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Dissertacao Documento Final PDF
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Coordenação de isolamentos em
subestações
Julho de 2013
c Carlos Queirós, 2013
Resumo
Com a presente dissertação pretende-se efetuar uma análise sobre a coordenação de isola-
mento em subestações, com especial atenção para aquelas que se situam nos níveis de tensão de
transporte, acima dos 60 kV.
Numa primeira etapa será efetuada uma revisão bibliográfica onde se descreve uma subestação
e se dá a conhecer os seus principais componentes. Posteriormente, apresentar-se-á uma visão
geral sobre a coordenação de isolamento, onde se faz uma introdução ao tema e se expõem os
diferentes equipamentos relacionados com a mesma. Serão ainda dadas a conhecer as diferentes
solicitações a que estes equipamentos podem ser sujeitos sobre condições de serviço. Finalmente
serão relatados procedimentos para a coordenação de isolamento.
Seguidamente expõem-se uma síntese da norma internacional IEC (International Electrotech-
nical Commission) para coordenação de isolamento, IEC 60071. Esta é composta por duas partes,
sendo que a primeira apresenta definições, princípios e regras e a segunda constitui um guia de
aplicação.
Finalmente será efectuada uma análise comparativa entre a norma internacional e o Guia de
Coordenação e Isolamento seguido pela empresa portuguesa responsável pela concessão da rede
de transporte de eletricidade em Portugal. A partir desta análise serão apresentadas sugestões de
alteração ao guia em causa e ainda aplicação destas alterações a um caso de estudo.
i
ii
Abstract
The aim of this dissertation is to perform an analysis about insulation coordination in substa-
tions, with special emphasis to those situated in transport levels, above 60 kV.
First of all will be performed a literature review where, at first, a substation is described and
its main components are presented. Later on, an overview of the insulation coordination will be
shown, an introduction to the subject is made and the different equipment related to insulation
coordination are presented. The different dielectric stresses that those devices may be exposed
under service conditions will be exhibited. Finally, procedures for insulation coordination will be
presented.
Then a synthesis of the international standard IEC (International Electrotechnical Commis-
sion) for Insulation Coordination, IEC 60071, will be exposed. It is composed by two parts, the
first one provides definitions, principles and rules, and the second is an application guide.
Finally will be performed a comparative analysis between the international standard and the
Guide for Insulation Coordination followed by the Portuguese company responsible for the elec-
tricity transmission network in Portugal. Based on that analysis, suggestions for changes to the
actual guide will be presented and its application to a case study.
iii
iv
Agradecimentos
Em primeiro lugar quero agradecer ao meu orientador, Professor António Machado e Moura,
pelo acompanhamento e conselhos que permitiram que esta dissertação se tornasse uma realidade.
Ao Vitor Almeida pela ajuda e esclarecimentos prestados na elaboração da dissertação.
A todos os meus amigos, em especial ao José Pedro Queirós, Ricardo Ferreira, Nuno Soares,
Luís Pereira e Ricardo Mourão Ferreira pelo apoio e companheirismo prestado que permitiram
atenuar as dificuldades encontradas durante este trajecto.
Agradeço em especial aos meus pais pelo incentivo e por tudo o que fizeram por mim ao longo
dos anos, sem eles nada disto seria possível.
A todos aqueles que, de uma maneira ou outra, me auxiliaram nesta caminhada.
A todos vós, Muito Obrigado.
Carlos Queirós
v
vi
“Simplicity is the ultimate form of sophistication.”
Leonardo da Vinci
vii
viii
Conteúdo
1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Estrutura da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 Revisão Bibliográfica 5
2.1 Subestações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.1 Propósito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.2 Transformação do nível de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.3 Constituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Coordenação de isolamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.2 Solicitações dielétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.3 Isolamento e proteção contra sobretensões . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.4 Características de rigidez dielétrica do isolamento . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.5 Critério de desempenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.6 Procedimento de coordenação de isolamento . . . . . . . . . . . . . . . 22
ix
x CONTEÚDO
Referências 101
Lista de Figuras
xi
xii LISTA DE FIGURAS
Lista de Tabelas
xiii
xiv LISTA DE TABELAS
4.18 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama I [3] 77
4.19 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II
fase-terra [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.20 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II
fase-fase [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Lista de abreviaturas
AC Alternate current
AT Alta tensão
BT Baixa tensão
DC Direct current
DST Descarregador de sobretensões
EDP Energias de Portugal
FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
FFO Fast tront overvoltage
GCI Guia de Coordenação de Isolamento
GIS Gas Insulated Switchgear
IEC International Electrotechnical Commission
MAT Muito alta tensão
MT Média tensão
p.u. Por unidade
REE Red Eléctrica de España
REN Rede Energética Nacional
SFO Slow front overvoltage
TOV Temporary overvoltage
VFFO Very fast tront overvoltage
Lista de símbolos
xv
xvi ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
Introdução
A fiabilidade do sistema elétrico, e, por sua vez, a qualidade de serviço prestada aos clientes,
depende diretamente das interrupções. Estas serão tanto piores, no que diz respeito à qualidade
de serviço, quanto maior a duração e a frequência. Entre muitas das causas das interrupções
está o escorvamento dos isolamentos, que mais não é do que a sua rutura. Deste modo torna-se
essencial uma rigorosa seleção dos equipamentos de proteção e de isolamento com vista ao bom
funcionamento do sistema elétrico. Assim, com a coordenação de isolamentos procura-se obter
a melhor relação técnico-económica com vista à garantia de proteção do equipamento contra as
solicitações dielétricas existentes no sistema.
Se o isolamento fosse apenas sujeito às solicitações causado pelas tensões sobre condições nor-
mais de operação, este problema seria facilmente resolvido, bastando para esse efeito que fosse
selecionado um nível de isolamento que suportasse tais solicitações. Contudo o isolamento é
sujeito a inúmeros surtos (sobretensões), com várias formas, magnitudes e durações, que colo-
cam em causa a capacidade de o equipamento os suportar. Como as circunstâncias de ocorrência
destes surtos não é conhecida, torna-se economicamente inviável o dimensionamento de todo o
equipamento por forma a garantir que não há disrupção. Portanto, é aceite uma determinada pro-
babilidade de falha no dimensionamento do sistema. Por outro lado, visto que é impossível evitar
todos os contornamentos, estes devem ser confinados a locais onde os danos causados tenham
menor impacto na operação do sistema.
Posto o já referido, a coordenação de isolamentos pode definir-se, de acordo com IEC 60071-
1, como a seleção da rigidez dielétrica do equipamento de acordo com a tensão de operação e
sobretensões que podem surgir no sistema, no qual o equipamento se insere, e tendo em conta o
ambiente de serviço e as características disponíveis do equipamento de proteção.
1
2 Introdução
1.1 Motivação
O sistema elétrico de energia é um sistema vasto e complexo essencial ao abastecimento de
eletricidade aos diferentes consumidores da sociedade, desde particulares a empresas/indústria.
Pela sua natureza está sujeito a diversos fenómenos transitórios (sobretensões), de origem interna
como externa, e que podem levar à saída de serviço de equipamento crucial à continuidade de
abastecimento dos consumidores, como por exemplo transformadores de potência localizados em
subestações. As subestações de potência, que são um subsistema de importância capital dentro do
sistema elétrico, são particularmente afetadas por estes fenómenos, e como tal requerem uma aten-
ção especial na sua conceção, com vista a uma fiabilidade elevada. Um dos aspetos da conceção
que garante fiabilidade ao sistema é o isolamento.
Pretende-se desta forma efetuar um estudo sobre a coordenação de isolamentos em geral, assim
como efetuar uma análise do guia seguido em Portugal em comparação com as normas interna-
cionais do IEC (Internetional Electrotechnical Commission) com vista a eventuais propostas de
melhoria do mesmo, tendo por objetivo a redução de custos com instalações ou até melhoria da
qualidade de serviço.
1.2 Objetivos
A presente dissertação tem como principal objetivo efetuar uma análise comparativa entre o
Guia de Coordenação de Isolamento para a rede PTI-EDP 1 e o documento normativo IEC 60071
para a coordenação de isolamento. A partir desta análise pretende-se efetuar propostas de alteração
com vista a uma melhoria da qualidade de serviço e redução de custos em instalações projetadas
com base no guia referido.
Pretende-se ainda dar uma visão geral sobre coordenação de isolamentos, desde solicitações
dielétricas, equipamentos a proteger e equipamentos de proteção, bem como métodos de coorde-
nação de isolamento e processo para a sua realização.
1 Este documento remete para o período em que a empresa concessionária da rede de transporte era a EDP. O termo
PTI refere-se a uma rede com neutro à terra. Atualmente a empresa concessionária é a REN sendo que o termo PTI não
é mais utilizado, e a rede é atualmente descrita como RNT. Contudo, o documento em causa é ainda a referência para
a coordenação de isolamento. No decorrer da presente dissertação a referência ao documento em causa será realizada
apenas como Guia de Coordenação de Isolamento ou através da sigla respetiva. Note-se ainda que a REN se encontra
a rever este guia.
1.3 Estrutura da Dissertação 3
Constitui ainda um objetivo aplicar as propostas de alteração a um caso prático. Este caso
prático será uma subestação de transmissão com três níveis de tensão, 400, 150 e 60 kV.
Revisão Bibliográfica
Neste capítulo faz-se uma abordagem geral ao tema, apresentando o papel das subestações
no sistema elétrico de energia e seus equipamentos integrantes, o conceito de coordenação de
isolamento e factores que levam à sua realização, assim como os fenómenos que afectam os equi-
pamentos das subestações, o comportamento dos isolamento sujeitos a estes fenómenos e meios
de proteção. Por último apresentam-se métodos de coordenação de isolamento.
2.1 Subestações
2.1.1 Propósito
A energia elétrica é, ainda nos dias de hoje, produzida essencialmente de forma centralizada,
em locais que podem distar centenas ou milhares de quilómetros dos centros de consumo. Assim
existe a necessidade de transportar grandes quantidades desta forma de energia, através de gran-
des distâncias. Posto isto, as empresas responsáveis pelo transporte vêem-se obrigadas a cumprir
determinados critérios de qualidade ao menor custo possível. Podem definir-se assim os três prin-
cipais objetivos destas empresas [1]
5
6 Revisão Bibliográfica
S = V · I∗ (2.1)
Onde:
pJ = Rl · I 2 (2.2)
Onde:
∆V = Rl · I (2.3)
Onde:
2.1.3 Constituição
Uma subestação incorpora inumeros equipamentos, desde o equipamento de potência, ao de
proteção, controlo e monotorização. Seguidamente listam-se os componentes típicos de uma su-
bestação [1].
• Transformador de potência;
• Disjuntor;
• Seccionador;
• Comutadores;
8 Revisão Bibliográfica
• Transformadores instrumentais;
• Barramentos;
• Relés;
• Sistema de terras;
2.1.4 Conclusão
2.2.1 Introdução
• Deslastre de carga. Esta afecta os parâmetros da tensão da rede, uma vez que sofre um
acréscimo da amplitude e a frequência pode também sofrer um aumento. O impacto da
sobretensão será tanto maior quanto mais saturados estiverem os transformadores, sendo
que o equipamento no final da linha será mais afectado devido ao efeito de Ferranti [3]. O
deslastre de carga pode provocar sobretensões temporárias na ordem de 1.2 vezes o valor
de tensão nominal, no final da linha desconectada junto à subestação, graças ao efeito de
Ferranti [4].
Uma sobretensão pode ser induzida numa linha de transmissão após a incidência direta de
uma descarga atmosférica sobre os condutores de fase, ou indirecta, sobre as torres e cabos de
guarda. A incidência directa só acontecerá se linha não estiver devidamente protegida por cabo de
guarda. Para melhor se entender, o sinal introduzido pela descarga é equivalente ao de uma fonte
de corrente que origina uma forma de tensão como se apresenta na figura 2.2. Esta caracteriza-
se por ter uma frente rápida (T1 na ordem de 1 µs) e um tempo de cauda (T2), para 50% do
valor de pico, na ordem de algumas dezenas de micro segundos. A curva 1,2/50 (em que T1=1,2
µs e T2=50 µs) é a curva normalizada para efeito de ensaios no que diz respeito a descargas
atmosféricas.
Esta sobretensão é normalmente originada pela incidência de uma descarga num cabo de
guarda ou torre, que induz uma tensão nos condutores de fase, ou através do contornamento de
retorno da distância de isolamento no ar, que injecta um corrente num condutor de fase. Contudo,
estes transitórios podem ser altamente atenuadas pela linha de transmissão, de tal forma que à che-
gada da subestação esta se possa assemelhar a uma sobretensão de manobra rápida [4]. Segundo
2.2 Coordenação de isolamentos 11
o documento [3], a sua incidência em linhas e subestações pode ser estimado, de forma grosseira,
a partir do índice ceráunico (número médio de dias em que a trovoada foi ouvida). Actualmente
existe em Portugal um sistema implementado permitindo quantificar a corrente, localização e po-
laridade da descarga.
Não obstante, as sobretensões de origem atmosférica apresentam-se mais relevantes para sis-
temas com níveis de tensão abaixo dos 300 kV, uma vez que o seu impacto na rede será tanto
menor quanto maior for o nível de tensão. Acima deste nível, as sobretensões de manobra passam
a revelar-se mais invasivas pois a sua amplitude é proporcional ao nível de tensão [2].
• Rejeição de carga;
• Aparecimento de um defeito;
• Eliminação de um defeito;
Uma das mais importantes sobretensões de manobra resulta da religação de uma linha em
vazio [4].
A amplitude deste tipo de sobretensões depende essencialmente do órgão de manobra (disjun-
tor) e do equipamento a ser manobrado, revelando-se independente do nível de tensão do sistema.
Em sistemas cuja tensão mais elevada para o equipamento é inferior a 300 kV, as sobretensões de
manobra não se revelam de grande importância uma vez que as solicitação dielétricas causadas no
equipamento não são determinantes, e também porque as margens utilizadas para as sobretensões
de origem atmosférica cobrem, normalmente, as necessidades relativas às sobretensões deste tipo
[3].
2.2.3.1 Introdução
Na secção 2.2.2 foram expostas as diferentes solicitações dielétricas originadas pelo funciona-
mento do sistema. No entanto convém perceber em que consiste o isolamento, quais os dispositi-
vos utilizados para esse fim e quais os dispositivos de proteção contra sobretensões. O isolamento
elétrico consiste em proteger as instalações elétricas, numa perspectiva de segurança de pessoas
e animais, contra contactos directos e indirectos. Numa perspectiva técnica consiste em evitar as
fugas de corrente elétrica para a terra. Numa rede de transporte, o isolamento e os dispositivos de
proteções são de crucial importância pois são dos principais fatores na garantia de fiabilidade do
sistema. No que diz respeito à proteção contra sobretensões, estes podem agrupar-se em disposi-
tivos de proteção activa e passiva. Em termos de proteção activa temos os explosores, ou hastes
de guarda, e descarregadores de sobretensões. No que diz respeito à proteção passiva temos os
isoladores e os cabos de guarda [5].
2.2.3.2 Isoladores
Os isoladores utilizados em redes de transporte e distribuição, figura 2.3, têm não só a função
de isolar as linhas de transmissão, como também a de fixar estas mesmas linhas aos seus apoios.
Desta forma, devem apresentar boas características dielétricas, assim como boas características
mecânicas. Existem diversos tipos de matérias utilizados, desde cerâmicas, vidro, e mais recente-
mente (últimas quatro décadas) os de materiais compósitos. Conforme o tipo de material utilizado,
os isoladores apresentam diferentes características mecânicas e dielétricas. Os dois primeiros têm
a vantagem de apresentar uma grande fiabilidade, demonstrada com a experiência da sua utilização
ao longo dos anos. Contudo, apresentam também uma desvantagem comum que é o peso, podendo
levar à seleção de apoios mais resistentes aumentando o custo de implementação. Os compósitos
têm-se apresentado como uma excelente alternativa, apresentando um custo baixo e peso reduzido,
bem como um desempenho avançado face à poluição relativamente aos demais materiais. No en-
tanto, considera-se que ainda não é possível avaliar o seu tempo de vida útil comparativamente aos
de porcelana e vidro [6].
2.2 Coordenação de isolamentos 13
férica incida directamente sobre a linha provocando a sobretensão. O cabo de guarda é instalado
no extremo do apoio, acima dos condutores de fase. Desta forma a descarga incidirá no cabo de
guarda em vez dos cabos de linha. O cabo de guarda encontra-se eletricamente ligado aos apoios,
pelo que a resistência de terra destes é de elevada importância para o escoamento da descarga.
A resistência de terra deve ser o mais baixa possível, pois quanto maior esta for, maior será a
possibilidade de se estabelecer um arco de retorno do apoio para a linha. Apesar de a utilização
de cabos de guarda se manifestar como uma mais-valia para a redução de sobretensões de origem
atmosférica, estas não deixam de existir pelo facto de a incidência de uma descarga atmosférica no
cabo de guarda induzir uma sobretensão na linha, contudo esta será menor do que se a incidência
fosse directa.
2.2.3.4 Explosores
Os explosores, figura 2.5, são equipamentos de proteção activa contra sobretensões, efectu-
ando uma descarga para a terra quando uma sobretensão, superior ao seu nível de proteção, se
estabelece aos seus terminais. São equipamentos extremamente simples, sendo compostos por
dois elétrodos espaçados no ar, sendo que um deles é ligado eletricamente à linha e o outro di-
rectamente à terra. Trata-se de um dispositivo facilmente regulável conforme o nível de proteção
pretendido. Os explosores podem tomar diversas configurações, no que diz respeito aos elétrodos,
destacando-se os seguintes [7]:
• Duas simples varas colocadas uma em frente à outra. Estes constituem uma proteção de re-
serva de forma que o seu funcionamento só é previsto no caso de os dispositivos de proteção
mais elaborados não atuarem;
• explosores de antenas. São constituídos por duas antenas destinadas a provocar o alonga-
mento do arco elétrico;
• dispositivos mais complexos incorporando, além dos elétrodos de descarga, anéis destinados
a eliminar os eflúvios de efeito de coroa 1 .
Os explosores, pelo seu baixo custo e facilidade de ajuste, de acordo com a altura a que se en-
contram instalados ou com a função que lhes é atribuída, foram largamente utilizados. Contudo,
estes equipamentos apresentam inúmeras desvantagens que impedem a sua utilização como prin-
cipais dispositivos de proteção. Também derivado da sua simplicidade, os explosores apresentam
as seguintes desvantagens: dificuldade de extinção autónoma da descarga; o seu funcionamento
provoca um elevado gradiente de frente que pode causar problemas a equipamentos bobinados,
e.g. transformadores; atraso na resposta, podendo a tensão ultrapassar o nível de proteção do ex-
plosor, o que pode por em causa o isolador; o nível de tensão a que se efectua a descarga varia
com as condições atmosféricas.
1O
efeito de coroa consiste na ionização de um fluido, ar no caso das linhas de transporte, quando sujeito a um
campo elétrico intenso, sendo que a intensidade visual (arco) e sonoro (zumbido) depende da intensidade desse campo
[8].
2.2 Coordenação de isolamentos 15
Figura 2.5: Exemplo de descarga entre hastes de um explosor na extremidade de uma cadeia de
isoladores
Figura 2.6: Característica de tensão versus corrente de DST de Óxido de zinco e Carboneto de
sílicio [9]
A disrupção pelo ar é extremamente afetada pela configuração dos espaçamentos e pela pola-
ridade e forma de onda de tensão aplicada. Em isolamento no exterior, aspectos ambientais como
humidade, chuva e poluição das superfícies são factores de importância crucial. Para componentes
GIS (Gas Insulated Switchgear), aspectos como pressão interna e temperatura, assim como falta
de homogeneidade do gás e impurezas tomam um papel importante. Em isolamento líquido, im-
purezas, bolhas de ar causadas por efeitos químicos e físicos ou por descargas locais (interior do
18 Revisão Bibliográfica
transformador por exemplo) podem reduzir drasticamente a rigidez dielétrica. Outro aspecto rele-
vante é a degradação das características isolantes ao longo do tempo de vida. Esta característica é
também aplicável aos isolantes sólidos [11].
Uma propriedade relevante relativamente à disrupção de um isolante é o seu carácter esta-
tístico, e, portanto, deve ser tomado em consideração. Graças à característica auto regenerativa
de determinados isolantes, por exemplo o ar, é possível obter a resposta estatística aos esforços
dielétricos com recurso a testes específicos. Assim, o isolamento auto regenerativo é usualmente
descrito pela tensão suportável estatística, que corresponde a uma probabilidade de suportar uma
solicitação dielétrica igual a 90%. Quanto ao isolamento não auto regenerativo, como a sua natu-
reza estatística não pode ser encontrada através da realização de testes, a tensão suportável assu-
mida corresponde a 100% de probabilidade de suportar o stress [11].
Nas aplicações em alta tensão, para a maioria dos casos, o condutor energizado (carregado ele-
tricamente) é normalmente sujeito a maior stress do que o condutor ligado à terra. Desta forma, no
que diz respeito a isolamento a ar, a rigidez dielétrica é afetada pela polaridade das sobretensões,
isto é, um condutor estará sujeito a um maior esforço dielétrico se estiver carregado positivamente
do que se estiver carregado negativamente. Dessa forma, a tensão que dá origem à disrupção atra-
vés do espaço no ar será menor para um condutor com carga positiva do que para um com carga
negativa [11].
No caso em que ambos os elétrodos estão aproximadamente sujeitos ao mesmo stress, dois
processos de descarga estarão envolvidos, com características positiva e negativa. Portanto, se for
claro qual a polaridade mais severa, a configuração dos espaços deve ser baseada nessa polaridade,
senão devem ser consideradas ambas as possibilidades [11].
A rigidez dielétrica é também afetada pela forma de onda da sobretensão. Para impulsos de
frente lenta, o isolamento externo depende mais do impulso de frente do que da cauda. Esta torna-
se mais significativa no caso de poluição da superfície do isolamento externo. A rigidez dielétrica
do isolamento interno depende essencialmente do valor de pico [11].
Para isolamento externo, normalmente existe para cada espaçamento no ar, um impulso cujo
tempo até ao pico (impulse time-to-peak) conduz a uma tensão de ruptura (disrupção) menor.
Este é considerado o tempo até ao pico crítico (critical time to peak). Normalmente, o mínimo
encontra-se na gama de valores de tempo até ao pico para sobretensões de frente lenta, e quanto
maior o espaçamento, mais pronunciado será este mínimo. Para distâncias na gama de valores I
encontrados na tabela 3.4 presente em IEC 60071-1, que se referem a distâncias de isolamento
considerando sobretensões de origem atmosférica, logo de frente rápida, o seu efeito pode ser
ignorado [11]. Para espaçamentos usados na gama de valores II, que se refere a sobretensões
de manobra, logo frentes mais lentas, a mínima tensão de disrupção corresponde ao tempo até ao
pico normalizado de 250 µs. Esta consideração pode representar distâncias mínimas conservativas
[11].
2.2 Coordenação de isolamentos 19
A tensão de disrupção para isolamento externo sobre esforços causados por uma sobretensão
de origem atmosférica diminui com o aumento da duração da cauda da onda. No entanto, para
tensões suportáveis esta diminuição não é considerada e a tensão de disrupção assume-se ser igual
à de impulso normalizado 1,2/50 µs. Ainda assim, existe a possibilidade de redução da dimensão
das estruturas, por exemplo subestações isoladas a ar, quando protegidas por descarregadores de
sobretensões [11].
Para isolamento do tipo não auto-regenerativo não existe um método para a determinação do
seu risco de cedência perante uma sobretensão. No entanto, no que diz respeito a isolamento do
tipo auto-regenerativo considera-se que a probabilidade de suportar uma sobretensão varia entre
0% e 100%.
Antes de mais é necessário perceber a possibilidade de ocorrência de uma sobretensão, ou
da ocorrência de um nível de tensão superior a um determinado valor ou interior a um intervalo.
Assim, pode dizer-se que a possibilidade de ocorrência de uma sobretensão aos terminais de um
equipamento pode ser expressa por uma função que indica a sua densidade de probabilidade p, ou
pela função de probabilidade acumulada P.
Portanto, dada uma distribuição de valores de tensão U, defina-se função densidade de proba-
bilidade po (U 0 ), como a probabilidade de ocorrência de U 0 , conforme se apresenta na figura 2.9,
sendo assim possível a determinação da probabilidade de ocorrência de uma sobretensão contida
num intervalo de valores, por exemplo [U 0 ;U 0 + ∂U].
Uma vez descrita a probabilidade de ocorrência de uma sobretensão, é necessário definir-
se o comportamento dielétrico de um isolamento, isto é, a probabilidade de cedência perante
uma sobretensão. Tal comportamento traduz-se pela função de probabilidade acumulada PT (U),
quando sujeito a uma sobretensão de valor U, conforme se apresenta na figura 2.10.
Tendo definida a probabilidade de ocorrência de uma sobretensão e a probabilidade de ce-
dência de um isolamento quando sujeito a uma determinada sobretensão, pode agora definir-se o
risco de cedência de um isolamento. Este resulta do produto da função densidade de probabilidade
de ocorrência da sobretensão, pela probabilidade de cedência do isolamento perante essa mesma
sobretensão.
20 Revisão Bibliográfica
Este método é aplicado quando resultados estatísticos, obtidos através de ensaios, relativa-
mente à possibilidade de falha em serviço não são conhecidos. E portanto, o método é utilizado
quando o isolamento é caracterizado pela sua tensão suportável convencional assumida, isto é, a
probabilidade de suportar uma solicitação é de 100%. A tensão suportável de coordenação é obtida
multiplicando o máximo assumido da sobretensão representativa por uma fator Kc (ver 3.1.1.25).
Este fator pressupõe compensar as incertezas das tensões representativas e tensão suportável assu-
mida. O método também se aplica quando, para isolamento externo, o isolamento é caracterizado
pela tensão suportável estatística, onde a probabilidade de não cedência é igual a 90%. Neste
caso Kc deve ter em conta a diferença entre a tensão suportável estatística e a tensão suportável
assumida [11].
Distância no ar, e da superfície do equipamento sólido em contacto com o ar que está sujeita a
solicitações dielétricas e condições ambientais do local, como poluição, humidade, etc.
Distância do isolamento sólido, líquido ou gasoso do equipamento que está protegido dos
efeitos atmosféricos;
Isolamento que, após um curto período de tempo, recupera totalmente as propriedades dielé-
tricas no seguimento de um contornamento durante um ensaio;
23
24 Documento normativo IEC 60071
Isolamento que, após um contornamento, num ensaio, não recupera total ou parcialmente as
características dielétricas;
NOTA: as definições consideram contornamento causado por tensão de ensaio durante um
ensaio dielétrico. Contudo, contornamentos em serviço podem causar perdas de propriedades
dielétricas em isolamento auto-regenerativo.
Todos os terminais que, entre cada par, pode surgir uma solicitação dielétrica:
• Terminal de fase, onde, entre este e o terminal neutro é aplicada a tensão simples de serviço
do sistema;
• Terminal de neutro;
• Terminal de terra, ligado diretamente à terra (cuba dos transformadores, estrutura torres);
• Fase-terra: configuração trifásica em que 2 terminais de fase não são considerados e, exceto
casos particulares, o neutro é ligado a terra;
Valor de tensão mais elevado de operação entre fases (valor eficaz) que ocorrer sobre condições
normais de operação, em qualquer instante ou ponto do sistema.
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 25
Valor de tensão mais elevado entre fases (valor eficaz) para o qual um equipamento é projetado
com respeito ao seu nível de isolamento. Sobre condições de serviço especificadas pelo fabricante,
esta tensão pode ser aplicada continuamente ao equipamento.
Sistema no qual o ponto neutro não é intencionalmente ligado à terra, exceto para ligações de
alta impedância para proteção ou medidas;
Sistema em que um ou mais pontos neutros são ligados à terra através de impedâncias para
limitar as correntes de curto-circuito à terra;
Sistema no qual um ou mais pontos neutros são ligados à terra através de reactâncias para
compensar a componente capacitiva de um curto-circuito fase-terra;
É o rácio entre o valor mais elevado (valor eficaz) fase-terra encontrado na fase sã durante um
defeito à terra afetando uma ou mais fases, e o valor eficaz fase-terra à frequência industrial que
seria obtido nesse local na ausência de qualquer defeito;
3.1.1.16 Sobretensão
Qualquer tensão entre fase e terra ou aplicada a isolamento longitudinal (entrada-saída) cujo
√
valor de pico exceda o valor máximo de tensão do sistema dividido por 3, ou entre condutores
de fase cujo pico exceda o valor mais elevado da tensão do sistema.
De acordo com a sua forma e duração, tensões e sobretensões podem classificar-se como:
Sobretensão transitória
Sobretensão de curta duração, normalmente de alguns milissegundos, oscilatória ou não, usu-
almente bastante amortecida.
Sobretensões combinadas
Consiste em duas componentes de tensão aplicadas simultaneamente entre cada par de ter-
minais de um isolamento fase-fase, ou longitudinal (entrada-saída), e a terra. É classificada pela
componente de maior valor de pico (temporária, frente lenta, frente rápida ou frente muito rápida).
instante. Assim, o valor de pico da tensão combinada é a soma dos valores de pico das duas
componentes.
Sobretensão que se assume ter o mesmo efeito dielétrico no isolamento que uma sobretensão
de uma dada classe que ocorre em serviço de diversas origens; Consistem em tensões com forma
padrão de uma classe, e pode ser definida por um valor ou conjunto deles, ou distribuição de
ocorrência de valores que caracteriza as condições de serviço.
Equipamento que limita o valor de pico das sobretensões e/ou a sua duração. São classificados
como dispositivos preventivos (resistências de pré-inserção), ou como dispositivos de proteção
(DST);
Valor máximo de pico de tensão permitido aos terminais de um dispositivo de proteção sujeito
a impulso de manobra ou descarga atmosférica sobre determinadas condições.
Valor de tensão aplicada sobre determinadas condições num ensaio de tensão suportável, du-
rante o qual um determinado número de contornamentos (disruptive discharge) é tolerado. A
tensão suportável (withstand voltage) é designada como:
Para cada classe de tensão, valor suportável da configuração de isolamento que, em serviço,
garante o critério de desempenho.
Valor pelo qual a sobretensão representativa é multiplicada para obter a tensão suportável de
coordenação;
Tensão de ensaio que o isolamento deve suportar num ensaio de tensão suportável para as-
segurar que o isolamento garante o critério de desempenho quando sujeito a uma dada classe de
sobretensões em condições de serviço e durante todo o período de serviço. A tensão suportável re-
querida tem a mesma forma da tensão suportável de coordenação, e é especificada com referência
a todas as condições do teste de tensão suportável selecionadas para a verificar.
Fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenação para compensar a diferença na rigidez
dielétrica entre a pressão média correspondente à altitude em serviço e a pressão de referência
padrão.
Fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenamento, após a aplicação do fator de cor-
reção atmosférico (se necessário), para obter a tensão suportável requerida, compensando todas
as diferenças na rigidez dielétrica entre condições de serviço durante o período de vida e aquelas
encontradas no ensaio de tensão suportável normalizado.
Valor da tensão de ensaio, aplicado num ensaio de tensão suportável que prova que o isola-
mento cumpre com uma ou mais tensões suportáveis requeridas. É o valor estipulado de isola-
mento de um equipamento.
Ensaio dielétrico realizado em condições específicas para provar que o isolamento cumpre
com a tensão suportável estipulada normalizada.
As tensões e sobretensões que provocam solicitações dielétricas no isolamento devem ser de-
terminadas em amplitude, forma e duração por meio de análise do sistema, que inclui a seleção e
30 Documento normativo IEC 60071
localização dos dispositivos de proteção de sobretensões. Para cada classe de tensões e sobreten-
sões, a análise deve determinar a tensão e sobretensão representativa, considerando as caracterís-
ticas do isolamento, atendendo aos diferentes comportamentos relativamente às formas de tensão
e sobretensão do sistema assim como às formas de tensão normalizadas aplicadas nos ensaios de
tensão suportável, conforme apresentado na figura 3.2.
A sua determinação consiste na seleção do mais baixo valor de tensão suportável do isolamento
que garante o critério de desempenho, quando sujeito à sobretensão representativa sobre condições
de serviço.
Tem a mesma forma da sobretensão representativa, e é obtido multiplicando a última pelo
fator de coordenação. Este depende da precisão da avaliação das sobretensões representativas e na
avaliação da distribuição das mesmas.
32 Documento normativo IEC 60071
• Qualidade da instalação;
• Outras influências.
Se estes efeitos não puderem ser avaliados individualmente, um fator de segurança global,
derivado da experiência deve ser utilizado (ver secção 3.2.3.3).
O fator de correção atmosférica Kt é aplicado apenas para isolamento exterior, e o fator de
correção de altitude, Ka que considera apenas a pressão média do ar relativamente à altitude, deve
ser aplicado qualquer que seja a altitude.
Para equipamento a ser usado em condições ambientais normais, o nível de isolamento estipu-
lado deve, preferencialmente, ser selecionado a partir da tabela 3.1 e tabela 3.2, correspondendo
às tensões mais elevadas aplicadas aos equipamentos.
Os valores eficazes listados, expressos em kV, são valores normalizados de tensões suportá-
veis: 10, 20, 28, 38, 50, 70, 95, 115, 140, 185, 230, 275, 325, 360, 395, 460. Os valores eficazes
listados, expressos em kV, são valores recomendados de tensões suportáveis: 510, 570, 630,680.
Os valores listados representam valores de pico, expressos em kV: 20, 40, 60, 75, 95, 125,
145, 170, 200, 250, 325, 380, 450, 550, 650, 750, 850, 950, 1050, 1175, 1300, 1425, 1550, 1675,
1800, 1950, 2100, 2250, 2400.
As tensões mais elevadas para o equipamento são divididas em duas gamas de valores: Gama
I: Entre 1kV e 245kV inclusive (figura 3.1). Esta gama cobre tanto sistemas de distribuição como
de transmissão. Os diferentes aspetos de operação devem ser tidos em consideração na seleção do
nível de isolamento estipulado para o equipamento.
Gama II: Acima de 245kV (figura 3.2). Esta gama cobre, essencialmente, sistemas de trans-
missão.
As condições atmosféricas normais, com base nas quais as tensões suportáveis podem ser
seleccionadas a partir das tabelas 3.1 e 3.2 da presente norma são as seguintes:
• A temperatura do ar não excede os 40◦ C, e o seu valor médio num período de 24h não exceda
os 35◦ C. As temperaturas mínimas não devem ser menores que: -10◦ C, -25◦ C e -40◦ C
conforme as classes “-10◦ C exterior”, “-25◦ C exterior”,“-40◦ C exterior” respectivamente;
• A poluição não exceda o nível de poluição médio, de acordo com a tabela 3.3;
• Temperatura: to = 20◦ C
34 Documento normativo IEC 60071
Tabela 3.3: Distâncias de linha de fuga recomendadas de acordo com o nível de poluição do local
[11]
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 37
As tensões suportáveis estipuladas normalizadas estão associadas com as tensões mais eleva-
das para o equipamento de acordo com a tabela 3.1 para a gama I e tabela 3.2 para a gama II.
Estas tensões suportáveis são válidas para condições ambientais normais e são ajustadas para as
condições atmosféricas de referência normalizadas.
As associações obtidas entre as tensões suportáveis de todas as colunas, sem cruzar as linhas
horizontais, são definidas como níveis de isolamento normalizado.
Para isolamento fase-fase e longitudinal, as seguintes associações são normalizadas:
• Para isolamento fase-fase, na gama II, as tensões suportáveis a impulso de descargas atmos-
féricas são iguais a tensões suportáveis fase-terra.
Para a maioria das tensões mais elevadas para o equipamento estão previstas mais do que
uma combinação, permitindo desta forma a aplicação a diferentes critérios de desempenho. São
necessárias apenas combinações de duas tensões suportáveis para definir o nível de isolamento do
equipamento.
Para equipamento na gama I: a tensão suportável a impulso de origem atmosférica; a ten-
são suportável de curta-duração à frequência industrial. Para equipamento na gama II: a tensão
suportável a impulso de origem atmosférica; a tensão suportável a impulso de manobra.
Se técnica e economicamente se justificar, outras associações podem ser adotadas. Em todo
o caso, as recomendações sugeridas de 3.1.2.1 a 3.1.2.8 devem ser seguidas. O conjunto de ten-
sões suportáveis estipuladas normalizadas resultante deve ser denominado por nível de isolamento
estipulado.
38 Documento normativo IEC 60071
Por exemplo, para isolamento exterior, para níveis elevados de Um na gama I, pode tornar-se
mais económico especificar uma tensão suportável a impulso de manobra em vez de uma de curta
duração à frequência industrial.
Em instalações completas, como por exemplo, uma subestação, que não pode ser testada como
um todo, é necessário assegurar que a rigidez dielétrica é suficiente. As tensões suportáveis a
impulsos de manobra e descargas atmosféricas no ar, em condições atmosféricas de referência
normalizadas, devem ser iguais, ou maiores do que as tensões suportáveis a impulsos de mano-
bra e descargas atmosféricas estipuladas especificadas na publicação IEC 60071-1. Seguindo este
princípio, espaçamentos mínimos foram determinados para diferentes configurações de elétrodos.
Estes espaçamentos são determinados com uma abordagem conservativa, tendo em conta a expe-
riência prática.
As tabelas 3.4, 3.5 e 3.6 apresentam espaçamentos mínimos relacionados com as tensões su-
portáveis estipuladas normalizadas e para diferentes configurações dos elétrodos. As tabelas são
adequadas para aplicações comuns, uma vez que promovem espaçamentos mínimos que garantem
o nível de isolamento especificado.
Os espaçamentos podem ser menores se for provado por ensaios, em situações similares, que
as tensões suportáveis a impulsos normalizadas são satisfeitas, tendo em conta todas as condições
ambientais suscetíveis de criar irregularidades na superfície dos elétrodos.
Os espaçamentos podem ainda ser menores quando for confirmado por experiência de opera-
ção que as sobretensões são menores do que o esperado na seleção da tensão suportável estipulada
normalizada, ou a configuração do espaçamento é mais favorável do que o assumido para os espa-
çamentos recomendados.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 39
3.1.3.2 Gama I
3.1.3.3 Gama II
Enquanto a tabela 3.4 relaciona as distâncias mínimas com a tensão suportável a impulsos de
descargas atmosféricas, a tabela 3.5 relaciona com a tensão suportável a impulsos de manobra.
As distâncias mínimas para configurações fase-fase é o maior valor das distâncias determinadas
para configurações “ponta-estrutura”, a partir da tabela 3.4 para tensões suportáveis a impulsos de
descargas atmosféricas e a partir da tabela 3.6 para tensões suportáveis a impulsos de manobra.
As distâncias necessárias para suportar a tensão suportável a impulsos de descargas atmosféricas
estipulada normalizada para isolamento longitudinal na gama II pode ser obtida adicionando 0,7
vezes o maior pico de tensão fase-terra do sistema (Us ) ao valor da tensão suportável a impulsos
de descargas atmosféricas estipulada normalizada e dividindo a soma por 500 kV/m.
Tabela 3.4: Relação entre tensão suportável a impulsos de origem atmosférica normalizada e
distância mínimas no ar [12]
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 41
Tabela 3.5: Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias mí-
nimas fase-terra no ar [12]
Tabela 3.6: Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias mí-
nimas fase-fase no ar [12]
42 Documento normativo IEC 60071
Sobretensões temporárias
Podem surgir na sequência de defeitos, manobras como corte de carga, condições de ressonân-
cia, não linearidades, ou pela combinação destas.
Sobretensões combinadas
Podem ter qualquer origem mensionada anteriormente. Ocorrem entre fases (fase-fase) ou na
mesma fase entre partes separadas (longitudinal).
Explosores também podem ser utilizados, mas não são equipamentos normalizados.
A escolha de dispositivos que não garantem o mesmo tipo de proteção depende do equipa-
mento a proteger, da sua importância, consequência da sua interrupção de serviço, etc.
Os equipamentos de proteção contra sobrtensões devem ser projetados para limitar a magni-
tude das sobretensões aos terminais dos equipamentos que estão a proteger.
Sobretensões temporárias
As sobretensões temporárias caracterizam-se pela sua amplitude, forma de onda e duração.
Tais parâmetros dependem da sua origem, e a amplitude e forma de onda pode variar no seu pe-
ríodo de duração. Para efeitos de coordenação de isolamento, considera-se que a tensão temporária
representativa tem a forma da tensão de curta duração à frequência industrial normalizada. A sua
amplitude pode ser definida por apenas um valor (o máximo assumido), um conjunto de valores
de pico ou uma distribuição estatística de valores de pico. A seleção da amplitude da sobretensão
44 Documento normativo IEC 60071
pode ser aproximada por uma distribuição Gaussiana entre o valor de 50%, Ue50 , e o valor de
truncatura, Uet . Alternativamente, pode ser usada uma distribuição Weibull modificada. Mais
informação pode ser encontrada no anexo C da publicação IEC 60071-2.
O valor máximo assumido da sobretensão representativa é igual ao valor de truncatura das
sobretensões ou igual ao nível de proteção contra impulsos de manobra dos descarregadores de
sobretensões.
• para descargas diretas sobre os condutores: proteção apropriada através de cabos de guarda.
• para contornamentos de retorno: redução da resistência de terra das bases das torres de apoio
ou aumento do isolamento.
A utilização de explosores nos apoios junto das subestações, com o objetivo de minimizar a
amplitude das sobretensões à entrada destas, tende a aumentar a probabilidade de contornamentos
o que leva à introdução de sobretensões de frente rápida. Assim, especial atenção deve ser dada
à blindagem e impedâncias de terra das torres de apoio perto das subestações promovendo dessa
forma a redução de contornamentos de retorno.
A severidade das sobretensões de frente rápida que surgem na sequência de operações de
manobra pode ser limitada a partir da seleção adequada do equipamento de manobra.
A proteção assegurada por DST contra sobretensões de frente rápida depende:
46 Documento normativo IEC 60071
Quando se espera que corrente através do descarregador de sobretensões seja maior do que a
corrente nominal deve verificar-se que a tensão residual continua a garantir a devida limitação de
sobretensão. As características de proteção de um descarregador de sobretensões só são válidas
no local onde se encontra instalado. A limitação da sobretensão correspondente aos terminais do
equipamento a proteger deve considerar a distância entre este e o descarregador de sobretensões.
Quanto maior for a distância entre ambos, menor a eficiência de proteção. Na realidade, a sobre-
tensão aplicada ao equipamento a proteger aumenta acima do nível de proteção do equipamento
de proteção com o aumento da distância entre eles.
Uma forma simplificada de estimar a sobretensão representativa aos terminais do equipamento
a proteger pode ser realizada a partir da expressão 3.1. Contudo, quando o equipamento a proteger
se trata de um transformador, esta expressão deve ser usada cuidadosamente uma vez que uma
capacidade superior a 100 pico Farads pode resultar em sobretensões mais elevadas.
Onde
Upl é o nível de proteção do descarregador de sobretensões contra impulsos de descargas
atmosféricas;
S é o declive da sobretensão determinado por: S = 1/(nKco X) (kV/µs), sendo n o número de
linhas conetadas em serviço, Kco é a constante atenuante do efeito de coroa e X é a distância entre
o local de descarga e a subestação;
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 47
Os valores do declive devem ser selecionados de acordo com a performance a descargas at-
mosféricas das linhas aéreas conectadas à subestação e no risco de falha adotado da mesma. Mais
informação pode ser encontrada no Anexo F da publicação IEC 60071-2.
Na determinação da distribuição probabilística da amplitude das sobretensões de origem at-
mosférica, deve considerar-se a performance das linhas aéreas, o comportamento das ondas viajan-
tes nas linhas aéreas e dentro da subestação e a performance do isolamento e dos descarregadores
de sobretensões.
• U50 : corresponde ao valor sobre o qual a probabilidade de suportar uma solicitação dielétrica
é de 50 %;
x γ
P(U) = 1 − 0, 5(1+ N ) (3.3)
Onde
x = (U −U50 )/Z
x sendo o número de desvios convencionais correspondentes a U, e
N sendo o número de desvios convencionais correspondentes à tensão de truncatura U0 para a
qual P(U0 ) = 0.
A distribuição de Weibull proposta pela norma IEC 60071-2 é descrita pela equação 3.4.
x 5
P(U) = 1 − 0, 5(1+ 4 ) (3.4)
O parâmetro U10 (obtido a partir da equação 3.3) correspondente a uma probabilidade de su-
portabilidade de 90 %, e é usado para descrever a distribuição de probabilidade de suportabilidade
juntamente com o desvio: U10 = U50 − 1, 3Z
• para cada forma de onda de sobretensão, apenas o maior pico de tensão é considerada;
• a forma de onda do pico de tensão mais elevado é considerada igual à forma de onda do
impulso de manobra;
Onde
52 Documento normativo IEC 60071
Se ocorrerem vários picos independentes, o risco total pode ser calculado considerando o risco
de falha para todos os picos. Por exemplo, se uma sobretensão de manobra numa determinada fase
compreende três picos positivos correspondendo a riscos de falha R1 , R2 e R3 , o risco de falha fase-
terra é:
Se for usado o método case-peak (onde, por cada manobra só é escolhido para a distribuição
de sobretensões o maior pico observado nas três fases), o risco total é: Rtotal = R
Figura 3.6: Risco de falha de isolamento externo em função do fator de coordenação estatístico
Kcs [11].
3.2.3.1 Generalidades
Para isolamento interno assume-se que as condições atmosféricas do ar não afetam as propri-
edades de isolamento.
Para isolamento externo as regras para correção atmosférica das tensões suportáveis são base-
adas em medidas de altitudes até 2000 m.
a tensão de descarga disruptiva torna-se irregular especialmente quando ocorre condensação sobre
a superfície de um isolador.
A tensão de descarga disruptiva é proporcional ao fator de correção atmosférica Kt que resulta
do produto dos fatores de correção de densidade do ar (que depende diretamente da altitude), K1 ,
e humidade, K2 . A discriminação destes fatores pode ser encontrada em [13].
Kt = K1 × K2 (3.8)
• para espaçamento no ar e isoladores limpos a correção deve ser efetuada para tensões su-
portáveis a impulsos de manobra e de origem atmosférica.
• para a determinação dos fatores de correção atmosférica, deve assumir-se que os efeitos
de temperatura ambiente e humidade tendem a cancelar-se. No entanto, para coordenação
de isolamento, apenas a pressão do ar correspondendo à altitude do local necessita de ser
considerada para isolamentos secos e molhados.
Correção de altitude
O fator de correção pode ser calculado a partir da seguinte equação:
H
Ka = em( 8150 ) (3.9)
Onde
H é a altitude acima do nível do mar;
m =1,0 para tensão suportável de coordenação a impulsos de origem atmosférica;
m de acordo com a figura 3.7 para tensão suportável de coordenação a impulsos de manobra;
m = 1,0 para tensão suportável de curta duração à frequência industrial de distancias no ar e
isoladores limpos.
Existem diversos fatores relacionados como o modo de operação que influenciam os isola-
mento elétricos. Estes fatores correspondem às seguintes solicitações causadas durante o funcio-
namento:
• Solicitações térmicas;
• Solicitações elétricas;
• Solicitações ambientais;
• Solicitações mecânicas.
• qualidade da instalação;
Envelhecimento
O isolamento elétrico de todo o equipamento envelhece durante o serviço devido a uma ou
várias solicitações como: térmicas, elétricas, químicas ou mecânicas.
Para coordenação de isolamento, assume-se que o isolamento externo não está sujeito a enve-
lhecimento, exceto para equipamento contendo materiais orgânicos.
Para isolamento interno, o envelhecimento pode ser significante e deve ser compensado com a
aplicação de um fator de segurança recomendado.
Fatores recomendados
Se não forem especificados pelos fabricantes, devem aplicar-se os seguintes fatores:
3.2.4.1 Generalidades
Para equipamento não protegido contra sobretensões de manobra por descarregadores de so-
bretensões:
Gama I
Os fatores apresentados na tabela 3.7 devem ser usados no caso de estes não estarem disponí-
veis, ou fornecidos pelo fabricante. Estes fatores são aplicados às tensões suportáveis requeridas
a impulsos de manobra.
Tabela 3.7: Fatores de conversão para a gama I, para converter tensões suportáveis requeridas a
impulsos de manobra em tensões suportáveis de curta duração à frequência industrial e a impulsos
de origem atmosférica [11].
Gama II
Na gama II aplicam-se os fatores indicados na tabela 3.8 de forma a converter as tensões su-
portáveis de curta duração à frequência industrial em tensões suportáveis a impulsos de manobra.
60 Documento normativo IEC 60071
Tabela 3.8: Fatores de conversão para a gama II, para converter tensões suportáveis requeridas de
curta duração à frequência industrial em tensões suportáveis a impulsos de manobra [11].
Isolamento auto-regenerativo
No isolamento auto-regenerativo é possível aplicar um largo número de tensões de teste sem
que este seja danificado, permitindo assim criar informação estatística para a suportabilidade do
isolamento.
Isolamento misto
Para equipamento usando os dois tipos de isolamento em que não é possível testar o isolamento
separadamente deve haver um compromisso no método de teste, de forma a efetuar os testes
necessários ao isolamento auto-regenerativo não danificando o isolamento não auto-regenerativo.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 61
3.2.5.1 Generalidades
Tensão de operação
Assume-se igual à tensão mais elevada do sistema, e todas as partes da subestação estão sujei-
tas a ela.
Sobretensões temporárias
Defeitos à terra à saída do transformador (load side) afeta de igual modo todas as partes de uma
fase. Sobretensões devido ao deslastre de carga podem surgir numa subestação principalmente se
este ocorrer numa subestação distante. Dependendo do esquema de proteção, todas as partes entre
o seccionador de saída e o transformador podem ser afetadas, como apenas algumas delas. Se o
deslastre de carga ocorrer na própria subestação, apenas as partes entre o seccionador à saída do
transformador e o próprio transformador são afetadas. Esforços dielétricos longitudinais podem
ocorrer no seccionador cb1 durante a sincronização com a rede, se o transformador estiver ligado
a um gerador.
Para equipamento nesta gama de tensões, IEC 60071-1 especifica tensões suportáveis de
curta duração à frequência industrial e a impulsos de descargas atmosféricas normalizadas. Pode
considerar-se que, na gama de tensões I, a tensão suportável a impulsos de manobra requerida
fase-terra é coberta pela tensão suportável de curta duração à frequência industrial normalizada.
As tensões suportáveis a impulsos de manobra requeridas fase-fase devem, contudo, ser considera-
das na seleção da tensão suportável a impulsos de descargas atmosféricas ou da tensão suportável
de curta duração à frequência industrial normalizada para equipamento à entrada da subestação.
Para a seleção da tensão suportável a impulsos de origem atmosférica, muitas considerações toma-
das para subestações de distribuição se aplicam às subestações de transmissão na gama I. Contudo,
à medida que o equipamento e os locais não são favoráveis, é recomendado que o procedimento
para coordenação de isolamento seja realizado para uma série de combinações subestação-linha
aérea usando o modelo simplificado descrito no anexo F presente em IEC 60071-2.
Neste capítulo é efetuada uma revisão do Guia de Coordenação de Isolamento [3], orientado
para as subestações, seguido pela REN. Esta secção do Guia de Coordenação de Isolamento es-
tabelece princípios gerais sobre a coordenação de isolamento em subestações, assim como os
níveis de isolamento adotados para os diversos equipamentos que constituem estas instalações.
São também abordados os meios de proteção dos dispositivos. Por fim, será ainda efectuada uma
análise comparativa entre este documento e o documento normativo IEC. Esta comparação tem
como objetivo a deteção de diferenças entre estes para aplicação de eventuais alterações ao Guia
de Coordenação de Isolamento, com vista a uma redução de custos e melhoria de qualidade de
serviço.
• Distâncias no ar;
Relativamente a subestações blindadas (GIS), estas constituem solução para locais com forte
poluição, ou em que o espaço seja muito caro. Contudo, os critérios a aplicar são idênticos aos
utilizáveis para isolamento interno. Convém salientar que uma falha no isolamento destas su-
bestações é comparativamente mais grave que nas convencionais (exterior com aparelhagem de
isolamento no ar).
63
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
64 60071
• A proteção do equipamento contra sobretensões atmosféricas deve ser assegurada por DST’s.
Estes devem garantir proteção total do transformador;
• O equipamento mais exposto, por exemplo painéis de linha, devem ser protegidos por ex-
plosores colocados nas cadeias linhas ao pórtico de entrada.
• Os pontos anteriores estabelecem proteção contra descargas atmosféricas diretas, bem como
uma probabilidade baixa de contornamentos de retorno próximo da subestação. Consideram-
se improváveis contornamentos para aquém do 5o apoio, pelo que a resistência de terra
destes apoios não deve exceder os 15 Ohm.
• Uma seleção ajustada do disjuntor permite manter as sobretensões internas, provocadas pelo
corte de correntes indutivas, linhas ou cabos em vazio, razoavelmente reduzidas.
• Sobretensões temporárias podem ser limitadas através da gestão das condições de ligação
à terra (politica de neutros), da resposta em regime transitório dos grupos geradores, da
existência ou não de compensação de reativa, da topologia da rede e regime de exploração,
etc.
Através de ensaios de rotina ou de tipo devem ser comprovadas as tensões suportáveis, segundo
a garantia do fabricante. As tensões suportáveis deverão ser maiores ou, no mínimo, iguais aos
níveis de isolamento especificados.
4.2 Distâncias no ar
As distâncias no ar, designadas por distâncias de isolamento, entre partes condutoras não iso-
ladas devem ser garantidas de forma a assegurar as tensões suportáveis fase-terra e fase-fase não
inferiores aos níveis de isolamento selecionados. Os níveis de isolamento são selecionados, con-
forme o nível de tensão mais elevada para o equipamento, a partir das tabelas 4.1 e4.2.
As distâncias no ar devem incluir, para além das distâncias de isolamento, distâncias de se-
gurança que permitam a circulação de pessoas e veículos, possibilidade de execução de trabalhos
num painel, mantendo os restantes componentes em serviço.
Os principais tipos de distâncias de isolamento fase-terra podem agrupar-se por:
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
66 60071
• Condutores-solo.
• Condutor-condutor;
Tabela 4.4: Distâncias de isolamento mínimas para travessias dos transformadores de potência [3]
As distâncias indicadas na tabela 4.4 correspondem sensivelmente aos menores valores indi-
cados na norma IEC 60071-2 (fase-terra). Os valores fase-fase correspondem a um acréscimo de
15 % relativamente aos fase-terra.
Para travessias entre escalões diferentes de tensão utilizam-se os valores relativos ao escalão
mais elevado.
As tensões suportáveis para as cadeias de isoladores devem seguir requisitos semelhantes aos
da tabela 4.5. Apesar da possibilidade reduzida de descargas diretas sobre equipamentos das
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
68 60071
subestações, recomenda-se a utilização dos valores mais elevados de distância entre dispositivos
de proteção previstos na tabela 4.6.
A seleção das características dos isoladores tem por base o comportamento, sob a frequência
industrial, à poluição natural. A tabela 4.7 apresenta valores mínimos de linha de fuga e salinidade
suportável esperada de acordo com o nível de poluição do local.
Para equipamento das subestações da rede RNT o nível de poluição ligeira é desprezado, por
uma questão de segurança e intermutabilidade com outras instalações. Uma vez que o comporta-
mento à poluição depende de vários fatores como: diâmetro médio, distâncias entre saias, perfil,
etc., uma forma mais rigorosa de seleção de isoladores será a partir de ensaios de poluição artificial
em vez de uma mera indicação de linha de fuga. A tabela 4.8 estabelece distâncias mínimas entre
saias, projeção mínima das saias e fator de linhas de fuga máxima conforme os níveis de poluição.
É importante que o fator de linha de fuga não tome valores muito elevados, isso significaria
uma aproximação das saias o que poderia levar a curto-circuitos através da chuva entre as saias.
Os valores indicados na tabela 4.5 para as alturas dos isolantes cilíndricos podem não ser
suficientes para níveis de tensão de 245 kV em ambientes de poluição muito forte, e para os 420
kV em ambientes de poluição forte e muito forte, pelo que pode surgir a necessidade de recurso a
colunas mais altas (para um fator de fuga máximo de 3,5 e uma linha de arco de 83 % da altura da
coluna).
O fator de linha de fuga define-se pelo quociente entre a linha de fuga total, que é o caminho
sobre a superfície do isolador, e a linha de arco no ar, que corresponde à menor distância entre as
partes metálicas dos isoladores.
4.4 Aparelhagem de corte e manobra 69
Tabela 4.8: Regras relativas à qualidade da linha de fuga dos isoladores [3]
Para isolamento fase-fase, desde que a distância entre polos seja tal que a probabilidade de
disrupção fase-fase seja praticamente nula, é dispensável qualquer verificação.
Tabela 4.11: Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência pro-
tegidos por DST [3]
4.6 Transformadores de potência 71
Tabela 4.12: Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência pro-
tegidos por DST [3]
Tabela 4.13: Tensões suportáveis mínimas para travessias do lado linha e neutro [3]
Para tensões mais elevadas para o equipamento, Um , inferiores a 72,5 kV podem considerar-
se valores comuns entre os enrolamentos e as travessias, assim como para transformadores com
possibilidade de funcionar com neutro levantado.
Para enrolamento terciários e de baixa tensão, reconhece-se ser boa prática a seleção de um
nível acima do recomendado em IEC 60071-1. A prática utilizada pretende evitar o uso de DST,
ou outros dispositivos nestes enrolamentos.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
72 60071
Para o nível de isolamento (interno não autorregenerativo e externo) das baterias de condensa-
dores deve considerar-se o seguinte:
• Que o isolamento à terra e entre fases deve estar em conformidade com o nível de isolamento
do restante equipamento do mesmo nível de tensão.
• O isolamento parcial ou total por fase da bateria de condensadores deve garantir pelo menos
o isolamento correspondente ao número de conjuntos em série que define a tensão aplicada
aquele isolamento.
A seleção das tensões estipuladas deve considerar o tipo de isolamento, o tipo de exploração
prevista no que diz respeito ao regime de neutro e duração dos defeitos à terra. Definem-se assim
três categorias:
• B, admite-se um funcionamento, eventual, com uma fase à terra com duração inferior a 1h;
Categoria A destina-se a redes com neutro à terra equipadas com proteções rápidas. Os valores
de Um para os cabos devem ser iguais à tensão mais elevada da rede, e os valores de Uo (tensão
estipulada entre condutor e blindagem à frequência industrial) e U (tensão estipulada à frequência
industrial entre quaisquer condutores) são apresentados na tabela 4.14. Para a tensão suportável
ao choque atmosférico recomendam-se os valores da tabela 4.2.
As restantes categorias aplicam-se a redes de neutro isolado (Um < 36 kV). A seleção dos
valores estipulados deve respeitar o previsto pela norma ou pelo fabricante.
Para cabos ligados aos enrolamentos terciários recomenda-se a seleção de valores conforme
os escolhidos para o isolamento dos enrolamentos.
Quanto a proteção por DST depende da existência ou não de penetração direta de sobretensões
atmosféricas.
Para explosores de varão de aço, que apresentam maior resistência mecânica e maior tempe-
ratura admissível, recomenda-se que:
• A secção seja escolhida com base na densidade de corrente de cc de 75 A/mm2, que corres-
ponde a 20 mm para 20 kA e 25 mm para 40 kA;
• Os elétrodos sejam instalados no plano vertical, e a uma distância aos isoladores não inferior
ao diâmetro destes e >= a 250 mm;
• Nos 400 kV, do lado em tensão recomenda-se maior diâmetro de forma a evitar o efeito de
coroa. O valor recomendado é de 45 mm;
Nas tabelas 4.16 ("lado linha") e 4.17 ("lado neutro") apresentam-se características básicas
de DST recomendadas. As margens de proteção são superiores 1,5 desprezando-se as distâncias
DST/transformador, e não inferior a 1,2 para limites de distâncias indicados nas tabelas 4.16 e
4.17.
Os valores de linha de fuga são estabelecidos a partir da tensão mais elevada, e considerando
2 e 2,5 cm/kV para poluição ligeira/média e forte.
A sobretensão temporária de neutro (Uo ) mais elevada ocorre para defeito monofásico, para
uma rede com neutro efetivamente à terra, pode assumir-se 40% de Um . Os valores indicados na ta-
bela 4.17 respeitam este valor, sendo que a tensão estipulada é ligeiramente superior, aproximando-
se do critério de neutro isolado. Nos autotransformadores o neutro é comum aos enrolamentos,
pelo que se deve considerar Um da parte de tensão mais elevada.
Os painéis de baterias de condensadores podem ser protegidos por DST, uma vez que se trata
de um equipamento de grande importância, mas a sua proteção pode ser desnecessária, uma vez
que as solicitações recaem principalmente sobre os isoladores de suporte e não sobre os conden-
sadores em si.
No caso de se optar por proteger os painéis de baterias, recomendam-se DST com caracterís-
ticas indicadas na tabela 4.16.
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento normativo
IEC 60071 75
Comparando as tabelas 4.1 e 4.2 com as tabelas 3.1 e 3.2, verifica-se que as primeiras estão
de acordo com os níveis de isolamento apresentados na publicação IEC 60071-1, apresentando
os níveis de isolamento externo um degrau acima daquele considerado para o isolamento interno,
conforme se pode comprovar pelas tabelas 3.1 e 3.2. Verifica-se ainda que são adotados os níveis
de isolamento mais elevados presentes no documento normativo, para o isolamento externo. A
exceção observa-se para Um = 245kV . Aqui adotou-se o nível imediatamente abaixo do máximo
indicado pela IEC.
Para Um = 72, 5kV a norma específica apenas um nível de isolamento, pelo que este é o nível
adotado pelo Guia de Coordenação de Isolamento.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
76 60071
Para Um = 170kV e Um = 420kV são adotados os níveis de isolamento mais elevados presentes
na norma, sendo que para isolamento interno o nível de isolamento se situa um patamar abaixo
daquele considerado para o exterior.
Para Um = 245kV é adotado o segundo valor mais elevado para o isolamento externo e o
imediatamente anterior para isolamento interno.
Uma vez que não é seguido um algoritmo de coordenação de isolamento que leva à seleção
dos níveis de isolamento conforme as tensões representativas expectáveis, os níveis de isolamento
especificados em função da “tensão mais elevada para o equipamento” (Um ) podem resultar em
valores superiores, e eventualmente inferiores, ao necessário. Veja-se por exemplo no caso em que
Um = 245kV , onde o nível de isolamento especificado no Guia de Coordenação de Isolamento é
inferior ao máximo apresentado na norma. Contudo, esta metodologia de seleção dos níveis de
isolamento mais elevados pode levar uma maior fiabilidade da subestação, uma vez que quanto
maior o nível de isolamento, maior será a probabilidade de o equipamento suportar uma sobreten-
são. Desta forma reduz-se o número de falhas ou a gravidade dos danos causados. Por outro lado
pode resultar numa seleção de isolamento superior ao necessário resultando em custos acrescidos
desnecessários.
Tabela 4.18: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama I [3]
Tabela 4.19: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II fase-
terra [3]
Um dos aspetos de elevada importância na seleção das colunas e cadeias de isoladores é o com-
portamento destas perante a presença de poluição ambiental sobre tensão permanente à frequência
industrial e sobretensões temporárias. O Guia de Coordenação de Isolamento tem este facto em
conta, especificando, conforme a norma, linhas de fuga específicas em função do nível de poluição
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
78 60071
Tabela 4.20: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II fase-
fase [3]
considerado. Contudo, desconsidera o nível de poluição “ligeira” por uma questão de segurança,
ou seja, o nível mais baixo aplicável a subestações é o “médio”, cuja linha de fuga é de 2,0 cm/kV.
As tensões suportáveis estão de acordo com a tabela 4.2 para isolamento exterior, que por sua
vez são valores normalizados. Juntamente com as tensões suportáveis são apresentadas alturas no-
minais para suportes isolantes cilíndricos cerâmicos com armaduras metálicas externas. Contudo,
estas alturas nominais podem revelar-se insuficientes relativamente à linha de fugas específica,
especialmente para tensões mais elevadas de 245 kV e 420 kV.
Considerando uma linha de arco de 83 % da altura e considerando um fator de linha de fuga
igual a 3,5, obter-se-iam linhas de fugas especificas de: 3,1; 2,9; 2,5; 2,2 cm/kV relativamente
às tensões mais elevadas de 72,5; 170; 245 e 420 kV respetivamente. Desta forma, nos escalões
de 170 kV e 245 kV não seriam garantidas as linhas de fuga específicas mínimas para o nível
de poluição “muito forte”, e no escalão de 420 kV não seriam garantidos os níveis mínimos para
os níveis “forte” e “muito forte”. Portanto, conforme o nível de poluição do local, pode existir
a necessidade de seleção de colunas com altura nominal superior àquelas apresentadas na tabela
4.5. Relativamente aos restantes escalões de tensão, em princípio estes problemas não se manifes-
tarão, visto que as alturas nominais indicadas representam linhas de fugas específicas superiores
as mínimas aconselhadas.
Uma vez que este é o componente de maior importância dentro de uma subestação, a proteção
dos transformadores de potência é realizada através de descarregadores de sobretensões. Relati-
vamente ao uso deste equipamento deve considerar-se o seguinte, com base na publicação IEC
60099-5 [14]:
necessitam de ser colocados exatamente aos terminais do transformador. Dessa forma promove-se
também uma melhor proteção para o restante equipamento. No entanto, devem utilizar-se métodos
descritos em [14], secção 4.3.2 para determinar as máximas distâncias de separação entre o DST
e o transformador.
Quanto aos níveis de isolamento estipulados pelo GCI, sugere-se que estes sejam selecciona-
dos caso a caso aplicando o algoritmo de coordenação de isolamento sugerido pelo documento
normativo IEC 60071-1 (3.1). Desta forma obter-se-ão níveis de isolamento específicos de cada
instalação, em vez de níveis comuns entre diferentes subestações que poderão ser sujeitas a dife-
rentes solicitações elétricas, mesmo que se encontrem no mesmo nível de tensão. Este procedi-
mento poderá, ainda assim, levar a níveis de isolamento, na maioria das vezes, iguais àqueles já
recomendados pelo GCI, o que é compreensível visto que estes foram já seleccionados com base
na experiência adquirida. Apesar de tudo, sendo as subestações instalações em que a fiabilidade é
um factor de elevada importância, o rigor na seleção dos níveis de isolamento é também relevante.
Associado a este rigor pode também advir uma redução de custos em determinadas situações.
Outro aspecto que pode ser tomado em consideração, e que o GCI desconsidera, é a distinção
entre o equipamento de entrada de linha na subestação e o restante equipamento. Isto é, nem todo
o equipamento constituinte da subestação é sujeito às mesmas solicitações. Aquele que é colocado
entre a cadeia de amarração de entrada e o disjuntor de corte da linha, ou seccionador, pode ser
83
84 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo
As distâncias de isolamento recomendadas pelo GCI são, em quase todos os níveis, superi-
ores aos aconselhados pelo documento normativo IEC, embora sejam bastante próximos em al-
guns casos, conforme se comprova a partir das tabelas 4.18, 4.19 e 4.20. As maiores diferenças
encontram-se nos níveis de tensão mais elevada para o equipamento de 170 kV e 245 kV, para
isolamento fase-fase.
Mais uma vez, o facto de o GCI estipular apenas um nível de isolamento externo por cada
nível de tensão mais elevada para o equipamento compromete a otimização da coordenação de
isolamento.
O GCI especifica apenas um conjunto de distâncias de isolamento por cada nível de tensão
mais elevada para o equipamento, ao passo que a norma especifica mais que um excepto para
Um = 72, 5kV , conforme se comprova pelas tabelas 4.18, 4.19 e 4.20. Deste ponto de vista, a
disparidade entre o GCI e a norma pode tornar-se ainda maior.
No nível de Um = 420kV as diferenças são bastante reduzidas, mas o mesmo problema relati-
vamente à especificação de apenas um nível de isolamento também aqui se aplica. As alterações
a este nível depende essencialmente dos níveis de isolamento adotados, visto que as distâncias
consideradas pelo GCI, apesar de superiores, se aproximam das sugeridas pela norma. Se o nível
de isolamento necessário a um equipamento fosse inferior ao adotado pelo GCI, optar por dis-
tâncias recomendadas pelo documento normativo poderia representar um impacto considerável na
redução do espaço necessário.
Apesar de tudo sugere-se a adoção das distâncias mínimas apontadas pelo documento norma-
tivo IEC 60071-1.
5.1 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento 85
No que diz respeito a colunas e cadeias de isoladores, chama-se a atenção, mais uma vez, para
os níveis de isolamento considerados. Uma eventual redução do nível de isolamento necessário
terá impacto no custo das cadeias e colunas isolantes.
Contudo, no que concerne a isoladores, é crucial o funcionamento em atmosfera poluída,
pelo se devem considerar linhas de fuga específicas de acordo com o nível de poluição do local.
A seleção desadequada do nível de poluição, isto é, optar por um nível mais elevado do que o
necessário também influenciará o custo deste equipamento. Desta forma sugere-se uma seleção
adequada do nível de poluição de acordo com o local.
Relativamente ao tipo de isoladores utilizados, são comummente empregues isoladores cerâ-
micos ou de vidro. Atualmente é reconhecido o melhor comportamento dos materiais compósitos.
Estes apresentam melhor comportamento à poluição e maior rigidez mecânica [15], pelo que re-
presentam uma melhor solução que os tradicionais cerâmicos.
A proteção dos painéis de linha é actualmente assegurada por explosores, o que, conforme
analisado em 4.10.6, se adequa quando as linhas conectadas à subestação, e a própria subestação,
são devidamente protegidas por cabos de guarda. Esta proteção por cabos de guarda limita a inci-
dência de descargas atmosféricas sobre os condutores de fase e por consequência as sobretensões
de frente rápida. Ainda assim, este tipo de sobretensões não é totalmente eliminado, sendo que
estas podem ainda surgir na sequência de manobras ou por contornamentos de retorno devido a
descargas atmosféricas sobre os condutores de guarda. Refira-se, no entanto, que quanto mais
elevada a tensão nominal do sistema, menor o impacto de descargas atmosféricas.
Tendo em conta estes fatos, e considerando as desvantagens descritas em 4.10.6 relativamente
aos explosores, sugere-se a aplicação de DST, em vez destes na entrada das linhas nas subestações,
de acordo com o nível expectável de incidência de sobretensões de frente rápida. Assim, se se
verificar uma probabilidade considerável de contornamento dos explosores, a aplicação de DST
representaria uma solução mais fiável relativamente à proteção do equipamento do painel de linha
e com vantagens para a qualidade de serviço.
• 6 Painéis de linha;
• 3 Painéis autotransformador;
• 8 Painéis de linha;
• 1 Painel interbarras/bypass/TT/ST.
• 3 Painéis de transformador;
• 10 Painéis de linha;
• 1 Painel interbarras/TT/ST.
Todos os postos (400 kV, 150 kV e 60 kV) que integram a subestação são do tipo convencional,
exterior, com aparelhagem de alta tensão de isolamento no ar.
Relativamente às topologias, foram adotadas as seguintes:
• 150 kV: Dois barramentos principais (BI e BII) e Barramento de transferência (BBP);
• Ligações AT: plano inferior, cota média de aproximadamente 7 m; plano superior, ligações
tendidas à cota de 23 m.
150 kV:
• Ligações AT: plano inferior, cota máxima de aproximadamente 4,20 m; passagem sobre a
via, cota 6,60 m; plano superior, ligações tendidas à cota 12 m.
60 kV:
• Ligações AT: plano inferior, cota máxima de aproximadamente 3,70 m; plano superior,
ligações tendidas à cota 10 m.
Tabela 5.2: Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 60 kV e 150
kV
Tabela 5.3: Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 400 kV
90 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo
• Cadeias de amarração (das linhas aos pórticos), constituídas por isoladores de cadeia tipo
“rótula-haste”;
Em primeiro lugar, e porque uma alteração a este nível afecta todo o equipamento da subes-
tação, propõe-se uma análise das sobretensões expectáveis à entrada da instalação e aplicação do
procedimento proposto em IEC 60071-2.
Os níveis de isolamento adotados para o equipamento, tabelas 5.2, 5.3, 5.1 e 5.4, são ba-
seados nas tabelas 4.1 e 4.2 do Guia de Coordenação de Isolamento e, conforme analisado em
4.10.1 , estes são, normalmente, os níveis normalizados mais elevados presentes em IEC 60071-1.
Chama-se especial atenção para o patamar de 400 kV, onde o nível de isolamento adotado é o valor
normalizado mais elevado, o que leva a um custo com equipamento bastante avultado. Convém
relembrar que as medidas tomadas na limitação de sobretensões permitem prever que estas não
serão tão gravosas e portanto optar por o nível de isolamento máximo pode representar uma mar-
gem demasiado generosa. Ainda relativo aos níveis de isolamento, sugere-se a seleção do nível de
isolamento interno (enrolamento dos transformadores de potência) não inferior ao externo.
o que leva a que as margens necessárias sejam mais baixas nestes níveis. Assim optou-se por
sugerir margens que vão desde os 50 % nos 400 kV até 100 % nos 60 kV, sendo que para os 150
kV se considerou uma margem de 70 %. Estes valores dão origem a reduções, relativamente aos
valores medidos, de 10 % a 16 %, conforme se confirma pela tabela 5.7. As margens sugeridas
são valores hipotéticos pelo que se propõe um efetuar um estudo sobre a possibilidade de redução
das mesmas.
O tipo de material utilizado para as colunas e cadeias de isoladores é a cerâmica, mais preci-
samente porcelana. Este tipo de material tem sido utilizado intensivamente na conceção de isola-
dores desde o início das redes elétricas e representa, ainda atualmente, uma boa solução ao nível
dos isoladores. Contudo o seu comportamento sob poluição pode pôr em causa a rigidez dielétrica
exigida. Desta forma, uma alternativa eficaz seria a aplicação de isoladores compósitos. Estes
podem significar um custo inicial acrescido em relação aos cerâmicos. Contudo, as vantagens ao
nível do comportamento à poluição acaba por os tornar vantajosos.
Sugere-se assim optar pela utilização de colunas de isoladores compósitos em vez dos tradici-
onais cerâmicos.
Relativamente às cadeias de isoladores, os materiais compósitos apresentam as vantagens
enunciadas para as colunas de isoladores, contudo existe a dúvida da utilização destes nas cadeias
de amarração. Este facto deve-se, não ao pior comportamento sob tração, porque na realidade se
verifica o contrário, mas à possibilidade de deterioração precoce do revestimento isolante, devido
a ataques químicos e elétricos, permitindo a entrada de agentes degradantes no núcleo fibroso
enfraquecendo a sua rigidez mecânica.
No entanto, apesar de os isoladores em materiais compósitos apresentarem um tempo de vida
útil inferior ao dos cerâmicos, não é expectável que a deterioração ocorra num curto período de
94 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo
tempo e portanto estes podem ainda assim apresentar-se vantajosos relativamente aos demais.
Desta forma sugere-se optar também por isoladores em materiais compósitos nas cadeias de amar-
ração.
Relativamente aos transformadores de medição verifica-se a mesma situação que aquela ob-
servada para a aparelhagem de corte e manobra. Os níveis de isolamento considerados, 5.1 estão
de acordo com a tabela 4.2. Portanto, as tensões suportáveis para este equipamento serão afectadas
pela medida tomada para a seleção dos níveis de isolamento.
A proteção dos painéis de linha é assegurada por hastes de descargas (explosores) montadas
nas cadeias de amarração das linhas aos pórticos. Conforme analisado em 4.10.6, a actuação
dos explosores apresenta inconvenientes para a instalação. Estes inconvenientes que resultam
do estabelecimento de um curto-circuito, causando esforços electrodinâmicos sobre as cadeias
onde este se estabelece e provocando o accionamento do disjuntor, necessário na dissipação do
5.2 Caso de estudo 95
curto-circuito, podem ser eliminados através da utilização de DST. Além disso, a utilização destes
dispositivos na entrada das linhas na subestação pode ainda promover uma redução do nível de
isolamento no restante equipamento. Desta forma, sugere-se a aplicação de DST como alternativa
aos explosores.
A proteção dos transformadores de potência é assegurada por meio de DST de óxidos metá-
licos sem explosores, conforme disposto em 5.2.5. O tipo de DST considerado representa uma
tecnologia actual com melhor comportamento relativamente aos clássicos de carboneto de silício,
conforme descrito em 2.2.3.4. Portanto, relativamente à proteção dos transformadores de potência
observa-se uma proteção efectiva através de equipamento normalizado, pelo que não se prevêem
propostas de alteração a este nível.
• seleção dos níveis de isolamento para os equipamentos de acordo com o procedimento su-
gerido pelo guia de aplicação da publicação IEC 60071-2;
• Substituição dos dispositivos de proteção das cadeias de amarração (haste de descarga) por
descarregadores de sobretensões;
96 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo
Capítulo 6
6.1 Conclusão
97
98 Conclusão e Trabalhos Futuros
isolamento que as sobretensões do sistema. Na segunda etapa são encontradas as tensões su-
portáveis de coordenação, que representam as tensões que satisfazem o critério de desempenho.
Estas são obtidas multiplicando as tensões representativas pelo fator de coordenação. Este de-
pende do tipo de método utilizado, determinístico ou estatístico. Na terceira etapa determinam-se
as tensões suportáveis requeridas. Aqui são aplicados fatores de correção para compensar as va-
riações do comportamento do isolamento de acordo com a altitude da instalação e ainda fatores
de segurança. Este último tem por objetivo compensar diferenças na conceção dos equipamentos,
qualidade da instalação, envelhecimento durante o período de vida do equipamento, entre outros.
A última etapa corresponde à seleção dos níveis de isolamento normalizados. Nesta fase, depen-
dendo do nível de tensão do sistema, pode ser necessário converter tensões suportáveis ao choque
de manobra em tensões suportáveis à frequência industrial assim como ao choque atmosférico, ou
converter tensões suportáveis à frequência industrial em tensões suportáveis ao choque de mano-
bra. A seleção dos níveis de isolamento é efetuada a partir dos valores normalizados presentes em
IEC 60071-1.
No que respeita a subestações, os isolamentos envolvidos são as distâncias de isolamento no
ar, colunas e cadeias de isoladores e ainda isolamentos internos e mistos. A análise comparativa
entre o Guia de Coordenação de Isolamento e o documento normativo IEC 60071 consistiu na
análise dos níveis de isolamento dos diferentes componentes, das distâncias de isolamento no ar e
dos equipamentos de proteção.
Após a análise comparativa verificou-se à partida que os níveis de isolamento adotados pelo
GCI são valores normalizados e contantes na norma. Contudo, verificou-se também que os níveis
de isolamento não são selecionados caso a caso, sendo que são adotados sempre os mesmos valores
para cada patamar de tensão mais elevada do sistema. Além disso, por cada nível de tensão é
apenas adotado pelo GCI um nível de isolamento (externo), enquanto a norma apresenta dois
ou mais exceto para o nível de tensão mais elevada para o equipamento de 72,5 kV (note-se
que os níveis em análise são: 72,5 kV, 170 kV, 245 kV e 420 kV). Observou-se ainda que os
níveis de isolamento interno adotados pelo GCI se situam um patamar abaixo daquele apontado
para o isolamento exterior, para o mesmo nível de tensão. Com base nos exemplos presentes no
documento IEC 60071-2 esta consideração não se verifica e portanto considera-se que a mesma
não é correta. A sugestão apontada no que respeita aos níveis de isolamento é que se realize uma
análise das solicitações dielétricas a cada caso e que se aplique o processo de coordenação de
isolamento apontado pela IEC 60071.
As considerações relativas aos níveis de isolamento aplicam-se a todos os equipamentos no-
meadamente colunas e cadeias de isoladores, aparelhagem de corte e manobra, transformadores
de medição e potência. Assim, uma possível redução do nível de isolamento afeta todo o equipa-
mento da subestação tendo um impacto significativo no custo da mesma.
Relativamente às distâncias de isolamento mínimas adotadas pelo GCI observou-se que es-
tas se apresentam próximas daquelas apontadas pelo documento normativo, embora um pouco
superiores especialmente nas distâncias fase-fase.
No entanto, o GCI indica apenas um conjunto de distâncias mínimas (este conjunto é composto
6.2 Trabalhos Futuros 99
por uma distância fase-fase e outra fase-terra) por cada patamar de tensão mais elevada para o
equipamento, ao passo que a norma indica dois ou mais, excepto para o patamar de 72,5 kV. Isto
deve-se ao facto de a norma considerar mais que um nível de isolamento por cada patar de tensão
mais elevada para o equipamento.
Comparando as distâncias mais baixas sugeridas pela norma com aquelas sugeridas pelo GCI,
então a diferenças entre ambas aumenta significativamente. Contudo, as distâncias realmente
utilizadas nas instalações comportam margens significativas por uma questão de segurança. A
adoção das distâncias mínimas sugeridas pela IEC por si só não teria impacto relevante, mas
associando a estas uma redução das margens pode ter uma impacto considerável.
Em termos de proteção de equipamentos, o GCI estipula a utilização de descarregadores de
sobretensões para a proteção dos transformadores de potência, baterias de condensadores e cabos
de alta tensão. Estes dipositivos de proteção são os únicos efetivamente recomendados pela norma,
embora se admita a utilização de outros dispositivos de proteção dependendo da importância do
equipamento e das consequências da sua saída de serviço. Como os transformadores de potência
e baterias de condensadores, assim como os cabos de alta tensão (dependendo da sua função),
representam elementos de elevada importância no sistema, os DST constituem a melhor solução
no que respeita a proteção contra sobretensões. Desta forma nenhuma sugestão a este nível foi
sugerida, assumindo que as soluções adotadas são as melhores.
Os painéis de linha, conforme o GCI, devem ser protegidos por hastes de descarga (explo-
sores). Estes dispositivos de proteção contra sobretensões representam uma solução económica
mas apresentam inúmeras desvantagens. Por exemplo, aquando da sua atuação estabelece-se um
curto-circuito que causa esforços eletrodinâmicos nos equipamentos a proteger, apresenta dificul-
dade de extinção do arco o que leva à atuação do disjuntor afetando a continuidade de serviço, o
estabelecimento do curto-circuito introduz outra sobretensões no sistema. Desta forma sugeriu-se
a instalação de DST como dispositivo de proteção contra sobretensões dos painéis de linha.
O caso de estudo analisado segue as recomendações do Guia de Coordenação de Isolamento
pelo que as propostas de alteração sugeridas para o GCI aplicam-se também a este caso específico.
Em termos de colunas e cadeias de isoladores observou-se que são ainda utilizados isolado-
res cerâmicos. Atualmente os isoladores compósitos apresentam vantagens, tanto em termos de
comportamento dielétrico como mecânico, promovendo um incremento da fiabilidade, além de
serem consideravelmente mais leves facilitando a sua instalação e transporte favorecendo ainda a
redução de custos de instalação.
realizar a coordenação de isolamento, de acordo com o guia de aplicação IEC, com vista à com-
paração com os valores previamente adotados. Com este trabalho pretender-se-ia avaliar as mais
valias do recurso ao guia de aplicação IEC.
Uma das propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento foi a substituição de
das hastes de descargas, utilizadas nas cadeias de amarração, por descarregadores de sobretensões.
Assim, um possível trabalho futuro seria estudar a viabilidade da utilização de descarregadores de
sobretensões em alternativa aos explosores avaliando em qual dos casos o impacto para a rede
seria menor.
Finalmente, uma vez que começa a ser cada vez mais comum optar por subestações blindadas
em vez de subestações isoladas ao ar, haveria interesse em efetuar uma análise comparativa da
fiabilidade entre ambos os tipos de subestação.
Referências
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arte. Guia de coordenação de isolamento para a rede pti - edp. Relatório té, EDP, Dezembro
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second edição, 2001.
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Apontamentos teóricos da unidade curricular "Técnicas de alta tensão".
[8] José Pedro Martinho Queirós. Análise comparativa do comportamento dielétrico dos isola-
dores compósitos com isoladores em materiais convencionais. Tese de mestrado, Faculdade
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60060-1, 3.0 edição, 2010.
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