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Parousia I Semestre 2000, V o l .

1, N o 1, 19-49
a

Copyright 1991 Gerhard Hasel.


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O DOM DE LÍNGUAS
EM I CORÍNTIOS 1 2 4 4
GERHARD F , HASEL, P H . D . (f 1994)
Professor do Seminário Teológico Adventista na Andrews University, EUA

Este a r t i g o , u m a adaptação d o ú l t i m o ce ininteligível t a n t o ao q u e fala c o m o aos


c a p í t u l o d o l i v r o Speaking in Tongues: que o u v e m . Esta é a razão para necessidade
Biblical Speaking in Tongues and de u m intérprete. Caso n ã o haja o intérpre-
Contemporary Glossolalia ( B e r r i e n te, o falar e m línguas m e n c i o n a d o e m I
Springs, M I : A d v e n t i s t T h e o l o g i c a l C o r í n t i o s 14, p o d e ser praticado e m p a r t i -
Society P u b l i c a t i o n s , 1991), analisa p o r cular, n a f o r m a de o r a ç ã o , o n d e só Deus
todos os ângulos o t e x t o de I C o r í n t i o s entende. A l g u n s escritores clássicos d o m o -
12-14, usado c o m o p a r a d i g m a pelo v i m e n t o pentecostal sugerem q u e este "fa-
lar e m línguas" descrito p o r Paulo é, e m re-
m o v i m e n t o glossolálico m o d e r n o . A
alidade, u m a f o r m a de l i n g u a g e m h u m a n a
prática pentecostal c o n t e m p o r â n e a é
raramente usada, falada e m a l g u m lugar d o
c o n t r a s t a d a c o m o f e n ó m e n o de falar e m
m u n d o . H o j e , c o n t u d o , u m crescente nú-
línguas c o m o descrito p e l o N o v o Testa-
m e r o de pentecostais e carismáticos, t e n d o
mento.
c o m o base os tecentes estudos feitos p o r l i n -
güistas e m relação à m o d e r n a glossolalia,
T h i s a r t i c l e , a t r a n s l a t i o n o f t h e last acreditam que este f e n ó m e n o deve ser me-
c h a p t e r o f the b o o k Speaking in l h o r c o m p r e e n d i d o c o m o sendo u m a l i n -
Tongues: Biblical Speaking in Tongues guagem angélica. Para apoiar este ú l t i m o
and the Contemporary Glossolalia p o n t o de vista, a p o n t a m e m p a r t i c u l a r para
( B e r r i e n Springs, M l : A d v e n t i s t I Coríntios 13:1.
T h e o l o g i c a l Society P u b l i c a t i o n s , 1991),
analyses b y every perspective t h e t e x t o f I H á u m a segunda m a n e i r a de abordar e
avaliar o texto e m questão. Intérpretes de
C o r i n t h i a n s 12-14, used as a p a r a d i g m b y
tradição liberal e de erudição progressista,
t h e m o d e r n glossolalic m o v e m e n t . T h e
isto é, teólogos que se v a l e m d o m é t o d o crí-
c o n t e m p o r a r y pentecostal p r a c t i c e is
tico-histórico, t o m a m I C o r í n t i o s 14 c o m o
c o n t r a s t e d w i t h t h e speaking i n tongues
u m a evidência n o N o v o Testamento de u m a
p h e n o m e n a described i n t h e N e w
fala estática ininteligível, u m t i p o de cadên-
Testament.
cia n a vocalização q u e , segundo dizem, já
era c o n h e c i d o e m t e m p o s antigos c o m o

D entre as passagens d o N o v o Testamen-


to que se referem ao d o m de línguas
(Mc 16:17; A t 2:1-13; 10-11 e 19:1-6), a que
glossolalia. T a l a b o r d a g e m é feita c o m o
1

auxílio d o m é t o d o de estudo da história-das-


religiões, o n d e elementos relativos às anti-
requer u m estudo mais cuidadoso e m e t i c u - gas religiões pagãs são usados c o m o referên-
loso é a que se e n c o n t r a na P r i m e i r a C a r t a cia para a interpretação d o f e n ó m e n o bíbli-
de Paulo aos C o r í n t i o s , capítulos 12 a 14- co. É evidente que estes eruditos que usam
2

Pentecostais e carismáticos f r e q u e n t e m e n t e o m é t o d o crítico-histórico n ã o i n t e r p r e t a m


a f i r m a m que I C o r í n t i o s 14 é a chave para a Bíblia usando-a c o m o sua própria ferra-
que possamos, h o j e , d e f i n i r o q u e seja a menta hermenêutica. Interpretam, sim,
glossolalia. S u g e r e m , n o r m a l m e n t e , q u e eventos bíblicos (neste caso o falar e m lín-
Paulo está descrevendo e m I C o r í n t i o s 12- guas) t o m a n d o c o m o base os c o n t e x t o s
14 alguma f o r m a de l i n g u a g e m estática, pro- reconstruídos de f e n ó m e n o s sócio-culturais
duzida pelo Santo Espírito, e que permane- supostamente existentes n o m u n d o a n t i g o . 3

- 19-
* H á , ainda, u m o u t r o m o d o de interpre- d o "falar e m línguas" e m I C o r í n t i o s 12-14,
tar I C o r í n t i o s 12-14 que e n c o n t r a a p o i o na deixa-nos c o m a tarefa de realizarmos, c o m
vasta m a i o r i a dos teólogos n a história d o cautela e disposição, u m estudo m i n u c i o s o
cristianismo, desde os pais da igreja p r i m i t i - desta perícope.
va, passando p o r reformadores, c o m o J o ã o
U m a interpretação correta, sem dúvida,
C a l v i n o , e m u i t o s o u t r o s até nossos dias.
evitará a t e n d ê n c i a de isolar I C o r í n t i o s 14
Este p o n t o de vista é d e f e n d i d o p o r estudi-
dos dois capítulos anteriores e o f e n ó m e n o
osos, tão qualificados c o m o os descritos n o
do "falar e m línguas" do restante do N o v o
g r u p o acima, que possuem u m a visão mais
T e s t a m e n t o . Deveremos, c o m a seriedade
atenciosa d o c o n t e x t o bíblico, e o n d e a Es-
necessária, analisarmos os possíveis parale-
c r i t u r a serve c o m o sua própria intérprete.
los existentes nas religiões pagãs, para avali-
Estes eruditos e n t e n d e m I C o r í n t i o s 12-14,
armos a interpretação sugerida p o r alguns
e e m particular, o "falar e m línguas," c o m o
críticos d o texto bíblico.
referindo-se a u m d o m espiritual g e n u í n o
de falat línguas estrangeiras que não f o r a m
aprendidas a n t e r i o r m e n t e . C o m p r e e n d e m
4 CENÁRIO HISTÓRICO
I C o r í n t i o s 14 c o m o descrevendo u m a situ-
N a tentativa de alcançarmos u m a certa
ação de desvio de u m d o m espiritual, que
clareza na discussão de I C o r í n t i o s 12-14, é
estava sendo usado de f o r m a imprópria, isto
necessário, p r i m e i r a m e n t e , buscarmos de-
é, para edificação própria e benefícios pes-
v i d o esclarecimento q u a n t o a situação pre-
soais. N ã o a d m i t e m que Paulo estivesse en-
valecente e m C o r i n t o e sua respectiva co-
d o s s a n d o u m a p r á t i c a pagã n a igreja de
m u n i d a d e cristã.
C o r i n t o . Pelo contrário, o e n t e n d e m n o sen-
t i d o de estar ajustando u m verdadeiro d o m É p a r t i c u l a r m e n t e impressionante que o
espiritual, dado pelo Espírito, para a "falar e m l í n g u a s " se manifeste, u m a vez
edificação da igreja c o m o o c o r p o de Cris- mais, n u m a i m p o r t a n t e m e t r ó p o l e dos tem-
t o . Estes teólogos sugerem que e n q u a n t o os pos d o N o v o Testamento. C o r i n t o está lo-
crentes estavam r e u n i d o s n a igreja, vários calizada na E u r o p a . È u m a das famosas ci-
m e m b r o s r e c e b i a m o d o m de f a l a r dades da antiga G r é c i a .
m i r a c u l o s a m e n t e e m línguas estrangeiras, C o r i n t o era a capital da província roma-
mas de maneira simultânea, sem n e n h u m a n a da A c á i a . A s s i m , está l i g a d a a É f e s o ,
consideração à o r d e m o u respeito ao seu f i m Cesaréia e Jerusalém c o m o a q u a r t a cidade
i n d i c a d o — b e n e f i c i a r a p r o c l a m a ç ã o das o n d e aparecem registros de "falar e m lín-
Boas-Novas aos incrédulos. Esta situação de guas" n o N o v o Testamento.
fala simultânea daria a impressão, aos ain-
da n ã o crentes presentes à reunião, que os C o r i n t o controlava a rota de c o m é r c i o
que assim p r o c e d i a m estariam loucos. N u m a entre o Nordeste da Grécia e o Peloponeso.
tentativa de c o r r i g i r este desvio, Paulo res- Através dos p o r t o s de Lacáia, n o Oeste, e
salta q u e cada d o m deve s e r v i r p a r a a C i n c r é i a , n o Leste, se t o r n o u u m centro dos
edificação da igreja e n ã o para uso egoísta. negócios mediterrâneos. Seu c o m é r c i o ma-
A s s i m , ele impõe regras para que t u d o fosse rítimo trouxe-lhe grande prosperidade e l u -
feito e m o r d e m , r e c o m e n d a n d o que q u a n - xúria. C o r i n t o tornou-se t a m b é m proverbi-
d o n ã o houvesse intérprete capaz de t r a d u - al p o r sua p r o m i s c u i d a d e sexual.
zir estas línguas para o b e n e f í c i o daqueles M u i t o s séculos antes da época de Paulo,
que n ã o as e n t e n d i a m , deveriam permane- o t e m p l o c o r i n t o de A f r o d i t e empregava m i l
V. cer calados na igreja. escravas dedicadas à adoração licenciosa. 5

Estas opiniões divergentes existentes en- E m 46 d . C , J ú l i o C é s a r anexou C o r i n t o


c o m o colónia R o m a n a . A s s i m , seus mora-
tre os estudiosos d o N o v o Testamento re-
dores passaram a ser cidadãos r o m a n o s , que
q u e r e m que prestemos a t e n ç ã o cuidadosa
eram, na m a i o r i a , h o m e n s livres da Itália.
ao que Paulo realmente escreveu. O fato dele
A esta p o p u l a ç ã o se a c r e s c i a m gregos e
n ã o ter explicado e m detalhes o significado
levantinos, i n c l u i n d o t a m b é m judeus.

-20
A diversidade étnica se refletia e m sua acreditamos que fosse q u a n t o ao ranking dos
v i d a religiosa. C o r i n t o possuía m u i t o s san- d o n s e s p i r i t u a i s ( 1 2 : 2 8 ) , especialmente a
tuários dedicados a deidades estrangeiras, relação entre os dons de profecia e o falar
tais c o m o Isis e Serápis. D e fama especial
6
e m línguas (14:1-40).
era o t e m p l o de A p o l o . V i s i t e i C o r i n t o e m
várias ocasiões e v i as ruínas destes t e m p l o s . / Coríntios 12
E u m a visão m u i t o impressiva.
A seção introdutória de I C o r í n t i o s 12-
Paulo f o i até C o r i n t o na sua segunda v i - 14 refere-se ao t e m a dos d o n s espirituais
agem missionária. A l i passou 18 meses (c. c o m o u m t o d o ( 1 2 : 1 ) , e atinge seu clímax
10

51-52 d . C ) , período e m que f u n d o u u m a na exposição d o que u m a pessoa que "fala


igreja ( A t 18:1-18). Mais tarde, A p o l o t a m - pelo Espírito de D e u s " é capaz de p r o f e r i r
b é m t r a b a l h o u e m C o r i n t o , o b t e n d o consi- (12:3). A seguir, Paulo trata sobre a f o n t e e
derável sucesso ( A t 18:24, 27s; 19:1; I C o o c o n t e ú d o desta " f a l a . " Ela t e m sua o r i -
3:4). g e m n o Espírito Santo. E m b o r a a q u i n ã o
seja m e n c i o n a d o o "falar e m línguas" c o m
D e p o i s da p a r t i d a de Paulo, C o r i n t o
sua t e r m i n o l o g i a típica, n ã o há dúvidas de
e n f r e n t o u u m a série de problemas d o u t r i -
que Paulo o t i n h a e m m e n t e .
nários e éticos. D u r a n t e seu ministério e m
Éfeso (c. 54-57 A D ) , Paulo recebeu i n f o r m a - Q u a n d o Paulo fala sobre o c o n t e x t o re-
ções da "casa de C l o e " ( I C o 1:11) que i n d i - ligioso pagão dos crentes de C o r i n t o , mais
cavam haver u m espírito crescente de con- p a r t i c u l a r m e n t e da i d o l a t r i a existente nos
t e n d a na igreja de C o r i n t o . A própria igreja cultos pagãos, usa as palavras " e m b o r a fos-
t a m b é m c o l o c o u d i a n t e de P a u l o certas sem guiados" (v. 2, N A S B ) o u "se deixas-
questões, na f o r m a de correspondência es- sem levar" ( N R S V ) .
crita ( I C o 7:1).
N ã o há u n a n i m i d a d e sobre o significa-
Paulo respondeu tais dúvidas de m a n e i - d o desta expressão. Acredita-se que ser gui-
ra progressiva, usando quase sempre a fór- ado p o r ídolos refira-se a a l g u m t i p o de au-
m u l a introdutória "a respeito d i s t o , " c o m o
7
t o r i d a d e dos ídolos sobre os crentes e n q u a n -
aparece e m I C o r í n t i o s 7:1; 7:25; 8 : 1 ; 12:1; t o e r a m pagãos. C o m o se fossem escraviza-
16:1 e 16:12. O s assuntos discutidos nestas dos pelos í d o l o s . "
seções t r a t a m sobre casamento e divórcio
A l g u n s comentaristas q u e r e m ver a q u i
(7:1-40), c o m i d a oferecida a ídolos (8:1-13),
u m a referência ao êxtase o u entusiasmo es-
d o n s espirituais (12:1-14:40), coleta de f u n -
tático usualmente ligado aos cultos pagãos. 12

dos para Jerusalém (16:1-4) e sobre A p o l o


Sabe-se, c o n t u d o , que o "falar e m línguas"
(16:12). Esta p r i m e i r a carta de Paulo aos
o u glossolalia não era manifesto nestes cul-
C o r í n t i o s f o i provavelmente escrita na p r i -
tos a n t i g o s , c o m o veremos e m detalhes
15

mavera de 57 d . C . Paulo t a m b é m se refe-


8

mais adiante. Por isso é improvável que Pau-


r i u a outros questionamentos e m I Coríntios lo refira-se a q u i a algo deste t i p o . E i m p o r -
7 a 16, e m b o r a tais assuntos n ã o t e n h a m tante destacar que não há evidência de ne-
similaridade na fórmula introdutória. 9
n h u m a m a n i f e s t a ç ã o pagã estática igual à
m o d e r n a glossolalia e m teligiões não-cristãs
O CONTEXTO DE I CORÍNTIOS 12-14 (e cristãs). Paulo está a q u i p r o c u r a n d o dis-
t i n g u i r , cuidadosamente, o d o m genuíno o u -
Para u m a correta c o m p r e e n s ã o sobre o torgado pelo Espírito Santo d o f e n ó m e n o
falar e m línguas de I C o r í n t i o s é necessário que ocorre nas religiões pagãs.
m a n t e r e m m e n t e que o p r o b l e m a surgiu
n o c o n t e x t o dos d o n s espirituais ( I C o 12- E m I C o r í n t i o s 12:4-7 Paulo prossegue
14). Paulo está t e n t a n d o resolver esta d i f i - sua exposição ao falar sobre a fonte t r i n i t a r i a
culdade. E é n o b o j o desta resposta que Pau- de t o d o s os d o n s e s p i r i t u a i s : Espírito-Se-
lo avalia os vários dons d o Espírito Santo n h o r - D e u s . Esta é a p r i m e i r a declaração de
(12:31). u m m e s m o princípio geral: todos os dons
espirituais d e v e m derivar-se da fonte triúna.
E m b o r a n ã o saibamos o c o n t e ú d o exato
Se assim n ã o fosse, d e v e r i a m ser excluídos
d o q u e s t i o n a m e n t o que chegou até Paulo,
da c o m u n i d a d e da fé de C o r i n t o .

-21 -
N o o r i g i n a l , o propósito dos d o n s espi- que todas as pessoas cheias d o Espírito de-
rituais na igreja é " o b e m c o m u m " (12:7 - a v a m falar e m línguas.
V A R A traduz c o m o " f i m proveitoso"). N e -
Ê d i g n o de n o t a que n o N o v o Testamen-
n h u m d o m deverá ser para uso particular;
to, nas q u a t r o listas de dons espirituais, o
todos os d o n s são destinados ao " b e m co-
d o m de línguas aparece e m apenas duas ( I
m u m " d o c o r p o dos crentes (cf. I C o 6:12;
C o 12:10; 12:28, 30), e sempre e m último
10:23). Paulo r e t o r n a a este t ó p i c o e m I 14

lugar. Por o u t r o lado, o único d o m espiritu-


C o r í n t i o s 14, o n d e acentua repetidamente
al que aparece e m todas as q u a t r o listas é o
que t o d o o d o m e s p i r i t u a l deve servir para
de " p r o f e c i a " ( R m 12:6; I C o 12:10; 12:28;
o "crescimento" da c o m u n i d a d e e n ã o para
E f 4:11). "Profecia" está e m p r i m e i r o lugar
edificação própria.
na lista de R o m a n o s 12:6, e e m duas outras
E m I C o r í n t i o s 12:8-11 Paulo expõe u m a está e m segundo lugar ( I C o 12:28; E f 4:11).
lista de nove f o r m a s de m a n i f e s t a ç ã o d o E m u m a lista aparece n o m e i o ( I C o 12:10).
Espírito Santo. O t e m a é a diversidade de O lugar de destaque da " p r o f e c i a " e o últi-
dons {charismata) p r o v i n d o s d o mesmo Es- m o lugar para "línguas," e m c o n j u n t o c o m
pírito Santo. Os últimos dois dons espiritu- sua " i n t e r p r e t a ç ã o , " d i f i c i l m e n t e é f r u t o da
ais descritos são a "variedade de línguas" e a c o i n c i d ê n c i a . Sem dúvida, a i n t e n ç ã o de
"capacidade para interpretá-las." Será que Paulo é c o r r i g i r a prática d o d o m de línguas
Paulo os m e n c i o n o u n o f i m p o r q u e "lín- e fixá-lo e m seu d e v i d o lugar na o r d e m dos
guas" era o d o m c o n s i d e r a d o c o m o mais dons espirituais para a edificação da igreja.
i m p o r t a n t e pelos c o r í n t i o s ? O u será que
m e n c i o n o u "línguas" e m último lugar por- / Coríntios 13
que seria o d o m e s p i r i t u a l m e n o s
significante? E m I C o r í n t i o s 13 Paulo mostra u m ca-
m i n h o s o b r e m o d o excelente. Este consiste
A p ó s abordar o assunto da u n i d a d e d o n o c a m i n h o d o " a m o r . " O a m o r ágape. O
c o r p o de C r i s t o , m e s m o c o n s i d e r a n d o a a m o r mais elevado, d e m o n s t r a d o pelo Pai
diversidade de cargos e serviços dos m e m - ao dar Seu ú n i c o F i l h o (Jo 3:16).
bros n o c o r p o da igreja (1 C o 12:12-31), Pau-
N a p r i m e i r a parte de I C o r í n t i o s 13, Pau-
l o se concentra e m o i t o tipos de m e m b r o s ,
l o reforça a superioridade d o a m o r (vs. 1-3).
cada u m d o t a d o c o m u m d o m e s p i r i t u a l
N a parte i n t e r m e d i á r i a , a necessidade de
particular. Novamente, é impressionante a m o r (vs. 4-7). E na última parte, a duração
observar que a "variedade de línguas" (v. 28) eterna d o a m o r (vs. 8-13). N o contexto dos
e a " i n t e r p r e t a ç ã o " (v. 3 0 ) aparecem n o f i -
15
d o n s d o Espírito Santo, que são concedi-
n a l da lista. dos de múltiplas formas, Paulo ressalta que
a graça d o a m o r é " o f r u t o d o E s p í r i t o " ( G l
Paulo c o n c l u i esta seção c o m a exorta-
5:22-23). N ã o p o d e ser c o m p e n s a d o pelo
ção de que os crentes d e v e r i a m buscar os
exercício mais generoso de q u a l q u e r o u t r o
"melhores d o n s " (12:31). S ã o aqueles suge-
d o m espiritual.
ridos n o t o p o da lista, e que estão especial-
mente d i s t i n g u i d o s pela sequência numéri- O f r u t o d o a m o r é c o n c e d i d o pelo Espí-
ca " p r i m e i r o . . . , s e g u n d o . . . , t e r c e i r o . . . " r i t o Santo ( R m 5:5). É ainda m a i o r d o que
(12:28). A ênfase é clara! Paulo t e n t a mos- " p r o f e c i a " e "línguas" ( I C o 13:1). A m b o s
trar aos crentes de C o r i n t o que o d o m que vão desaparecer, mas o a m o r n ã o findará
c o n s i d e r a m ser o mais i m p o r t a n t e , a saber, jamais (v. 8).
o falar e m línguas, na verdade n ã o estava
n o t o p o da lista. / Coríntiosl4

Paulo usa sete perguntas retóricas (vs. 29, Paulo r e s u m e a e x o r t a ç ã o q u a n t o ao


30) para inculcar o princípio da diversida- a m o r e m I C o r í n t i o s 14:1 c o m as palavras
de de dons espirituais entre os diversos m e m - "segui o a m o r , " faça d o a m o r seu alvo.
bros, realçando a u n i d a d e de sua f o n t e . Tam-
O restante de I C o r í n t i o s 14 trata acerca
b é m r e f u t a q u a l q u e r t e n t a t i v a de a f i r m a r
dos dons espirituais de profecia e de línguas,

-22-
expressando o desejo de que os crentes bus- A N e w E n g l i s h B i b l e ( N E B ) traduz o ter-
q u e m i n t e n s a m e n t e os d o n s e s p i r i t u a i s m o grego " l í n g u a ( s ) " c o m o " l i n g u a g e m /
(14:1). E o propósito de Paulo destacar o declaração/fala e s t á t i c a " o u "fala/lingua-
17

d o m de profecia sobre o de línguas. gem de ê x t a s e . " D e igual m o d o , n ã o existe


18

n e n h u m a p o i o t e x t u a l para as expressões
I C o r í n t i o s 14 pode ser d i v i d i d o e m duas
"estática" o u " ê x t a s e . " Estes termos são re-
19

partes p r i n c i p a i s . A p r i m e i r a seção trata so-


sultantes de interpretações tendenciosas da
bre profecia e línguas (vs. 1-25). A segunda
palavra "língua(s)."
seção (vs. 26-40) refere-se à o r d e m adequa-
da d o c u l t o cristão. A Bíblia de Jerusalém (JB) traz o u t r a ver-
são. Todas as vezes que o o r i g i n a l grego usa
Este capítulo c o n t é m os ensinamentos
o t e r m o "língua(s)" a B í b l i a de Jerusalém
mais conclusivos sobre o falar e m línguas.
usa a expressão " o d o m de línguas." A s s i m ,
E m I Coríntios 14, nossa atenção será focada
as palavras " o d o m d e " f o r a m acrescenta-
apenas neste tema.
das, e a distinção entre o uso singular d o
T e n d o c o m o base o cenário c o n t e x t u a l t e r m o " l í n g u a " e seu uso p l u r a l são o b l i -
da instrução de Paulo, nos e n c o n t r a m o s , terados n a tradução.
agora, na posição de analisarmos sobre o que
A Bíblia na L i n g u a g e m de H o j e (Today's
Paulo se refere q u a n d o trata d o falar e m lín-
English V e r s i o n - T E V , c o m o a B L H ) e suas
guas neste capítulo tão controverso.
equivalentes e m m u i t a s outras línguas m o -
N ã o há n e n h u m a indicação em I dernas, insere o u t r a expressão que t a m b é m
C o r í n t i o s 12-14 de que o f e n ó m e n o de fa- n ã o aparece n o texto grego. E m I C o r í n t i o s
lar e m línguas manifesto e m C o r i n t o seja 14, o adjetivo " e s t r a n h o " é acrescentado to-
de o r d e m satânica. Paulo e n u m e r a "línguas" das as vezes antes da palavra "língua(s)." Esta
entre os d o n s espirituais que têm o r i g e m n o interpolação coloca o tema das línguas n u m
Espírito Santo. D u r a n t e a discussão, nota- ângulo que Paulo p o d e ter o u n ã o i n t e n c i o -
se que Paulo refere-se 23 vezes ao falar e m n a d o , d e p e n d e n d o , e n t ã o , da interpretação
" u m a língua" o u e m " l í n g u a s . " 16
dada p o r eruditos m o d e r n o s . Isto não t e m
apoio n o texto grego o r i g i n a l e deve ser vis-
0 FALAR EM LÍNGUAS t o c o m o u m a interpretação p o r parte dos
tradutores.
EM TRADUÇÕES MODERNAS
A N e w I n t e r n a t i o n a l V e r s i o n ( N I V ) usa
A s t r a d u ç õ e s inglesas, b e m c o m o e m
0 t e r m o "língua(s)" de f o r m a consistente e m
outras línguas modernas, revelam a comple-
1 C o r í n t i o s 14, mas provê, à m a r g e m , u m a
xidade da questão de "falar e m línguas" e m
n o t a explicativa c o m a expressão "línguas
1 C o r í n t i o s 14. D e q u a n d o e m q u a n d o , en-
diferentes" referindo-se ao versos 2, 4, 13,
c o n t r a m o s tradutores i n s e r i n d o palavras n o
14, 19, 26 e 27, e o u t r a n o t a c o m "outras
texto que n ã o estão presentes n o o r i g i n a l ,
o u u s a n d o traduções diferentes para u m a línguas" para os versos 5, 6, 18, 22, 23 e 39.
mesma palavra grega usada n o texto origi- Estas leituras alternativas d o t e r m o "línguas"
n a l . H á t a m b é m o u t r a s variações. Todas estão "enfatizando a c o m p r e e n s ã o d o d o m
merecem agora nossa atenção. de línguas c o m o o ato de falar e m línguas
h u m a n a s conhecidas, mais d o que u m a fala
- ^ O adjetivo "desconhecida" que a K i n g estática sem s e n t i d o . " 20

James V e r s i o n (KJV - c o m o a V A R C ) traz


e m I C o r í n t i o s 14:2, 4, 14, 27 n ã o e n c o n t r a A N e w Revised Standard V e r s i o n
apoio n o texto o r i g i n a l grego. É u m t e r m o ( N R S V ) usa o substantivo " l i n g u a g e m " to-
s u p r i d o pelos tradutores. A N e w K i n g James das as vezes e m A t o s 2 o n d e o texto o r i g i n a l
Version ( N K J V - c o m o a V A R A ) está corre- emprega a palavra glôssa, "língua(s)". E m I
ta e m o m i t i r este adjetivo, assim c o m o a N e w C o r í n t i o s 14, c o n t u d o , a m e s m a N R S V
A m e r i c a n Standard Bible (NASB) e a emprega a expressão "língua(s)" o n d e o
Revised S t a n d a r d V e r s i o n ( R S V ) e a N e w mesmo t e r m o grego aparece. A o leitor n ã o
Revised Standard V e r s i o n ( N R S V ) . — cuidadoso, transparece a ideia de que exis-

-23-
t e m duas palavras diferentes sendo usadas de línguas difere-se de outras descrições d o
n o texto o r i g i n a l , u m a e m A t o s 2 e o u t r a N o v o Testamento sobre o "falar e m línguas"?
e m I C o r í n t i o s 14. Esta versão dá a impres- Será que a l i n g u a g e m empregada p o r Paulo
são de que existem dois dons diferentes, sem para o "falar e m línguas" é idêntica às ma-
relação u m c o m o o u t r o . nifestações de fala religiosa estática n o con-
t e x t o da religião h e l é n i c a pagã? S e r á que
C o m o destaque, a tradução alemã conhe-
Paulo está descrevendo u m f e n ó m e n o e m I
cida c o m o a Elherfelder Bibel ( p r o d u z i d a
C o r í n t i o s 12-14 que f o i adotado pelos cris-
e m 1986), que possui a reputação de ser a
t ã o s d e C o r i n t o a p a r t i r d e sua c i r -
tradução mais literal disponível e m alemão
c u n v i z i n h a n ç a p a g ã ? Estes s ã o a l g u n s
e conhecida p o r ser f i e l ao texto o r i g i n a l ,
questionamentos que p o d e m estar na m e n -
emprega todas as vezes, e m I C o r í n t i o s 12-
te de u m l e i t o r a t e n t o destes capítulos. E
14, a expressão " l i n g u a g e m " ( n o a l e m ã o
necessário, e n t ã o , que consideremos c o m
Sprache[nJ), o n d e n o grego aparece o t e r m o
c u i d a d o a l i n g u a g e m usada p o r Paulo ao
glôssa. E m outras palavras, esta tradução vê
referir-se ao falar e m línguas. Faz-se necessá-
o d o m de línguas de I C o r í n t i o s 12-14 c o m o
r i o compará-la c o m a l i n g u a g e m d o restan-
consistindo de linguagens reais de nações.
te d o N o v o Testamento e da c u l t u r a que cir-
Estes exemplos de variações e m t r a d u - cundava a igreja de C o r i n t o .
ções modernas, c o m a inserção de termos
A expressão "língua(s)" é usada q u a t r o
que n ã o estão na língua o r i g i n a l e a substi-
vezes e m I C o r í n t i o s 1 2 , duas vezes e m I
22

tuição d o t e r m o "língua(s)" p o r outras ex-


Coríntios H , e dezessete vezes e m I
2 i

pressões, provêem a m p l a evidência de que I


C o r í n t i o s 14, s o m a n d o , assim, u m total
24

C o r í n t i o s 14 é u m capítulo c o m p l e x o . Por-
de v i n t e e três \ezes. N o t a v e l m e n t e , e m cada
t a n t o , n ã o é p r ó p r i o , d o p o n t o de vista
caso, sem exceção, a palavra usada para " l i n -
m e t o d o l ó g i c o , i n t e r p r e t a r t o d o o fenóme-
gua" é sempre o t e r m o grego glôssa, a mes-
n o d o falar e m línguas n o N o v o Testamen-
ma expressão usada e m Marcos na predição
t o a p a r t i r desta passagem c l a r a m e n t e
de Jesus a respeito das "novas línguas," e
dificultosa, simplesmente p o r q u e é a expo-
em A t o s , p o r Lucas, q u a n d o descreve a ex-
sição mais longa sobre o assunto. Esta por-
periência d o Pentecostes e as manifestações
ção das Escrituras, t o m a d a isoladamente, d i -
d o d o m de línguas e m Cesaréia e Eteso.
f i c i l m e n t e presta-se c o m o a chave exclusiva
na definição d o que é o falar e m línguas n o O u t r a observação se faz necessária: t o
N o v o Testamento. das as vezes que a frase "talar e m línguas"
aparece (12 vezes) o verbo "talar" é deriva-
21

Esta análise sobre as diferenças de tra-


do d o mesmo t e r m o grego laleín, igualmen-
dução t a m b é m deixa evidente a distinção
te usado p o r Lucas, e m A t o s , para " f a l a r "
entre u m a "tradução f o r m a l , " que trata o
e m línguas e p o r J o ã o Marcos, e m Marcos
texto o r i g i n a l c o m u m a correspondência de
16:17. Isto quer dizer que existe u m a total
"palavra p o r palavra," e u m a "tradução d i -
i d e n t i d a d e de l i n g u a g e m e m cada passagem
n â m i c a , " que emprega a correspondência de
do N o v o Testamento que trata d o tema d o
"pensamento p o r p e n s a m e n t o , " d a n d o , as-
"falar e m línguas."
sim, m a i o r liberdade ao t r a d u t o r . Neste úl-
21

t i m o caso, u m a t r a d u ç ã o parece ser mais Alguns eruditos interpretam o termo


u m a interpretação, o u mesmo u m mini-co- grego glôssa, " l í n g u a s , " c o m o s i g n i f i c a n d o
mentário. Faríamos b e m e m o l h a r a lingua- a n t i q u a d o , estranho, o u até c o m o se refe-
gem de I C o r í n t i o s 12-14 n o texto o r i g i n a l . r i n d o a declarações místicas de natureza es-
t á t i c a . N a língua grega, o t e r m o glôssa pode,
26

A TERMINOLOGIA DO sim, referir-se a u m a "expressão estrangeira


o u o b s o l e t a . " C o n t u d o , c o n t i n u a sendo
27

"FALAR EM LÍNGUAS"
m u i t o d i f e r e n t e d a q u i l o que i n t e n t a m os
S e r á q u e a l i n g u a g e m empregada p o r defensores da hipótese sugerida acima. N a
Paulo para descrever o f e n ó m e n o d o d o m verdade, o uso d o t e r m o glôssa designando

-24
língua compreensível, inteligível, excede de pleta "falar e m novas/outras línguas" usada
longe ao uso n o grego não-bíblico c o m o fala apenas e m Marcos 16:17 e A t o s 2 : 4 . As- 35

estranha e a n t i q u a d a . 28
s i m , o uso de glôssa laleín, sem o adjetivo,
e m A t o s 10 e 19 e I C o r í n t i o s 12-14 pode
A Q u a l a e v i d ê n c i a da B í b l i a Grega
representar u m a elipse, u m a f o r m a mais
/ (Septuaginta e N o v o Testamento) para apoi-
c u r t a da frase que era o r i g i n a l m e n t e mais
ar a hipótese de glossolalia c o m o u m a for-
V_ l o n g a . Engelsen sugere que o t e r m o origi-
m a de fala n ã o compreensível? U m a investi-
n a l esconde-se n u m passado irrecuperável, 36

gação d o uso de glôssa n o N o v o Testamento


mas ele pode t a m b é m estar ligado a Marcos
c o m p r o v a que a expressão é usada apenas
16:17 e A t o s 2:4, o n d e e m ambos os casos
n o sentido de "língua" c o m o órgão da f a l a 29

u m adjetivo está presente. Parece inevitável


e para l i n g u a g e m h u m a n a inteligível. Isto 30

c o n c l u i r que o falar e m línguas cristão — e


é igualmente verdade n o uso d o t e r m o pela
n ã o há o u t r o f e n ó m e n o parecido conheci-
Septuaginta. M e s m o e m Isaías 29:24 e 32:4,
d o n o m u n d o antigo — "aparentemente te-
o n d e glôssa parece referir-se a u m b a l b u c i o ,
n h a seu início n o Pentecostes." A experi- 37

n ã o há indicação de algo estático o u coisa


ência d o d o m de falar e m línguas n o Pente-
semelhante. Nestes dois casos "ela alude a
31

costes é u m a "criação i n é d i t a " d o Espírito


38

u m a l i n g u a g e m . " Desta f o r m a , n ã o há dú-


32

Santo.
v i d a de que o uso b í b l i c o d o substantivo
glôssa e l i m i n e a ideia de u m a fala estática. A expressão glôssa iaieín só está presente
n o grego d o N o v o T e s t a m e n t o , t o r n a n d o
Observa-se, ainda, que o adjetivo grego
impossível encontrá-la e m outras fontes gre-
fieteros, " o u t r a " ( A t 2:4), n ã o aparece e m I
gas a n t e r i o r e s . Sem c o n s i d e r a r este f a t o ,
C o r í n t i o s 12-14. A l g u n s e r u d i t o s , n o entan-
muitas hipóteses f o r a m criadas, sugerindo
t o , a r g u m e n t a m que a l i n g u a g e m de- Paulo
que o f e n ó m e n o d o falar e m línguas de I
difere daquela usada e m A t o s . Seria a falta
C o r í n t i o s seria u m a glossolalia, n o sentido
d o adjetivo " o u t r a " tão decisiva para que os
de u m a fala ininteligível, u m a articulação
dois f e n ó m e n o s possam ser diferentes? Te-
de sílabas sem nexo. E n t r e tais hipóteses
m o s q u e m a n t e r e m m e n t e que o t e r m o
encontra-se aquela que tenta i n t e r p r e t a r o
heteros, " o u t r a , " n ã o é e n c o n t r a d o e m I e I I
f e n ó m e n o d o N o v o Testamento através de
Tessalonicenses, T i t o , J o ã o (exceto e m
paralelos históricos-religiosos. V o l t a r e m o s a
19:37), Marcos (exceto 16:12), I e I I Pedro,
c o m e n t a r sobre este tópico mais adiante.
I , I I e I I I J o ã o . N ã o é necessário que a ex-
pressão seja usada novamente depois de A t o s O u t r a hipótese sugere que a experiência
2:4, " f a l a n d o e m línguas," p o r q u e neste tex- glossolálica, supostamente o c o r r i d a em
to i d e n t i f i c a o falar e m línguas já c o m o " o u - C o r i n t o , p o d e ser e x p l i c a d a t e r m i n o -
tras" n o sentido de que aqueles que recebe- lógicamente pelo uso d o verbo grego laléo.
r a m o d o m n o Pentecostes estavam "falan- Orígenes, u m dos pais da igreja, já especula-
d o e m várias línguas diferentes das suas pró- va sobre u m t i p o de "fala desconexa." E m
prias línguas e que estas lhes e r a m desco- épocas mais recentes, t e m sido novamente
n h e c i d a s . " Deve-se n o t a r que a expressão
33
sugerido q u e iaiéo i n d i q u e a l g u m t i p o de
grega glôssa laleín, l i t e r a l m e n t e "falar e m lín- "tala desconexa," ou algo semelhante que
guas," t a m b é m aparece e m A t o s 10:46 e 19:6 seja inerente ao t e r m o . " E n q u a n t o esta h i -
3

sem o adjetivo " o u t r a . " Isto pode indicar que pótese busque explicar, de f o r m a implícita,
após a experiência d o Pentecostes de "falar que o falar e m línguas seja u m a glossolalia,-
e m línguas," esta expressão tenha se torna- n o sentido de fala estática, não articulada,
d o u m a designação t é c n i c a , c o m significa-
34
ao m e s m o t e m p o l e v a a a d m i t i r q u e
d o f i x o , o n d e o adjetivo " o u t r a " é suben- glossolalia não pode ser derivada d o t e r m o
t e n d i d o sem a necessidade de ser r e p e t i d o . "língua" (glôssa). Esta posição o m i t e alguns
É m u i t o provável que a f o r m a c o m p r i m i d a aspectos relevantes d o uso de laléo e m I
"falar e m línguas," sem u m artigo grego e C o r í n t i o s 14. Em I C o r í n t i o s 14:9 Paulo usa
sem u m adjetivo ( " n o v a " o u " o u t r a " ) , seja laléo q u a n d o se refere ao que é " c o m p r e e n -
u m a expressão abreviada da frase mais c o m - sível." n o sentido de u m a afividade m e n t a l .

-25-
E m I Coríntios lar e m línguas de I C o r í n t i o s 12-14 irão re-
q u e apenas d o i s o u três profetas " f a l e m " velar se tais sugestões, baseadas n a linguísti-
(laléo) e estes " f a l e m " e m línguas conheci- ca e na s i m i l a r i d a d e terminológica estão re-
das. E m I C o r í n t i o s 14:34, 35 as mulheres almente corretas.
n ã o são p e r m i t i d a s " f a l a r e m " (laléo). M a i s
u m a vez, a q u i , a fala é c o m u m , e m lingua-
O FALAR EM LÍNGUAS
gem. h u m a n a n o r m a l . Deste m o d o o verbo
E A LÍNGUA DOS ANJOS
laléo é empregado p o r Paulo e m I C o r í n t i o s
14 e m vários aspectos: n o contexto d o d o m U m a das hipóteses usadas para interpre-
de línguas (v. 9), na fala dos profetas (v. 29) tar o "falar e m línguas," na perspectiva
e na proibição das mulheres falarem na igreja p a u l i n a , t e m c o m o base I C o r í n t i o s 13:1.
(vs. 34, 35). T a l uso exige que laléo refira-se Esse verso parece sugerir que o falar e m lín-
à linguagem h u m a n a usual. C o n c o r d a m o s , guas seja "a fala dos anjos n o q u a l os segre-
assim, c o m a conclusão de J. M . F o r d que dos d o m u n d o celestial são revelados." 44

"laleín [o i n f i n i t i v o de laléo] usado p o r Pau-


Está realmente Paulo t e n t a n d o igualar o
lo não m i l i t a contra o a r g u m e n t o de que as
falar e m línguas c o m a l i n g u a g e m dos an-
línguas sejam linguagens h u m a n a s . " 40

jos? Suas palavras declaram: "se eu falasse a


Esta conclusão é c o n f i r m a d a pela cita- língua dos h o m e n s e dos anjos, e n ã o tives-
ção de Isaías 28:11 e m I C o r í n t i o s 14:21 se amor, seria c o m o m e t a l que soa o u c o m o
o n d e os l á b i o s de e s t r a n g e i r o s , i s t o é, címbalo que r e t i n e " ( I C o 13:1).
Assírios, i r i a m "falar" (laléo) ao povo de Is-
O que é c o n h e c i d o acerca da língua dos
rael e m "outras línguas," que são i d i o m a s 41

anjos? Poucas passagens na literatura j u d a i -


não e n t e n d i d o s p o r aqueles que se c o m u n i -
ca se referem à língua dos anjos. Ê tratada
cavam apenas e m hebraico.
c o m o u m "dialeto angelical" (grego aggelike
Podemos sugerir, baseados nestas inegá- dialekto)^ e n c o n t r a d a n o apócrifo Testamen-
veis c o n s i d e r a ç õ e s , que n ã o há n e n h u m a to de Jó, d a t a d o entre o p r i m e i r o século a.C.
razão terminológica convincente para con- e o p r i m e i r o século d . C . Neste d o c u m e n -
4 6

c l u i r que a expressão "falar e m línguas" e m to existe u m a referência a três irmãs, o n d e


I C o r í n t i o s 12-14 tenha o u t r o sentido, dife- u m a delas faz u m a declaração " n a fala (gre-
rente, d o restante d o N o v o Testamento. N ã o go dialektos) dos anjos" ( 4 8 : 3 ) . Referências
47

há i g u a l m e n t e n e n h u m a razão convincente adicionais são feitas nesta o b r a ao "dialeto


para que o falar e m línguas e m C o r i n t o re- d o s a r c a n j o s " ( 4 9 : 2 ) , ao " d i a l e t o d o s
fira-se a glossolalia n o sentido de "fala des- q u e r u b i n s " (50:2) e a u m " d i a l e t o p r ó p r i o "
conexa de pessoas e m êxtase r e l i g i o s o " o u 42 (57:2) n o q u a l cada f i l h a f a l a . Deve ser evi-
48

algo parecido. denciado de que e m cada caso deste d o c u -


m e n t o j u d a i c o , a designação para "fala/dia-
Devemos permanecer c o m a definição l e t o " é a palavra grega dialektos. C o n t u d o ,
d o locus classicus sobre o falar e m línguas, Paulo não usa este t e r m o em I Coríntios 13:1
isto é, a perícope de A t o s 2 que trata dos e m sua breve alusão à língua dos anjos. Pau-
eventos ocorridos n o d i a de Pentecostes. É lo emprega o t e r m o glôssa, "língua," e m vez
a única passagem d o N o v o Testamento que de dialektos, " d i a l e t o . " A s s i m , neste d o c u -
c o n t é m a d e f i n i ç ã o d o falar e m línguas. m e n t o singular d o m u n d o a n t i g o que faz
Sugerimos que: (1) existe u m ú n i c o d o m de referência à língua dos anjos, não existe ne-
línguas p r o v i d o pelo Espírito Santo n o N o v o nhum paralelo legítimo na esfera
Testamento; (2) o falar e m línguas é o mes- terminológica para poder-se a f i r m a r conclu-
m o e m t o d o o N o v o Testamento, sendo isto sivamente algo n o c a m p o ideológico.
a p o i a d o pela t e r m i n o l o g i a i d ê n t i c a , pelo
contexto da ação d o Espírito Santo e pela Estudos feitos p o r S t u a r t C u r r i e sobre a
singularidade dos cristãos p r i m i t i v o s ao fa- linguagem dos anjos revelam que n ã o existe
l a r e m e m línguas; e (3) a natureza não-está- evidência d o uso da língua angelical p o r
tica e m que é sempre d e s c r i t o . Os tópicos
43 h u m a n o s , e n ã o existe m a n e i r a de c o m o
seguintes de nossa investigação sobre o fa- p o d e r i a ser r e c o n h e c i d a . F. F. Bruce suge-
49

-26
re que n ã o pode ser i n f e r i d o que a capaci- Paulo quer mostrar que falar e m línguas
dade para falar a língua dos anjos f o i real- em C o r i n t o é u m d o m espiritual ( I C o 12:10,
mente p r e t e n d i d a p o r Paulo o u pela igreja 28, 30) e s t i m u l a d o pelo Espírito S a n t o . ' 1

de C o r i n t o ? 0
P o r t a n t o , a referência ao " e s p í r i t o , " neste
D e v e m o s r e c o n h e c e r q u e Paulo f a l o u contexto mais a m p l o , será m e l h o r traduzida
hipoteticamente em I Coríntios 13:1.
5 1
se fizer u m a alusão direta ao Espírito San-
c o m o i n d i c a a cláusula c o n d i c i o n a l grega. t o . Neste caso o Espírito Santo é a f o n t e da
Paulo usa a partícula c o n d i c i o n a l eart. "se."52 fala misteriosa.
seguida d o s u b j u n t i v o lato.53 Este t i p o de clá- Os "mistérios" de que f a l a m os adeptos
usula c o n d i c i o n a l da língua grega n u n c a
d o falar e m línguas n ã o são segredos o u "ver-
expressa a realidade. Paulo parece dizer atra-
dades secretas." A expressão "mistérios," nos
vés de hipérboles que todas as possibilida-
escritos de Paulo, possui u m sentido m u i t o
des linguísticas, i n c l u i n d o a fala dos anjos,
s i g n i f i c a t i v o . Isto t a m b é m é verdade c o m
se estivessem à sua disposição e a i n d a l h e
r e l a ç ã o ao N o v o T e s t a m e n t o c o m o u m
faltasse amor, para nada valeriam. " A con-
t o d o . Paulo é aquele que mais extensiva-
5 8

clusão é que Paulo não fala na língua dos


mente expõe o sentido de " m i s t é r i o . "
anjos. "
O t e r m o " m i s t é r i o " (grego mystérion) é
A natureza da cláusula c o n d i c i o n a l , c o m
empregado várias vezes e m I C o r í n t i o s (2:[1],
a hipotética natureza da sentença de Paulo
7; 4 : 1 ; 13:2; 14:2; 15:51). "Mas a palavra atin-
e m I C o r í n t i o s 13:1, t o r n a claro que a cha-
ge seu desenvolvimento mais significante e m
ve para a c o m p r e e n s ã o do talar em línguas
para Paulo não se e n c o n t r a neste texto. Des- Colossenses e Efésios, o n d e é usada n ã o
ta f o r m a os glossolalistas m o d e r n o s acharão menos de dez vezes." 59

d i f í c i l , sob o p o n t o d e v i s t a s i n t á t i c o , É interessante ver c o m o Paulo emprega


linguístico e c o m p a r a t i v o , apelar para esta este t e r m o , e mais precisamente, na sua for-
sentença c o m o prova de i d e n t i d a d e para a m a p l u r a l , c o m o a q u i e m I C o r í n t i o s 14:2.
glossolalia que p r a t i c a m .
O p l u r a l é usado apenas três vezes e m I
C o r í n t i o s , e e m n e n h u m o u t r o lugar d o
O FALAR EM LÍNGUAS N o v o Testamento. P r i m e i r o , aparece e m I
E A FALA EM MISTÉRIOS C o r í n t i o s 4 : 1 . Neste texto, Paulo insiste que
ele e seus co-obreiros sejam reconhecidos
Paulo estabelece sua p r e f e r ê n c i a pela c o m o "reveladores dos mistérios de D e u s "
profecia contrastando-a, mediante I ( N R S V ) . Deus t e m "mistérios" os quais Pau-
C o r í n t i o s 14, c o m o falar e m línguas. E m I lo e seus seguidores f o r a m investidos para
C o r í n t i o s 14:2 a pessoa que "fala e m lín- serem seus proclamadores. Estes "mistérios"
guas" está " f a l a n d o misteriosamente n o Es-
d i v i n o s f o r m a m a " a m p l i t u d e c o m p l e t a dos
pírito" ( N R S V ) . 5 5

ensinos c r i s t ã o s . "60

A N A B S t r a d u z " e m seu e s p í r i t o fala


A segunda passagem é e n c o n t r a d a e m I
mistérios." Esta versão p e r m i t e u m a tradu-
C o r í n t i o s 13:2. A q u i , o sentido estabeleci-
ção alternativa na m a r g e m , mas usa o ter-
56

d o p o r Paulo se refere ao fato de que "se eu


m o "espírito" c o m o sendo o espírito h u m a -
compreendesse todos os mistérios e t o d o o
n o , n o q u a l os que f a l a m e m línguas se co-
c o n h e c i m e n t o , ... mas se n ã o tivesse amor,
municam.
nada seria." A l g u n s sugerem que "Paulo usa
A K J V traz simplesmente " n o espírito" a palavra [mistérios] n o sentido d o decreto
(bem c o m o a N K J V , a JB e outras versões), escatológico de D e u s . . . " Isto i m p l i c a que
61

d e i x a n d o i n d e f i n i d o se é o espírito h u m a - Deus se faz c o n h e c i d o através da revelação


n o o u o Espírito Santo que está sendo alu- d o Seu p l a n o e decreto que u m a vez fora
d i d o . A tradução " n o espírito" é até u m a o c u l t o ao h o m e m .
possibilidade, mas é impossível que a t r a d u -
" M i s t é r i o " é usado n o singular e m I
ção " n o seu espírito" ( c o m o na N I V ) esteja
C o r í n t i o s 15:51: " O b s e r v e m , v o u contar-
correta, p o r q u e a palavra "seu" n ã o está pre-
lhes u m mistério! N ã o iremos todos m o r -
sente n o texto o r i g i n a l grego.

27-
rer, mas seremos t r a n s f o r m a d o s , e m u m e m línguas. Se n ã o há c o m p r e e n s ã o , aquele
m o m e n t o , n u m abrir e fechar de olhos, ao que fala e m u m a língua fala a Deus somen-
soar a última t r o m b e t a " ( N R S V ) . " M i s t é r i o " te, p o r q u e os seres h u m a n o s são incapazes
a q u i é a revelação d o fato de que alguns não de compreender se está o u n ã o p r o c l a m a n -
morrerão e que todos serão transformados d o os "mistérios" d i v i n a m e n t e revelados.
e m u m m o m e n t o q u a n d o C r i s t o vier pela
Se c o r r e t a m e n t e c o m p r e e n d i d o , este
segunda vez.
i m p o r t a n t e verso, q u e abre o assunto sobre
I C o r í n t i o s 2:7 faz uso d o t e r m o "misté- línguas e m I C o r í n t i o s 14, n ã o sugere que o
r i o " pela p r i m e i r a vez nesta carta. Paulo afir- l o c u t o r fale p o r seu próprio espírito somen-
m a : " M a s nós falamos a sabedoria de Deus te a Deus, e que este seja o propósito d o
e m mistério, a sabedoria oculta, que Deus falar e m línguas. T a m b é m n ã o p o d e ser i n -
p r e d e s t i n o u desde a eternidade para nossa f e r i d o que sua fala e m línguas seja de n a t u -
glória" ( N A S B ) . N o contexto mais a m p l o de reza estática, c o m a produção de sílabas sem
seu a r g u m e n t o neste capítulo, Paulo usa o sentido, simplesmente p o r q u e n ã o é c o m -
t e r m o " m i s t é r i o " para r e s u m i r t o d o o pla- p r e e n d i d o pelos o u v i n t e s . Este verso n ã o
n o d i v i n o da salvação revelado p o r Deus quer dizer que o que está sendo p r o f e r i d o
d e n t r o de u m ú n i c o t e r m o t o d o abarcante. 62
são " m i s t é r i o s " o u "segredos" desconheci-
U m " m i s t é r i o " é algo que é invariavelmen- dos e, p o r isso, são articulações ininteligíveis
te revelado p o r Deus e está relacionado c o m representadas p o r u m a fala sem nexo.
C r i s t o e a proclamação a respeito de Cris-
Observamos que os "mistérios" u m a vez
t o . ' Esta ideia de revelação é básica para a
6

ocultos são verdades sobrenaturais reveladas


compreensão d o sentido de mistério.
p o r D e u s a r e s p e i t o de C r i s t o . E m I
Estes exemplos de I C o r í n t i o s m o s t t a m C o r í n t i o s 4 : 1 , os " m i s t é r i o s " " d e n o t a m a
que " m i s t é r i o " é algo positivo. U m mistério pregação cristã dos apóstolos e mestres." 65

que fora u m a vez escondido p o r Deus, ago- E m o u t r a carta, o próprio Paulo pede aos
ra t e m sido p o r Ele revelado. Isto está e m efésios para que orassem e m seu favor para
h a r m o n i a c o m o uso n o singular de outros que pudesse ser capaz de t o r n a r c o n h e c i d o
escritos p a u l i n o s . R o b e r t s o n e P l u m m e r o mistério d o evangelho c o m " c o r a g e m " (Ef
parecem estar certos q u a n d o a f i r m a m que 6:19, N R S V ) .
"mystérion n o N T geralmente significa a 'ver-
Portanto, I Coríntios 14:2 não sugere que
dade acerca de Deus, u m a vez escondida,
o falar e m línguas seja u m a glossolalia, n o
mas agora r e v e l a d a ' . " E m I C o r í n t i o s 14:2
64

sentido de fala ininteligível de sílabas sem


os "mistérios" são as verdades de Deus u m a
nexo, e que "mistérios" sejam falas de "se-
vez escondidas p o r Ele sobre o p l a n o da sal-
gredos" o c u l t o s c o n h e c i d o s s o m e n t e p o r
vação e que agora passam a ser conhecidas
Deus. Este texto realmente atesta o falar e m
e reveladas na sua t o t a l i d a d e . M e d i a n t e o
línguas c o m o sendo u m a l i n g u a g e m h u m a -
Espírito Santo, aquele que fala e m línguas
na conhecida, pela q u a l os "mistérios" reve-
fala a respeito dos "mistérios," isto é, a ver-
lados de Deus são feitos conhecidos à raça
dade a respeito de Deus e a mensagem so-
humana.
bre C r i s t o , o u t r o r a oculta, mas agora total-
mente revelada. Porém estes "mistérios" não
são " e n t e n d i d o s . " Paulo quer dizer que aque- O FALAR EM LÍNGUAS
les que realmente f a l a m e m línguas, profe- E A COMPREENSÃO
r e m m u i t o s "mistérios" o u verdades de Deus
que estavam ocultos e que agora f o r a m re- O a s s u n t o s o b r e c o m p r e e n s ã o surge
velados. Mas mesmo assim f a l a n d o , é p o r c o m o u m tema de grande importância para
m e i o d o Espírito Santo, e não serão úteis se t o d o o c o n t e x t o d o falar e m línguas de I
não f o r e m e n t e n d i d o s . C o r í n t i o s 14. O verso 2 a f i r m a : " p o r q u e
n i n g u é m o e n t e n d e " ( N I V ) o u "os enten-
A ideia p r i n c i p a l de I C o r í n t i o s 14:2 é d e m " ( N R S V ) . O p r o n o m e "o/os" n ã o está
que as pessoas, os ouvintes, devem receber n o texto o r i g i n a l e f o i acrescentado pelos
a l g u m benefício d o d o m espiritual de falar tradutores.

-28
Precisamos investigar c u i d a d o s a m e n t e Seria esta "fala/palavra" "ininteligível," d i -
q u a l o sentido da palavra " e n t e n d e r " e q u e m fícil "de entender," n ã o "reconhecida facil-
é aquele que n ã o entende. Posteriormente, mente," não "clara," somente dirigida a
o texto é explícito e m a f i r m a r que aqueles Deus p o r q u e a entende e, assim, tornándo-
que escutam alguém falando e m o u t r a lín- se inacessível à compreensão humana? O u
gua n ã o e n t e n d e m q u e m lhes fala. Desde será que n ã o é e n t e n d i d a p o r ser a "fala/
que n ã o haja " c o m p r e e n s ã o " p o r parte dos palavra" ininteligível e m si mesma?
ouvintes, aquele que está falando e m línguas
Este q u e s t i o n a m e n t o focaliza a natureza
fala para Deus e n ã o a pessoas. E m b o r a o
da i n i n t e l i g i b i l i d a d e da "fala/palavra." N ã o
emissor fale e seja o u v i d o , n ã o é compreen-
há evidência para sugerir que o t e r m o grego
d i d o . Apenas q u a n d o alguém fala t e n d o e m
lógos, cujo significado n a t u r a l é " p a l a v r a , " 69

vista o propósito d o d o m de línguas, as pes-


ao ser usado a q u i p o r Paulo e t r a d u z i d o cor-
soas, os ouvintes, o c o m p r e e n d e r ã o .
retamente p o r " f a l a , " tenha a c o n o t a ç ã o de
O fato de que as pessoas n ã o e n t e n d a m algo ininteligível. Pode ser sugerido, c o m
o que o emissor fala n ã o significa n e m que base n o uso d o t e r m o lógos, que a "fala/pa-
seu discurso seja estático, n e m que a fala lavra" seja "ininteligível" e m v i r t u d e d o dis-
seja ininteligível, o u que estejam sendo usa- curso estar d i s t o r c i d o . Mas a q u i , pelo con-
das sílabas sem n e x o o u sem s i g n i f i c a d o . trário, a fala n ã o é "reconhecível" e "clara"
Q u e r dizer apenas que não existe n i n g u é m p o r q u e os ouvintes n ã o a e n t e n d e r e m c o m o
que entenda a língua estrangeira d o que fala. sendo parte de u m a língua conhecida. A o
Por isso, Paulo insiste que haja alguém pre- e s c u t a r a l g u m a coisa, u m " s o m " (grego
sente que seja capaz de " i n t e r p r e t a r " (vs. 13, phoné), c o m o declara o verso 11 (a mesma
27). Iremos enfocar este assunto sobre " i n - palavra significa "língua" nos vs. 12-13), a
terpretação," e m detalhes, mais adiante. n ã o ser que esta "fala/palavra" (phoné n o
sentido de " l í n g u a " ) seja i n t e r p r e t a d a o u
70

A questão da c o m p r e e n s ã o está relacio-


traduzida, n ã o será c o m p r e e n d i d a , perma-
nada a I C o r í n t i o s 14:9 que diz que "se você
necendo ininteligível ao o u v i n t e .
p r o f e r i r algumas palavras n u m a língua
ininteligível, c o m o pode alguém saber o que Estas considerações levam à conclusão
é d i t o ? " ( N R S V ) . A p r i m e i r a parte desta sen- de que a c o m p r e e n s ã o está centrada n o o u -
tença seria m e l h o r traduzida c o m o : "a me- v i n t e e não n o emissor. N ã o é o caso d o que
nos que você e x p o n h a através da fala da lín- tala o fazer p o r m e i o de u m b a l b u c i a r
gua" ( N A S B , N K J V ) , o que indica que a "lín- d i s t o r c i d o de sílabas o u palavras sem senti-
gua" é u m órgão na boca d o emissor, pelo 66
d o . É o discurso e m u m a língua estrangeira
q u a l as palavras o u a fala provêm. que não é e n t e n d i d o pelo o u v i n t e . Este con-
ceito irá ajudar, mais adiante, a clarificar o
A "fala" é considerada "ininteligível"
assunto sobre a natureza d o falar e m línguas.
( N R S V , N I V , etc), n ã o "clara" ( N A S B ) , n ã o
A i n i n t e l i g i b i l i d a d e refere-se ao(s) ouvinte(s)
" f a c i l m e n t e c o m p r e e n d i d a " (KJV), o u n ã o
e n ã o necessariamente ao teor d o que é d i t o
"fácil de se c o m p r e e n d e r " ( N K J V ) . A pala-
pelo que fala e m línguas.
vra grega eusemos, que é usada neste texto,
n ã o aparece e m n e n h u m o u t r o lugar d o O verbo t r a d u z i d o p o r " e n t e n d e r " e m I
N o v o T e s t a m e n t o . N o grego extra-bíblico C o r í n t i o s 14:2 é o t e r m o grego akoúo. Essa
quer dizer a q u i l o que é " f a c i l m e n t e reconhe- expressão grega possui u m sentido especial
cível, claro, d i s t i n t o . "
67 que ajuda a esclarecer o assunto da compre-
ensão. Akoúo c o n t é m a ideia de que as "pes-
Será que esta " f a l a " p r o f e r i d a p o r Paulo soas" r e a l m e n t e o u v i a m a " f a l a / p a l a v r a "
e que n u m a tradução literal significa "pala- (lógos) e a " l i n g u a g e m " (phoné) d o emissor,
v r a " (grego lógos), seja u m a glossolalia, n o mas eram incapazes de compreender o seu
sentido de "balbucios ininteligíveis de síla- significado. É próprio c o n c l u i r que o senti-
bas sem sentido, ditas e m sequência, c o m d o deste verso e m grego " n ã o significa que
c o m b i n a ç õ e s sem significado, provenientes as línguas e r a m inaudíveis, o u que ninguém
d o subconsciente da mente d o h o m e m " ? 68

-29
as escutava, mas que n i n g u é m as achou i n - to, e que agora são revelados p o r Deus me-
teligível." A i n t e l i g i b i l i d a d e d o que era fa-
71
d i a n t e o E s p í r i t o S a n t o . C o n t u d o , estes
lado n ã o parece apoiar-se na natureza d o " m i s t é r i o s " p e r m a n e c e m sem s e n t i d o ao
" s o m " (phoné), mas n a natureza da habilida- o u v i n t e e n q u a n t o não houver interpretação,
de das pessoas e m entendê-las, c o m o v i m o s isto é, tradução, a q u a l possibilitaria c o m
acima. que essa "língua" (grego phoné), que não lhe
era acessível, pudesse ser, então, e n t e n d i d a .
Estes termos gregos, isto é, o v e r b o akoúo,
"entender," e m conjugação c o m os substan- Paulo esclarece que, d e v i d o a algumas
tivos "línguas" (glôssa) e " l i n g u a g e m " (phoné), circunstâncias, é impossível para alguém que
são usados na Septuaginta (a tradução mais esteja escutando u m a pessoa f a l a n d o n u m a
antiga d o V e l h o Testamento para a língua língua/linguagem i d e n t i f i c a r se esta está o u
grega) n u m a passagem realmente significa- não se d i r i g i n d o a Deus (14:2,28), pois Deus
tiva para nosso estudo. Estas mesmas pala- n ã o é l i m i t a d o a u m a língua h u m a n a espe-
vras são usadas e m G é n e s i s 11:1-9 e m cone- cífica. C o n t u d o , c o m o Deus é o o r i g i n a d o r
xão c o m a história da confusão de línguas de todos os dons espirituais, se n ã o existe
o c o r r i d a na T o r r e de Babel. N a Septuaginta, ninguém c]ue possa entender a língua/lin-
Génesis 11:7 revela que Deus " c o n f u n d i u guagem d o emissor, esta ainda pode ser com-
suas línguas (grego glôssa), para que n ã o en- preendida p o r Deus. Devemos nos l e m b r a r
tendessem (grego akoúo) cada u m a língua que t o d a a discussão de Paulo e m I Coríntios
(grego phoné) de seu p r ó x i m o . " 72
14 mostra que o falar e m línguas deve servir
para o crescimento da igreja e n ã o para a
O fato de Paulo ter usado a mesma ter- edificação própria.
m i n o l o g i a presente na sua Bíblia Grega, na
c o m b i n a ç ã o exata e de m a n e i r a tão própria,
parece d e m o n s t r a r que a i n i n t e l i g i b i l i d a d e O FALAR EM LÍNGUAS E AS RELIGIÕES
d o que f o i d i t o n ã o decorre d o fato de que HELÉNICAS DE MISTÉRIO
línguas h u m a n a s n ã o f o r a m usadas. C o m o
resultado da confusão de "línguas" (glôssa) U m m é t o d o de i n t e r p r e t a ç ã o b í b l i c a
o c o r r i d o na T o r r e de Babel, a nova língua m u i t o usado n o p e r í o d o m o d e r n o t e n t a
(phoné) ñ
de cada v i z i n h o simplesmente n ã o i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 valendo-se dos
era " e n t e n d i d a " (akoúo) pelo o u t r o . Para que recursos p r o v i n d o s de supostos paralelos
os ouvintes sejam incapazes de "entender," crítico-históricos encontrados nas religiões
é o b v i o q u e t e n h a m p a r t i c i p a d o de u m a
gregas de mistério. Desta f o r m a , e r u d i t o s
l o c u ç ã o audível, mas sem c o m p r e e n d e r o
seguidores d o m é t o d o crítico-histórico pro-
significado da língua falada. Este paralelo
c u r a m i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 t e n d o
c o m a experiência da T o r r e de Babel indica
que o falar e m línguas é o d o m inverso à c o m o base os bastidores de algumas religi-
confusão de línguas/linguagem o c o r r i d a na ões existentes n o m u n d o h e l é n i c o , n o perí-
Torre de Babel, c o m o propósito de facilitar o d o anterior, c o n t e m p o r â n e o e mesmo pos-
a v o n t a d e de Deus e m c o m u n i c a r as Boas- terior a Paulo.
Novas para as pessoas e m todas as línguas/
H á a l g u m t e m p o atrás, R. Reitzenstein
linguagens.
a f i r m o u que "é necessário a d m i t i r que as
Emerge aqui o u t r o aspecto relevante. I 'manifestações d o Espírito' na c o m u n i d a d e
C o r í n t i o s 14:2, se c o m p r e e n d i d o correta- cristã n ã o são ú n i c a s , mas p e r t e n c e m ao
mente, n ã o nos ensina que o falar e m lín- êxtase místico d o h e l e n i s m o . P o r t a n t o , é
guas se destina a u m a c o m u n i c a ç ã o direta característico que Paulo tenha reconhecido
c o m D e u s . M u i t o s glossolalistas sugerem tão claramente o perigo que recaía na ado-
que a glossolalia é u m d o m v o l t a d o direta- ção desta f o r m a de prática [pagã] sem, con-
mente a Deus, e usam c o m o base I C o r í n t i o s
t u d o , ousar removê-la c o m p l e t a m e n t e . " 7 4

14:2. Este verso, e n t r e t a n t o , n ã o t e m esta


Reitzentein t r a n s f o r m o u Paulo n u m a pes-
proposta. N o texto, falar e m línguas é a co-
soa capaz de fazer concessões na área da re-
m u n i c a ç ã o audível dos "mistérios" d i v i n o s
ligião. Era Paulo este t i p o de h o m e m ?
d o p l a n o da salvação, i n c o r p o r a d o s e m Cris-

-30-
O artigo escrito p o r Johannes B e h m n o r i a l v i t a l deve v i r para ter-se u m a clara c o m -
Theological Dictionary of tfie New Testament é preensão d o q u a d r o c o m p l e t o . E m relação
o u t r o exemplo típico o n d e os paralelos são à questão de paralelos c o m outras religiões,
usados para se estabelecer que o falar e m p e r m i t e m apenas conclusões limitadas c o m o
línguas de C o r i n t o estava associado à fala u m a ajuda na avaliação de acontecimentos
estática encontrada nas culturas que t o m a r a m lugar nas congregações cris-
circunvizinhas. " E m C o r i n t o , portanto, tãs p r i m i t i v a s . " D e l l i n g sabe de que estes
79

glossolalia é u m a declaração estática possíveis paralelos não estão realmente des-


ininteligível. U m a de suas formas de expres- crevendo o m e s m o f e n ó m e n o .
são é u m a m u r m u r a ç ã o , o u sons sem inter-
H . K l e i n k n e c h t considera o "falar e m lín-
relação o u significado. Paralelos deste fenó-
m e n o p o d e m ser encontrados e m várias for- guas" e m C o r i n t o c o m o " u m r e f l e x o da
mas, e m diversos períodos e lugares na his- profetização p i t i â n i c a . " E m D e l f o s , u m a
80

tória das r e l i g i õ e s . " Refere-se p a r t i c u l a r -


75 pítia o u sacerdotisa, balbuciava expressões
mente à religião grega, o n d e há supostamen- obscuras b e m c o m o a l g u m t i p o de fala inte-
te " u m a série de f e n ó m e n o s comparáveis, ligível q u a n d o t o m a d a e m "espírito" e arre-
desde a adoração entusiástica de D i o n í s i o batada e m êxtase (grego ekstásis). Os efeitos
T r a c i a n o . . . ao m a n t i c i s m o a d i v i n h a d o r da físicos d o êxtase pitiânico são "o balançar
Frigia deifica, de Bacides, de Sibélios, e t c . " 76
exagerado dos cabelos, respiração ofegante,
B e h m faz referência a u m grande n ú m e r o possessão o u desvarios v i o l e n t o s n u m fre-
de textos na língua grega. E n q u a n t o fala de nesi b a c â n t i c o . "81
E m Delfos, a q u i l o que
"paralelos" e "fenómenos comparáveis," era d i t o p o r u m a pítia deveria, e n t ã o , ser
n e n h u m dos exemplos citados usa, sequer, i n t e r p r e t a d o p o r sacerdotes que se encon-
a expressão "falar e m línguas." Referem-se, travam lúcidos (grego sophron). 82

pelo contrário, ao m a n t i c i s m o e várias for-


mas de a d i v i n h a ç õ e s . N ã o estaria B e h m Se Paulo tivesse descrito e m I C o r í n t i o s
c o m p a r a n d o maçãs c o m laranjas? 12-14 u m f e n ó m e n o tal c o m o estes, não te-
ria escolhido, pelo menos, expressões rela-
O recente c o m e n t á r i o de I C o r í n t i o s cionadas c o m estas práticas das religiões v i -
p u b l i c a d o p o r C h r i s t i a n W o l f traz exemplos zinhas? A natureza d o c u l t o em Delfos é so-
de entusiasmo religioso e m vários escrito- l i d a m e n t e descrito c o m o a obra elo mantis
res clássicos, tais c o m o e m Eurípedes, Platão, o u "profeta, a d i v i n h o . " Paulo n u n c a u s o u
Aésquilus, Lívio e P l u t a r c o . D e n o v o , W o l f
77
este t e r m o . A i n d a , não usa n e n h u m dos ter-
n ã o é capaz de citar n e m sequer u m ú n i c o mos conhecidos para descrever.esta prática
exemplo de glossolalia o u falar e m línguas das religiões helénicas.
n o m u n d o h e l é n i c o antigo.
A experiência física d o mantis o u "adivi-
H a n s C o n z e l m a n n , que escreveu u m res-
n h o " é o "êxtase" (grego ekstásis), p o r t a n t o ,
p e i t a d o c o m e n t á r i o sobre I C o r í n t i o s , de-
u n i a vez t e n d o e n t r a d o n u m frenesi, é inca-
clara q u e se alguém deseja "desvendar [o
paz de avaliar a q u i l o que vê o u d i z . A o con-
M

f e n ó m e n o de línguas], deve buscar nos pa-


trário, Paulo demonstra que aquele que fala
ralelos históricos-religiosos que estão expres-
em línguas está sempre e m c o n t r o l e . Insis- 84

sos nas a d i v i n h a ç õ e s m â n t i c a s na f o r m a
te que somente dois o u três d e v e r i a m falar
c o m o aparecem especialmente e m D e l f o s . " 78

e m sequência e e n t ã o serem i n t e r p r e t a d o s .
A parte dos problemas h e r m e n ê u t i c o s des-
pertados p o r esta abordagem, os e r u d i t o s Os que f a l a m e m línguas p o d e m ficar e m
n ã o são u n â n i m e s na questão se os supos- silêncio (I C o 14:28) e as línguas p o d e m ser
tos paralelos helénicos p o d e m realmente ser controladas, de m o d o que possam ser ex-
observados n o caso da adivinhação mântica, pressas n u m a sucessão ordenada (v. 2 7 ) . 85

presente n o c u l t o a A p o l o e m Delfos o u n o
Diversos escritores antigos referem-se a
c u l t o orgístico a D i o n í s i o .
êxtases e práticas de m a n t i c i s m o . C o n t u d o ,
G e r h a r d D e l l i n g , e m b o r a r e c o r r e n d o ao estes termos e conceitos n ã o são usados ne-
mesmo m é t o d o , é cauteloso na afirmação n h u m a vez n o N o v o Testamento nas passa-
de que "é d o N o v o Testamento que o mate- gens que se r e f e r e m ao falar e m línguas.

-31
Existe, n a t u r a l m e n t e , nestas obras clássicas de falar e m línguas de I C o r í n t i o s permane-
u m a variedade de definições para ê x t a s e . 86
ce peculiar n o m u n d o antigo. Este d o m é,
O exemplo mais claro é d a d o p o r Plutarco p o r t a n t o , incapaz de ser i n t e r p r e t a d o n a
ao referir-se ao oráculo e m D e l f o s . É assu- 87
base de u m possível " f e n ó m e n o compará-
m i d o f r e q u e n t e m e n t e que n o oráculo e m v e l , " que, e m realidade, n ã o existe. Paulo
9 3

Delfos " u m a m â n t i c a . . . procurava inspira- não c o m p a r t i l h a dos conceitos presentes nas


ção d i v i n a que a h a b i l i t a r i a a falar de f o r m a religiões gregas de mistério, e m que certas
e s t á t i c a . " Este t i p o de declaração é típica e
88
declarações proferidas p o r indivíduos pos-
poderia ser d u p l i c a d a m u i t a s vezes. C o n t u - sessos c o n t i n u a m "obscuras" mesmo aos que
d o , n u m a recente reavaliação deste fenóme- as p r o n u n c i a m . Estas diferenças cruciais
9 4

n o n o oráculo d e i f i c o tem-se levado a con- n ã o d e v e m ser n e m menosprezadas, n e m ,


c l u i r que " n ã o há evidência decisiva para p o r o u t r o lado, servirem c o m o argumentos
i n d i c a r que as sacerdotisas pitiânicas falas- para se estabelecer u m paralelo c o n t e x t u a l .
sem seus oráculos [em Delfos] de f o r m a aná- U m a m e t o d o l o g i a que seja realmente eru-
loga à glossolalia." A s sacerdotisas, n o orá-
89
d i t a será sempre sensível às s i m i l a r i d a d e s
culo deifico, eram capazes de c o m u n i c a r seus b e m c o m o às diferenças provindas de u m a
oráculos t a n t o de f o r m a o r a l c o m o de for- prática comparativa. Se a esta m e t o d o l o g i a
m a escrita, e m prosa o u e m p o e s i a . O fato 90
não é dada a seriedade esperada, certamen-
destes oráculos serem considerados c o m o te surgirá u m q u a d r o d i s t o r c i d o . A s s i m ,
"obscuros" (grego asaphe) não significa que alertaríamos os leitores d o tema sobre o fa-
alguma tradução seja necessária o u que os lar e m línguas a serem cuidadosos c o m res-
o r á c u l o s estivessem n u m a l i n g u a g e m p e i t o às alegações de possíveis paralelos en-
ininteligível. Isto apenas d e m o n s t r a que era contrados nas religiões helénicas antigas o u
difícil descobrir o que as palavras proferi- mesmo noutras religiões.
das nos o r á c u l o s r e a l m e n t e s i g n i f i c a v a m
q u a n d o aplicadas a u m a situação p a r t i c u -
lar. 91
O FALAR EM LÍNGUAS
E A EDIFICAÇÃO DA IGREJA
Os exemplos que são citados p o r vários
eruditos como "paralelos" do m u n d o Paulo emprega três figuras de l i n g u a g e m
helénico antigo necessitam u m a reavaliação vindas da área da c o m u n i c a ç ã o ( I C o 14:6-
cuidadosa. N ã o t r a t a m d o falar e m línguas 8) c o m o propósito de caracterizar o "falar
o u glossolalia, mas de profecia e manifesta- e m línguas" c o m o era praticado pela con-
ções mânticas. A verdade é que n ã o há exem- gregação de C o r i n t o e c o m o este beneficia-
p l o c o n h e c i d o até h o j e v i n d o d o m u n d o va a igreja.
antigo que usa a l i n g u a g e m empregada p o r
O p r i m e i r o a r g u m e n t o v e m da possibili-
Paulo o u o u t r o escritor n e o t e s t a m e n t á r i o
dade de u m a visita de Paulo aos crentes de
q u a n d o se r e f e r e m ao "falar e m línguas."
C o r i n t o . "Mas agora, irmãos, se eu f o r ter
M e s m o q u e fontes recentes e respeitadas
convosco f a l a n d o e m línguas, e m que vos
refiram-se à "fala estática" ininteligível c o m o
" u m elemento das religiões h e l é n i c a s , " ne- 92
serei útil, a menos que vos fale o u p o r m e i o
n h u m destes eruditos trouxe a i n d a q u a l q u e r da revelação, o u d o c o n h e c i m e n t o , o u da
evidência de u m a prática que fosse igual à profecia o u d o ensino?" ( I C o 14:6, N A S B ) .
glossolalia m o d e r n a , o u que seja idêntica o u Esta lista quádrupla — "revelação, profe-
que evidencie u m paralelo fiel ao "falar e m
cia, c o n h e c i m e n t o e e n s i n o " — consiste n o
línguas" d o N o v o Testamento. Evidente-
m o d o básico de c o m o a verdade de Deus
mente, nestes pretensos "paralelos" f a l t a m
f o i c o m u n i c a d a aos coríntios. T e m sido su-
os elementos essenciais para serem conside-
gerido que revelação e profecia f o r m a m u m
rados, então, c o m o verdadeiros paralelos.
par que se refere à "recepção o u a posse de
Q u e r seja o d o m d e l í n g u a s e m I informação ( o u seja, é de f o r m a p a r t i c u l a r
Coríntios 12-14 interpretado como que os h o m e n s 'recebem' o u ' t ê m ' revela-
glossolalia o u c o m o o falar e m línguas h u - ções, concedidas somente p o r Deus: I C o
manas n ã o aprendidas previamente, o d o m 2:10, Fp 3:15; . . . ) . " Este p o n t o é de grande
9 5

relevância.

-32
Já o segundo par de termos, isto é, co- O o b j e t i v o destes exemplos é claro. O
n h e c i m e n t o e ensino, "refere-se à c o m u n i - p o n t o decisivo é que o significado d o que é
cação da i n f o r m a ç ã o (a profecia o u ensino falado seja compreensível a p a r t i r dos "sons"
é p u b l i c a m e n t e falada o u escrita p o r seres produzidos. O propósito é que o c o n t e ú d o
h u m a n o s a o u t r o s : 1 T i 1:18, 2 Pe 1:21, A p da mensagem possa ser levado ao conscien-
1:3, M i 4:2, A t 5:28, R m 16:17, 2 Jo 1 0 ) . " %
te e que ações devidas possam ser tomadas
A q u i Paulo v o l t a a falar sobre línguas, que é c o m o resultado. C o n t u d o , estas caracterís-
a m a n e i r a e m que se dá a c o m u n i c a ç ã o d o ticas estão ausentes naqueles que "estão fa-
c o n t e ú d o da revelação de Deus. Se o falar l a n d o p o r m e i o de línguas" ( I C o 14:9). Esta
e m línguas n ã o resulta e m c o m u n i c a ç ã o , "mensagem" (logos) " n ã o é clara" (eusemon)
c o m o pode beneficiar a igreja? O falar e m o u " d i s t i n t a " o u "facilmente r e c o n h e c í v e l . "
98

línguas é para o benefício da igreja; n ã o é Ê evidente que este falar e m línguas " n ã o
para o benefício da pessoa que fala e m lín- era algo somente b a l b u c i a d o , sem nexo, mas
guas. que a pessoa inspirada na igreja de C o r i n t o
falava u m a língua ininteligível e m relação à
A ideia chave é esta: " q u e p r o v e i t o isto
m a i o r i a dos o u v i n t e s . "
99

trará a v o c ê . " Paulo insiste que o falar e m


línguas é proveitoso para a igreja. Se consis- D e v i d o ao fato da língua não p o d e r ser
te n u m m e r o falar, sem alcançar o resulta- e n t e n d i d a p o r outros, n ã o resultaria n o f i m
d o de profetizar à igreja, que benefício exis- desejado. P o r t a n t o , aquele que está falando
te nisto? A o falar e m línguas, o o r a d o r deve n u m a língua/linguagem está " f a l a n d o ao ar"
c o m u n i c a r u m a "revelação, profecia, conhe- (I C o 14:9). Esta última expressão era pro-
c i m e n t o e e n s i n o , " isto é, u m a mensagem verbial 100
e significava que se n e n h u m a i n -
de Deus que é dada para o enlevo da igreja. terpretação fosse dada, t a l fala n ã o seria pro-
Desta f o r m a , a língua/linguagem e m que os v e i t o s a aos o u v i n t e s . " O o u t r o n ã o é
falantes de línguas f a l a m deve ser e n t e n d i - e d i f i c a d o " ( I C o 14:17), c o m o Paulo declara
da; se não é c o m p r e e n d i d a , e n t ã o u m inter- mais adiante. O ú n i c o que é edificado é o
prete o u t r a d u t o r deve ser usado para que que fala ( I C o 14:4), mas este n ã o é o propó-
esta alcance seu objetivo e atinja a f u n ç ã o e sito pelo q u a l o d o m de línguas f o i concedi-
0 propósito designados. do.

Os outros dois argumentos de Paulo e m A terceira ilustração de Paulo v e m da área


1 C o r í n t i o s 14:7, 8 provêm d o c a m p o da da c o m u n i c a ç ã o h u m a n a ( I C o 14:10-12).
m ú s i c a , o n d e i n s t r u m e n t o s musicais são Todas as línguas humanas conhecidas eram
usados para c o m u n i c a r u m a mensagem a faladas na metrópole política e comercial de
o u t r o s . I n s t r u m e n t o s musicais, se f l a u t a o u C o r i n t o , c o m seus dois p o r t o s adjacentes,
harpa, p o d e m p r o d u z i r u m a sequência or- "e esta d i f e r e n ç a de l i n g u a g e m era u m a
denada de notas distinguíveis, isto é, u m t o m barreira frequente à ação c o m u m . A l é m d o
identificável e desta m a n e i r a p o d e m c o m u - mais, era b e m c o n h e c i d o q u ã o desgastante
nicar ao âmago da alma de u m a pessoa. " U m p o d e r i a ser para duas pessoas inteligentes
soar estridente sem objetivo n ã o representa serem ininteligíveis u m a à o u t r a . " 1 0 1

n a d a . " U m soldado deve reconhecer se a


97

Paulo escreve: "quantas espécies diferen-


t r o m b e t a é soada i n d i c a n d o u m c h a m a d o tes de s o n s existem o u p o d e m existir n o
102

de avanço o u de retirada, se esta estiver c u m - m u n d o " (v. 10, N E B ) , mas n ã o existe u m


p r i n d o seu propósito. povo que viva "sem u m a língua"
1 0 3

O p r o b l e m a está entre i n t e l i g i b i l i d a d e e [apKonon] (v. 10b). A ideia proposta pelo


104

verso 10 é que existem tantos tipos diferen-


i n i n t e l i g i b i l i d a d e . Q u e b e n e f í c i o existe e m
tes de falas, sons e línguas n o m u n d o que
falar e m u m a língua se esta é ininteligível
n e n h u m ser h u m a n o pode conhecê-los to-
àqueles a q u e m é dirigida? N ã o serve para o
dos. C o m esta perspectiva, Paulo passa a
seu propósito designado. Falar u m a língua/
mostrar que se u m a pessoa n ã o conhece o
l i n g u a g e m deve servir o p r o p ó s i t o de ser
significado da fala que lhe é d i r i g i d a , " e u
inteligível.
seria para aquele que fala u m bárbaro [es-

-33
trangeiro, N R S V ] , e aquele que fala seria u m O FALAR EM LÍNGUAS
bárbaro [estrangeiro, N R S V ] para m i m " (v.
COMO UM SINAL PARA INCRÉDULOS
11, N A S B ) .
E m I C o r í n t i o s 14:20-25 Paulo c o m e n t a
A expressão " b á r b a r o " é u m t e r m o
pela p r i m e i r a vez sobre a impressão o b t i d a
o n o m a t o p é i c o para u m a pessoa q u e fala
pelos incrédulos q u a n d o e n t r a m n u m a reu-
u m a língua estrangeira, isto é, alguém que
nião de igreja e o u v e m os m e m b r o s falando
não é grego, o u simplesmente u m "estran-
g e i r o . " A ideia é que a l i n g u a g e m de u m
105
s i m u l t a n e a m e n t e e m línguas. A reação dos
grego era "grego" para q u a l q u e r u m que não i n c r é d u l o s n ã o será favorável. " Q u a n d o ,
o entendesse e vice-versa; a l i n g u a g e m de u m p o r t a n t o , t o d a igreja se reúne e todos f a l a m
"estrangeiro" era "grego" n o sentido de ser e m línguas, e e n t r a m estranhos o u incrédu-
estrangeira a u m grego nativo, que n ã o t i - los, não irão dizer que vocês estão l o u c o s " 7

n h a n e n h u m c o n h e c i m e n t o da l i n g u a g e m (I C o 14:23, N R S V ) . Paulo parece descrever


deste "estrangeiro." Esta observação de Pau- u m a situação hipotética para servir de ilus-
lo relembra a queixa feita p o r O v í d i o quan- tração. 108

d o e m exílio n o M a r N e g r o : " e u a q u i sou


Os " t o d o s " que estariam f a l a n d o e m lín-
u m bárbaro p o r q u e n i n g u é m m e entende,
guas n o verso 23 d i f i c i l m e n t e quer dizer que
e o estúpido getão ri-se de m i n h a fala lati-
cada m e m b r o da congregação de C o r i n t o
na." 1 0 6
Esta ilustração e m relação ao "estran-
falasse e m línguas, p o r q u e a palavra " t o d o s "
g e i r o " m o s t r a u m a vez m a i s q u e e m I
C o r í n t i o s 14 Paulo realmente quer dizer l i n - é usada t a m b é m n o caso de profetizar n o
guagem q u a n d o escreve "língua." verso 24, o n d e é usada n o sentido de apro-
vação deste d o m . Se a palavra " t o d o s " está
1 0 9

A ilustração de Paulo i n d i c a que se al- sendo usada a q u i n o sentido genérico, dá a


guém e m i t e u m a fala n u m a l i n g u a g e m que impressão de que m u i t o s m e m b r o s falavam
não seja e n t e n d i d a pelo o u v i n t e , n e n h u m a e m línguas e o que era p r o f e r i d o n ã o p o d i a
c o m u n i c a ç ã o efetiva ocorre. Esta aplicação ser c o m p r e e n d i d o pelos "visitantes o u i n -
é feita à situação da igreja de C o r i n t o . Re- crédulos," p o r q u e havia m u i t a confusão na
conhece (v. 12) o desejo dos coríntios p o r
fala simultânea de línguas estrangeiras.
dons espirituais (pneumatikon). 107
Ele próprio
t i n h a acabado de incitá-los "a desejarem os Os "estranhos" (grego idiotai, c o m o sen-
dons espirituais" (v. 1). C o n t u d o , se n e n h u - t i d o de " d e s c o n h e c i d o , " " f o r a s t e i r o " - a
m a c o m u n i c a ç ã o efetiva ocorre p o r m e i o de V A R A traduz c o m o " i n d o u t o s " ) m e n c i o n a -
u m a "revelação o u ciência, profecia o u d o u - dos a q u i e m I C o r í n t i o s 14:23 n ã o são n e m
t r i n a " (v. 6), esta n ã o está s e r v i n d o para seu c r i s t ã o s de o u t r a s c o n g r e g a ç õ e s , n e m
propósito público de edificação da igreja (v. catecúmenos da própria igreja de C o r i n t o . 1 1 0

12). O c o n t e x t o lança luz sobre q u e m seriam


estas pessoas. S ã o m e n c i o n a d o s e m c o m b i -
Paulo n ã o c o n d e n a o falar e m línguas,
n a ç ã o c o m os " i n c r é d u l o s " (grego apistoi).
mas ressalta sua l i m i t a ç ã o q u a n d o n ã o é
Este ú l t i m o t e r m o explica-se a si m e s m o .
c o m p r e e n d i d a e q u a n d o n ã o serve para seu
Desde que " e s t r a n h o s " são m e n c i o n a d o s
propósito designado de edificar a igreja. j u n t o c o m " i n c r é d u l o s , " tais " e s t r a n h o s "
R e p e t i d a m e n t e Paulo enfatiza q u e os parecem ser n ã o cristãos. O t e r m o "estra-
111

dons espirituais, se p o r m e i o de línguas, o u n h o " é a descrição objetiva daquele que n ã o


profecia o u a l g u m o u t r o d o m , devem sem- é u m cristão e a designação " i n c r é d u l o " pode
pre possuir a função primária e que esta seja i n d i c a r a experiência subjetiva de u m a pes-
a "edificação da igreja" ( I C o 14:3, 5, 12, soa, t e n d o e m vista o evangelho que já lhe
26). Este aspecto recapitula o a r g u m e n t o de foi comunicado. ' 1 2

Paulo e m I C o r í n t i o s 14:1-5 o n d e ele exorta


Estes "estranhos e incrédulos" p o d e m ser
os m e m b r o s da igreja que t e n h a m o d o m o u não de o r i g e m grega. Estes dois termos
de falar e m línguas/linguagem para cons- n ã o especificam se são gregos o u m e s m o
truírem e e d i f i c a r e m a igreja e absterem-se estrangeiros. Os termos n ã o devem ser i n -
da edificação própria.

1A
terpretados c o m o idênticos aos "estrangei- O critério de Paulo para a avaliação dos
ros" (grego bárbaros) d o verso 11. O q u a d r o d o n s espirituais, p a r t i c u l a r m e n t e o de lín-
que Paulo descreve é claro. Se estranhos e guas, é a edificação o u crescimento da igre-
incrédulos, ao e n t r a r e m n u m c u l t o da igre- ja. Desde que o uso das línguas/linguagens,
ja, o u v i r e m os m e m b r o s da congregação fa- c o m o f o r a m descritas p o r Paulo, n ã o pro-
larem e m línguas o u u m a linguagem que não d u z i a m u m resultado positivo nos estranhos
conhecem, poderão c o n c l u i r que tais "falan- e incrédulos, estes n ã o são n e m "convenci-
tes" estão " l o u c o s " ( N A S B ) o u " f o r a de cons- d o s " o u " j u l g a d o s " ( I C o 14:24), n e m são
ciência" (NKJV, N R S V ) . "os segredos d o coração... revelados" ( I C o
14:25a). Desta f o r m a o propósito de se falar
A expressão grega usada para " l o u c o " o u
e m línguas/linguagens, a saber, a edificação
"fora de c o n s c i ê n c i a " é mainesthe. Pode se
da igreja, não é a t i n g i d o . O incrédulo n ã o
referir a u m a pessoa que t e n h a trazido notí-
está "prostrando-se sobre seu rosto, ... [não
cias incríveis ( A t 12:15) c o m o , p o r exemplo,
está] a d o r a n d o a Deus e d e c l a r a n d o q u e
u m a declaração surpreendente. Este é cha-
Deus r e a l m e n t e está entre v ó s " ( I C o
m a d o " l o u c o / f o r a de c o n s c i ê n c i a . " Paulo
insistiu e m sua defesa ante Festo que n ã o 14:25b). Este é o resultado f i n a l crucial que
estava " f o r a de s i " ( A t 2 6 : 2 5 ) . Estes d o i s acaba o c o r r e n d o , c o n t r á r i o ao p r o p ó s i t o
exemplos, o n d e o mesmo t e r m o é emprega- evidente d o falar e m línguas. Os "estranhos
d o , i n d i c a m que esta palavra n ã o se refere à e incrédulos" devem ser levados à conver-
l o u c u r a n o sentido de insanidade. são e a reconhecerem e a d o r a r e m a Deus.
Mas se n ã o p o d e m entender o que está sen-
H á u m a d u p l a c o n e x ã o entre esta passa- d o d i t o , que b e m há nisto? C o m o pode al-
gem de I C o r í n t i o s 14:22, 23 c o m a de A t o s guém alcançar o propósito designado p o r
2:13. A p r i m e i r a refere-se à reação dos i n - Deus? C o m o pode a igreja ser edificada?
crédulos q u a n d o expostos à fala e m línguas.
E m A t o s 2:13 u m g r u p o de pessoas são acu- Paulo observa enfaticamente que estes
sados de estarem bêbadas p o r falarem e m objetivos são alcançados pela profecia, mas
línguas estrangeiras. Este arrazoado teve o r i - deveriam ser t a m b é m a razão d o falar e m
gem naqueles que n ã o p o d i a m (e/ou n ã o línguas. O critério decisivo c o n t i n u a sendo
desejavam) e n t e n d e r o que os discípulos a "edificação" da igreja. Paulo esforça-se para
estavam d i z e n d o n o dia de Pentecostes. E m t o r n a r claro que o falar e m línguas é u m a
I C o r í n t i o s 14:23 Paulo adverte que o i n - atividade realizada pela igreja. Deve ter u m
crédulo o u estranho pode ser i n c o n v e n i e n - efeito positivo na missão e avanço da igre-
temente afetado se ouve e/ou não entende ja.113
T e m o o b j e t i v o de c o n t r i b u i r para o
o que é p r o f e r i d o n u m serviço desordenado crescimento da igreja.
na igreja.
A segunda correlação direta d o falar e m
O q u a d r o descrito p o r Paulo desta ativi- línguas e m I C o r í n t i o s 14 c o m A t o s 2:1-13;
dade na igreja pode ser e n t e n d i d o da seguin- 10:45-46; e 19:1-6 t e m que ver c o m o objeti-
te m a n e i r a : se u m m e m b r o da igreja de vo f i n a l d o falar e m línguas. Deve" atender a
C o r i n t o falasse u m a língua/linguagem (o missão e ao i m p u l s o evangelístico da igreja,
coptico, p o r exemplo), e houvessem "estra- p a r t i c u l a r m e n t e , o t e s t e m u n h o e a conver-
nhos o u incrédulos" que não soubessem esta são dos "estranhos e incrédulos." P o r t a n t o ,
língua/linguagem, c o m o p o d e r i a este estra- Paulo insiste que o falar e m línguas n ã o é
n h o saber o que é d i t o ( I C o 14:9), e c o m o u m sinal para crentes (v. 22). O falar e m
p o d e r i a D e u s ser beneficiado? E se o u t r a línguas/linguagens não fora c o n c e d i d o para
pessoa começasse a falar s i m u l t a n e a m e n t e ser de caráter particular, pessoal, ao contrá-
a língua dos nabateanos, e u m terceiro fa- r i o , seria u m d o m espiritual cujo propósito
lasse a língua dos partas e assim p o r d i a n t e , real p o d e t i a apenas ser alcançado se resul-
estranhos e incrédulos, visitantes à igreja, tasse n a "edificação" da igreja ao trazer "es-
os o u v i r i a m , mas e m v i r t u d e da fala s i m u l - t r a n h o s e incrédulos" à conversão e à ado-
tânea e de serem estranhos não e n t e n d e r i - ração d o Deus verdadeiro.
a m necessariamente n e n h u m a destas lín-
guas, e seriam levados a c o n c l u i r que estas Paulo deixa claro que "línguas são u m
pessoas são "loucas." sinal n ã o para crentes, mas para incrédulos,

-35-
e n q u a n t o que profecia n ã o é sinal para i n - Esta citação a p o n t a para algo i m p o r t a n -
crédulos, mas s i m para crentes" (v. 22, RSV). te que n ã o pode escapar de nossa atenção.
O texto grego é, na verdade, ainda mais pre- P r i m e i r a m e n t e , refere-se a "linguagens es-
ciso. Ele n ã o diz que "línguas são u m s i n a l , " trangeiras" e m termos de u m m e i o de co-
mas que "são p a r a u m s i n a l . " Isto significa m u n i c a ç ã o que os ouvintes n ã o e n t e n d i a m .
que línguas são designadas para atender o Esta comparação é reveladora, p o r q u e pare-
propósito de u m s i n a l . " T ê m a f u n ç ã o de
4
ce sugerir que o que está acontecendo e m
u m sinal. C o r i n t o é a mesma coisa. "Línguas estran-
geiras" são usadas pelos que f a l a m em lín-
A palavra " s i n a l " (grego semeion) t e m u m
guas, mas estas n ã o p o d e m p r o p i c i a r os re-
significado p a r t i c u l a r n o N o v o Testamento.
sultados desejados p o r q u e n ã o p o d e m ser
E m p r i m e i r o lugar, é u m a marca que i n d i c a
entendidas pelos ouvintes. Paulo pretende
que há u m a mensagem especial que deve
explicar que, n o passado, Deus usou outras
ser expressa (Jo 20:30, 31). O d o m de lín-
línguas c o m u m p r o p ó s i t o . Ele u s o u os
guas t e m u m objetivo claro. T e m u m a f u n -
assírios p a r a falar aos israelitas, que n ã o
ção específica e u m a intenção c o m o u m si-
e n t e n d i a m a língua p o r eles falada. Precisa-
n a l para "descrentes," p o d e n d o ser t a n t o
v a m de u m t r a d u t o r . A g o r a , Deus usa o d o m
judeus ( A t 18:1-17; I C o 14:21) c o m o genti-
de línguas/linguagens para convencer os
os. 115
E m b o r a Paulo n ã o declare explicita-
incrédulos de que a mensagem d o Evange-
m e n t e q u a l o t i p o de " s i n a l " que seria, o
l h o possui o sinete d o C é u . " 9

contexto nos ajuda a d e f i n i r sua f u n ç ã o e


propósito. O segundo aspecto é e x t r a o r d i n a r i a m e n -
te s i g n i f i c a t i v o . B e h m expõe que "línguas
I C o r í n t i o s 14:21 está i n t i m a m e n t e rela-
são u m sinal legítimo de irresistível poder
c i o n a d o c o m o verso seguinte. N o verso 22
( 1 4 : 2 2 ) . " ° Para aqueles que serão conven-
12

Paulo emprega u m a citação t o m a d a de for-


cidos e convertidos entre os "descrentes," a
m a livre de Isaías 2 8 : 1 1 . 116
Ele escreve: " N a
q u e m o sinal de falar e m línguas é d i r i g i d o ,
Lei está escrito, ' c o m h o m e n s de outras lín-
este será u m sinal de salvação, mas aos o u -
guas e o u t r o s lábios falarei a este p o v o ; e
tros que recusam escutar, será u m sinal de
mesmo assim, eles n ã o me ouvirão,' diz o
j u l g a m e n t o . Este d u p l o efeito entre os des-
121

S e n h o r " (v. 21, N K J V ) . O que Paulo quer


crentes, sem dúvida, é dependente de suas
dizer c o m esta citação d o V e l h o Testamen-
próprias reações para c o m a mensagem que
to?
os atinge p o r m e i o dos que f a l a m e m lín-
U m estudo d e t a l h a d o seria necessário, guas. 122

mas o espaço n ã o nos p e r m i t e que estenda-


Neste caso, n o v a m e n t e parece haver u m a
mos demasiadamente agora. O c o n t e x t o de
c o n e x ã o c o m as línguas e m A t o s 2. M u i t o s
Isaías i n d i c a que os h o m e n s c o m "outras
f o r a m salvos, mas outros recusaram o u v i r e
línguas" são os assírios. A designação " o u -
se v o l t a r a m c o n t r a , r i d i c u l a r i z a n d o aqueles
tras línguas" é a expressão grega composta
que falavam e m línguas. O propósito das
heteroglôssois, que é i n c o r r e t a m e n t e traduzida
línguas é n o v a m e n t e e n f a t i z a d o : línguas
p a r a o inglês c o m o " l í n g u a s e s t r a n h a s "
devem servir c o m o " s i n a l " p o r m e i o d o q u a l
( N A S B , N R S V , etc). N o grego da época de
descrentes são c o n f r o n t a d o s c o m as Boas-
Paulo, o t e r m o realmente se referia a u m a
Novas. Tais ouvintes se revelam pela f o r m a
" l i n g u a g e m estrangeira" 117
e é desta f o r m a
c o m o reagem ao que o u v e m , p o r se t o r n a -
que deveria ser e n t e n d i d o a q u i . Os " o u t r o s
r e m crentes o u p o r rejeitarem o convite d o
lábios" e as "línguas estrangerias," nas pala-
evangelho. É o propósito d o d o m de lín-
vras de W a y n e G r u d e m , "são os lábios e lín-
guas/linguagens que n ã o haja u m a reação
guas de invasores estrangeiros (assírios)," 118

negativa ( I C o 14:23). P o r t a n t o , devem exis-


q u e os o u v i n t e s n ã o e n t e n d e r i a m . O s
t i r certos r e g u l a m e n t o s q u a n t o à o r d e m ,
hebreus que o u v i r i a m n ã o c o m p r e e n d e r i a m
para que se t o r n e n u m d o m espiritual mais
as "línguas estrangeiras" destas forças inva-
eficaz. U m desses recursos é a interpretação.
soras assírias.
V o l v a m o s nossa a t e n ç ã o para isto, agora.

-36
O FALAR EM LÍNGUAS Paulo utiliza u m a vez o substantivo gre-
go diermeneutés ( I C o 14:28) que é n o r m a l -
E A INTERPRETAÇÃO
mente traduzido p o r "intérprete" nas bíblias
C o m o p o d e m línguas — que n e m são e m inglês. Esta é u m a expressão que n ã o é
f a c i l m e n t e e n t e n d i d a s pelos m e m b r o s da c o n h e c i d a na língua grega f o r a d o N o v o
igreja, n e m discernidas pelos descrentes a Testamento, até aparecer n o v a m e n t e , sécu-
q u e m f o r a m p r i m a r i a m e n t e dirigidas — se- los mais tarde, e m escritos b i z a n t i n o s . O
r e m usadas para servir à igreja e m seu pro- d i c i o n á r i o grego-inglês de W . Bauer, que
pósito missionário? A resposta coerente de serve c o m o referência, trás o significado de
Paulo é q u e se n i n g u é m na c o n g r e g a ç ã o 1 C o r í n t i o s 14:28 c o m o "intérprete, tradu-
entende o que é d i t o e m línguas, então, "que tor." 1 2 9
N a Septuaginta, e m Génesis 42:23,
haja u m i n t e r p r e t e " ( I C o 14:27). Este con- o t e r m o cognato hermeneutés é v e r t i d o c o m o
selho é específico. Se o falar e m línguas f o i "tradutor." 1 3 0

d a d o para beneficiar a c o m u n i d a d e crente,


U m estudo d o verbo grego hermeneuein e
e especialmente os incrédulos desconheci-
seus cognatos, t a n t o na Septuaginta c o m o
dos, assim, se o d o m de línguas é usado de
no Novo Testamento, aparte das sete u t i -
131

acordo c o m seu objetivo d e t e r m i n a d o — que


lizações de I C o r í n t i o s 12-14, revela que e m
é a edificação e desenvolvimento da igreja
dezenove dos v i n t e e u m casos refere-se a
(vs. 3, 5, 26) — então o que fala " n u m a lín-
" t r a d u ç ã o . " Esta e v i d ê n c i a atesta a con-
132 133

gua deveria orar pelo p o d e r de i n t e r p r e t a r "


clusão que os termos usados p o r Paulo para
(vs. 13, 1 5 ) , o u , então, a l g u m o u t r o m e m -
123

" i n t e r p r e t a r " o falar e m línguas l e v a m con-


b r o da igreja deve " i n t e r p r e t a r " (vs. 27-28).
sigo, nas palavras d o Professor J. G . Davies,
E m realidade, "interpretação" é t a m b é m u m
"a mais forte indicação que seja traduzir u m a
d o m espiritual ( I C o 12:10, 3 0 ) . 124

língua e s t r a n g e i r a . "
134

E m nossa tentativa de descobrir a n a t u -


Esta c o n c l u s ã o sobre " i n t e r p r e t a ç ã o "
reza d o falar e m línguas e m I C o r í n t i o s 12-
c o m o s i g n i f i c a n d o " t r a d u ç ã o , " n o falar e m
14, e c o m o Paulo pretendia que este fosse
línguas, é substanciada a i n d a mais pela ci-
p r a t i c a d o , temos t a m b é m que d e t e r m i n a r
t a ç ã o que Paulo faz de Isaías 28:11 e m I
o s i g n i f i c a d o exato d o t e r m o " i n t é r p r e t e "
C o r í n t i o s 14:21. C o m o v i m o s a c i m a , os
c o m o usado p o r Paulo. E m I C o r í n t i o s 12-
assírios i r i a m se d i r i g i r aos israelitas e m "lín-
14 Paulo emprega o verbo grego diermeneuein,
guas estrangeiras," p o r q u e os últimos rejei-
" i n t e r p r e t a r , " q u a t r o vezes ( I C o 12:30; 14:5,
t a r a m a simples e clara mensagem dos pro-
13, 27).
fetas e m sua própria língua hebraica.
Este mesmo verbo é empregado fora d o
A i s t o deve ser a c r e s c e n t a d o q u e I
N o v o T e s t a m e n t o e m I I M a c a b e u s 1:36.
C o r í n t i o s 14:10, 11, o n d e u m a pessoa n ã o
Neste verso, t e m o significado de " t r a d u z i r "
entende o que fala e m u m a língua estran-
u m termo hebreu n u m termo grego. ' N o 12

geira, carrega consigo a evidência de que são


N o v o Testamento a mesma palavra é t a m -
línguas estrangeiras que estão envolvidas.
b é m usada c o m o significado de " t r a d u z i r "
M e s m o u m e r u d i t o c o m o B e h m , sugerindo
em Atos 9:36. 126
O "traduzir" u m idioma
que " e m C o r i n t o ... a glossolalia é u m a de-
c o n h e c i d o n u m a o u t r a língua conhecida é
claração estática i n i n t e l i g í v e l , " ' é forçado
13

o s i g n i f i c a d o típico deste v e r b o , t a n t o n o
a m e n c i o n a r que " u m a impressão é deixada
N o v o Testamento c o m o fora d e l e . 127

de que as falas são e m línguas estrangeiras


Paulo emprega o s u b s t a n t i v o grego (14:10f., 2 1 ) . " Este fato n ã o é apenas u m a
136

hermeneía, "interpretação," duas vezes e m I impressão, mas u m forte a r g u m e n t o estabe-


C o r í n t i o s 12-14 (12:10, 14:26). Este substan- lecido p o r Paulo na escolha de termos pró-
t i v o n ã o é empregado e m n e n h u m o u t r o prios.
lugar n o N o v o Testamento. O t e r m o apare-
Devemos deixar evidente a questão de
ce três vezes na Septuaginta. Duas das vezes
que o l i v r o de A t o s não faz m e n ç ã o de " i n -
significa " t r a d u ç ã o " ( D n 5 : 1 ; P r ó l o g o de
t e r p r e t a ç ã o / t r a d u ç ã o , " tema que se t o r n a
Siraque 1 4 ) , e u m a vez quer dizer "sátira"
128

i m p o r t a n t e e m I C o r í n t i o s 12-14. E m A t o s
(Siraque 47:17).
2 n e n h u m a tradução era necessária p o r q u e

-37-
existiam ouvintes dentre a multidão a q u e m sões. Existe u m a diferença marcante na l i n -
141

estas línguas eram nativas, e que f o r a m usa- guagem usada p o r Paulo na sua escolha de
das pelos que falavam e m línguas para trans- palavras c o m o " t r a d u ç ã o " o u " i n t e r p r e t a -
mitir-lhes as Boas Novas. E m I C o r í n t i o s 12- ç ã o , " que d e f i n i t i v a m e n t e não eram usadas
14 a situação é diferente, n ã o p o r q u e os cris- nas religiões entusiásticas helénicas. E m vir-
tãos coríntios falassem n u m a glossolalia i n - t u d e da ênfase na " t r a d u ç ã o " o u " i n t e r p r e -
compreensível, 137
mas p o r q u e n ã o h a v i a m t a ç ã o , " Paulo n ã o usa a l i n g u a g e m empre-
ouvintes que falassem os idiomas usados p o r gada para descrever o f e n ó m e n o destas reli-
aqueles envolvidos n o falar e m línguas. O giões o n d e aparece o t e r m o "exegese." Será
que fala u m i d i o m a que não é e n t e n d i d o que a diferença e n t r e a t e r m i n o l o g i a dos
pelos ouvintes precisa de u m t r a d u t o r . E m - cultos gregos entusiásticos e a t e r m i n o l o g i a
bora Lucas, e m A t o s , n ã o se refira ao con- usada p o r Paulo n ã o sugerem que Paulo está
j u n t o de palavras d i r e t a m e n t e relacionadas de fato falando sobre algo que difere f u n d a -
c o m hermeneia, " t r a d u ç ã o , " e m sua descri- m e n t a l m e n t e d o f e n ó m e n o e n c o n t r a d o nes-
ção d o falar e m línguas, usa, c o n t u d o , u m a tas religiões pagãs? D i f i c i l m e n t e pode-se evi-
palavra d o mesmo g r u p o para dar a ideia de tar t a l conclusão.
tradução de u m a língua para o u t r a . E m A t o s
9:36 é d i t o que " u m a certa discípula cha-
O FALAR EM LÍNGUAS
mada T a b i t a , cuja tradução [diermeneuo] é
E A PROFECIA
Dorcas" ( N K J V ) . A s s i m A t o s apoia a ideia
de que o c o n j u n t o de palavras baseadas e m E m p r i m e i r o lugar, seria de grande aju-
hermeneia significam "interpretação" n o sen- da investigar c o m o a l i n g u a g e m e a ênfase
t i d o de " t r a d u ç ã o . " de Paulo difere dos f e n ó m e n o s encontrados
nas religiões pagãs de seus dias n o que se
D e acordo c o m nossa investigação dos
refere ao tópico profecia.
possíveis paralelos d o falar e m línguas c o m o
f e n ó m e n o presente e m religiões gregas, p u - T a n t o n o c u l t o de Delfos c o m o n o c u l t o
demos c o n c l u i r que n ã o existem paralelos de D i o n í s i o , a a d i v i n h a ç ã o m â n t i c a é
reais c o m o f e n ó m e n o d o N o v o Testamen- identificada c o m o p r o f e t i z a r . Paulo, p o r
142

t o . Por u m lado, n ã o existe glossolalia de sua vez, faz u m a clara distinção entre " p r o -
falas incompreensíveis nestas religiões que fecia" e o "falar e m línguas." S ã o dons espi-
sejam conhecidas e que t e n h a m sido d o c u - rituais c o m p l e t a m e n t e distintos ( I C o 12:8-
mentadas p o r estudiosos. A i n d a , n ã o h á 11, 28-31; 1 4 : l - 5 ) . 143

registro de n e n h u m a fala miraculosa de lín-


U m a distinção crucial é t a m b é m encon-
guas estrangeiras n o r m a i s p o r parte destas
trada n o que se refere à possessão d o espíri-
religiões. Nossa investigação sobre a t e r m i -
to (grego pneâma). N a possessão d i o n i s i a n a ,
nologia da expressão " i n t e r p r e t a ç ã o , " t a n t o
o espírito sagrado v e m " q u a n d o o deus en-
n o N o v o Testamento c o m o fora dele, favo-
tra t o t a l m e n t e n o c o r p o [e] dá o p o d e r está-
rece à conclusão de que o falar e m línguas
tico de declarar coisas que se sucederão [ n o
e m C o r i n t o é o falar miraculoso de línguas
f u t u r o ] . " E m I C o r í n t i o s , o "espírito" n ã o
1 4 4

estrangeiras que n ã o t e n h a m sido aprendi-


é c h a m a d o "sagrado" (grego hiereu) c o m o n o
das.
c u l t o a D i o n í s i o . ' É c h a m a d o de "santo"
14

Torna-se relevante r e t o r n a r agora ao adi- (grego hagion), c o m o e m todos os escritos


v i n h o o u m â n t i c o (chamado mantis m
nas re- de Paulo, especialmente e m I C o r í n t i o s 6:19;
ligiões gregas entusiásticas) que p r o n u n c i a - 12:3 (cf. 10:1-22; 12:4-13). Paulo faz u m a
va expressões obscuras e veladas sem ser distinção objetiva entre o Espírito Santo e
aparentemente capaz de saber o que v i u e o espírito d o paganismo pelo fato de usar
disse. Este m â n t i c o era a c o m p a n h a d o p o r u m adjetivo decisivamente diferente.
u m a pessoa chamada sophron, u m homem
139

O m o t i v o das noites de orgias báquicas


sóbrio que p e r m a n e c i a ao seu l a d o . Este,
é mainesthai, "estar fora de s i . " Isto é exa-
Hb

após realizar u m a p r e c e , segue d a n d o a


140

t a m e n t e o oposto d o que Paulo deseja para


"exegese" (grego exegetai) das alocuções e v i -

-38-
aqueles que f a l a m e m línguas (1 C o 14:23). é o resultado de u m estado de transe e que
D e f o r m a objetiva, aqueles que p r o c u r a m o falar e m línguas é desta f o r m a u m a expe-
i n t e r p r e t a r I C o r í n t i o s 14 c o m a ajuda dos riência estática de fala ininteligível, isto é,
c u l t o s estáticos h e l é n i c o s são forçados — glossolalia. ' 15

contrários às distinções enfatizadas p o r Pau-


Estas sugestões propostas p o r Engelsen
lo — a transferir f e n ó m e n o s da " p r o f e c i a "
são refutadas p o r estudos i n d i c a n d o que a
mântica p a g ã 147
àqueles que f a l a m e m lín-
profecia d o N o v o Testamento não é o resul-
guas e m C o r i n t o . Mas as duas experiências
tado de u m a experiência de t r a n s e . ' Paulo 14

são t o t a l m e n t e separadas e distintas.


claramente n ã o estabelece c o n e x ã o alguma
A designação dada aos f e n ó m e n o s fre- entre o falar e m línguas a u m a experiência
n é t i c o s d o deus A p o l o n o s a n t u á r i o de de transe. Pelo c o n t r á r i o , evita quaisquer
Delfos é "frenesi a d i v i n h o " (grego theia ma- possíveis associações. T a n t o profecia c o m o
nia). ^ Neste estado de frenesi m â n t i c o , u m a
1
as línguas são dons espirituais distintos u m
revelação sobre a v o n t a d e dos deuses dá-se d o o u t r o , m e s m o que d e r i v e m da mesma
p o r m e i o de expressões oraculares, mas ain- fonte, o Espírito Santo. Profecia é d o m que
da n u m a linguagem n o r m a l . O mesmo ocor- os coríntios d e v e r i a m se esforçar p o r obter,
ria nos oráculos s i b i l i n o s e m que h a v i a m mais d o que o de línguas ( I C o 14:1).
profecias. Estas mulheres, q u a n d o tomadas
e m transes súbitos, m u d a v a m de cor, t i n h a m O FALAR EM LÍNGUAS E A ORAÇÃO
os cabelos despenteados, respiração ofegan-
te, bocas espumej antes e movimentavam-se A expressão "falar... c o m m e u e n t e n d i -
de f o r m a f r e n é t i c a . P r o n u n c i a v a m expres-
149 m e n t o " e m I C o r í n t i o s 14:19 merece consi-
sões místicas e m f o r m a oracular. Estes fenó- deração. N o verso 19 o "falar c o m e n t e n d i -
menos pagãos estáticos são demonstrações m e n t o " n ã o é contrastado c o m o "falar c o m
pagãs da " p r o f e c i a " o u adivinhação, c o n t u - meu espírito," 155
mas c o m o "falar e m lín-
d o n e n h u m a experiência glossolálica f o i ja- g u a s . " ' O t e r m o " e n t e n d i m e n t o " (noús) re-
56

mais registrada o u a l u d i d a c o m o t o m a n d o fere-se ao pensamento, o uso da razão, à re-


lugar nestas religiões pagãs. flexão e ao aspecto i n t e n c i o n a l da consci-
ência h u m a n a . Ê parte da natureza intelec-
C o m relação ao estado semelhante ao
t u a l d o ser h u m a n o c o m o t a l . ' A s s i m , é
5 7

transe p i t i a n o que o c o r r i a n o o r á c u l o de
evidente que Paulo p r e t e n d i a dizer que
Delfos, E. T . D o d d s observa que " o deus
n u m a c o n g r e g a ç ã o p r e f e r i r i a falar u m a s
entrava nela e usava seus órgãos vocais c o m o
poucas palavras de f o r m a r a c i o n a l , reflexi-
se eles fossem seus, exatamente c o m o o as-
va e i n t e n c i o n a l , que objetivasse o crescimen-
sim chamado 'controle' que ocorre n u m
t o dos m e m b r o s da igreja, d o que m u i t a s
m é d i u m espírita m o d e r n o . " 1 , 0
A descrição
palavras e m u m a "língua/idioma" na q u a l
d o oráculo d e i f i c o descrito p o r este e r u d i t o
não se comunicasse c o m os m e m b r o s , p o r
é o m e s m o das possessões mediúnicas n o
não serem compreendidas.
e s p i r i t u a l i s m o . C e r t a m e n t e , este n ã o é o
caso d o N o v o Testamento de f o r m a geral, E m I Coríntios 14:14 Paulo declara: "Pois
o u e m p a r t i c u l a r I C o r í n t i o s 12-14. se o r o n u m a língua, m e u espírito ora mas
m i n h a mente fica infrutífera." Neste verso
N . Engelsen, d e r i v a n d o seu pensamen-
e n o seguinte " m e n t e " e "espírito" são con-
to de o u t r o s , " estabelece que e m C o r i n t o
1

o falar e m línguas e a profecia n ã o são dis- trastados. As palavras " m e u espírito" (v. 14)
t i n t o s . Para ele isto é significativo, p o r q u e e simplesmente " e s p í r i t o " (grego pneúma),
não há n o grego antigo n e n h u m a palavra n o verso 15, são m e l h o r entendidas c o m o
especial q u e d e f i n a u m a f a l a i n s p i r a d a sendo " c o m o m e é dado pelo Espírito San-
ininteligível. A s s i m , Engelsen postula que to." 1 5 8
É o Espírito d i v i n o a t u a n d o n o i n d i -
u m a fala inteligível o u ininteligível não po- víduo. 159

d e r i a m ser distinguidas n o período cristão A oração p r o f e r i d a n u m a "língua" é con-


o u m e s m o n u m a época a n t e r i o r . T a m b é m
152

cedida pelo Espírito assim c o m o o falar e m


c o n c l u i que o falar e m línguas e m C o r i n t o

39
línguas e m si é u m d o m d o mesmo Espíri- t r a b a l h o d o Espírito S a n t o . " 161
N ã o há, por-
t o . C o m o acontece c o m a oração, assim tam- t a n t o , n e n h u m contraste entre o t r a b a l h o
b é m acontece c o m o canto (v. 15). " O r a r " e d o Espírito S a n t o e o f u n c i o n a m e n t o da
"cantar" n u m a "língua" derivam-se ambos capacidade racional da m e n t e h u m a n a .
d o Espírito. O Espírito Santo concede a "lín-
É evidente que o c o n t e x t o de I C o r í n t i o s
gua/linguagem" e p o r m e i o dela Ele provê
14:14, 15 é n o v a m e n t e de significância p r i -
a oração o u o cântico.
m o r d i a l n o e n t e n d i m e n t o destes textos. Se-
O s dois textos (vs. 14 e l 5 ) e m discussão ria i m p r u d e n t e interpretá-los p o r m e i o de
não l i m i t a m o falar e m línguas à oração e bases filosóficas o u usando o c o n t e x t o das
ao canto. Por o u t r o lado, estes textos não religiões h e l é n i c a s . 162
N o verso 13, Paulo es-
a f i r m a m que a oração e canto resultantes creve: " P o r t a n t o aquele que fala n u m a lín-
d o falar e m línguas são de benefício exclusi- gua ore para que possa i n t e r p r e t a r . " Paulo
vo dos que os e m i t e m . O falar e m línguas a f i r m a que o falar e m línguas é pelo Espíri-
inspirado pelo Espírito, que não seja inter- to. "Pois se o r a r n u m a língua, m e u espírito
pretado o u t r a d u z i d o , pode edificar apenas [o Espírito Santo que está e m m i m ] ora, mas
o que fala (vs. 4), mas na assembleia da igre- m i n h a m e n t e fica infrutífera." Para a " m e n -
ja, o n d e o d o m deve manifestar-se, aciuele te" tornar-se frutífera, deve ser necessário
que " o r a " e "canta" n u m a língua/linguagem
que o c o r r a u m a i n t e r p r e t a ç ã o / t r a d u ç ã o .
o faz para trazer u m a b ê n ç ã o aos o u t r o s , que
Através da "interpretação/tradução" a igre-
devem, p o r sua vez, manifestar a compreen-
ja é edificada (v. 12). É precisamente este
são pelo " a m é m " (v. 16). C o n t u d o , se aque-
t a m b é m o enfoque d o verso 16, o n d e aque-
les que f r e q u e n t a m o serviço da igreja " n ã o
le que não possui o d o m deve dizer " a m é m , "
sabem o que se d i z " (v. 16), o propósito d o
mas é incapaz de fazê-lo, p o r q u e " n ã o sabe
d o m de línguas n ã o está sendo c u m p r i d o ,
o que f o i d i t o . " Se há " t r a d u ç ã o " da língua/
isto é, " o o u t r o n ã o é e d i f i c a d o " (v. 17). A
linguagem, e n t ã o " o u t r o s " são "edificados"
edificação da igreja é p r i m o r d i a l .
(v. 17). Neste c o n t e x t o , permanece o foco
O que significa estar "a m e n t e infrutífe- sobre a c o m p r e e n s ã o d a q u i l o que f o i d i t o e
r a " ( I C o 14:14) q u a n d o alguém que fala e m sua importância para a edificação da igreja.
línguas ora o u canta n u m a língua/lingua-
gem? Paulo insiste: "deverei o r a r c o m o es- O FALAR EM LÍNGUAS
pírito [i.e., o Espírito Santo que está nele] e
E A ADORAÇÃO DE FORMA ORDENADA
orarei t a m b é m c o m a m e n t e ; cantarei c o m
o espírito [i.e., o Espírito Santo que está nele] D o i s erros são geralmente cometidos e m
e cantarei t a m b é m c o m a m e n t e " (v. 15). relação ao falar e m línguas, e ambos devem
ser evitados. O p r i m e i r o dele é a ênfase exa-
O t e r m o " m e n t e " nestes textos é a tra- gerada q u a n t o à importância d o "falar e m
dução da palavra grega noús, u m t e r m o r i c o l í n g u a s . " Pentecostais, n e o p e n t e c o s t a i s e
x que possui v i n t e e q u a t r o significados dife- a d e p t o s d o m o v i m e n t o de r e n o v a ç ã o
rentes, dos quais v i n t e e u m estão nas cartas carismática estão ligados pelos laços c o m u n s
de Paulo. O que Paulo insiste e m dizer e m I da glossolalia. I d e n t i f i c a m o falar e m línguas
C o r í n t i o s 14:14, 15 é que u m a pessoa que c o m a glossolalia e c o l o c a m u m a ê n f a s e
fala u m a língua/linguagem n ã o está " f o r a i n c o m u m nesta prática para o crente. T a l
de s i , " antes "conserva seu noús [mente] ain- ênfase n ã o se h a r m o n i z a c o m o aspecto raro
da que seja permeada pelo pneúma [Espíri- deste d o m , c o m o retratado pelo N o v o Tes-
t o ] . O noús [mente] está presente, a i n d a que t a m e n t o . O o u t r o erro é a t e n d ê n c i a oposta
inativo." 160
N ã o está assim Paulo enfatizando de d e p r e c i a r as passagens p a u l i n a s e de
a ideia de que q u a n d o acontece u m a c o m u - Lucas, n o N o v o Testamento, sobre o falar
nicação completa, a m e n t e deve funcionar? e m l í n g u a s , ' c o m a i n t e n ç ã o de atacar o
16

Já se d e i x o u claro que " n ã o se deve esque- m o v i m e n t o de r e n o v a ç ã o carismática e o


cer que falar c o m a m e n t e t a m b é m é u m pentecostalismo.

-40-
O estudante c u i d a d o s o das Escrituras lo para os judeus, que t a m b é m possuiu o
estará atento a estas tentações e buscará, sin- d o m na f o r m a e m que f o i manifesto n o Pen-
ceramente, p e r m i t i r que o texto bíblico fale tecostes ( A t 2:2s, 14s; 10:46; 11:15). N ã o é
p o r si. Percebemos, p o r m u i t o s ângulos e este u m o u t r o elo entre o d o m de línguas
p o r m e i o de várias considerações — linguís- e m A t o s 2 e I C o r í n t i o s 14?
ticas, terminológicas, contextuais, exegéticas,
Se Paulo estivesse f a l a n d o e m I C o r í n t i o s
c o m p a r a t i v a s , etc — q u e Paulo é m e l h o r
14 sobre u m falso d o m , seria impróprio e
c o m p r e e n d i d o q u a n d o n ã o se tenta i d e n t i -
ousado de sua parte assumir que tal d o m
ficar o falar e m línguas c o m glossolalia. A s
provém d o Espírito Santo, que deve set de-
razões p r i n c i p a i s para isto f o r a m definidas
sejado, e que ele mesmo o possui. D i f i c i l -
nas seções acima.
m e n t e esta é apenas u m a questão de d i p l o -
Paulo r e p e t i d a m e n t e enfatiza que o fa- macia e m que Paulo se coloca n o mesmo
lar e m línguas se o r i g i n a n o Espírito Santo, nível dos coríntios para desta f o r m a trazê-
assim c o m o q u a l q u e r o u t r o d o m espiritual los a u m patamar mais elevado. Paulo certa-
(I C o 12:10s, 28, 30; 14: l s ) . m e n t e tenta mostrar-lhes o uso adequado,
a p r o p r i a d o e o propósito correto para a prá-
Paulo não considera o "falar e m línguas" tica d o falar e m línguas.
de C o r i n t o c o m o u m a falsa m a n i f e s t a ç ã o .
164

P r i m e i r o , Paulo deseja que todos os crentes M e s m o que Paulo fale e m línguas mais
de C o r i n t o " f a l e m e m línguas" ( I C o 14:5b). que todos os coríntios, e c o m o u m missio-
Seu critério para m e d i r o valor da profecia n á r i o para os povos gentios t e n h a usado
e das línguas é a edificação e o crescimento m u i t o este d o m , a f i r m a que " n a igreja eu
d o igreja ( I C o 14:4, 5, 26). p r e f i r o falar antes cinco p a l a v r a s c o m m e u
166

e n t e n d i m e n t o , para i n s t r u i r o u t r o s , a falar
E m segundo lugar, Paulo o r d e n a : " n ã o dez m i l palavras e m u m a l í n g u a " ( I C o
p r o í b a m o falar e m línguas" ( I C o 14:39). 165
14:19). M e s m o que Paulo tivesse o p o r t u n i -
C o n t u d o , alerta para seu emprego inadequa- dades mais frequentes de falar e m l í n g u a s , ' 16

d o e provê regras para o d e v i d o uso. sua p r i n c i p a l preocupação era " i n s t r u i r os


N a segunda parte de I C o r í n t i o s 14 Pau- o u t r o s " na igreja. Esta é u m a aplicação d o
lo trata sobre u m tema de grande preocupa- critério q u a n t o à edificação da igreja. Paulo
deixa claro que dez m i l palavras ditas n u m a
ção. O d o m de falar e m línguas deveria ser
língua/idioma não c o m p r e e n d i d a pela con-
r e g u l a m e n t a d o e n ã o deveria ser emprega-
gregação n ã o beneficiará aquela igreja. Por
d o para propósitos egoístas. Se não há i n -
o u t r o lado, u m a curta mensagem que seja
t e r p r e t e / t r a d u t o r nas reuniões públicas, é
e n t e n d i d a irá atingir o objetivo de q u a l q u e r
m e l h o r permanecer " q u i e t o na igreja," por-
pregação na igreja, que é a edificação.
que neste caso o que fala e m línguas fala
apenas "consigo m e s m o e c o m D e u s " ( I C o Paulo evidencia que o d o m de línguas
14:28). e m C o r i n t o é g e n u í n o , mas está sendo m a l
Este apelo a u m a adoração organizada usado, pois n ã o preenche seu propósito de-
n ã o i n d i c a que este d o m espiritual deva ser signado de fortalecer a igreja. Por conseguin-
barrado, p r o i b i d o e m sua prática. Desta for- te, Paulo apresenta os princípios n o r m a t i v o s
que assegurariam e m a n t e r i a m a adoração
m a , Paulo c o n t i n u a a f i r m a n d o que o legíti-
organizada ( I C o 14:26-28):
m o "falar e m línguas" t e m u m lugar devi-
d o , se m a n t i d o s a f u n ç ã o a p r o p r i a d a e o 1. T u d o deve ser feito para edificação, a
propósito designado. saber: o crescimento da igreja (v. 26). Este é
o princípio básico de t o d a a instrução sobre
E m terceiro lugar, Paulo agradece a Deus
línguas e m I C o r í n t i o s 14, c o m o examina-
" p o i s f a l o e m línguas mais d o que t o d o s
mos acima.
vocês" ( I C o 14:18). Esta referência afirma-
tiva prova que Paulo, p apóstolo para os gen- 2. Deve haver apenas dois o u três que
tios, possuía o d o m de falar e m línguas. N i n - falam e m línguas, " q u a n d o m u i t o três" (v.
guém pode esquecer-se de Pedro, o apósto- 27). Esta restrição i n d i c a que havia u m gran-

-41-
de n ú m e r o de pessoas que falavam e m lín- C o n e x õ e s irrefutáveis u n e m os fenóme-
guas e m C o r i n t o . Paulo restringe o n ú m e r o nos de falar e m línguas de t o d o o N o v o Tes-
daqueles que f a l a m línguas nos serviços da t a m e n t o n u m a corrente que n ã o pode ser
igreja a três, n o m á x i m o . rompida.

3. O falar e m línguas deve ser processa- 1. Jesus predisse que os crentes "falari-
do n u m a " d i r e ç ã o " (KJV) o u "cada u m [fa- am novas línguas" ( M r 16:17). Isto se c u m -
lará] p o r vez" (RSV, N R S V ) , o u " u m de cada p r i u n ã o apenas e m J e r u s a l é m n o d i a de
vez" ( N E B , N I V ) , o u " u m após o u t r o " ( T E V ) Pentecostes, mas t a m b é m e m outros centros
c o m o i n d i c a o verso 27. Paulo estabelece m e t r o p o l i t a n o s , tais c o m o : Cesaréia de Judá,
uma n o r m a para que haja u m a o r d e m Èfeso na Ásia M e n o r e C o r i n t o na G r é c i a .
sequencial e n ã o pessoas falando e m línguas Cada u m a destas cidades possuía u m a po-
s i m u l t a n e a m e n t e . N ã o deveria haver mais pulação local e de visitantes estrangeiros que
do que u m que falasse e m línguas de cada estavam separados p o r barreiras linguísticas.
vez. Pessoas provenientes de m u i t o s países e vá-
rias regiões, cada q u a l c o m sua própria lín-
4- Deve haver u m intérprete/tradutor
gua nativa, passavam p o r estes lugares. Je-
presente para que o assunto exposto n u m a
sus n ã o apenas o r d e n o u que as Boas-Novas
língua/linguagem na igreja possa ser tradu-
fossem pregadas a t o d a h u m a n i d a d e , mas
zido e todos sejam abençoados e edificados
t a m b é m proveu, através d o Espírito Santo,
(v. 27).
o d o m de falar m i r a c u l o s a m e n t e e m línguas
5. Se n ã o h o u v e r t r a d u t o r disponível, estrangeiras para que fosse a t i n g i d o o obje-
aqueles que f a l a m e m línguas devem per- tivo de ensinar o c a m i n h o de C r i s t o a estas
manecer calados n a igreja, f a l a n d o para si pessoas de origens linguísticas diferentes.
mesmos e para Deus (v. 28).
2. D e acordo c o m M a r c o s 16:17 Jesus
A organização da igreja c o n t r i b u i , eviden- declarou entre outras coisas que o falar e m
temente, para a a t i t u d e de adoração de t o d a u m a n o v a língua seria u m " s i n a l " (grego
a congregação. O Deus a ser adorado é u m semeion) n o sentido de u m a realidade con-
Deus de o r d e m ( I C o 14:40). Ele " n ã o é u m trária ao curso c o m u m da natureza aos que
Deus de confusão, mas de paz" (v. 33). Esta desta f o r m a ouvissem a mensagem d o evan-
instrução sobre a o r d e m litúrgica na adora- gelho. Deveria ser u m " s i n a l " de u m m i l a -
ção é dada para "todas as igrejas dos santos" gre para os descrentes, e v i d e n c i a n d o a o r i -
(v. 33). Ê universal, para todas as igrejas cris- gem d i v i n a da mensagem. E m I C o r í n t i o s
tãs p r i m i t i v a s e para todas as igrejas n o f u - 14:22 Paulo explica que as "línguas são u m
t u r o . A s s i m , o ensino de Paulo é ainda váli- sinal (semeion) n ã o para fiéis mas para i n f i -
do hoje e carrega consigo a a u t o r i d a d e bí- éis." Insiste que o d o m de falar línguas es-
blica. trangeiras serve para convencer os infiéis
c o m o irresistível p o d e r de que a proclama-
CONCLUSÕES ção d o " k e r y g m a " carrega consigo o sinete
d o c é u . Q u a l q u e r u m assim c o n v e n c i d o
O estudo c o n t e x t u a l de I C o r í n t i o s 12- poderia obter a salvação; para o que r i d i c u -
14 e m que nos envolvemos neste artigo nos larizasse esta manifestação, significaria j u l -
oferece u m a base sólida para a i d e n t i f i c a - gamento.
ção da t e r m i n o l o g i a e o uso d o falar e m lín-
guas n o N o v o Testamento. O estudo eviden- 3. E m A t o s 2:13 alguns z o m b a r a m c o m
c i o u que é correto considerar o falar e m lín- desdém dos discípulos que falavam e m lín-
guas c o m o sendo u m ú n i c o d o m espiritual guas estrangeiras, acusando-os de estarem
que p e r m e i a t o d o o N o v o T e s t a m e n t o . É bêbados. Os descrentes, e m outras partes,
p l e n a m e n t e razoável c o n c l u i r que o falar e m p o d e r i a m reagir de igual m o d o se assistis-
línguas n o N o v o T e s t a m e n t o é o m e s m o sem a f o r m a desordenada c o m o era pratica-
d o m de falar m i r a c u l o s a m e n t e u m língua do o falar e m línguas nas reuniões da igreja
estrangeira que não t e n h a sido a p r e n d i d a . 168
de C o r i n t o . Paulo observa que se as línguas

-42-
n ã o são compreendidas pelos de fora, estes Pedro e Paulo, os anunciadores das Boas-
p o d e r i a m pensar que os que estão falando Novas aos judeus e aos gentios respectiva-
e m línguas são loucos ( I C o 14:23). Falsas m e n t e , estivessem associados, e m A t o s , c o m
impressões p o d e r i a m surgir e a manifesta- a manifestação d o falar e m línguas, tema que
ç ã o g e n u í n a d o falar línguas estrangeiras Paulo n o v a m e n t e discute e m I C o r í n t i o s 12-
seria m a l i n t e r p r e t a d a . 14. Deus usou estas ocasiões e o prestígio
destes pilares da igreja p r i m i t i v a para espa-
4- Isto leva-nos a o u t r o elo na cadeia que
lhar as Boas Novas e m línguas concedidas
conecta e u n i f i c a o f e n ó m e n o de falar e m
de f o r m a sobrenatural pelo Espírito Santo.
línguas n o N o v o Testamento, isto é, seu pro-
pósito. O S e n h o r Ressurrecto r e l a c i o n o u o 7. A s indicações internas de I C o r í n t i o s
falar e m línguas c o m a G r a n d e C o m i s s ã o 14 a p o n t a m f o r t e m e n t e na direção de iden-
de evangelizar o m u n d o ( M c 16:15-18). N o t i t i c a t o falar e m línguas c o m a h a b i l i d a d e
Pentecostes os p r i m e i r o s f r u t o s da promes- sobrenatural d o Espírito Santo de falar lín-
sa f o r a m experimentados q u a n d o três m i l guas estrangeiras, n ã o p r e v i a m e n t e apren-
f o r a m acrescidos à igreja i n f a n t e ( A t 2). E n - didas, c o m o é e x p l i c i t a m e n t e i d e n t i f i c a d o
tão, o d o m f o i dado aos cristãos gentios i n - e m A t o s 2. A i d e n t i d a d e surpreendente na
corporando-os na tarefa de evangelizar, tan- t e r m i n o l o g i a e n o uso lingüístico da expres-
t o e m Cesaréia c o m o e m Éfeso ( A t 10:45, são "falar e m línguas," t a n t o e m A t o s c o m o
46; 19:1-6). E m I C o r í n t i o s 14 Paulo enfatiza e m I C o r í n t i o s 12-14, t o r n a certa esta iden-
várias vezes que o falar e m línguas deveria tificação.
ser usado para a edificação da igreja (14:4,
8. O u t r o s vínculos entre o Evangelho de
5, 12, 26). É p o r isso. que insiste que o d o m
Marcos, A t o s e I C o r í n t i o s se estendem à
é para benefício dos infiéis. Estes, p o r sua
o r i g e m , natureza, f u n ç ã o , p r o p ó s i t o e às
vez, t a m b é m deveriam ser recebidos na co-
pessoas envolvidas c o m o sinal característi-
m u n h ã o dos crentes. A s s i m , todos experi-
co deste d o m e s p i r i t u a l . Nestes t e r m o s , o
m e n t a r i a m crescimento e m sua experiência
f e n ó m e n o de falar e m linguas n o N o v o
cristã e se d e d i c a r i a m ao evangelismo.
T e s t a m e n t o é apresentado nos três d o c u -
5. Lucas registra e m A t o s 19:6 que após mentos — Marcos, A t o s e I Coríntios — c o m o
os doze "discípulos" e m Éfeso se converte- u m d o m espiritual singular de falar línguas
r e m e receberem o Espírito Santo, f o r a m não aprendidas, outorgadas c o m o propósi-
habilitados a falar e m línguas e a profetizar. to de evangelizar o m u n d o . T i n h a o objeti-
É significativo que, e m Éfeso, línguas e pro- vo de d e m o n s t r a r que Deus estava ao lado
fecia estavam unidas n o m e s m o episódio e da igreja p r i m i t i v a , c o n d u z i n d o - a adiante,
c o m a participação de Paulo. T a l fato en- q u e b r a n d o as barreiras entre judeus e genti-
contra correspondência direta com I os e p r o v i d e n c i a n d o u m a mostra de Seus
C o r í n t i o s 14, o n d e repetidamente Paulo fala múltiplos d o n s para a edificação da igreja
sobre ambas. A ligação entre profecia e lín- c o m o o c o r p o de C r i s t o .
guas é estabelecida pela ocorrência das duas
Nossa pesquisa sobre os p r i n c i p a i s aspec-
c o m o manifestação d o Espírito Santo, tan-
tos d o "falar e m línguas" n o N o v o Testamen-
t o e m Êfeso c o m o e m C o r i n t o . A íntima
t o revela que este f o i d a d o pelo Espírito San-
associação entre línguas e profecia r e m o n t a
t o aos crentes c o m u m propósito específi-
à p r i m e i r a manifestação d o Espírito Santo
co, e é Seu desígnio que seja usado desta
n o Pentecostes o n d e Pedro p o r duas vezes
maneira. V i m o s t a m b é m que o falar e m lín-
referiu-se à profecia (Atos 2:17, 18). C o n t u -
guas n o N o v o Testamento não é o u t o r g a d o
d o , Paulo deixa b e m claro que o d o m de
a todos, mas apenas aos que f o r a m escolhi-
línguas e d o m de profecia são dois d o n s es-
dos pelo Espírito. N ã o existe n e n h u m a or-
p i r i t u a i s d i s t i n t o s , de f o r m a alguma idênti-
d e m dada para que t o d o crente busque o
cos.
falar e m línguas. N ã o há n e n h u m a declara-
6. D i f i c i l m e n t e seria a c i d e n t a l que os ção n o N o v o Testamento de que o falar e m
dois grandes gigantes de igreja p r i m i t i v a , línguas seja a chave para o recebimento de

-43
u m poder espiritual maior. C o n t u d o , há 4
Para urna lista representativa de eruditos que man-
uma declaração de que o falar e m línguas têm esta visão, ver a nota final deste artigo.

cessaria ( I C o 13:8). O s i g n i f i c a d o específi- 1


Estrabão, Geography, V I I I , v i , 20.
co desta declaração é m u i t o d e b a t i d o . Tem 6
H . S. Robinson, "Excavations at A n c i e n t C o r i n t h ,
sido aventado que o d o m f o i necessário ape- 1959-1963," M i o 46 (1965), 289s.
nas nos t e m p o s d o N o v o T e s t a m e n t o (B. B.
' H . C o n z e l m a n n , Der erste Korinther (Göttingen:
W a r f i e l d ) , e que o falar e m línguas cessaria 1969), 139; F. F. Bruce, 1 and 2 Corinthians (Londres:
p o r si só ( M . F. U n g e r ) . U m a p r o p o s t a c o n - New Century Bible, 1971), 66.
ciliatória para a c o n t r o v é r s i a sobre as lín- 8
Esta é a data mais aceita e é adotada por H o r n ,
guas sugere que a glossolalia c o n t e m p o r â - Seventh-day Advencist Bible Dictionary, 224; D . Guthrie,
nea não d e v e r i a ser nem procurada nem The Pauline Epistle. Neu' Testament íntoduction, 2 ed. a

p r o i b i d a . Tal c o m p r o m i s s o t e m e n c o n t r a d o (Londres: 1963). Datas anteriores foram sugeridas


recentemente por C. K. Barrer, The First Epistle to the
a p o i o e m vários g r u p o s . Se a glossolalia c o n -
Corinthians (Nova Iorque: 1968), 8: "nos primeiros
temporânea for identificada c o m o d o m de meses de 54, ou talvez mesmo em 53"; Conzelmann,
falar e m línguas d o N o v o T e s t a m e n t o , en- Der erste Korinther, 16 n . 31, primavera de 55; Bruce, i
tão terá que p r o v a r se c o r r e s p o n d e à d e f i n i - and 2 Corinthians, 25, "provavelmente 55 d . O

ção e às especificações d o N o v o T e s t a m e n t o 9
C o m o em Bruce, 1 and 2 Corinthians, 6.
para o " f a l a r e m línguas," i n c l u i n d o sua f o n -
10
D a v i d L . Baker, " T h e I n t e r p r e t a t i o n o f I
te, seu p r o p ó s i t o , sua natureza, sua forma C o r i n t h i a n s 12-14," Evangelical Quarterly 46 (1974)
d i s c i p l i n a d a , seu o b j e t i v o de caráter exter- 228, escreve: " E m 12:1 ton pneumatikon é algumas ve-
n o e assim p o r d i a n t e . A p r o v a de identifi- zes utilizado para referir-se ao 'homem espiritual' mas
cação não p o d e recair n u m a experiência mais frequentemente aos 'dons espirituais' e, embora
ambas traduções sejam possíveis, o uso em 14:1 e o
pessoal o u n u m a aprovação m e r a m e n t e ecle-
paralelismo com charismata (esp. 12:31) favorece esta
siástica, mas deve estar seguramente solidi- última...
ficada n o t e s t e m u n h o c o m p l e t o das Escri-
" K. Maly, Mündige Gemeinde (Stuttgart: Katholisches
turas sobre o t e m a . Os bereanos " e x a m i n a -
Bibelwerk, 1967), 186.
v a m as Escrituras d i a r i a m e n t e , para ver se
Ver Walter F. O t t o , Dionysius, 2" ed. (Leipzig: 1939);
12

estas coisas e r a m a s s i m " ( A t 17:11). T o d o


C h r i s t i a n W o l f f , Der erste Brief des Paulus an die
cristão responsável fará o m e s m o e se f i r m a - Korinther, " T h e o l o g i s c h e r H a n d k o m m e n t a r zum
rá n a q u i l o que achar sensato, t e n d o c o m o N e u e n T e s t a m e n t , 7/11" ( B e r l i n : Evangelische
base as Escrituras. Verlagsanstalt, 1982), 98-99.

Ver Gerhard Hasel, Speaking in Tongues (Berrien


13

S p r i n g s , M I : A d v e n t i s t T h e o l o g i c a l Society
REFERÊNCIAS Publications, 1991), Capítulo I I .

1
O leitor poderá consultar as bibliografias mais re- Conzelmann, Der erste Korinther, 246, corretamente
14

presentativas nas seguintes reses: N . 1. J. Engelsen, ressalta que no verso 7 a ênfase de Paulo é posta so-
Glossolalia and Other Forras of Inspired Speech According bre a expressão "bem c o m u m . "
to í Cor 12-14 (Tese de P h . D . não publicada, Yale
University, 1970); W i l l i a m E. Richardson, Liturgical O s intérpretes de "línguas" não estão incluídos se-
h

Order and Glosolalia: Í Corinthians I4:26c-33a and its paradamente nesta lista, mas são mencionados em
Implications (Tese de P h . D . não publicada, Andrews 12:30.
University, 1983).
" T C o 12:10a, b, 28, 30; 13:1,8; 14:2,4, 5a, b, 6, 9,
2
Ver P. C. Miller, " I n Praise of Nonsense," em Classical 13, 14, 18, 19, 25, 26, 27, 39.
Mediterranean Spirituality, ed. A H . A r m s t r o n g (Lon-
dres, 1986); A . C. Thiselton, "The Interpretation' of
I 7
I C o 12:10, 28; 14:6, 9, 13, 19, 26, 27, 39.
Tongues: A New Suggestion i n the Light of Greek l 8
I C o 12:30; 13:8; 14:2, 4, 5a, b, 23.
Usage i n Philo and Josephus," Journal of Theological
Study 30 (1979), 15-36. R o b e r r H . G u n d r y , '"Ecstatic Utterance' (N.E.B.)?"
l9

Journal of Theological Study, N.S. 17 (1966), 299-307.


1
Para u m estudo p r o f u n d o sobre o tema, feito por
uma erudita que usava o método crítico-histórico, ver C . M . R o b e c k , Jr., " T o n g u e s , G i f t o f , " The
2 0

Eta L i n n e m a n n , Wissenschaft oder Meinung.' Angragen international Standard Bible Encyclopedia, ed G . W .


und A l t e r n a t i o n ( N e u h a u s e n - S t u t t g a r t : Hãnssler Bromiley (Grand Rapids, M L Eerdmans, 1988), 4:872.
Verlag: 1986); tradução para o inglés p o r R. W .
Yarbrough, Historical Criticism o/the Bible. Methodology Ver E. A . Nida e C. R. Tabor, The Theory and Practice
21

or ideology? (Grand Rapids, M L Baker, 1990). of Translation (Leiden: E. J. Brill, 1969); Gerhard F.

-44
Hasel, Understanding the Living Word of God ( M o u n t a i n 4 0
J. Massyngbaerde Ford, "Toward a Theology o f
View, C A : Pacific Press, 1980), 100-105. 'Speaking i n Tongues'," Speaking in Tongues: A Guide
to Research on Glossolalia, ed. Watson E. Mills (Grand
2 2
1 C o 12:10a, b, 28, 30.
Rapids, M I : Eerdmans, 1986), 277.
2 ,
I C o 13:1, 8.
T h e o d o r Z a h n , Die Apostelgeschichte des Lucas
4 1

1 Co 14:2, 4, 5a, b, 6, 9, 13, 14, 18, 19, 23, 26, 27,


2 1 (Leipzig/Erlangen, 1922), 104.
39.
A m d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Lexicon,
4 2

2 5
I C o 12:30; 13:1; 14:2, 4, 5a, b, 6, 13, 18, 23, 27,39. 162.

2 6
Entre aqueles que interpretam o termo glôssa como 4 3
D a v i d L . Baker, " T h e I n t e r p r e t a t i o n o f I
declarações estáticas ininteligíveis estão: C. Clemens, Corinthians 12-14," Evangelical Quarterly 46/4 (1974),
"The 'Speaking i n Tongues' of the Early Christians," 230, n . 23, realça que Paulo entendia o d o m de lín-
Expository Times 10 (1898/99), 344-352; Lindsay guas provavelmente como "implicando em fala de lín-
Dewar, "The Problem of Pentecost," Theology 9 (1924), guas estrangeiras." Ele argumenta contra a natureza
249-259; W . S. T h o m s o n , "Tongues at Pentecost, Acts estática do falar em línguas: "Mas as regras que Paulo
i i , " Expository Times 38 (1926/27), 284-286; F. C. dá para o controle do d o m em I C o 14:26-33, j u n t o
Synge, "The Spirit i n the Pauline Epistles," Church com a experiência daqueles que o exerciam, indicam
Quarterly Review 119 (1934), 79-93; Ira J. M a r t i n , que existe algo sob o controle do indivíduo, e que,
"Glossolalia i n the Apostolic C h u r c h , " JBL 63 (1944), portanto, não deve ser descrito como estático" (229-
123-130. 30).

Z/
Liddell e Scott, A Greek-English Lexicon, I , 353. So- 4 4
W . Bousset citado por Behm, "glôssa," 1:726, n . 20.
bre este ponto, ver F. Lübker, Reallexikon des klassischen Reitzenstein também favorece esta derivação e associ-
Aítertums, 8 ed. (1914), 418s.
a ação, ver A r n d t , G i n g r i c h e Danker, Greek-English
Lexicon of the New Testament, 162. Ver também Stuart
2 8
G u n d r y , '"Eecstatic Utterance'?", 299-307. D . Currie, '"Speaking i n Tongues'," interpretation 19
(1965), 278-79, reimpresso em Speaking in Tongues: A
Le 1:64; 16:24, Me 7:33, 35; A t 2:26; R m 3:13;
2 9

Guide to Research on Glossolalia, ed. Watson E Mills (


14:11; Tg 3:5f.; I Jo 3:18; I C o 14:9; I Pd 3:10; A p
Grand Rapids, M L Eerdmans, 1986), 91-92.
16:10.

A t 2:6, 11; Fp 2:11; A p 5:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6;


, 0
4 5
Ver Currie, Speaking in Tongues, 93.
17:15. C o m o R. T h i r n h i l l , "The Testament of Job," em
4 6

" Gundry, '"Ecstatic Utterance'?", 299-302 The Apocryphal Old Testament, ed. H . F. D . Aparks
(Oxford: O x f o r d University Press, 1984), 618; R. P.
3 2
Ford, "Toward a Theology of 'Speaking i n Spittler, "Testament o f Job," The O l d Testament
Tongues'," 277. Pseudepigrapha. V o l . 1 : Apocalyptic Literature and
Testaments, ed. James H . Charlesworth (Garden City,
33
H . W . Beyer, "Fleteros," Theological Dictionary of the
NY: Doubleday, 1983), 829.
"New Testament, ed. G . K i t t e l ( G r a n d Rapids, M L
Eerdmans, 1983), 2:703. 47
Tradução de T h o r n t o n , 646. A interpretação de
Spittler (ver nota anterior), "ela falou estaticamente
34
Delling, Worship in the New Testament, 32: "Clara-
no dialeto angélico" (866), é incorreta.
mente glossais lalein é u m termo técnico (usado sem o
artigo). 4 8
Estas traduções são de Spittler, 866-867.
35
Ver A . Blass, F. Debrunner e R. Funk, A Greek 4 9
Currie, Speaking in Tongues, 94.
Grammar of the New Testament and Other Early Christian
Literature (Chicago: University of Chicago Press, 1961),
5 0
Assim como Bruce, 1 and 2 Corinthians, 125.
254 #480 (3), sobre Atos 2:4. 51
Robertson e Plummer, First Corinthians, 314.
3 6
Engelsen, Glossolalia, 92-93, 100, 161, 176, 191. A Tradução A V "ainda que eu fale" não é apoiada
5 2

37
L. Carlyle May, "A Survey of Glossolalia and Related pela cláusula condicional grega, a não ser que seja
Phenomena i n Non-Christian Religions," Speaking in entendida no sentido subjuntivo, "ainda que eu fa-
Tongues: A Guide to Research in Glossolalia, ed. Watson lasse.
E. Mills ( G r a n d Rapids, M L Eerdmans, 1986), 54. 5 3
Conzelmann, Der erste Korinther, p. 262, n . 27, diz
May lida com muitos fenómenos antigos, os quais vê que "a língua não requer uma equação de fala de an-
como paralelos à glossolalia, mas é incapaz de apon- jos e falar em línguas." E. Andrews, "Tongues, G i f t
tar uma única analogia direta. of," ÍDB (1962), 4:762, declara com respeito a esta
] . Goettmann, "La Pentecôte prémices la nouvelle
3 8
suposta identidade: "Esta é uma especulação sem sen-
création," Bi We et vie Chrétienne 27 (1959), 59-69. tido.

39
Ver Richardson na nota 1. Ford, " T o w a r d a Theology of 'Speaking i n
5 4

Tongues'," 277.

-45
55
Existe uma variante textual oriental interessante: R. Reitzenstein, Poimandres (Leipzig, 1904; reimpr.
74

"mas o Espírito fala." Esta variante não é original mas Darmstadt, 1966), 58.
reflete uma compreensão primitiva do texto original.
" Behm, "Glôssa," Theological Dictionary of the New
Ver K. A l a n d , M . Black, B. Metzger e A l l e n W i k g r e ,
Testament, 1:722.
The Greek New Testament (Stuttgart: Württembergische
Bibelgesellschaft, 1966), 608. 78
Ibid.
56
Na margem da N A S B aparece " o u , pelo Espírito." 7
' W o l f f , Der erste Brif des Paulus an die Korinther, 98-
99.
57
Corretamente em Bruce, 1 and 2 Corinthians, 130;
Barret, The First Epistle to the Corinthians, 315; F. D . 7 8
Conzelmann, Der erste Korinther, 276.
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary, V I ,
788: "Isto é, sob a influência do Espírito,..."
7 9
Delling, Worship in the New Testament, 32 (os itáli-
cos são seus).
G . B o r n k a m m , "musterion i n the New Testament,"
5 8

Theological Dictionary of the New Testament, ed. G . Kittel


8 0
H . Kleinknecht, "Pneuma," Theological Dictionary of
(Grand Rapids, M I : Eerdmans, 1967), 4:817-824. the New Testament, ed. G . Kittel (Grand Rapids, M I :
Eerdamans, 1968), 4 : 3 4 6 ; assim t a m b é m em S.
5 9
G . W . Barker, "Mystery," The Internationa! Standard E i t r e m , " O r a k e l u n d M y s t e r i e n am Ausgang der
Bible Encyclopedia, ed. G . W . Bromiley (Grand Rapids, A n t i k e , " Aibae Vigiliae 5 (1947), 42.
M I : Eerdmans, 1986), 4:453.
81
Kleinknecht, "Pneuma," 6:345.
6 0
Ibid.
8 2
Platão, Timaetts, 71e-72a.
61
Wolff, Der erste Brief des Paulus an die Korinther, 121.
8
' I b i d . " N e n h u m h o m e m , quando em sua mente
6 2
Assim como R. E. Brown, "The Semitic Background [nous], obtém verdade profética e inspiração, mas quan-
o f the N e w Testament Mysterion." Bíblica 39 (1958), do ele [o adivinho] recebe a palavra inspirada tanto
437. seu entendimento [phroneseos] é limitado pelo sono
ou se muda para atitudes de cólera ou alguma posses-
B o r n k a m m , "Mysterion i n the New Testament," 819-
6 3

são [enthusiasrnon]. Mas ele que entenderia o que se


820.
lembra do que f o i d i t o , tanto n u m sonho [onar] o u
A . Robertson e A . Plummer, A Critical and Exegética!
6 4 quando acordado, pela divinação [mantikes] e nature-
Commentary on the First Epistle to the Corinthians, 2 ed. a za entusiástica [enthusiastikes], ou o que v i u , deve pri-
(Edinburgh: T. & T. Clark, 1914), 306. meiro recobrar sua razão [íogismo], então será capaz
de explicar [semaines] racionalmente o que tais pala-
W i l l i a m F. A r n d t , F. W i l b u r G i n g r i c h e Frederick
6 5
vras e aparições significam e que indicações elas en-
W . Danker, Greek-English Lexicon of the New Testament globam para este h o m e m o u se do passado, presente
and Other Early Christian Literature by W . Bauer, 2 ed. a
ou futuro, bem ou mal. Mas enquanto continua em
(Grand Rapids, M I : Eerdmans, 1979), 530. frenesi [manentos], não pode julgar as visões que vê o u
as palavras que pronuncia... E por esta razão é nor-
Robertson e Plummer, First Epistle to the Corinthians,
6 6

mal apontar adivinhos o u intérpretes da inspiração


309.
verdadeira." A maioria do texto grego desta seção é
67
A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Lexicon, encontrada em Behm, "Glôssa," 1:722. A tradução
326. acima segue amplamente aquela de Jowett citada por
F. C . Cnybeare, "Tongues, G i f t of," Encyclopaedia
W i l l i a m G . M a c D o n a l d , "Glossolalia i n the New
6 8
Britannica, 11 ed. (Nova Iorque: 1911), X X V I I , 9f.
a

Testament," Speaking in Tongues: A Guide to Research


on Glossolalia, ed. Watson E. Mills ( G r a n d Rapids, Ford, " T o w a r d a Theology of 'Speaking i n
8 4

M L Eerdmans, 1986), 139. Tongues'," 278.


A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Lexicon,
6 9
Assim c o m o ] . M o f f a t t , The First Epistle of Paul to the
8 5

477-479. Corinthians (Londres, 1938), 215.


7 0
I b i d , 871. Wayne A . G r u d e m , The Gift of Prophecy i n 1
8 6

71
Robertson e Plummer, First Corinthians, 306. Corinthians (Washington, D C : University of America
Press, 1982), 150-152.
A l f r e d R a l p h s , e d . , Septuaginta ( S t u t t g a r t :
7 2

Württembergische Bibelanstalt, 1962), 1:15: "deute kai


87
Plutarco, Moralia, 432, 438, 758.
katabántes sugchéomen ekei autõn tèn gíôssan, htna mè C. M . Roberck, Jr., "Tongues, G i f t of," Internacio-
8 8

akoúsosin hékastos tèn phonèn toú plesíon. nal Standard Bible Encyclopedia, ed. G . W . Bromiley
O termo grego phone' é a expressão usada para "lín-
7 3
(Grand Rapids, M I ; Eerdmans, 1988). 4:872.
gua" na introdução da experiência da Torre de Babel C h r i s t o p h e r Forbes, "Early C h r i s t i a n I n s p i r e d
8 9

na sentença, "e toda terra t i n h a uma língua, e havia Speech and Helenistic Popular R e l i g i o n , " Novum
u m a l i n g u a g e m (phone') para t o d o s " ( G n 11:1, Testamentum 23/3 (1986), 260.
Septuaginta).

-46
« I b i d . , 262-263, 1 0 6
O v i d i o , TristiaV. x. 37f.
91
I b i d . , 268-270; ver também Joseph Fortenrose, The 107
Este plural é usado aqui para pneumatikon de 14:1.
Delphic Oracle (Berkeley: University of California Press, O termo em 14:12 "enfatiza u m pouco mais a verda-
1978), 204-212. de de que os dons para os quais os coríntios deveriam
ser 'zelosos' t i n h a m sua origem no Espírito Santo,"
9 2
Desta forma ainda Johannes P. Louw, Eugene N i d a ,
escreve L . M o r r i s , The First Epistle of Paul to the
et al., Greek-English Lexicon of the New Testament Based
Corinthians (Grand Rapids, M I , 1963), 194.
on Semantic Domain (Londres/Nova Iorque: U n i t e d
Bible Societies, 1988), 1:389-390. A oração grega condicional ("mais provável condi-
1 0 8

ção futura") torna claro que devemos sempre distingir


" V e r também Hasel, Speaking in Tongues, capítulo I I . entre o fato e a declaração do fato. A oração condicio-
9 4
Conzelmann, DeT erste Korinther, 276. nal trata somente da declaração. Ver Robertson,
Grammar of the Greek NT, 1005.
9 5
G r u d e m , The Gift of Prophecy in I Corinthians, 138.
Corretíssimo está Robertson e P l u m m e r , First
1 0 9

9 6
I b i d . , 139. Corinthians, 317.
9
' Morris, The First Epistle of Paul to the Corinthians, " " C o m Lietzmann e K u m m e l , KorintrteT, 73, contra
192. J. Weiss.
9 8
A r n d t e G i n g r i c h , A Greek-English Lexicon, 326. Cf. H . Schlier, "ídiotes," Theological Dictionary of the
111

New Testament, ed. G . K i t t e l ( G r a n d Rapids, M L


G e r h a r d D e l l i n g , Worship
9 9
in the New Testament
Eerdmans, 1965), 3:217.
(Philadelphia, 1962), 33.
Desta f o r m a L i e t z m a n n e K u m m e l , Schlier,
112

O v i d i o . Naso, A m . I . 6, 42: "dare verba i n ventos."


l 0 0

Conzelmann, Barret entre outros comentaristas.


Cf. A . O t t o , Sprinchivörter der Römer (Leipzig, 1890),
364. ' " C o n z e l m a n n , Der erste kirinther, 285, explica que,
de acordo com 14:21, falar em línguas "era considera-
101
Robertson e Plummer, First Corinthians, 310.102. do esotérico, como u m processo na igreja e seus resul-
102
A palavra grega aqui é phone que é traduzida por tados sobre ela, mas daqui em diante [vs. 22s] é consi-
muitos tradutores como "língua" (RSV, N A B , N A S B ; derado com relação a missão.
Conzelmann, Barret, Bruce, H . Lierzmann e W . G . 114
Robertson e Plummer, First Corinthians, 317.
Kümmel, Korinther 1, I i [Tübingen, 1969], 71). C o n -
tudo, o significado de "linguagem" é duvidoso ape- 115
W . G . Belshaw, " T h e C o n f u s i o n of Tongues,"
nas neste o u t r o texto do N T onde é indicado, i . e., I I Bibíiotheca Sacra (abril, 1963), 148s, restringe de for-
Pd 2:16, por A r n d t e Gingrich, A Greek-English Lexicon, ma m u i t o estrita para judeus apenas.
879. O significado regular deste termo é "som, t o m , 116
Isto corresponde apenas de forma m u i t o fraca tan-
barulho, voz." Ele é usado com estes significados de
to em relação ao texto Hebreu como à L X X . Para esta
forma consistente nas passagens frequentes do N T .
passagem notoriamente difícil, ver G r u d e m , The Gift
Na L X X lê-se em G n 11:7, no contexto de confusão of Prophecy in I Corinthians, 185-205.
de línguas, que Deus disse, "Vamos, desçamos, e con-
fundamos a suas linguagens [gíossan], para que u m " ' A r n d t , Gingrich e Danker, A Greek-English Lexicon,
não entenda a fala fphonel o outro. 514.

A expressão grega kai ouden é incorreta tanto que


1 0 i
118
G r u d e m , The Gift of Prophecy in 1 Corinthians, 190.
os comentaristas sugerem que Paulo pretende que a 119
C o m o Seventh-day Adventist Bible Commentary,
palavra ethnos, "raça," seja entendida (cf. Lietzmann e 6:791.
K ü m m e l , Korinther, 7 1 ; C o n z e l m m a n , Der erste
Korinther, 274, n . 8) onde ressalta que genos, "espéci- , 2 0
B e h m , "Glôssa," 1:722.
es," não se enquadra. Ele está correto nisto, porque 121
Deve-se evitar de fazer o "sinal" atuar meramente
"dizer que nada é sem uma voz de alguma espécie
de forma negativa com u m "sinal de julgamento" (ver
seria dificilmente verdadeiro," Robertson e Plummer,
Robertson e Plummer, Lietzmann e Kümmel, Barret,
First Corithians, 310. Barrettt, The First Epistle to the
Bruce, et al.). Conzelmann, Der erste Korinther, 285,
Corinthians, 319, s e g u i n d o t a m b é m L i e t z m a n n , insisre que Paulo rira apenas uma ideia da citação,
Kümmel, Conzelmann. particularmente que línguas são u m "sinal" para des-
crentes.
Este termo está em patanomasia com o termo phone.
104

Alguns interpretam-no como indicando "ininteligível" 122


J. M . P. Sweet, "A Sign for Unbelievers: Paul's
tomando com base o verso 11, mas esta ideia aparece A t t i t u d e to Glossolalia," Speaking in Tongues: A Guide
apenas na sentença seguinte to Research on Glossolalia, ed. Watson E Mills (Grande
Rapids, M I : Eerdmans, 1986), 144-46, infere que Pau-
H . W i n d i s c h , "Bárbaros," Theological Dictionary of
105

lo pode estar adotando uma fatia da primitiva polé-


the New Testament, ed. G . Kittel (Grand Rapids, M L
mica cristã anti-judaica. Mas é m u i t o difícil ter certe-
Eerdmans, 1964), 1:546-553.
za absoluta sobre isto.

-47
A RSV dá a impressão na sua tradução de 14:5
1 2 1 1 3 8
Esta é a expressão usada por Platão, Timaeus, 71e.
que duas pessoas diferentes são aludidas: aquele que
" " I b i d . , 72a.
fala em línguas e aquele que interpreta. Mas o texto
grego indica que o sujeito de diermeneue ("intérpre- 140
I b i d . , proseiken.
te") não é u m tis suprido mas "ele que fala em lín-
guas." A q u i a KJV, N E B , N A B , N A S B , etc., estão cor-
141
Pollux, Onomosticon, V I I , 124: "exegetai d ' ekalounto
reias ao traduzirem "aquele que fala em línguas, a hoi ta peri ton allon hieron didaskontes." Pollux de
menos que ele (aquele que fala em línguas) interpre- Nauticratis do Egito era professor de retórica em Ate-
te." Ver G . Henrici, Kristisches Exegetisches Handbuch nas em 178 a.D.
über den ersten Brief an die Korinther, 7 ed. (Göttingen),
1
142
Cf. Behm, "Glóssa," 1:722s.
396; Conzelmann, Der erste Korintlier, 277.
143
G r u d e m , The Gift of Prophecy in I Corinthians, 176.
124
H . Weder, "Die Gabe der hermeneia ( 1 . Kor 12 u d
14)," em Wirjungen hermeneutischer Theologie, eds. H.F. 144
Eurípedes, Bacchae, 298-300s. Eurípedes viveu de
Geiser e W . Mostert (Köln: 1983). 4 8 0 4 0 6 a.C.

A . Rahlfs, ed., Septuaginta, 7 ed. ( S t u t t g a r t :


125 1 145
I b i d . , 161.
Württembergische Bibelanstalt, 1962), 1102.
146
Delling, Worship in the New Testament, 39.
126
A r n d t , Gingrich e Danker, A Greek-English Lexicon,
Cf. Reitzenstein, Poimandres, 219s.; H . Weinel, Die
147

194. Polibio (es. 210-120 a.C.), o maior historiador


Wirkungen des Geistes and der Geister (Göttingen:
do helenismo, emprega o mesmo verbo com o signifi-
Vandenhoeck 6k Ruprecht, 1899), 72s.; Lietzmann
cado de "traduzir" ( I I I . 22,3). Na famosa Carta de
and Kümmel, Korinther, 68s.
Aristéias da Septuaginta é d i t o que fora "traduzida"
do Hebraico, com o mesmo verbo usado (linhas 13, Cf. K. Latte, "The C o m i n g of the Pythia," Harvard
148

208, 310). Theological Review 33 (1940), 9-18.


127
Ibid. 149
Veja a descrição de Virgílio, Aeneis, v i . 46, 98.
128
Este é novamente o claro significado na Carta de E. R. Dodds, The Greeks and the Irrational (Berkeley:
130

Aristéias (11. 3, 11, etc.). University of California Press, 1949), 70.


129
A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Lexicon G . B o r n k a m m , "Faith and Reason i n Paul," Early
151

of the New Testament with an English Translation (Lon- Christian Experience (Nova Iorque: Haper & Row,
dres: S. Bagster and Sons, 1879), 57. 1969), 38, e outros.
Veja, p o r exemplo, [S. Bagster], The Septuagint
1 , 0
152
Engelsen, Glossolalia, 189.
Version of the Old Testament with an English Translation
(Londres: Bagster and Sons, 1879), 57.
133
I b i d . , 20-21, 60, 139-140, 204-205.

111
Temos também de considerar hermeneuo, que é usa- G r u d e m , The Gift of Prophecy in I Corinthians, 155-
1 3 4

do todas as vezes na L X X e no N T c o m o significado 176; Terrance Callan, "Prophecy and Ecstacy i n Greco-
de "traduzir" (Jó 42:18; Ed 4:7; Ed 10:3; e em Jo 9:7; R o m a n R e l i g i o n and i n I C o r i n t h i a n s , " Novum
H b 7:2; A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek-English Testamentum 27 (1985), 125-140.
Lexicon, 310) e o cognato methermeneuo o qual sempre 155
G . B o r n k a m m , Gesammelte Aufsätze (München,
significa "traduzir" na L X X e no N T (Prólogo de
1959), 2:134.
Sirach, 1. 23; M t 1:23; M c 5:41; 15:23s; Jo 1:38, 42;
A t 4:36; 13:18; A r n d t , G i n g r i c h e Danker, A Greek- C o r r e r a m e n t e em Barrett, First Epistle to the
1 5 6

English Lexicon, 498). Corinthians, 322.

U m a referência é feita a uma sátira o u dizer figura-


1 , 2 137
R. C. Dentan, " M i n d " ÍDB (1962), 3:383.
tivo (Sirach 47:17) e outra vez o significado é "expli-
138
Desta forma Barret, First Epistle to the Corinthians,
car" (Lc 24:27).
320; cf. Bruce, 1 and 2 Corinthians, 131.
Este ponto recebe atenção de cada estudo feito por
133

139
W o l f f , Der erste Brief des Paulus an die Korinther, 133.
eruditos de várias crenças porque é de importante
significância. 180
F. Behm, "Noüs," Theological Dictionary of the New
J. G . Davies, "Pentecost and Glossolalia," Journal
134
Testament, ed. G . Kittel (Grand Rapids, M L Eerdmans,
of Theological Studies 3 (1952), 230. 1967) 4:959, n . 37.

1 3 5
B e h m , "Glóssa," 1:722. G . Harder, "Reason, M i n d , Understanding," The
161

New International Dictionary of New Testament Theology,


1 3 6
Ibid. ed. C. Brown (Grand Rapids, M L Zondervan, 1978)
3:129.
137
Esta é a hipótese de R. P. Spittler, "Interpretation
o f Tongues, G i f t of," Dictionary of Pentecostal and Behm, "Notts," 4:958: "Não existe conexão com o
162

Charismatic Movements, eds. Stanley M . Burgess e Gary uso filosófico o u místico religioso [de noüs]." Mais
B. McGee (Grand Rapids, M L Zondervan, 1988), 469.

-48
adiante declara: "Não há necessidade de imaginar que H . H o r t o n The Gifts of the Spirit (Notingham: 1934),
Paulo esteja igualando noús e pneúma segundo a con- 150; J. D . Davies, "Pentecost and Glossolalia," Journal
duta do misticismo helenístico" (959). of Theological Studies 3 (1952), 228,231; W . Tees, " 1
and 2 Corinthians," A Catholic Commentary on Holy
'"'Sobre estes extremos, ver Sweet, 240-245, 164.
Scripture, ed. D o m B. O r c h a r d (Londres: Nelson,
184
H . C h a d w i c k , " A U T h i n g to A l l M e n , " New 1953), 1095-1096; S. L . Johnson, Jr. "The G i f t o f
Testament Studies 1 (1954/55), 268. Tongues and the Book of Acts," Bibliotheca Sacra (Oct.,
1963), 340; Charles W . Carter, " I Corinthians and
185
Para o problema textual levantado nas variantes, Ephesians," The Wesleyan Bible Commentary, ed.
ver Conzelmann, Der erste Korinther, 291, n . 62. O Charles W . Carter ( G r a n d Rapids, M I : Eerdmans,
texto de P com en antes de glossais é original.
48
1965), 5:214-222; S. Aalen, "Zungenreden," Biblisch-
historisches Handwörterbuch, eds. B. Reicke e L . Rost
166
O número "cinco" é tipicamente u m número re-
(Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1966), 3:2249-
dondo. Ver Strack e Billerbeck, Kommentar zum N T ,
2250; R. H . Gundry, '"Ecstatic Utterance' (N.E.B.)?"
3:461.
Journal of Theological Study 17 (1966), 299-307; W .
187
O texto grego de I Coríntios 14:18 não relata que H a r o l d M a r e , " I C o r i n t h i a n s , " The Expositor's
Paulo fala "em mais línguas," mas que ele fala em Commentary of the Bible, ed. Frank E. Gaebelein (Grand
línguas "mais do que todos juntos" ou "mais do que R a p i d s , M I : Z o n d e r v a n , 1976), 10:271-281; J.
qualquer u m . " Esta última tradução é suficiente para Massyngbaerde F o r d , " T o w a r d a T h e o l o g y o f
o argumento de Paulo. 'Speaking i n Tongues'," Theological Studies 32 (1971),
3-29, reimpresso em Speaking in Tongue: A Guide to
168
C o m o uma mostra de eruditos do século XX, per- Research on Glossolalia, ed. Warson E. Mills (Grand
tencentes a diversas crenças religiosas e a várias esco- Rapids, M I : Eerdmans, 1986), 263-294; N o r m a n
las de pensamento teológico que apoiam a posição de Hillyer, " 1 and 2 C o r i n t h i a n s , " The Eerdmans Bible
que em I Coríntios 12-14 Paulo fala de línguas esrran- Commentary, ed. D . G u t h r i e e J. Moryer, 3 ed. (Grand
a

geiras quando se refere ao "falar em línguas," pode- Rapids, M I : Eerdmans, 1987), 1067, 1069-1070:
mos citar os seguintes: H . Bertrams, Das Wesen des "ecstatic speech i n language usually u n k n o w n . " G . F.
Geistes nach der Anschauung des Apostles Paulus Rendall, "Ich rede mehr als ihr alle in Zungen" (Stuttgart;
(Neutestamentliche Abhandlungen, IV/4 (Münster: Schwengeler Verlag, s.d.); Wolfgang Bühne, Spiel mit
1913), 39; W . Reinhard, Des Wirken des Heiligen Geistes dem Feuer (Bielefeld: Christliche Literatur-Verbreitung,
nach den Briefen des Apostles Paulus ( F r e i b u r g e r 1989); e outros.
Theologische Studien, 22; Freiburg, 1918), 120, 133;

-49-

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