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RESUMO
O objetivo deste trabalho é avaliar a precisão de alguns métodos simplificados para o cálculo de flechas
em vigas de concreto armado. Para isto, desenvolve-se um modelo para análise não-linear, o qual é
utilizado na aferição dos processos simplificados. Os métodos simplificados analisados são o método
bilinear do CEB, uma fórmula prática apresentada no código modelo CEB-FIP/90 e o método do ACI,
adotado na NBR-6118. Os resultados obtidos indicam que este último método não deve ser utilizado para o
cálculo das flechas de longa duração das vigas de concreto armado.
ABSTRACT
The subject of this work is to analyze some simplified methods to prediction of deflections of reinforced
concrete beams. A nonlinear model is developed and it is employed to verify simplified procedures.
Simplified methods considered are the bilinear method of CEB, an approximate equation presented in the
CEB-FIP/90 model code and the ACI method, which is adopted by Brazilian norm NBR-6118. Obtained
results indicate that this last method is not recommended to calculate long-term deflections of reinforced
concrete beams.
σct,lim
εo εu εc Ec
Ece
Fig. 1 – Diagrama tensão-deformação do concreto
comprimido εct
εcr
De acordo com o CEB/90(10), a tensão de Fig. 2 – Diagrama tensão-deformação para o
compressão no concreto, σ c , é dada por concreto tracionado
completa até a ruína da estrutura, ou até um nível onde rcs1 e rcs 2 são coeficientes dependentes das
de carga desejado. taxas de armadura, ε cs é a deformação específica
Considera-se a ocorrência da ruína, quando a
deformação de compressão no concreto for menor de retração, l é o vão da viga, d é a altura útil da
ou igual a ε u = −0,0035(1 + ϕ ) , ou quando a seção transversal, α e f r são coeficientes que
dependem da vinculação da viga.
deformação de tração na armadura alcançar o
valor limite de 0,010 . Para uma viga biapoiada, α = 8 e f r = 1 .
Os coeficientes rcc1 , rcc 2 , rcs1 e rcs 2 podem
3 – MÉTODO BILINEAR DO CEB ser obtidos das tabelas apresentadas na referência
[3].
De acordo com o método bilinear do CEB(9), Assim, a flecha W , levando em conta a
descrito em detalhes na referência[3], a flecha W colaboração do concreto tracionado entre fissuras,
da viga é obtida por interpolação da flecha W1 , é interpolada na forma
calculada no estádio I, e da flecha W2 , calculada
W = (1 − η )W1 + ηW2 (18)
no estádio II puro. Essas flechas são dadas por
onde
W1 = W1 (t o ) + (∆W1 )cc + (∆W1 )cs (12) η = 0 , se M < M r (19)
η = 1 − 0,5 M r M , se M ≥ M r (20)
W2 = W2 (t o ) + (∆W2 )cc + (∆W2 )cs (13)
Nas equações (19) e (20), M é o momento
onde fletor solicitante e M r é o momento de
W1 (t o ) e W2 (t o ) = flechas no instante inicial t o ,
fissuração.
calculadas no estádio I e no estádio II puro; Deve-se observar que o coeficiente η varia ao
(∆W1 )cc e (∆W2 )cc = incrementos de flecha longo do eixo da viga pois, tanto M , quanto M r ,
devidos à fluência do concreto, calculados no variam de seção para seção transversal. Na
estádio I e no estádio II puro; prática, é necessário adotar um valor constante
(∆W1 )cs e (∆W2 )cs = incrementos de flecha para η , calculado para uma seção crítica. Do
devidos à retração do concreto, calculados no mesmo modo, as flechas W1 e W2 devem ser
estádio I e no estádio II puro. calculadas considerando a rigidez da seção crítica.
Os incrementos de flecha devidos à fluência do Assim, a rigidez no estádio I, K I , e a rigidez no
concreto são dados por
estádio II puro, K II , são obtidas com as
(∆W1 )cc = rcc1ϕW1 (t o ) (14) armaduras existentes na seção crítica.
No caso de uma viga biapoiada ou de uma viga
contínua, a seção crítica é considerada no meio do
(∆W2 )cc = rcc 2ϕW2 (t o ) (15) vão. Para os balanços, a seção crítica corresponde
ao extremo engastado.
onde rcc1 e rcc 2 são coeficientes que dependem Observa-se que a flecha é calculada em uma
das taxas de armadura na seção transversal. seção de referência, que pode não coincidir com a
Os incrementos de flecha devidos à retração do seção crítica.
concreto são dados por O momento de fissuração é dado por
K I f ct
l2 Mr = (21)
(∆W1 )cs = rcs1ε cs fr (16) Ecs (h − x I )
αd
onde ρ = As (bd ) , ρ ′ = As′ (bd ) e o coeficiente No caso das seções retangulares, o momento de
fissuração passa a ser dado por M r = bh 2 f ct 4 .
K t é dado em uma tabela, em função da taxa de
armadura tracionada ρ . O momento de inércia I 2 é igual a K II Ecs ,
Conforme a referência [3], o coeficiente K t onde K II é a rigidez no estádio II, determinada
pode ser escritos na forma como na referência [3].
Entretanto, de acordo com a NBR-6118, o
módulo de deformação secante do concreto é dado
K t = 0,09547 ρ −0,71186 (23) por
E cs = 0,85 x5600 f ck , MPa (26)
A flecha obtida com a expressão (22) não
inclui os efeitos da retração do concreto. Esse
efeito pode ser considerado, a favor da segurança, A flecha adicional ∆W , incluindo os efeitos
das deformações diferidas do concreto, é dada por
adicionando-se ao valor de W a parcela (∆W2 )cs
dada na equação (17). f (t ) − f (t o )
∆W = W (t o ) (27)
5 – CÁLCULO DE FLECHAS EM VIGAS 1 + 50 ρ ′
SEGUNDO A NBR-6118
onde ρ ′ = As′ (bd ) é a taxa da armadura de
compressão na seção crítica e a função f (t ) é
(6)
A NBR-6118 adota o processo simplificado
do ACI(1) para o cálculo de flechas das vigas de dada por
concreto armado. A flecha inicial W (t o ) é obtida
f (t ) = 0,68 x0,996 t t 0,32 ≤ 2 (28)
considerando-se um momento de inércia
equivalente I eq , dado por com t em meses.
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.5, p.1-10, Agosto, 2004 7 .
Wo
independente do carregamento. Essa expressão
,c
+s
Wo
o,c
subestima os efeitos das deformações diferidas
W
15.0
po = 13,5 kN/m
para vigas com uma carga pequena, com M < M r
(no estádio I), ou com M pouco maior que M r
Carga (kN/m)
30.0
Flecha inicial + fluência (mm)
25.0
Flecha admissível
20.0
Fig. 10 – Flecha total pelos diferentes métodos
15.0
7 - CONCLUSÕES
Não-linear
10.0
Método bilinear
Os resultados apresentados neste trabalho
indicam uma boa concordância entre os modelos
5.0 Fórmula prática
simplificados, no que se refere ao cálculo das
NBR-6118
flechas iniciais das vigas de concreto armado.
0.0 Neste caso, o método bilinear e o método adotado
0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 pela NBR-6118 fornecem resultados compatíveis
Carga quase permanente (kN/m)
com a análise não-linear.
Fig. 9 – Flecha inicial acrescida da fluência pelos Quando se consideram as deformações
diferentes métodos diferidas do concreto, verifica-se uma boa
concordância do método bilinear e da fórmula
Conforme se observa na fig. 9, tanto o método prática do CEB em relação à análise não-linear.
bilinear, quanto a fórmula prática do CEB/90, Qualquer um desses dois métodos simplificados
concordam satisfatoriamente com o modelo não- pode ser utilizado para a avaliação das flechas das
linear. Entretanto, a formulação da NBR-6118 vigas sob cargas de longa duração.
fornece valores excessivos para a flecha final das Entretanto, o método da NBR-6118 não
vigas com carga superior a 15kN/m. Para 6 vigas reproduz satisfatoriamente os efeitos das
analisadas, o método da NBR-6118 indica que a deformações diferidas do concreto na resposta das
flecha final é maior que a flecha admissível, o que vigas de concreto armado. Esse método subestima
contraria todos os demais métodos. as flechas das vigas pouco solicitadas, quando elas
ainda se encontram no estádio I, ou no início do
10 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.5, p.1-10, Agosto, 2004 .
estádio II (na região de formação das fissuras). 9. Comité Euro-International du Béton – CEB
Por outro lado, o método da NBR-6118 Design Manual on Cracking and Deformations.
superestima as flechas das vigas mais solicitadas, Lausanne, 1985.
em um estado de fissuração mais adiantado.
Em vista dos resultados apresentados, pode-se 10. Comité Euro-International du Béton - CEB-
recomendar tanto o método bilinear, quanto a FIP Model Code 1990. Lausanne, 1993.
fórmula prática do CEB/90 para o cálculo das
flechas das vigas de concreto armado, incluindo-
se os efeitos das deformações diferidas.
Entretanto, não se recomenda o emprego do
método da NBR-6118, em virtude das imprecisões
mostradas neste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS