidade de
questionar as regras de sua sociedade.
Por que isso acontece? Porque os
animais agem mais por instinto do que
por razão. Eles não pensam nas regras
de forma abstrata. Eles apenas agem
de acordo com a sua estrutura
biológica e seguem as suas vontades.

Os seres humanos desenvolveram o


cérebro ao ponto de serem capazes de
pensar sobre aquilo que estão fazendo.
Eles aprenderam a controlar as suas
vontades.

Ok, mas isso ainda não explica a


existência de leis.
O mundo das cavernas

Temos que assumir: nós, seres


humanos, somos animais muito
frágeis. Na natureza, não temos como
concorrer contra leões, elefantes,
leopardos ou hienas. Corremos pouco,
temos a pele muito fina, não subimos
em árvore direito e caçamos com
dificuldade. Com todos esses defeitos
naturais, seria inteligente viver em
grupos. Um dos motivos que explica a
existência das sociedades, portanto, foi
a necessidade de nos proteger da
natureza. Proteger, principalmente,
nossos filhos, que são muito
dependentes, pequenos e mais frágeis
ainda.

Seria natural também que os primeiros


seres humanos dessem mais
importância para os indivíduos
biologicamente mais fortes e
resistentes. Não era qualquer um que
conseguia se dar bem na selva. Havia
muitos perigos a enfrentar. Desta
forma, nas primeiras sociedades
humanas, havia a lei do mais forte, ou
seja, quem tinha mais força e
resistência tinha o direito de exigir
determinados benefícios. Era preciso
agradar o fortão para fazer parte do
bando dele.

É por causa disso que as primeiras


sociedades eram patriarcais, ou seja,
centradas na figura de um “pai”, de um
provedor forte, viril, destemido.
Com o tempo, os seres humanos foram
desenvolvendo técnicas cada vez mais
sofisticadas para produzir alimentos,
roupas, armas e moradias. As
sociedades, com isso, foram
aumentando. Apesar de tudo, essa
ideia de patriarcado acabou ficando,
mesmo não tendo mais uma
justificativa prática. Afinal, crianças,
mulheres e idosos conseguem pescar
com redes e caçar por meio de
armadilhas, usando lanças ou arco e
flecha.
Com as sociedades maiores, começam
a surgir conflitos internos, como
roubos de alimentos, brigas por
moradia, por mulheres, por trapaça
nos jogos de azar. Para resolver esses
problemas, cada vez mais a figura do
“pai” provedor se converte na figura
de um governador, que decide coisas,
julga, pune.

Ao mesmo tempo, a relação do ser


humano com a natureza se torna
também muito mais complexa e
refinada. Ele conhece o ciclo das
estações do ano, as chuvas, o fogo e os
animais perigosos; ele conhece o que é
semente, flor e fruto; e tenta entender
como tudo isso está organizado. Por
que a chuva chove? O que acontece
com a mente da pessoa depois que ela
morre? Por que existem frutos duros e
outros macios, alguns doces e outros
azedos, flores com pétalas pequenas e
outras grandes? Quem fez o Sol e a
Lua? Por que eles passam sobre nossas
cabeças de vez em quando, mas não
cai lá de cima? Deve ter havido alguém
que organizou isso tudo, certo?

Assim, além de governar, administrar,


julgar e punir, o patriarca passa
também a explicar ou a aceitar
determinada formas de explicação
para os mistérios da natureza. Isso é
importante porque normalmente nós
convivemos com pessoas que pensam
como nós. E o conjunto de crenças das
pessoas acaba formando identidades
comuns, ideias comuns. Aos poucos,
esse conjunto de ideias comuns foi
constituindo o que se chama hoje de
tribo ou nação.
As pessoas passaram a conviver em
sociedade não só para se protegerem
da natureza, mas porque
compartilhavam de ideias comuns
sobre as coisas da natureza.

As leis nascem a partir daí. Se


determinada sociedade acreditava que
o Sol era um deus e que esse deus
precisava de oferendas para poder
ajudar na agricultura, qualquer pessoa
que agisse contra essa prática estava
prejudicando a sociedade como um
todo. Para que todos se unissem em
torno de um bem comum, criaram-se
as leis: conjunto de normas de
convivência visando o bem de toda a
sociedade.

É claro que, para existirem leis,


primeiro criaram a escrita. Apesar de
existirem leis orais, era mais fácil
transmitir para as futuras gerações as
leis por meio de textos do que por
meio da fala. Era mais fácil e mais
seguro. Portanto, as leis nascem para
defender os costumes das sociedades.

O mais antigo sistema de leis


conhecido é a dos babilônicos e ficou
conhecido como Código de
Hammurabi (código é o mesmo que
conjunto de leis).
O Código de Hammurabi era baseado
na Lei de Talião: olho por olho, dente
por dente. Ou seja, toda ação devia ser
reparada por uma reação
proporcional. Por exemplo, se você
construísse uma casa e, por erro na
construção, a casa acabasse ruindo e,
no desabamento, acabasse por matar
o seu vizinho, o construtor da casa
deveria ser morto também, para
compensar a morte de um inocente.
Esse era o senso de justiça primitivo.

Com o passar dos séculos, as leis foram


mudando, se adaptando aos novos
costumes da sociedade, às novas
crenças, novas ideias, novas formas de
vida.
E o nosso direito?

O Direito brasileiro tem muita


influência do Direito Romano (por
exemplo, na presença de uma câmara
com representantes do povo),
acrescido dos ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade defendidos
com a Revolução Francesa (1789). A
sociedade brasileira possui princípios
definidos por meio de uma
Constituição escrita. Esses princípios
são ideias ou crenças que os brasileiros
não mudam de forma alguma. São a
base da nossa existência em
sociedade.

Vamos a eles.
1) Nossa forma de estado é a
FEDERAÇÃO e a nossa forma de
governo é a REPÚBLICA

FEDERAÇÃO é a forma como


escolhemos dividir o nosso território. O
Brasil é dividido em unidades
federativas. São os estados e os
municípios. Assim, fica mais fácil de
administrar. O Brasil é muito grande,
se fosse um estado unitário,
provavelmente teríamos problemas
para organizar as pessoas. Mas essa
divisão possui uma hierarquia. Os
municípios não podem desrespeitar o
que manda os estados, e os estados
não podem desrespeitar as leis da
União, que é a unidade central.

REPÚBLICA é a forma como


escolhemos para governar as pessoas
quem vivem no território. República
significa que é o governo é feito do
povo para o povo. O Brasil já foi uma
monarquia, por exemplo, que é a
forma de governo feito por uma
pessoa só, o rei. E também já teve uma
oligarquia, que é o governo feito por
poucas pessoas favorecidas (os que
tinham posses e eram instruídos).
Hoje, o governo é do povo, exercido
por meio de representantes eleitos por
meio de um sistema de governo
chamado de PRESIDENCIALISMO. No
presidencialismo, o chefe maior do
governo é escolhido diretamente pelo
voto, e não pelos representantes
eleitos, como é o caso do
parlamentarismo.

2) Nossos fundamentos são: a


soberania, a cidadania, a dignidade, os
valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, e o pluralismo político

Fundamentos é aquilo que


consideramos imprescindível,
fundamental, importantíssimo e,
portanto, imutável.

SOBERANIA é a nossa independência


de qualquer outro povo ou nação.
Tudo o que os brasileiros decidem
deve ocorrer sem interferência
externa. Só os brasileiros podem tomar
decisões aqui. Somos um povo
soberano, isto é, não somos ligados a
ninguém. Muitos países no mundo não
possuem soberania completa como a
nossa. Na Europa, por exemplo, um
país pequeno chamado San Marino
depende da Itália; assim como Mônaco
depende da França, etc.

CIDADANIA é o direito que cada pessoa


aqui tem de exercer os seus próprios
direitos. Não importa se a pessoa é
alta, magra, gorda, boa, ruim, assassina
ou padre – todos somos cidadãos,
iguais perante a lei, somos cidadãos e
devemos conviver como tais.

DIGNIDADE é a garantia de que


ninguém aqui no Brasil terá um
tratamento desumano, seja por meio
de tortura, seja por escravidão, por uso
como cobaia, por objeto sexual, etc.
Todos os brasileiros têm direito a uma
vida humana e digna, sem
humilhações, vexames ou agressões
gratuitas.

VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA


LIVRE INICIATIVA é a defesa que os
trabalhos das pessoas devem ter
sempre uma função social, deve
sempre se reverter para o bem da
sociedade. Seja por meio de um
emprego, seja por meio do
empreendedorismo (livre iniciativa). Se
alguém cria uma empresa, deve ter
uma valor social, deve ajudar com o
coletivo, deve colaborar com a
sociedade; se alguém é empregado de
outra pessoa, esse trabalho deve
produzir algum tipo de benefício para
o coletivo. Esse fundamento existe
porque todos nós, afinal de contas,
compartilhamos o mesmo território e
seus recursos naturais (água, ar,
solo...). Devemos ser gratos e respeitar
isso.
PLURALISMO POLÍTICO é a garantia de
que nunca vai ser considerado correto
existir apenas um partido político,
assim como é na China. Sempre deve
haver o debate de ideias. Com partido
único, só um tipo de ideologia vai
vencer. Com muitos partidos, há
sempre mais oportunidade das
pessoas se encaixarem de acordo com
suas ideias.

Na próxima aula, vamos continuar


estudando os princípios dos Direito
brasileiro.

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