não vivemos na selva. Moramos em cidades, que ficam dentro de estados, que ficam dentro de algum país. Para que as pessoas convivam umas com as outras sem muitos conflitos, existem leis que regulam o que pode e o que não pode fazer. Nesta parte, vamos estudar algumas noções gerais do conjunto de leis que temos que seguir – esse conjunto de leis é o que se chama de “Direito”. Por que as leis são assim?
Para entender as leis, é preciso
voltar ao tempo das cavernas. Calma, nosso passeio pela História será bem rápido.
Podemos dizer que o ser humano se
torna realmente diferente dos outros animais quando passa a definir regras para viver em sociedade. Antes disso, o ser humano vivia em bandos como qualquer outro animal. Isso não significa que entre outros animais não existam regras de convivência. A diferença fundamental da convivência humana para a convivência de outras espécies é que nós temos consciência das regras. Inclusive, podemos alterá- las ou mesmo transgredi-las.
Abelhas, por exemplo, são animais que
vivem em grupo. Existem milhares de abelhas numa colmeia. Elas realizam diversas atividades diárias e cada uma parece saber exatamente o que fazer. Abelhas não questionam as leis internas de sua sociedade. Não há alteração há milênios. Em todas as colmeias as leis de convivência são as mesmas. Exceto em filmes de animação, não vemos abelhas insatisfeitas ou procurando mudar as regras de convivência. O mesmo acontece com os primatas. Urangotangos vivem em grupos também e não sentem necessidade de questionar as regras de sua sociedade. Por que isso acontece? Porque os animais agem mais por instinto do que por razão. Eles não pensam nas regras de forma abstrata. Eles apenas agem de acordo com a sua estrutura biológica e seguem as suas vontades.
Os seres humanos desenvolveram o
cérebro ao ponto de serem capazes de pensar sobre aquilo que estão fazendo. Eles aprenderam a controlar as suas vontades.
Ok, mas isso ainda não explica a
existência de leis. O mundo das cavernas
Temos que assumir: nós, seres
humanos, somos animais muito frágeis. Na natureza, não temos como concorrer contra leões, elefantes, leopardos ou hienas. Corremos pouco, temos a pele muito fina, não subimos em árvore direito e caçamos com dificuldade. Com todos esses defeitos naturais, seria inteligente viver em grupos. Um dos motivos que explica a existência das sociedades, portanto, foi a necessidade de nos proteger da natureza. Proteger, principalmente, nossos filhos, que são muito dependentes, pequenos e mais frágeis ainda.
Seria natural também que os primeiros
seres humanos dessem mais importância para os indivíduos biologicamente mais fortes e resistentes. Não era qualquer um que conseguia se dar bem na selva. Havia muitos perigos a enfrentar. Desta forma, nas primeiras sociedades humanas, havia a lei do mais forte, ou seja, quem tinha mais força e resistência tinha o direito de exigir determinados benefícios. Era preciso agradar o fortão para fazer parte do bando dele.
É por causa disso que as primeiras
sociedades eram patriarcais, ou seja, centradas na figura de um “pai”, de um provedor forte, viril, destemido. Com o tempo, os seres humanos foram desenvolvendo técnicas cada vez mais sofisticadas para produzir alimentos, roupas, armas e moradias. As sociedades, com isso, foram aumentando. Apesar de tudo, essa ideia de patriarcado acabou ficando, mesmo não tendo mais uma justificativa prática. Afinal, crianças, mulheres e idosos conseguem pescar com redes e caçar por meio de armadilhas, usando lanças ou arco e flecha. Com as sociedades maiores, começam a surgir conflitos internos, como roubos de alimentos, brigas por moradia, por mulheres, por trapaça nos jogos de azar. Para resolver esses problemas, cada vez mais a figura do “pai” provedor se converte na figura de um governador, que decide coisas, julga, pune.
Ao mesmo tempo, a relação do ser
humano com a natureza se torna também muito mais complexa e refinada. Ele conhece o ciclo das estações do ano, as chuvas, o fogo e os animais perigosos; ele conhece o que é semente, flor e fruto; e tenta entender como tudo isso está organizado. Por que a chuva chove? O que acontece com a mente da pessoa depois que ela morre? Por que existem frutos duros e outros macios, alguns doces e outros azedos, flores com pétalas pequenas e outras grandes? Quem fez o Sol e a Lua? Por que eles passam sobre nossas cabeças de vez em quando, mas não cai lá de cima? Deve ter havido alguém que organizou isso tudo, certo?
Assim, além de governar, administrar,
julgar e punir, o patriarca passa também a explicar ou a aceitar determinada formas de explicação para os mistérios da natureza. Isso é importante porque normalmente nós convivemos com pessoas que pensam como nós. E o conjunto de crenças das pessoas acaba formando identidades comuns, ideias comuns. Aos poucos, esse conjunto de ideias comuns foi constituindo o que se chama hoje de tribo ou nação. As pessoas passaram a conviver em sociedade não só para se protegerem da natureza, mas porque compartilhavam de ideias comuns sobre as coisas da natureza.
As leis nascem a partir daí. Se
determinada sociedade acreditava que o Sol era um deus e que esse deus precisava de oferendas para poder ajudar na agricultura, qualquer pessoa que agisse contra essa prática estava prejudicando a sociedade como um todo. Para que todos se unissem em torno de um bem comum, criaram-se as leis: conjunto de normas de convivência visando o bem de toda a sociedade.
É claro que, para existirem leis,
primeiro criaram a escrita. Apesar de existirem leis orais, era mais fácil transmitir para as futuras gerações as leis por meio de textos do que por meio da fala. Era mais fácil e mais seguro. Portanto, as leis nascem para defender os costumes das sociedades.
O mais antigo sistema de leis
conhecido é a dos babilônicos e ficou conhecido como Código de Hammurabi (código é o mesmo que conjunto de leis). O Código de Hammurabi era baseado na Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Ou seja, toda ação devia ser reparada por uma reação proporcional. Por exemplo, se você construísse uma casa e, por erro na construção, a casa acabasse ruindo e, no desabamento, acabasse por matar o seu vizinho, o construtor da casa deveria ser morto também, para compensar a morte de um inocente. Esse era o senso de justiça primitivo.
Com o passar dos séculos, as leis foram
mudando, se adaptando aos novos costumes da sociedade, às novas crenças, novas ideias, novas formas de vida. E o nosso direito?
O Direito brasileiro tem muita
influência do Direito Romano (por exemplo, na presença de uma câmara com representantes do povo), acrescido dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade defendidos com a Revolução Francesa (1789). A sociedade brasileira possui princípios definidos por meio de uma Constituição escrita. Esses princípios são ideias ou crenças que os brasileiros não mudam de forma alguma. São a base da nossa existência em sociedade.
Vamos a eles. 1) Nossa forma de estado é a FEDERAÇÃO e a nossa forma de governo é a REPÚBLICA
FEDERAÇÃO é a forma como
escolhemos dividir o nosso território. O Brasil é dividido em unidades federativas. São os estados e os municípios. Assim, fica mais fácil de administrar. O Brasil é muito grande, se fosse um estado unitário, provavelmente teríamos problemas para organizar as pessoas. Mas essa divisão possui uma hierarquia. Os municípios não podem desrespeitar o que manda os estados, e os estados não podem desrespeitar as leis da União, que é a unidade central.
REPÚBLICA é a forma como
escolhemos para governar as pessoas quem vivem no território. República significa que é o governo é feito do povo para o povo. O Brasil já foi uma monarquia, por exemplo, que é a forma de governo feito por uma pessoa só, o rei. E também já teve uma oligarquia, que é o governo feito por poucas pessoas favorecidas (os que tinham posses e eram instruídos). Hoje, o governo é do povo, exercido por meio de representantes eleitos por meio de um sistema de governo chamado de PRESIDENCIALISMO. No presidencialismo, o chefe maior do governo é escolhido diretamente pelo voto, e não pelos representantes eleitos, como é o caso do parlamentarismo.
2) Nossos fundamentos são: a
soberania, a cidadania, a dignidade, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político
Fundamentos é aquilo que
consideramos imprescindível, fundamental, importantíssimo e, portanto, imutável.
SOBERANIA é a nossa independência
de qualquer outro povo ou nação. Tudo o que os brasileiros decidem deve ocorrer sem interferência externa. Só os brasileiros podem tomar decisões aqui. Somos um povo soberano, isto é, não somos ligados a ninguém. Muitos países no mundo não possuem soberania completa como a nossa. Na Europa, por exemplo, um país pequeno chamado San Marino depende da Itália; assim como Mônaco depende da França, etc.
CIDADANIA é o direito que cada pessoa
aqui tem de exercer os seus próprios direitos. Não importa se a pessoa é alta, magra, gorda, boa, ruim, assassina ou padre – todos somos cidadãos, iguais perante a lei, somos cidadãos e devemos conviver como tais.
DIGNIDADE é a garantia de que
ninguém aqui no Brasil terá um tratamento desumano, seja por meio de tortura, seja por escravidão, por uso como cobaia, por objeto sexual, etc. Todos os brasileiros têm direito a uma vida humana e digna, sem humilhações, vexames ou agressões gratuitas.
VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA
LIVRE INICIATIVA é a defesa que os trabalhos das pessoas devem ter sempre uma função social, deve sempre se reverter para o bem da sociedade. Seja por meio de um emprego, seja por meio do empreendedorismo (livre iniciativa). Se alguém cria uma empresa, deve ter uma valor social, deve ajudar com o coletivo, deve colaborar com a sociedade; se alguém é empregado de outra pessoa, esse trabalho deve produzir algum tipo de benefício para o coletivo. Esse fundamento existe porque todos nós, afinal de contas, compartilhamos o mesmo território e seus recursos naturais (água, ar, solo...). Devemos ser gratos e respeitar isso. PLURALISMO POLÍTICO é a garantia de que nunca vai ser considerado correto existir apenas um partido político, assim como é na China. Sempre deve haver o debate de ideias. Com partido único, só um tipo de ideologia vai vencer. Com muitos partidos, há sempre mais oportunidade das pessoas se encaixarem de acordo com suas ideias.