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Quase rio de mim quando me meto a pensar em coisas difíceis, e riria realmente, se nisso

tivesse alguma graça.

Passei nem tão longos 25 anos da minha vida sem nunca precisar encarar a morte. Talvez isso
queira dizer que eu seja um homem sortudo. Mas ela chega, tão certa quanto a mentira.
Quando soube da notícia de que K… estaria no hospital, senti o sopro gelado da morte descer
minha espinha e tive calafrios. Estava em casa e soube por telefone por alto o que tinha
acontecido. Queria a ver pela última vez e já esperava pelo pior, mas, antes de chegar… bem
antes mesmo de sair de casa, eu já sabia que era impossível. É só um sonho ruim, uma
alucinação!

Eu esperava partir antes dela. Mas, mesmo assim, em breve, a melancólica terra que foi
testemunha do nosso amor será nossa eterna campa.

Nunca havia passado por essa sensação de luto antes. Eu trabalho, estudo, faço meus afazeres,
às vezes até saio, mas, não sei porque, não tenho vontade de fazer nada disso e nada me
agrada. Parece que eu só preciso fugir do terror dos meus pensamentos… Mesmo quando
estou distraído em uma tarefa, ou quando estou com amigos, tem sempre uma densa neblina,
pela qual eu não consigo ver nada, e tudo parece escuro…

E basta ver apenas alguma coisa que você deixou pra trás, uma simples chinela que você usava
e deixou na nossa casa, e tenho vontade de chorar, ter você de volta, cheguei até a barganhar
com Deus pra que você não tenha ido pra sempre, mas eu sei que a natureza nunca nos pede
licença, e ficamos nós miseráveis aqui.

O fato é que me conforta saber que não tenho que aturar isso por muito tempo, porque, nesse
momento, eu odeio toda a companhia que ainda sabe ser feliz.

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