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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/FAL PROCESSO Nº 30.792/16


ACÓRDÃO

L/M “DULUAR AZUL”. Naufrágio. Óbito de um dos passageiros.


Emborcamento em decorrência de grandes ondas, imprevistas e irresistíveis.
Não receber a Representação da D. Procuradoria Especial da Marinha, de fls.
64 a 66. Caso fortuito. Arquivamento.

Vistos, discutidos e relatados os presentes autos


Consta que cerca das 8h30min, do dia 26 de janeiro de 2016, ocorreu o
naufrágio da L/M “DULUAR AZUL” (nº de inscrição 403M2003002559, casco de
alumínio, de 5,8m de comprimento, com capacidade para 1 tripulante e 4 passageiros,
ano de construção 2003, motor de 40 HP, atividade de esporte e recreio, navegação
interior, de propriedade de Arlete Serafim de Lima), conduzida por Lisley Fernandes da
Cunha, ARA, Arrais Amador, na área de aproximação da ilha Porchat, Garganta do
Diabo, São Vicente, SP, resultando no óbito do passageiro Durval Vieira Freitas e danos
materiais, mas sem registro de danos ao meio ambiente.
No Inquérito instaurado pela Capitania dos Portos de São Paulo foram
ouvidas três testemunhas e juntados os documentos de praxe.
No Laudo de Exame Pericial, fls. 6 a 8, elaborado no dia 27 de janeiro de
2016, consta que a embarcação foi resgatada e se encontrava em bom estado de
conservação, embora com avarias no hélice e na cana do leme e que ocorreu o óbito de
Durval Vieira Freitas, por afogamento.
Os Peritos apresentaram a seguinte sequência de acontecimentos: no dia 26
de janeiro de 2016, cerca das 7h, o bote DULUAR AZUL” saiu da marina Paraty, na ilha
Caraguatá, Cubatão, SP, com destino à ponta do Monduba, com Lisley, Durval e Odari a
bordo, para pescar; na saída do local denominado “Garganta do Diabo”, em São Vicente,
SP, a embarcação foi atingida por uma grande onda que projetou a embarcação de costas,
o que resultou no seu emborcamento.
Os Peritos consideraram que o fator operacional contribuiu, por falha na
vigilância, sendo o condutor surpreendido pela onda.
Nas fls. 11 e 12 costa o Boletim nº 269/2016, em 26/01/2016, 14h39min, na
Polícia Civil do Estado de São Paulo, referente ao fato da navegação em pauta (morte de
pessoa); e nas fls. 23 a 29 consta o Laudo Pericial nº 30307/2016, referente a Durval

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Vieira Freitas, que concluiu que a causa da morte foi “insuficiência respiratória aguda,
asfixia em meio líquido por submersão”.
O Encarregado do IAFN, fls. 52 a 56, depois de resumir os depoimentos e o
Laudo de Exame Pericial, acompanhando os Peritos, apontou o condutor, Lisley
Fernandes da Cunha, por descumprimento da Regra 5 do RIPEAM, Regulamento
Internacional Para Evitar Abalroamento no Mar.
O Indiciado foi notificado, fl. 59, mas não apresentou Defesa Prévia.
A D. Procuradoria, fls. 64 a 66, concordando com os Peritos e o Encarregado
do IAFN, depois de resumir os principais fatos apurados nos autos, representou em face
de Lisley Fernandes da Cunha, na qualidade de condutor do bote “DULUAR AZUL”,
com fulcro no art. 14, letra “a” (naufrágio), da Lei nº 2.180/54, fundamentando.
Alegou, em síntese, que o Representado “foi negligente no cumprimento de
suas funções, não observando as normas e procedimentos estabelecidos para uma
navegação segura e os bons princípios de Marinharia, em especial a regra 5 do
RIPEAM”.
Foi publicada Nota para Arquivamento (e-DTM nº 20, de 12/03/18) e
notificada a D. Procuradoria, fl. 69, decorrendo o prazo sem manifestação de
interessados, conforme Certidão de fl. 71.
É o Relatório.
Decide-se:
De tudo o que consta dos presentes autos, tempos que a D. Procuradoria
representou em face de Lisley Fernandes da Cunha, na qualidade de condutor do bote
“DULUAR AZUL”, com fulcro no art. 14, letra “a” (naufrágio), da Lei nº 2.180/54,
alegando que este foi negligente ao não observar as normas, em especial a Regra 5,
vigilância, do RIPEAM.
Foi publicada Nota para Arquivamento, decorrendo os prazos legais sem
manifestação de possíveis interessados.
Das provas dos autos temos três depoimentos, inclusive o do próprio
representado, que declarou que “não sei o que aconteceu, fiz tudo certo, a onda que
levantou de mais de 5 metros não tinha como ter formado ali. A onda projetou a
embarcação de volta de costas, o Júnior que estava na frente foi projetado pra água e o
Durval pra baixo do barco. Quando abaixei pra pegar o Durval, senti a mão do Júnior que
também ajudou a puxar. O Durval ficou agarrado no barco e todos estavam sem colete
salva vidas. O Júnior abraçou um colete e a maré jogou ele pra contornar a Ilha, e eu e

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Durval fomos jogados pra dentro da garganta. O Durval não soltava do barco, eu
coloquei um colete nele e por onde eu o segurava. O barco não afundava, ele ia e voltava
com as ondas, numa dessas que ele foi e levou o Durval, eu fiquei apenas com um pedaço
do colete na mão. Mergulhei e busquei o Durval novamente. Eu falei “Doutor solta esse
barco!” e ele não soltava. A âncora estava presa no barco na proa, eu passei o braço por
ela, trancei o pedaço de colete no tórax dele e fiquei segurando ele no meu ombro. Ele
começou a passar mal, vomitando, foi quando ele ficou inconsciente e nessa hora eu
consegui tirar ele do barco. Nesse momento a embarcação já estava indo para o paredão
da Ilha Porchat”, fl. 47.
Dos depoimentos consta que o bote naufragou na saída da “Garganta do
Diabo”; que as condições do tempo, no dia do acidente, eram de tempo bom, com sol e
mar bom e que os ocupantes já haviam navegado e pescado naquela área.
No Laudo de Exame Pericial consta que a embarcação se apresentava em
bom estado de conservação, mas com avarias decorrentes do acidente em pauta e que
trafegou em “um local em que a navegação é difícil e perigosa face as ondas que
costumeiramente se formam no local. Mesmo em situações de mar calmo o local requer
muita cautela na navegação”, o Encarregado do IAFN na Análise (item 6 do Relatório do
IAFN) considerou que “como foi possível constatar pelos depoimentos, o mesmo foi
surpreendido pela onda, falhando com o dever de vigilância” e “descumprimento da regra
5 do RIPEAM”, o que foi seguido pela D. Procuradoria, entretanto esta Regra se aplica a
permanente vigilância para se evitar abalroamento entre embarcações e não com relação a
chegada de ondas do mar e consta que não seria esperado ondas daquele tamanho,
principalmente com mar calmo, como consta dos autos, se caracterizando um evento
fortuito.
Por todo o exposto, pode-se concluir que ocorreu um caso fortuito, pois a
embarcação estava trafegando em área para a qual era autorizada, em boas condições de
conservação, conduzida por pessoa habilitada, não havia proibição do tráfego naquela
área, nem previsão de mau tempo, devendo ser arquivados os presentes autos.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: naufrágio de bote de alumínio, nas
proximidades do local denominado “Garganta do Diabo”, em São Vicente, SP, resultado
em danos materiais e no óbito de um dos três ocupantes do bote, Durval Vieira Freitas,
mas sem registro de danos ambientais; b) quanto à causa determinante: emborcamento

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em decorrência de grandes ondas; e c) decisão: não receber a Representação da D.
Procuradoria Especial da Marinha, de fls. 64 a 66, e julgar o acidente da navegação,
tipificado no art. 14, letra “a” (naufrágio), da Lei nº 2.180/54, como decorrente de caso
fortuito, mandando arquivar de pronto os presentes autos.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 18 de setembro de 2018.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado:


Rio de Janeiro, RJ, em 17 de outubro de 2018.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA
MARINHA
Dados: 2018.12.10 14:03:19 -02'00'

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