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UNIVERSIDADE GAMA FILHO

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


POSEAD/CETEB
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Turma 09/2007

REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL

Carlos Alberto Pires

Brasília-DF
Outubro/2008
ii

Carlos Alberto Pires

REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL

Monografia elaborada e apresentada ao


Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Administração Pública da Universidade
Gama Filho, como requisito parcial para
obtenção do Título de Especialista em
Administração Pública, sob a orientação do
professor ROGERIO ALVARENGA.

Brasília-DF
Outubro/2008
iii

Carlos Alberto Pires

REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL

Monografia elaborada e apresentada ao


Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Administração Pública da Universidade
Gama Filho, como requisito parcial para
obtenção do Título de Especialista em
Administração Pública, sob a orientação da
professora ROGERIO ALVARENGA.

Aprovada em ____/____/____

Banca Examinadora:

______________________________ ______________________________
Professora Rosely de Paiva Fonseca Professor(a)
Fernandes (Orientadora) (Membro da Banca)

______________________________ ______________________________
Professor(a) Professor(a)
(Membro da Banca) (Membro da Banca)

Brasília-DF
Outubro/2008
iv

DEDICATÓRIA

À minha família,
notadamente minhas filhas,
em ordem cronológica,
Carla, Rayssa e Lorrane, Yasmin (in memória).
v

AGRADECIMENTOS

À Deus, que em sua infinita bondade


me proporcionou essa oportunidade,
que sabidamente só os privilegiados e
abnegados e persistentes conseguem.
vi

RESUMO

A reforma do Poder Judiciário é um assunto muito vasto, profundo, reflexivo e de


fundamental importância para o futuro do mundo jurídico brasileiro. No atual
momento, quando todos se manifestam inquietos com sua falta de eficiência,
perquirindo as causas de suas carências e reunindo idéias dentro do que for
possível na efetiva conjuntura política, buscando soluções que possam minimizar,
atualizar ou mesmo corrigir em parte as grandes distorções e entraves na aplicação
da justiça, é da maior importância a discussão a respeito da reformulação do Poder
Judiciário brasileiro. A partir da Constituição de 1988, o Poder Judiciário e as
mudanças que nele se fazem necessárias vem sendo objeto de intenso debate, não
só em função dos aspectos materiais de seu funcionamento, mas principalmente
pelo papel político que tem exercido na democracia brasileira, em especial, o de
confrontar decisões dos demais poderes do Estado. Inicialmente, a reforma do
Judiciário apresenta dois aspectos dignos de reflexão: a importância de um maior
debate público e, ao mesmo tempo, a dificuldade de construir acordos suficientes
para a implementação de mudanças. Por essas razões, a proposta de emenda
constitucional relativa à reforma do Poder Judiciário tramita no Congresso Nacional
por quase uma década. A Assembléia Nacional Constituinte de 1988 ofereceu uma
oportunidade singular e histórica de correção dos conhecidos e decantados defeitos
estruturais, equívocos e excessos processuais do Judiciário Brasileiro. Mesmo com
todas as metamorfoses por que passa o mundo moderno, nas áreas tecnológicas,
no gerenciamento e administração com técnicas avançadas e dos padrões de
comportamento humano, nenhum extraordinário e revolucionário processo de
modernização, seja no campo da engenharia administrativa contemporânea, seja na
evolução dos processos e decisões judiciais, foi efetivamente marcante dentro do
Poder Judiciário. Assim, essa monografia tem como objetivo realizar um
levantamento bibliográfico acerca da Reforma do Judiciário no Brasil.

Palavras-chave: Reforma. Judiciário. Constituição. Juízes. Estado. Congresso


Nacional.
vii

ABSTRACT

The Judiciary reform is a very vast subject, profound, reflexive and of fundamental
importance for the future of the Brazilian juridical world. In the current moment, when
all manifest restless with its efficiency lack, the causes of their lacks and gathering
ideas inside that it is possible in the effective political conjuncture, seeking solutions
that can minimize, update or even to correct in part the great distortions and
hindrances in justice application, it is of major importance the discussion concerning
about of the Brazilian Judiciary. From the Constitution of 1988, the Judiciary and the
changes that in him necessary are done has been intense debate object, not only in
function of the material aspects of your operation, but mostly by the political paper
that has been exercising in the Brazilian democracy, especially, the one of confront
decisions of the too much States Powers. Initially, the Judiciary reform presents two
aspects worthy of reflection: The importance of a larger public debate and, at the
same time, the difficulty to build enough agreements for the changes implementation.
For these reasons, the proposal of relative constitutional amendment to the Power
Judiciary reform transacts in the National Congress for almost a decade. The
Constituent National Assembly of 1988 offered a singular and historical opportunity of
correction of the well-known and decanted structural, equivocal defects and
processual excesses of the Brazilian judiciary. Even with all the metamorphoses why
it passes the modern world, in the technological areas, in the management and
administration with advanced techniques and of the standards of human behavior, no
modernization extraordinary and revolutionary process, be in the field of the
contemporary administrative engineering, be in the processes evolution and judicial
decisions, was indeed striking inside the Judiciary. This way, this monograph has as
goal accomplish a bibliographical rising concerning the Judiciary Reform in Brazil.

Key-Words: Reform. Judiciary. Constitution. Judges. State. National Congress.


viii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Situação Judiciária Mundial .................................................................... 32

Quadro 2 – Aspectos Relevantes da Reforma do Judiciário ..................................... 33


ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

CCJ – Comissão de Constituição e Justiça

CF/88 – Constituição Federal de 1988

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

EC – Emenda Constitucional

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

LC – Lei Complementar

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

PDT – Partido Democrático Trabalhista

PEC – Projeto de Emenda Constitucional

PFL – Partido da Frente Liberal

PT – Partido dos Trabalhadores

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

STF – Supremo Tribunal Federal

TRF – Tribunal Regional Federal


x

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
1.1. Apresentação do Problema ...................................................................... 11
1.2. Revisão da Literatura ............................................................................... 11
1.3. Justificativa ............................................................................................... 14
1.4. Objetivos .................................................................................................. 14
1.4.1. Objetivo Geral................................................................................... 14
1.4.2. Objetivos Específicos ....................................................................... 14
1.5. Metodologia .............................................................................................. 15
1.6. Organização e Descrição dos Capítulos .................................................. 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 17


2.1 Contexto Histórico .................................................................................. 17
2.2 Poder Judiciário Brasileiro na Atualidade ............................................... 26
2.3 A Reforma do Judiciário ......................................................................... 32
2.4 Emenda Constitucional nº 45 ................................................................. 43

3 CONCLUSÃO....................................................................................................... 51
3.1 Apresentação dos principais objetivos atingidos e suas soluções ......... 51
3.2 Principais contribuições .......................................................................... 51
3.3 Aspectos positivos e negativos da Reforma do Judiciário ...................... 52
3.4 Trabalhos Futuros .................................................................................. 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 54


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1. INTRODUÇÃO

O tema do presente trabalho (Reforma do Poder Judiciário no Brasil), abordará as

principais características, e suas conseqüências, das propostas em tramitação no

Congresso Nacional.

1.1. Apresentação do Problema

A reforma do Poder Judiciário é um assunto muito vasto, profundo, reflexivo e de

fundamental importância para o futuro do mundo jurídico brasileiro. No atual

momento, quando todos se manifestam inquietos com sua falta de eficiência,

perquirindo as causas de suas carências e reunindo idéias dentro do que for

possível na efetiva conjuntura política, buscando soluções que possam minimizar,

atualizar ou mesmo corrigir em parte as grandes distorções e entraves na aplicação

da justiça, é da maior importância a discussão a respeito da reformulação do Poder

Judiciário brasileiro.

1.2. Revisão da Literatura

A partir da Constituição de 1988, o Poder Judiciário e as mudanças que nele se

fazem necessárias vem sendo objeto de intenso debate, não só em função dos

aspectos materiais de seu funcionamento, mas principalmente pelo papel político

que tem exercido na democracia brasileira, em especial, o de confrontar decisões

dos demais poderes do Estado.

Inicialmente, a reforma do Judiciário apresenta dois aspectos dignos de reflexão: a

importância de um maior debate público e, ao mesmo tempo, a dificuldade de


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construir acordos suficientes para a implementação de mudanças. Por essas razões,

a proposta de emenda constitucional relativa à reforma do Poder Judiciário tramita

no Congresso Nacional por quase uma década.

A Assembléia Nacional Constituinte de 1988 ofereceu uma oportunidade singular e

histórica de correção dos conhecidos e decantados defeitos estruturais, equívocos e

excessos processuais do Judiciário Brasileiro. Mesmo com todas as metamorfoses

por que passa o mundo moderno, nas áreas tecnológicas, no gerenciamento e

administração com técnicas avançadas e dos padrões de comportamento humano,

nenhum extraordinário e revolucionário processo de modernização, seja no campo

da engenharia administrativa contemporânea, seja na evolução dos processos e

decisões judiciais, foi efetivamente marcante dentro do Poder Judiciário.

Tem-se por oportuna a observação de que o Poder Judiciário, até meados do século

XVIII, tinha uma relativa atuação e participação no plano civilizatório, e, atualmente,

se transformou num dos pilares da sociedade moderna.

Pode-se, então, afirmar que o Judiciário somente assumiu a condição de Poder após

dois grandes marcos históricos, quais sejam, a Revolução Francesa e a Declaração

da Independência dos Estados Unidos. Restrições existiram, como na Inglaterra e

nas Constituições Francesas, mas sem tirar-lhe a característica de protetor da

cidadania, qualidade esta que foi ampliada com a mudança do milênio e absorvida

pelas leis basilares, como ocorreu com a Constituição Federal de 1988.

A grande discussão nacional no âmbito jurídico dos dias presentes, sem dúvida está

centrada na urgente necessidade da reforma do Estado, o que passa

inevitavelmente pela reforma do Poder Judiciário, inicialmente pautado na questão

puramente administrativa.
13

Entretanto, ao longo do tempo, em virtude dos constantes escândalos promovidos

por uma minoria de desonrosos juízes, a proposta inicial de reforma vem sendo

modificada, trazendo para o núcleo do sistema jurídico mudanças das mais

perigosas e danosas, tais como: a imobilização do sistema jurisdicional através da

Súmula Vinculante, sendo esta uma proposição que trás, forçosamente, uma

alteração significativa nos andamentos processuais.

Não se pode negar a grande contribuição da OAB do Brasil, ao provocar por

diversas vezes no que tange a reformulação do Poder Judiciário.

Não há a pretensão, nem o atrevimento, nesta pequena reflexão e estudo histórico,

de ocupar o lugar reservado aos sábios e filósofos, juristas que existem no Brasil,

professores respeitados, tais como Miguel Reale, Calmon de Passos, Candido

Albuquerque, Cid Carvalho e tantos outros. No entanto, durante as pesquisas, foi

feita uma avaliação em relação às diversas opiniões que foram colocadas ao longo

do tempo sobre "A Reforma do Poder Judiciário", expressas por diversas correntes

doutrinárias.

Portanto, a reforma do Poder Judiciário é um assunto complexo que tem, como

objetivo possibilitar o acesso e a realização da justiça de forma plena. No entanto,

como via de regra quase todas as reformas no Brasil são recheadas de nuances,

apenas apresentando uma nova aparência aos velhos conceitos, acabam por tornar-

se viciadas na sua mais profunda essência institucional. Conseqüentemente, tais

reformas se apresentam como uma verdadeira colcha de retalhos, cujo agrupamento

tem uma aparência disforme, e lamentavelmente o Judiciário Brasileiro não foi

excluído desta regra.


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1.3. Justificativa

A presente pesquisa justifica-se, uma vez que, é necessário que se compreenda as

verdadeiras causas do caos atual no Poder Judiciário do Brasil, iniciando-se pelos

processos de seleção, admissão, promoção e as formas de indicação de juízes para

os tribunais. Outrossim, se a criação de um órgão de controle externo (Conselho

Nacional de Justiça – CNJ), está tornando eficiente tendo em vista seu papel no

âmbito de todo o Poder Judiciário.

1.4. Objetivos

1.4.1. Objetivo Geral

Este trabalho tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre alguns dos pontos

polêmicos da reforma do Poder Judiciário brasileiro. Trata dos fatos históricos a ela

pertinentes, da cronologia relacionada ao Projeto de Reforma, da situação atual do

Poder Judiciário, bem como das verdadeiras razões do caos em que se encontra.

1.4.2. Objetivos Específicos

Examinar aspectos organizacionais e estruturas do Poder Judiciário;

Analisar o mecanismo de controle externo e fiscalização dos órgãos do Poder


Judiciário (CNJ);

Identificar se as reformas propostas será efetivamente suficientes para que o Poder


Judiciário Brasileiro se torne eficiente e atenda aos seus preceitos constitucionais.
15

1.5. Metodologia de Pesquisa

A metodologia foi estabelecida após realização de revisão bibliográfica e análise da

necessidade de maior entendimento sobre o aspecto histórico, cronológico e

situacional, tanto do ponto de vista da atual realidade do Judiciário no tocante a sua

composição (Juízes), como do Projeto de Reforma do Poder Judiciário, seus

avanços e retrocesso, o qual ainda se encontra no Senado Federal.

No início do trabalho foram selecionadas as obras das quais seriam coletadas as

diversas opiniões sobre todos os pontos polêmicos a serem abordados. Em seguida,

foi procedida a coleta de dados estatísticos, montada as planilhas relativas à posição

atual do Poder Judiciário, no que diz respeito ao quantitativo de Juízes e toda a

cronologia discriminada do trâmite do Projeto na Câmara dos Deputados e Senado

Federal. Partiu-se, finalmente, para a formatação e análise comparativa entre o

Judiciário Brasileiro e o de Portugal, as diversas opiniões expressas e os pontos

polêmicos.

A metodologia baseou-se tanto nos dados estatísticos pesquisados, como nos

comparativos das evoluções e retrocessos provenientes das alterações entre o

Projeto aprovado na Câmara dos Deputados e o que foi modificado no Senado.

As planilhas utilizadas estão divididas em dois pontos: a primeira relativa ao Quadro

Comparativo Sobre a Média Mundial de Membros da Carreira judiciária e a segunda

o Quadro da Situação Atual dos Magistrados no Brasil.

Portanto, o material utilizado para a confecção deste trabalho teve como fonte de

informação as orientações contidas nas obras bibliográficas pesquisadas, as mais

diversas e variadas opiniões e doutrinas, bem como as pesquisas eletrônicas

através da internet.
16

1.6. Organização e Descrição dos Capítulos

Inicialmente, foi feita uma apresentação geral do trabalho, com destaque para o

problema de pesquisa, os objetivos, o tema abordado e a estrutura geral, que

constam do primeiro capítulo.

O capítulo segundo apresenta o referencial teórico, onde serão abordados os temas

que servirão de base para a análise, discussão e conclusão desta monografia, tais

como: Contexto Histórico do Poder Judiciário no Brasil, Poder Judiciário Brasileiro na

Atualidade, A Reforma do Judiciário, Emenda Constitucional nº 45.

No terceiro capítulo é apresentada a metodologia do trabalho

Ainda há o tópico de conclusões, onde serão apresentados as considerações finais

sobre o tema abordado.


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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Contexto Histórico

E evidente que somente o conhecimento da História não é suficiente para se

garantir a perfeição relativa da legislação editada, mas é elemento fundamental para

se evitar muitos erros de avaliação. Isto porque o conhecimento do passado é de

extrema importância para se compreender o presente. Esse é o serviço que a

História presta ao legislador.

Não se pode falar de um Novo poder Judiciário reformado, aperfeiçoado e

moderno cujo sua prestação jurisdicional seja acessível a todos, rápida e barata,

sem que nos recordemos de experiências do passado.

A história nos presta grandes lições do que se deve ou não ser copiado para

os dias atuais. Assim como um cientista em seu laboratório pode reproduzir

experimentos que confirmem ou refutem suas teses o legislador não pode criar

normas de conduta social em caráter experimental para verificar se suas teses estão

corretas e depois editá-las, pois isto mexeria com a vida de milhões de pessoas.

Daí nasce a necessidade de se observar os modelos do passado, copiando seus

acertos e descartando tudo aquilo que não se enquadre dentro da realidade atual,

modelos estes pelo qual faremos nossa curta viagem até os dias atuais, tratando

propriamente da admissão dos magistrado no Brasil a Luz da emenda 45.

O juiz, no plano de nossa organização institucional, representa o órgão estatal

incumbido de concretizar as liberdades públicas proclamadas pela declaração

constitucional de direitos. Assiste-lhe o dever de atuar como instrumento da

Constituição na defesa incondicional e na garantia efetiva dos direitos fundamentais


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da pessoa humana. Essa é a missão socialmente mais importante e politicamente

mais sensível que se impõe ao magistrado, o qual deve ser consciente dos graves

deveres ético-jurídicos que pautam o correto desempenho da atividade jurisdicional.

O Poder Judiciário sofre, como todas as instituições do Estado contemporâneo, os

múltiplos reflexos e impactos de um mundo em vertiginoso processo de mutação.

Sua estrutura tornou-se disfuncional e inadequada às demandas da sociedade

moderna.

Dentro da História da Reforma do Poder Judiciário não se pode deixar de citar a

relevante participação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), desde o ano de

1958, quando da I Conferência Nacional realizada no Rio de Janeiro, que abordou a

questão da oralidade e da celeridade na aplicação da lei. Em 1963, assumiu posição

histórica ao apreciar o substitutivo que tratava da reestruturação do Poder Judiciário,

oferecido pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Miguel Seabra

Fagundes, o relator da Indicação aprovada pelo Conselho, destacou, entre outros

itens, a posição contrária da Ordem à unificação e federalização do Poder Judiciário

e à adoção do prejulgado no STF (Supremo Tribunal Federal), hoje conhecido como

Súmula Vinculante. Finalmente, em sessão acontecida no dia 27 de setembro de

1982, o então Conselheiro Federal Evandro Lins e Silva declarou que a necessidade

da reforma do Poder Judiciário vinha de muito longe, fazendo um diagnóstico que

remontava à década de 20, e insistiu na necessidade da implementação dos

tribunais de pequenas causas, com o funcionamento diuturno da Justiça.

Reportando-se ao anteprojeto de reforma do Poder Judiciário que, naquele

momento, era o objeto de suas preocupações, ressaltou seu receio quanto ao

Supremo Tribunal Federal, que continuaria a julgar contravenções penais. Defendeu


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ainda uma reforma estrutural do Poder Judiciário como solução para as dificuldades

existente naquele Poder.

Portanto, não se pode negar que quando se trata do tema "Reforma do Poder

Judiciário", a OAB tem marcado sua posição, sua participação, ao longo de muitos

anos, na busca incessante da melhoria, pela modernização e transparência, tendo

sempre atitudes de vanguarda com a preocupação e preservação do acesso à

Justiça.

Ainda na trilha dos momentos históricos do tema aqui abordado, percebe-se que a

Assembléia Nacional Constituinte de 1987-88 ofereceu uma oportunidade ímpar e

histórica de correção dos conhecidos e decantados defeitos estruturais, equívocos e

excessos processuais do Judiciário brasileiro. Todavia, essa oportunidade foi

desperdiçada por seus Constituintes e pelo Poder Judiciário.

No entanto, alguns operadores do direito, com elevada preocupação com o

Judiciário nacional, buscaram introduzir na Constituição de 1988 uma justiça mais

ágil, democrática e moderna, mesmo diante das mais diversas resistências e lobbys,

principalmente de um grupo de antijuristas, especialmente do Legislativo

Constituinte, que buscavam influenciar, aberta ou veladamente, decisões contrárias

à tão ansiosa mudança do Poder Judiciário, em favor de determinados interesses

que transformaram e trouxeram à tona as maiores dificuldades hoje latentes dentro

do sistema jurídico brasileiro.

Dentro de um contexto adverso ao descrito, cite-se o Professor e Senador à época,

Cid Sabóia de Carvalho, que buscou dentro daquela Casa demonstrar ou mesmo

expor idéias que para muitos eram revolucionárias, donde se pode observar a sua

preocupação no que diz respeito à evolução democrática do Poder Judiciário.


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Com o apoio e sugestão do Desembargador Edgar Carlos de Amorim, que lhe

enviou uma série de trabalhos, os quais influenciaram o Senador, destacam-se

alguns tópicos:

I – o ingresso na magistratura de carreira dar-se-á mediante concurso público de

provas e títulos, realizado pelo Tribunal de Justiça, com a participação do Conselho

Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil a indicação dos candidatos far-se-á

sempre que possível, em lista tríplice;

No tópico I, a proposta mesmo ainda acanhada já trazia consigo a preocupação com

o nepotismo, e da influência de alguns magistrados no processo seletivo dos futuros

juízes. Não se pode afirmar que esta seria a melhor alternativa, mas já trazia em seu

arcabouço a possibilidade de moralização e transparência no ingresso para a

carreira de magistrado.

II - na primeira instância, a vitaliciedade será adquirida após dois anos de exercício,

não podendo o juiz, nesse período, perder o cargo, senão por proposta do tribunal a

que estiver subordinado, adotada por dois terços de seus membros efetivos;

No tópico II, o formato desta proposição poderia ter sido mais aprofundado.

Observe-se que nesta proposta, com a vitaliciedade após dois anos atribuída ao juiz

em início de carreira, este poderia sofrer a perda do cargo durante o período de

aquisição do direito quando dois terços dos membros efetivos do tribunal ao qual

tivesse subordinado decidisse como tal. Ora, ao se tratar de filho ou parente de um

membro do tribunal não se pode deixar de desconfiar que as punições seriam

aplicadas de forma parcial. Neste caso, deveria ocorrer uma ação normal,

puramente administrativa, como qualquer outro servidor, com todas as prerrogativas

e amplo direito de defesa, pois o referido juiz ainda não teria preenchido os

requisitos básicos para usufruir o direito adquirido e foro especial.


21

III - haverá em cada Estado um colegiado com o fim de promover juizes por

merecimentos, bem como para o acesso à composição de cada Tribunal; compor-

se-á o referido colegiado do Governador, seu presidente efetivo, de dois deputados

estaduais e de dois desembargadores, aposentados ou não; o Governador assinará

o ato, além de votar, quando houver empate;

No tópico III, não se pode permitir que um poder tenha interferência direta no outro.

Assim, com a criação deste colegiado, teriam ingerência no Poder Judiciário

membros efetivos dos Poderes Legislativos e Executivos, com influência pontual nas

promoções de Juizes, o que poderia acarretar em tráfico de poder.

IX - o mandato do presidente de cada Tribunal de Justiça será de um ano, sem

direito a reeleição;

O tópico IX deixa claro a preocupação com a possível perpetuação no cargo dos

Presidentes dos Tribunais de Justiça. Por outro lado, o mandato de um ano não

seria suficiente para a implantação de modelos administrativos, resultando daí sérias

dificuldades na boa condução administrativa do Poder Judiciário.

X - a remuneração total dos desembargadores não poderá ultrapassar os dois terços

do que receberem, a qualquer título, os Ministros do Supremo Tribunal Federal."

No Tópico X fica explicita a inclinação para questões moralizadoras, bem como a

preocupação em não permitir que o Judiciário legisle em causa própria, dando

limitações ou mesmo balizamentos relativos à questão dos vencimentos.

O então Senador, nesta mesma obra, incluiu também outra observação particular,

assim ressaltada.

"O Poder Judiciário deve primar pela lisura de todos os procedimentos e atitudes

inclusive no que diz respeito à constituição de seus quadros e ascensão de seus

integrantes às instâncias superiores."


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Como se fosse profecia, previa o Ilmo Senador, naquele momento, um futuro dos

mais desgastantes na história do Poder Judiciário. Os mais diversos escândalos

assolaram, como por exemplo, a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo, os

desmandos no Tribunal da Paraíba e de Goiás, provocando inclusive a famosa CPI

do Judiciário.

E o brilhante Senador continua em suas afirmações por demais pertinentes:

"O concurso público é indispensável. Mas não basta este, é


necessário que o magistrado, para que venha a gozar da
vitaliciedade, demonstre, pelo menos durante um período de dois
anos, encontrar-se eticamente ajustado às suas nobilíssimas
atribuições".
"Por outro lado, não se pode admitir critérios meramente políticos na
escolha de desembargadores, ao talante dos chefes do Poder
Executivo estadual".
"Preconizam-se, na presente sugestão, outras medidas
moralizadoras, como um limite para a remuneração dos magistrados
estaduais, tomando-se como parâmetro a que percebem os
membros do Supremo Tribunal Federal".

Por fim, aborda alguns temas, como o ingresso dos novos magistrados, sua

vitaliciedade, a sua vocação para o cargo, a sua postura ética, a ascensão dos juizes

aos tribunais e a ingerência do Poder Executivo na escolha dos desembargadores,

mas não deixando também de incluir em sua obra a preocupação com a questão da

remuneração dos magistrados.

Pode-se observar que já em 1987, período da Constituinte, existia a preocupação

em relação a diversos tópicos, hoje colocados por alguns como de modernização e

democratização. No entanto, não se pode deixar de registrar que o tema "Reforma

do Poder Judiciário" enfrentou por muito tempo uma resistência profunda, na medida

em que pessoas extremamente preocupadas com os seus privilégios individuais


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procuravam implantar instrumentos para adequar a referida reforma aos seus

próprios interesses.

Para que se possa entender melhor como tudo teve início expõe-se, nesta

oportunidade, toda a tramitação cronológica do projeto. Será perceptível o quanto foi

difícil a sua tramitação dentro da Câmara dos Deputados, em decorrência da

burocracia interna daquele Poder. Sempre se questiona a demora da Justiça, mas

nunca se condena a demora dos outros poderes.

Em 29/03 de 1992, o Deputado Hélio Bicudo (PT/SP), apresentou à mesa da

Câmara dos Deputados o PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 096/92.

Em 12/08/92, a Comissão de Justiça aprovou a admissibilidade do PEC, cujo relator

foi o Deputado Luiz Carlos Santos.

Em 31/05/94, a tramitação do PEC foi prejudicada em virtude do encerramento dos

trabalhos da Revisão Constitucional.

Em 14/12/94, o Deputado Hélio Bicudo solicitou o retorno da proposta à Casa.

Em 02/02/95, o PEC foi arquivado por ter findado a legislatura sem que o mesmo

fosse aprovado (artigo 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados).

Em 13/04/95, o PEC foi desarquivado pelo seu Autor.

Em 02/08/95, o Presidente da Câmara, Deputado Inocêncio Oliveira (PFL/PE),

constituiu a Comissão Especial para discutir e votar a matéria.

Foi indicado relator, o Deputado Jairo Carneiro (PFL/BA).

Em 30/09/95 foi apensada a esta o PEC 112/95, do Deputado José Genoíno

(PT/SP).

Foram apresentadas 04 (quatro) emendas à matéria.

Em 08/08/96, o Deputado Jairo Carneiro apresentou um substitutivo, resultado dois

PECs (96/92 e 112/95).


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Em 02/02/99, a Comissão foi dissolvida e o PEC arquivado, por findar a legislatura e

o mesmo não ter sido votado.

Em 22/02/99, o PEC foi desarquivado a pedido do Deputado José Genoíno.

Em 30/03/99, o Presidente da Câmara, Deputado Michel Temer, decidiu constituir

Comissão Especial para apreciar o PEC, cujo Presidente eleito foi o Deputado Jairo

Carneiro (PFL/BA). Indicado como relator o Deputado Aloysio Nunes Ferreira

(PSDB/SP).

Foram apensadas ao PEC 96/92 (que já tinha o PEC 112/95), os seguintes:

PEC 54/95 do Senado (PEC 500/97 na Câmara), do Senador Ronaldo Cunha Lima

(PMDB/PB), que houve por bem instituir o "efeito vinculante’

PEC 127/95, do Deputado Ricardo Barros (PPB/PR), que aumenta para 75 (setenta

e cinco) anos a idade para aposentadoria compulsória.

PEC 215/95, do ex-Deputado Matheus Schmidt (PDT/RS), que estabelece

aposentadoria facultativa às mulheres, membros da magistratura, aos 25 (vinte e

cinco) anos de serviço, após 05 (cinco) anos de efetivo exercício na judicatura.

PEC 368/96, (do Executivo), que atribui competência à Justiça Federal para julgar

crimes praticados contra os direitos humanos.

O prazo para apresentação de emendas ainda foi prorrogado (até 30/04/99),

oportunidade em que foram apresentadas mais 45(quarenta e cinco) emendas ao

PEC.

Em 01/06/99, o Deputado Aloysio Nunes Ferreira apresentou substitutivo, pela

aprovação do PEC 96/92, dos PECs apensados e parcialmente das emendas

apresentadas.

Em 11/08/99, o PEC foi redistribuído à deputada Zulaiê Cobra (PSDB/SP), para

relatar. A Comissão Especial optou por indicar relatores por áreas setoriais:
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O Deputado Renato Viana relatou a questão da Estrutura e Competência do STF e

da Justiça Federal; o Deputado Marcelo Deda relatou a questão da Fiscalização e

Controle do Poder Judiciário; o Deputado Luiz Antônio Fleury Filho foi o Relator da

Súmula Vinculante; o Deputado José Roberto Batochio (PDT/SP), relatou a questão

do Acesso à Justiça e o Direito à Sentença; e o Deputado Ibrahim Abi-Ackel

(PPB/MG) relatou a questão dos Direitos, Garantias e Disciplina dos Magistrados,

Tribunais e Juizes Estaduais.

Em 19/10/99, a Comissão Especial aprovou unanimemente o parecer da Relatora,

ressalvados os destaques.

Em 18/11/99 a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o substitutivo,

alterado por destaques, da Deputada Zulaiê Cobra (PSDB/SP).

Em 19/11/99, o PEC foi lida em Plenário.

Em 24/11/99, iniciaram-se as discussões da matéria no Plenário da Câmara dos

Deputados.

Em 19/01/00, o Plenário aprovou, por 456(quatrocentos e cinqüenta e seis) votos a

favor, 21(vinte e um) contra e 01 (uma) abstenção o texto principal da relatora,

ressalvados os destaques.

Em 25/01/00, o Plenário iniciou a votação dos destaques e emendas aglutinativas

(em torno 100).

Em 12/04/00, o Plenário concluiu a votação da matéria em primeiro turno.

31/05/2000 - O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou o PEC em segundo

turno. O texto principal foi aprovado por 380 (trezentos e oitenta) votos favoráveis,

21 (vinte e um) contrários e 03 (três) abstenções. Em reunião do Presidente da

Câmara com os Líderes dos partidos, decidiram votar somente 15 (quinze)

destaques de bancada.
26

Os destaques individuais foram rejeitados em globo. Na votação dos destaques, 03

(três) foram aprovados: um que suprimiu a "mordaça" para os magistrados; outro

que suprimiu a exigência de lei para limitar a competência do juiz em estágio

probatório; e o terceiro destaque aprovado suprimiu o art. 50 do substitutivo que trata

de precatórios. Dois foram rejeitados

07/06/2000 - Concluída votação da Reforma do Judiciário (PEC 96/92).

Na sessão de 07/06/2000, o Plenário da Câmara dos Deputados concluiu a votação

do PEC, em segundo turno, com a votação dos 03 (três) últimos destaques (05, 08-

A, 10). Um deles, que foi aprovado (DVS 05), suprimiu o foro privilegiado. O quadro

que se encontra em anexo neste trabalho mostra o resultado da votação de todos os

destaques de bancada no 2º turno, bem como as alterações promovidas no Senado

pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação - CCJR, até 10 de outubro de

2002.

2.2. Poder Judiciário Brasileiro na Atualidade

A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, diz no seu artigo 5º.,

inciso XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça

a direito, garantindo a todos, peremptoriamente no dia-a-dia da prática forense, o

direito à apreciação pelo Poder Judiciário de qualquer que seja a demanda,

prevalecendo o princípio do direito subjetivo do cidadão. Conforme alguns

renomados juristas quando declinam suas opiniões sobre os grandes problemas no

Poder Judiciário, afirmam ser esta uma das maiores razões da sobrecarga da nossa

justiça.
27

Por outro lado, nunca se levou em consideração que outros fatores transformaram e

levaram o Judiciário Brasileiro a esta situação caótica, como a falta de infra-

estrutura, tanto do ponto de vista físico-pessoal e logístico, quanto a quantidade

absurda de demandas nos Tribunais Superiores. Este problema, por sua vez, é

provocado em grande parte pelo próprio Poder Publico, pela objeção e resistência

muitas vezes infundadas e nem sempre justificadas às pretensões legítimas

manifestadas pelos cidadãos de boa-fé, que se vêem compelidos em face ao

comportamento inaceitável, arbitrário e protelatório dos Entes Públicos, os quais se

utilizam inclusive de instrumentos de ordem "constitucional" criados para outras

finalidades, a buscar a interferência do Poder Judiciário. Tal é o caso de algumas

Medidas Provisórias exaradas pelo Poder Executivo, as quais praticamente obrigam

os cidadãos ingressarem em juízo, a fim de ver o seu direito subjetivo assegurado,

gerando, desse modo, uma desnecessária multiplicação de processos contra o

Governo.

Claro está que alguns pontos mais delicados e urgentes devem ser resolvidos para

que efetivamente haja um aumento na produtividade e conseqüentemente uma

assistência jurisdicional mais adequada. Como exemplo, pode ser citada a criação

de um mecanismo jurídico/processual que evite procedimentos meramente

protelatórios e que impeçam a utilização de dispositivos e preceitos constitucionais

para os fins que não sejam os amparados pela Carta Magna.

Com efeito, verifica-se que muitos advogados, inclusive os que labutam para o

Poder Público, invocam e justificam de maneira antiética tais dispositivos e preceitos

a seu serviço, como por exemplo, o princípio do contraditório, da ampla defesa e do

devido processo legal, de forma inescrupulosa, inconseqüente e irresponsável, com

a única intenção de ganhar tempo, esquecendo-se que tais atitudes promovem


28

prejuízos incalculáveis tanto para o Estado, bem como para grande parte da

sociedade que não mais acredita na instituição: Poder Judiciário.

Tal fato foi comprovado com a matéria publicada pelo Jornal do Estado de Minas

que revelou o conceito do Judiciário junto a população, cuja pontuação foi

considerada péssima. Em pesquisa, realizada pela Salles Inter-Americana de

Publicidade, foi solicitada pela Escola de Magistratura de São Paulo. A população

considerou a justiça como "antiquada", "acomodada", "lenta", "elitista", "sombria" e

"ineficiente".

Portanto, essas situações provocam e contribuem em muito para a

institucionalização tanto da impunidade, como da pseudo-injustiça.

Para solucionar tais fatos são necessárias medidas de cunho inibidor, que possam

evitar definitivamente atitudes de comprovada má-fé, de argumentos infundados e

descabidos, num "ping-pong" infernal, sem prejuízo das penalidades legais a serem

aplicadas a quem as pratica.

Com a imposição de tais providências legais, certamente haveria uma atuação

jurisdicional mais pronta e mais econômica para todas as partes envolvidas,

inclusive para o próprio Estado.

O outro ponto fundamental para a solução da morosidade no Judiciário Brasileiro

consiste em uma análise mais profunda nos dados levantados, os quais informam a

principal esfera dos recorrentes. Vê-se que quase 61% dos recursos em tramitação

no Supremo partem da União, seguido pelo INSS com 21,94% e pelo Estado de São

Paulo com 11,59%. Realizada a soma, verifica-se que aproximadamente 95% de

todas as demandas no STF e outros Tribunais Superiores são, de fato, oriundas do

Poder Público. Outra questão a ser abordada diz respeito as ações e matérias já

decididas anteriormente, inclusive sumuladas pelos Tribunais Superiores, que


29

correspondem há aproximadamente a 80% das ações em trâmite nestas instâncias.

O Poder Público insiste no inconformismo irracional e inútil, não se submetendo á

jurisprudência dominante das Altas Cortes, provocando assim um delongar,

prejudicial e desgastante dos feitos, procrastinando ao máximo a sua inevitável e

tardia derrota, utilizando a tática de quem não tem o bom direito.

Não há como se contestar os dados aqui expostos. Estes procedimentos deploráveis

se verificam na União, nos Estados e nos municípios. A justificativa alegada é da

carência de recursos, o que, por sinal, já se tornou uma característica de

governantes incompetentes e maus aplicadores de suas arrecadações tributárias.

Por tudo já exposto, não obstante o problema da morosidade e da quantidade de

recursos, há de ser mencionada a questão estrutural, nascida com o advento da

Constituição de 1988, cuja contribuição foi das mais significativas para este processo

de desgaste.

Criou-se na Constituição Federal de 1988 uma nova abertura para que os cidadãos

buscassem os seus direitos, sem no entanto preparar o Poder Judiciário, com

estrutura apropriada, para suportar a demanda de processos que estariam por vir.

De maneira comparativa, pode-se afirmar que a Constituição de 1988 foi para o

Brasil, no que diz respeito ao Poder Judiciário, como a construção de um moderno

Shopping Center, sem vias de acesso e de infra-estrutura, adequadas, causando um

grande congestionamento e confusão.

Com tal comparação, verifica-se que não houve por parte dos Constituintes a

preocupação, ou mesmo a previsibilidade, quanto às questões estruturais como, a

quantidades de juizes e varas, de tribunais, de uma reformulação nos Códigos

Processuais, Civil e Penal, nas aquisições e modernizações das juntas, varas e

tribunais de todas as instâncias.


30

Certamente estes foram os principais pontos que levaram o Poder Judiciário a essa

situação de caos.

Os quadros abaixo se referem ao quantitativo dos magistrados na primeira e

segunda instância de alguns países, o que permite fazer um balizamento

comparativo, pois os mesmos se encontram distribuídos como o exposto.

Quadro 1 – Situação Judiciária Mundial

Promotores, Custo do
Juízes Formados População do País
Promotores da Sistema Média
País Advogados de em em
República, Magistrados Jurídico Judicial
Carreira Direito 2001 / Milhões
Requerentes ou fiscais Oficial

Alemanha 60.00 16.000 4.000 -- 7% Orçamento 83 5.187

Itália 90.000 5.000 3.000 -- -- 58 11.600

Espanha -- 3.00 1.400 -- -- 40 13.333

Inglaterra 77.000 1.800 -- -- -- 50 27.777

França 36.000 6.500 1.600 -- 3.2% Orçamento 60 9.230

Japão -- 2.850 1.500 -- -- 127 44.561

Holanda -- 1.500 450 -- -- 16 10.666

0,3% PIB 1,2%


USA 750.000 32.000 -- -- 279 8.178
Orçamento

9% orçamento
Brasil 500.000 12.801 8.400 1 milhão 166 12.967
2,1% PIB

Portugal -- 1.515 1.087 -- 1,2% Orçamento 10 6.600

Fonte: Baseado em Silva (2008).


31

Quadro 2 – Aspectos Relevantes da Reforma do Judiciário

Magistrados judiciais 1º Grau 2º Grau Total

Federal 900 140 1.040

Trabalhista 2.100 350 2.450

Militar Estadual e Fed. 47 + 48 17 + 9 121

Estadual 8000 1.190 (TA e TJ) 9.190

Total -- -- 12.801

Fonte: Baseado em Silva (2008).

Conclui-se, preliminarmente, que comparando a quantidade de Juízes X População

no Brasil temos 01(um) Juiz para cada 12.968 (doze mil novecentos e sessenta e

oito) brasileiros o que vale 0,0078% da população, enquanto que em Portugal este

mesmo índice é de 01(um) Juiz para 6.601( seis mil, seiscentos e um) portugueses o

equivalente a 0,066%, ou seja, bem mais de 100% em relação ao Brasil.

Quando levado este comparativo para os Promotores a situação fica ainda mais

gritante. No Brasil existe 01(um) Promotor para 8.400 ( oito mil e quatrocentos)

brasileiros o que vale 0,0051% da população. Já em Portugal os valores são de 01

(um) Promotor para 1.087 (mil e oitenta e sete) portugueses, perfazendo um

percentual de 0,011%.

Enquanto, temos 1(um) juiz para quase 13.000 (treze mil) habitantes, a média, na

Europa, é de 1 para 3.000 (três mil) a 6.000 (seis mil) habitantes. Por sua vez,

enquanto o Supremo Tribunal Federal julgou mais de 70.000(setenta mil) processos

no ano de 2001, a Suprema Corte dos Estados Unidos julgou menos de 100(cem)

causas em igual período e o Superior Tribunal de Justiça mais de 200.000(duzentos

mil), números de longe sem similar no âmbito internacional, sem se falar que as

instâncias ordinárias estão igualmente super congestionadas.


32

Dessa forma, conclui-se, sem muito esforço, que há uma clara disparidade entre o

Judiciário que o povo brasileiro tem, daquele que deveria ter, ágil, moderno,

democrático e transparente e que todos almejam. No entanto, não se pode negar

que muitos juizes encontram-se descontentes com tal situação. Clamam por

mudanças, principalmente no tocante a estrutura logística, reivindicando melhores

condições de trabalho, redução das cargas de processos, aumento do número de

juizes e de assessores, inclusive reformas dos Códigos de Processos, que deles se

acham reféns.

2.3. A Reforma do Poder Judiciário

Após dez anos de uma lenta tramitação no Congresso Nacional, o projeto de

emenda constitucional que trata da reforma do Poder Judiciário, cuja reta final se

aproxima, seguiu para o Senado Federal.

Entre idas e vindas, algumas propostas razoáveis, outras disparatadas, algumas

inócuas, outras não, apresenta-se agora um projeto que poderia ter sido mais

audacioso, mais moderno, com maior transparência e democracia.

No entanto, deságua naquele que para muitos, é a reforma possível para o

momento, mantendo pontos que ainda demonstram a sua característica

conservadora.

Como já foi amplamente discutido, o Poder Judiciário está atualmente sofrendo,

como todas as instituições do Estado hodierno, os mais diversos reflexos e impactos

de um mundo que passa por processo violento de transformações, hoje,

denominado de "GLOBALIZAÇÃO".
33

Sua estrutura atual tornou-se arcaica, antiquada, permaneceu conservadora, ainda

com a mentalidade do Século XIX e, totalmente, inadequada aos anseios da

sociedade.

Mesmo com todas as metamorfoses que assolam o mundo moderno, nas áreas

tecnológica, no gerenciamento e administração com técnicas avançadas e dos

padrões de comportamento humano, nenhum extraordinário e revolucionário

processo de modernização, seja no campo da engenharia administrativa

contemporânea, seja na evolução dos processos e decisões judiciais, nada foi

efetivamente realizado, no intuito da modernização do Poder Judiciário.

Que se faz necessária à reforma do Judiciário, isso não se tem qualquer dúvida.

Também como se pode afirmar que é este o único ponto de convergência entre as

diversas correntes doutrinárias, políticas e jurídica envolvidas no processo. É um dos

maiores desafios atualmente do mundo jurídico nacional.

Mas quando se entra nas especificidades e particularidades dos artigos e pontos

mais polêmicos, começam as divergências que serão tratados neste trabalho.

Propõe-se então a discussão, e exposição de alguns pontos mais polêmicos da

reforma do Poder Judiciário, que se encontra ainda no Senado Federal, sendo assim

destacados:

processo de seleção e admissão de magistrados;

os critérios de promoção magistrados, as formas indicações e eleições nos

tribunais;

órgão de controle externo do Poder Judiciário;

os efeitos da súmula vinculante.


34

2.3.1. Processo de Seleção e Admissão de Magistrados.

Outrora, a imagem que se via do Juiz era para muitos sinônimo daquela pessoa

séria, sisuda, compenetrada, de um comportamento retilíneo, sempre de larga

experiência judicante na sociedade e por isso mais idosos.

Hoje, com a evolução da sociedade, há uma inclinação na busca da modernidade,

através de uma nova tendência para o ingresso na magistratura. O novo juiz

necessariamente deverá ser possuidor de conhecimento jurídico e experiência

forense, independentemente de sua idade.

Esta, portanto, é a visão manifestada pelos legisladores envolvidos no processo de

reforma do Judiciário.

No entanto para que se possa analisar com mais clareza os fatos, são necessárias

algumas observações mais profundas do referido trecho da reforma, agora exposto:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre

o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, através de

concurso público de provas e títulos realizado por entidade pública não pertencente

à estrutura do Poder Judiciário, assegurada a participação da Ordem dos Advogados

do Brasil e do Ministério Público em todas as suas fases, exigindo-se do bacharel

em direito, no mínimo, cinco anos de atividade jurídica, computando-se para tal

efeito, o tempo de efetiva realização de curso regular de escola oficial de

magistratura, e observando-se, nas nomeações, à ordem de classificação; (NR)

Observa-se que a grande preocupação recai sobre a formação intelectual, bem

como a suposta presunção de que somente "n" anos de experiência em atividades

jurídicas fará com que este Bacharel em Direito seja a pessoa que a sociedade tanto

almeja como um bom Juiz.


35

Existem, entretanto, outros fatores que não foram objeto de observação, tais como:

aspectos psicológicos e morais da personalidade do candidato a juiz que, por força

de suas atribuições decidirá sobre a vida do cidadão e das relações sociais.

Vê-se hoje que alguns magistrados, mesmo em minoria, por uma má formação

moral, por despreparo, por falta de maturidade, as vezes por não saber lidar com o

poder, transformam-se em verdadeiros tiranos.

O cargo assumido lhes sobe à cabeça, maculando a honrosa função de julgador.

Felizmente, não é a maioria.

Tal característica definiu muito bem o Ilmo juiz do TRF da 1ª Região, Dr. Eutáquio

Silveira, quando disse Não há pior juiz do que aquele que busca a notoriedade. Que

só decide pensando na repercussão favorável que a sua decisão terá na mídia e,

com esse objetivo, pratica todas as ilegalidades e abusos imagináveis, passando ao

largo da lei e da ordem jurídica. Magistrado como esse não pode exercer a função

que exerce, não está preparado para representar o Estado na sua atividade

jurisdicional. Deve ser excluído dos quadros da Magistratura, porque a ela desserve.

Cabe salientar que, em se tratando de uma reforma, poderia o legislador ter tido uma

maior precaução a respeito da questão relativa à experiência profissional, ao exigir

do candidato ao cargo de magistrado pelo menos alguns anos de efetiva atividade

advocatícia, e não tão somente atividade jurídica. Dessa forma, o exercício da

advocacia por um período mínimo de 3 anos, deveria ser um requisito para aos que

almejam um cargo de juiz, tanto pelo fato da experiência propriamente dita, quanto

para melhorar o relacionamento entre juizes e advogados.

Isso não significa que os Bacharéis em Direito, que exercem atividades jurídicas a

mais de 5 anos, conforme proposta da PEC 29/00 no seu Artº 93 inciso I, não

detenham a mesma condição intelectual. Mas o que não se pode negar é que o fato
36

de ter estado do outro lado, sentindo de perto todas as dificuldades enfrentadas

durante as atividades advocatícias, torna essa experiência de fundamental

importância para a formação de bom magistrado.

Outro ponto que deve ser observado trata do "Curso de Formação à Magistratura",

que para muitos deveria acontecer imediatamente após sua aprovação no Concurso.

Todavia, este deveria ser um pré-requisito para a admissão no cargo de juiz e não

após a investidura no mesmo.

O Curso de Formação deveria ter característica de Mestrado, com duração mínima

de 2 anos e estaria subordinado ao Conselho Nacional de Justiça, Conselho

Nacional do Ministério Público e OAB, com apoio da Escola de Magistratura, que

determinariam a estrutura acadêmica do referido curso, podendo inclusive solicitar

suporte das Universidades.

Quanto ao ingresso no Curso de Formação, este seria através de processo seletivo

de provas e títulos.

Algumas indagações foram feitas relativas a tal proposta, afirmando-se inclusive que

sendo o Curso de Formação um pré-requisito para o ingresso na magistratura, traria

consigo a exclusão de alguns em favor de outros mais abastados, podendo imperar

o Nepotismo.

Ora, partindo do pressuposto que tal Curso teria organismos envolvidos em sua

criação e coordenação, como o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional

do Ministério Público e OAB, com apoio da Escola de Magistratura, seria o mesmo

que afirmar que o nosso Judiciário é formado exclusivamente por maus juizes. O que

não é verdade.
37

Quanto aos recursos para financiamento do Curso, uma parcela seria proveniente

das taxas processuais, no caso específico do Ceará do FERMOJUR, sendo o

restante das despesas pagas pelos próprios alunos.

Outra preocupação que surge, versa sobre a vitaliciedade do juiz em início de

carreira. Coloca-se em dúvida se é uma garantia do juiz ou do jurisdicionado. Se a

garantia é do juiz, é correto que o mesmo não pode se beneficiar sem antes provar a

sua competência e presteza, inclusive a sua postura vocacional para o cargo. Por

outro lado, sendo esta garantida ao jurisdicionado, fica complicado entender como

poderia existir juizes vitalícios e não vitalícios exercendo as mesmas funções. Neste

caso, alguns jurisdicionados vão se beneficiar dessa garantia e outros não, por uma

mera questão de sorte e tempo, pois é desta forma que hoje está posto.

Fazendo-se uso das sugestões do Profº Candido Albuquerque, posteriormente à

aprovação no Concurso, o aspirante a juiz trabalharia e seria remunerado, passando

por um processo de adaptação, ou seja, um período de estágio probatório de 1(um)

ano, na sua futura Comarca, para adquirir a vitaliciedade, bem como para conhecer

as particularidades do local onde deveria exercer suas funções judicantes.

De outra forma, sendo o Curso de Formação um pré-requisito para o Concurso para

Magistratura e o Estágio Probatório como requisito básico para admissão do Juiz,

pode-se assim justificar;

1º - estaria o Juiz dentro do pressuposto de maturidade e intelectualmente pronto

para o exercício da função;

2º - a vitaliciedade deixaria de estar vinculada à obrigatoriedade do cumprimento do

tempo de 3 (três) anos, conforme a proposta que se encontra na PEC 29/00 Artº 95

inciso I do Senado Federal, ficando unicamente atrelada ao desempenho e aos

critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela


38

freqüência do aspirante a magistrado durante 1 ano de estágio probatório em sua

Comarca.

Por fim, fica assim automaticamente resolvido a questão relativa a idade do futuro

Juiz, que por força das exigências estaria assumindo as suas funções próximo dos

30 (trinta) anos, pois conforme média histórica se conclui o Curso de Graduação ou

Bacharelado aos 23 (anos) anos, tendo este que passar mais 3 anos na efetiva

atividade forense, mais 2 anos no Curso de Formação e aproximadamente 2 anos

referente ao concurso e período de Estágio Probatório na sua Comarca.

2.3.2. Os Critérios de promoção dos Magistrados, as formas de indicações e

eleições nos tribunais

Todo sistema jurídico saudável, que tenha a finalidade de proporcionar justiça, deve

em primeiro lugar, ter dentro dos seus quadros de juizes pessoas vocacionadas,

altamente aptas, competentes e que respeitem e sejam respeitados pelos seus

concidadãos na sociedade. Para que tudo isso aconteça, também se faz necessário

existir engrenagens institucionais adequadas com o intuito de selecionar e manter

estes indivíduos dentro e em harmonia com a estrutura moderna do judiciário.

Em se tratando das promoções no Projeto de Emenda Constitucional da reforma do

Poder Judiciário, era de se esperar dos legisladores, bem como dos magistrados

que tanto buscaram a modernização e democracia, uma maior ousadia e a

implementação de mecanismos institucionais mais atualizado neste processo.

Mas há de se reconhecer os avanços alcançados na reforma, tímidos, em algumas

áreas, expressivos em outras. Alguns merecem ser enaltecidos, como a vedação da

nomeação de parentes de magistrados até o segundo grau civil, para os cargos de


39

confiança nos tribunais, sendo que este assunto será adiante tratado com mais

detalhe.

Outra importante conquista foi que metade do Órgão Especial dos Tribunais será

eleita diretamente pelo conjunto dos juízes vinculados à Corte. Embora ainda não se

tenha conseguido a eleição direta para a presidência dos tribunais, isso é apenas

uma questão de tempo.

Foram alterados também pontos relativos à promoção por antiguidade, exigindo-se

que a recusa do juiz mais antigo pelo tribunal pressuponha o voto fundamentado de

dois terços de seus membros, assegurada ampla defesa ao magistrado, conforme

consta na alínea "d" do inciso II do Artº 93, já devidamente alterado no Senado.

Ressalve-se que este ainda não é o texto definitivo, pois deverá ser remetido

novamente à Câmara dos Deputado.

O que deixa margem para uma maior preocupação é o fato da existência, no texto

originário da Câmara do Deputados, Artº 93 alínea "e", de uma vedação à promoção

do juiz que retiver autos injustificadamente além, do prazo legal.

Vê-se, neste caso, que a exclusão por parte do Senado Federal do referido texto,

teve a preocupação de não melindrar e/ou de favorecer alguns maus juizes. Foi se

excluído do texto constitucional aquilo que é de sua obrigação funcional: "decidir" o

mais rápido possível.

O nepotismo não foi esquecido. É mais uma evolução que trata o Artº 93 inciso XVII,

ao proibir a nomeação ou designação para cargos em comissão e funções

comissionadas de cônjuges, companheiros ou parentes até o segundo grau,

extensivo a todos os membros dos referidos tribunais.


40

Com isso, nenhum membro dos tribunais poderá fazer as permutas que hoje

acontecem, com a nomeação de parentes de juizes para assessores de outros

magistrados e assim por diante.

A única exceção consiste para o funcionário efetivo dos quadros dos tribunais. Neste

caso, poderá assumir cargos Comissionados, sendo vedado servir ao magistrado

que é seu parente.

Com o objetivo de levar para os tribunais a experiência profissional e uma visão

ampla e de certa forma bem mais amadurecida de advogados e membros do

Ministério Público, justifica-se a manutenção do Artº 94 da PEC, que trata do Quinto

Constitucional.

No entanto, muitas são as críticas no que diz respeito a sua formatação e indicação.

2.3.3. Órgão de Controle Externo do Poder Judiciário

Este é um dos temas mais debatidos dentro do mundo jurídico, em que todos

convergem para um mesmo ponto: a necessidade de um Órgão de Controle do

Poder Judiciário; no caso concreto: o Conselho Nacional de Justiça.

O grande debate está na sua formação e formatação, bem como suas atribuições,

além do alcance que teria dentro do Sistema Judiciário brasileiro.

Com efeito, uma das grandes preocupações seria a introdução de mecanismos que

restringissem ou ameaçassem a independência e a imparcialidade do Poder

Judiciário. Ora, esse tipo de preocupação demonstra, claramente, quão é imensa a

falta de informações a respeito do assunto por parte daqueles que prognosticam o

enfraquecimento do Judiciário.
41

Antes de tudo, ressalta-se que a designação "controle externo do Judiciário" é

imprecisa, pois não se defende o controle efetivado por membros estranhos ao

mundo jurídico, como se fossem cartas tiradas da manga num passe de mágica,

com intuito de desmoralizar ou até ridicularizar o Poder Judiciário. Conforme se pode

observar no Artº 103-B da proposta aprovada pela Comissão de Constituição Justiça

e Redação - CCJR do Senado Federal tal órgão de controle seria bem eclético,

constituído por representantes dos mais variados seguimentos e instituições oficiais

ligadas ao sistema jurídico, inclusive da própria magistratura. O Conselho Nacional

de Justiça seria composto de doze membros, sendo 01 Ministro do Supremo

Tribunal Federal, 01 Ministro do Superior Tribunal de Justiça, 01 Ministro do Tribunal

Superior do Trabalho, 01 Ministro do Superior Tribunal Militar, 01 Desembargador de

Tribunal de Justiça, 01 Juiz estadual, 01 Desembargador Federal de Tribunal

Regional Federal, 01 Juiz Federal, 01 Desembargador Federal do Trabalho de

Tribunal Regional do Trabalho, 01 Juiz do Trabalho e 02 Advogados.

Outro ponto a ser bem explicitado, para não deixar nenhuma margem a dúvidas, é o

fato do referido controle se dar apenas no âmbito das esferas administrativas do

Poder Judiciário, enquanto as demais atividades jurisdicionais, que são os

fundamentos da essência e existência do próprio poder, ficarão intocáveis e

inatingíveis, somente sendo possível questioná-las através das já existentes vias

recursais.

O órgão de controle administrativo do Judiciário fiscalizaria a legalidade dos atos

administrativos, em geral, e a execução orçamentária das várias instancias do Poder

Judiciário; controlaria a prática do nepotismo tão comum no Poder e, entre outras

prováveis funções, cuidaria de eventuais casos de corrupção. Isto posto, parece

bastante claro que longe de fazer soçobrarem os pilares do Judiciário, o controle


42

externo seria instrumento para uma maior transparência e eficácia das ações do

Poder em questão e, conseqüentemente, apresentar-se-ia como um instrumento

para a ratificação e desenvolvimento da democracia.

2.3.4. Súmula Vinculante

Em trabalho doutrinário elaborado nos idos de 1979, quando analisado como se

formaria a jurisprudência sob o império da Lei Orgânica da Magistratura Nacional,

tornaram-se firmes as posições contra a "interpretação vinculada", prevista na

ditatorial Emenda Constitucional nº 7 de 13/4/77, através da qual era permitida a

criação de um perigoso sistema de súmulas vinculativas, ou seja, com força de lei.

Alterando o art. 119, I, "1" da CF de 67/69, dispôs a Emenda nº 7 competir ao

Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente a representação do

Procurador-Geral da República, por inconstitucionalidade ou para interpretação de

lei ou ato normativo federal ou estadual. Uma vez acolhida, a decisão do Supremo

Tribunal Federal passava a ter eficácia vinculativa absoluta.

Eis aí, no direito positivo constitucional, à época, o embrião da atualmente cogitada

súmula vinculativa ou vinculante; a de hoje com pretenso alcance amplo para

matéria constitucional e infraconstitucional, a de ontem com a nada recomendável

espuriedade de sua origem. Se a liberdade de julgar foi, naqueles tempos de

repressão ao comunismo, considerada um excesso comprometedor da ordem

constituída então vigente, servia aquela "interpretação", forcejada e aliada à súmula

obrigatória, como o meio da coibição de qualquer suposto extremismo.

Naquele modelo, as súmulas vinculativas e a avocatória jamais chegaram a ser de

fato constituídas.
43

Desta forma, a súmula vinculante viola a independência jurídica do juiz, isto é, sua

independência interna, dando assim todas as possibilidades de se argüir a sua

Inconstitucionalidade, principalmente se observado que, "ninguém será obrigado a

fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art. 5º, inc. II, da

CF/88), cláusula pétrea não passível de alteração pelo poder constituinte derivado.

Ademais, pode-se também invocar, utilizando-se a Constituição Federal que é por

demais pródiga, outra cláusula pétrea que enfatiza a garantia do devido processo

legal. No inciso LIV do seu art. 5º diz que ninguém será privado da liberdade ou de

seus bens sem o devido processo legal. Como se tanto não bastasse, acrescenta no

inciso LV que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e

recursos a ela inerentes. Observando-se por este prima, fica clamo a impossibilidade

de se considerar válida a Súmula Vinculante.

2.4. A Emenda Constitucional nº 45

No tocante ao ingresso dos Juízes no Judiciário, a emenda constitucional 45

no inciso I do artigo 93 da Constituição Federal de 1988, in verbis:

"Art. 93....................................
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto,
mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do
bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e
obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;"

Por outro lado, o Juizado Especial Cível (Lei 9099/95) diz em seu artigo 9º

diz:
44

"Art. 9º. Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes
comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado;
nas de valor superior, a assistência é obrigatória."

A lei libera ao cidadão comum para perquirir diante do juizado nas causas

até 20 salários-mínimos, sem necessidade de advogado.

Caso o cidadão sempre utilize este meio, estará realizando atos jurídico-

processuais capazes de lhe dar o título de três anos de atividades jurídicas?

O inciso primeiro do artigo 93 da Constituição Federal não faz menção que

os bacharéis em direito deverão ter os três anos de experiência depois de concluído

o curso. E afinal, o que são atividades jurídicas, se até um cidadão qualquer pode

tomá-las ´lato sensu´?

Uma grande parte da questão é resolvida pela Lei 8906/94 (Estatuto da

Advocacia) em seus artigos 1º e 3º:

"Art. 1º. São atividades privativas de advocacia:


I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados
especiais;
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º. Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração
de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal.
§ 2º. Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena
de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos
competentes, quando visados por advogados.

E, principalmente no artigo 3º:

Art. 3º. O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e


a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem
dos Advogados do Brasil - OAB.
§ 1º. Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta
Lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da
45

Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da


Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
entidades de administração indireta e fundacional.

Exposto tudo isso, o § 2º do artigo 3º é claro:

§ 2º. O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar


os atos previstos no artigo 1º, na forma do Regulamento Geral, em
conjunto com advogado e sob responsabilidade deste" .

Pelo visto da lei federal alinhada, infere-se que a ela são submetidos,

praticando atos privativos de advogados como atividade jurídica:

Os integrantes da Advocacia-Geral da União;

Os integrantes da Procuradoria da Fazenda Nacional;

Os integrantes da Defensoria Pública;

Os integrantes das Procuradorias dos Estados, Distrito Federal e

Municípios;

Os integrantes das Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito

Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e

fundacional e

Os Estagiários de direito quando acompanhados destes.

"Os estagiários nestas situações, quando devidamente


acompanhados de advogados ou integrantes destas funções, estão
exercendo atividades jurídicas. E onde a lei não faz distinção, não
cabe ao intérprete fazê-lo. Pela simples razão de que o § 2º remete
ao artigo 1º e quando fala acompanhados de advogados infere-se
que são àqueles a que se submetem ao Estatuto, todos arrolados
acima."

Viável é a assinatura do estagiário de direito numa petição inicial, como em

outros atos processuais, quando devidamente acompanhada de advogado.


46

Importante ainda salientar que se o estagiário consta na procuração com a

ciência do cliente e a superveniência da aquisição de número de ordem faz com ele

tenha autonomia inclusive para dar o andamento ao processo no caso de

afastamento do advogado inicial, essa é a praxe forense nunca antes questionada.

Podendo, em quase todos os casos em que atuar, fazer cargas processuais.

Sobre os estagiários do Ministério Público é de rever a LC 75/93:

" Art. 284. Poderão ser admitidos como estagiários no Ministério


Público da União estudantes de Direito inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil.
Parágrafo único. As condições de admissão e o valor da bolsa serão
fixados pelo Procurador-Geral da República, sendo a atividade dos
estagiários regulada pelo Conselho Superior de cada ramo."(grifei).

O manual de orientação RAIS - Relação Anual de Informações Sociais - ano-

base 1999. Dispõem as classes equivalentes.

A classificação de ocupações é um sistema prático para ordenar conteúdos

de trabalho em ocupações e grupos de ocupações, que tenham sido identificados e

descritos e aos quais se atribuem códigos, a partir de um processo de

hierarquização por analogia dos conteúdos de trabalho. Sua finalidade principal é a

de servir de base rara coleta, tratamento e análise dos dados estatísticos, sobre a

força de trabalho e respectivo mercado.

A estrutura da Classificação Brasileira de Ocupações - CBO consiste na

ordenação das várias categorias ocupacionais, tendo em vista a analogia dos

conteúdos de trabalho e as condições exigidas para o seu desempenho. Remetendo

no grande grupo 3 as seguintes funções como equivalentes:

3-13 Agentes superiores de polícia

3-13.20 Delegado de polícia

3-13.40 Perito criminal


47

3-13.90 Outros agentes superiores de polícia

3-14 Serventuários da justiça e trabalhadores assemelhados

3-14.20 Tabelião

3-14.30 Escrivão

3-14.40 Oficial de justiça

3-14.90 Outros serventuários da justiça e trabalhadores assemelhados 3-13

Agentes superiores de polícia

3-13.20 Delegado de polícia

3-13.30 Inspetor de polícia

3-13.40 Perito criminal

3-13.90 Outros agentes superiores de polícia

3-14 Serventuários da justiça e trabalhadores assemelhados

3-14.20 Tabelião

3-14.30 Escrivão

3-14.40 Oficial de justiça

3-14.90 Outros serventuários da justiça e trabalhadores assemelhados.

Vários dispositivos da Resolução Administrativa nº 073/91, do Tribunal

Superior do Trabalho e repetidos pelos Editais dos Concursos para provimento no

cargo de Juiz Substituto do Trabalho foram questionados na justiça.

"Art. 9º - O requerimento de inscrição será dirigido, por escrito,


pelo candidato ou procurador habilitado, ao Presidente da
Comissão de Concursos.
§ 1º - No ato da inscrição preliminar, o interessado exibira
documento oficial de identidade e apresentara declaração,
segundo modelo aprovado pela Comissão de Concurso, na
qual sob as penas da lei indicara:
(...)
48

h) que teve o exercício de, no mínimo, 002 (dois) anos de


pratica forense, ou, por igual prazo, de cargo ou função em
repartição pública ou empresa privada, que exija o
conhecimento e experiência jurídicos.
(...)
§ 5º - Para a inscrição definitiva, a ser feita após aprovação na
primeira prova escrita (alínea "a" do art. 015 e seu § 001º), a
Comissão de Concurso exigira do candidato habilitado a
segunda fase a comprovação de que já completou 002 (dois)
anos de graduação em Direito e mais os documentos relativos
a confirmação das declarações das alíneas "a" a "h", do § 1º,
pelo modo, forma e prazo que estabelecer, sob pena de
indeferimento da inscrição definitiva.
(...)
Art. 15 - (...)
§ 4º - A critério de cada Tribunal Pleno ou Órgão Especial
poderá ser exigida aprovação em exame psicotécnico ou em
entrevista, a se realizarem antes da fase iniciada com a prova
prevista na alínea "b" deste artigo.
§ 5º - A entrevista de que trata o parágrafo anterior, se exigida,
será realizada por todos os membros da Comissão de
Concurso e terá por finalidade verificar se o candidato possui
as qualidades pessoais necessárias para o exercício da
magistratura."

Na defensoria Pública são requisitos para inscrição no 1° Concurso Público

de Provas e Títulos para o cargo de Defensor Público, classe inicial:

a) ser o candidato advogado, comprovando o exercício de dois anos de

advocacia;

b) ou ser o candidato Bacharel em Direito, comprovando, no mínimo, dois

anos de prática forense.


49

Para os efeitos do disposto no item anterior, considera-se como prática

forense:

a) o exercício profissional de consultoria e assessoria;

b) o cumprimento de estágio nas Defensorias Públicas;

c) o desempenho de cargo, emprego ou função, de nível superior de

atividades eminentemente jurídicas;

Vale ressaltar que compete à Administração organizar as bases do

concurso, consoante a lição de Hely Lopes Meirelles:

"A Administração é livre para estabelecer as bases do concurso e os


critérios de julgamento, desde que o faça com igualdade para todos
os candidatos, tendo ainda o poder de, a todo tempo, alterar as
condições e requisitos de admissão dos concorrentes para melhor
atendimento do interesse público."

Da leitura do edital se conclui que a Administração exigiu dois anos de

experiência forense para o bacharel em direito, ou seja, após a formatura.

O período de exercício neste cargo, por não ser exclusivo de bacharel em

direito não beneficia o impetrante. Desincumbiu-se, portanto, o impetrante da

comprovação do lapso temporal de dois anos exigido pelo edital. Por outro lado, o

prazo de vinte e quatro meses constitui exigência razoável: é preciso que o futuro

defensor, que talvez tudo saiba sobre direito cambial, por exemplo, conheça uma

nota promissória na realidade. Toda e qualquer experiência é considerada, depois

da formatura.

Também é preciso considerar que, na espécie, há lei estadual regulando o

assunto, e só ela pode dispor a respeito, não se aplicando as regras federais.

"A competência para organizar o serviço público é da entidade


estatal a que pertence o respectivo serviço. Sobre esta matéria
as competências são estanques e incomunicáveis. As normas
50

estatutárias federais não se aplicam aos servidores estaduais


ou municipais, nem as do Estado-membro se estendem aos
servidores dos Municípios."

A questão nodal são os três anos de atividade jurídica, a qual demonstramos

e em várias atividades que se obtém esse requisito. A lei maior não disse se antes

ou após a aquisição da colação de grau e ainda utiliza o termo bacharel em direito e

não advogado.

Essa abertura de termos faz a aceitação como experiência as atividades

jurídicas exercidas por funcionários públicos, estagiários de direito, que exerçam

atividades jurídicas no mínimo a três anos.

Não há como estabelecer distinções onde o texto constitucional não as

autoriza (violando com isso o vetusto mas sempre verdadeiro adágio segundo o

qual) (apesar do autor divergir em parte) a máxima in claris cessat interpretatio:

"... in claris cessat interpretatio. As afirmações dos estudiosos do


Direito estão centradas num conhecimento lingüístico apodítico. Esse
conhecimento é o ponto de partida indiscutível (dogmático) da
apresentação das proposições jurídicas. Quem não as entende, erra.
E errar do ponto de vista do conhecimento é ir contra a verdade (o
certo). Não importa se esse erro venha a ser vertido (travestido) de
opinião. É erro. É o oposto da verdade."

O critério de Interpretatio illa sumenda est quae vitetur absurdum (deve ser

tomada aquela interpretação que evite o absurdo) e, repetimos, ubi lex non distinguit

nec nos distinguere debemus (onde a lei não distingue, não cabe - ao intérprete -

distinguir) a exigência de experiência jurídica pode ser adquirida no moldes exposto

nos tópicos acima.


51

3. CONCLUSÃO

3.1. Apresentação dos principais objetivos atingidos e suas soluções

A monografia tratou de alguns pontos polêmicos da reforma do Poder Judiciário


brasileiro, como o ingresso de juízes, os critérios de promoção magistrados, as
formas indicações e eleições nos tribunais; órgão de controle externo do Poder
Judiciário; além dos os efeitos da súmula vinculante. Além disso trouxe idéias e fatos
acerca do mecanismo de controle externo e fiscalização dos órgãos do Poder
Judiciário (CNJ); e também identificou se as reformas propostas será efetivamente
suficientes para que o Poder Judiciário Brasileiro se torne eficiente e atenda aos
seus preceitos constitucionais.

3.2. Principais contribuições

Tendo em vista que diversas são as razões relacionadas à sobrecarga existente

dentro do Poder Judiciário, sendo assim elencadas:

excesso na quantidade de processos;

excesso de recursos e

abusos protelatórios.

E considerando tudo que foi exposto, conclui-se que a tarefa da reforma do Poder

Judiciário Brasileiro é considerada uma das mais delicadas e difíceis dentro do

contexto atual, e a principal contribuição desta monografia, foi o de expor a situação

atual do judiciário, mediante o seu estado de reforma proposto.

A proposta que hoje tramita no Senado Federal está longe de ser o que a sociedade

brasileira, bem como muitos juristas e juizes almejam.


52

Não se pode negar que muitos foram os avanços. Porém, muitos outros poderiam ter

sido alcançados, principalmente no que toca à democratização deste Poder.

O Poder Judiciário é um dos três pilares do Estado Democrático de direito. E porque

não dizer, o mais importante. Necessita ser bem mais arrojado na sua reengenharia,

não para ser uma mera ferramenta em favor dos demais Poderes da República, mas

para ser meio e modo de servir eficientemente à sociedade e manter assegurados

os direitos do cidadão.

Portanto, a reforma do Judiciário deveria estar intimamente ligada ao objetivo de

tornar a Justiça mais ágil e mais acessível ao cidadão comum.

3.3. Aspectos Positivos e Negativos

Como aspectos positivos pode-se considerar que a monografia em tela, conseguiu

reuniu as principais vertentes do processo pelo qual se passa o atual estado de

coisas no Judiciário Brasileiro, e tentou desmistificar a Reforma que a anos se tenta

aprovar nas esferas legislativas do Estado.

Como aspecto negativo, pode-se concluir que o acesso a informações o mais

fidedignas possíveis, e preponderantemente atualizadas, pode estar relacionado às

datas de origens da bibliografia consultada sobre o assunto, sugerindo-se que

sempre ocorra uma atualização nas últimas leis aprovadas que de certa forma

modifiquem o funcionamento ou a estrutura do Judiciário.

3.4. Trabalhos Futuros

A nação brasileira detém um dos mais altos índices de conflito e desigualdade

social, e um dos mais baixos níveis no que tange à prestação jurisdicional e


53

institucional do mundo. Isto se deve, em parte, ao caráter elitista da Justiça, que se

tornou inacessível à grande parte da população, principalmente aos mais carentes.

Aqueles que hoje tratam no Senado Federal da reforma do Judiciário, deveriam ter a

devida sensibilidade política de tornar a Justiça acessível, igualitária, plena, eficaz e

capaz de atenuar os conflitos sociais e de diminuir a própria violência, hoje

galopante em passos longos.

Por fim, entende-se, urgente e necessária à reforma do Poder Judiciário. Ela é

prioritária.

Hoje não se pode pensar em qualquer outro tipo de reforma, quer seja tributária,

política ou mesmo previdenciária, sem antes transformar e modernizar o Poder que

dirima os conflitos, decide as demandas, aplica a norma abstrata ao caso concreto,

fazendo valer o direito do cidadão contra os abusos oriundos tanto do setor privado,

quanto do público: o Judiciário brasileiro.

Assim, considerando que a reforma é continua, este trabalho pode (e servirá) servir

de excelente base para os trabalhos futuros, pois contém a base para atualizações.
54

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE. Cândido Bittencourt de. Poder Judiciário – A reforma


administrativa possível. Fortaleza: Editora Casa de José de Alencar, 1999.

BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br. Acesso em 20 set 2008.

BRASIL. Estatuto da Advocacia, Lei nº 8906/94. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br. Acesso em 20 set 2008.

BRASIL. Lei Complementar n. 75/93 - dispõe sobre o Ministério Público. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br. Acesso em 21 set 2008.

BRASIL. Lei Complementar nº 95/1998. Trata da Consolidação das Leis federais


brasileiras. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br. Acesso em 15 set 2008.

BRASIL. Lei dos Juizados Especiais, nº 9.099/95. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br. Acesso em 22 set 2008.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 16ª ed. São Paulo:
Saraiva, 1991.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. O sistema judiciário brasileiro e a reforma do


Estado. São Paulo: Editor Celso Bastos, 1999.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19.ed.São Paulo:
Malheiros, 2001.

SILVA, Mário José da. Uma proposta para reforma do Poder Judiciário. Artigo
publicado e disponível em: <http://www.jus.com.br. Acesso em 10 set 2008.

ZAFARRONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciário. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1995.

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