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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 27.500/12


ACÓRDÃO

N/T “LAVRAS”, L/M “SAMOA” x Catraia “CORINGA”. Abalroação


seguida de naufrágio de embarcação fundeada durante manobra de
passagem de cabos para atracação de navio tanque no píer 207 Terminal
do Paul, Vila Velha, ES. Perda total da embarcação naufragada, sem
ocorrências de acidentes pessoais, tampouco poluição ao meio ambiente
hídrico. Falta de coordenação, cuidado e atenção por parte do condutor
da embarcação de apoio, durante o tesamento dos cabos, somada ao
fundeio irregular da catraia na área de manobra de atracação do navio e
de embarque e desembarque de passageiros que fazem a travessia
Vitória - Vila Velha - Vitória, ES. Condenação. Exculpado o
comandante do Navio. Indeferida Preliminar de Inépcia da Inicial.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar e determinar causa(s) e responsabilidade(s) pelo o
abalroamento envolvendo o N/T “LAVRAS, de 173 metros de comprimento,
19.290 AB, inscrito no porto do Rio de Janeiro, como de propriedade de
PETROBRÁS TRANSPORTE S/A - TRANSPETRO, na ocasião sob o comando
do CCB Waldfran Ferreira Deodato da Silva, a L/M “SAMOA”, sob a mestrança
de Giovani Tavares que auxiliava na passagem dos cabos e a catraia “CORINGA”
de 4,20 metros de comprimento, inscrita no porto de Vitória, ES, como de
propriedade de José Luiz do Patrocinio, na ocasião sem tripulantes, acidente da
navegação este, tipificado no artigo 14, alínea “a”, da Lei orgânica deste Tribunal
(Lei nº 2.180/54) ocorrido por volta das 08h30min, de 05 de abril de 2012, nas
proximidades do píer 207, Terminal Paul, Vila Velha, ES, local também utilizado
para o embarque e desembarque de passageiros, nas embarcações tipo catraia a
remo, usadas no transporte de passageiros, entre Vitória e Vila Velha, resultando
na perda total da catraia, sem registro de acidentes pessoais ou poluição ao meio
ambiente hídrico.
Em sede de IAFN instaurado pela Capitania dos Portos do Espírito
Santo (Portaria nº 21, fl. 02) foram ouvidas seis (06) testemunhas, realizada
perícia, juntados documentos das embarcações envolvidas e demais documentos de
praxe, inclusive CD com suas principais peças, dos quais extraímos:

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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 27.500/2012...........................................)
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Em denúncia pessoal oferecida pelo proprietário da catraia
“CORINGA” perante a Capitania dos Portos do Espírito Santo, “ocorreu o
emborcamento da referida catraia quando o N/T “LAVRAS” estava tesando seus
cabos de atracação, ocasião em que levantou e virou a citada catraia, provocando o
seu naufrágio parcial” (fl. 03).
Da Comunicação feita pela PETROBRÁS/AGÊNCIA MARÍTIMA
VITÓRIA, agenciadora do N/T “LAVRAS” (fls. 05 a 07) encaminhando ofício do
Comandante do citado navio relata que “durante a faina de manobra de atracação
no berço 207, da CODESA, em Vitória, ocorreu o emborcamento da embarcação
“CORINGA” que realiza a travessia do Paul para Vitória e que na ocasião se
encontrava amarrada e sem tripulantes. E que o fato ocorreu durante a
movimentação da embarcação de apoio ao passar os cabos que ficaram de traves.
Logo após o ocorrido o Comandante teria solicitado o apoio da Agencia no que
tange a contratação de uma lancha para auxiliar na manobra, visando observar uma
melhor maneira de realizar tal faina; Após o posicionamento da escada no
Terminal, o Comandante solicitou a presença a bordo do proprietário da
embarcação sinistrada para as providências e para solução do caso”.
Em sede de IAFN, o CCB Waldfran Ferreira Deodato da Silva,
Comandante do N/T “LAVRAS” (fls. 14/15) declarou: durante o transporte dos
cabos (espias) para o encapelamento no cabeço, a tripulação da embarcação de
apoio, a L/M “SAMOA”, foi alertada pelo Contramestre do navio, Sr. Reginaldo
Regis da Silva sobre a posição dos cabos sob a catraia e da possibilidade de
emborcamento da mesma, tendo os tripulantes da L/M “SAMOA” ignorado o
alerta e continuado o curso, conduzindo a espia, sem contornar a catraia, ocorrendo
durante o seu transporte o emborcamento da catraia, antes mesmo da espia ser
colocada no cabeço. Atribuiu a responsabilidade aos tripulantes da L/M “SAMOA”
e ao posicionamento e movimentação das catraias na área de manobra.
Reginaldo Regis da Silva, Contramestre do N/T “LAVRAS” (fls.
39/40) declarou: a embarcação “CORINGA”’ estava amarrada a uma boia
localizada no trajeto da L/M “SAMOA”, e tendo observado que o cabo passaria
sob o “CORINGA”, o depoente comunicou o fato ao Comandante do navio, que
por sua vez informou ao Prático e este informou à L/M “SAMOA” para modificar
seu curso, a fim de evitar um acidente, porém não foi atendido e a L/M “SAMOA”
prosseguiu no mesmo trajeto, ocorrendo o emborcamento da embarcação
“CORINGA”. Para o depoente, se a L/M “SAMOA” tivesse atendido ao pedido do
navio, alterando seu curso e contornado a embarcação “CORINGA”, evitando
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passar a espia que conduzia por sob a “CORINGA”, o acidente não teria ocorrido.
José Luiz do Patrocinio proprietário da embarcação “CORINGA” (fls.
24/25) declarou: tão logo recebeu a informação de que a sua embarcação estava
emborcada, o depoente seguiu para o local, constatando que, de fato, sua
embarcação estava emborcada, o depoente compareceu à Capitania dos Portos e
fez a denúncia sobre o ocorrido, Declarou ainda, que por volta das 16h do mesmo
dia (05/04/12), o depoente se encontrou com o Agente do navio que ofereceu
auxílio para o desemborcamento da embarcação, porém o depoente decidiu esperar
a perícia da Capitania, para então autorizar a faina. Posteriormente, o Sr. Nero
Barros da Silva informou ao depoente que a Capitania já estivera no local, mas o
Agente do navio já havia ido embora e a embarcação do depoente não foi
desemborcada.
Nero Barros da Silva, (fls. 46/47) declarou: o depoente exerce a função
de Catraieiro há 30 anos e que esteve no local do acidente, a bordo de numa
lancha, para remover o barco sinistrado, porém o depoente orientou que só
deveriam retirar a embarcação do local após providências da Capitania. Quanto ao
emborcamento da embarcação, o depoente acredita que, pelo deslocamento da
poita e posição do barco, a mesma teria sido arrastada para baixo do casco do
navio, não havendo nenhuma possibilidade de remoção do bote.
Giovani Tavares, Condutor da L/M “SAMOA” (fls. 31/32), declarou: O
depoente auxiliou na manobra do N/T “LAVRAS”, conduzindo o cabo de través de
proa a bombordo para o cabeço localizado no cais, mas que não presenciou o
emborcamento da embarcação “CORINGA”. Negou ter sido alertado por
tripulantes do N/T “LAVRAS” quanto à posição dos cabos sob a catraia
“CORINGA” e da possibilidade de emborcamento da mesma. Foi o Marinheiro
André quem alertou os tripulantes do navio da possibilidade de emborcamento da
catraia por ocasião do tesamento do cabo. Atribuiu responsabilidade ao
responsável pela manobra de proa do navio.
André Carlos Marques do Nascimento, Marinheiro Auxiliar a bordo da
L/M “SAMOA” (fls. 56/57) declarou: o depoente estava em manobra de atracação
do N/T “LAVRAS”, na parte da manhã, foram arriados dois cabos de través para
serem conduzidos ao cabeço. O depoente observou que uma catraia estava
posicionada no local de manobra e, que foi informado ao navio que havia uma
catraia restringindo a manobra e o navio solicitou para tentar fazer a manobra, o
que não é comum e, desta forma, a presença da catraia restringiu a manobra da
lancha, que deu máquinas a ré, seguiu para o cabeço deixando a “CORINGA” por
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boreste. Asseverou, foi solicitado ao marinheiro que estava na buzina do navio
para que não restringisse a manobra da lancha, o cabo foi encapelado, advertiu ao
marinheiro de proa do N/T “LAVRAS” que tesasse os cabos um a um; demorou
cerca de cinco minutos e o cabo estava fazendo seio para baixo da “CORINGA”,
foi solicitado pelo Prático que a lancha “SAMOA” se dirigisse para a manobra de
popa, o que foi feito, posteriormente retornou para a manobra de proa. Voltando ao
local, visualizou o bote “CORINGA” já emborcado. O depoente foi informado
pelos amarradores, dos quais não sabe informar o nome, que os dois cabos teriam
sidos tesados a uma e emborcado a catraia que continuou presa à poita; não foi
determinado que fizessem o desemborcamento da catraia, a manobra seguiu
normalmente e lancha retornou à base. Demais disso, declarou que o depoente
estava na popa do navio, fora da visão do local do acidente. Responsabilizou o
proprietário da catraia, por colocá-la mal posicionada, e também o pessoal do
navio que não observou o mau posicionamento da mesma e nem solicitou a
liberação do espaço para que não oferecesse risco à vida humana.
Os Peritos em Laudo de Exame Pericial Indireto, ilustrado com fotos
(fls. 08 a 11) após análise dos dados e informações obtidas apontam o fator
operacional como contribuinte para o acidente, eis que o proprietário da catraia
“CORINGA” fundeou a mesma em área de fundeio de navios.
Encerraram a Perícia, atribuindo como CAUSA DETERMINANTE “o
fundeio irregular da catraia “CORINGA” na área de manobra de atracação do
navio, que também é utilizado para embarque e desembarque de passageiros nas
embarcações tipo catraias, a remo, usadas no transporte de passageiros entre
Vitória e Vila Velha”.
O Encarregado do IAFN em relatório às fls. 86 a 90 após descrever as
diligências realizadas, características das embarcações envolvidas, analisar e
transcrever resultado da perícia, depoimentos, sequência e consequências do
acidente, discordando em parte com os Peritos atribuíram a responsabilidade aos
tripulantes do navio que operavam na manobra de atracação, na pessoa do seu
Comandante, o Sr. Waldfran Ferreira Deodato da Silva, por negligência no
tesamento da espia de través de proa e ao proprietário da catraia “CORINGA” o
Sr. José Luiz do Patrocinio, por imprudência, ao deixar a embarcação em local
não apropriado.
Notificações formalizadas (fls. 92/93), apenas o proprietário da catraia
“CORINGA”, Sr. José Luiz do Patrocinio apresentou defesa prévia (fls. 94 a 98)
atribuindo a responsabilidade pelo acidente ao N/T “LAVRAS”, salientando ser
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costume o fundeio de catraias no local, informando, inclusive, que as embarcações
somente são retiradas da água a cada 15 dias para manutenção, tendo em vista
que as mesmas podem se deteriorar caso fiquem fora da água, havendo
ressecamento das tábuas.
Juntou documentos relativos à Associação dos Catraieiros da Grande
Vitória, ES, da qual é associado, como ainda documentos e fotos relativos à
embarcação “CORINGA”.
Após análise dos Autos, a D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM,
em promoção juntada às fls. 159 a 163 representou, com fulcro no art. 14, alínea
“a” (abalroação) e art. 15, alínea “e” (todos os fatos – expor a risco), ambos da Lei
nº 2.180/54 contra o CCB Waldfran Ferreira Deodato, comandante do N/T
“LAVRAS”, Giovani Tavares, Condutor e Mestre da L/M “SAMOA” e ainda,
contra José Luiz do Patrocinio, proprietário da Catraia “CORINGA”, sustentando:
(...). O primeiro e o segundo Representados deverão responder pelo evento por
imperícia, no momento em que não souberam coordenar a faina de atracação do
navio de forma correta, expondo, desta forma, a risco a segurança da navegação,
risco este que não tardou em se materializar com o emborcamento da catraia,
além disso, ambos Representados também agiram de forma negligente quando
faltaram com seus deveres de atenção e vigilância durante a manobra
empreendida.
O terceiro Representado deverá responder por imprudência, no
momento em que deixou sua embarcação desguarnecida e sem qualquer tipo de
vigilância, mesmo sabendo se tratar de área de manobra e fundeio de grandes
embarcações.
Ante o exposto, requer o recebimento da presente Representação, que
julgada procedente, sejam os Representados condenados nas penas estabelecidas
na Lei nº 2.180/54, com as alterações decorrentes da Lei nº 8.969/94 e custas
processuais.
Por fim, protesta por todos os meios de prova e direito admitidos. (...).
Recebida a representação (fls. 169) e citados (fls. 175, 177 e 235),
foram o primeiro e terceiro Representados defendidos por I. Advogados
constituídos (fls. 215/232), Enquanto o segundo Representado, manteve-se inerte,
sendo declarada a sua revelia, da qual foi pessoalmente notificado (fls. 236, 237 e
245).
Registre-se que os Representados não possuem antecedentes nesse
Tribunal, (fls. 315, 316 e 317).
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Em sua defesa (fls. 200 a 214), o 1º Representado, Waldfran Ferreira
Deodato da Silva argui PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL, sustenta, em
síntese, que a Representação deve ser arquivada por não terem sido apresentados
os fundamentos jurídicos hábeis a embasar uma eventual condenação do
Representado.
Alega a defesa, “De fato, não há nem individualização das condutas
que teriam sido praticadas por cada um dos Representados nem, ao menos, a
punição que se pretende cominar a cada um deles.
Da Representação constam afirmativas extremamente, genéricas e
vagas, tais como “os representados infringiram as normas e procedimentos
estabelecidos para a segurança do trabalho”.
Não há qualquer descrição dos fatos atribuídos pela PEM,
especificamente ao Sr. Waldfran. Tal procedimento é extremamente condenável.
Dessa forma, a Representação deve ser arquivada por não se
apresentarem os fundamentos jurídicos que imporiam ao Sr. Waldfran Ferreira o
dever jurídico de agir assim como o de não se omitir.
Quando a conduta narrada se baseia em um dever jurídico de não se
omitir, para que haja incidência de punição, deve-se demonstrar, de forma
minimamente discernível, a conduta voluntária contrária ao direito, ou seja, o ato
ilícito omissivo contrário a uma norma determinada, com o objetivo de não
surpreender o Representado com argumentos que não estiveram presentes na
Representação.
Não há, em qualquer parte da Representação, o esclarecimento de qual
seria o risco proibido pelo Direito que o Representado teria criado. Nem ao menos
quais as normas de segurança da navegação ou do trabalho marítimo e teriam
sido violadas.
A Representação, por conseguinte, deverá ser rejeitada por inépcia
devido ao fato da descrição dos fatos não decorrer de sua conclusão jurídica.
Caso assim não se entenda, subsidiariamente requer-se que o julgador
se digne a providenciar a medida prevista pelo art. 63 do Regimento Interno do
Tribunal Marítimo.
Invoca ainda o art. 62, inciso III, do RIPTM e o art. 5°, inciso LV, da
CF/88, sustentando que se deve “espraiar ao tradicional Processo Administrativo
Maritimista. Há diversos princípios processuais de conteúdo materialmente
constitucional que são infringidos pelas irregularidades constante da
Representação. É isso que o douto Tribunal Marítimo não deve permitir.
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Quanto ao Mérito, sustenta a defesa a tese de “CULPA
CONCORRENTE” da Lancha “SAMOA” e Catraia “CORINGA”, alegando (...).
Na hipótese dos autos, o Representado Giovani Tavares, Condutor e Mestre da
Lancha de Apoio “SAMOA” foi quem causou o resultado danoso.
Neste sentido, além do fato de ser a lancha de apoio contratada para
realizar o serviço de atracação do N/T “LAVRAS”, cabe trazer a lume, pela sua
clareza, o depoimento do Contramestre do N/T “LAVRAS”, que viu tudo que
ocorreu da proa do navio. (transcreve trecho do seu depoimento neste sentido).
Certo é que, o Representado, Sr. José Luiz do Patrocinio, proprietário
da catraia “CORINGA”, concorreu para o resultado danoso, uma vez que,
conforme restou comprovado, inclusive através de prova pericial, a catraia estava
irregularmente fundeada na área de atracação dos navios, no Porto de Vitória.
Alega ainda a defesa que “Nos termos do laudo de exame pericial (fls.
8 a 11): Quanto à causa determinante, atribui-se ao fundeio irregular da catraia
“CORINGA” na área de manobra de atracação do navio.
Com efeito, o fundeio da catraia “CORINGA” não se torna regular
porque teria sido realizado em local onde há muito tempo há a movimentação de
passageiros por meio de catraias e botes. Não há falar-se em legalização da
conduta por sua prática, ainda que alegadamente reiterada.
A área, conforme Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de
Vitória é destinada à atracação de embarcações de grande porte, o que foi
atestado pela perícia no local.
Logo, ao manter sua catraia irregularmente neste local, o
Representado Sr. José Patrocinio assumiu o risco da ocorrência do acidente, pois
foi negligente com a cautela da embarcação.
Ora, diante de todos os depoimentos acima transcritos, do teor do
Relatório do IAFN produzido pela Marinha do Brasil e do Laudo de Exame
Pericial, flagrante a conclusão de que todas as circunstâncias apontam no sentido
de que as condutas displicentes, descuidadas e negligentes dos Representados. Sr.
José Patrocinio e Sr. Giovani Tavares foram determinante para a ocorrência do
acidente.
Com efeito, a própria Procuradoria Especial da Marinha, reconheceu
que o proprietário da canoa concorreu para o evento danoso. Vejamos: “(...) o
proprietário da catraia também concorreu para o acidente quando fundeou a
canoa sem os devidos cuidados de atenção e segurança, em local não apropriado
(área de manobra de navio)”.
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Em atenção ao disposto na Representação, constata-se que a própria
Procuradoria, órgão responsável por dar início ao processo administrativo
punitivo dos eventuais responsáveis pela ocorrência de fatos da navegação,
reconheceu que a atitude displicente do proprietário da catraia “CORINGA” foi
determinante para o acidente.
O Representado Sr. Waldfran Ferreira não pode, por conseguinte, ser
responsabilizado pelo emborcamento e posterior naufrágio da catraia
“CORINGA”, a uma, porque não foi o causador do evento, mas sim a lancha
“SAMOA”, conforme reconhecido pelo próprio proprietário da catraia em sede de
inquérito; e, a duas, porque o próprio proprietário da catraia ancorou a
embarcação no local de fundeio e atracação de grandes embarcações.
Sustenta ainda a defesa a tese de AUSÊNCIA DE NEXO DE
CAUSALIDADE ENTRE A CONDUTA DO COMANDANTE WALDFRAN
FERREIRA E O FATO OCORRIDO; E, neste sentido, discorre sobre a teoria do
nexo de causalidade adotada no direito brasileiro, inclusive em tema de Direito
Marítimo, no que se refere a responsabilidade maritimista, alegando que “nesse
contexto, é uma responsabilidade administrativa, na qual se avalia se a conduta
dos sujeitos submetidos à jurisdição do Tribunal Marítimo, descritos no art. 10 da
Lei nº 2.180/1954, consistem em algum dos fatos delimitados nos arts. 14 e 15 da
Lei nº 2.180/1954. Nesse contexto, não há também previsão de responsabilização
do Representado por condutas previstas na LESTA (Lei nº 9.537/1997) ou no seu
regulamento (Decreto nº 2.596/1998).
Por tudo o que foi exposto, não se concebe como o IAFN concluiu que
haveria supostamente nexo de causalidade entre o emborcamento e posterior
naufrágio da catraia “CORINGA” e a “negligência” do Representado Waldfran.
Ademais, o próprio proprietário da catraia reconheceu que o
Comandante Waldfran Ferreira buscou, mesmo sem ter obrigação de fazê-lo,
mitigar seu prejuízo, oferecendo-lhe ajuda para desemborcar o bote, a qual,
todavia, não foi aceita, em flagrante violação do dever de mitigar o dano (“duty to
mitigate the loss”) Neste sentido cita e transcreve trechos do seu depoimento em
sede de inquérito:
De acordo com o exposto, confia-se que na Sabedoria e Senso de
Justiça do Egrégio Tribunal Marítimo para que rejeite as alegações da I.
Procuradoria Especial da Marinha, exculpando o Representado, Waldfran
Ferreira Deodato da Silva, de toda e qualquer responsabilidade pelas condutas
alegadas pela Procuradoria Especial da Marinha.
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A defesa protesta também pela produção de todas as provas em direito
admitidas. (...).
A defesa do 3º Representado José Luiz do Patrocinio (fls. 180 a 184)
após fazer um pequeno histórico sobre a atividade do transporte por Catraias na
travessia entre Vitória e Paul, como ainda, que “- Tal atividade sempre foi
realizada no mesmo local, pela mesma população, transferindo-se a tradição de
pai para filho, efetuando o mesmo trajeto (Baía de Vitória - Paul)”, alega: “- A
atividade realizada pelo Requerente possui associação própria com registro de
pessoa jurídica, alvará de licença do corpo de bombeiros, alvará de licença para
instalação e autorização anual para funcionamento, conforme cópias em anexo,
além de livro caixa que comprova os valores arrecadados. O trabalho catraieiro
está até mesmo incluído na tabela de classificação brasileira de ocupação.
- Vale ressaltar, que o barco do Requerente sempre ficou atracado no
mesmo lugar há mais de trinta anos e nunca houve nenhum acidente, até o
lugar onde está localizado o terminal de passageiros começar a ser utilizado
indevidamente para atracação de navio.
- Os trabalhadores e passageiros que ali transitam atualmente se
submetem às situações de grande risco. Hoje os barcos saem próximo de grandes
embarcações (embarcações de combustível, soda caustica), e tem que passar por
baixo de cabos de polietileno ou nylon de seda, que, se arrebentam, podem ferir
pessoas ou destruir os barcos. O que, de fato, já ocorreu mais de uma vez.
- Existem algumas ações indenizatórias transitando junto a Justiça
Estadual, bem como duas representações junto ao Ministério Público Federal e
Ministério Público do Trabalho, ou seja, diante da gravidade das ocorrências as
demandas vêm sendo discutidas judicialmente.
- Para que alguém seja responsabilizado civilmente por um dano, é
preciso que algum ato tenha sido praticado ou deixado de praticar, seja pelo
próprio agente, pessoa ou animal por quem ele seja responsável.
- Temos como pressupostos da responsabilidade civil: a conduta
humana comissiva ou omissiva, que é um ato da pessoa que causa dano ou
prejuízo a outrem seja por dolo, negligência, imprudência ou imperícia; o dano que
é o prejuízo material ou moral resultante da lesão a um bem ou direito; e a
relação de causalidade, que nada mais é do que o liame entre o ato lesivo do
agente e o dano ou prejuízo sofrido pela vítima, que nos leva ao causador do
dano.
- No caso em tela, encontram-se perfeitamente preenchidos tais
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pressupostos, já que o condutor do navio foi imprudente e imperito quando da
realização na manobra, atingindo o barco “CORINGA” que veio a naufragar.
- A conduta do condutor do N/T “LAVRAS” que motivou o acidente
marítimo, causando imenso prejuízo ao Requerente.
-. O Requerente em momento algum contribuiu para o acidente, pois o
local ·em que a “CATRAIA” estava atracada é um terminal de passageiros
utilizado irregularmente por navios de grande porte. Como dito anteriormente,
aquela catraia ficava atracada no mesmo local há pelo menos trinta anos e nunca
houve nenhum acidente semelhante.
- No caso vertente, o Requerente é mais uma vítima da imprudência do
comandante do navio e do condutor da lancha de apoio, pois não souberam
proceder a atracação do navio de forma correta, assumindo o risco do possível
emborcamento da catraia.
- Frise-se que o Requerente agiu no estrito cumprimento de seus
deveres, não configurando a, to ilícito a atracação da catraia naquele local, uma
vez que aquele é o local correto de atracação das mesmas e não área de manobra
de navios.
- Em resumo, o Requerente agiu em conformidade com a legislação
vigente, não estando sujeito a qualquer tipo de sanção, lembrando que a
autoridade Publica está subordinada ao princípio da legalidade trazido no artigo
37, da Constituição Federal.
- Diante do exposto, verificada a tese do Requerente, requer a total
improcedência da Representação ofertada, visando a não imputação de
quaisquer penalidades previstas na Lei nº 2.180/54, com as alterações introduzidas
pela Lei nº 8.969/94, bem como a produção de todas as provas em direito
admitidos, medidas da mais perfeita justiça.
Aberta a instrução, a PEM em manifestação de fls. 250 a 253 reporta
as provas já constantes dos autos e valendo-se da oportunidade, se manifesta pelo
INDEFERIMENTO da Preliminar de INÉPCIA DA INICIAL arguida pela
defesa do 1º Representado, sustentando: (...) A Representação, ao contrário do
afirmado pela defesa, descreveu, de forma minuciosa e objetiva, o acidente da
navegação, com todos os elementos e circunstâncias que lhe são essenciais; Por
conseguinte, a referida peça de acusação observou rigorosamente os requisitos
legais fixados nos artigos 282, do Código de Processo Civil, e 62, do Regimento
Interno Processual do Tribunal Marítimo, bem como especificou claramente a
conduta do responsável e seu respectivo enquadramento legal. Em síntese, o
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pedido contido na representação consistiu em requerer ao Tribunal Marítimo a
condenação do representado, afigurando-se, portanto, certo e determinado.
Assim, não há como prosperar a alegação de inépcia e consequente prejuízo
para a defesa. Acrescente-se, ainda, o fato de a representação ter sido submetida
ao criterioso juízo de admissibilidade desse Tribunal Marítimo, que a recebeu, à
unanimidade, confirmando a presença de todos os requisitos necessários para o
prosseguimento regular do presente processo administrativo. Sendo assim, é
imperativo repisar que o comportamento do representado deu causa ao' acidente
da navegação e se encontra. subjugado a \ reprimenda na seara administrativa.
(...).
A defesa do 1º Representado Waldfran Ferreira Deodato da Silva, por
seu turno trouxe como elemento de prova, Relatório elaborado pela empresa W/S -
Comércio e Serviços Marítimos Ltda., (fls. 256 a 272, versão em inglês - e as fls.
277 a 288, em Português), ressaltando que “a partir da análise do contexto do
acidente e tendo em vista os documentos, depoimentos e fotografias que o
instruem, o mencionado Relatório concluiu que “são causas determinantes do
acidente tanto a negligencia da L/M “SAMOA” de propriedade da empresa
AQUAPORT SERVIÇOS PORTUARIOS - que deixou de atender ao alerta do
contramestre do N/T “LAVRAS” a respeito da posição dos cabos sob a catraia
“CORINGA”, o que poderia levar ao emborcamento da catraia - como o fundeio
irregular desta catraia “CORINGA” em área de atracação do navio, onde o cabo
do navio se move até o cabe o desancoragem terminal.
Em Alegações Finais, a PEM em manifestação às fls. 292v ratifica os
termos de sua exordial de fls. 159 a 163.
A defesa do 1º Representado, em manifestação ás fls. 297 a 305, ratifica
os termos de sua inicial de fls. 200 a 214, inclusive quanto a PRELIMINAR DE
INÉPCIA DA INICIAL que deverá ser apreciada quando do julgamento.
Silentes os 2º e 3º representados, conforme Certidão de fls. 306.
Isto posto, assim decidimos.
Quanto a Preliminar de Inépcia da Inicial arguida pela defesa do 1º
Representado Waldfran Ferreira Deodato da Silva deve ser a mesma indeferida,
conforme manifestação da PEM as fls. 250 a 253, e em alegações finais eis que a
representação, ao contrário do afirmado pela defesa, descreveu, de forma
minuciosa e objetiva, o acidente da navegação, com todos os elementos e
circunstâncias que lhe são essenciais; Por conseguinte, a referida peça de acusação
observou rigorosàmente os requisitos legais fixados nos artigos 282, do Código de
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Processo Civil então vigente, e o art. 62, do Regimento Interno Processual do
Tribunal Marítimo.
Demais disso a representação foi submetida ao criterioso juízo de
admissibilidade deste Tribunal Marítimo, que a recebeu, à unanimidade,
confirmando a presença de todos os requisitos necessários para o prosseguimento
regular do presente processo administrativo.
Quanto ao Mérito, assim decidimos.
Do relatado extrai-se que cerca das 08h30min, de 05 de abril de 2012,
durante manobra de atracação do N/T “LAVRAS” no píer 207, Terminal do Paul,
Vila Velha, ES, após o encapelamento dos cabos (espia) de través de proa do
navio, no cabeço do cais, ocorreu o abalroamento contra Catraia “CORINGA” que
estava fundeada e desguarnecida na área de manobra e atracação do navio,
resultando na perda total da catraia, sem, no entanto provocar acidentes pessoais,
tampouco poluição ao meio ambiente hídrico, acidente da navegação este,
conforme demonstram as provas trazidas à colação, TEVE COMO CAUSA
DETERMINANTE a falta de coordenação, cuidado e atenção por parte do
Condutor da L/M “SAMOA”, durante o tesamento dos cabos, somada ao fundeio
irregular da catraia “CORINGA” na área de manobra de atracação do navio e de
embarque e desembarque de passageiros que fazem a travessia Vitória-Vila Velha-
Vitória, ES, conforme restou demonstrado pelos elementos de prova trazidos à
colação.
Da prova testemunhal, extraímos as declarações por parte do N/T
“LAVRAS” (fls. 05 a 07, 14/15, 39/40) uniformes no sentido de que os tripulantes
os envolvidos estavam com toda atenção voltada para a passagem das espias para
terra. Como ainda ao atribuir a responsabilidade aos tripulantes da L/M “SAMOA”
ao fazer a manobra de atracação, com passagem dos cabos do navio para o cais
sem atentar para a embarcação que se encontrava fundeada nas imediações, a
despeito de alertado por um dos tripulantes do navio.
Declarações estas confirmadas em parte, pelos de bordo da L/M
“SAMOA” (fls. 31/32 e 56/57) ao atribuir a responsabilidade pelo acidente ao
posicionamento da catraia fundeada em área de manobra de navios. Negam,
contudo ter sido alertados pelo N/T “LAVRAS” do posicionado irregular da
Catraia “CORINGA”.
Por sua vez, o proprietário da catraia “CORINGA”, o Sr. José Luiz do
Patrocinio (fls. 24/25 e 94 a 98) assume que sua embarcação tava fundeada em
local de manobra de grandes navios, ressaltando, contudo estava autorizado, e que
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é costume o fundeio de catraias no local, informando, inclusive, que as
embarcações somente são retiradas da água a cada 15 dias para manutenção, e que
o acidente somente ocorreu devido à desatenção dos tripulantes do navio quando
na manobra de atracação.
Contraditando as declarações dos Catraieiros, temos o Laudo de Exame
Pericial, ilustrado com fotos (fls. 08 a 11) a consignar que “o fundeio da catraia
“CORINGA” foi irregular”
Nesse sentido, os Peritos atribuem como CAUSA DETERMINANTE
“o fundeio irregular da catraia “CORINGA” na área de manobra de atracação do
navio, que também é utilizado para embarque e desembarque de passageiros nas
embarcações tipo catraia, a remo, usadas no transporte de passageiros entre Vitória
e Vila Velha”.
Para o Encarregado do IAFN (fls. 86 a 90) houve também
responsabilidade por parte dos tripulantes do navio que operavam na manobra de
atracação, na pessoa do seu Comandante, o Sr. Waldfran Ferreira Deodato da
Silva, por negligência no tesamento da espia de través de proa.
Por seu turno, entende a Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls.
159 a 163) que o acidente da navegação em exame foi resultado das condutas
imperitas e negligentes do CCB Waldfran Ferreira Deodato, comandante do N/T
“LAVRAS”, e contra Giovani Tavares, Condutor e Mestre da L/M “SAMOA”, no
momento em que não souberam coordenar a faina de atracação do navio de forma
correta, expondo, desta forma, a risco a segurança da navegação, risco este que não
tardou em se materializar com o emborcamento da catraia e quando faltaram com
seus deveres de atenção e vigilância durante a manobra empreendida.
Ainda, de acordo com a PEM contribuiu também para o acidente, o Sr.
José Luiz do Patrocinio, proprietário da Catraia “CORINGA”, por seu agir
imprudente, no momento em que deixou sua embarcação desguarnecida e sem
qualquer tipo de vigilância, mesmo sabendo se tratar de área de manobra e fundeio
de grandes embarcações.
E neste diapasão, representou contra os mesmos, dando-os como
incursos no artigo 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
A defesa do CCB Waldfran Ferreira Deodato da Silva (1º
Representado) refuta as acusações que lhe são imputadas, sustentando em resumo,
que houve a culpa concorrente dos 2º e 3º Representados”.
Para a defesa “o Representado Giovani Tavares, Condutor e Mestre da
Lancha de Apoio “SAMOA” foi quem causou o resultado danoso”.
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Neste sentido, afirma a defesa, “além do fato de ser a lancha de apoio
contratada para realizar o serviço de atracação do N/T “LAVRAS”, e, que o
Representado, Sr. José Luiz do Patrocinio, proprietário da catraia “CORINGA”,
concorreu para o resultado danoso, uma vez que, conforme restou comprovado,
inclusive através de prova pericial, a catraia estava irregularmente fundeada na
área de atracação dos navios, no Porto de Vitória”. E mais, que inexiste o nexo de
causalidade entre a conduta do defendente e o fato ocorrido”.
Para fundamentar sua tese de defesa, alem do Laudo de Exame Pericial,
trouxe aos autos Relatório elaborado pela empresa W/S-Comercio e Serviços
Marítimos Ltda., acompanhado de depoimentos, fotos e outros documentos (fls.
100 a 152), e que não foram contraditados quer pela PEM, quer pelos demais
Representado.
Deve ser acolhida a tese da defesa, para exculpar ora 1º Representado
Waldfran Ferreira Deodato da Silva das acusações que lhe são imputadas pela
PEM, posto que, consonantes com as provas apresentas.
Já a defesa do 3º Representado José Luiz do Patrocinio (fls. (fls. 95 a
98) alega que sua embarcação sempre ficou atracada no mesmo lugar há mais de
trinta anos e nunca houve nenhum acidente, até o lugar onde está localizado o
terminal de passageiros começar a ser utilizado indevidamente para atracação de
navio.
Por fim atribui a responsabilidade ao Comandante do navio, eis que foi
imprudente e imperito quando da realização na manobra, atingindo o barco
“CORINGA” que veio a naufragar.
Demais disso, a conduta do condutor do N/T “LAVRAS” que motivou
o acidente marítimo, causando imenso prejuízo ao 3º Representado.
Tais argumentos, contudo não merecem acolhida, eis que desprovidos
de prova capaz de destruir aquelas que fundamentam a tese acusatória, a
demonstrar que o local, de fato era também utilizado para embarque e
desembarque de passageiros que faziam a travessia de Vitória-Vila Velha-Vitória.
ES, mas não para fundeio das embarcações empregadas para essa atividade, após
encerrados os trabalhos.
Demais disso, o alvará e outros documentos apresentados pelo 3º
Representado (fls. 105 a 153) dizem respeito ao espaço autorizado para as reuniões
dos associados do grupo de catraieiros, não uma autorização para o desempenho de
atividade, deste modo não eximindo o Representado da acusação que lhe faz a
PEM.
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Por todo o exposto, considerando que o 2º Representado Giovani
Tavares, a despeito de regularmente citado para exercer o seu direito da Ampla
defesa e do Contraditório que lhe confere a Constituição Federal/88, manteve-se
inerte (fls. 236, 237 e 245), deste modo atraindo para si os Efeitos da Revelia, por
consequência, presumindo-se como verdadeiros a acusação e fundamentos
expostos na peça acusatória, esta, frise-se embasada exclusivamente nas provas dos
autos e não contraditadas.
Considerando ainda o disposto no artigo 58, da Lei nº 2.180/54,
julgamos procedente em parte a Representação de autoria da D. Procuradoria
Especial da Marinha - PEM (fls. 159 a 161), para, com fulcro no artigo 14, alínea
“a”, da Lei nº 2.180/54, responsabilizar o 2º representado Giovani Tavares e, por
suas condutas imprudente e negligente; e, o Sr. José Luiz do Patrocinio (3º
Representado) por sua conduta imprudente, e que assim agindo, contribuíram
ambos para a ocorrência do acidente da navegação em apreço. Exculpado o 1º
Representado Waldfran Ferreira Deodato da Silva, pelas razoes acima expostas.
Na aplicação da pena, deve-se observar o contido nos artigos 124,
inciso IX, 127 e 139, inciso IV alínea “d”, todos da Lei nº 2.180/54, com redação
dada pela Lei nº 8.969/94/94.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a)
quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: abalroação seguida de
naufrágio de embarcação fundeada durante manobra de passagem de cabos para
atracação de navio tanque no píer 207 do Terminal do Paul, Vila Velha, ES. Perda
total da embarcação naufragada, sem ocorrências de acidentes pessoais, tampouco
poluição ao meio ambiente hídrico; b) quanto à causa determinante: falta de
coordenação, cuidado e atenção, por parte do Condutor da embarcação de apoio,
durante o tesamento dos cabos, somada ao fundeio irregular da catraia na área de
manobra de atracação do navio e de embarque e desembarque de passageiros que
fazem a travessia Vitória - Vila Velha - Vitória; e c) decisão: indeferida a
Preliminar de Inépcia da Inicial arguida pela defesa do 1° Representado. Julgar
procedente, em parte, a Representação de autoria da D. Procuradoria Especial da
Marinha (fls. 159 a 163) para, considerando o acidente da navegação, tipificado no
artigo 14, alínea “a”, da Lei Orgânica deste Tribunal (Lei n° 2.180/54) e suas
consequências como decorrentes das condutas imprudente e imperita de Giovani
Tavares (2° Representado), Mestre/Condutor da L/M “SAMOA”, condená-lo à
pena de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), prevista no art. 121, inciso VII, c/c
15/16
(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 27.500/2012...........................................)
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o art. 124, incisos I e IV e art. 127, da mesma lei, e negligência de José Luiz do
Patrocinio, proprietário da embarcação “CORINGA”, condená-lo à pena de
Repreensão, prevista no art. 121, inciso I, c/c os artigos 124, inciso IX, 127 e 139,
inciso IV, alínea “d”, da mesma lei. Custas Processuais ao 2° Representado.
Exculpado o Sr. Waldfran Ferreira Deodato da Silva (1° Representado), então
Comandante do N/T “LAVRAS”, por falta de provas.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 21 de agosto de 2018.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 01 de novembro de 2018.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
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Dados: 2018.12.10 13:49:50 -02'00'

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