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Bate-papo com Davi Kopenawa,

Espaço Cultural BNDES


(19/04/2018)
Um relatório completo do incrível bate-papo com Davi Kopenawa no
Espaço Cultural BNDES (19/04/2018). Tradução em francês também
disponível abaixo do texto em português.

Davi Kopenawa, líder indígena. Fotografia por Suzana Piscitello

Bate-papo com Davi Kopenawa, Espaço Cultural BNDES, Rio de


Janeiro, 19 de abril de 2018.

Transcrição: Bruna Sathler.


Texto de apresentação por Bruna Sathler:

“Não sou índio, sou yanomami do Brasil” diz Davi Kopenawa após alguns
minutos de discurso, “e vocês não querem ser amigos da gente”.

O xamã do povo amazônico Yanomami é de fato um grande defensor dos


direitos indígenas no país: ex-tradutor da FUNAI (Fundação Nacional do
Índio) e diretor da Associação Hutukara, devota à promoção e à defesa da
cultura de seu povo, Davi Kopenawa não para, desde os anos 1980, de criar
laços entre o mundo indígena e o mundo branco, atraindo a atenção
nacional e internacional para as ameaças que o “povo da mercadoria” faz
sentir aos “povos da floresta”.

Foi dia 19 de abril (dia do índio no Brasil) quando nós, alunos da terminale
ES/L (3o ano do ensino médio econômico-social e literário do Liceu
Molière), tivemos a chance de testemunhar uma emocionante fala dessa
grande personalidade que é Davi Kopenawa, no espaço cultural BNDES, no
Centro do Rio de Janeiro. No contexto de nossa saída escolar organizada
por nosso professor de filosofia (Julien Pallotta), nós estudamos trechos da
obra de Kopenawa com o antropólogo Bruce Albert, A Queda do Céu,
estudo que nos preparou para essa fascinante “contra-antropologia” que é
para nós, brancos, a visão do mundo através dos olhos do índio.

Vocês encontrarão abaixo uma tomada de notas em português do debate


occorrido no dia 19 de abril, onde foram conservadas as deliciosas
maneiras de falar de um brasileiro para quem a língua europeia não é a
sua- Davi é um Yanomami, falante da língua Yanomami, brasileiro,
testemunha de um “alter-Brasil”.

Bate-papo
Qual é o papel dos pajés para o céu não cair?

Mostrar o que aconteceu quando eu era pequeno, é o papel dos xapiri


(espíritos da floresta) na comunidade. Segurar o céu para não cair outra
vez - já caiu, e Omama (deus criador yanomami) fez outro. Esse é o
trabalho dos xapiri, dar saúde e segurar o céu.

Quais são as consequências da chegada das religiões brancas


para o povo da floresta?

São muitas igrejas, as dos brancos. Os pastores, os padres, chegam na


aldeia e dizem que é porque Deus manda. Falam bonito, ficam amigos.
Mas quando montam uma igreja, mudam de ideia. Os religiosos querem
acabar com os nossos xapiri, dizem que é coisa de “satanás”. Os pastores
querem acabar com a nossa língua, para virar todo mundo crente. Pastor
fala coisa forte para o índio, fala “olha, vocês estão errados. Isso é coisa de
Satanás, vocês vão para o inferno”.

Quando nasce na aldeia uma criança com uma doença


incurável que ninguém sabe o que é, e mesmo após todas as
tentativas de curá-la ela continua doente e viva, o que vocês
fazem?

Nós trabalhamos. Talvez a gente cura. Se o espírito mau pegou a sombra


dele, o pajé trabalha para buscar. Eu trabalho às vezes três dias, às vezes
eles morrem, às vezes a gente acha. O pajé tem que ser forte, conhecer as
doenças. Quando não conhece, é o médico que a gente chama. Se o médico
não conhece, eu curo, porque conheço as doenças da floresta e essas eu
posso curar. Doença de branco, que vem andando com branco, câncer,
malária, tuberculose, é pra médico branco.
Julien Pallotta e Davi Kopenawa. Fotografia por Suzana Piscitello

Qual é o papel da mata na educação dos yanomami?

A escola é a floresta. A gente não tem escola igual os brancos, não. Quando
a criança cresce, a gente não ensina. A escola é nossa experiência,
conhecimento tradicional. Professor é pai, mãe e irmão. Com uns dois
anos, a gente ensina [a criança], com cuidado, a começar a andar, conhecer
a mata. Com quatorze anos, o filho tem que saber andar longe, sozinho,
saber caminhar, caçar, pescar. É assim que yanomami continua sendo
yanomami: pai ensina o caminho certo.

Pra você manter a conexão com os xapiri, você bebe yãkõana


quantas vezes por dia?

Yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola


secados e pulverizados) é muito forte. Yãkõana mata se você não souber
tomar certo, deixa o coração parar. Yãkõana mostra o caminho dos xapiri,
com sofrimento. No início, você tem que tomar muito, várias vezes por dia,
para limpar o corpo. Eu gostei muito na primeira vez que eu tomei com o
grande pajé, porque eu quero chegar à sabedoria. Quando tava iniciando,
eu tomava quatro vezes por dia. Quando tem uma pessoa muito doente,
não tem hora pra parar de tomar yãkõana. Das 6h até as 6h da tarde.
Ficamos duas, três semanas tomando até conseguir salvar a vida da pessoa.

Agora eu estou longe, tenho que tomar mais. Eu tô com muita saudade da
yãkõana, ela tá guardada lá esperando.

Você disse no seu livro que homem branco não sabe sonhar.
Como sonhar ajuda a saber, e como pode ajudar no processo de
cura da vida e da Terra?

A floresta tá ligada com a gente pelos sonhos. Se você não sonha nada, você
não sabe sonhar. Tem que sonhar pra ser homem inteligente. Sonhar traz
conhecimento, sabedoria, pra passar para os outros. Sonho ruim também.

Eu também sonho, sonho bom e sonho ruim. Mas tem que saber escolher
pra saber qual sonho é o melhor para a gente. Homem branco não sabe
sonhar.

Sonho é a floresta, e o napë não quer floresta, quer cidade. O povo da


mercadoria dorme na cama, sem rede. Nós não, nós dormimos na rede. É
igual antena. Sem antena o rádio não fala. Com uma árvore de cada lado
que segura a rede, tem uma antena. Então o sonho vem, vem de longe e
chega ali. Em uma cama não tem como ter sonho, porque não tá ligado a
nada.

O que você pensa do turismo em parte da terra Yanomami?

Eu acho que se os napë (o homem branco) costumam, têm que continuar a


fazer consulta, perguntar primeiro. Turista é gente ingrata, invasor. Eu
acho bom conversar primeiro. O que você quer, ajudar ou recolher planta?

Se você quer conhecer a realidade da floresta, é bom. Mas tem que


respeitar. Mas gente demais estraga a alma da floresta.
Tem turista que vem de longe, dos Estados Unidos interessado só em coisa
bonita, e traz até máquina para examinar o que tem embaixo da terra, ver
se tem ouro e diamante. Se você quer preservar, vamos lutar juntos. Se
vocês querem ajudar minha luta, é bonito. Para ajudar as gerações futuras.

Mulheres podem ser pajés?

Tem mulher pajé, mas menos do que homem. É quase sempre mulher filha
de pajé. O pai passa pra filha. Tem pouco, não é muito não.

Como você acha que a gente pode impedir que o céu caia de
novo, na sociedade atual? Como podemos romper a bolha que
faz com que as pessoas não vejam o outro como irmão?

Vocês precisam ajudar nós, yanomamis. Fazer manifestação, vocês da


cidade são muitos. Precisa reunir pra chamar a atenção que o homem está
maltratando nós.

Não precisa ficar com medo não, índio é brasileiro, índio é guardião da
floresta. Escrevam carta.

As causas sociais estão sob ataque aqui no Rio. O que ameaça


vocês?

Aqui, é tipo aldeia. Quem tá dirigindo? Político público nacional, gente que
quer riquezas. O nosso inimigo, são os garimpeiros. O rico tá aqui,
querendo ouro, enquanto nós brigamos, e os garimpeiros querem matar
nós.

Em que medida é importante que os indígenas que vivem na


cidade se afirmem?

Isso é preocupante, está acontecendo. Yanomami sai da comunidade pra


chegar na cidade e tem gente que tá na aldeia que é de lá. A cultura de
vocês é muito forte pra nós. Costume de napë é tirar de índio. É muito
triste para nós, eu tô preocupado. É histórico, e continua funcionando que
nem aconteceu aqui no Rio, vocês tiraram os índios daqui e agora vocês
chegaram lá na nossa aldeia. Napë chega e fala, “lá na cidade é melhor que
no mato, deixa de ser índio”. Eu fui tratado assim, mas retornei. Mas
outros não querem. “Você não pode ficar contra garimpeiro, garimpeiro dá
dinheiro, comida.” É por isso que eu tô aqui lutando pra não deixar isso
acontecer.

Como nós, brancos, podemos aprender a largar a cidade e ir à


floresta?

É uma pergunta difícil. Se vocês começarem a se preocupar de nós, dizer


para o índio que a cidade não é bom, vocês ajudam todo mundo. Manda
por escrito para a Associação. Fala, vamos nos unir, nos conhecer, pra ficar
tudo unido. Os brancos às vezes só querem ter a mão cheia de dinheiro e só
pensa isso, só quer matar. Então é importante criar uma força brasileiro-
indígena - porque indígena é brasileiro.

Qual é a noção de índio referente a Deus?

[risos] Deus é nosso tudo. Teoria faz bem pra nós, até. Deus é tudo, a
floresta, a chuva, a claridade. Eu conheço Omama. Deus é nome ruim de
longe - Omama é a floresta. Eu nunca o vi, mas eu sonhei. Ele é bom. É
difícil entrar em contato ele, ele ajuda só quando ele quer. Quando ele quer
ele ajuda, quando ele não quer ele não ajuda. Omama dá tudo para nós.
Cada pessoa que nasce perto da floresta conhece - vocês, jovens, que
nasceram todos na cidade não conhecem Omama.

O que você acha dos delírios, dos ovos-bomba do Cabelo


(artista responsável pela exposição no Espaço Cultural
BNDES) ?

Quando eu cheguei aqui, encontrei esse ovo-bomba. A minha visão que eu


tive sonhando, esse ovo primeiro, como pajé, como Yanomami, é ovo de
onça. Ovo de onça é o início do mundo. Como eu sonhei, teve um ovo de
onça na cachoeira, e encontraram o ovo rosnando. Falaram “esse ovo é de
onça, vamos levar pra casa”. Aí o pajé falou, “esse ovo é de onça, então
prepara pra cozinhar que eu vou comer esse ovo de onça”. Atrás da casca,
se formou onça.

Como eu sonhei, viram certo pra chamar a atenção de vocês, mostrar que
tá destruindo nossas cachoeiras, pedir para não fazer mais. Ninguém
nasceu sabendo, vamos aprender juntos, com arte, com xapiri, com
professor.

Você acredita em reencarnação?

Na cultura yanomami, é diferente dos napë. Quando yanomami morre, não


vai na terra, não. A gente costuma cremar e ir lá em cima. A alma vai
embora, para outro lugar, onde Omama está morando, em outro planeta.
O pajé que morre vai embora, e depois volta, pra continuar protegendo os
yanomami e vocês também, continuar trabalhando igual trabalhava
quando era vivo.

Vocês na cidade, quando morrem enterram. Eu não acho bom, não, mas é
o costume de vocês. A gente pajé volta, em outra forma.

Como você viveu a montagem do livro A Queda do Céu, como foi


a descoberta da antropologia para o povo yanomami?

Esse livro foi pensado para contar como aconteceu, setenta anos passados.
Para mim, esse livro é divulgar problemas, doenças, invasão de estrada,
exército… esse livro foi elaborado para andar, e é por isso que ele é tão
importante aqui no Brasil e fora. É um livro importante, e triste. Ele tá
andando para o Brasil e para fora, divulgando os problemas, para você ler e
achar bonito, estar interessado. É importante você continuar sempre lendo
e se perguntando. Auê?
Julien Pallotta e alguns membros do Coletivo Amador (da esquerda para
direita: Julien Pallotta, Tomaz Lamego, Bruna Sathler, Miguel Boisseleau e
Luca Szaniecki). Fotografia por Suzana Piscitello

Entretien avec Davi Kopenawa, Espace Culturel BNDES, Rio de


Janeiro, 19 avril 2018.

Traduction française de Luca Szaniecki, révisée par Julien


Pallotta.

Texte de présentation par Bruna Sathler:

“Je ne suis pas indien, je suis Yanomami du Brésil”, dit Davi Kopenawa,
après quelques minutes de discours, “et vous ne voulez pas être amis avec
nous”.
Le chamane du peuple amazonien Yanomami est en effet un grand
défenseur des droits indigènes dans le pays: ex-traducteur de la FUNAI
(Fondation Nationale de l’Indien) et dirigeant de l’Association Hutukara,
consacrée à la promotion et à la défense de la culture de son peuple, Davi
Kopenawa ne cesse, depuis les années 1980, de faire le lien entre le monde
indigène et le monde blanc, attirant des regards aussi bien nationaux
qu’internationaux sur les menaces que le “peuple de la marchandise” fait
peser sur les “peuples de la forêt”.

C’est le 19 avril (Jour de l’Indien au Brésil) que nous, les élèves de


terminale ES/L, avons eu la chance d’être les témoins d’une une très
émouvante intervention de cette grande personnalité qu’est Kopenawa, à
l’espace culturel BNDES dans le Centre de Rio de Janeiro. Dans le cadre de
cette sortie scolaire menée par notre professeur de philosophie, nous
avions étudié des extraits de l’ouvrage de Kopenawa avec l’anthropologue
français Bruce Albert, La Chute du Ciel, étude qui nous a préparés à cette
fascinante “contre-anthropologie” qu’est, pour nous les blancs, la vision du
monde à travers les yeux d’un indigène.

Vous trouverez ci-dessous une prise de notes en portugais de l’entretien


accordé le 19 avril, où ont été conservées les délicieuses façons de parler
d’un brésilien pour qui la langue européenne n’est pas la sienne - Davi est
un Yanomami, parlant la langue Yanomami, brésilien, témoin d’un “alter-
Brésil”.

L’entretien

Quel est le rôle des pajés [chamanes] pour que le ciel ne tombe
pas ?
Montrer ce qui s’est passé quand j'étais petit, c’est le rôle des xapiri (les
esprits de la forêt) dans la communauté. Tenir le ciel pour qu’il ne tombe
pas à nouveau ‒ il est déjà tombé et Omama (démiurge yanomami) en a
fait un autre. C’est cela, le travail des xapiri, procurer la santé et tenir le
ciel.

Quelles sont les conséquences de l’arrivée des religions


blanches pour le peuple de la forêt ?

Elles sont nombreuses, les églises des blancs. Les pasteurs, les prêtres,
arrivent au village et disent que c’est parce que c’est Dieu qui les envoie. Ils
parlent bien, deviennent amis. Mais quand ils construisent une église, ils
changent d’idée. Les religieux veulent en finir avec nos xapiri, disent qu’ils
sont l’oeuvre de Satan. Les pasteurs veulent en finir avec notre langue,
pour rendre tout le monde croyant. Pasteur parle durement avec
l’indigène, il dit: “Regardez, vous avez tort. Ceci est l’oeuvre de Satan, vous
irez en Enfer”.

Quand naît un enfant porteur d’une maladie incurable que


personne ne connaît, et que même après toute tentative de le
soigner, il est encore en vie et malade, que faites-vous ?

Nous travaillons. Peut-être que nous parvenons à le soigner. Si le mauvais


esprit a pris son ombre, le pajé travaille pour la retrouver. Je travaille,
parfois jusqu’à trois fois par jour, parfois ils meurent, parfois on retrouve
[son ombre]. Le pajé doit être fort, connaître les maladies. Quand il ne les
connaît pas, c’est le médecin que l’on appelle. Quand le médecin ne la
connaît, je le guéris car je connais les maladies de la forêt et celles-là, je
peux les soigner. Maladie de blanc, qui vient en marchant avec les blancs,
le cancer, le paludisme, la tuberculose, c’est pour le médecin blanc.

Quel est le rôle de la forêt dans l’éducation yanomami ?

L’école est la forêt. On n’a pas d’école comme celle des blancs, non. Quand
l’enfant grandit, on ne lui enseigne pas [de savoirs livresques]. L’école est
notre expérience, notre savoir traditionnel. Le professeur est le père, la
mère, le frère. A 2 ans, on apprend à l’enfant avec prudence, à commencer
à marcher, à connaître la forêt. A 14 ans, l’enfant doit savoir marcher loin
tout seul, savoir marcher, chasser, pêcher. C’est comme cela que le
yanomami continue à être yanomami: le père enseigne le droit chemin.

Pour maintenir votre connexion avec les xapiri, vous


consommez de la yãkõana combien de fois par jour ?

La yãkõana (résine ou fragments de la croûte interne de l’arbre de ferrule


Virola surinamensis séchés et pulvérisés) est très puissante. La Yãkõana
tue si on n’en prend pas correctement, elle arrête le coeur. La Yãkõana
montre le chemin des xapiri avec souffrance. Au début, il faut en prendre
beaucoup, plusieurs fois par jour, pour nettoyer le coeur. J’ai beaucoup
aimé la première fois que je l’ai prise avec le grand pajé, car je voulais
atteindre la sagesse. Quand je débutais encore, j’en prenais 4 fois par jour.
Quand il y a quelqu’un de malade, il n’y a pas le temps pour arrêter d’en
prendre. De 6h du matin à 6h de l’après-midi. Nous restons deux, voire
trois semaines en en prenant jusqu’à sauver la vie de la personne.

Maintenant je suis loin, je dois en prendre plus. La yãkõana me manque,


elle est gardée là-bas, et m’attend.

Vous dites dans votre livre que l’homme blanc ne sait pas rêver.
Comment rêver contribue au savoir, et comment est-ce que cela
peut contribuer au processus de guérison de la vie et de la
Terre ?

La forêt est liée à nous par les rêves. Si tu ne rêves pas, tu ne sais pas rêver.
Il faut rêver pour être un homme intelligent. Rêver nous apporte la
connaissance, la sagesse, pour la transmettre aux autres. Les cauchemars
aussi.

Je rêve moi aussi, j’ai de bons et de mauvais rêves. Mais il faut savoir
choisir pour savoir quel rêve est le meilleur pour nous. L’homme blanc ne
sait pas rêver.

Rêver, c’est la forêt, et le napë (l’homme blanc) ne veut pas la forêt, il veut
la ville. Le peuple de la marchandise dort dans le lit, sans hamac. Nous,
nous dormons dans le hamac. C’est comme une antenne. Sans antenne, la
radio ne parle pas. Avec un arbre de chaque côté pour tenir le hamac, il y a
une antenne. C’est alors que le rêve vient, vient de loin et arrive là. Dans un
lit, rêver est impossible car le lit n’est lié à rien.

Que pensez-vous du tourisme dans les terres Yanomami ?

Je pense que si les napë ont l’habitude d’en faire, ils doivent continuer à
consulter, commencer par demander. Les touristes sont des ingrats, des
envahisseurs. Je pense qu’il faut discuter avant. Qu’est-ce que vous voulez,
aider ou récolter des plantes ?

Si vous voulez connaître la réalité de la forêt, c’est bien. Mais il faut


respecter. Mais s'ils sont trop nombreux, les gens abîment l'âme de la forêt.

Il y a des touristes qui viennent de loin, des Etats-Unis, seulement


intéressés par des jolies choses, et apportent même des machines pour
examiner le sous-sol et voir s’il y a de l’or ou des diamants. Si vous voulez
préserver la forêt, luttons ensemble. Si vous voulez aider ma lutte, c’est
beau. Pour aider les générations futures.

Les femmes peuvent être pajés ?

Il y a des femmes pajés (Chamanes), mais elles sont moins nombreuses


que les hommes. C’est presque toujours une femme qui est fille de pajé. Le
père transmet à la fille. Elles sont peu nombreuses, cela ne fait pas
beaucoup, non.

Comment pensez-vous que nous pouvons empêcher que le ciel tombe à


nouveau dans notre société actuelle ? Como peut-on rompre la bulle qui
fait que les personnes ne voient pas l’autre comme un frère ?

Vous devez nous aider, nous les yanomamis. Manifestez, vous de la ville
vous êtes nombreux. Il faut se réunir pour attirer l’attention de celui qui
nous maltraite.

Il ne faut pas avoir peur, l’indien est brésilien, il est le gardien de la forêt.
Écrivez des lettres.

Les causes sociales sont attaquées ici à Rio. Qu’est-ce qui vous
menace ?

Ici c’est comme un village. Qui dirige ? Les hommes politiques publics
nationaux, ceux qui veulent les richesses. Nos ennemis sont les orpailleurs.
Le riche se trouve ici, veut de l’or, pendant que nous nous battons, et les
orpailleurs veulent nous tuer.

Dans quelle mesure est-ce important que les indigènes vivant


en ville s’affirment ?

Cela est préoccupant, cela est en train de se réaliser. Le yanomami sort de


la communauté pour arriver en ville et il y a des gens du village qui sont de
là-bas. Votre culture est très forte pour nous. Le napë a l’habitude d’attirer
l’indigène. C’est très triste pour nous, je suis très inquiet. C’est ce qui s’est
passé et cela continue à fonctionner comme c’est arrivé ici à Rio : vous avez
enlevé les indigènes d’ici et maintenant vous êtes arrivés à notre village. Le
napë arrive et dit: “Là-bas en ville, c’est mieux que dans la forêt, cesse
d’être indigène”. J’ai été traité de cette manière, mais je suis revenu. Mais
d’autres ne veulent pas revenir [au village]. Ils disent: “On ne peut pas
rester contre les orpailleurs, les orpailleurs donnent de l’argent, de la
nourriture”. C’est pour cela que je suis là pour lutter, pour empêcher cela.

Comment nous, blancs, pouvons-nous apprendre à abandonner


la ville et aller dans la forêt ?

C’est une question difficile. Si vous commencez par vous préoccuper de


nous, dire pour l’indigène que la ville, ce n’est pas bon, vous aidez tout le
monde. Écrivez à l’Association [Hutukara]. Parlez, unissons-nous,
connaissons-nous, pour que nous soyons tous unis. Les blancs parfois
veulent juste remplir leurs mains d’argent et ne pense qu’à cela, veut juste
tuer. C’est donc important de créer une force brésilienne-indigène car
l’indigène est brésilien.

Quelle est la notion indigène équivalente à Dieu ?

[rires] Dieu est notre tout. La théorie nous fait même du bien. Dieu est
tout, la forêt, la pluie, la clarté. Je connais Omama. Dieu est un mauvais
nom venu de loin - Omama est la forêt. Je ne l’ai jamais vu, mais j’ai rêvé.
Il est bon. C’est difficile d’entrer en contact avec lui, il aide seulement
lorsqu’il le veut. Quand il veut aider, il aide; quand il ne le veut pas, il
n’aide pas. Omama nous donne tout. Chaque personne qui naît près de la
forêt connaît - vous, jeunes, nés en ville, vous ne connaissez pas Omama.

Que pensez-vous des délires, des oeufs-bombes de Cabelo


(artiste brésilien responsable de l’exposition) ?

Quand je suis arrivé, j’ai rencontré cet oeuf-bombe. Ma vision que j’ai eue
en rêvant de cet oeuf en premier, en tant que pajé, en tant que yanomami,
est un oeuf de jaguar. Oeuf de jaguar est le début du monde. Quand j’ai eu
le rêve, il y avait un oeuf de jaguar sous la chute d’eau, et on a trouvé l’oeuf
en train de grogner. On a dit “c’est un oeuf de jaguar, rapportons-le à la
maison”. Le pajé a dit: “cet oeuf est du jaguar, il faut donc le préparer pour
le cuisiner pour que je puisse le manger, cet oeuf de jaguar”. Derrière la
coquille, un jaguar s’est formé.

Quand j’ai eu le rêve, ils [les esprits de la forêt] les ont vu correctement
pour appeler votre attention, pour vous montrer la destruction des chutes
d’eau, pour demander d’arrêter. Personne n’a le savoir dès la naissance,
apprenons ensemble, avec de l’art, avec les xapiri [les esprits de la forêt],
avec des professeurs.

Croyez-vous en la réincarnation ?

Dans la culture yanomami, ce n’est pas comme chez les napë. Quand un
yanomami meurt, il ne vas pas dans la terre, non. Notre coutume est faire
une crémation pour qu’il puisse aller là en haut. Son âme s’en va, pour
ailleurs, où vit Omama, dans une autre planète. Le pajé qui meurt s’en va
et puis revient, pour continuer à protéger les yanomami et vous aussi, pour
continuer à travailler comme lorsqu’il était en vie.

Vous en ville, quand vous mourrez, vous enterrez. Je ne trouve pas ça


bien, non, mais c’est votre coutume. Nous les pajé, on revient, sous une
autre forme.
Comment avez-vous vécu l’assemblage du livre La Chute du
Ciel, qu’est-ce qu’a été la découverte de l’anthropologie pour le
peuple yanomami ?

Ce livre a été pensé pour raconter comment ça s’est passé, il y a 70 ans


[nombre qui signifie probablement beaucoup d’années pour Davi, donc
manière de dire au Blanc “il y a longtemps”]. Pour moi, ce livre a été écrit
pour diffuser les problèmes, les maladies, les invasions de routes, l’armée…
ce livre a été élaboré pour marcher, et c’est pour cela qu’il a été si
important ici au Brésil et ailleurs. C’est un livre important et triste. Il
circule au Brésil et ailleurs, dénonçant les problèmes, pour qu’on puisse le
lire et s’intéresser. C’est important de lire toujours et se poser des
questions. Auê ? (compris ?)
O líder yanomami Davi Kopenawa com os índios urbanos da Aldeia
Maracanã depois do evento no Espaço Cultural BNDES. Fotografia por
Julien Pallotta

Le leader yanomami David Kopenawa avec les indiens urbains de "Aldeia


Maracanã" après l'entretien à l'Espace Culturel BNDES. Photographie par
Julien Pallotta

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