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1, N o 1, 19-49
a
O DOM DE LÍNGUAS
EM I CORÍNTIOS 1 2 4 4
GERHARD F , HASEL, P H . D . (f 1994)
Professor do Seminário Teológico Adventista na Andrews University, EUA
- 19-
* H á , ainda, u m o u t r o m o d o de interpre- d o "falar e m línguas" e m I C o r í n t i o s 12-14,
tar I C o r í n t i o s 12-14 que e n c o n t r a a p o i o na deixa-nos c o m a tarefa de realizarmos, c o m
vasta m a i o r i a dos teólogos n a história d o cautela e disposição, u m estudo m i n u c i o s o
cristianismo, desde os pais da igreja p r i m i t i - desta perícope.
va, passando p o r reformadores, c o m o J o ã o
U m a interpretação correta, sem dúvida,
C a l v i n o , e m u i t o s o u t r o s até nossos dias.
evitará a t e n d ê n c i a de isolar I C o r í n t i o s 14
Este p o n t o de vista é d e f e n d i d o p o r estudi-
dos dois capítulos anteriores e o f e n ó m e n o
osos, tão qualificados c o m o os descritos n o
do "falar e m línguas" do restante do N o v o
g r u p o acima, que possuem u m a visão mais
T e s t a m e n t o . Deveremos, c o m a seriedade
atenciosa d o c o n t e x t o bíblico, e o n d e a Es-
necessária, analisarmos os possíveis parale-
c r i t u r a serve c o m o sua própria intérprete.
los existentes nas religiões pagãs, para avali-
Estes eruditos e n t e n d e m I C o r í n t i o s 12-14,
armos a interpretação sugerida p o r alguns
e e m particular, o "falar e m línguas," c o m o
críticos d o texto bíblico.
referindo-se a u m d o m espiritual g e n u í n o
de falat línguas estrangeiras que não f o r a m
aprendidas a n t e r i o r m e n t e . C o m p r e e n d e m
4 CENÁRIO HISTÓRICO
I C o r í n t i o s 14 c o m o descrevendo u m a situ-
N a tentativa de alcançarmos u m a certa
ação de desvio de u m d o m espiritual, que
clareza na discussão de I C o r í n t i o s 12-14, é
estava sendo usado de f o r m a imprópria, isto
necessário, p r i m e i r a m e n t e , buscarmos de-
é, para edificação própria e benefícios pes-
v i d o esclarecimento q u a n t o a situação pre-
soais. N ã o a d m i t e m que Paulo estivesse en-
valecente e m C o r i n t o e sua respectiva co-
d o s s a n d o u m a p r á t i c a pagã n a igreja de
m u n i d a d e cristã.
C o r i n t o . Pelo contrário, o e n t e n d e m n o sen-
t i d o de estar ajustando u m verdadeiro d o m É p a r t i c u l a r m e n t e impressionante que o
espiritual, dado pelo Espírito, para a "falar e m l í n g u a s " se manifeste, u m a vez
edificação da igreja c o m o o c o r p o de Cris- mais, n u m a i m p o r t a n t e m e t r ó p o l e dos tem-
t o . Estes teólogos sugerem que e n q u a n t o os pos d o N o v o Testamento. C o r i n t o está lo-
crentes estavam r e u n i d o s n a igreja, vários calizada na E u r o p a . È u m a das famosas ci-
m e m b r o s r e c e b i a m o d o m de f a l a r dades da antiga G r é c i a .
m i r a c u l o s a m e n t e e m línguas estrangeiras, C o r i n t o era a capital da província roma-
mas de maneira simultânea, sem n e n h u m a n a da A c á i a . A s s i m , está l i g a d a a É f e s o ,
consideração à o r d e m o u respeito ao seu f i m Cesaréia e Jerusalém c o m o a q u a r t a cidade
i n d i c a d o — b e n e f i c i a r a p r o c l a m a ç ã o das o n d e aparecem registros de "falar e m lín-
Boas-Novas aos incrédulos. Esta situação de guas" n o N o v o Testamento.
fala simultânea daria a impressão, aos ain-
da n ã o crentes presentes à reunião, que os C o r i n t o controlava a rota de c o m é r c i o
que assim p r o c e d i a m estariam loucos. N u m a entre o Nordeste da Grécia e o Peloponeso.
tentativa de c o r r i g i r este desvio, Paulo res- Através dos p o r t o s de Lacáia, n o Oeste, e
salta q u e cada d o m deve s e r v i r p a r a a C i n c r é i a , n o Leste, se t o r n o u u m centro dos
edificação da igreja e n ã o para uso egoísta. negócios mediterrâneos. Seu c o m é r c i o ma-
A s s i m , ele impõe regras para que t u d o fosse rítimo trouxe-lhe grande prosperidade e l u -
feito e m o r d e m , r e c o m e n d a n d o que q u a n - xúria. C o r i n t o tornou-se t a m b é m proverbi-
d o n ã o houvesse intérprete capaz de t r a d u - al p o r sua p r o m i s c u i d a d e sexual.
zir estas línguas para o b e n e f í c i o daqueles M u i t o s séculos antes da época de Paulo,
que n ã o as e n t e n d i a m , deveriam permane- o t e m p l o c o r i n t o de A f r o d i t e empregava m i l
V. cer calados na igreja. escravas dedicadas à adoração licenciosa. 5
-20
A diversidade étnica se refletia e m sua acreditamos que fosse q u a n t o ao ranking dos
v i d a religiosa. C o r i n t o possuía m u i t o s san- d o n s e s p i r i t u a i s ( 1 2 : 2 8 ) , especialmente a
tuários dedicados a deidades estrangeiras, relação entre os dons de profecia e o falar
tais c o m o Isis e Serápis. D e fama especial
6
e m línguas (14:1-40).
era o t e m p l o de A p o l o . V i s i t e i C o r i n t o e m
várias ocasiões e v i as ruínas destes t e m p l o s . / Coríntios 12
E u m a visão m u i t o impressiva.
A seção introdutória de I C o r í n t i o s 12-
Paulo f o i até C o r i n t o na sua segunda v i - 14 refere-se ao t e m a dos d o n s espirituais
agem missionária. A l i passou 18 meses (c. c o m o u m t o d o ( 1 2 : 1 ) , e atinge seu clímax
10
-21 -
N o o r i g i n a l , o propósito dos d o n s espi- que todas as pessoas cheias d o Espírito de-
rituais na igreja é " o b e m c o m u m " (12:7 - a v a m falar e m línguas.
V A R A traduz c o m o " f i m proveitoso"). N e -
Ê d i g n o de n o t a que n o N o v o Testamen-
n h u m d o m deverá ser para uso particular;
to, nas q u a t r o listas de dons espirituais, o
todos os d o n s são destinados ao " b e m co-
d o m de línguas aparece e m apenas duas ( I
m u m " d o c o r p o dos crentes (cf. I C o 6:12;
C o 12:10; 12:28, 30), e sempre e m último
10:23). Paulo r e t o r n a a este t ó p i c o e m I 14
-22-
expressando o desejo de que os crentes bus- A N e w E n g l i s h B i b l e ( N E B ) traduz o ter-
q u e m i n t e n s a m e n t e os d o n s e s p i r i t u a i s m o grego " l í n g u a ( s ) " c o m o " l i n g u a g e m /
(14:1). E o propósito de Paulo destacar o declaração/fala e s t á t i c a " o u "fala/lingua-
17
n e n h u m a p o i o t e x t u a l para as expressões
I C o r í n t i o s 14 pode ser d i v i d i d o e m duas
"estática" o u " ê x t a s e . " Estes termos são re-
19
-23-
t e m duas palavras diferentes sendo usadas de línguas difere-se de outras descrições d o
n o texto o r i g i n a l , u m a e m A t o s 2 e o u t r a N o v o Testamento sobre o "falar e m línguas"?
e m I C o r í n t i o s 14. Esta versão dá a impres- Será que a l i n g u a g e m empregada p o r Paulo
são de que existem dois dons diferentes, sem para o "falar e m línguas" é idêntica às ma-
relação u m c o m o o u t r o . nifestações de fala religiosa estática n o con-
t e x t o da religião h e l é n i c a pagã? S e r á que
C o m o destaque, a tradução alemã conhe-
Paulo está descrevendo u m f e n ó m e n o e m I
cida c o m o a Elherfelder Bibel ( p r o d u z i d a
C o r í n t i o s 12-14 que f o i adotado pelos cris-
e m 1986), que possui a reputação de ser a
t ã o s d e C o r i n t o a p a r t i r d e sua c i r -
tradução mais literal disponível e m alemão
c u n v i z i n h a n ç a p a g ã ? Estes s ã o a l g u n s
e conhecida p o r ser f i e l ao texto o r i g i n a l ,
questionamentos que p o d e m estar na m e n -
emprega todas as vezes, e m I C o r í n t i o s 12-
te de u m l e i t o r a t e n t o destes capítulos. E
14, a expressão " l i n g u a g e m " ( n o a l e m ã o
necessário, e n t ã o , que consideremos c o m
Sprache[nJ), o n d e n o grego aparece o t e r m o
c u i d a d o a l i n g u a g e m usada p o r Paulo ao
glôssa. E m outras palavras, esta tradução vê
referir-se ao falar e m línguas. Faz-se necessá-
o d o m de línguas de I C o r í n t i o s 12-14 c o m o
r i o compará-la c o m a l i n g u a g e m d o restan-
consistindo de linguagens reais de nações.
te d o N o v o Testamento e da c u l t u r a que cir-
Estes exemplos de variações e m t r a d u - cundava a igreja de C o r i n t o .
ções modernas, c o m a inserção de termos
A expressão "língua(s)" é usada q u a t r o
que n ã o estão na língua o r i g i n a l e a substi-
vezes e m I C o r í n t i o s 1 2 , duas vezes e m I
22
C o r í n t i o s 14 é u m capítulo c o m p l e x o . Por-
de v i n t e e três \ezes. N o t a v e l m e n t e , e m cada
t a n t o , n ã o é p r ó p r i o , d o p o n t o de vista
caso, sem exceção, a palavra usada para " l i n -
m e t o d o l ó g i c o , i n t e r p r e t a r t o d o o fenóme-
gua" é sempre o t e r m o grego glôssa, a mes-
n o d o falar e m línguas n o N o v o Testamen-
ma expressão usada e m Marcos na predição
t o a p a r t i r desta passagem c l a r a m e n t e
de Jesus a respeito das "novas línguas," e
dificultosa, simplesmente p o r q u e é a expo-
em A t o s , p o r Lucas, q u a n d o descreve a ex-
sição mais longa sobre o assunto. Esta por-
periência d o Pentecostes e as manifestações
ção das Escrituras, t o m a d a isoladamente, d i -
d o d o m de línguas e m Cesaréia e Eteso.
f i c i l m e n t e presta-se c o m o a chave exclusiva
na definição d o que é o falar e m línguas n o O u t r a observação se faz necessária: t o
N o v o Testamento. das as vezes que a frase "talar e m línguas"
aparece (12 vezes) o verbo "talar" é deriva-
21
"FALAR EM LÍNGUAS"
m u i t o d i f e r e n t e d a q u i l o que i n t e n t a m os
S e r á q u e a l i n g u a g e m empregada p o r defensores da hipótese sugerida acima. N a
Paulo para descrever o f e n ó m e n o d o d o m verdade, o uso d o t e r m o glôssa designando
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língua compreensível, inteligível, excede de pleta "falar e m novas/outras línguas" usada
longe ao uso n o grego não-bíblico c o m o fala apenas e m Marcos 16:17 e A t o s 2 : 4 . As- 35
estranha e a n t i q u a d a . 28
s i m , o uso de glôssa laleín, sem o adjetivo,
e m A t o s 10 e 19 e I C o r í n t i o s 12-14 pode
A Q u a l a e v i d ê n c i a da B í b l i a Grega
representar u m a elipse, u m a f o r m a mais
/ (Septuaginta e N o v o Testamento) para apoi-
c u r t a da frase que era o r i g i n a l m e n t e mais
ar a hipótese de glossolalia c o m o u m a for-
V_ l o n g a . Engelsen sugere que o t e r m o origi-
m a de fala n ã o compreensível? U m a investi-
n a l esconde-se n u m passado irrecuperável, 36
Santo.
v i d a de que o uso b í b l i c o d o substantivo
glôssa e l i m i n e a ideia de u m a fala estática. A expressão glôssa iaieín só está presente
n o grego d o N o v o T e s t a m e n t o , t o r n a n d o
Observa-se, ainda, que o adjetivo grego
impossível encontrá-la e m outras fontes gre-
fieteros, " o u t r a " ( A t 2:4), n ã o aparece e m I
gas a n t e r i o r e s . Sem c o n s i d e r a r este f a t o ,
C o r í n t i o s 12-14. A l g u n s e r u d i t o s , n o entan-
muitas hipóteses f o r a m criadas, sugerindo
t o , a r g u m e n t a m que a l i n g u a g e m de- Paulo
que o f e n ó m e n o d o falar e m línguas de I
difere daquela usada e m A t o s . Seria a falta
C o r í n t i o s seria u m a glossolalia, n o sentido
d o adjetivo " o u t r a " tão decisiva para que os
de u m a fala ininteligível, u m a articulação
dois f e n ó m e n o s possam ser diferentes? Te-
de sílabas sem nexo. E n t r e tais hipóteses
m o s q u e m a n t e r e m m e n t e que o t e r m o
encontra-se aquela que tenta i n t e r p r e t a r o
heteros, " o u t r a , " n ã o é e n c o n t r a d o e m I e I I
f e n ó m e n o d o N o v o Testamento através de
Tessalonicenses, T i t o , J o ã o (exceto e m
paralelos históricos-religiosos. V o l t a r e m o s a
19:37), Marcos (exceto 16:12), I e I I Pedro,
c o m e n t a r sobre este tópico mais adiante.
I , I I e I I I J o ã o . N ã o é necessário que a ex-
pressão seja usada novamente depois de A t o s O u t r a hipótese sugere que a experiência
2:4, " f a l a n d o e m línguas," p o r q u e neste tex- glossolálica, supostamente o c o r r i d a em
to i d e n t i f i c a o falar e m línguas já c o m o " o u - C o r i n t o , p o d e ser e x p l i c a d a t e r m i n o -
tras" n o sentido de que aqueles que recebe- lógicamente pelo uso d o verbo grego laléo.
r a m o d o m n o Pentecostes estavam "falan- Orígenes, u m dos pais da igreja, já especula-
d o e m várias línguas diferentes das suas pró- va sobre u m t i p o de "fala desconexa." E m
prias línguas e que estas lhes e r a m desco- épocas mais recentes, t e m sido novamente
n h e c i d a s . " Deve-se n o t a r que a expressão
33
sugerido q u e iaiéo i n d i q u e a l g u m t i p o de
grega glôssa laleín, l i t e r a l m e n t e "falar e m lín- "tala desconexa," ou algo semelhante que
guas," t a m b é m aparece e m A t o s 10:46 e 19:6 seja inerente ao t e r m o . " E n q u a n t o esta h i -
3
sem o adjetivo " o u t r a . " Isto pode indicar que pótese busque explicar, de f o r m a implícita,
após a experiência d o Pentecostes de "falar que o falar e m línguas seja u m a glossolalia,-
e m línguas," esta expressão tenha se torna- n o sentido de fala estática, não articulada,
d o u m a designação t é c n i c a , c o m significa-
34
ao m e s m o t e m p o l e v a a a d m i t i r q u e
d o f i x o , o n d e o adjetivo " o u t r a " é suben- glossolalia não pode ser derivada d o t e r m o
t e n d i d o sem a necessidade de ser r e p e t i d o . "língua" (glôssa). Esta posição o m i t e alguns
É m u i t o provável que a f o r m a c o m p r i m i d a aspectos relevantes d o uso de laléo e m I
"falar e m línguas," sem u m artigo grego e C o r í n t i o s 14. Em I C o r í n t i o s 14:9 Paulo usa
sem u m adjetivo ( " n o v a " o u " o u t r a " ) , seja laléo q u a n d o se refere ao que é " c o m p r e e n -
u m a expressão abreviada da frase mais c o m - sível." n o sentido de u m a afividade m e n t a l .
-25-
E m I Coríntios lar e m línguas de I C o r í n t i o s 12-14 irão re-
q u e apenas d o i s o u três profetas " f a l e m " velar se tais sugestões, baseadas n a linguísti-
(laléo) e estes " f a l e m " e m línguas conheci- ca e na s i m i l a r i d a d e terminológica estão re-
das. E m I C o r í n t i o s 14:34, 35 as mulheres almente corretas.
n ã o são p e r m i t i d a s " f a l a r e m " (laléo). M a i s
u m a vez, a q u i , a fala é c o m u m , e m lingua-
O FALAR EM LÍNGUAS
gem. h u m a n a n o r m a l . Deste m o d o o verbo
E A LÍNGUA DOS ANJOS
laléo é empregado p o r Paulo e m I C o r í n t i o s
14 e m vários aspectos: n o contexto d o d o m U m a das hipóteses usadas para interpre-
de línguas (v. 9), na fala dos profetas (v. 29) tar o "falar e m línguas," na perspectiva
e na proibição das mulheres falarem na igreja p a u l i n a , t e m c o m o base I C o r í n t i o s 13:1.
(vs. 34, 35). T a l uso exige que laléo refira-se Esse verso parece sugerir que o falar e m lín-
à linguagem h u m a n a usual. C o n c o r d a m o s , guas seja "a fala dos anjos n o q u a l os segre-
assim, c o m a conclusão de J. M . F o r d que dos d o m u n d o celestial são revelados." 44
-26
re que n ã o pode ser i n f e r i d o que a capaci- Paulo quer mostrar que falar e m línguas
dade para falar a língua dos anjos f o i real- em C o r i n t o é u m d o m espiritual ( I C o 12:10,
mente p r e t e n d i d a p o r Paulo o u pela igreja 28, 30) e s t i m u l a d o pelo Espírito S a n t o . ' 1
de C o r i n t o ? 0
P o r t a n t o , a referência ao " e s p í r i t o , " neste
D e v e m o s r e c o n h e c e r q u e Paulo f a l o u contexto mais a m p l o , será m e l h o r traduzida
hipoteticamente em I Coríntios 13:1.
5 1
se fizer u m a alusão direta ao Espírito San-
c o m o i n d i c a a cláusula c o n d i c i o n a l grega. t o . Neste caso o Espírito Santo é a f o n t e da
Paulo usa a partícula c o n d i c i o n a l eart. "se."52 fala misteriosa.
seguida d o s u b j u n t i v o lato.53 Este t i p o de clá- Os "mistérios" de que f a l a m os adeptos
usula c o n d i c i o n a l da língua grega n u n c a
d o falar e m línguas n ã o são segredos o u "ver-
expressa a realidade. Paulo parece dizer atra-
dades secretas." A expressão "mistérios," nos
vés de hipérboles que todas as possibilida-
escritos de Paulo, possui u m sentido m u i t o
des linguísticas, i n c l u i n d o a fala dos anjos,
s i g n i f i c a t i v o . Isto t a m b é m é verdade c o m
se estivessem à sua disposição e a i n d a l h e
r e l a ç ã o ao N o v o T e s t a m e n t o c o m o u m
faltasse amor, para nada valeriam. " A con-
t o d o . Paulo é aquele que mais extensiva-
5 8
ensinos c r i s t ã o s . "60
27-
rer, mas seremos t r a n s f o r m a d o s , e m u m e m línguas. Se n ã o há c o m p r e e n s ã o , aquele
m o m e n t o , n u m abrir e fechar de olhos, ao que fala e m u m a língua fala a Deus somen-
soar a última t r o m b e t a " ( N R S V ) . " M i s t é r i o " te, p o r q u e os seres h u m a n o s são incapazes
a q u i é a revelação d o fato de que alguns não de compreender se está o u n ã o p r o c l a m a n -
morrerão e que todos serão transformados d o os "mistérios" d i v i n a m e n t e revelados.
e m u m m o m e n t o q u a n d o C r i s t o vier pela
Se c o r r e t a m e n t e c o m p r e e n d i d o , este
segunda vez.
i m p o r t a n t e verso, q u e abre o assunto sobre
I C o r í n t i o s 2:7 faz uso d o t e r m o "misté- línguas e m I C o r í n t i o s 14, n ã o sugere que o
r i o " pela p r i m e i r a vez nesta carta. Paulo afir- l o c u t o r fale p o r seu próprio espírito somen-
m a : " M a s nós falamos a sabedoria de Deus te a Deus, e que este seja o propósito d o
e m mistério, a sabedoria oculta, que Deus falar e m línguas. T a m b é m n ã o p o d e ser i n -
p r e d e s t i n o u desde a eternidade para nossa f e r i d o que sua fala e m línguas seja de n a t u -
glória" ( N A S B ) . N o contexto mais a m p l o de reza estática, c o m a produção de sílabas sem
seu a r g u m e n t o neste capítulo, Paulo usa o sentido, simplesmente p o r q u e n ã o é c o m -
t e r m o " m i s t é r i o " para r e s u m i r t o d o o pla- p r e e n d i d o pelos o u v i n t e s . Este verso n ã o
n o d i v i n o da salvação revelado p o r Deus quer dizer que o que está sendo p r o f e r i d o
d e n t r o de u m ú n i c o t e r m o t o d o abarcante. 62
são " m i s t é r i o s " o u "segredos" desconheci-
U m " m i s t é r i o " é algo que é invariavelmen- dos e, p o r isso, são articulações ininteligíveis
te revelado p o r Deus e está relacionado c o m representadas p o r u m a fala sem nexo.
C r i s t o e a proclamação a respeito de Cris-
Observamos que os "mistérios" u m a vez
t o . ' Esta ideia de revelação é básica para a
6
que fora u m a vez escondido p o r Deus, ago- E m o u t r a carta, o próprio Paulo pede aos
ra t e m sido p o r Ele revelado. Isto está e m efésios para que orassem e m seu favor para
h a r m o n i a c o m o uso n o singular de outros que pudesse ser capaz de t o r n a r c o n h e c i d o
escritos p a u l i n o s . R o b e r t s o n e P l u m m e r o mistério d o evangelho c o m " c o r a g e m " (Ef
parecem estar certos q u a n d o a f i r m a m que 6:19, N R S V ) .
"mystérion n o N T geralmente significa a 'ver-
Portanto, I Coríntios 14:2 não sugere que
dade acerca de Deus, u m a vez escondida,
o falar e m línguas seja u m a glossolalia, n o
mas agora r e v e l a d a ' . " E m I C o r í n t i o s 14:2
64
-28
Precisamos investigar c u i d a d o s a m e n t e Seria esta "fala/palavra" "ininteligível," d i -
q u a l o sentido da palavra " e n t e n d e r " e q u e m fícil "de entender," n ã o "reconhecida facil-
é aquele que n ã o entende. Posteriormente, mente," não "clara," somente dirigida a
o texto é explícito e m a f i r m a r que aqueles Deus p o r q u e a entende e, assim, tornándo-
que escutam alguém falando e m o u t r a lín- se inacessível à compreensão humana? O u
gua n ã o e n t e n d e m q u e m lhes fala. Desde será que n ã o é e n t e n d i d a p o r ser a "fala/
que n ã o haja " c o m p r e e n s ã o " p o r parte dos palavra" ininteligível e m si mesma?
ouvintes, aquele que está falando e m línguas
Este q u e s t i o n a m e n t o focaliza a natureza
fala para Deus e n ã o a pessoas. E m b o r a o
da i n i n t e l i g i b i l i d a d e da "fala/palavra." N ã o
emissor fale e seja o u v i d o , n ã o é compreen-
há evidência para sugerir que o t e r m o grego
d i d o . Apenas q u a n d o alguém fala t e n d o e m
lógos, cujo significado n a t u r a l é " p a l a v r a , " 69
-29
as escutava, mas que n i n g u é m as achou i n - to, e que agora são revelados p o r Deus me-
teligível." A i n t e l i g i b i l i d a d e d o que era fa-
71
d i a n t e o E s p í r i t o S a n t o . C o n t u d o , estes
lado n ã o parece apoiar-se na natureza d o " m i s t é r i o s " p e r m a n e c e m sem s e n t i d o ao
" s o m " (phoné), mas n a natureza da habilida- o u v i n t e e n q u a n t o não houver interpretação,
de das pessoas e m entendê-las, c o m o v i m o s isto é, tradução, a q u a l possibilitaria c o m
acima. que essa "língua" (grego phoné), que não lhe
era acessível, pudesse ser, então, e n t e n d i d a .
Estes termos gregos, isto é, o v e r b o akoúo,
"entender," e m conjugação c o m os substan- Paulo esclarece que, d e v i d o a algumas
tivos "línguas" (glôssa) e " l i n g u a g e m " (phoné), circunstâncias, é impossível para alguém que
são usados na Septuaginta (a tradução mais esteja escutando u m a pessoa f a l a n d o n u m a
antiga d o V e l h o Testamento para a língua língua/linguagem i d e n t i f i c a r se esta está o u
grega) n u m a passagem realmente significa- não se d i r i g i n d o a Deus (14:2,28), pois Deus
tiva para nosso estudo. Estas mesmas pala- n ã o é l i m i t a d o a u m a língua h u m a n a espe-
vras são usadas e m G é n e s i s 11:1-9 e m cone- cífica. C o n t u d o , c o m o Deus é o o r i g i n a d o r
xão c o m a história da confusão de línguas de todos os dons espirituais, se n ã o existe
o c o r r i d a na T o r r e de Babel. N a Septuaginta, ninguém c]ue possa entender a língua/lin-
Génesis 11:7 revela que Deus " c o n f u n d i u guagem d o emissor, esta ainda pode ser com-
suas línguas (grego glôssa), para que n ã o en- preendida p o r Deus. Devemos nos l e m b r a r
tendessem (grego akoúo) cada u m a língua que t o d a a discussão de Paulo e m I Coríntios
(grego phoné) de seu p r ó x i m o . " 72
14 mostra que o falar e m línguas deve servir
para o crescimento da igreja e n ã o para a
O fato de Paulo ter usado a mesma ter- edificação própria.
m i n o l o g i a presente na sua Bíblia Grega, na
c o m b i n a ç ã o exata e de m a n e i r a tão própria,
parece d e m o n s t r a r que a i n i n t e l i g i b i l i d a d e O FALAR EM LÍNGUAS E AS RELIGIÕES
d o que f o i d i t o n ã o decorre d o fato de que HELÉNICAS DE MISTÉRIO
línguas h u m a n a s n ã o f o r a m usadas. C o m o
resultado da confusão de "línguas" (glôssa) U m m é t o d o de i n t e r p r e t a ç ã o b í b l i c a
o c o r r i d o na T o r r e de Babel, a nova língua m u i t o usado n o p e r í o d o m o d e r n o t e n t a
(phoné) ñ
de cada v i z i n h o simplesmente n ã o i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 valendo-se dos
era " e n t e n d i d a " (akoúo) pelo o u t r o . Para que recursos p r o v i n d o s de supostos paralelos
os ouvintes sejam incapazes de "entender," crítico-históricos encontrados nas religiões
é o b v i o q u e t e n h a m p a r t i c i p a d o de u m a
gregas de mistério. Desta f o r m a , e r u d i t o s
l o c u ç ã o audível, mas sem c o m p r e e n d e r o
seguidores d o m é t o d o crítico-histórico pro-
significado da língua falada. Este paralelo
c u r a m i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 t e n d o
c o m a experiência da T o r r e de Babel indica
que o falar e m línguas é o d o m inverso à c o m o base os bastidores de algumas religi-
confusão de línguas/linguagem o c o r r i d a na ões existentes n o m u n d o h e l é n i c o , n o perí-
Torre de Babel, c o m o propósito de facilitar o d o anterior, c o n t e m p o r â n e o e mesmo pos-
a v o n t a d e de Deus e m c o m u n i c a r as Boas- terior a Paulo.
Novas para as pessoas e m todas as línguas/
H á a l g u m t e m p o atrás, R. Reitzenstein
linguagens.
a f i r m o u que "é necessário a d m i t i r que as
Emerge aqui o u t r o aspecto relevante. I 'manifestações d o Espírito' na c o m u n i d a d e
C o r í n t i o s 14:2, se c o m p r e e n d i d o correta- cristã n ã o são ú n i c a s , mas p e r t e n c e m ao
mente, n ã o nos ensina que o falar e m lín- êxtase místico d o h e l e n i s m o . P o r t a n t o , é
guas se destina a u m a c o m u n i c a ç ã o direta característico que Paulo tenha reconhecido
c o m D e u s . M u i t o s glossolalistas sugerem tão claramente o perigo que recaía na ado-
que a glossolalia é u m d o m v o l t a d o direta- ção desta f o r m a de prática [pagã] sem, con-
mente a Deus, e usam c o m o base I C o r í n t i o s
t u d o , ousar removê-la c o m p l e t a m e n t e . " 7 4
-30-
O artigo escrito p o r Johannes B e h m n o r i a l v i t a l deve v i r para ter-se u m a clara c o m -
Theological Dictionary of tfie New Testament é preensão d o q u a d r o c o m p l e t o . E m relação
o u t r o exemplo típico o n d e os paralelos são à questão de paralelos c o m outras religiões,
usados para se estabelecer que o falar e m p e r m i t e m apenas conclusões limitadas c o m o
línguas de C o r i n t o estava associado à fala u m a ajuda na avaliação de acontecimentos
estática encontrada nas culturas que t o m a r a m lugar nas congregações cris-
circunvizinhas. " E m C o r i n t o , portanto, tãs p r i m i t i v a s . " D e l l i n g sabe de que estes
79
sos nas a d i v i n h a ç õ e s m â n t i c a s na f o r m a
te que somente dois o u três d e v e r i a m falar
c o m o aparecem especialmente e m D e l f o s . " 78
e m sequência e e n t ã o serem i n t e r p r e t a d o s .
A parte dos problemas h e r m e n ê u t i c o s des-
pertados p o r esta abordagem, os e r u d i t o s Os que f a l a m e m línguas p o d e m ficar e m
n ã o são u n â n i m e s na questão se os supos- silêncio (I C o 14:28) e as línguas p o d e m ser
tos paralelos helénicos p o d e m realmente ser controladas, de m o d o que possam ser ex-
observados n o caso da adivinhação mântica, pressas n u m a sucessão ordenada (v. 2 7 ) . 85
presente n o c u l t o a A p o l o e m Delfos o u n o
Diversos escritores antigos referem-se a
c u l t o orgístico a D i o n í s i o .
êxtases e práticas de m a n t i c i s m o . C o n t u d o ,
G e r h a r d D e l l i n g , e m b o r a r e c o r r e n d o ao estes termos e conceitos n ã o são usados ne-
mesmo m é t o d o , é cauteloso na afirmação n h u m a vez n o N o v o Testamento nas passa-
de que "é d o N o v o Testamento que o mate- gens que se r e f e r e m ao falar e m línguas.
-31
Existe, n a t u r a l m e n t e , nestas obras clássicas de falar e m línguas de I C o r í n t i o s permane-
u m a variedade de definições para ê x t a s e . 86
ce peculiar n o m u n d o antigo. Este d o m é,
O exemplo mais claro é d a d o p o r Plutarco p o r t a n t o , incapaz de ser i n t e r p r e t a d o n a
ao referir-se ao oráculo e m D e l f o s . É assu- 87
base de u m possível " f e n ó m e n o compará-
m i d o f r e q u e n t e m e n t e que n o oráculo e m v e l , " que, e m realidade, n ã o existe. Paulo
9 3
relevância.
-32
Já o segundo par de termos, isto é, co- O o b j e t i v o destes exemplos é claro. O
n h e c i m e n t o e ensino, "refere-se à c o m u n i - p o n t o decisivo é que o significado d o que é
cação da i n f o r m a ç ã o (a profecia o u ensino falado seja compreensível a p a r t i r dos "sons"
é p u b l i c a m e n t e falada o u escrita p o r seres produzidos. O propósito é que o c o n t e ú d o
h u m a n o s a o u t r o s : 1 T i 1:18, 2 Pe 1:21, A p da mensagem possa ser levado ao conscien-
1:3, M i 4:2, A t 5:28, R m 16:17, 2 Jo 1 0 ) . " %
te e que ações devidas possam ser tomadas
A q u i Paulo v o l t a a falar sobre línguas, que é c o m o resultado. C o n t u d o , estas caracterís-
a m a n e i r a e m que se dá a c o m u n i c a ç ã o d o ticas estão ausentes naqueles que "estão fa-
c o n t e ú d o da revelação de Deus. Se o falar l a n d o p o r m e i o de línguas" ( I C o 14:9). Esta
e m línguas n ã o resulta e m c o m u n i c a ç ã o , "mensagem" (logos) " n ã o é clara" (eusemon)
c o m o pode beneficiar a igreja? O falar e m o u " d i s t i n t a " o u "facilmente r e c o n h e c í v e l . "
98
línguas é para o benefício da igreja; n ã o é Ê evidente que este falar e m línguas " n ã o
para o benefício da pessoa que fala e m lín- era algo somente b a l b u c i a d o , sem nexo, mas
guas. que a pessoa inspirada na igreja de C o r i n t o
falava u m a língua ininteligível e m relação à
A ideia chave é esta: " q u e p r o v e i t o isto
m a i o r i a dos o u v i n t e s . "
99
-33
trangeiro, N R S V ] , e aquele que fala seria u m O FALAR EM LÍNGUAS
bárbaro [estrangeiro, N R S V ] para m i m " (v.
COMO UM SINAL PARA INCRÉDULOS
11, N A S B ) .
E m I C o r í n t i o s 14:20-25 Paulo c o m e n t a
A expressão " b á r b a r o " é u m t e r m o
pela p r i m e i r a vez sobre a impressão o b t i d a
o n o m a t o p é i c o para u m a pessoa q u e fala
pelos incrédulos q u a n d o e n t r a m n u m a reu-
u m a língua estrangeira, isto é, alguém que
nião de igreja e o u v e m os m e m b r o s falando
não é grego, o u simplesmente u m "estran-
g e i r o . " A ideia é que a l i n g u a g e m de u m
105
s i m u l t a n e a m e n t e e m línguas. A reação dos
grego era "grego" para q u a l q u e r u m que não i n c r é d u l o s n ã o será favorável. " Q u a n d o ,
o entendesse e vice-versa; a l i n g u a g e m de u m p o r t a n t o , t o d a igreja se reúne e todos f a l a m
"estrangeiro" era "grego" n o sentido de ser e m línguas, e e n t r a m estranhos o u incrédu-
estrangeira a u m grego nativo, que n ã o t i - los, não irão dizer que vocês estão l o u c o s " 7
1A
terpretados c o m o idênticos aos "estrangei- O critério de Paulo para a avaliação dos
ros" (grego bárbaros) d o verso 11. O q u a d r o d o n s espirituais, p a r t i c u l a r m e n t e o de lín-
que Paulo descreve é claro. Se estranhos e guas, é a edificação o u crescimento da igre-
incrédulos, ao e n t r a r e m n u m c u l t o da igre- ja. Desde que o uso das línguas/linguagens,
ja, o u v i r e m os m e m b r o s da congregação fa- c o m o f o r a m descritas p o r Paulo, n ã o pro-
larem e m línguas o u u m a linguagem que não d u z i a m u m resultado positivo nos estranhos
conhecem, poderão c o n c l u i r que tais "falan- e incrédulos, estes n ã o são n e m "convenci-
tes" estão " l o u c o s " ( N A S B ) o u " f o r a de cons- d o s " o u " j u l g a d o s " ( I C o 14:24), n e m são
ciência" (NKJV, N R S V ) . "os segredos d o coração... revelados" ( I C o
14:25a). Desta f o r m a o propósito de se falar
A expressão grega usada para " l o u c o " o u
e m línguas/linguagens, a saber, a edificação
"fora de c o n s c i ê n c i a " é mainesthe. Pode se
da igreja, não é a t i n g i d o . O incrédulo n ã o
referir a u m a pessoa que t e n h a trazido notí-
está "prostrando-se sobre seu rosto, ... [não
cias incríveis ( A t 12:15) c o m o , p o r exemplo,
está] a d o r a n d o a Deus e d e c l a r a n d o q u e
u m a declaração surpreendente. Este é cha-
Deus r e a l m e n t e está entre v ó s " ( I C o
m a d o " l o u c o / f o r a de c o n s c i ê n c i a . " Paulo
insistiu e m sua defesa ante Festo que n ã o 14:25b). Este é o resultado f i n a l crucial que
estava " f o r a de s i " ( A t 2 6 : 2 5 ) . Estes d o i s acaba o c o r r e n d o , c o n t r á r i o ao p r o p ó s i t o
exemplos, o n d e o mesmo t e r m o é emprega- evidente d o falar e m línguas. Os "estranhos
d o , i n d i c a m que esta palavra n ã o se refere à e incrédulos" devem ser levados à conver-
l o u c u r a n o sentido de insanidade. são e a reconhecerem e a d o r a r e m a Deus.
Mas se n ã o p o d e m entender o que está sen-
H á u m a d u p l a c o n e x ã o entre esta passa- d o d i t o , que b e m há nisto? C o m o pode al-
gem de I C o r í n t i o s 14:22, 23 c o m a de A t o s guém alcançar o propósito designado p o r
2:13. A p r i m e i r a refere-se à reação dos i n - Deus? C o m o pode a igreja ser edificada?
crédulos q u a n d o expostos à fala e m línguas.
E m A t o s 2:13 u m g r u p o de pessoas são acu- Paulo observa enfaticamente que estes
sados de estarem bêbadas p o r falarem e m objetivos são alcançados pela profecia, mas
línguas estrangeiras. Este arrazoado teve o r i - deveriam ser t a m b é m a razão d o falar e m
gem naqueles que n ã o p o d i a m (e/ou n ã o línguas. O critério decisivo c o n t i n u a sendo
desejavam) e n t e n d e r o que os discípulos a "edificação" da igreja. Paulo esforça-se para
estavam d i z e n d o n o dia de Pentecostes. E m t o r n a r claro que o falar e m línguas é u m a
I C o r í n t i o s 14:23 Paulo adverte que o i n - atividade realizada pela igreja. Deve ter u m
crédulo o u estranho pode ser i n c o n v e n i e n - efeito positivo na missão e avanço da igre-
temente afetado se ouve e/ou não entende ja.113
T e m o o b j e t i v o de c o n t r i b u i r para o
o que é p r o f e r i d o n u m serviço desordenado crescimento da igreja.
na igreja.
A segunda correlação direta d o falar e m
O q u a d r o descrito p o r Paulo desta ativi- línguas e m I C o r í n t i o s 14 c o m A t o s 2:1-13;
dade na igreja pode ser e n t e n d i d o da seguin- 10:45-46; e 19:1-6 t e m que ver c o m o objeti-
te m a n e i r a : se u m m e m b r o da igreja de vo f i n a l d o falar e m línguas. Deve" atender a
C o r i n t o falasse u m a língua/linguagem (o missão e ao i m p u l s o evangelístico da igreja,
coptico, p o r exemplo), e houvessem "estra- p a r t i c u l a r m e n t e , o t e s t e m u n h o e a conver-
nhos o u incrédulos" que não soubessem esta são dos "estranhos e incrédulos." P o r t a n t o ,
língua/linguagem, c o m o p o d e r i a este estra- Paulo insiste que o falar e m línguas n ã o é
n h o saber o que é d i t o ( I C o 14:9), e c o m o u m sinal para crentes (v. 22). O falar e m
p o d e r i a D e u s ser beneficiado? E se o u t r a línguas/linguagens não fora c o n c e d i d o para
pessoa começasse a falar s i m u l t a n e a m e n t e ser de caráter particular, pessoal, ao contrá-
a língua dos nabateanos, e u m terceiro fa- r i o , seria u m d o m espiritual cujo propósito
lasse a língua dos partas e assim p o r d i a n t e , real p o d e t i a apenas ser alcançado se resul-
estranhos e incrédulos, visitantes à igreja, tasse n a "edificação" da igreja ao trazer "es-
os o u v i r i a m , mas e m v i r t u d e da fala s i m u l - t r a n h o s e incrédulos" à conversão e à ado-
tânea e de serem estranhos não e n t e n d e r i - ração d o Deus verdadeiro.
a m necessariamente n e n h u m a destas lín-
guas, e seriam levados a c o n c l u i r que estas Paulo deixa claro que "línguas são u m
pessoas são "loucas." sinal n ã o para crentes, mas para incrédulos,
-35-
e n q u a n t o que profecia n ã o é sinal para i n - Esta citação a p o n t a para algo i m p o r t a n -
crédulos, mas s i m para crentes" (v. 22, RSV). te que n ã o pode escapar de nossa atenção.
O texto grego é, na verdade, ainda mais pre- P r i m e i r a m e n t e , refere-se a "linguagens es-
ciso. Ele n ã o diz que "línguas são u m s i n a l , " trangeiras" e m termos de u m m e i o de co-
mas que "são p a r a u m s i n a l . " Isto significa m u n i c a ç ã o que os ouvintes n ã o e n t e n d i a m .
que línguas são designadas para atender o Esta comparação é reveladora, p o r q u e pare-
propósito de u m s i n a l . " T ê m a f u n ç ã o de
4
ce sugerir que o que está acontecendo e m
u m sinal. C o r i n t o é a mesma coisa. "Línguas estran-
geiras" são usadas pelos que f a l a m em lín-
A palavra " s i n a l " (grego semeion) t e m u m
guas, mas estas n ã o p o d e m p r o p i c i a r os re-
significado p a r t i c u l a r n o N o v o Testamento.
sultados desejados p o r q u e n ã o p o d e m ser
E m p r i m e i r o lugar, é u m a marca que i n d i c a
entendidas pelos ouvintes. Paulo pretende
que há u m a mensagem especial que deve
explicar que, n o passado, Deus usou outras
ser expressa (Jo 20:30, 31). O d o m de lín-
línguas c o m u m p r o p ó s i t o . Ele u s o u os
guas t e m u m objetivo claro. T e m u m a f u n -
assírios p a r a falar aos israelitas, que n ã o
ção específica e u m a intenção c o m o u m si-
e n t e n d i a m a língua p o r eles falada. Precisa-
n a l para "descrentes," p o d e n d o ser t a n t o
v a m de u m t r a d u t o r . A g o r a , Deus usa o d o m
judeus ( A t 18:1-17; I C o 14:21) c o m o genti-
de línguas/linguagens para convencer os
os. 115
E m b o r a Paulo n ã o declare explicita-
incrédulos de que a mensagem d o Evange-
m e n t e q u a l o t i p o de " s i n a l " que seria, o
l h o possui o sinete d o C é u . " 9
-36
O FALAR EM LÍNGUAS Paulo utiliza u m a vez o substantivo gre-
go diermeneutés ( I C o 14:28) que é n o r m a l -
E A INTERPRETAÇÃO
mente traduzido p o r "intérprete" nas bíblias
C o m o p o d e m línguas — que n e m são e m inglês. Esta é u m a expressão que n ã o é
f a c i l m e n t e e n t e n d i d a s pelos m e m b r o s da c o n h e c i d a na língua grega f o r a d o N o v o
igreja, n e m discernidas pelos descrentes a Testamento, até aparecer n o v a m e n t e , sécu-
q u e m f o r a m p r i m a r i a m e n t e dirigidas — se- los mais tarde, e m escritos b i z a n t i n o s . O
r e m usadas para servir à igreja e m seu pro- d i c i o n á r i o grego-inglês de W . Bauer, que
pósito missionário? A resposta coerente de serve c o m o referência, trás o significado de
Paulo é q u e se n i n g u é m na c o n g r e g a ç ã o 1 C o r í n t i o s 14:28 c o m o "intérprete, tradu-
entende o que é d i t o e m línguas, então, "que tor." 1 2 9
N a Septuaginta, e m Génesis 42:23,
haja u m i n t e r p r e t e " ( I C o 14:27). Este con- o t e r m o cognato hermeneutés é v e r t i d o c o m o
selho é específico. Se o falar e m línguas f o i "tradutor." 1 3 0
língua e s t r a n g e i r a . "
134
o s i g n i f i c a d o típico deste v e r b o , t a n t o n o
a m e n c i o n a r que " u m a impressão é deixada
N o v o Testamento c o m o fora d e l e . 127
i m p o r t a n t e e m I C o r í n t i o s 12-14. E m A t o s
(Siraque 47:17).
2 n e n h u m a tradução era necessária p o r q u e
-37-
existiam ouvintes dentre a multidão a q u e m sões. Existe u m a diferença marcante na l i n -
141
estas línguas eram nativas, e que f o r a m usa- guagem usada p o r Paulo na sua escolha de
das pelos que falavam e m línguas para trans- palavras c o m o " t r a d u ç ã o " o u " i n t e r p r e t a -
mitir-lhes as Boas Novas. E m I C o r í n t i o s 12- ç ã o , " que d e f i n i t i v a m e n t e não eram usadas
14 a situação é diferente, n ã o p o r q u e os cris- nas religiões entusiásticas helénicas. E m vir-
tãos coríntios falassem n u m a glossolalia i n - t u d e da ênfase na " t r a d u ç ã o " o u " i n t e r p r e -
compreensível, 137
mas p o r q u e n ã o h a v i a m t a ç ã o , " Paulo n ã o usa a l i n g u a g e m empre-
ouvintes que falassem os idiomas usados p o r gada para descrever o f e n ó m e n o destas reli-
aqueles envolvidos n o falar e m línguas. O giões o n d e aparece o t e r m o "exegese." Será
que fala u m i d i o m a que não é e n t e n d i d o que a diferença e n t r e a t e r m i n o l o g i a dos
pelos ouvintes precisa de u m t r a d u t o r . E m - cultos gregos entusiásticos e a t e r m i n o l o g i a
bora Lucas, e m A t o s , n ã o se refira ao con- usada p o r Paulo n ã o sugerem que Paulo está
j u n t o de palavras d i r e t a m e n t e relacionadas de fato falando sobre algo que difere f u n d a -
c o m hermeneia, " t r a d u ç ã o , " e m sua descri- m e n t a l m e n t e d o f e n ó m e n o e n c o n t r a d o nes-
ção d o falar e m línguas, usa, c o n t u d o , u m a tas religiões pagãs? D i f i c i l m e n t e pode-se evi-
palavra d o mesmo g r u p o para dar a ideia de tar t a l conclusão.
tradução de u m a língua para o u t r a . E m A t o s
9:36 é d i t o que " u m a certa discípula cha-
O FALAR EM LÍNGUAS
mada T a b i t a , cuja tradução [diermeneuo] é
E A PROFECIA
Dorcas" ( N K J V ) . A s s i m A t o s apoia a ideia
de que o c o n j u n t o de palavras baseadas e m E m p r i m e i r o lugar, seria de grande aju-
hermeneia significam "interpretação" n o sen- da investigar c o m o a l i n g u a g e m e a ênfase
t i d o de " t r a d u ç ã o . " de Paulo difere dos f e n ó m e n o s encontrados
nas religiões pagãs de seus dias n o que se
D e acordo c o m nossa investigação dos
refere ao tópico profecia.
possíveis paralelos d o falar e m línguas c o m o
f e n ó m e n o presente e m religiões gregas, p u - T a n t o n o c u l t o de Delfos c o m o n o c u l t o
demos c o n c l u i r que n ã o existem paralelos de D i o n í s i o , a a d i v i n h a ç ã o m â n t i c a é
reais c o m o f e n ó m e n o d o N o v o Testamen- identificada c o m o p r o f e t i z a r . Paulo, p o r
142
t o . Por u m lado, n ã o existe glossolalia de sua vez, faz u m a clara distinção entre " p r o -
falas incompreensíveis nestas religiões que fecia" e o "falar e m línguas." S ã o dons espi-
sejam conhecidas e que t e n h a m sido d o c u - rituais c o m p l e t a m e n t e distintos ( I C o 12:8-
mentadas p o r estudiosos. A i n d a , n ã o h á 11, 28-31; 1 4 : l - 5 ) . 143
-38-
aqueles que f a l a m e m línguas (1 C o 14:23). é o resultado de u m estado de transe e que
D e f o r m a objetiva, aqueles que p r o c u r a m o falar e m línguas é desta f o r m a u m a expe-
i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 c o m a ajuda dos riência estática de fala ininteligível, isto é,
c u l t o s estáticos h e l é n i c o s são forçados — glossolalia. ' 15
transe p i t i a n o que o c o r r i a n o o r á c u l o de
evidente que Paulo p r e t e n d i a dizer que
Delfos, E. T . D o d d s observa que " o deus
n u m a c o n g r e g a ç ã o p r e f e r i r i a falar u m a s
entrava nela e usava seus órgãos vocais c o m o
poucas palavras de f o r m a r a c i o n a l , reflexi-
se eles fossem seus, exatamente c o m o o as-
va e i n t e n c i o n a l , que objetivasse o crescimen-
sim chamado 'controle' que ocorre n u m
t o dos m e m b r o s da igreja, d o que m u i t a s
m é d i u m espírita m o d e r n o . " 1 , 0
A descrição
palavras e m u m a "língua/idioma" na q u a l
d o oráculo d e i f i c o descrito p o r este e r u d i t o
não se comunicasse c o m os m e m b r o s , p o r
é o m e s m o das possessões mediúnicas n o
não serem compreendidas.
e s p i r i t u a l i s m o . C e r t a m e n t e , este n ã o é o
caso d o N o v o Testamento de f o r m a geral, E m I Coríntios 14:14 Paulo declara: "Pois
o u e m p a r t i c u l a r I C o r í n t i o s 12-14. se o r o n u m a língua, m e u espírito ora mas
m i n h a mente fica infrutífera." Neste verso
N . Engelsen, d e r i v a n d o seu pensamen-
e n o seguinte " m e n t e " e "espírito" são con-
to de o u t r o s , " estabelece que e m C o r i n t o
1
o falar e m línguas e a profecia n ã o são dis- trastados. As palavras " m e u espírito" (v. 14)
t i n t o s . Para ele isto é significativo, p o r q u e e simplesmente " e s p í r i t o " (grego pneúma),
não há n o grego antigo n e n h u m a palavra n o verso 15, são m e l h o r entendidas c o m o
especial q u e d e f i n a u m a f a l a i n s p i r a d a sendo " c o m o m e é dado pelo Espírito San-
ininteligível. A s s i m , Engelsen postula que to." 1 5 8
É o Espírito d i v i n o a t u a n d o n o i n d i -
u m a fala inteligível o u ininteligível não po- víduo. 159
39
línguas e m si é u m d o m d o mesmo Espíri- t r a b a l h o d o Espírito S a n t o . " 161
N ã o há, por-
t o . C o m o acontece c o m a oração, assim tam- t a n t o , n e n h u m contraste entre o t r a b a l h o
b é m acontece c o m o canto (v. 15). " O r a r " e d o Espírito S a n t o e o f u n c i o n a m e n t o da
"cantar" n u m a "língua" derivam-se ambos capacidade racional da m e n t e h u m a n a .
d o Espírito. O Espírito Santo concede a "lín-
É evidente que o c o n t e x t o de I C o r í n t i o s
gua/linguagem" e p o r m e i o dela Ele provê
14:14, 15 é n o v a m e n t e de significância p r i -
a oração o u o cântico.
m o r d i a l n o e n t e n d i m e n t o destes textos. Se-
O s dois textos (vs. 14 e l 5 ) e m discussão ria i m p r u d e n t e interpretá-los p o r m e i o de
não l i m i t a m o falar e m línguas à oração e bases filosóficas o u usando o c o n t e x t o das
ao canto. Por o u t r o lado, estes textos não religiões h e l é n i c a s . 162
N o verso 13, Paulo es-
a f i r m a m que a oração e canto resultantes creve: " P o r t a n t o aquele que fala n u m a lín-
d o falar e m línguas são de benefício exclusi- gua ore para que possa i n t e r p r e t a r . " Paulo
vo dos que os e m i t e m . O falar e m línguas a f i r m a que o falar e m línguas é pelo Espíri-
inspirado pelo Espírito, que não seja inter- to. "Pois se o r a r n u m a língua, m e u espírito
pretado o u t r a d u z i d o , pode edificar apenas [o Espírito Santo que está e m m i m ] ora, mas
o que fala (vs. 4), mas na assembleia da igre- m i n h a m e n t e fica infrutífera." Para a " m e n -
ja, o n d e o d o m deve manifestar-se, aciuele te" tornar-se frutífera, deve ser necessário
que " o r a " e "canta" n u m a língua/linguagem
que o c o r r a u m a i n t e r p r e t a ç ã o / t r a d u ç ã o .
o faz para trazer u m a b ê n ç ã o aos o u t r o s , que
Através da "interpretação/tradução" a igre-
devem, p o r sua vez, manifestar a compreen-
ja é edificada (v. 12). É precisamente este
são pelo " a m é m " (v. 16). C o n t u d o , se aque-
t a m b é m o enfoque d o verso 16, o n d e aque-
les que f r e q u e n t a m o serviço da igreja " n ã o
le que não possui o d o m deve dizer " a m é m , "
sabem o que se d i z " (v. 16), o propósito d o
mas é incapaz de fazê-lo, p o r q u e " n ã o sabe
d o m de línguas n ã o está sendo c u m p r i d o ,
o que f o i d i t o . " Se há " t r a d u ç ã o " da língua/
isto é, " o o u t r o n ã o é e d i f i c a d o " (v. 17). A
linguagem, e n t ã o " o u t r o s " são "edificados"
edificação da igreja é p r i m o r d i a l .
(v. 17). Neste c o n t e x t o , permanece o foco
O que significa estar "a m e n t e infrutífe- sobre a c o m p r e e n s ã o d a q u i l o que f o i d i t o e
r a " ( I C o 14:14) q u a n d o alguém que fala e m sua importância para a edificação da igreja.
línguas ora o u canta n u m a língua/lingua-
gem? Paulo insiste: "deverei o r a r c o m o es- O FALAR EM LÍNGUAS
pírito [i.e., o Espírito Santo que está nele] e
E A ADORAÇÃO DE FORMA ORDENADA
orarei t a m b é m c o m a m e n t e ; cantarei c o m
o espírito [i.e., o Espírito Santo que está nele] D o i s erros são geralmente cometidos e m
e cantarei t a m b é m c o m a m e n t e " (v. 15). relação ao falar e m línguas, e ambos devem
ser evitados. O p r i m e i r o dele é a ênfase exa-
O t e r m o " m e n t e " nestes textos é a tra- gerada q u a n t o à importância d o "falar e m
dução da palavra grega noús, u m t e r m o r i c o l í n g u a s . " Pentecostais, n e o p e n t e c o s t a i s e
x que possui v i n t e e q u a t r o significados dife- a d e p t o s d o m o v i m e n t o de r e n o v a ç ã o
rentes, dos quais v i n t e e u m estão nas cartas carismática estão ligados pelos laços c o m u n s
de Paulo. O que Paulo insiste e m dizer e m I da glossolalia. I d e n t i f i c a m o falar e m línguas
C o r í n t i o s 14:14, 15 é que u m a pessoa que c o m a glossolalia e c o l o c a m u m a ê n f a s e
fala u m a língua/linguagem n ã o está " f o r a i n c o m u m nesta prática para o crente. T a l
de s i , " antes "conserva seu noús [mente] ain- ênfase n ã o se h a r m o n i z a c o m o aspecto raro
da que seja permeada pelo pneúma [Espíri- deste d o m , c o m o retratado pelo N o v o Tes-
t o ] . O noús [mente] está presente, a i n d a que t a m e n t o . O o u t r o erro é a t e n d ê n c i a oposta
inativo." 160
N ã o está assim Paulo enfatizando de d e p r e c i a r as passagens p a u l i n a s e de
a ideia de que q u a n d o acontece u m a c o m u - Lucas, n o N o v o Testamento, sobre o falar
nicação completa, a m e n t e deve funcionar? e m l í n g u a s , ' c o m a i n t e n ç ã o de atacar o
16
-40-
O estudante c u i d a d o s o das Escrituras lo para os judeus, que t a m b é m possuiu o
estará atento a estas tentações e buscará, sin- d o m na f o r m a e m que f o i manifesto n o Pen-
ceramente, p e r m i t i r que o texto bíblico fale tecostes ( A t 2:2s, 14s; 10:46; 11:15). N ã o é
p o r si. Percebemos, p o r m u i t o s ângulos e este u m o u t r o elo entre o d o m de línguas
p o r m e i o de várias considerações — linguís- e m A t o s 2 e I C o r í n t i o s 14?
ticas, terminológicas, contextuais, exegéticas,
Se Paulo estivesse f a l a n d o e m I C o r í n t i o s
c o m p a r a t i v a s , etc — q u e Paulo é m e l h o r
14 sobre u m falso d o m , seria impróprio e
c o m p r e e n d i d o q u a n d o n ã o se tenta i d e n t i -
ousado de sua parte assumir que tal d o m
ficar o falar e m línguas c o m glossolalia. A s
provém d o Espírito Santo, que deve set de-
razões p r i n c i p a i s para isto f o r a m definidas
sejado, e que ele mesmo o possui. D i f i c i l -
nas seções acima.
m e n t e esta é apenas u m a questão de d i p l o -
Paulo r e p e t i d a m e n t e enfatiza que o fa- macia e m que Paulo se coloca n o mesmo
lar e m línguas se o r i g i n a n o Espírito Santo, nível dos coríntios para desta f o r m a trazê-
assim c o m o q u a l q u e r o u t r o d o m espiritual los a u m patamar mais elevado. Paulo certa-
(I C o 12:10s, 28, 30; 14: l s ) . m e n t e tenta mostrar-lhes o uso adequado,
a p r o p r i a d o e o propósito correto para a prá-
Paulo não considera o "falar e m línguas" tica d o falar e m línguas.
de C o r i n t o c o m o u m a falsa m a n i f e s t a ç ã o .
164
P r i m e i r o , Paulo deseja que todos os crentes M e s m o que Paulo fale e m línguas mais
de C o r i n t o " f a l e m e m línguas" ( I C o 14:5b). que todos os coríntios, e c o m o u m missio-
Seu critério para m e d i r o valor da profecia n á r i o para os povos gentios t e n h a usado
e das línguas é a edificação e o crescimento m u i t o este d o m , a f i r m a que " n a igreja eu
d o igreja ( I C o 14:4, 5, 26). p r e f i r o falar antes cinco p a l a v r a s c o m m e u
166
e n t e n d i m e n t o , para i n s t r u i r o u t r o s , a falar
E m segundo lugar, Paulo o r d e n a : " n ã o dez m i l palavras e m u m a l í n g u a " ( I C o
p r o í b a m o falar e m línguas" ( I C o 14:39). 165
14:19). M e s m o que Paulo tivesse o p o r t u n i -
C o n t u d o , alerta para seu emprego inadequa- dades mais frequentes de falar e m l í n g u a s , ' 16
-41-
de n ú m e r o de pessoas que falavam e m lín- C o n e x õ e s irrefutáveis u n e m os fenóme-
guas e m C o r i n t o . Paulo restringe o n ú m e r o nos de falar e m línguas de t o d o o N o v o Tes-
daqueles que f a l a m línguas nos serviços da t a m e n t o n u m a corrente que n ã o pode ser
igreja a três, n o m á x i m o . rompida.
3. O falar e m línguas deve ser processa- 1. Jesus predisse que os crentes "falari-
do n u m a " d i r e ç ã o " (KJV) o u "cada u m [fa- am novas línguas" ( M r 16:17). Isto se c u m -
lará] p o r vez" (RSV, N R S V ) , o u " u m de cada p r i u n ã o apenas e m J e r u s a l é m n o d i a de
vez" ( N E B , N I V ) , o u " u m após o u t r o " ( T E V ) Pentecostes, mas t a m b é m e m outros centros
c o m o i n d i c a o verso 27. Paulo estabelece m e t r o p o l i t a n o s , tais c o m o : Cesaréia de Judá,
uma n o r m a para que haja u m a o r d e m Èfeso na Ásia M e n o r e C o r i n t o na G r é c i a .
sequencial e n ã o pessoas falando e m línguas Cada u m a destas cidades possuía u m a po-
s i m u l t a n e a m e n t e . N ã o deveria haver mais pulação local e de visitantes estrangeiros que
do que u m que falasse e m línguas de cada estavam separados p o r barreiras linguísticas.
vez. Pessoas provenientes de m u i t o s países e vá-
rias regiões, cada q u a l c o m sua própria lín-
4- Deve haver u m intérprete/tradutor
gua nativa, passavam p o r estes lugares. Je-
presente para que o assunto exposto n u m a
sus n ã o apenas o r d e n o u que as Boas-Novas
língua/linguagem na igreja possa ser tradu-
fossem pregadas a t o d a h u m a n i d a d e , mas
zido e todos sejam abençoados e edificados
t a m b é m proveu, através d o Espírito Santo,
(v. 27).
o d o m de falar m i r a c u l o s a m e n t e e m línguas
5. Se n ã o h o u v e r t r a d u t o r disponível, estrangeiras para que fosse a t i n g i d o o obje-
aqueles que f a l a m e m línguas devem per- tivo de ensinar o c a m i n h o de C r i s t o a estas
manecer calados n a igreja, f a l a n d o para si pessoas de origens linguísticas diferentes.
mesmos e para Deus (v. 28).
2. D e acordo c o m M a r c o s 16:17 Jesus
A organização da igreja c o n t r i b u i , eviden- declarou entre outras coisas que o falar e m
temente, para a a t i t u d e de adoração de t o d a u m a n o v a língua seria u m " s i n a l " (grego
a congregação. O Deus a ser adorado é u m semeion) n o sentido de u m a realidade con-
Deus de o r d e m ( I C o 14:40). Ele " n ã o é u m trária ao curso c o m u m da natureza aos que
Deus de confusão, mas de paz" (v. 33). Esta desta f o r m a ouvissem a mensagem d o evan-
instrução sobre a o r d e m litúrgica na adora- gelho. Deveria ser u m " s i n a l " de u m m i l a -
ção é dada para "todas as igrejas dos santos" gre para os descrentes, e v i d e n c i a n d o a o r i -
(v. 33). Ê universal, para todas as igrejas cris- gem d i v i n a da mensagem. E m I C o r í n t i o s
tãs p r i m i t i v a s e para todas as igrejas n o f u - 14:22 Paulo explica que as "línguas são u m
t u r o . A s s i m , o ensino de Paulo é ainda váli- sinal (semeion) n ã o para fiéis mas para i n f i -
do hoje e carrega consigo a a u t o r i d a d e bí- éis." Insiste que o d o m de falar línguas es-
blica. trangeiras serve para convencer os infiéis
c o m o irresistível p o d e r de que a proclama-
CONCLUSÕES ção d o " k e r y g m a " carrega consigo o sinete
d o c é u . Q u a l q u e r u m assim c o n v e n c i d o
O estudo c o n t e x t u a l de I C o r í n t i o s 12- poderia obter a salvação; para o que r i d i c u -
14 e m que nos envolvemos neste artigo nos larizasse esta manifestação, significaria j u l -
oferece u m a base sólida para a i d e n t i f i c a - gamento.
ção da t e r m i n o l o g i a e o uso d o falar e m lín-
guas n o N o v o Testamento. O estudo eviden- 3. E m A t o s 2:13 alguns z o m b a r a m c o m
c i o u que é correto considerar o falar e m lín- desdém dos discípulos que falavam e m lín-
guas c o m o sendo u m ú n i c o d o m espiritual guas estrangeiras, acusando-os de estarem
que p e r m e i a t o d o o N o v o T e s t a m e n t o . É bêbados. Os descrentes, e m outras partes,
p l e n a m e n t e razoável c o n c l u i r que o falar e m p o d e r i a m reagir de igual m o d o se assistis-
línguas n o N o v o T e s t a m e n t o é o m e s m o sem a f o r m a desordenada c o m o era pratica-
d o m de falar m i r a c u l o s a m e n t e u m língua do o falar e m línguas nas reuniões da igreja
estrangeira que não t e n h a sido a p r e n d i d a . 168
de C o r i n t o . Paulo observa que se as línguas
-42-
n ã o são compreendidas pelos de fora, estes Pedro e Paulo, os anunciadores das Boas-
p o d e r i a m pensar que os que estão falando Novas aos judeus e aos gentios respectiva-
e m línguas são loucos ( I C o 14:23). Falsas m e n t e , estivessem associados, e m A t o s , c o m
impressões p o d e r i a m surgir e a manifesta- a manifestação d o falar e m línguas, tema que
ç ã o g e n u í n a d o falar línguas estrangeiras Paulo n o v a m e n t e discute e m I C o r í n t i o s 12-
seria m a l i n t e r p r e t a d a . 14. Deus usou estas ocasiões e o prestígio
destes pilares da igreja p r i m i t i v a para espa-
4- Isto leva-nos a o u t r o elo na cadeia que
lhar as Boas Novas e m línguas concedidas
conecta e u n i f i c a o f e n ó m e n o de falar e m
de f o r m a sobrenatural pelo Espírito Santo.
línguas n o N o v o Testamento, isto é, seu pro-
pósito. O S e n h o r Ressurrecto r e l a c i o n o u o 7. A s indicações internas de I C o r í n t i o s
falar e m línguas c o m a G r a n d e C o m i s s ã o 14 a p o n t a m f o r t e m e n t e na direção de iden-
de evangelizar o m u n d o ( M c 16:15-18). N o t i t i c a t o falar e m línguas c o m a h a b i l i d a d e
Pentecostes os p r i m e i r o s f r u t o s da promes- sobrenatural d o Espírito Santo de falar lín-
sa f o r a m experimentados q u a n d o três m i l guas estrangeiras, n ã o p r e v i a m e n t e apren-
f o r a m acrescidos à igreja i n f a n t e ( A t 2). E n - didas, c o m o é e x p l i c i t a m e n t e i d e n t i f i c a d o
tão, o d o m f o i dado aos cristãos gentios i n - e m A t o s 2. A i d e n t i d a d e surpreendente na
corporando-os na tarefa de evangelizar, tan- t e r m i n o l o g i a e n o uso lingüístico da expres-
t o e m Cesaréia c o m o e m Éfeso ( A t 10:45, são "falar e m línguas," t a n t o e m A t o s c o m o
46; 19:1-6). E m I C o r í n t i o s 14 Paulo enfatiza e m I C o r í n t i o s 12-14, t o r n a certa esta iden-
várias vezes que o falar e m línguas deveria tificação.
ser usado para a edificação da igreja (14:4,
8. O u t r o s vínculos entre o Evangelho de
5, 12, 26). É p o r isso. que insiste que o d o m
Marcos, A t o s e I C o r í n t i o s se estendem à
é para benefício dos infiéis. Estes, p o r sua
o r i g e m , natureza, f u n ç ã o , p r o p ó s i t o e às
vez, t a m b é m deveriam ser recebidos na co-
pessoas envolvidas c o m o sinal característi-
m u n h ã o dos crentes. A s s i m , todos experi-
co deste d o m e s p i r i t u a l . Nestes t e r m o s , o
m e n t a r i a m crescimento e m sua experiência
f e n ó m e n o de falar e m linguas n o N o v o
cristã e se d e d i c a r i a m ao evangelismo.
T e s t a m e n t o é apresentado nos três d o c u -
5. Lucas registra e m A t o s 19:6 que após mentos — Marcos, A t o s e I Coríntios — c o m o
os doze "discípulos" e m Éfeso se converte- u m d o m espiritual singular de falar línguas
r e m e receberem o Espírito Santo, f o r a m não aprendidas, outorgadas c o m o propósi-
habilitados a falar e m línguas e a profetizar. to de evangelizar o m u n d o . T i n h a o objeti-
É significativo que, e m Éfeso, línguas e pro- vo de d e m o n s t r a r que Deus estava ao lado
fecia estavam unidas n o m e s m o episódio e da igreja p r i m i t i v a , c o n d u z i n d o - a adiante,
c o m a participação de Paulo. T a l fato en- q u e b r a n d o as barreiras entre judeus e genti-
contra correspondência direta com I os e p r o v i d e n c i a n d o u m a mostra de Seus
C o r í n t i o s 14, o n d e repetidamente Paulo fala múltiplos d o n s para a edificação da igreja
sobre ambas. A ligação entre profecia e lín- c o m o o c o r p o de C r i s t o .
guas é estabelecida pela ocorrência das duas
Nossa pesquisa sobre os p r i n c i p a i s aspec-
c o m o manifestação d o Espírito Santo, tan-
tos d o "falar e m línguas" n o N o v o Testamen-
t o e m Êfeso c o m o e m C o r i n t o . A íntima
t o revela que este f o i d a d o pelo Espírito San-
associação entre línguas e profecia r e m o n t a
t o aos crentes c o m u m propósito específi-
à p r i m e i r a manifestação d o Espírito Santo
co, e é Seu desígnio que seja usado desta
n o Pentecostes o n d e Pedro p o r duas vezes
maneira. V i m o s t a m b é m que o falar e m lín-
referiu-se à profecia (Atos 2:17, 18). C o n t u -
guas n o N o v o Testamento não é o u t o r g a d o
d o , Paulo deixa b e m claro que o d o m de
a todos, mas apenas aos que f o r a m escolhi-
línguas e d o m de profecia são dois d o n s es-
dos pelo Espírito. N ã o existe n e n h u m a or-
p i r i t u a i s d i s t i n t o s , de f o r m a alguma idênti-
d e m dada para que t o d o crente busque o
cos.
falar e m línguas. N ã o há n e n h u m a declara-
6. D i f i c i l m e n t e seria a c i d e n t a l que os ção n o N o v o Testamento de que o falar e m
dois grandes gigantes de igreja p r i m i t i v a , línguas seja a chave para o recebimento de
-43
u m poder espiritual maior. C o n t u d o , há 4
Para urna lista representativa de eruditos que man-
uma declaração de que o falar e m línguas têm esta visão, ver a nota final deste artigo.
ção e às especificações d o N o v o T e s t a m e n t o 9
C o m o em Bruce, 1 and 2 Corinthians, 6.
para o " f a l a r e m línguas," i n c l u i n d o sua f o n -
10
D a v i d L . Baker, " T h e I n t e r p r e t a t i o n o f I
te, seu p r o p ó s i t o , sua natureza, sua forma C o r i n t h i a n s 12-14," Evangelical Quarterly 46 (1974)
d i s c i p l i n a d a , seu o b j e t i v o de caráter exter- 228, escreve: " E m 12:1 ton pneumatikon é algumas ve-
n o e assim p o r d i a n t e . A p r o v a de identifi- zes utilizado para referir-se ao 'homem espiritual' mas
cação não p o d e recair n u m a experiência mais frequentemente aos 'dons espirituais' e, embora
ambas traduções sejam possíveis, o uso em 14:1 e o
pessoal o u n u m a aprovação m e r a m e n t e ecle-
paralelismo com charismata (esp. 12:31) favorece esta
siástica, mas deve estar seguramente solidi- última...
ficada n o t e s t e m u n h o c o m p l e t o das Escri-
" K. Maly, Mündige Gemeinde (Stuttgart: Katholisches
turas sobre o t e m a . Os bereanos " e x a m i n a -
Bibelwerk, 1967), 186.
v a m as Escrituras d i a r i a m e n t e , para ver se
Ver Walter F. O t t o , Dionysius, 2" ed. (Leipzig: 1939);
12
S p r i n g s , M I : A d v e n t i s t T h e o l o g i c a l Society
REFERÊNCIAS Publications, 1991), Capítulo I I .
1
O leitor poderá consultar as bibliografias mais re- Conzelmann, Der erste Korinther, 246, corretamente
14
presentativas nas seguintes reses: N . 1. J. Engelsen, ressalta que no verso 7 a ênfase de Paulo é posta so-
Glossolalia and Other Forras of Inspired Speech According bre a expressão "bem c o m u m . "
to í Cor 12-14 (Tese de P h . D . não publicada, Yale
University, 1970); W i l l i a m E. Richardson, Liturgical O s intérpretes de "línguas" não estão incluídos se-
h
Order and Glosolalia: Í Corinthians I4:26c-33a and its paradamente nesta lista, mas são mencionados em
Implications (Tese de P h . D . não publicada, Andrews 12:30.
University, 1983).
" T C o 12:10a, b, 28, 30; 13:1,8; 14:2,4, 5a, b, 6, 9,
2
Ver P. C. Miller, " I n Praise of Nonsense," em Classical 13, 14, 18, 19, 25, 26, 27, 39.
Mediterranean Spirituality, ed. A H . A r m s t r o n g (Lon-
dres, 1986); A . C. Thiselton, "The Interpretation' of
I 7
I C o 12:10, 28; 14:6, 9, 13, 19, 26, 27, 39.
Tongues: A New Suggestion i n the Light of Greek l 8
I C o 12:30; 13:8; 14:2, 4, 5a, b, 23.
Usage i n Philo and Josephus," Journal of Theological
Study 30 (1979), 15-36. R o b e r r H . G u n d r y , '"Ecstatic Utterance' (N.E.B.)?"
l9
or ideology? (Grand Rapids, M L Baker, 1990). of Translation (Leiden: E. J. Brill, 1969); Gerhard F.
-44
Hasel, Understanding the Living Word of God ( M o u n t a i n 4 0
J. Massyngbaerde Ford, "Toward a Theology o f
View, C A : Pacific Press, 1980), 100-105. 'Speaking i n Tongues'," Speaking in Tongues: A Guide
to Research on Glossolalia, ed. Watson E. Mills (Grand
2 2
1 C o 12:10a, b, 28, 30.
Rapids, M I : Eerdmans, 1986), 277.
2 ,
I C o 13:1, 8.
T h e o d o r Z a h n , Die Apostelgeschichte des Lucas
4 1
2 5
I C o 12:30; 13:1; 14:2, 4, 5a, b, 6, 13, 18, 23, 27,39. 162.
2 6
Entre aqueles que interpretam o termo glôssa como 4 3
D a v i d L . Baker, " T h e I n t e r p r e t a t i o n o f I
declarações estáticas ininteligíveis estão: C. Clemens, Corinthians 12-14," Evangelical Quarterly 46/4 (1974),
"The 'Speaking i n Tongues' of the Early Christians," 230, n . 23, realça que Paulo entendia o d o m de lín-
Expository Times 10 (1898/99), 344-352; Lindsay guas provavelmente como "implicando em fala de lín-
Dewar, "The Problem of Pentecost," Theology 9 (1924), guas estrangeiras." Ele argumenta contra a natureza
249-259; W . S. T h o m s o n , "Tongues at Pentecost, Acts estática do falar em línguas: "Mas as regras que Paulo
i i , " Expository Times 38 (1926/27), 284-286; F. C. dá para o controle do d o m em I C o 14:26-33, j u n t o
Synge, "The Spirit i n the Pauline Epistles," Church com a experiência daqueles que o exerciam, indicam
Quarterly Review 119 (1934), 79-93; Ira J. M a r t i n , que existe algo sob o controle do indivíduo, e que,
"Glossolalia i n the Apostolic C h u r c h , " JBL 63 (1944), portanto, não deve ser descrito como estático" (229-
123-130. 30).
Z/
Liddell e Scott, A Greek-English Lexicon, I , 353. So- 4 4
W . Bousset citado por Behm, "glôssa," 1:726, n . 20.
bre este ponto, ver F. Lübker, Reallexikon des klassischen Reitzenstein também favorece esta derivação e associ-
Aítertums, 8 ed. (1914), 418s.
a ação, ver A r n d t , G i n g r i c h e Danker, Greek-English
Lexicon of the New Testament, 162. Ver também Stuart
2 8
G u n d r y , '"Eecstatic Utterance'?", 299-307. D . Currie, '"Speaking i n Tongues'," interpretation 19
(1965), 278-79, reimpresso em Speaking in Tongues: A
Le 1:64; 16:24, Me 7:33, 35; A t 2:26; R m 3:13;
2 9
" Gundry, '"Ecstatic Utterance'?", 299-302 The Apocryphal Old Testament, ed. H . F. D . Aparks
(Oxford: O x f o r d University Press, 1984), 618; R. P.
3 2
Ford, "Toward a Theology of 'Speaking i n Spittler, "Testament o f Job," The O l d Testament
Tongues'," 277. Pseudepigrapha. V o l . 1 : Apocalyptic Literature and
Testaments, ed. James H . Charlesworth (Garden City,
33
H . W . Beyer, "Fleteros," Theological Dictionary of the
NY: Doubleday, 1983), 829.
"New Testament, ed. G . K i t t e l ( G r a n d Rapids, M L
Eerdmans, 1983), 2:703. 47
Tradução de T h o r n t o n , 646. A interpretação de
Spittler (ver nota anterior), "ela falou estaticamente
34
Delling, Worship in the New Testament, 32: "Clara-
no dialeto angélico" (866), é incorreta.
mente glossais lalein é u m termo técnico (usado sem o
artigo). 4 8
Estas traduções são de Spittler, 866-867.
35
Ver A . Blass, F. Debrunner e R. Funk, A Greek 4 9
Currie, Speaking in Tongues, 94.
Grammar of the New Testament and Other Early Christian
Literature (Chicago: University of Chicago Press, 1961),
5 0
Assim como Bruce, 1 and 2 Corinthians, 125.
254 #480 (3), sobre Atos 2:4. 51
Robertson e Plummer, First Corinthians, 314.
3 6
Engelsen, Glossolalia, 92-93, 100, 161, 176, 191. A Tradução A V "ainda que eu fale" não é apoiada
5 2
37
L. Carlyle May, "A Survey of Glossolalia and Related pela cláusula condicional grega, a não ser que seja
Phenomena i n Non-Christian Religions," Speaking in entendida no sentido subjuntivo, "ainda que eu fa-
Tongues: A Guide to Research in Glossolalia, ed. Watson lasse.
E. Mills ( G r a n d Rapids, M L Eerdmans, 1986), 54. 5 3
Conzelmann, Der erste Korinther, p. 262, n . 27, diz
May lida com muitos fenómenos antigos, os quais vê que "a língua não requer uma equação de fala de an-
como paralelos à glossolalia, mas é incapaz de apon- jos e falar em línguas." E. Andrews, "Tongues, G i f t
tar uma única analogia direta. of," ÍDB (1962), 4:762, declara com respeito a esta
] . Goettmann, "La Pentecôte prémices la nouvelle
3 8
suposta identidade: "Esta é uma especulação sem sen-
création," Bi We et vie Chrétienne 27 (1959), 59-69. tido.
39
Ver Richardson na nota 1. Ford, " T o w a r d a Theology of 'Speaking i n
5 4
Tongues'," 277.
-45
55
Existe uma variante textual oriental interessante: R. Reitzenstein, Poimandres (Leipzig, 1904; reimpr.
74
"mas o Espírito fala." Esta variante não é original mas Darmstadt, 1966), 58.
reflete uma compreensão primitiva do texto original.
" Behm, "Glôssa," Theological Dictionary of the New
Ver K. A l a n d , M . Black, B. Metzger e A l l e n W i k g r e ,
Testament, 1:722.
The Greek New Testament (Stuttgart: Württembergische
Bibelgesellschaft, 1966), 608. 78
Ibid.
56
Na margem da N A S B aparece " o u , pelo Espírito." 7
' W o l f f , Der erste Brif des Paulus an die Korinther, 98-
99.
57
Corretamente em Bruce, 1 and 2 Corinthians, 130;
Barret, The First Epistle to the Corinthians, 315; F. D . 7 8
Conzelmann, Der erste Korinther, 276.
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary, V I ,
788: "Isto é, sob a influência do Espírito,..."
7 9
Delling, Worship in the New Testament, 32 (os itáli-
cos são seus).
G . B o r n k a m m , "musterion i n the New Testament,"
5 8
71
Robertson e Plummer, First Corinthians, 306. Corinthians (Washington, D C : University of America
Press, 1982), 150-152.
A l f r e d R a l p h s , e d . , Septuaginta ( S t u t t g a r t :
7 2
akoúsosin hékastos tèn phonèn toú plesíon. nal Standard Bible Encyclopedia, ed. G . W . Bromiley
O termo grego phone' é a expressão usada para "lín-
7 3
(Grand Rapids, M I ; Eerdmans, 1988). 4:872.
gua" na introdução da experiência da Torre de Babel C h r i s t o p h e r Forbes, "Early C h r i s t i a n I n s p i r e d
8 9
na sentença, "e toda terra t i n h a uma língua, e havia Speech and Helenistic Popular R e l i g i o n , " Novum
u m a l i n g u a g e m (phone') para t o d o s " ( G n 11:1, Testamentum 23/3 (1986), 260.
Septuaginta).
-46
« I b i d . , 262-263, 1 0 6
O v i d i o , TristiaV. x. 37f.
91
I b i d . , 268-270; ver também Joseph Fortenrose, The 107
Este plural é usado aqui para pneumatikon de 14:1.
Delphic Oracle (Berkeley: University of California Press, O termo em 14:12 "enfatiza u m pouco mais a verda-
1978), 204-212. de de que os dons para os quais os coríntios deveriam
ser 'zelosos' t i n h a m sua origem no Espírito Santo,"
9 2
Desta forma ainda Johannes P. Louw, Eugene N i d a ,
escreve L . M o r r i s , The First Epistle of Paul to the
et al., Greek-English Lexicon of the New Testament Based
Corinthians (Grand Rapids, M I , 1963), 194.
on Semantic Domain (Londres/Nova Iorque: U n i t e d
Bible Societies, 1988), 1:389-390. A oração grega condicional ("mais provável condi-
1 0 8
9 6
I b i d . , 139. Corinthians, 317.
9
' Morris, The First Epistle of Paul to the Corinthians, " " C o m Lietzmann e K u m m e l , KorintrteT, 73, contra
192. J. Weiss.
9 8
A r n d t e G i n g r i c h , A Greek-English Lexicon, 326. Cf. H . Schlier, "ídiotes," Theological Dictionary of the
111
-47
A RSV dá a impressão na sua tradução de 14:5
1 2 1 1 3 8
Esta é a expressão usada por Platão, Timaeus, 71e.
que duas pessoas diferentes são aludidas: aquele que
" " I b i d . , 72a.
fala em línguas e aquele que interpreta. Mas o texto
grego indica que o sujeito de diermeneue ("intérpre- 140
I b i d . , proseiken.
te") não é u m tis suprido mas "ele que fala em lín-
guas." A q u i a KJV, N E B , N A B , N A S B , etc., estão cor-
141
Pollux, Onomosticon, V I I , 124: "exegetai d ' ekalounto
reias ao traduzirem "aquele que fala em línguas, a hoi ta peri ton allon hieron didaskontes." Pollux de
menos que ele (aquele que fala em línguas) interpre- Nauticratis do Egito era professor de retórica em Ate-
te." Ver G . Henrici, Kristisches Exegetisches Handbuch nas em 178 a.D.
über den ersten Brief an die Korinther, 7 ed. (Göttingen),
1
142
Cf. Behm, "Glóssa," 1:722s.
396; Conzelmann, Der erste Korintlier, 277.
143
G r u d e m , The Gift of Prophecy in I Corinthians, 176.
124
H . Weder, "Die Gabe der hermeneia ( 1 . Kor 12 u d
14)," em Wirjungen hermeneutischer Theologie, eds. H.F. 144
Eurípedes, Bacchae, 298-300s. Eurípedes viveu de
Geiser e W . Mostert (Köln: 1983). 4 8 0 4 0 6 a.C.
of the New Testament with an English Translation (Lon- Christian Experience (Nova Iorque: Haper & Row,
dres: S. Bagster and Sons, 1879), 57. 1969), 38, e outros.
Veja, p o r exemplo, [S. Bagster], The Septuagint
1 , 0
152
Engelsen, Glossolalia, 189.
Version of the Old Testament with an English Translation
(Londres: Bagster and Sons, 1879), 57.
133
I b i d . , 20-21, 60, 139-140, 204-205.
111
Temos também de considerar hermeneuo, que é usa- G r u d e m , The Gift of Prophecy in I Corinthians, 155-
1 3 4
do todas as vezes na L X X e no N T c o m o significado 176; Terrance Callan, "Prophecy and Ecstacy i n Greco-
de "traduzir" (Jó 42:18; Ed 4:7; Ed 10:3; e em Jo 9:7; R o m a n R e l i g i o n and i n I C o r i n t h i a n s , " Novum
H b 7:2; A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Testamentum 27 (1985), 125-140.
Lexicon, 310) e o cognato methermeneuo o qual sempre 155
G . B o r n k a m m , Gesammelte Aufsätze (München,
significa "traduzir" na L X X e no N T (Prólogo de
1959), 2:134.
Sirach, 1. 23; M t 1:23; M c 5:41; 15:23s; Jo 1:38, 42;
A t 4:36; 13:18; A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek- C o r r e r a m e n t e em Barrett, First Epistle to the
1 5 6
139
W o l f f , Der erste Brief des Paulus an die Korinther, 133.
eruditos de várias crenças porque é de importante
significância. 180
F. Behm, "Noüs," Theological Dictionary of the New
J. G . Davies, "Pentecost and Glossolalia," Journal
134
Testament, ed. G . Kittel (Grand Rapids, M L Eerdmans,
of Theological Studies 3 (1952), 230. 1967) 4:959, n . 37.
1 3 5
B e h m , "Glóssa," 1:722. G . Harder, "Reason, M i n d , Understanding," The
161
Charismatic Movements, eds. Stanley M . Burgess e Gary uso filosófico o u místico religioso [de noüs]." Mais
B. McGee (Grand Rapids, M L Zondervan, 1988), 469.
-48
adiante declara: "Não há necessidade de imaginar que H . H o r t o n The Gifts of the Spirit (Notingham: 1934),
Paulo esteja igualando noús e pneúma segundo a con- 150; J. D . Davies, "Pentecost and Glossolalia," Journal
duta do misticismo helenístico" (959). of Theological Studies 3 (1952), 228,231; W . Tees, " 1
and 2 Corinthians," A Catholic Commentary on Holy
'"'Sobre estes extremos, ver Sweet, 240-245, 164.
Scripture, ed. D o m B. O r c h a r d (Londres: Nelson,
184
H . C h a d w i c k , " A U T h i n g to A l l M e n , " New 1953), 1095-1096; S. L . Johnson, Jr. "The G i f t o f
Testament Studies 1 (1954/55), 268. Tongues and the Book of Acts," Bibliotheca Sacra (Oct.,
1963), 340; Charles W . Carter, " I Corinthians and
185
Para o problema textual levantado nas variantes, Ephesians," The Wesleyan Bible Commentary, ed.
ver Conzelmann, Der erste Korinther, 291, n . 62. O Charles W . Carter ( G r a n d Rapids, M I : Eerdmans,
texto de P com en antes de glossais é original.
48
1965), 5:214-222; S. Aalen, "Zungenreden," Biblisch-
historisches Handwörterbuch, eds. B. Reicke e L . Rost
166
O número "cinco" é tipicamente u m número re-
(Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1966), 3:2249-
dondo. Ver Strack e Billerbeck, Kommentar zum N T ,
2250; R. H . Gundry, '"Ecstatic Utterance' (N.E.B.)?"
3:461.
Journal of Theological Study 17 (1966), 299-307; W .
187
O texto grego de I Coríntios 14:18 não relata que H a r o l d M a r e , " I C o r i n t h i a n s , " The Expositor's
Paulo fala "em mais línguas," mas que ele fala em Commentary of the Bible, ed. Frank E. Gaebelein (Grand
línguas "mais do que todos juntos" ou "mais do que R a p i d s , M I : Z o n d e r v a n , 1976), 10:271-281; J.
qualquer u m . " Esta última tradução é suficiente para Massyngbaerde F o r d , " T o w a r d a T h e o l o g y o f
o argumento de Paulo. 'Speaking i n Tongues'," Theological Studies 32 (1971),
3-29, reimpresso em Speaking in Tongue: A Guide to
168
C o m o uma mostra de eruditos do século XX, per- Research on Glossolalia, ed. Warson E. Mills (Grand
tencentes a diversas crenças religiosas e a várias esco- Rapids, M I : Eerdmans, 1986), 263-294; N o r m a n
las de pensamento teológico que apoiam a posição de Hillyer, " 1 and 2 C o r i n t h i a n s , " The Eerdmans Bible
que em I Coríntios 12-14 Paulo fala de línguas esrran- Commentary, ed. D . G u t h r i e e J. Moryer, 3 ed. (Grand
a
geiras quando se refere ao "falar em línguas," pode- Rapids, M I : Eerdmans, 1987), 1067, 1069-1070:
mos citar os seguintes: H . Bertrams, Das Wesen des "ecstatic speech i n language usually u n k n o w n . " G . F.
Geistes nach der Anschauung des Apostles Paulus Rendall, "Ich rede mehr als ihr alle in Zungen" (Stuttgart;
(Neutestamentliche Abhandlungen, IV/4 (Münster: Schwengeler Verlag, s.d.); Wolfgang Bühne, Spiel mit
1913), 39; W . Reinhard, Des Wirken des Heiligen Geistes dem Feuer (Bielefeld: Christliche Literatur-Verbreitung,
nach den Briefen des Apostles Paulus ( F r e i b u r g e r 1989); e outros.
Theologische Studien, 22; Freiburg, 1918), 120, 133;
-49-