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FACULDADE DE E NGENHARIA DA U NIVERSIDADE DO P ORTO

Coordenação de isolamentos em
subestações

Carlos Filipe Ribeiro Queirós

Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Orientador: Prof. Dr. António Carlos Sepúlveda Machado e Moura

Julho de 2013

c Carlos Queirós, 2013
Resumo

Com a presente dissertação pretende-se efetuar uma análise sobre a coordenação de isola-
mento em subestações, com especial atenção para aquelas que se situam nos níveis de tensão de
transporte, acima dos 60 kV.
Numa primeira etapa será efetuada uma revisão bibliográfica onde se descreve uma subestação
e se dá a conhecer os seus principais componentes. Posteriormente, apresentar-se-á uma visão
geral sobre a coordenação de isolamento, onde se faz uma introdução ao tema e se expõem os
diferentes equipamentos relacionados com a mesma. Serão ainda dadas a conhecer as diferentes
solicitações a que estes equipamentos podem ser sujeitos sobre condições de serviço. Finalmente
serão relatados procedimentos para a coordenação de isolamento.
Seguidamente expõem-se uma síntese da norma internacional IEC (International Electrotech-
nical Commission) para coordenação de isolamento, IEC 60071. Esta é composta por duas partes,
sendo que a primeira apresenta definições, princípios e regras e a segunda constitui um guia de
aplicação.
Finalmente será efectuada uma análise comparativa entre a norma internacional e o Guia de
Coordenação e Isolamento seguido pela empresa portuguesa responsável pela concessão da rede
de transporte de eletricidade em Portugal. A partir desta análise serão apresentadas sugestões de
alteração ao guia em causa e ainda aplicação destas alterações a um caso de estudo.

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Abstract

The aim of this dissertation is to perform an analysis about insulation coordination in substa-
tions, with special emphasis to those situated in transport levels, above 60 kV.
First of all will be performed a literature review where, at first, a substation is described and
its main components are presented. Later on, an overview of the insulation coordination will be
shown, an introduction to the subject is made and the different equipment related to insulation
coordination are presented. The different dielectric stresses that those devices may be exposed
under service conditions will be exhibited. Finally, procedures for insulation coordination will be
presented.
Then a synthesis of the international standard IEC (International Electrotechnical Commis-
sion) for Insulation Coordination, IEC 60071, will be exposed. It is composed by two parts, the
first one provides definitions, principles and rules, and the second is an application guide.
Finally will be performed a comparative analysis between the international standard and the
Guide for Insulation Coordination followed by the Portuguese company responsible for the elec-
tricity transmission network in Portugal. Based on that analysis, suggestions for changes to the
actual guide will be presented and its application to a case study.

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iv
Agradecimentos

Em primeiro lugar quero agradecer ao meu orientador, Professor António Machado e Moura,
pelo acompanhamento e conselhos que permitiram que esta dissertação se tornasse uma realidade.
Ao Vitor Almeida pela ajuda e esclarecimentos prestados na elaboração da dissertação.
A todos os meus amigos, em especial ao José Pedro Queirós, Ricardo Ferreira, Nuno Soares,
Luís Pereira e Ricardo Mourão Ferreira pelo apoio e companheirismo prestado que permitiram
atenuar as dificuldades encontradas durante este trajecto.
Agradeço em especial aos meus pais pelo incentivo e por tudo o que fizeram por mim ao longo
dos anos, sem eles nada disto seria possível.
A todos aqueles que, de uma maneira ou outra, me auxiliaram nesta caminhada.
A todos vós, Muito Obrigado.

Carlos Queirós

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“Simplicity is the ultimate form of sophistication.”

Leonardo da Vinci

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Conteúdo

1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Estrutura da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Revisão Bibliográfica 5
2.1 Subestações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.1 Propósito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.2 Transformação do nível de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.3 Constituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Coordenação de isolamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.2 Solicitações dielétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.3 Isolamento e proteção contra sobretensões . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.4 Características de rigidez dielétrica do isolamento . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.5 Critério de desempenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.6 Procedimento de coordenação de isolamento . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Documento normativo IEC 60071 23


3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1.1 Termos e definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1.2 Procedimento para coordenação de isolamento . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.3 Distâncias no ar para assegurar uma determinada tensão suportável a im-
pulsos de uma instalação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.1 Tensões de stress representativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.2 Tensão suportável de coordenação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2.3 Tensão suportável requerida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.2.4 Tensão suportável normalizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.2.5 Considerações especiais para subestações . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4 Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa


com IEC 60071 63
4.1 Princípios gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2 Distâncias no ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3 Colunas e cadeias de isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.4 Aparelhagem de corte e manobra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

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x CONTEÚDO

4.5 Transformadores de medição e condensadores de acoplamento . . . . . . . . . . 70


4.6 Transformadores de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.7 Baterias de condensadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.8 Cabos isolados de alta tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.9 Proteção dos equipamentos contra sobretensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.9.1 Proteção do painel de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.9.2 Proteção dos transformadores de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.9.3 Proteção de baterias de condensadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.9.4 Proteção de cabos isolados de alta tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento
normativo IEC 60071 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.10.1 Níveis de isolamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.10.2 Distâncias de isolamento no ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.10.3 Colunas e cadeias de isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.10.4 Aparelhagem de corte e manobra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.10.5 Transformadores de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.10.6 Proteção do equipamento do painel de linha . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.10.7 Proteção dos transformadores de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.10.8 Proteção de baterias de condensadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.10.9 Proteção de cabos isolados de alta tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

5 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo 83


5.1 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento . . . . . . . . . . 83
5.1.1 Níveis de isolamento nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.1.2 Distâncias de isolamento no ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.1.3 Colunas e cadeias de isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.1.4 Transformadores de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.1.5 Proteção do equipamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.2 Caso de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.2.1 Configuração final da subestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.2.2 Disposição geral e tecnologia de construção . . . . . . . . . . . . . . . . 87
5.2.3 Coordenação de isolamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.2.4 Colunas e Cadeias de isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.2.5 Proteção contra sobretensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.2.6 Propostas de alteração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

6 Conclusão e Trabalhos Futuros 97


6.1 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
6.2 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

Referências 101
Lista de Figuras

2.1 Constituição do sistema elétrico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6


2.2 Forma de onda normalizada para sobretensões de frente rápida. . . . . . . . . . . 11
2.3 Exemplo de isoladores utilizados em redes elétricas. . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4 a) Cadeia de isoladores de suspensão; b) Cadeia de isoladores de amarração. . . . 13
2.5 Exemplo de descarga entre hastes de um explosor na extremidade de uma cadeia
de isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.6 Característica de tensão versus corrente de DST de Óxido de zinco e Carboneto
de sílicio [9] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.7 Detalhes construtivos de DST de carboneto de sílicio [9] . . . . . . . . . . . . . 16
2.8 Detalhes construtivos de DST de óxido de zinco [6] . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.9 Função densidade de probabilidade de ocorrência de U [5] . . . . . . . . . . . . 20
2.10 Probabilidade acumulada de descarga disruptiva do isolamento [5] . . . . . . . . 20
2.11 Risco de cedência de um isolamento [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.1 Procedimento para coordenação de isolamento [12] . . . . . . . . . . . . . . . . 30


3.2 Tensões e sobretensões representativas [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3 Diagrama de ligação de descarregador de sobretensões ao equipamento a proteger
[11] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.4 Fator de coordenação determinístico Kcd [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.5 Risco de falha de um isolamento [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.6 Risco de falha de isolamento externo em função do fator de coordenação estatístico
Kcs [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.7 Expoente m em função da tensão suportável de coordenação a impulsos de mano-
bra [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

xi
xii LISTA DE FIGURAS
Lista de Tabelas

3.1 Níveis de isolamento normalizado para gama I [12]. . . . . . . . . . . . . . . . . 34


3.2 Níveis de isolamento normalizado para gama II [12]. . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.3 Distâncias de linha de fuga recomendadas de acordo com o nível de poluição do
local [11] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4 Relação entre tensão suportável a impulsos de origem atmosférica normalizada e
distância mínimas no ar [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.5 Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias
mínimas fase-terra no ar [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.6 Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias
mínimas fase-fase no ar [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.7 Fatores de conversão para a gama I, para converter tensões suportáveis requeri-
das a impulsos de manobra em tensões suportáveis de curta duração à frequência
industrial e a impulsos de origem atmosférica [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.8 Fatores de conversão para a gama II, para converter tensões suportáveis requeridas
de curta duração à frequência industrial em tensões suportáveis a impulsos de
manobra [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.1 Níveis de isolamento interno para transformadoresde potência [3] . . . . . . . . 65


4.2 Níveis de isolamento externo [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3 Distâncias de isolamento [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4 Distâncias de isolamento mínimas para travessias dos transformadores de potência
[3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.5 Níveis de isolamento para cadeias e colunas de isoladores [3] . . . . . . . . . . 67
4.6 Gama de distâncias entre dispositivos de guarda [3] . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.7 Níveis de poluição [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.8 Regras relativas à qualidade da linha de fuga dos isoladores [3] . . . . . . . . . 69
4.9 Tensões suportáveis mínimas para seccionadores e disjuntores [3] . . . . . . . . 69
4.10 Níveis de isolamento nominais para transformadores de medição e condensadores
de acoplamento [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.11 Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência
protegidos por DST [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.12 Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência
protegidos por DST [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.13 Tensões suportáveis mínimas para travessias do lado linha e neutro [3] . . . . . . 71
4.14 Tensões estipuladas recomendáveis para cabos de energia [3] . . . . . . . . . . . 72
4.15 Distâncias entre pontas de explosores [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.16 características básicas de DST para o "lado linha"[3] . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.17 características básicas de DST para o "lado neutro"[3] . . . . . . . . . . . . . . 75

xiii
xiv LISTA DE TABELAS

4.18 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama I [3] 77
4.19 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II
fase-terra [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.20 Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II
fase-fase [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

5.1 Níveis de isolamento nominal para transformadores de medição . . . . . . . . . 88


5.2 Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 60 kV e
150 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.3 Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 400 kV 89
5.4 Níveis de isolamento nominal para transformadores, autotransformadores de po-
tência e reactância shunt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.5 Distâncias mínimas de isolamento e proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.6 Características das cadeias isolantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.7 Propostas de redução das distâncias de isolamento fase-fase . . . . . . . . . . . 93
Abreviaturas e Símbolos

Lista de abreviaturas

AC Alternate current
AT Alta tensão
BT Baixa tensão
DC Direct current
DST Descarregador de sobretensões
EDP Energias de Portugal
FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
FFO Fast tront overvoltage
GCI Guia de Coordenação de Isolamento
GIS Gas Insulated Switchgear
IEC International Electrotechnical Commission
MAT Muito alta tensão
MT Média tensão
p.u. Por unidade
REE Red Eléctrica de España
REN Rede Energética Nacional
SFO Slow front overvoltage
TOV Temporary overvoltage
VFFO Very fast tront overvoltage

Lista de símbolos

a1 (m) Comprimento da ligação do DST à linha


a2 (m) Comprimento da ligação do DST à rede de terra
a3 (m) Comprimento do condutor de fase entre o DST e o equipamento a proteger
a4 (m) Comprimento da parte ativa do DST
c (m/µs) Velocidade da luz
f (Hz) Frequência
K (-) Fator de defeito à terra
K1 (-) Fator de correção de densidade do ar
K1 (-) Fator de correção de humidade
Ka (-) Fator de correção de altitude
Kc (-) Fator de coordenação
Kcd (-) Fator de coordenação determinístico
Kco (µ/kV m) Constante de amortecimento do efeito de coroa
Kcs (-) Fator de coordenação estatístico
KS (-) Fator de segurança

xv
xvi ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Kt (-) Fator de correção atmosférica


Ktc (-) Fator de conversão de ensaio
L (m) Distância entre o DST e o equipamento a proteger
m (-) Expoente da expressão de correção atmosférica para isolamento externo
n (-) Número de linhas aéreas conetadas a uma subestação na avaliação da ampli-
tude da sobretensão à entrada destas
P (%) Probabilidade de disrupção de isolamento auto regenerativo
PW (%) Probabilidade de não contornamento/suportabilidade
R (-) Risco de falha
S (kV/µs) Declive de uma sobretensão de origem atmosférica à entrada de uma subesta-
ção
U (kV) Amplitude de uma tensão ou sobretensão
U0 (kV) Tensão abaixo da qual não existe possibilidade de disrupção do dielétrico
U10 (kV) Tensão para a qual o dielétrico apresenta 10 % de probabilidade de disrupção
U16 (kV) Tensão para a qual o dielétrico apresenta 16 % de probabilidade de disrupção
U50 (kV) Tensão para a qual o dielétrico apresenta 50 % de probabilidade de disrupção
U10 (kV) Tensão para a qual o dielétrico apresenta 10 % de probabilidade de disrupção
Uaw (kV) Tensão suportável de um equipamento ou configuração de isolamento
Ucw (kV) Tensão suportável de coordenação
Ue (kV) Amplitude da sobretensão fase-terra
Ue2 (kV) Tensão fase-terra cuja probabilidade de ser excedida é de 2 %
Ue50 (kV) Valor de 50 % da distribuição acumulada de sobretensões fase-terra
Uet (kV) Valor de truncatura da distribuição acumulada de sobretensões fase-terra
Um (kV) Tensão mais elevada para equipamento
UN (kV) Tensão nominal do sistema
Upl (kV) Nível de proteção ao choque atmosférico de um DST
Ups (kV) Nível de proteção ao choque de manobra de um DST
Upt (kV) Valor de truncatura da distribuição acumulada de sobretensões fase-fase
Urp (kV) Tensão/sobretensão representativa
Urw (kV) Tensão suportável requerida
US (kV) Tensão mais elevada de um sistema
Uw (kV) Tensão suportável estipulada normalizada
T (µs) Tempo de viagem do impulso de descarga atmosférica
T1 (µs) Tempo de frente
T2 (µs) Tempo de meio valor de uma tensão decrescente
Tp (µs) Tempo até ao pico
Z (kV) Desvio convencional que representa a variabilidade da tensão de contorna-
mento
Zg (Ω) Impedância de terra
Capítulo 1

Introdução

A fiabilidade do sistema elétrico, e, por sua vez, a qualidade de serviço prestada aos clientes,
depende diretamente das interrupções. Estas serão tanto piores, no que diz respeito à qualidade
de serviço, quanto maior a duração e a frequência. Entre muitas das causas das interrupções
está o escorvamento dos isolamentos, que mais não é do que a sua rutura. Deste modo torna-se
essencial uma rigorosa seleção dos equipamentos de proteção e de isolamento com vista ao bom
funcionamento do sistema elétrico. Assim, com a coordenação de isolamentos procura-se obter
a melhor relação técnico-económica com vista à garantia de proteção do equipamento contra as
solicitações dielétricas existentes no sistema.

Se o isolamento fosse apenas sujeito às solicitações causado pelas tensões sobre condições nor-
mais de operação, este problema seria facilmente resolvido, bastando para esse efeito que fosse
selecionado um nível de isolamento que suportasse tais solicitações. Contudo o isolamento é
sujeito a inúmeros surtos (sobretensões), com várias formas, magnitudes e durações, que colo-
cam em causa a capacidade de o equipamento os suportar. Como as circunstâncias de ocorrência
destes surtos não é conhecida, torna-se economicamente inviável o dimensionamento de todo o
equipamento por forma a garantir que não há disrupção. Portanto, é aceite uma determinada pro-
babilidade de falha no dimensionamento do sistema. Por outro lado, visto que é impossível evitar
todos os contornamentos, estes devem ser confinados a locais onde os danos causados tenham
menor impacto na operação do sistema.

Para uma correta coordenação de isolamentos é necessário conhecer as sobretensões possíveis


de surgir no sistema, usar equipamento de proteção contra sobretensões quando necessário, esco-
lher as corretas tensões suportáveis para os diferentes componentes do sistema a par das tensões
de isolamento de acordo com as restrições particulares.

Posto o já referido, a coordenação de isolamentos pode definir-se, de acordo com IEC 60071-
1, como a seleção da rigidez dielétrica do equipamento de acordo com a tensão de operação e
sobretensões que podem surgir no sistema, no qual o equipamento se insere, e tendo em conta o
ambiente de serviço e as características disponíveis do equipamento de proteção.

1
2 Introdução

1.1 Motivação
O sistema elétrico de energia é um sistema vasto e complexo essencial ao abastecimento de
eletricidade aos diferentes consumidores da sociedade, desde particulares a empresas/indústria.
Pela sua natureza está sujeito a diversos fenómenos transitórios (sobretensões), de origem interna
como externa, e que podem levar à saída de serviço de equipamento crucial à continuidade de
abastecimento dos consumidores, como por exemplo transformadores de potência localizados em
subestações. As subestações de potência, que são um subsistema de importância capital dentro do
sistema elétrico, são particularmente afetadas por estes fenómenos, e como tal requerem uma aten-
ção especial na sua conceção, com vista a uma fiabilidade elevada. Um dos aspetos da conceção
que garante fiabilidade ao sistema é o isolamento.

O sistema de isolamento compreende diversos meios e equipamentos, e, como tal, é necessário


uma coordenação destes de forma a cooperarem para o objetivo comum, a proteção do sistema,
relativamente às diferentes solicitações. Contudo, pretende-se simultaneamente garantir um bom
isolamento com o menor custo possível. No entanto, os guias de coordenação de isolamento se-
guidos pelas empresas responsáveis pelo sistema elétrico podem revelar-se antiquados e de certa
forma conservadores relativamente às normas internacionais atuais, e portanto existe a possibili-
dade de melhoria desses mesmos guias.

Pretende-se desta forma efetuar um estudo sobre a coordenação de isolamentos em geral, assim
como efetuar uma análise do guia seguido em Portugal em comparação com as normas interna-
cionais do IEC (Internetional Electrotechnical Commission) com vista a eventuais propostas de
melhoria do mesmo, tendo por objetivo a redução de custos com instalações ou até melhoria da
qualidade de serviço.

1.2 Objetivos
A presente dissertação tem como principal objetivo efetuar uma análise comparativa entre o
Guia de Coordenação de Isolamento para a rede PTI-EDP 1 e o documento normativo IEC 60071
para a coordenação de isolamento. A partir desta análise pretende-se efetuar propostas de alteração
com vista a uma melhoria da qualidade de serviço e redução de custos em instalações projetadas
com base no guia referido.
Pretende-se ainda dar uma visão geral sobre coordenação de isolamentos, desde solicitações
dielétricas, equipamentos a proteger e equipamentos de proteção, bem como métodos de coorde-
nação de isolamento e processo para a sua realização.
1 Este documento remete para o período em que a empresa concessionária da rede de transporte era a EDP. O termo

PTI refere-se a uma rede com neutro à terra. Atualmente a empresa concessionária é a REN sendo que o termo PTI não
é mais utilizado, e a rede é atualmente descrita como RNT. Contudo, o documento em causa é ainda a referência para
a coordenação de isolamento. No decorrer da presente dissertação a referência ao documento em causa será realizada
apenas como Guia de Coordenação de Isolamento ou através da sigla respetiva. Note-se ainda que a REN se encontra
a rever este guia.
1.3 Estrutura da Dissertação 3

Constitui ainda um objetivo aplicar as propostas de alteração a um caso prático. Este caso
prático será uma subestação de transmissão com três níveis de tensão, 400, 150 e 60 kV.

1.3 Estrutura da Dissertação


O presente documento é composto por seis capítulos, incluindo introdução e conclusões. No
capítulo 2 apresenta-se uma revisão bibliográfica sobre o tema, onde se dá a conhecer uma visão
geral sobre a coordenação de isolamento em subestações. No capítulo 3 expõe-se uma síntese do
documento normativo da International Electrotechnical Commission. No capítulo 4 apresenta-se
de forma resumida o Guia de Coordenação de Isolamento assim como uma análise comparativa
entre este e norma internacional. No capítulo 5 expõem-se propostas de alteração sugeridas ao
Guia de Coordenação de Isolamento assim como a um caso de estudo. Por último, no capítulo 6,
são apresentadas as conclusões e possíveis trabalhos futuros.
4 Introdução
Capítulo 2

Revisão Bibliográfica

Neste capítulo faz-se uma abordagem geral ao tema, apresentando o papel das subestações
no sistema elétrico de energia e seus equipamentos integrantes, o conceito de coordenação de
isolamento e factores que levam à sua realização, assim como os fenómenos que afectam os equi-
pamentos das subestações, o comportamento dos isolamento sujeitos a estes fenómenos e meios
de proteção. Por último apresentam-se métodos de coordenação de isolamento.

2.1 Subestações

2.1.1 Propósito

A energia elétrica é, ainda nos dias de hoje, produzida essencialmente de forma centralizada,
em locais que podem distar centenas ou milhares de quilómetros dos centros de consumo. Assim
existe a necessidade de transportar grandes quantidades desta forma de energia, através de gran-
des distâncias. Posto isto, as empresas responsáveis pelo transporte vêem-se obrigadas a cumprir
determinados critérios de qualidade ao menor custo possível. Podem definir-se assim os três prin-
cipais objetivos destas empresas [1]

• Alta fiabilidade do sistema elétrico;

• Baixo custo de energia;

• Elevados níveis de qualidade de energia;

O sistema elétrico reparte-se em três grupos essenciais: produção; transporte/distribuição;


consumo. No diagrama da figura 2.1 apresenta-se a forma como o sistema em Portugal se en-
contra estruturado. Embora o diagrama estabeleça uma estrutura vertical do sistema, atualmente
enquadra-se também, ao nível de distribuição e consumo, a mini e micro produção de eletricidade
por parte de consumidores. Na figura 2.1, a seta indica o sentido do fluxo de energia de um sistema
clássico verticalizado.
As principais funções das subestações no sistema elétrico de energia são:

5
6 Revisão Bibliográfica

Figura 2.1: Constituição do sistema elétrico.

• aumentar ou reduzir o nível de tensão, conforme a sua localização no sistema;

• estabelecer as conexões produção-transporte e transporte-distribuição, aumentando a efici-


ência do sistema.

2.1.2 Transformação do nível de tensão


O transporte tem custos associados, sendo o mais relevante as perdas energéticas, das quais
se salientam as perdas caloríficas, também chamas perdas de Joule. As perdas são diretamente
proporcionais à potência transmitida. Contudo podem ser reduzidas através da alteração das suas
características. A potência transmitida numa linha de transporte é dada pela expressão 2.1 [1].

S = V · I∗ (2.1)

Onde:

• S é a potência complexa transmitida, expressa em Volt-Ampère (VA);

• V é a tensão aos terminais da linha, expressa em Volt (V);

• I é a intensidade de corrente que percorre a linha, expressa em Ampère (A).

Matematicamente é percetível a possibilidade de transmitir a mesma potência variando pro-


porcionalmente, de forma inversa, os parâmetros V e I. Uma vez que as perdas com maior peso,
2.1 Subestações 7

isto é, as perdas de Joule, são diretamente proporcionais ao quadrado da intensidade de corrente,


conforme se verifica pela expressão 2.2, uma forma de reduzir as perdas será diminuir a corrente
elevando na mesma proporção a tensão [1].

pJ = Rl · I 2 (2.2)

Onde:

• pJ é a potência perdas de Joule, expressa em Watt (W);

• Rl é a resistência elétrica total da linha, empressa em Ohm (Ω);

• I é o módulo da intensidade de corrente que percorre a linha, exressa em Ampère (A).

O equipamento que permite esta transformação são os transformadores de potência instalados


precisamente nas subestações, que por sua vez se localizam no início e fim das linhas de transporte.
Outra vantagem relacionada com a transformação mencionada detém-se com a garantia de
qualidade da energia, mais precisamente com o nível de tensão que deve ser garantido ao con-
sumidor final. Como ao longo das linhas se verifica uma queda de tensão, a qualidade da onda,
relativamente à sua amplitude, pode não satisfazer os requisitos pré-estabelecidos no ponto de
entrega ao consumidor. Esta queda de tensão é também proporcional à intensidade de corrente,
conforme descreve a expressão 2.3.

∆V = Rl · I (2.3)

Onde:

• ∆V é a queda de tensão, expressa em Volt (V);

• Rl é a resistência elétrica total da linha, expressa em Ohm (Ω);

• I é o módulo da intensidade de corrente que percorre a linha, expressa em Ampère (A).

2.1.3 Constituição
Uma subestação incorpora inumeros equipamentos, desde o equipamento de potência, ao de
proteção, controlo e monotorização. Seguidamente listam-se os componentes típicos de uma su-
bestação [1].

• Transformador de potência;

• Disjuntor;

• Seccionador;

• Comutadores;
8 Revisão Bibliográfica

• Transformadores instrumentais;

• Barramentos;

• Relés;

• Circuitos auxiliares AC e DC;

• Proteção contra sobretensões e descargas atmosféricas;

• Sistema de terras;

• Controlo remoto e sistemas de operação.

2.1.4 Conclusão

As subestações ocupam assim um papel crucial no sitema elétrico, promovendo viabilidade


técnica e ecónomia no transporte de energia elétrica. Conforme descrito previamente em 2.1.2,
estas localizam-se nos extremos das linhas de transporte. Logo, estes locais revelam-se críticos
devido à existência de diversos equipamentos, nomeadamente os transformadores (equipamento
que promove a transformação de tensão), dispositivos de aquisição de informação, entre outros,
que são susceptíveis de sofrer danos devido a um fenómeno inerente às redes, as sobretensões.
Torna-se assim necessário a aplicação de dispositivos de proteção contra sobretensões por forma a
proteger os demais equipamentos. Além disso, devem também ser garantidos níveis de isolamento,
quer de equipamentos , quer de distâncias no ar conforme o nível de tensão em causa e conforme
a probabilidade de as mesmas sobretensões surgirem. Aqui surge o conceito de coordenação de
isolamentos.

2.2 Coordenação de isolamentos

2.2.1 Introdução

A coordenação de isolamento constitui uma fase de projeto de importância capital em insta-


lações de transporte e distribuição de energia elétrica. Durante o período de funcionamento os
equipamentos do sistema são sujeitos a diversos tipos de sobretensões, com origem interna ou
externa ao sistema. Estas provocam solicitações dielétricas nos equipamentos de tal forma que
podem levar à disrupção dos mesmos ou até mesmo à sua destruição, o que coloca em causa a
fiabilidade e a continuidade de serviço do sistema. Assim sendo é importante conhecer o tipo de
solicitações dielétricas existentes no sistema, assim como as suas amplitudes expectáveis, com
vista à seleção dos níveis de isolamento que garantam a melhor relação técnico-económica. Espe-
cificar um nível de isolamento consiste em definir quais os tipos e amplitudes de sobretensões que
um equipamento deve suportar.
2.2 Coordenação de isolamentos 9

2.2.2 Solicitações dielétricas

A base na qual é efectuada a seleção do isolamento são as solicitações dielétricas às quais os


equipamentos estão ou podem eventualmente estar sujeitos. Consideram-se solicitações dielétri-
cas os esforços aos quais os equipamentos do sistema elétrico estão sujeitos, resultantes do campo
elétrico aplicado. Este por sua vez depende da amplitude da tensão aplicada aos terminais. Desta
forma, é importante conhecer quais os tipos de solicitações dielétricas existentes e a qual a sua
origem, que vão desde aquelas causadas pelo regime permanente até vários tipos de sobretensões.
As sobretensões podem classificar-se em dois grupos: um cuja origem é externa ao sistema, re-
sultante de descargas atmosféricas e que se pode manifestar de duas formas, ou pela incidência
directa sobre as linhas/subestações, ou pela incidência nas torres e/ou cabos de guarda que pode
provocar contornamento destes para as linhas; O segundo grupo diz respeito às sobretensões com
origem interna ao sistema, refiram-se as sobretensões de manobra e temporárias, como as suas
origens são comuns, estas ocorrem em simultâneo e a sua combinação é relevante para a seleção
do isolamento [2].

2.2.2.1 Regime permanente

A solicitação dielétrica em regime permanente (frequência industrial 50Hz) é aquela à qual


qualquer equipamento está sujeito sobre condições normais de funcionamento. Por vezes cons-
titui um entrave à redução do nível de isolamento, especialmente em redes de muito alta tensão,
onde a aplicação de dispositivos limitadores de sobretensão diminui o nível de isolamento neces-
sário. O nível mínimo de isolamento é especificado segundo esta solicitação e a sua seleção, com
base na tensão máxima da rede, deve ter em consideração a degradação devido aos agentes at-
mosféricos chuva, nevoeiro e poluição (este aspecto está relacionado com o isolamento externos),
envelhecimento (este aspecto está relacionado com o isolamento interno) e redução das distâncias
devido ao vento que pode provocar dilatações térmicas e curto-circuitos (aspecto relacionado com
as distâncias no ar) [3].

2.2.2.2 Sobretensões temporárias

As sobretensões temporárias provocam solicitações dielétricas semelhantes ao regime perma-


nente, sendo que a sua frequência é a mesma ou muito próxima desta. Provocam as mesmas
limitações e as considerações a tomar são equivalentes. A sua importância, no que diz respeito à
coordenação de isolamentos, fixa-se no facto de os limitadores de sobretensões deverem suportar
estas solicitações sobre o risco de destruição. O valor nominal de um descarregador de sobre-
tensões dependerá da capacidade de resistir a sobretensões temporárias. Logo, estas influenciam
o nível de proteção e custo do equipamento [2], sendo assim relevantes para a coordenação de
isolamentos.
Este tipo de sobretensão pode surgir na sequência de diferentes acontecimentos, como por
exemplo:
10 Revisão Bibliográfica

• Deslastre de carga. Esta afecta os parâmetros da tensão da rede, uma vez que sofre um
acréscimo da amplitude e a frequência pode também sofrer um aumento. O impacto da
sobretensão será tanto maior quanto mais saturados estiverem os transformadores, sendo
que o equipamento no final da linha será mais afectado devido ao efeito de Ferranti [3]. O
deslastre de carga pode provocar sobretensões temporárias na ordem de 1.2 vezes o valor
de tensão nominal, no final da linha desconectada junto à subestação, graças ao efeito de
Ferranti [4].

• Defeito à terra. Na sequência de um defeito à terra verifica-se uma elevação do potencial


das fases nas quais não se verificou o defeito. A sobretensão depende da razão entre a
impedância homopolar e directa vista do ponto de defeito. A sobretensão caracteriza-se
pelo fator de defeito à terra, que resulta da razão entre o valor eficaz da tensão fase-terra
durante o defeito e o valor eficaz da tensão antes do defeito [3]. Em sistemas de 400 kV
as sobretensões resultantes de defeitos à terra podem atingir valores na ordem de 1,5 vezes
o valor de tensão nominal do sistema durante 1s, período no qual um defeito deste tipo
permanece [4].

• Condição de ressonância. As condições de ressonância são provocadas por elementos não


lineares que se encontram em redes de alta tensão e normalmente só ocorrem em sistema
de neutro isolado. Sobretensões temporárias surgem quando elementos com elevada capaci-
tância, por exemplo linhas de transmissão, e indutância, por exemplo transformadores, com
características magnéticas não lineares são alimentados. Ressonância em linhas paralelas,
com compensação de energia reactiva, pode surgir na alimentação de uma delas ou de am-
bas. Valores na ordem de 1.5 vezes da tensão nominal podem ser atingidos em sistemas de
400 kV [4].

2.2.2.3 Sobretensões de origem atmosféricas

Uma sobretensão pode ser induzida numa linha de transmissão após a incidência direta de
uma descarga atmosférica sobre os condutores de fase, ou indirecta, sobre as torres e cabos de
guarda. A incidência directa só acontecerá se linha não estiver devidamente protegida por cabo de
guarda. Para melhor se entender, o sinal introduzido pela descarga é equivalente ao de uma fonte
de corrente que origina uma forma de tensão como se apresenta na figura 2.2. Esta caracteriza-
se por ter uma frente rápida (T1 na ordem de 1 µs) e um tempo de cauda (T2), para 50% do
valor de pico, na ordem de algumas dezenas de micro segundos. A curva 1,2/50 (em que T1=1,2
µs e T2=50 µs) é a curva normalizada para efeito de ensaios no que diz respeito a descargas
atmosféricas.
Esta sobretensão é normalmente originada pela incidência de uma descarga num cabo de
guarda ou torre, que induz uma tensão nos condutores de fase, ou através do contornamento de
retorno da distância de isolamento no ar, que injecta um corrente num condutor de fase. Contudo,
estes transitórios podem ser altamente atenuadas pela linha de transmissão, de tal forma que à che-
gada da subestação esta se possa assemelhar a uma sobretensão de manobra rápida [4]. Segundo
2.2 Coordenação de isolamentos 11

Figura 2.2: Forma de onda normalizada para sobretensões de frente rápida.

o documento [3], a sua incidência em linhas e subestações pode ser estimado, de forma grosseira,
a partir do índice ceráunico (número médio de dias em que a trovoada foi ouvida). Actualmente
existe em Portugal um sistema implementado permitindo quantificar a corrente, localização e po-
laridade da descarga.
Não obstante, as sobretensões de origem atmosférica apresentam-se mais relevantes para sis-
temas com níveis de tensão abaixo dos 300 kV, uma vez que o seu impacto na rede será tanto
menor quanto maior for o nível de tensão. Acima deste nível, as sobretensões de manobra passam
a revelar-se mais invasivas pois a sua amplitude é proporcional ao nível de tensão [2].

2.2.2.4 Sobretensões de manobra

Sobretensões de manobra surgem na sequência de manobras efectuadas na rede. Uma ma-


nobra não é mais que a alteração da topologia da rede, ou seja, alteração da sua configuração.
São normalmente transitórios eletromagnéticos associados ao fecho ou abertura de disjuntores,
na sequência do aparecimento de defeitos na rede e sua eliminação. Podem citar-se os seguintes
exemplos:

• Ligação e religação de linhas em vazio;

• Rejeição de carga;

• Aparecimento de um defeito;

• Eliminação de um defeito;

• Corte de correntes indutivas e capacitivas.


12 Revisão Bibliográfica

Uma das mais importantes sobretensões de manobra resulta da religação de uma linha em
vazio [4].
A amplitude deste tipo de sobretensões depende essencialmente do órgão de manobra (disjun-
tor) e do equipamento a ser manobrado, revelando-se independente do nível de tensão do sistema.
Em sistemas cuja tensão mais elevada para o equipamento é inferior a 300 kV, as sobretensões de
manobra não se revelam de grande importância uma vez que as solicitação dielétricas causadas no
equipamento não são determinantes, e também porque as margens utilizadas para as sobretensões
de origem atmosférica cobrem, normalmente, as necessidades relativas às sobretensões deste tipo
[3].

2.2.3 Isolamento e proteção contra sobretensões

2.2.3.1 Introdução

Na secção 2.2.2 foram expostas as diferentes solicitações dielétricas originadas pelo funciona-
mento do sistema. No entanto convém perceber em que consiste o isolamento, quais os dispositi-
vos utilizados para esse fim e quais os dispositivos de proteção contra sobretensões. O isolamento
elétrico consiste em proteger as instalações elétricas, numa perspectiva de segurança de pessoas
e animais, contra contactos directos e indirectos. Numa perspectiva técnica consiste em evitar as
fugas de corrente elétrica para a terra. Numa rede de transporte, o isolamento e os dispositivos de
proteções são de crucial importância pois são dos principais fatores na garantia de fiabilidade do
sistema. No que diz respeito à proteção contra sobretensões, estes podem agrupar-se em disposi-
tivos de proteção activa e passiva. Em termos de proteção activa temos os explosores, ou hastes
de guarda, e descarregadores de sobretensões. No que diz respeito à proteção passiva temos os
isoladores e os cabos de guarda [5].

2.2.3.2 Isoladores

Os isoladores utilizados em redes de transporte e distribuição, figura 2.3, têm não só a função
de isolar as linhas de transmissão, como também a de fixar estas mesmas linhas aos seus apoios.
Desta forma, devem apresentar boas características dielétricas, assim como boas características
mecânicas. Existem diversos tipos de matérias utilizados, desde cerâmicas, vidro, e mais recente-
mente (últimas quatro décadas) os de materiais compósitos. Conforme o tipo de material utilizado,
os isoladores apresentam diferentes características mecânicas e dielétricas. Os dois primeiros têm
a vantagem de apresentar uma grande fiabilidade, demonstrada com a experiência da sua utilização
ao longo dos anos. Contudo, apresentam também uma desvantagem comum que é o peso, podendo
levar à seleção de apoios mais resistentes aumentando o custo de implementação. Os compósitos
têm-se apresentado como uma excelente alternativa, apresentando um custo baixo e peso reduzido,
bem como um desempenho avançado face à poluição relativamente aos demais materiais. No en-
tanto, considera-se que ainda não é possível avaliar o seu tempo de vida útil comparativamente aos
de porcelana e vidro [6].
2.2 Coordenação de isolamentos 13

Figura 2.3: Exemplo de isoladores utilizados em redes elétricas.

Ao conjunto de isoladores utilizados na fixação dos diferentes cabos constituintes de uma


linha chama-se cadeia de isoladores. Estas podem ser de amarração, figura 2.4 b), ou suspensão,
figura 2.4 a). As primeiras utilizam-se em apoios de ângulo, em apoios fim de linha e, em linha
com traçado rectilíneo, em determinados apoios com o objetivo de esticar a linha, impedindo que
o arco entre os apoios seja demasiado grande. Nas restantes situações utilizam-se as cadeias de
suspensão.

Figura 2.4: a) Cadeia de isoladores de suspensão; b) Cadeia de isoladores de amarração.

2.2.3.3 Cabos de guarda

Os cabos de guarda constituem uma forma de proteção passiva relativamente a sobretensões,


uma vez que não constituem uma forma de eliminação destas, mas evita que uma descarga atmos-
14 Revisão Bibliográfica

férica incida directamente sobre a linha provocando a sobretensão. O cabo de guarda é instalado
no extremo do apoio, acima dos condutores de fase. Desta forma a descarga incidirá no cabo de
guarda em vez dos cabos de linha. O cabo de guarda encontra-se eletricamente ligado aos apoios,
pelo que a resistência de terra destes é de elevada importância para o escoamento da descarga.
A resistência de terra deve ser o mais baixa possível, pois quanto maior esta for, maior será a
possibilidade de se estabelecer um arco de retorno do apoio para a linha. Apesar de a utilização
de cabos de guarda se manifestar como uma mais-valia para a redução de sobretensões de origem
atmosférica, estas não deixam de existir pelo facto de a incidência de uma descarga atmosférica no
cabo de guarda induzir uma sobretensão na linha, contudo esta será menor do que se a incidência
fosse directa.

2.2.3.4 Explosores

Os explosores, figura 2.5, são equipamentos de proteção activa contra sobretensões, efectu-
ando uma descarga para a terra quando uma sobretensão, superior ao seu nível de proteção, se
estabelece aos seus terminais. São equipamentos extremamente simples, sendo compostos por
dois elétrodos espaçados no ar, sendo que um deles é ligado eletricamente à linha e o outro di-
rectamente à terra. Trata-se de um dispositivo facilmente regulável conforme o nível de proteção
pretendido. Os explosores podem tomar diversas configurações, no que diz respeito aos elétrodos,
destacando-se os seguintes [7]:

• Duas simples varas colocadas uma em frente à outra. Estes constituem uma proteção de re-
serva de forma que o seu funcionamento só é previsto no caso de os dispositivos de proteção
mais elaborados não atuarem;

• explosores de antenas. São constituídos por duas antenas destinadas a provocar o alonga-
mento do arco elétrico;

• dispositivos mais complexos incorporando, além dos elétrodos de descarga, anéis destinados
a eliminar os eflúvios de efeito de coroa 1 .

Os explosores, pelo seu baixo custo e facilidade de ajuste, de acordo com a altura a que se en-
contram instalados ou com a função que lhes é atribuída, foram largamente utilizados. Contudo,
estes equipamentos apresentam inúmeras desvantagens que impedem a sua utilização como prin-
cipais dispositivos de proteção. Também derivado da sua simplicidade, os explosores apresentam
as seguintes desvantagens: dificuldade de extinção autónoma da descarga; o seu funcionamento
provoca um elevado gradiente de frente que pode causar problemas a equipamentos bobinados,
e.g. transformadores; atraso na resposta, podendo a tensão ultrapassar o nível de proteção do ex-
plosor, o que pode por em causa o isolador; o nível de tensão a que se efectua a descarga varia
com as condições atmosféricas.
1O
efeito de coroa consiste na ionização de um fluido, ar no caso das linhas de transporte, quando sujeito a um
campo elétrico intenso, sendo que a intensidade visual (arco) e sonoro (zumbido) depende da intensidade desse campo
[8].
2.2 Coordenação de isolamentos 15

Figura 2.5: Exemplo de descarga entre hastes de um explosor na extremidade de uma cadeia de
isoladores

2.2.3.5 Descarregadores de sobretensões

Os descarregadores de sobretensões (DST), por vezes chamados de pára-raios, são também, à


semelhança dos explosores, dispositivos de proteção activa contra sobretensões e são os principais
equipamentos na dissipação destas. Os DST destinam-se essencialmente a proteger os equipa-
mentos das subestações de potência, ou apenas transformadores aéreos, instalados em apoios de
distribuição [9]. Estes equipamentos surgiram posteriormente aos explosores com o objetivo de
evitar os inconvenientes dos destes últimos. Os DST funcionam de forma semelhante aos explo-
sores, escoando uma corrente para a terra quando aos seus terminais surge uma sobretensão de
determinado valor, superior àquele que o DST deve suportar. Contudo, estes limitam a amplitude
e duração da corrente, escoada para a terra, evitando, em grande parte, que a intensidade seja de tal
forma elevada que provoque o disparo das proteções (disjuntores) [7]. As características de pro-
teção devem-se essencialmente à utilização de resistência não lineares, que permitem a condução
de eletricidade a partir de um determinado nível de tensão mantendo um fluxo controlado (ver ca-
racterística de tensão versus corrente na figura 2.6) de corrente e ainda a extinção deste fluxo após
a dissipação da sobretensão. As resistências não lineares, actualmente utilizadas na construção de
DST, são constituídas por dois tipos de elementos: carboneto de silício e óxido de zinco [9].
A construção tradicional dos DST baseia-se na colocação de resistências não lineares em série
com um centelhador formado por vários gaps (explosores), conforme se observa na figura 2.7 [9].
Actualmente existem DST de óxido de zinco (ZnO), figura 2.8, cuja construção não inclui o
chamado centelhador. Este tipo de aparelho apresenta melhor característica tensão/corrente no que
diz respeito à dissipação de sobretensões, comparativamente com os tradicionais de carboneto de
silício. Conforme se comprova pela figura 2.6, os equipamentos de óxido de zinco apresentam
uma corrente residual, sob a tensão nominal, bastante reduzida, na ordem dos microampère (µA).
Esta caraterística dos elementos não lineares de óxido de zinco permitem a não introdução de ex-
plosores tornando a construção mais simples. Contudo, os elementos não lineares ficam expostos
a todas as solicitações do sistema, podendo causar envelhecimento precoce [10].
16 Revisão Bibliográfica

Figura 2.6: Característica de tensão versus corrente de DST de Óxido de zinco e Carboneto de
sílicio [9]

Figura 2.7: Detalhes construtivos de DST de carboneto de sílicio [9]


2.2 Coordenação de isolamentos 17

Figura 2.8: Detalhes construtivos de DST de óxido de zinco [6]

2.2.4 Características de rigidez dielétrica do isolamento


Relativamente à capacidade de condução de corrente elétrica, os materiais podem definir-se
como condutores e não condutores, sendo que os últimos apresentam resistências elétricas ele-
vadas, ao contrário dos primeiros. Sob condições normais de funcionamento é o que acontece,
contudo sob condições inesperadas, como na sequência das sobretensões definidas anteriormente,
onde as solicitações dielétricas são elevadas, os não condutores podem de facto tornar-se condu-
tores. Veja-se por exemplo a disrupção do isolamento na sequência de uma descarga atmosférica
sobre uma linha de transmissão. Isto acontece quando as solicitações dielétricas sobre um iso-
lante, isto é, a intensidade do campo elétrico, aumenta até um ponto suficientemente elevado, de
tal forma que a resistência de um caminho através do isolante diminui até um ponto comparável à
resistência de um condutor. A este fenómeno dá-se o nome de disrupção [11].
A rigidez dielétrica é afetada por diversos factores, como por exemplo [11]

• A amplitude, forma, duração e polaridade da tensão aplicada;

• A distribuição do campo elétrico no isolador;

• O tipo de isolamento: liquido, sólido, gasoso ou combinação destes. A impureza contida


afecta particularmente a rigidez dielétrica;

• O estado físico do isolamento: temperatura, pressão e outras condições ambientais, esforços


mecânicos, entre outros;

• A deformação do isolamento devido a solicitações dielétricas, efeitos químicos, etc.

A disrupção pelo ar é extremamente afetada pela configuração dos espaçamentos e pela pola-
ridade e forma de onda de tensão aplicada. Em isolamento no exterior, aspectos ambientais como
humidade, chuva e poluição das superfícies são factores de importância crucial. Para componentes
GIS (Gas Insulated Switchgear), aspectos como pressão interna e temperatura, assim como falta
de homogeneidade do gás e impurezas tomam um papel importante. Em isolamento líquido, im-
purezas, bolhas de ar causadas por efeitos químicos e físicos ou por descargas locais (interior do
18 Revisão Bibliográfica

transformador por exemplo) podem reduzir drasticamente a rigidez dielétrica. Outro aspecto rele-
vante é a degradação das características isolantes ao longo do tempo de vida. Esta característica é
também aplicável aos isolantes sólidos [11].
Uma propriedade relevante relativamente à disrupção de um isolante é o seu carácter esta-
tístico, e, portanto, deve ser tomado em consideração. Graças à característica auto regenerativa
de determinados isolantes, por exemplo o ar, é possível obter a resposta estatística aos esforços
dielétricos com recurso a testes específicos. Assim, o isolamento auto regenerativo é usualmente
descrito pela tensão suportável estatística, que corresponde a uma probabilidade de suportar uma
solicitação dielétrica igual a 90%. Quanto ao isolamento não auto regenerativo, como a sua natu-
reza estatística não pode ser encontrada através da realização de testes, a tensão suportável assu-
mida corresponde a 100% de probabilidade de suportar o stress [11].

2.2.4.1 Influência da polaridade e forma de sobretensões

Nas aplicações em alta tensão, para a maioria dos casos, o condutor energizado (carregado ele-
tricamente) é normalmente sujeito a maior stress do que o condutor ligado à terra. Desta forma, no
que diz respeito a isolamento a ar, a rigidez dielétrica é afetada pela polaridade das sobretensões,
isto é, um condutor estará sujeito a um maior esforço dielétrico se estiver carregado positivamente
do que se estiver carregado negativamente. Dessa forma, a tensão que dá origem à disrupção atra-
vés do espaço no ar será menor para um condutor com carga positiva do que para um com carga
negativa [11].
No caso em que ambos os elétrodos estão aproximadamente sujeitos ao mesmo stress, dois
processos de descarga estarão envolvidos, com características positiva e negativa. Portanto, se for
claro qual a polaridade mais severa, a configuração dos espaços deve ser baseada nessa polaridade,
senão devem ser consideradas ambas as possibilidades [11].
A rigidez dielétrica é também afetada pela forma de onda da sobretensão. Para impulsos de
frente lenta, o isolamento externo depende mais do impulso de frente do que da cauda. Esta torna-
se mais significativa no caso de poluição da superfície do isolamento externo. A rigidez dielétrica
do isolamento interno depende essencialmente do valor de pico [11].
Para isolamento externo, normalmente existe para cada espaçamento no ar, um impulso cujo
tempo até ao pico (impulse time-to-peak) conduz a uma tensão de ruptura (disrupção) menor.
Este é considerado o tempo até ao pico crítico (critical time to peak). Normalmente, o mínimo
encontra-se na gama de valores de tempo até ao pico para sobretensões de frente lenta, e quanto
maior o espaçamento, mais pronunciado será este mínimo. Para distâncias na gama de valores I
encontrados na tabela 3.4 presente em IEC 60071-1, que se referem a distâncias de isolamento
considerando sobretensões de origem atmosférica, logo de frente rápida, o seu efeito pode ser
ignorado [11]. Para espaçamentos usados na gama de valores II, que se refere a sobretensões
de manobra, logo frentes mais lentas, a mínima tensão de disrupção corresponde ao tempo até ao
pico normalizado de 250 µs. Esta consideração pode representar distâncias mínimas conservativas
[11].
2.2 Coordenação de isolamentos 19

A tensão de disrupção para isolamento externo sobre esforços causados por uma sobretensão
de origem atmosférica diminui com o aumento da duração da cauda da onda. No entanto, para
tensões suportáveis esta diminuição não é considerada e a tensão de disrupção assume-se ser igual
à de impulso normalizado 1,2/50 µs. Ainda assim, existe a possibilidade de redução da dimensão
das estruturas, por exemplo subestações isoladas a ar, quando protegidas por descarregadores de
sobretensões [11].

2.2.4.2 Influência das condições climatéricas no isolamento

Condições climatéricas como a densidade e composição do ar influenciam as tensões de dis-


rupção no isolamento externo. A rigidez dielétrica do isolamento aumenta com a a humidade
absoluta. No entanto, isto só acontece até ao ponto em que a superfície do isolador se torne mo-
lhada devido à condensação. A rigidez dielétrica do isolamento é diminuida com a redução da
densidade do ar. Contudo, deve ser tido em consideração que determinadas condições adversas
não ocorrem simultaneamente, isto é, baixa pressão, baixa humidade absoluta e alta temperatura
[11].

2.2.4.3 Probabilidade de descarga disruptiva do isolamento

Para isolamento do tipo não auto-regenerativo não existe um método para a determinação do
seu risco de cedência perante uma sobretensão. No entanto, no que diz respeito a isolamento do
tipo auto-regenerativo considera-se que a probabilidade de suportar uma sobretensão varia entre
0% e 100%.
Antes de mais é necessário perceber a possibilidade de ocorrência de uma sobretensão, ou
da ocorrência de um nível de tensão superior a um determinado valor ou interior a um intervalo.
Assim, pode dizer-se que a possibilidade de ocorrência de uma sobretensão aos terminais de um
equipamento pode ser expressa por uma função que indica a sua densidade de probabilidade p, ou
pela função de probabilidade acumulada P.
Portanto, dada uma distribuição de valores de tensão U, defina-se função densidade de proba-
bilidade po (U 0 ), como a probabilidade de ocorrência de U 0 , conforme se apresenta na figura 2.9,
sendo assim possível a determinação da probabilidade de ocorrência de uma sobretensão contida
num intervalo de valores, por exemplo [U 0 ;U 0 + ∂U].
Uma vez descrita a probabilidade de ocorrência de uma sobretensão, é necessário definir-
se o comportamento dielétrico de um isolamento, isto é, a probabilidade de cedência perante
uma sobretensão. Tal comportamento traduz-se pela função de probabilidade acumulada PT (U),
quando sujeito a uma sobretensão de valor U, conforme se apresenta na figura 2.10.
Tendo definida a probabilidade de ocorrência de uma sobretensão e a probabilidade de ce-
dência de um isolamento quando sujeito a uma determinada sobretensão, pode agora definir-se o
risco de cedência de um isolamento. Este resulta do produto da função densidade de probabilidade
de ocorrência da sobretensão, pela probabilidade de cedência do isolamento perante essa mesma
sobretensão.
20 Revisão Bibliográfica

Figura 2.9: Função densidade de probabilidade de ocorrência de U [5]

Figura 2.10: Probabilidade acumulada de descarga disruptiva do isolamento [5]


2.2 Coordenação de isolamentos 21

E portanto, para qualquer valor de sobretensão, U, o risco de cedência de um isolamento, R, é


dado pela expressão 2.4:
Z ∞
R= p0 (U) · PT (U)∂U (2.4)
0

Graficamente o risco de cedência de um isolamento é apresentado na figura 2.11.

Figura 2.11: Risco de cedência de um isolamento [5]

O conhecimento do risco de cedência dos isolamentos é de elevada importância para a co-


ordenação de isolamentos em sistema de alta e muito alta tensão, pois este constitui uma base
para a seleção dos níveis de isolamento dos equipamentos, permitindo ainda realizar análises de
sensibilidade, isto é, avaliar o comportamento do isolamento perante a variação da severidade das
sobretensões. O conhecimento do risco de cedência constitui uma base para a seleção dos níveis
de isolamento uma vez que, não sendo possível a seleção do isolamento de forma a suportar todos
os esforços que possam surgir, é possível a seleção do isolamento que garanta um risco de falha
aceitável, isto é, superior a 0%, mas certamente baixo.

2.2.5 Critério de desempenho

De acordo com a norma IEC 71-1, o critério de desempenho de um isolamento em serviço é o


seu risco de falha aceitável. Ou seja, conforme descrito em 2.2.4.3, como não é possível garantir
100% de eficácia, no que diz respeito à suportabilidade de sobretensões, o desempenho de um
isolamento terá de ter em conta o seu número de falhas em funcionamento. Portanto, quanto mais
exigente o critério de desempenho, menor o número de falhas aceitáveis num período de tempo.
22 Revisão Bibliográfica

No entanto, a severidade de um defeito na sequência de uma falha do isolamento devido a uma


sobretensão varia de ponto para ponto da rede. Desta forma, diferentes níveis aceitáveis de falhas
podem ser considerados para diferentes pontos da rede [11].

2.2.6 Procedimento de coordenação de isolamento


A coordenação de isolamento visa a seleção da rigidez dielétrica do equipamento relativa-
mente às diferentes solicitações. Esta seleção consiste na determinação das mais baixas tensões
suportáveis que respeitam o critério de desempenho, considerando as sobretensões representativas
sobre condições de serviço.
Relativamente a solicitações transitórias, existem dois métodos para a coordenação de isola-
mentos. O primeiro consiste numa abordagem determinística, o segundo numa abordagem esta-
tística. Contudo, uma conjugação de ambos os métodos pode ser aplicada [11].

2.2.6.1 Método determinístico

Este método é aplicado quando resultados estatísticos, obtidos através de ensaios, relativa-
mente à possibilidade de falha em serviço não são conhecidos. E portanto, o método é utilizado
quando o isolamento é caracterizado pela sua tensão suportável convencional assumida, isto é, a
probabilidade de suportar uma solicitação é de 100%. A tensão suportável de coordenação é obtida
multiplicando o máximo assumido da sobretensão representativa por uma fator Kc (ver 3.1.1.25).
Este fator pressupõe compensar as incertezas das tensões representativas e tensão suportável assu-
mida. O método também se aplica quando, para isolamento externo, o isolamento é caracterizado
pela tensão suportável estatística, onde a probabilidade de não cedência é igual a 90%. Neste
caso Kc deve ter em conta a diferença entre a tensão suportável estatística e a tensão suportável
assumida [11].

2.2.6.2 Método estatístico

O método estatístico é baseado na frequência de ocorrência de fenómenos de uma determi-


nada origem (sobretensões de origem atmosférica, sobretensões de manobra, etc.), na densidade
de ocorrência de sobretensões relativa a essa origem e na probabilidade de disrupção do isola-
mento. O risco de falha pode ser determinado combinando a probabilidade de sobretensões com a
probabilidade de disrupção do isolamento (ver secção 2.2.4.3).
Aplicando repetidamente cálculos para diferentes tipos de isolamento a para estados da rede,
a taxa de falha do sistema devido a falha de isolamento pode ser obtida [11].
Desta forma, a utilização do método estatístico possibilita a estimação da frequência de falhas
do sistema como função do design do sistema. Teoricamente a optimização do isolamento seria
possível se os custos da saída de serviço do sistema pudessem ser relacionados com os diferentes
tipos de defeitos. No entanto isto é na verdade difícil o que leva a que, usualmente, seja melhor
um ligeiro sobredimensionamento do que uma optimização, e portanto, o sistema de isolamento é
seleccionado com base na comparação dos riscos das diferentes alternativas (de design).
Capítulo 3

Documento normativo IEC 60071

Neste capítulo apresenta-se a documentação normativa da Comissão Electrotécnica internaci-


onal (IEC-International Electrotechnical Commission) relativa à coordenação de isolamento. Este
documento normativo é actualmente composto por duas partes. A primeira, IEC 60071-1, esta-
belece definições, princípios e regras de coordenação de isolamento, enquanto a segunda, IEC
60071-2, constitui um guia de aplicação. Veja-se que, a informação presente no capítulo reporta
ao documento IEC 60071, partes 1 e 2.

3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1


3.1.1 Termos e definições

3.1.1.1 Coordenação de isolamento

Seleção da rigidez dielétrica do equipamento relativamente à tensão de operação e sobreten-


sões a que os equipamentos podem ser expostos tendo em conta o ambiente de serviço e caracte-
rísticas dos dispositivos de proteção;

3.1.1.2 Isolamento externo

Distância no ar, e da superfície do equipamento sólido em contacto com o ar que está sujeita a
solicitações dielétricas e condições ambientais do local, como poluição, humidade, etc.

3.1.1.3 Isolamento interno

Distância do isolamento sólido, líquido ou gasoso do equipamento que está protegido dos
efeitos atmosféricos;

3.1.1.4 Isolamento auto-regenerativo

Isolamento que, após um curto período de tempo, recupera totalmente as propriedades dielé-
tricas no seguimento de um contornamento durante um ensaio;

23
24 Documento normativo IEC 60071

3.1.1.5 Isolamento não auto-regenerativo

Isolamento que, após um contornamento, num ensaio, não recupera total ou parcialmente as
características dielétricas;
NOTA: as definições consideram contornamento causado por tensão de ensaio durante um
ensaio dielétrico. Contudo, contornamentos em serviço podem causar perdas de propriedades
dielétricas em isolamento auto-regenerativo.

3.1.1.6 Configuração dos terminais (de isolamento)

Todos os terminais que, entre cada par, pode surgir uma solicitação dielétrica:

• Terminal de fase, onde, entre este e o terminal neutro é aplicada a tensão simples de serviço
do sistema;

• Terminal de neutro;

• Terminal de terra, ligado diretamente à terra (cuba dos transformadores, estrutura torres);

3.1.1.7 Configuração de isolamento

Configuração geométrica do isolamento em serviço, consistindo no isolamento e todos os


terminais. Inclui todos os elementos (isolantes e condutores) que influenciam o comportamento
dielétrico. As configurações são as seguintes:

• Trifásica: 3 terminais de fase, um de neutro e um de terra;

• Fase-terra: configuração trifásica em que 2 terminais de fase não são considerados e, exceto
casos particulares, o neutro é ligado a terra;

• Fase-fase: configuração trifásica em que um terminal de fase não é considerado. Em casos


particulares, o neutro e terra também não são considerados;

• Longitudinal (Entrada-saída): configuração considerando 2 terminais de fase e um ter-


minal de terra. Os 2 terminais pertencem à mesma fase, de um sistema trifásico, tempo-
rariamente separada em 2 terminais energizados independentemente (switch aberto). Os 4
terminais pertencentes às restantes fase não são considerados. Em casos particulares um dos
terminais considerados é ligado a terra.

3.1.1.8 Tensão nominal do sistema UN

Valor aproximado da tensão utilizada para designar ou identificar o sistema;

3.1.1.9 Tensão mais elevada de um sistema US

Valor de tensão mais elevado de operação entre fases (valor eficaz) que ocorrer sobre condições
normais de operação, em qualquer instante ou ponto do sistema.
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 25

3.1.1.10 Tensão mais elevada para equipamento Um

Valor de tensão mais elevado entre fases (valor eficaz) para o qual um equipamento é projetado
com respeito ao seu nível de isolamento. Sobre condições de serviço especificadas pelo fabricante,
esta tensão pode ser aplicada continuamente ao equipamento.

3.1.1.11 Sistema com neutro isolado

Sistema no qual o ponto neutro não é intencionalmente ligado à terra, exceto para ligações de
alta impedância para proteção ou medidas;

3.1.1.12 Sistema com neutro ligado à terra

Sistema cujos pontos neutros são ligados diretamente à terra;

3.1.1.13 Sistema com neutro impedante

Sistema em que um ou mais pontos neutros são ligados à terra através de impedâncias para
limitar as correntes de curto-circuito à terra;

3.1.1.14 Sistema com neutro ressonante

Sistema no qual um ou mais pontos neutros são ligados à terra através de reactâncias para
compensar a componente capacitiva de um curto-circuito fase-terra;

3.1.1.15 Fator de defeito à terra K

É o rácio entre o valor mais elevado (valor eficaz) fase-terra encontrado na fase sã durante um
defeito à terra afetando uma ou mais fases, e o valor eficaz fase-terra à frequência industrial que
seria obtido nesse local na ausência de qualquer defeito;

3.1.1.16 Sobretensão

Qualquer tensão entre fase e terra ou aplicada a isolamento longitudinal (entrada-saída) cujo

valor de pico exceda o valor máximo de tensão do sistema dividido por 3, ou entre condutores
de fase cujo pico exceda o valor mais elevado da tensão do sistema.

3.1.1.17 Classificação de sobretensões

De acordo com a sua forma e duração, tensões e sobretensões podem classificar-se como:

Tensão à frequência industrial


Tensão que se considera apresentar um valor eficaz constante, e que é continuamente aplicada
a qualquer par de terminais de uma configuração de isolamento.
26 Documento normativo IEC 60071

Sobretensão temporária TOV


Sobretensão à frequência industrial de relativa longa duração.

Sobretensão transitória
Sobretensão de curta duração, normalmente de alguns milissegundos, oscilatória ou não, usu-
almente bastante amortecida.

Sobretensão de frente lenta SFO


Sobretensão transitória, normalmente unidirecional, com um tempo até ao pico (time to peak)
de 20µs < Tp < 5000µs, e uma duração de cauda de T2 < 20ms.

Sobretensão de frente rápida FFO


Sobretensão transitória, normalmente unidirecional, com um tempo até ao pico (time to peak)
de 0, 1µs < Tp < 20µs, e uma duração de cauda de T2 < 300µs.

Sobretensão de frente muito rápida VFFO


Sobretensão transitória, normalmente unidirecional, com um tempo até ao pico (time to peak)
de Tp < 0, 1µs, e com ou sem uma oscilação sobreposta de frequência 30kHz < f < 100MHz.

Sobretensões combinadas
Consiste em duas componentes de tensão aplicadas simultaneamente entre cada par de ter-
minais de um isolamento fase-fase, ou longitudinal (entrada-saída), e a terra. É classificada pela
componente de maior valor de pico (temporária, frente lenta, frente rápida ou frente muito rápida).

3.1.1.18 Tensões de ensaio normalizadas

Tensão à frequência industrial de curta duração normalizada

• Tensão sinusoidal com frequência entre 48 Hz e 62 Hz, e duração de 60 s;

• Impulso de manobra normalizado;

• Impulso de tensão com um tempo de frente de 250 µs e um tempo de meio-valor (quando a


cauda atinge 50% do valor de pico) de 2500 µs.

Impulso de descarga atmosférica normalizado


Impulso de tensão com um tempo de frente de 1,2 µs e um tempo de meio-valor de 50 µs.

Impulso de manobra combinado normalizado


Para isolamento fase-fase, um impulso de tensão combinado contendo duas componentes de
igual valor de pico e polaridade oposta. A componente positiva é o Impulso de manobra nor-
malizado, e a negativa é um impulso de manobra cujos tempos até ao pico e de meio-valor não
são inferiores aos da componente positiva. Ambos os impulsos devem atingir o pico no mesmo
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 27

instante. Assim, o valor de pico da tensão combinada é a soma dos valores de pico das duas
componentes.

Tensão combinada normalizada


Para isolamento longitudinal (entrada-saída), uma tensão combinada em que num dos termi-
nais é aplicado um impulso normalizado e no outro a tensão à frequência industrial. O impulso é
aplicado no instante de pico da tensão à frequência industrial de polaridade oposta.

3.1.1.19 Sobretensões representativas Urp

Sobretensão que se assume ter o mesmo efeito dielétrico no isolamento que uma sobretensão
de uma dada classe que ocorre em serviço de diversas origens; Consistem em tensões com forma
padrão de uma classe, e pode ser definida por um valor ou conjunto deles, ou distribuição de
ocorrência de valores que caracteriza as condições de serviço.

3.1.1.20 Limitador de sobretensões

Equipamento que limita o valor de pico das sobretensões e/ou a sua duração. São classificados
como dispositivos preventivos (resistências de pré-inserção), ou como dispositivos de proteção
(DST);

3.1.1.21 Nível de proteção contra impulsos

Valor máximo de pico de tensão permitido aos terminais de um dispositivo de proteção sujeito
a impulso de manobra ou descarga atmosférica sobre determinadas condições.

3.1.1.22 Critério de desempenho (performance)

Base sobre a qual o isolamento é selecionado de modo a reduzir, económica e operacional-


mente, a níveis aceitáveis a probabilidade de a solicitação causado pela tensão resultar em danos
no equipamento ou afetar a continuidade de serviço. Este critério é expresso por um rácio aceitável
de falhas (por ano, anos entre falhas, etc.) da configuração do isolamento.

3.1.1.23 Tensão suportável

Valor de tensão aplicada sobre determinadas condições num ensaio de tensão suportável, du-
rante o qual um determinado número de contornamentos (disruptive discharge) é tolerado. A
tensão suportável (withstand voltage) é designada como:

• Convencional, quando o número de contornamentos tolerado é zero. Considera-se uma


probabilidade de não contornamento de PW = 100%;

• Estatística, quando o número de contornamentos está associado a uma probabilidade de não


contornamento de PW = 90%;
28 Documento normativo IEC 60071

3.1.1.24 Tensão suportável de coordenação Ucw

Para cada classe de tensão, valor suportável da configuração de isolamento que, em serviço,
garante o critério de desempenho.

3.1.1.25 Fator de coordenação Kc

Valor pelo qual a sobretensão representativa é multiplicada para obter a tensão suportável de
coordenação;

3.1.1.26 Condições atmosféricas de referência

Condições atmosféricas, nas quais as tensões suportáveis normalizadas são aplicadas.

3.1.1.27 Tensão suportável requerida Urw

Tensão de ensaio que o isolamento deve suportar num ensaio de tensão suportável para as-
segurar que o isolamento garante o critério de desempenho quando sujeito a uma dada classe de
sobretensões em condições de serviço e durante todo o período de serviço. A tensão suportável re-
querida tem a mesma forma da tensão suportável de coordenação, e é especificada com referência
a todas as condições do teste de tensão suportável selecionadas para a verificar.

3.1.1.28 Fator de correção atmosférica Kt

Fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenamento para compensar a diferença na


rigidez dielétrica entre as condições atmosféricas médias em serviço e as condições atmosféricas
de referência padrão. Aplica-se apenas para isolamento externo.

3.1.1.29 Fator de correção de altitude Ka

Fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenação para compensar a diferença na rigidez
dielétrica entre a pressão média correspondente à altitude em serviço e a pressão de referência
padrão.

3.1.1.30 Fator de segurança Ks

Fator a ser aplicado à tensão suportável de coordenamento, após a aplicação do fator de cor-
reção atmosférico (se necessário), para obter a tensão suportável requerida, compensando todas
as diferenças na rigidez dielétrica entre condições de serviço durante o período de vida e aquelas
encontradas no ensaio de tensão suportável normalizado.

3.1.1.31 Tensão suportável de um equipamento ou configuração de isolamento Uaw

Valor mais elevado da tensão de ensaio aplicável a um equipamento ou configuração de isola-


mento num ensaio de tensão suportável comum.
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 29

3.1.1.32 Fator de conversão de ensaio Ktc

Para um determinado equipamento ou configuração de isolamento, o fator a ser aplicado à


tensão suportável requerida de uma determinada classe, no caso de a forma suportável normalizada
da tensão suportável selecionada para o ensaio ser de uma classe diferente.

3.1.1.33 Tensão suportável estipulada

Valor da tensão de ensaio, aplicado num ensaio de tensão suportável que prova que o isola-
mento cumpre com uma ou mais tensões suportáveis requeridas. É o valor estipulado de isola-
mento de um equipamento.

3.1.1.34 Tensão suportável estipulada normalizada Uw

Valor normalizado da tensão suportável estipulada (3.1.2.6 e 3.1.2.7).

3.1.1.35 Nível de isolamento estipulado

Conjunto de tensões suportáveis que caracterizam a rigidez dielétrica do isolamento.

3.1.1.36 Nível de isolamento normalizado

Conjunto de tensões suportáveis estipuladas normalizadas que estão associadas a Um .

3.1.1.37 Ensaio de Tensão suportável normalizada

Ensaio dielétrico realizado em condições específicas para provar que o isolamento cumpre
com a tensão suportável estipulada normalizada.

3.1.2 Procedimento para coordenação de isolamento

3.1.2.1 Visão geral e procedimento

O procedimento para a coordenação de isolamentos consiste na seleção da tensão mais ele-


vada para o equipamento juntamente com a um correspondente conjunto de tensões suportáveis
estipuladas normalizadas que caracterizam o isolamento do equipamento necessário à aplicação.
A figura 3.1 apresenta o procedimento para a coordenação de isolamento. As tensões suportá-
veis estipuladas devem ser selecionadas do conjunto apresentado nos pontos 3.1.2.6 e 3.1.2.7. O
conjunto de tensões normalizadas selecionadas constitui o nível de isolamento estipulado.

3.1.2.2 Determinação das tensões e sobretensões representativas Urp

As tensões e sobretensões que provocam solicitações dielétricas no isolamento devem ser de-
terminadas em amplitude, forma e duração por meio de análise do sistema, que inclui a seleção e
30 Documento normativo IEC 60071

Figura 3.1: Procedimento para coordenação de isolamento [12]


3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 31

localização dos dispositivos de proteção de sobretensões. Para cada classe de tensões e sobreten-
sões, a análise deve determinar a tensão e sobretensão representativa, considerando as caracterís-
ticas do isolamento, atendendo aos diferentes comportamentos relativamente às formas de tensão
e sobretensão do sistema assim como às formas de tensão normalizadas aplicadas nos ensaios de
tensão suportável, conforme apresentado na figura 3.2.

Figura 3.2: Tensões e sobretensões representativas [12]

3.1.2.3 Determinação de tensão suportável de coordenação Ucw

A sua determinação consiste na seleção do mais baixo valor de tensão suportável do isolamento
que garante o critério de desempenho, quando sujeito à sobretensão representativa sobre condições
de serviço.
Tem a mesma forma da sobretensão representativa, e é obtido multiplicando a última pelo
fator de coordenação. Este depende da precisão da avaliação das sobretensões representativas e na
avaliação da distribuição das mesmas.
32 Documento normativo IEC 60071

A tensão suportável de coordenação pode ser considerada convencional ou estatística, depen-


dendo do tipo de método utilizado (ver secção 3.2.2.3).

3.1.2.4 Determinação da tensão suportável requerida Urw

Consiste na conversão da tensão suportável de coordenação para as condições de ensaio nor-


malizadas apropriadas. Isto é cumprido multiplicando a tensão suportável de coordenação por
fatores que compensam as diferenças entre condições de serviço do isolamento e as dos ensaios
de tensão suportável normalizados.
Os fatores a aplicar devem compensar condições atmosféricas, Kt , e mais uma série de efeitos
unidos num fator de segurança, Ks . Os efeitos considerados pelo fator de segurança Ks são:

• Diferenças na assemblagem do equipamento;

• Dispersão na qualidade dos produtos;

• Qualidade da instalação;

• Envelhecimento do isolamento durante o seu período de vida expectável;

• Outras influências.

Se estes efeitos não puderem ser avaliados individualmente, um fator de segurança global,
derivado da experiência deve ser utilizado (ver secção 3.2.3.3).
O fator de correção atmosférica Kt é aplicado apenas para isolamento exterior, e o fator de
correção de altitude, Ka que considera apenas a pressão média do ar relativamente à altitude, deve
ser aplicado qualquer que seja a altitude.

3.1.2.5 Seleção do nível de isolamento estipulado

Consiste na seleção do conjunto mais económico de tensões suportáveis estipuladas normali-


zadas (Uw ) do isolamento, suficiente para provar que todas as tensões suportáveis requeridas são
satisfeitas.
A seleção da tensão mais elevada para o equipamento é o próximo valor normalizado de Um
e deve ser igual ou maior que a tensão mais elevada para o sistema na qual o equipamento se
enquadra. Para equipamento a ser instalado sobre condições ambientais normais relevantes a este,
Um deve ser pelo menos igual a Us . Para equipamento a ser instalado fora das condições ambientais
normais relevantes a este, Um deve ser maior do que o próximo valor normalizado de Um igual ou
maior do que Us de acordo com as necessidades especiais envolvidas.
O valor da tensão suportável requerida é selecionado a partir da lista de tensões suportáveis
especificadas normalizadas apresentadas em 3.1.2.6 e 3.1.2.7, como o próximo valor igual ou
maior que: a tensão suportável requerida no caso de ter a mesma forma; a tensão suportável
requerida multiplicada por um fator de conversão.
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 33

Para equipamento a ser usado em condições ambientais normais, o nível de isolamento estipu-
lado deve, preferencialmente, ser selecionado a partir da tabela 3.1 e tabela 3.2, correspondendo
às tensões mais elevadas aplicadas aos equipamentos.

3.1.2.6 Lista de tensões suportáveis de curta duração à frequência industrial estipuladas


normalizadas

Os valores eficazes listados, expressos em kV, são valores normalizados de tensões suportá-
veis: 10, 20, 28, 38, 50, 70, 95, 115, 140, 185, 230, 275, 325, 360, 395, 460. Os valores eficazes
listados, expressos em kV, são valores recomendados de tensões suportáveis: 510, 570, 630,680.

3.1.2.7 Lista de tensões de impulso suportáveis estipuladas normalizadas

Os valores listados representam valores de pico, expressos em kV: 20, 40, 60, 75, 95, 125,
145, 170, 200, 250, 325, 380, 450, 550, 650, 750, 850, 950, 1050, 1175, 1300, 1425, 1550, 1675,
1800, 1950, 2100, 2250, 2400.

3.1.2.8 Gama de tensões mais elevadas para o equipamento

As tensões mais elevadas para o equipamento são divididas em duas gamas de valores: Gama
I: Entre 1kV e 245kV inclusive (figura 3.1). Esta gama cobre tanto sistemas de distribuição como
de transmissão. Os diferentes aspetos de operação devem ser tidos em consideração na seleção do
nível de isolamento estipulado para o equipamento.
Gama II: Acima de 245kV (figura 3.2). Esta gama cobre, essencialmente, sistemas de trans-
missão.

3.1.2.9 Condições ambientais

As condições atmosféricas normais, com base nas quais as tensões suportáveis podem ser
seleccionadas a partir das tabelas 3.1 e 3.2 da presente norma são as seguintes:

• A temperatura do ar não excede os 40◦ C, e o seu valor médio num período de 24h não exceda
os 35◦ C. As temperaturas mínimas não devem ser menores que: -10◦ C, -25◦ C e -40◦ C
conforme as classes “-10◦ C exterior”, “-25◦ C exterior”,“-40◦ C exterior” respectivamente;

• A altitude não exceda os 1000 m acima do nível do mar;

• A poluição não exceda o nível de poluição médio, de acordo com a tabela 3.3;

• A presença de chuva ou condensação é comum.

As condições atmosféricas de referência para as quais as tensões suportáveis normalizadas se


aplicam são:

• Temperatura: to = 20◦ C
34 Documento normativo IEC 60071

Tabela 3.1: Níveis de isolamento normalizado para gama I [12].


3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 35

Tabela 3.2: Níveis de isolamento normalizado para gama II [12].


36 Documento normativo IEC 60071

Tabela 3.3: Distâncias de linha de fuga recomendadas de acordo com o nível de poluição do local
[11]
3.1 IEC 60071-1: Coordenação de isolamento - Parte 1 37

• Pressão: bo = 101,3 kPa (1013 mbar)

• Humidade absoluta: ho = 11 g/m3

3.1.2.10 Seleção do nível de isolamento normalizado

As tensões suportáveis estipuladas normalizadas estão associadas com as tensões mais eleva-
das para o equipamento de acordo com a tabela 3.1 para a gama I e tabela 3.2 para a gama II.
Estas tensões suportáveis são válidas para condições ambientais normais e são ajustadas para as
condições atmosféricas de referência normalizadas.
As associações obtidas entre as tensões suportáveis de todas as colunas, sem cruzar as linhas
horizontais, são definidas como níveis de isolamento normalizado.
Para isolamento fase-fase e longitudinal, as seguintes associações são normalizadas:

• Para isolamento fase-fase, na gama I, as tensões suportáveis à frequência industrial de curta


duração e de impulso por descarga atmosférica são iguais às tensões suportáveis fase-terra.

• Para isolamento fase-fase, na gama II, as tensões suportáveis a impulso de descargas atmos-
féricas são iguais a tensões suportáveis fase-terra.

• Para isolamento longitudinal, na gama I, as tensões suportáveis de curta duração à frequên-


cia industrial e a impulsos de descarga atmosférica são iguais às fase-terra relativas.

• Para isolamento longitudinal, na gama II, a componente de impulso de manobra da tensão


suportável combinada é dado na tabela 3.2, enquanto o valor de pico da componente à
√ √
frequência industrial de polaridade oposta é Um × 2/ 3.

• Para isolamento longitudinal na gama II, a componente de impulso a descargas atmosféricas


da tensão suportável combinada é igual à tensão suportável fase-terra relativa, enquanto o
valor de pico da componente à frequência industrial de polaridade oposta é 0, 7 × Um ×
√ √
2/ 3.

Para a maioria das tensões mais elevadas para o equipamento estão previstas mais do que
uma combinação, permitindo desta forma a aplicação a diferentes critérios de desempenho. São
necessárias apenas combinações de duas tensões suportáveis para definir o nível de isolamento do
equipamento.
Para equipamento na gama I: a tensão suportável a impulso de origem atmosférica; a ten-
são suportável de curta-duração à frequência industrial. Para equipamento na gama II: a tensão
suportável a impulso de origem atmosférica; a tensão suportável a impulso de manobra.
Se técnica e economicamente se justificar, outras associações podem ser adotadas. Em todo
o caso, as recomendações sugeridas de 3.1.2.1 a 3.1.2.8 devem ser seguidas. O conjunto de ten-
sões suportáveis estipuladas normalizadas resultante deve ser denominado por nível de isolamento
estipulado.
38 Documento normativo IEC 60071

Por exemplo, para isolamento exterior, para níveis elevados de Um na gama I, pode tornar-se
mais económico especificar uma tensão suportável a impulso de manobra em vez de uma de curta
duração à frequência industrial.

3.1.2.11 Níveis de isolamento

A seleção do nível de isolamento normalizado deve basear-se no procedimento descrito pela


publicação IEC 60071-2 e deve considerar as características de isolamento de determinado equi-
pamento.
Na gama I, a tensão suportável de curtas duração à frequência industrial ou a impulsos de des-
cargas atmosféricas deve cobrir as tensões suportáveis requeridas fase-terra e fase-fase a impulsos
de manobra, assim como a tensão suportável requerida longitudinal.
Na gama II, a tensão suportável a impulso de manobra deve cobrir a tensão suportável de curta
duração à frequência industrial requerida se nenhum valor for especificado pelo fabricante. Uma
vez que os ensaios reproduzidos em laboratório não permitem simular exatamente as solicitações
dielétricas em serviço, as tensões suportáveis requeridas devem ser convertidas, por meio de um
fator, para as formas de onda cujas tensões suportáveis estipuladas normalizadas são especificadas.

3.1.3 Distâncias no ar para assegurar uma determinada tensão suportável a impul-


sos de uma instalação
3.1.3.1 Generalidades

Em instalações completas, como por exemplo, uma subestação, que não pode ser testada como
um todo, é necessário assegurar que a rigidez dielétrica é suficiente. As tensões suportáveis a
impulsos de manobra e descargas atmosféricas no ar, em condições atmosféricas de referência
normalizadas, devem ser iguais, ou maiores do que as tensões suportáveis a impulsos de mano-
bra e descargas atmosféricas estipuladas especificadas na publicação IEC 60071-1. Seguindo este
princípio, espaçamentos mínimos foram determinados para diferentes configurações de elétrodos.
Estes espaçamentos são determinados com uma abordagem conservativa, tendo em conta a expe-
riência prática.
As tabelas 3.4, 3.5 e 3.6 apresentam espaçamentos mínimos relacionados com as tensões su-
portáveis estipuladas normalizadas e para diferentes configurações dos elétrodos. As tabelas são
adequadas para aplicações comuns, uma vez que promovem espaçamentos mínimos que garantem
o nível de isolamento especificado.
Os espaçamentos podem ser menores se for provado por ensaios, em situações similares, que
as tensões suportáveis a impulsos normalizadas são satisfeitas, tendo em conta todas as condições
ambientais suscetíveis de criar irregularidades na superfície dos elétrodos.
Os espaçamentos podem ainda ser menores quando for confirmado por experiência de opera-
ção que as sobretensões são menores do que o esperado na seleção da tensão suportável estipulada
normalizada, ou a configuração do espaçamento é mais favorável do que o assumido para os espa-
çamentos recomendados.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 39

A tabela 3.4 relaciona as distâncias mínimas no ar com a tensão suportável a impulsos de


descargas atmosféricas estipulada para configurações de elétrodos “ponta-estrutura” e “condutor-
estrutura”, neste caso para a gama II. As distâncias tanto se aplicam a configurações fase-terra
como fase-fase.
A tabela 3.5 relaciona as distâncias mínimas no ar para configurações do tipo “condutor-
estrutura” e “ponta-estrutura” com a tensão suportável fase-terra estipulada contra impulsos de
manobra.
A tabela 3.6 relaciona as distâncias mínimas no ar para configurações de elétrodos “condutor-
condutor” e “ponta-condutor” com a tensão suportável fase-fase estipulada contra impulsos de
manobra. A assimetria da configuração “haste-condutor” é a configuração mais desfavorável en-
contrada em serviço. A configuração “condutor-condutor” cobre todas as configurações simétricas
com formas de elétrodos similares entre duas fases.

3.1.3.2 Gama I

As distâncias no ar para configurações fase-terra e fase-fase são determinadas a partir da tabela


3.4 para tensões suportáveis a impulsos de manobra estipuladas. A tensão suportável estipulada de
curta duração à frequência industrial normalizada pode ser desconsiderada quando a razão entre a
tensão suportável a impulsos de descarga atmosférica estipulada normalizada e a tensão suportável
de curta duração à frequência industrial estipulada normalizada for maior que 1,7.

3.1.3.3 Gama II

Enquanto a tabela 3.4 relaciona as distâncias mínimas com a tensão suportável a impulsos de
descargas atmosféricas, a tabela 3.5 relaciona com a tensão suportável a impulsos de manobra.
As distâncias mínimas para configurações fase-fase é o maior valor das distâncias determinadas
para configurações “ponta-estrutura”, a partir da tabela 3.4 para tensões suportáveis a impulsos de
descargas atmosféricas e a partir da tabela 3.6 para tensões suportáveis a impulsos de manobra.
As distâncias necessárias para suportar a tensão suportável a impulsos de descargas atmosféricas
estipulada normalizada para isolamento longitudinal na gama II pode ser obtida adicionando 0,7
vezes o maior pico de tensão fase-terra do sistema (Us ) ao valor da tensão suportável a impulsos
de descargas atmosféricas estipulada normalizada e dividindo a soma por 500 kV/m.

3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação

3.2.1 Tensões de stress representativas

3.2.1.1 Origem e classificação das tensões de stress

Contínua frequência industrial


Originada pelo sistema sobre condições normais de funcionamento.
40 Documento normativo IEC 60071

Tabela 3.4: Relação entre tensão suportável a impulsos de origem atmosférica normalizada e
distância mínimas no ar [12]
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 41

Tabela 3.5: Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias mí-
nimas fase-terra no ar [12]

Tabela 3.6: Relação entre tensão suportável a impulsos de manobra normalizada e distâncias mí-
nimas fase-fase no ar [12]
42 Documento normativo IEC 60071

Sobretensões temporárias
Podem surgir na sequência de defeitos, manobras como corte de carga, condições de ressonân-
cia, não linearidades, ou pela combinação destas.

Sobretensões de Frente lenta


Podem surgir na sequência de defeitos, operações de manobra ou descargas atmosféricas di-
rectas sobre linhas aereas.

Sobretensões de frente rápida


Podem surgir na sequência de operações de manobra, descargas atmosféricas e defeitos (curto-
circuitos).

Sobretensões de frente muito rápida


Podem surgir na sequência de defeitos ou manobras em subestações isoladas a gás (GIS-gas
insulated switchgear).

Sobretensões combinadas
Podem ter qualquer origem mensionada anteriormente. Ocorrem entre fases (fase-fase) ou na
mesma fase entre partes separadas (longitudinal).

3.2.1.2 Características dos equipamentos de proteção contra sobretensões

Tipos normalizados de equipamentos de proteção contra sobretensões


Os seguintes equipamentos são equipamentos normalizados contra sobretensões:

• Descarregador de sobretensões do tipo resistência não-linear;

• Descarregadores de sobretensões de óxido de zinco;

Explosores também podem ser utilizados, mas não são equipamentos normalizados.
A escolha de dispositivos que não garantem o mesmo tipo de proteção depende do equipa-
mento a proteger, da sua importância, consequência da sua interrupção de serviço, etc.
Os equipamentos de proteção contra sobrtensões devem ser projetados para limitar a magni-
tude das sobretensões aos terminais dos equipamentos que estão a proteger.

Descarregador de sobretensões do tipo resistencia não-linear


As características de proteção a sobretensões de frente rápida dos DST são descritas por:

• Tensão de escorvamento para descargas atmosféricas normalizadas;

• A frente da onda da tensão de escorvamento;

• Tensão residual respetiva à corrente nominal de descarga.

O nivel de proteção contra descarga atmosférica é o maior valor dos seguintes:


3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 43

• Máxima tensão de escorvamento de um impulso do tipo 1,2/50 µs;

• Máxima tensão residual respetiva à corrente de descarga nominal selecionada.

Descarregador de sobretensões de óxido de zinco


A proteção de um descarregador de sobretensões de óxido de zinco a sobretensões de frente
rápida é caracterizada pela:

• Tensão residual da corrente de descarga nominal selecionada;

• Tensão residual do impulso de corrente.

O nivel de proteção contra impulsos de descargas atmosféricas para coordenação de isola-


mento é o máximo valor residual de tensão respetiva à corrente nominal de descarga selecionada.
Quanto a sobretensões de frente lenta, a proteção é caracterizada pela tensão residual relativa
ao impulso de corrente de manobra.
O nivel de proteção contra impulsos de manobra para coordenação de isolamento é o maximo
valor residual de tensão relativo aos impulsos de corrente de manobra especificados.

Explosores (Spark gaps)


Dispositivo que consiste em terminais separados pelo ar, no qual uma descarga ocorre sobre
determinadas condições (sobretensão). Não é utilizado para sistemas cujo Um > 123 kV.
A proteção contra sobretensões caracteriza-se pela característica v − t, da distância entre os
elétrodos, para varias formas de tensão, dispersão da tensão de escorvamento e a sua dependência
da polaridade.

3.2.1.3 Tensões e sobretensões representativas

Tensão permanente à frequência industrial


Sobre condições normais de funcionamento, a tensão à frequência industrial pode variar em
magnitude e diferir de um ponto do sistema para outro. Contudo, para efeitos de coordenação de
isolamento, a tensão permanente à frequência industrial deve considerar-se constante e igual em
todo o sistema. Na prática, até 72,5 kV a tensão mais elevada para o sistema, Us , pode ser menor
que a tensão mais elevada para o equipamento, no entanto, à medida que a tensão do sistema
aumenta estes valores tendem a igualar-se.

Sobretensões temporárias
As sobretensões temporárias caracterizam-se pela sua amplitude, forma de onda e duração.
Tais parâmetros dependem da sua origem, e a amplitude e forma de onda pode variar no seu pe-
ríodo de duração. Para efeitos de coordenação de isolamento, considera-se que a tensão temporária
representativa tem a forma da tensão de curta duração à frequência industrial normalizada. A sua
amplitude pode ser definida por apenas um valor (o máximo assumido), um conjunto de valores
de pico ou uma distribuição estatística de valores de pico. A seleção da amplitude da sobretensão
44 Documento normativo IEC 60071

temporária representativa deve ter em consideração: a amplitude e duração das sobretensões em


serviço; as características de suportabilidade do isolamento considerado.
Em casos particulares, deve ser adotado um método estatístico para descrever a sobretensão
representativa através de uma distribuição de amplitudes/duração da sobretensão expectável em
serviço. Conforme descrito em 3.2.1.1, as sobretensões temporárias podem surgir na sequência
de defeitos, manobras como corte de carga, condições de ressonância, não linearidades, ou pela
combinação destas. Mais informação relativa às origens das sobretensões temporárias pode ser
encontrada na secção 2.3.2 da publicação IEC 60071-2.

Limitação das sobretensões temporárias


Sobretensões resultantes de defeitos à terra dependem dos parâmetros do sistema, e, como tal,
estas sobretensões apenas podem ser controladas selecionando da melhor forma estes parâmetros
durante o projeto do sistema.
As sobretensões resultantes da variação de carga podem ser controladas introduzindo baterias
de condensadores ou compensadores estáticos.
A limitação de sobretensões resultantes de ressonância ou ferro-ressonância podem ser con-
troladas alterando a configuração do sistema ou introduzindo resistências de amortecimento.
Em termos práticos, descarregadores de sobretensões não limitam sobretensões temporárias.
A única exceção é quando se usam estes equipamentos para limitar ou prevenir sobretensões resul-
tantes de efeitos de ressonância. No entanto, a seleção da tensão estipulada de um descarregador
de sobretensões deve considerar as sobretensões temporárias expectáveis uma vez que estas pro-
vocam solicitações térmicas nos demais. Contudo este facto revela-se mais crítico na gama de
tensões II (acima de 245 kV).

Sobretensões de frente lenta


As sobretensões de frente lentas apresentam tempos de frente e de cauda na ordem de dezenas
a milhares de microssegundos, e são oscilatórias por natureza. Normalmente surgem na sequência
de: ligação ou religação de linhas; defeitos ou eliminação destes; deslastre de carga; corte de cor-
rentes capacitivas ou indutivas; descargas atmosféricas diretas sobre as linhas a longas distâncias.
As tensões representativas caracterizam-se pela forma de onda representativa e amplitude re-
presentativa que pode ser um máximo assumido ou uma distribuição de amplitudes.
A forma de onda de tensão representativa é o impulso de manobra (cujo tempo de pico é de
250 µs, e um tempo de meio valor de cauda de 2500 µs). A amplitude considerada é independente
do tempo de pico, no entanto, em alguns sistemas na gama II, se o tempo de pico for muito longo,
então deve considerar-se a sua influência na rigidez dielétrica do isolamento.
A distribuição de probabilidade de sobretensões, numa operação sem descarregadores de so-
bretensões, é caracterizada pelo seu valor de 2%, Ue2 (o valor de 2% é a amplitude de tensão, Ue ,
tal que a probabilidade de aparecimento é de 2%, F(Ue ) = 2%), o desvio, Se e o seu valor trunca-
tura, Uet (o valor de truncatura representa o valor acima do qual se considera que a probabilidade
de aparecimento é 0%). Embora não seja perfeitamente válido, a distribuição de probabilidade
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 45

pode ser aproximada por uma distribuição Gaussiana entre o valor de 50%, Ue50 , e o valor de
truncatura, Uet . Alternativamente, pode ser usada uma distribuição Weibull modificada. Mais
informação pode ser encontrada no anexo C da publicação IEC 60071-2.
O valor máximo assumido da sobretensão representativa é igual ao valor de truncatura das
sobretensões ou igual ao nível de proteção contra impulsos de manobra dos descarregadores de
sobretensões.

Sobretensões de frente rápida


As sobretensões de origem atmosférica, afetando subestações, e a sua frequência dependem:

• da performance das linhas conectadas relativamente a descargas atmosféricas;

• da planta da subestação, tamanho e, em especial, o número de linhas conectadas;

• do valor instantâneo da tensão de operação no momento da descarga.

A severidade de uma descarga atmosférica no equipamento de uma subestação é determinada


a partir da combinação dos três fatores enumerados. Normalmente, a amplitude das sobretensões,
sem equipamentos limitadores das mesmas, é demasiado elevada, de forma que não constitui uma
base para a coordenação de isolamento em subestações. Contudo, em subestações conectadas por
cabos, as sobretensões podem atingir valores relativamente baixos.
Para isolamento fase-fase e longitudinal, o valor instantâneo da tensão à frequência industrial
nos terminais opostos devem ser considerados. Para o isolamento fase-fase pode assumir-se que
o efeito da tensão à frequência industrial e do acoplamento dos condutores das linhas se anulam
e o terminal oposto pode considerar-se ligado à terra. Contudo, para isolamento longitudinal, os
efeitos não se cancelam e a tensão à frequência industrial deve ser considerada.
A ocorrência de sobretensões de descarga atmosférica pode ser limitada através do projeto
apropriado das linhas aéreas. As medidas possíveis a tomar numa fase de projeto para a limitação
da ocorrência deste tipo de sobretensões são:

• para descargas diretas sobre os condutores: proteção apropriada através de cabos de guarda.

• para contornamentos de retorno: redução da resistência de terra das bases das torres de apoio
ou aumento do isolamento.

A utilização de explosores nos apoios junto das subestações, com o objetivo de minimizar a
amplitude das sobretensões à entrada destas, tende a aumentar a probabilidade de contornamentos
o que leva à introdução de sobretensões de frente rápida. Assim, especial atenção deve ser dada
à blindagem e impedâncias de terra das torres de apoio perto das subestações promovendo dessa
forma a redução de contornamentos de retorno.
A severidade das sobretensões de frente rápida que surgem na sequência de operações de
manobra pode ser limitada a partir da seleção adequada do equipamento de manobra.
A proteção assegurada por DST contra sobretensões de frente rápida depende:
46 Documento normativo IEC 60071

• da amplitude e forma da sobretensão;

• das características de proteção do descarregador de sobretensão;

• da amplitude e forma da corrente descarregada através do descarregador de sobretensão;

• da impedância de onda e/ou capacidade do equipamento a proteger;

• da distancia entre o equipamento de proteção e aquele a ser protegido, incluindo as ligações


à terra;

• do número de linhas conectadas e das suas impedâncias de onda.

Para proteção contra sobretensões de descargas atmosféricas, aplicam-se, normalmente, as


seguintes correntes nominais para descarregadores de sobretensões:

• para sistemas com Um na gama I: 5 kA ou 10 kA;

• para sistemas com Um na gama II: 10 kA ou 20 kA.

Quando se espera que corrente através do descarregador de sobretensões seja maior do que a
corrente nominal deve verificar-se que a tensão residual continua a garantir a devida limitação de
sobretensão. As características de proteção de um descarregador de sobretensões só são válidas
no local onde se encontra instalado. A limitação da sobretensão correspondente aos terminais do
equipamento a proteger deve considerar a distância entre este e o descarregador de sobretensões.
Quanto maior for a distância entre ambos, menor a eficiência de proteção. Na realidade, a sobre-
tensão aplicada ao equipamento a proteger aumenta acima do nível de proteção do equipamento
de proteção com o aumento da distância entre eles.
Uma forma simplificada de estimar a sobretensão representativa aos terminais do equipamento
a proteger pode ser realizada a partir da expressão 3.1. Contudo, quando o equipamento a proteger
se trata de um transformador, esta expressão deve ser usada cuidadosamente uma vez que uma
capacidade superior a 100 pico Farads pode resultar em sobretensões mais elevadas.

Urp = Upl + 2ST ;Upl ≥ 2ST (3.1)

Urp = 2Upl ;Upl < 2S (3.2)

Onde
Upl é o nível de proteção do descarregador de sobretensões contra impulsos de descargas
atmosféricas;
S é o declive da sobretensão determinado por: S = 1/(nKco X) (kV/µs), sendo n o número de
linhas conetadas em serviço, Kco é a constante atenuante do efeito de coroa e X é a distância entre
o local de descarga e a subestação;
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 47

T é o tempo de viagem do impulso de descarga atmosférica determinado por:


T = L/c
Onde
c é a velocidade da luz (300 m/ µs);
L = a1 + a2 + a3 + a4 (m) (figura 3.3).

Figura 3.3: Diagrama de ligação de descarregador de sobretensões ao equipamento a proteger [11]

Os valores do declive devem ser selecionados de acordo com a performance a descargas at-
mosféricas das linhas aéreas conectadas à subestação e no risco de falha adotado da mesma. Mais
informação pode ser encontrada no Anexo F da publicação IEC 60071-2.
Na determinação da distribuição probabilística da amplitude das sobretensões de origem at-
mosférica, deve considerar-se a performance das linhas aéreas, o comportamento das ondas viajan-
tes nas linhas aéreas e dentro da subestação e a performance do isolamento e dos descarregadores
de sobretensões.

Sobretensões de frente muito rápida


48 Documento normativo IEC 60071

As sobretensões de frente muito rápida surgem normalmente na sequência de operação de


manobra ou defeitos dentro de subestações isoladas a gás (GIS). A amplitude deste tipo de sobre-
tensões é rapidamente atenuada à saída da subestação. Também podem surgir na média tensão
quando os transformadores são do tipo seco e em que as ligações ao equipamento de manobra são
muito curtas. A forma de onda da sobretensão caracteriza-se por um forte crescimento perto do
seu valor de pico, resultando em tempos de frente abaixo de 0,1 µs. A duração da sobretensão
normalmente não ultrapassa os 3 ms, mas pode ocorrer várias vezes. A sua amplitude depende da
construção do desconector e da configuração da subestação.
Na sequência de defeitos dentro de uma subestação isolada a gás, o equipamento é sujeito
a esforços dielétricos devido às sobretensões. A amplitude e forma destas dependem do tipo de
ligação ao equipamento e da localização onde ocorreu o defeito. A amplitude pode chegar até 1,6
vezes a tensão de contornamento e conter frequências até 20 Mhz dentro da subestação.

3.2.2 Tensão suportável de coordenação


A presente secção foi já previamente abordada nas secções 2.2.4, 2.2.5 e 2.2.6 com base na pre-
sente norma, tendo por objetivo dar a conhecer uma visão geral sobre o tema. Contudo, entende-se
que alguns aspetos devem agora ser devidamente dissecados.

3.2.2.1 Características de rigidez dielétric do isolamento

As características de rigidez dielétrica do isolamento podem ser consultadas em 2.2.4.

Probabilidade de descarga disruptiva do isolamento


Não existe atualmente nenhum método que permita a determinação da probabilidade de des-
carga disruptiva de um isolamento não auto regenerativo. Portanto, assume-se que a probabilidade
de suportabilidade varia entre 0 % e 100 % para o valor que define a tensão suportável.
Para isolamento auto regenerativo, a capacidade de suportar esforços dielétricos causados pela
aplicação de um impulso com uma determinada forma pode ser descrita estatisticamente. Para
um dado isolamento, e para impulsos de uma dada forma e diferentes valores de pico U, uma
probabilidade de disrupção P pode ser associada a cada valor de U, estabelecendo assim a relação
P = P(U). A curva resultante pode ser definida pelos seguintes parâmetros:

• U50 : corresponde ao valor sobre o qual a probabilidade de suportar uma solicitação dielétrica
é de 50 %;

• Z: desvio convencional que representa a variabilidade da tensão de contornamento. Este é


definido como a diferença entre as tensões correspondentes a uma probabilidade de supor-
tabilidade de 50 % e 16 % respetivamente. Z = U50 −U16

• U0 : tensão de truncatura. Define a tensão abaixo da qual não se verificam contornamen-


tos. Normalmente a função P é descrita por uma função matemática que é completamente
descrita pelos parâmetros mencionados.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 49

Na aplicação do método estatístico para coordenação de isolamento para sobretensões de


frente lenta, o uso da distribuição de probabilidade acumulada modificada de Weibull apresenta
vantagens relativamente à distribuição Gaussiana. A equação 3.3 representa a função acumulada
de Weibull com os parâmetros selecionados de forma a coincidir com a função de probabilidade
acumulada Gaussiana nos pontos de 50 % e 16 % de probabilidade de contornamento e de forma
a truncar a função a U50 − NZ.

x γ
P(U) = 1 − 0, 5(1+ N ) (3.3)

Onde
x = (U −U50 )/Z
x sendo o número de desvios convencionais correspondentes a U, e
N sendo o número de desvios convencionais correspondentes à tensão de truncatura U0 para a
qual P(U0 ) = 0.
A distribuição de Weibull proposta pela norma IEC 60071-2 é descrita pela equação 3.4.

x 5
P(U) = 1 − 0, 5(1+ 4 ) (3.4)

Os cálculos estatísticos para determinação da performance em campo devem usar informação


obtida de ensaios laboratoriais ou de campo. Contudo, se esta não for conhecida, os seguintes
valores para o desvio convencional resultantes de uma vasta número de resultados de ensaios são
recomendados para cálculos estatísticos:

• para impulsos de origem atmosférica: Z = 0, 03U50 (kV), e

• para impulsos de manobra: Z = 0, 06U50 (kV).

O parâmetro U10 (obtido a partir da equação 3.3) correspondente a uma probabilidade de su-
portabilidade de 90 %, e é usado para descrever a distribuição de probabilidade de suportabilidade
juntamente com o desvio: U10 = U50 − 1, 3Z

3.2.2.2 Critério de desempenho

O critério de desempenho pode ser consultado em 2.2.5.

3.2.2.3 Procedimento para coordenação de isolamento

A determinação da tensão suportável de coordenação consiste na obtenção do mais baixo valor


de tensão suportável do isolamento cumprindo o critério de desempenho quando sujeito a tensões
representativas sobre condições de serviço.
Existem dois métodos usados para coordenação de isolamento: estatístico e determinístico
(ver secção 2.2.6). No entanto, muitas vezes a conjugação de ambos é aplicada.
50 Documento normativo IEC 60071

Procedimento de coordenação de isolamento para tensão permanente à frequência in-


dustrial e sobretensões temporárias
A tensão suportável para tensão constante à frequência industrial é igual à tensão mais ele-

vada do sistema para isolamento fase-fase e dividida por 3 para isolamento fase-terra, com uma
duração igual ao período de vida.
Com o método determinístico, a tensão suportável de coordenação de curta duração é igual
à sobretensão temporária representativa. Quando o método estatístico é adotado, e a sobretensão
temporária representativa é caracterizada por uma característica amplitude/duração, o isolamento
que cumpre o critério de desempenho deve ser selecionado, e a amplitude da tensão suportável de
coordenação deve ser igual àquela que corresponde à duração de 1 min da característica de tensão
suportável amplitude/ duração do isolamento.
A coordenação de isolamento deve considerar a presença de poluição. A resposta do iso-
lamento externo à frequência industrial perante a presença de poluição é enfraquecida. Contor-
namentos do isolamento normalmente ocorrem quando a superfície está contaminada e se torna
molhada devido a chuva, nevoeiro, orvalho.
Desta forma quatro níveis de poluição são especificados com uma respetiva distância de linha
de fuga mínima. Os níveis de poluição são: ligeiro; médio; forte; muito forte,e as respetivas
linhas de fuga são: 16; 20; 25; 31 mm/kV. A tabela 3.3 apresenta para cada nível de poluição
uma descrição de alguns ambientes correspondentes. Os isoladores devem suportar a tensão mais
elevada do sistema em condições de poluição continuamente com um risco de falha aceitável.
Deve ainda considerar-se que diferentes tipos de isoladores podem acumular diferentes níveis
de poluição perante o mesmo ambiente, assim a severidade da poluição deve ser determinada para
cada tipo de isolador a usar.

Procedimento para coordenação de isolamento para sobretensões de frente lenta


Método determinístico
O método determinístico envolve a determinação da máxima tensão causando esforços dielé-
tricos no equipamento e a seleção da mínima rigidez dielétrica do equipamento com uma margem
que cobre as incertezas inerentes à determinação desses valores. A tensão suportável de coorde-
nação obtém-se multiplicando o valor máximo assumido da sobretensão representativa pelo fator
de coordenação Kcd .
Para equipamento protegido por descarregadores de sobretensões o máximo assumido da so-
bretensão é igual ao nível de proteção contra impulso de manobra do descarregador de sobreten-
sões Ups . No entanto, nesta situação pode verificar-se um forte desvio relativamente à distribuição
estatística das sobretensões. Este desvio será tanto maior quanto mais baixo for o nível de proteção
comparado com as sobretensões de frente lenta expectáveis, de maneira que pequenas variações
na rigidez do isolamento pode ter um grande impacto no risco de falha. Para contrariar este efeito,
propõe-se avaliar o fator de coordenação em função da relação entre o nível de proteção a impul-
sos de manobra dos descarregadores de sobretensões e o valor de 2 % da sobretensão fase-terra
esperada Ue2 . Ver figura 3.4.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 51

Figura 3.4: Fator de coordenação determinístico Kcd [11].

Para equipamento não protegido por descarregadores de sobretensões, a sobretensão máxima


assumida será igual ao valor de truncatura (Uet ou Upt ) e o fator de coordenação determinístico
será igual a 1.

Método estatístico e correspondente risco de falha


O risco de falha fornece a probabilidade de falha do isolamento. Este é expresso em função do
número médio de falhas expectáveis do isolamento provocadas pelas solicitações causadas pelas
sobretensões.
O método estatístico recomendado na presente norma baseia-se nos valores de pico das so-
bretensões. A distribuição de sobretensões fase-terra de uma determinada origem é determinada a
partir das seguintes considerações:

• para cada forma de onda de sobretensão, apenas o maior pico de tensão é considerada;

• a forma de onda do pico de tensão mais elevado é considerada igual à forma de onda do
impulso de manobra;

• os maiores picos de sobretensão são da mesma polaridade.

Uma vez conhecida a distribuição de sobretensões, f (U), e a correspondente probabilidade de


disrupção do isolamento, P(U), o risco de falha do isolamento entre fase e terra é obtido a partir
da equação 3.5.
Z Ut
R= f (U) × P(U)dU (3.5)
U50 −4Z

Onde
52 Documento normativo IEC 60071

f (U) é a densidade de probabilidade de ocorrência de sobretensões descrita por uma função


Gaussiana truncada ou uma função de Weibull;
P(U) é a probabilidade de disrupção do isolamento descrita pela função modificada de Weibull;
Ut é o valor de truncatura da distribuição de probabilidade de sobretensões;
U50 − 4Z é o valor de truncatura da distribuição de probabilidade de disrupção.

Graficamente o risco de falha pode ser observado na figura 3.5.

Figura 3.5: Risco de falha de um isolamento [11].

Se ocorrerem vários picos independentes, o risco total pode ser calculado considerando o risco
de falha para todos os picos. Por exemplo, se uma sobretensão de manobra numa determinada fase
compreende três picos positivos correspondendo a riscos de falha R1 , R2 e R3 , o risco de falha fase-
terra é:

R = 1 − (1 − R1 )(1 − R2 )(1 − R3 ) (3.6)

Se a distribuição de sobretensões é baseada no método phase-peak (no método phase-peak,


por cada manobra são incluídos três maiores picos de tensão, um por cada fase), e se o isolamento
nas três fases é o mesmo, o risco total de falha é:

Rtotal = 1 − (1 − R)3 (3.7)


3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 53

Se for usado o método case-peak (onde, por cada manobra só é escolhido para a distribuição
de sobretensões o maior pico observado nas três fases), o risco total é: Rtotal = R

Método estatístico simplificado para sobretensões de frente lenta


O método estatístico pode ser simplificado se se assumir que as distribuições de sobretensões e
de rigidez de isolamento podem ser definidas por um ponto de cada uma das curvas. A distribuição
de sobretensões é identificada pela sobretensão estatística, que é o valor cuja probabilidade de ser
excedida é de 2 %. A distribuição de rigidez do isolamento é identificada pela tensão suportável
estatística, que é a tensão cuja probabilidade de suportabilidade é de 90 %. E o fator de coordena-
ção estatístico, Kcs , resulta da razão entre a tensão suportável estatística e a sobretensão estatística.
Na figura 3.6 é possível observar exemplos de relação entre o factor de coordenação e o risco de
falha.

Figura 3.6: Risco de falha de isolamento externo em função do fator de coordenação estatístico
Kcs [11].

Procedimento para coordenação de isolamento para sobretensões de frente rápida


Método determinístico
54 Documento normativo IEC 60071

Para sobretensões de frente rápida de origem atmosférica, o fator de coordenação determi-


nístico Kcd = 1 é aplicado ao máximo valor assumido da sobretensão. Isto porque a sobretensão
representativa já considera efeitos probabilísticos. Para sobretensões de frente rápida de origem
em manobras, aplica-se a mesma relação que se aplica para sobretensões de frente lenta.
Método estatístico
O método estatístico é baseado na distribuição de probabilidade das sobretensões de origem
atmosférica representativas. Como a distribuição de frequência de sobretensões é obtida dividindo
a taxa de retorno pelo número total de sobretensões e a densidade de probabilidade f (U) é deri-
vada desse resultado, o risco de falha é calculado pelo mesmo procedimento descrito em 3.2.2.3
para sobretensões de frente lenta. A taxa de cedência do isolamento é igual ao risco de falha
multiplicado pelo numero total de sobretensões de origem atmosférica.
Para isolamento interno a tensão suportável assumida tem uma probabilidade de não cedência
de 100 %. A probabilidade de não cedência a tensões mais elevadas assume-se ser de 0 %. Isto
significa que a tensão suportável de coordenação é igual à amplitude da sobretensão de origem
atmosférica representativa a uma taxa de retorno igual à taxa de falha adotada aceitável.
Para isolamento externo o desvio convencional da probabilidade de descarga é normalmente
pequeno comparado com a dispersão das sobretensões. Como simplificação, isso pode ser des-
considerado e a mesma formula que se aplica para isolamento interno pode ser aplicada.

3.2.3 Tensão suportável requerida

3.2.3.1 Generalidades

A tensão suportável requerida é determinada tendo em conta fatores suscetíveis de reduzir o


isolamento em serviço, para que a tensão suportável de coordenação seja satisfeita no local do
equipamento durante o seu período de vida. Os dois principais fatores de correção aplicados são:

• fatores de correção associados a condições atmosféricas;

• fatores de correção que consideram as diferenças entre as condições de ensaio normalizadas


e aquelas encontradas em serviço (fatores de segurança).

3.2.3.2 Correção atmosférica

Para isolamento interno assume-se que as condições atmosféricas do ar não afetam as propri-
edades de isolamento.
Para isolamento externo as regras para correção atmosférica das tensões suportáveis são base-
adas em medidas de altitudes até 2000 m.

Correção atmosférica para espaçamentos no ar (conforme IEC 60060-1)


A descarga disruptiva do isolamento externo depende das condições atmosféricas. Normal-
mente, a tensão de descarga disruptiva para um dado caminho no ar aumenta com o aumento tanto
da densidade do ar como da humidade. Contudo, quando a humidade relativa ultrapassa os 80 %,
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 55

a tensão de descarga disruptiva torna-se irregular especialmente quando ocorre condensação sobre
a superfície de um isolador.
A tensão de descarga disruptiva é proporcional ao fator de correção atmosférica Kt que resulta
do produto dos fatores de correção de densidade do ar (que depende diretamente da altitude), K1 ,
e humidade, K2 . A discriminação destes fatores pode ser encontrada em [13].

Kt = K1 × K2 (3.8)

Para coordenação de isolamento as seguintes recomendações são aplicadas:

• para espaçamento no ar e isoladores limpos a correção deve ser efetuada para tensões su-
portáveis a impulsos de manobra e de origem atmosférica.

• para a determinação dos fatores de correção atmosférica, deve assumir-se que os efeitos
de temperatura ambiente e humidade tendem a cancelar-se. No entanto, para coordenação
de isolamento, apenas a pressão do ar correspondendo à altitude do local necessita de ser
considerada para isolamentos secos e molhados.

Correção de altitude
O fator de correção pode ser calculado a partir da seguinte equação:

H
Ka = em( 8150 ) (3.9)

Onde
H é a altitude acima do nível do mar;
m =1,0 para tensão suportável de coordenação a impulsos de origem atmosférica;
m de acordo com a figura 3.7 para tensão suportável de coordenação a impulsos de manobra;
m = 1,0 para tensão suportável de curta duração à frequência industrial de distancias no ar e
isoladores limpos.

3.2.3.3 Fatores de segurança

Existem diversos fatores relacionados como o modo de operação que influenciam os isola-
mento elétricos. Estes fatores correspondem às seguintes solicitações causadas durante o funcio-
namento:

• Solicitações térmicas;

• Solicitações elétricas;

• Solicitações ambientais;

• Solicitações mecânicas.

Os fatores a ser aplicados compensam os seguintes aspetos:


56 Documento normativo IEC 60071

Figura 3.7: Expoente m em função da tensão suportável de coordenação a impulsos de manobra


[11].
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 57

• diferenças na montagem do equipamento;

• dispersão de qualidade do produto;

• qualidade da instalação;

• envelhecimento do isolamento durante o seu período de vida;

• outra influencia desconhecidas.

Os pesos destes fatores podem variar entre diferentes equipamentos.

Envelhecimento
O isolamento elétrico de todo o equipamento envelhece durante o serviço devido a uma ou
várias solicitações como: térmicas, elétricas, químicas ou mecânicas.
Para coordenação de isolamento, assume-se que o isolamento externo não está sujeito a enve-
lhecimento, exceto para equipamento contendo materiais orgânicos.
Para isolamento interno, o envelhecimento pode ser significante e deve ser compensado com a
aplicação de um fator de segurança recomendado.

Produção e dispersão na montagem


A tensão suportável especificada é verificada através de ensaios tipo, muitas vezes numa parte
representativa da assemblagem ou através de ensaios apenas para do sistema de isolamento. Como
as condições de serviço podem ser diferentes daquelas utilizadas nos ensaios tipo, a tensão supor-
tável do equipamento pode ser menor do que a especificada.
Para equipamento completamente assemblado em fábrica, a dispersão da tensão suportável
é baixa e pode ser negligenciada. Para equipamento montado no local de instalação, a tensão
suportável pode ser menor que a requerida, e, por isso, deve ser compensada por um fator de
segurança recomendado.

Imprecisão da tensão suportável


Imprecisão na determinação da tensão suportável do equipamento devido à diferença entre a
disposição do equipamento no ensaio relativamente àquela encontrada em serviço, para isolamento
externo, deve ser compensada por um fator de segurança recomendado.
Para isolamento interno para o qual uma probabilidade de não cedência de 100 % é conside-
rada, deve admitir-se a incerteza estatística do ensaio aplicando também um fator de segurança
recomendado.

Fatores recomendados
Se não forem especificados pelos fabricantes, devem aplicar-se os seguintes fatores:

• para isolamento interno KS = 1,15;

• para isolamento externo KS = 1,05.


58 Documento normativo IEC 60071

3.2.4 Tensão suportável normalizada

3.2.4.1 Generalidades

As tensões suportáveis normalizadas, UW , encontram-se tabeladas em IEC 60071-1, tabela


3.1 relativamente à gama I e tabela 3.2 relativamente à gama II. As tabelas apresentam níveis de
isolamento normalizado associados às tensões mais elevadas para o equipamento normalizadas,
Um .
Os níveis de isolamento tabelados em IEC 60071-1 são resultado da experiência obtida em
campo, tendo em conta os modernos dispositivos de proteção e métodos de limitação de sobreten-
são. A seleção de um particular nível de isolamento deve ser baseado no procedimento coordena-
ção de isolamento descrito no presente guia e deve considerar as características de isolamento do
equipamento.

3.2.4.2 Tensão suportável a impulsos de manobra normalizada

As tensões suportáveis a impulsos de manobra normalizadas constantes em IEC 60071-1, ta-


bela 3.2, foram selecionadas com base em:
Para equipamento protegido contra sobretensões de manobra por descarregadores de sobreten-
sões:

• sobretensões temporárias expectáveis;

• características dos descarregadores de sobretensões disponíveis;

• fatores de coordenação e de segurança entre o nível de proteção dos descarregadores de


sobretensões e a tensão suportável a impulsos de manobra do equipamento.

Para equipamento não protegido contra sobretensões de manobra por descarregadores de so-
bretensões:

• risco aceitável de descarga disruptiva considerando a gama provável de sobretensões a atin-


gir o local do equipamento;

• o grau de controlo de sobretensões obtido através de uma cuidada seleção de dispositivos de


manobra e projeto do sistema.

3.2.4.3 Tensão suportável a impulsos de origem atmosférica normalizada

As tensões suportáveis a impulso de origem atmosférica normalizadas associadas a uma de-


terminada tensão suportável a impulso de manobra normalizada, presentes na tabela 3.2, foram
selecionadas com base em:

• para equipamento protegido por descarregadores de sobretensões próximos, os valores mais


baixos do nível de proteção contra impulsos de origem atmosférica são aplicáveis.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 59

• para equipamento não protegido por descarregadores de sobretensões, ou não efetivamente


protegidos, apenas os maiores valores de tensões suportáveis a impulsos de origem atmos-
férica devem ser aplicados.

Na gama I, a tensão suportável de curta duração à frequência industrial normalizada ou a tensão


suportável a impulsos de origem atmosférica devem cobrir as tensões suportáveis requeridas fase-
terra e fase-fase a impulsos de manobra, assim como a tensão suportável requerida longitudinal.
Na gama II, a tensão suportável a impulsos de manobra normalizada deve cobrir a tensão
permanente à frequência industrial, se nenhum valor for especificado pelo fabricante, e a tensão
suportável requerida de curta duração à frequência industrial.
As tensões suportáveis requeridas devem ser convertidas para as formas de onda para as quais
as tensões suportáveis normalizadas são especificadas usando fatores de conversão. Os fatores de
conversão são determinados a partir de resultados existentes e promovem valores conservativos
para as tensões suportáveis especificadas.

3.2.4.4 Fatores de conversão de teste

Gama I
Os fatores apresentados na tabela 3.7 devem ser usados no caso de estes não estarem disponí-
veis, ou fornecidos pelo fabricante. Estes fatores são aplicados às tensões suportáveis requeridas
a impulsos de manobra.

Tabela 3.7: Fatores de conversão para a gama I, para converter tensões suportáveis requeridas a
impulsos de manobra em tensões suportáveis de curta duração à frequência industrial e a impulsos
de origem atmosférica [11].

Gama II
Na gama II aplicam-se os fatores indicados na tabela 3.8 de forma a converter as tensões su-
portáveis de curta duração à frequência industrial em tensões suportáveis a impulsos de manobra.
60 Documento normativo IEC 60071

Tabela 3.8: Fatores de conversão para a gama II, para converter tensões suportáveis requeridas de
curta duração à frequência industrial em tensões suportáveis a impulsos de manobra [11].

3.2.4.5 Determinação da suportabilidade do isolamento

A rigidez dielétrica do isolamento é verificada através de ensaios/testes. O tipo de ensaio a


que um equipamento é sujeito depende da natureza do seu isolamento, isto é, se é do tipo auto-
regenerativo ou não auto-regenerativo.

Isolamento não auto-regenerativo


Neste tipo de isolamento uma descarga disruptiva causaria danos irreversíveis. Mesmo que
esta não ocorresse, devido à aplicação de uma tensão demasiado elevada, as propriedades dielétri-
cas do isolamento poderiam sair enfraquecidas. Desta forma, o isolamento não auto-regenerativo
é testado com um número limitado de tensões de teste normalizadas, através da aplicação de três
impulsos de cada polaridade. O teste é bem-sucedido se não se verificarem descargas disruptivas,
e considera-se que a sua tensão suportável estipulada é igual à tensão de teste aplicada. Algum
equipamento contendo os dois tipos de isolamento é considerado, para efeitos de testes de ten-
são suportável, como sendo não auto-regenerativo se o ensaio produzir danos significativos no
isolamento não auto-regenerativo.

Isolamento auto-regenerativo
No isolamento auto-regenerativo é possível aplicar um largo número de tensões de teste sem
que este seja danificado, permitindo assim criar informação estatística para a suportabilidade do
isolamento.

Isolamento misto
Para equipamento usando os dois tipos de isolamento em que não é possível testar o isolamento
separadamente deve haver um compromisso no método de teste, de forma a efetuar os testes
necessários ao isolamento auto-regenerativo não danificando o isolamento não auto-regenerativo.
3.2 IEC 60071-2: Guia de aplicação 61

3.2.5 Considerações especiais para subestações

3.2.5.1 Generalidades

As solicitações dielétricas aos quais uma subestação está sujeita são:

Tensão de operação
Assume-se igual à tensão mais elevada do sistema, e todas as partes da subestação estão sujei-
tas a ela.

Sobretensões temporárias
Defeitos à terra à saída do transformador (load side) afeta de igual modo todas as partes de uma
fase. Sobretensões devido ao deslastre de carga podem surgir numa subestação principalmente se
este ocorrer numa subestação distante. Dependendo do esquema de proteção, todas as partes entre
o seccionador de saída e o transformador podem ser afetadas, como apenas algumas delas. Se o
deslastre de carga ocorrer na própria subestação, apenas as partes entre o seccionador à saída do
transformador e o próprio transformador são afetadas. Esforços dielétricos longitudinais podem
ocorrer no seccionador cb1 durante a sincronização com a rede, se o transformador estiver ligado
a um gerador.

Sobretensões de frente lenta


As sobretensões com origem na ligação ou religação de uma linha podem atingir elevadas
amplitudes na receção de linha de uma subestação, apenas entre a entrada da linha e o seccio-
nador cb2. As restantes partes estão sujeitas às sobretensões da extremidade de transmissão. As
sobretensões resultantes de curto circuitos e eliminação destes podem afetar todas as partes da
subestação.

Sobretensões de frente rápida


Sobretensões devido a descargas atmosféricas podem surgir em todas as partes da subesta-
ção, contudo, com diferentes amplitudes dependendo da distancia a que essa parte se encontra do
descarregador de sobretensões. Sobretensões originadas por manobras ocorrem apenas na parte
seccionada da subestação ou num dos dispositivos de seccionamento, quando estes são secciona-
dos por um dos conectores do barramento.

3.2.5.2 Coordenação de isolamento para subestações

Subestações em rede de distribuição Um até 36 kV na gama I


Para equipamento nesta gama de tensões, a parte 1 da IEC 60071 especifica as tensões supor-
táveis de curta duração à frequência industrial e a impulsos de descargas atmosféricas.

Subestações em sistemas de transmissão com Um entre 52,5 kV e 245 kV na gama I


62 Documento normativo IEC 60071

Para equipamento nesta gama de tensões, IEC 60071-1 especifica tensões suportáveis de
curta duração à frequência industrial e a impulsos de descargas atmosféricas normalizadas. Pode
considerar-se que, na gama de tensões I, a tensão suportável a impulsos de manobra requerida
fase-terra é coberta pela tensão suportável de curta duração à frequência industrial normalizada.
As tensões suportáveis a impulsos de manobra requeridas fase-fase devem, contudo, ser considera-
das na seleção da tensão suportável a impulsos de descargas atmosféricas ou da tensão suportável
de curta duração à frequência industrial normalizada para equipamento à entrada da subestação.
Para a seleção da tensão suportável a impulsos de origem atmosférica, muitas considerações toma-
das para subestações de distribuição se aplicam às subestações de transmissão na gama I. Contudo,
à medida que o equipamento e os locais não são favoráveis, é recomendado que o procedimento
para coordenação de isolamento seja realizado para uma série de combinações subestação-linha
aérea usando o modelo simplificado descrito no anexo F presente em IEC 60071-2.

Subestações em sistemas de transmissão na gama de tensões II


Para equipamento nesta gama de tensões, IEC 60071-1 especifica tensões suportáveis a impul-
sos de manobra e descargas atmosféricas normalizadas. Nesta gama de valores, o uso do método
estatístico da coordenação de isolamento deve geralmente ser aplicado. A frequência de sobre-
tensões de manobra e de descargas atmosféricas ocorrerem em simultâneo deve ser analisada cui-
dadosamente considerando a localização do equipamento na subestação, por exemplo: distinção
entre o equipamento na extremidade emissora e recetora da linha de transmissão. A coordenação
de isolamento realizada a partir do método determinístico é baseada nas sobretensões temporá-
rias pode resultar em tensões suportáveis demasiado conservativas e portanto, procedimentos mais
precisos devem ser aplicados, que tem em conta a duração da sobretensão e a característica de
suportabilidade v − t à frequência industrial do isolamento.
Capítulo 4

Guia de Coordenação de Isolamento


aplicado às subestações e análise
comparativa com IEC 60071

Neste capítulo é efetuada uma revisão do Guia de Coordenação de Isolamento [3], orientado
para as subestações, seguido pela REN. Esta secção do Guia de Coordenação de Isolamento es-
tabelece princípios gerais sobre a coordenação de isolamento em subestações, assim como os
níveis de isolamento adotados para os diversos equipamentos que constituem estas instalações.
São também abordados os meios de proteção dos dispositivos. Por fim, será ainda efectuada uma
análise comparativa entre este documento e o documento normativo IEC. Esta comparação tem
como objetivo a deteção de diferenças entre estes para aplicação de eventuais alterações ao Guia
de Coordenação de Isolamento, com vista a uma redução de custos e melhoria de qualidade de
serviço.

4.1 Princípios gerais

Numa subestação podem encontrar-se diversos tipos de isolamento, nomeadamente:

• Distâncias no ar;

• Colunas e cadeias de isoladores;

• Isolamentos internos e mistos.

Relativamente a subestações blindadas (GIS), estas constituem solução para locais com forte
poluição, ou em que o espaço seja muito caro. Contudo, os critérios a aplicar são idênticos aos
utilizáveis para isolamento interno. Convém salientar que uma falha no isolamento destas su-
bestações é comparativamente mais grave que nas convencionais (exterior com aparelhagem de
isolamento no ar).

63
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
64 60071

A importância do equipamento e os ganhos económicos resultantes da redução de isolamento


causa condicionalismos importantes à coordenação de isolamento.
O transformador é o elemento vital e mais caro pelo que requer uma proteção eficaz e maior
sensibilidade na redução dos níveis de isolamento (interno).
Um aspeto a ter em conta é o impacto da falha de isolamento sobre a exploração da rede. Para
além da componente económica, isto é, o custo do equipamento, tempo necessário para reparação,
a continuidade de serviço é uma componente importante.
Posto isto, e de forma a conter a diferentes níveis de isolamento no mesmo escalão de tensão,
apresentam-se os seguintes critérios:

• A proteção do equipamento contra sobretensões atmosféricas deve ser assegurada por DST’s.
Estes devem garantir proteção total do transformador;

• O equipamento mais exposto, por exemplo painéis de linha, devem ser protegidos por ex-
plosores colocados nas cadeias linhas ao pórtico de entrada.

• Os pontos anteriores estabelecem proteção contra descargas atmosféricas diretas, bem como
uma probabilidade baixa de contornamentos de retorno próximo da subestação. Consideram-
se improváveis contornamentos para aquém do 5o apoio, pelo que a resistência de terra
destes apoios não deve exceder os 15 Ohm.

• Recomenda-se escalonar de um degrau os níveis de isolamento entre o transformador de


potência e o restante equipamento, devido à diferente exposição a solicitações dielétricas.

• Uma seleção ajustada do disjuntor permite manter as sobretensões internas, provocadas pelo
corte de correntes indutivas, linhas ou cabos em vazio, razoavelmente reduzidas.

• O equipamento deve suportar, com um risco mínimo de contornamento, as sobretensões de


manobra. A proteção pode ser efetuada pela instalação de TT’s do tipo indutivo, efetuando
descargas através destes.

• Sobretensões temporárias podem ser limitadas através da gestão das condições de ligação
à terra (politica de neutros), da resposta em regime transitório dos grupos geradores, da
existência ou não de compensação de reativa, da topologia da rede e regime de exploração,
etc.

• Uma limitação à redução dos níveis de isolamento é a tensão à frequência industrial. As


razões são: os problemas de envelhecimento do isolamento interno, as dilatações que afetam
as distâncias no ar, as oscilações devidas ao vento e razões de segurança e poluição que afeta
os isoladores.

• A proteção de equipamento do tipo baterias de condensadores e cabos de potência contra


sobretensões atmosféricas é assegurada por DST, a não ser que a proteção aplicada aos
transformadores seja suficiente.
4.2 Distâncias no ar 65

Através de ensaios de rotina ou de tipo devem ser comprovadas as tensões suportáveis, segundo
a garantia do fabricante. As tensões suportáveis deverão ser maiores ou, no mínimo, iguais aos
níveis de isolamento especificados.

4.2 Distâncias no ar
As distâncias no ar, designadas por distâncias de isolamento, entre partes condutoras não iso-
ladas devem ser garantidas de forma a assegurar as tensões suportáveis fase-terra e fase-fase não
inferiores aos níveis de isolamento selecionados. Os níveis de isolamento são selecionados, con-
forme o nível de tensão mais elevada para o equipamento, a partir das tabelas 4.1 e4.2.

Tabela 4.1: Níveis de isolamento interno para transformadoresde potência [3]

Tabela 4.2: Níveis de isolamento externo [3]

As distâncias no ar devem incluir, para além das distâncias de isolamento, distâncias de se-
gurança que permitam a circulação de pessoas e veículos, possibilidade de execução de trabalhos
num painel, mantendo os restantes componentes em serviço.
Os principais tipos de distâncias de isolamento fase-terra podem agrupar-se por:
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
66 60071

• Condutores-pórticos (tipo de condutor-estrutura);

• “Partes em tensão do equipamento”-pórtico (situa-se entre condutor-estrutura e ponta-estrutura);

• Condutores-solo.

Quanto a distâncias de isolamento fase-fase, estas podem agrupar-se por:

• Condutor-condutor;

• Condutores - “partes em tensão de equipamento”;

• Intervalo entre polos de equipamento (ponta-ponta).

Na tabela 4.3 indicam-se os valores recomendados para as distâncias de isolamento.

Tabela 4.3: Distâncias de isolamento [3]

Os valores de distância de isolamento fase-fase correspondem a margens na ordem de 15 %


relativas às fase-terra.
As distâncias de isolamento são valores mínimos, de maneira que devem ainda considerar-se
distâncias de segurança. Para além disso, a redução dessas distâncias aumenta o risco de disrupção.
Contudo, uma redução é possível, sendo que isso pode tornar necessário a instalação de DST na
entrada das linhas, entre fase-terra e mesmo entre fases.
As distâncias de isolamento não se aplicam àquelas entre partes em tensão e à massa do equi-
pamento, uma vez que essa segurança é responsabilidade do fabricante. Em alguns equipamentos
podem subsistir dúvidas relativamente ao isolamento fase-fase, que pode apresentar dificuldade
de comprovação em ensaio e devem comportar margens de segurança relativamente a alterações
climáticas. Um exemplo são as travessias dos transformadores de potência nos escalões mais ele-
vados de tensão, e que exige, normalmente, jogar com as inclinações de maneira a obter distâncias
aceitáveis. Na tabela 4.4 indicam-se distâncias mínimas a partir das partes metálicas das travessias
dos transformadores de potência. Para o restante equipamento o respeito pelos valores fase-fase
indicados na tabela 4.3 é suficiente, a não ser que o fabricante indique valores superiores, nesse
caso devem ser esses os adotados.
4.3 Colunas e cadeias de isoladores 67

Tabela 4.4: Distâncias de isolamento mínimas para travessias dos transformadores de potência [3]

As distâncias indicadas na tabela 4.4 correspondem sensivelmente aos menores valores indi-
cados na norma IEC 60071-2 (fase-terra). Os valores fase-fase correspondem a um acréscimo de
15 % relativamente aos fase-terra.
Para travessias entre escalões diferentes de tensão utilizam-se os valores relativos ao escalão
mais elevado.

4.3 Colunas e cadeias de isoladores


Colunas de isoladores (suporte dos barramentos) e as cadeias isoladores (amarração de liga-
ções tendidas), constituem o suporte mecânico dos intervalos de isolamento no ar entre tubos,
cabos condutores e estruturas ligadas à terra.
Para colunas e cadeias de isoladores é importante o nível de isolamento a choque atmosférico,
que afeta a altura das colunas e distância entre acessórios de guarda da cadeia, mas é crucial
o comportamento em atmosfera poluída e à frequência industrial sob chuva ou sobretensão de
manobra sob chuva.
A tabela 4.5 apresenta tensões suportáveis mínimas, de acordo com a tabela 4.2, e altura
nominal para suportes isolantes cilíndricos com armaduras externas.

Tabela 4.5: Níveis de isolamento para cadeias e colunas de isoladores [3]

As tensões suportáveis para as cadeias de isoladores devem seguir requisitos semelhantes aos
da tabela 4.5. Apesar da possibilidade reduzida de descargas diretas sobre equipamentos das
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
68 60071

subestações, recomenda-se a utilização dos valores mais elevados de distância entre dispositivos
de proteção previstos na tabela 4.6.

Tabela 4.6: Gama de distâncias entre dispositivos de guarda [3]

A seleção das características dos isoladores tem por base o comportamento, sob a frequência
industrial, à poluição natural. A tabela 4.7 apresenta valores mínimos de linha de fuga e salinidade
suportável esperada de acordo com o nível de poluição do local.

Tabela 4.7: Níveis de poluição [3]

Para equipamento das subestações da rede RNT o nível de poluição ligeira é desprezado, por
uma questão de segurança e intermutabilidade com outras instalações. Uma vez que o comporta-
mento à poluição depende de vários fatores como: diâmetro médio, distâncias entre saias, perfil,
etc., uma forma mais rigorosa de seleção de isoladores será a partir de ensaios de poluição artificial
em vez de uma mera indicação de linha de fuga. A tabela 4.8 estabelece distâncias mínimas entre
saias, projeção mínima das saias e fator de linhas de fuga máxima conforme os níveis de poluição.
É importante que o fator de linha de fuga não tome valores muito elevados, isso significaria
uma aproximação das saias o que poderia levar a curto-circuitos através da chuva entre as saias.
Os valores indicados na tabela 4.5 para as alturas dos isolantes cilíndricos podem não ser
suficientes para níveis de tensão de 245 kV em ambientes de poluição muito forte, e para os 420
kV em ambientes de poluição forte e muito forte, pelo que pode surgir a necessidade de recurso a
colunas mais altas (para um fator de fuga máximo de 3,5 e uma linha de arco de 83 % da altura da
coluna).
O fator de linha de fuga define-se pelo quociente entre a linha de fuga total, que é o caminho
sobre a superfície do isolador, e a linha de arco no ar, que corresponde à menor distância entre as
partes metálicas dos isoladores.
4.4 Aparelhagem de corte e manobra 69

Tabela 4.8: Regras relativas à qualidade da linha de fuga dos isoladores [3]

4.4 Aparelhagem de corte e manobra

As tensões suportáveis mínimas para seccionadores e disjuntores são apresentadas na tabela


4.9.

Tabela 4.9: Tensões suportáveis mínimas para seccionadores e disjuntores [3]

Os valores entre parêntesis referem-se a seccionadores. Os disjuntores devem respeitar estes


valores, ou no mínimo os relativos ao isolamento fase-terra (abaixo dos 420 kV). Nos 420 kV o
segundo valor corresponde ao valor de pico a 50 Hz aplicado ao terminal oposto àquele a que é
aplicado o choque.
Relativamente ao comportamento à poluição, é aplicável o previsto para as colunas e cadeias
de isoladores.
Para o isolamento entrada saída dos disjuntores deve considerar-se no mínimo a linha de fuga
específica indicada na tabela 4.7. Durante a abertura do disjuntor, ou quando este já se encontra-
aberto, a solicitação entrada-saída pode ser maior que a fase-terra, o que levanta algumas preocu-
pações particularmente nos disjuntores com uma só camara de corte.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
70 60071

Para isolamento fase-fase, desde que a distância entre polos seja tal que a probabilidade de
disrupção fase-fase seja praticamente nula, é dispensável qualquer verificação.

4.5 Transformadores de medição e condensadores de acoplamento


Os níveis de isolamento nominais para este equipamento são apresentados na tabela 4.10.

Tabela 4.10: Níveis de isolamento nominais para transformadores de medição e condensadores de


acoplamento [3]

Os transformadores de medição e condensadores de acoplamento podem considerar-se, em


parte, protegidos pelos explosores das cadeias de amarração. Em especial aquando do seccionador
de linha aberto. Relativamente ao comportamento sob poluição aplica-se o disposto anteriormente.

4.6 Transformadores de potência


A proteção eficaz dos transformadores de potência através da utilização de DST permite a
utilização de tensões suportáveis (isolamento interno) mais baixas.
Nas tabelas 4.11 e 4.12 são apresentadas tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de
transformadores de potência protegidos por DST.

Tabela 4.11: Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência pro-
tegidos por DST [3]
4.6 Transformadores de potência 71

Tabela 4.12: Tensões suportáveis mínimas para enrolamentos de transformadores de potência pro-
tegidos por DST [3]

A tensão suportável à frequência industrial para o neutro de transformadores, em sistemas em


que este é ligado diretamente à terra, o menor valor é de 38 kV, desde que exista no mínimo um
enrolamento em triângulo.
Transformadores com neutro levantado em rede de neutro à terra, ou que não disponham de
nenhum enrolamento em triângulo, recomenda-se uma redução do nível de isolamento, 72,5; 123;
170 kV para as tensões mais elevadas de 170; 245 e 420 kV respetivamente.
Na tabela 4.13 apresentam-se tensões suportáveis mínimas para travessias do lado linha e
neutro. As distâncias de isolamento mínimas aplicáveis são apresentadas na tabela 4.4. Para
funcionamento sob poluição aplica-se o disposto para colunas e cadeias de isoladores.

Tabela 4.13: Tensões suportáveis mínimas para travessias do lado linha e neutro [3]

Para tensões mais elevadas para o equipamento, Um , inferiores a 72,5 kV podem considerar-
se valores comuns entre os enrolamentos e as travessias, assim como para transformadores com
possibilidade de funcionar com neutro levantado.
Para enrolamento terciários e de baixa tensão, reconhece-se ser boa prática a seleção de um
nível acima do recomendado em IEC 60071-1. A prática utilizada pretende evitar o uso de DST,
ou outros dispositivos nestes enrolamentos.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
72 60071

4.7 Baterias de condensadores

Para o nível de isolamento (interno não autorregenerativo e externo) das baterias de condensa-
dores deve considerar-se o seguinte:

• Que o isolamento à terra e entre fases deve estar em conformidade com o nível de isolamento
do restante equipamento do mesmo nível de tensão.

• O nível de isolamento dos condensadores (individuais), entre terminais e invólucro, deve


ser conforme o número de conjuntos de condensadores em paralelo, instalados em série na
mesma prateleira e relativamente ao ponto de definição do potencial da prateleira.

• O isolamento parcial ou total por fase da bateria de condensadores deve garantir pelo menos
o isolamento correspondente ao número de conjuntos em série que define a tensão aplicada
aquele isolamento.

4.8 Cabos isolados de alta tensão

A seleção das tensões estipuladas deve considerar o tipo de isolamento, o tipo de exploração
prevista no que diz respeito ao regime de neutro e duração dos defeitos à terra. Definem-se assim
três categorias:

• A, defeito à terra duram menos de 1 min;

• B, admite-se um funcionamento, eventual, com uma fase à terra com duração inferior a 1h;

• C, casos não considerados nas categorias anteriores.

Categoria A destina-se a redes com neutro à terra equipadas com proteções rápidas. Os valores
de Um para os cabos devem ser iguais à tensão mais elevada da rede, e os valores de Uo (tensão
estipulada entre condutor e blindagem à frequência industrial) e U (tensão estipulada à frequência
industrial entre quaisquer condutores) são apresentados na tabela 4.14. Para a tensão suportável
ao choque atmosférico recomendam-se os valores da tabela 4.2.

Tabela 4.14: Tensões estipuladas recomendáveis para cabos de energia [3]


4.9 Proteção dos equipamentos contra sobretensões 73

As restantes categorias aplicam-se a redes de neutro isolado (Um < 36 kV). A seleção dos
valores estipulados deve respeitar o previsto pela norma ou pelo fabricante.
Para cabos ligados aos enrolamentos terciários recomenda-se a seleção de valores conforme
os escolhidos para o isolamento dos enrolamentos.
Quanto a proteção por DST depende da existência ou não de penetração direta de sobretensões
atmosféricas.

4.9 Proteção dos equipamentos contra sobretensões


4.9.1 Proteção do painel de linha
A proteção prevista baseia-se na utilização de explosores nas cadeias de amarração das linhas
ao pórtico de entrada. Esta proteção torna-se importante principalmente quando o disjuntor ou
seccionador de linha se encontra aberto, uma vez que a proteção por DST não está disponível.
Na tabela 4.15 apresentam-se as distâncias entre pontas de explosores a colocar nas cadeias de
amarração de linhas, de forma a garantir uma margem satisfatória a ondas de choque atmosférico.

Tabela 4.15: Distâncias entre pontas de explosores [3]

Para explosores de varão de aço, que apresentam maior resistência mecânica e maior tempe-
ratura admissível, recomenda-se que:

• A secção seja escolhida com base na densidade de corrente de cc de 75 A/mm2, que corres-
ponde a 20 mm para 20 kA e 25 mm para 40 kA;

• Os elétrodos sejam instalados no plano vertical, e a uma distância aos isoladores não inferior
ao diâmetro destes e >= a 250 mm;

• Nos 400 kV, do lado em tensão recomenda-se maior diâmetro de forma a evitar o efeito de
coroa. O valor recomendado é de 45 mm;

• A terminação das extremidades dos elétrodos sejam encurvadas ou esféricas.

4.9.2 Proteção dos transformadores de potência


Os enrolamentos sujeitos a sobretensões devem ser protegidos por meio de DST, garantindo
também proteção adicional ao restante equipamento.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
74 60071

Nas tabelas 4.16 ("lado linha") e 4.17 ("lado neutro") apresentam-se características básicas
de DST recomendadas. As margens de proteção são superiores 1,5 desprezando-se as distâncias
DST/transformador, e não inferior a 1,2 para limites de distâncias indicados nas tabelas 4.16 e
4.17.
Os valores de linha de fuga são estabelecidos a partir da tensão mais elevada, e considerando
2 e 2,5 cm/kV para poluição ligeira/média e forte.
A sobretensão temporária de neutro (Uo ) mais elevada ocorre para defeito monofásico, para
uma rede com neutro efetivamente à terra, pode assumir-se 40% de Um . Os valores indicados na ta-
bela 4.17 respeitam este valor, sendo que a tensão estipulada é ligeiramente superior, aproximando-
se do critério de neutro isolado. Nos autotransformadores o neutro é comum aos enrolamentos,
pelo que se deve considerar Um da parte de tensão mais elevada.

Tabela 4.16: características básicas de DST para o "lado linha"[3]

4.9.3 Proteção de baterias de condensadores

Os painéis de baterias de condensadores podem ser protegidos por DST, uma vez que se trata
de um equipamento de grande importância, mas a sua proteção pode ser desnecessária, uma vez
que as solicitações recaem principalmente sobre os isoladores de suporte e não sobre os conden-
sadores em si.
No caso de se optar por proteger os painéis de baterias, recomendam-se DST com caracterís-
ticas indicadas na tabela 4.16.
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento normativo
IEC 60071 75

Tabela 4.17: características básicas de DST para o "lado neutro"[3]

4.9.4 Proteção de cabos isolados de alta tensão

Se se preverem penetrações importantes de sobretensões atmosféricas, os cabos isolados de


alta tensão devem ser protegidos por DST. Estes devem respeitar os critérios apresentados na tabela
4.16. A colocação destes equipamentos na junção linha-cabo é uma boa opção visto que oferece
uma melhor proteção para descargas próximas. A ausência de proteção justifica-se quando o cabo
é suficientemente comprido, de forma que as reflexões tenham pouca influência no crescimento da
amplitude.

4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isola-


mento e documento normativo IEC 60071

4.10.1 Níveis de isolamento

Comparando as tabelas 4.1 e 4.2 com as tabelas 3.1 e 3.2, verifica-se que as primeiras estão
de acordo com os níveis de isolamento apresentados na publicação IEC 60071-1, apresentando
os níveis de isolamento externo um degrau acima daquele considerado para o isolamento interno,
conforme se pode comprovar pelas tabelas 3.1 e 3.2. Verifica-se ainda que são adotados os níveis
de isolamento mais elevados presentes no documento normativo, para o isolamento externo. A
exceção observa-se para Um = 245kV . Aqui adotou-se o nível imediatamente abaixo do máximo
indicado pela IEC.
Para Um = 72, 5kV a norma específica apenas um nível de isolamento, pelo que este é o nível
adotado pelo Guia de Coordenação de Isolamento.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
76 60071

Para Um = 170kV e Um = 420kV são adotados os níveis de isolamento mais elevados presentes
na norma, sendo que para isolamento interno o nível de isolamento se situa um patamar abaixo
daquele considerado para o exterior.
Para Um = 245kV é adotado o segundo valor mais elevado para o isolamento externo e o
imediatamente anterior para isolamento interno.
Uma vez que não é seguido um algoritmo de coordenação de isolamento que leva à seleção
dos níveis de isolamento conforme as tensões representativas expectáveis, os níveis de isolamento
especificados em função da “tensão mais elevada para o equipamento” (Um ) podem resultar em
valores superiores, e eventualmente inferiores, ao necessário. Veja-se por exemplo no caso em que
Um = 245kV , onde o nível de isolamento especificado no Guia de Coordenação de Isolamento é
inferior ao máximo apresentado na norma. Contudo, esta metodologia de seleção dos níveis de
isolamento mais elevados pode levar uma maior fiabilidade da subestação, uma vez que quanto
maior o nível de isolamento, maior será a probabilidade de o equipamento suportar uma sobreten-
são. Desta forma reduz-se o número de falhas ou a gravidade dos danos causados. Por outro lado
pode resultar numa seleção de isolamento superior ao necessário resultando em custos acrescidos
desnecessários.

4.10.2 Distâncias de isolamento no ar


Relativamente às distâncias de isolamento no ar, verifica-se a adoção de distâncias superi-
ores às aconselhadas pela norma, especialmente no isolamento fase-fase. Por exemplo, para
Um = 170kV , cuja tensão suportável ao choque atmosférico adotado pelo Guia de Coordenação de
Isolamento, para isolamento externo, é de 750 kV. Aqui, as distâncias de isolamento adotadas são
153 cm e 176 cm, para isolamento fase-terra e fase-fase respetivamente. No entanto as propostas
da norma são, tanto para fase-terra como para fase-fase, de 150 cm. Todavia, se o nível de iso-
lamento ao choque atmosférico relativa a Um = 170kV fosse de 650 kV, a distância recomendada
pela norma seria de 130 cm, tanto para fase-fase como para fase-terra. Neste caso, como o Guia
de Coordenação de Isolamento especifica apenas um nível de isolamento por cada valor de Um , a
disparidade seria ainda maior.
Para Um = 245kV , onde nível de isolamento ao choque atmosférico indicado pelo Guia de
Coordenação de Isolamento é de 950 kV, as distâncias de isolamento no ar indicadas são de 210
cm e 240 cm para isolamento fase-terra e fase-fase respetivamente, enquanto o valor indicado pela
norma para este nível de isolamento é de 190 cm, para isolamento fase-terra e fase-fase. Para
Um = 420kV também se verificam distâncias adotadas superiores às recomendadas pela norma.
Neste caso, o Guia de Coordenação de Isolamento especifica um nível de isolamento a choque de
manobra de 1050 kV (fase-terra) e 1575 kV (fase-fase), o que faz com que os valores de distâncias
indicadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento sejam apenas ligeiramente superiores àqueles
indicados pela norma, contudo, se o nível de isolamento suficiente fosse dos escalões anteriores
(mais baixos), então as margens seriam bastante mais elevadas.
Nas tabelas 4.18, 4.19 e 4.20 é possível comprovar as diferenças entre os valores adotados
entre o Guia de Coordenação de Isolamento e o documento normativo IEC. As linhas sobreadas
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento normativo
IEC 60071 77

representam os níveis de isolamento normalizado adotado pelo Guia de Coordenação de Isola-


mento. Os restantes são níveis normalizados indicados pela IEC.

Tabela 4.18: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama I [3]

Tabela 4.19: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II fase-
terra [3]

4.10.3 Colunas e cadeias de isoladores

Um dos aspetos de elevada importância na seleção das colunas e cadeias de isoladores é o com-
portamento destas perante a presença de poluição ambiental sobre tensão permanente à frequência
industrial e sobretensões temporárias. O Guia de Coordenação de Isolamento tem este facto em
conta, especificando, conforme a norma, linhas de fuga específicas em função do nível de poluição
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
78 60071

Tabela 4.20: Distâncias adotadas pelo Guia de Coordenação de Isolamento vs IEC, gama II fase-
fase [3]

considerado. Contudo, desconsidera o nível de poluição “ligeira” por uma questão de segurança,
ou seja, o nível mais baixo aplicável a subestações é o “médio”, cuja linha de fuga é de 2,0 cm/kV.
As tensões suportáveis estão de acordo com a tabela 4.2 para isolamento exterior, que por sua
vez são valores normalizados. Juntamente com as tensões suportáveis são apresentadas alturas no-
minais para suportes isolantes cilíndricos cerâmicos com armaduras metálicas externas. Contudo,
estas alturas nominais podem revelar-se insuficientes relativamente à linha de fugas específica,
especialmente para tensões mais elevadas de 245 kV e 420 kV.
Considerando uma linha de arco de 83 % da altura e considerando um fator de linha de fuga
igual a 3,5, obter-se-iam linhas de fugas especificas de: 3,1; 2,9; 2,5; 2,2 cm/kV relativamente
às tensões mais elevadas de 72,5; 170; 245 e 420 kV respetivamente. Desta forma, nos escalões
de 170 kV e 245 kV não seriam garantidas as linhas de fuga específicas mínimas para o nível
de poluição “muito forte”, e no escalão de 420 kV não seriam garantidos os níveis mínimos para
os níveis “forte” e “muito forte”. Portanto, conforme o nível de poluição do local, pode existir
a necessidade de seleção de colunas com altura nominal superior àquelas apresentadas na tabela
4.5. Relativamente aos restantes escalões de tensão, em princípio estes problemas não se manifes-
tarão, visto que as alturas nominais indicadas representam linhas de fugas específicas superiores
as mínimas aconselhadas.

4.10.4 Aparelhagem de corte e manobra

As tensões suportáveis mínimas para aparelhagem de corte e manobra (disjuntores e seccio-


nadores) está de acordo com a publicação IEC 60694, e que de resto está conforme os valores
apresentados para isolamento externo, relativamente a isolamento fase-terra. No que diz respeito
a isolamento longitudinal (entrada-saída) verifica-se uma margem, relativamente a fase-terra, de
cerca de 15 %.
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento normativo
IEC 60071 79

4.10.5 Transformadores de potência

O Guia de Coordenação de Isolamento especifica níveis de isolamento mais baixos para os


enrolamentos dos transformadores comparativamente com os níveis exteriores, o que pode não
ser coerente com a norma, apesar da utilização de descarregadores de sobretensão. Na reali-
dade, a utilização deste equipamento de proteção reduz o impacto das sobretensões de descargas
atmosféricas nos enrolamentos dos transformadores, ou em outro tipo de isolamento interno cujo
equipamento se encontra protegido por aqueles dispositivos. Contudo, é desconsiderado o impacto
das sobretensões à frequência industrial (50 Hz). Segundo a publicação IEC 60071, aplica-se um
fator sobre a tensão representativa (ver secção 3.1.2.3), elevando desta forma o nível de isolamento
relativamente ao isolamento externo. Esta situação aplica-se a níveis de tensão mais elevada para
equipamento até 245 kV (gama I), onde o nível de isolamento é composto pela tensão suportável
de curta duração à frequência industrial e impulsos de descarga atmosférica (choque atmosférico).
Convém salientar que esta análise se baseia numa situação pessimista, de acordo com o Anexo H
da publicação IEC 60071-2, onde a sobretensão temporária representativa fase-fase resultante do
deslastre de carga atinge um valor de 1,4 p.u., o que leva a um valor de sobretensão entre fases de
343 kV, para um sistema cuja tensão mais elevada para o equipamento se cifra nos 245 kV.
Apesar de tudo, o que interessa enaltecer é o facto de a seleção dos níveis de isolamento não
ser rigorosa, baseando-se apenas no pressuposto que os descarregadores de sobretensões possibi-
litam a redução do nível de isolamento interno, o que não é de facto verdade para o nível de tensão
considerado. Desta forma é descartada uma análise do sistema com vista a uma melhor descri-
minação das sobretensões esperadas, que poderia levar a uma seleção mais ajustada dos níveis de
isolamento e por consequência maior eficiência global da subestação.
No que concerne às tensões suportáveis para as travessias dos transformadores, uma vez que
se trata de isolamento externo, são adotados os valores apresentados previamente para este tipo de
isolamento de acordo com a tabela 4.2.

4.10.6 Proteção do equipamento do painel de linha

O Guia de Coordenação de Isolamento estipula a aplicação de explosores nas cadeias de amar-


ração das linhas ao pórtico de entrada de forma a promover a proteção do equipamento do painel
de linha. Embora estes equipamentos não sejam normalizados como equipamento de proteção
contra sobretensões, a norma admite a sua utilização como forma alternativa de proteção. A pu-
blicação IEC 60071-2 prevê que a utilização de outros tipos de dispositivos de proteção, que não
DST, depende de fatores como a importância do equipamento a proteger e a consequência da in-
terrupção. Neste caso, o uso de explosores assenta essencialmente na proteção do equipamento do
painel de linha aquando da abertura do disjuntor ou seccionador, ou quando estes se encontram já
abertos, visto que, encontrando-se estes equipamentos fechados, a proteção é também assegurada
pelos descarregadores de sobretensões colocados junto ao transformador.
Assim, o emprego de explosores nas cadeias de amarração das linhas ao pórtico pode represen-
tar uma mais-valia, evitando a aplicação de descarregadores de sobretensões, que representariam
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
80 60071

um custo acrescido, e promovendo a proteção do equipamento do painel de linha enquanto os


dispositivos de manobra e proteção de encontram abertos. Ainda assim, o emprego de exploso-
res apresenta desvantagens que podem colocar em causa a proteção do equipamento a proteger e
por sua vez a continuidade de serviço. Por exemplo, aquando da sua atuação estabelece-se um
curto-circuito que resulta em esforços eletrodinâmicos e térmicos para o equipamento a proteger;
a dificuldade de autoextinção do arco obriga a atuação do disjuntor de forma a eliminar o de-
feito. Desta forma prejudica-se a continuidade de serviço. Nesta situação, a utilização de DST
não apresentaria tais problemas e a continuidade de serviço saía favorecida. Apesar de tudo, a
probabilidade de atuação de um explosor é mais reduzida se a linha na qual se aplica for protegida
por cabos de guarda, tornando eventualmente não rentável o uso de DST nas cadeias de amarração
do pórtico de entrada.
A proteção do transformador não é colocada em causa, perante a utilização de explosores, se
este for devidamente protegido pelos descarregadores de sobretensões.

4.10.7 Proteção dos transformadores de potência

Uma vez que este é o componente de maior importância dentro de uma subestação, a proteção
dos transformadores de potência é realizada através de descarregadores de sobretensões. Relati-
vamente ao uso deste equipamento deve considerar-se o seguinte, com base na publicação IEC
60099-5 [14]:

Proteção contra sobretensões de frente-lenta


A proteção contra sobretensões de frente lenta apenas se justifica para níveis de tensão na gama
II, pois na gama I os níveis de isolamento normalizados do equipamento é normalmente elevado
o suficiente de tal forma que a proteção contra sobretensões de frente lenta não é necessária. A
tensão representativa dos equipamentos protegidos por DST é igual ao nível de proteção ao choque
de manobra. Os DST de óxidos metálicos sem explosores são aconselháveis para proteção contra
sobretensões de frente lenta em sistemas com sobretensões temporárias moderadas. Pode assumir-
se que estes limitam sobretensões fase-terra de aproximadamente o dobro da sua tensão estipulada.
Assim, DST de óxidos metálicos são adequados para a limitação de sobretensões de frente lenta
originadas pela ligação e religação de linhas, corte de corrente indutivas e capacitivas, mas não de
sobretensões causadas por defeitos à terra.

Proteção contra sobretensões de origem atmosférica


Um fator a ter em conta é que a sobretensão é mais elevada aos terminais do equipamento a
proteger do que aos terminais do DST. Assim, a distância entre estes deve ser reduzida ao mínimo.
No entanto, as situações mais severas ocorrem quando as linhas conectadas não são protegidas por
cabos de guarda, ou a própria subestação não é ela própria protegida. Em subestações com várias
linhas conectadas protegidas por cabos de guarda, e em que existe um largo número de equipa-
mentos, desde transformadores, equipamento de manobra e equipamento de medida, os DST não
4.10 Análise comparativa entre o Guia de Coordenação de Isolamento e documento normativo
IEC 60071 81

necessitam de ser colocados exatamente aos terminais do transformador. Dessa forma promove-se
também uma melhor proteção para o restante equipamento. No entanto, devem utilizar-se métodos
descritos em [14], secção 4.3.2 para determinar as máximas distâncias de separação entre o DST
e o transformador.

4.10.8 Proteção de baterias de condensadores


Derivado da importância deste equipamento para o bom funcionamento do sistema, a sua pro-
teção deve ser assegurada por DST, de acordo com a publicação IEC 60071-2. Embora, conforme
o Guia de Coordenação de Isolamento, as sobretensões de origem atmosféricas atingem essencial-
mente os isoladores de suporte e não os elementos capacitivos constituintes da bateria, o que leva
a ponderar a não necessidade de proteção. Fatores como a presença de outras linhas conectadas ao
mesmo barramento, que reduzem o impacto da sobretensão, e a utilização de DST para proteção
do transformador no mesmo nível de tensão favorecem a não utilização de proteção dos painéis
das baterias de condensadores. Contudo, constitui uma boa prática a aplicação de proteção des-
tes painéis por DST, principalmente em subestações com elevado relevo no sistema, como é uma
subestação da rede de transmissão.

4.10.9 Proteção de cabos isolados de alta tensão


O Guia de Coordenação de Isolamento prevê a proteção dos cabos isolados de alta tensão
por DST em situações em que se prevejam penetrações de sobretensões importantes. Esta opção
está de acordo com o previsto na norma, isto é, um equipamento deve ser protegido por DST se o
equipamento ficar sujeito a sobretensões perigosas, principalmente se se tratar de um equipamento
importante para a instalação.
Guia de Coordenação de Isolamento aplicado às subestações e análise comparativa com IEC
82 60071
Capítulo 5

Propostas de alteração ao Guia de


Coordenação de Isolamento e Caso de
estudo

Nesta secção serão apresentadas possíveis alterações ao Guia de coordenação de isolamento.


Tais alterações visam uma melhor coordenação de isolamento em subestações tendo em vista uma
redução de custos e melhoria da fiabilidade da instalação, sendo que estes objetivos não serão,
em princípio, obtidos simultaneamente. Note-se que a REN se encontra a proceder à revisão do
documento em causa.

5.1 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento

5.1.1 Níveis de isolamento nominal

Quanto aos níveis de isolamento estipulados pelo GCI, sugere-se que estes sejam selecciona-
dos caso a caso aplicando o algoritmo de coordenação de isolamento sugerido pelo documento
normativo IEC 60071-1 (3.1). Desta forma obter-se-ão níveis de isolamento específicos de cada
instalação, em vez de níveis comuns entre diferentes subestações que poderão ser sujeitas a dife-
rentes solicitações elétricas, mesmo que se encontrem no mesmo nível de tensão. Este procedi-
mento poderá, ainda assim, levar a níveis de isolamento, na maioria das vezes, iguais àqueles já
recomendados pelo GCI, o que é compreensível visto que estes foram já seleccionados com base
na experiência adquirida. Apesar de tudo, sendo as subestações instalações em que a fiabilidade é
um factor de elevada importância, o rigor na seleção dos níveis de isolamento é também relevante.
Associado a este rigor pode também advir uma redução de custos em determinadas situações.
Outro aspecto que pode ser tomado em consideração, e que o GCI desconsidera, é a distinção
entre o equipamento de entrada de linha na subestação e o restante equipamento. Isto é, nem todo
o equipamento constituinte da subestação é sujeito às mesmas solicitações. Aquele que é colocado
entre a cadeia de amarração de entrada e o disjuntor de corte da linha, ou seccionador, pode ser

83
84 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

exposto a diferentes solicitações, mais severas, relativamente ao restante equipamento, nomeada-


mente quando estes equipamentos de manobra se encontram abertos. Esta distinção pode levar
a considerar a utilização de descarregadores de sobretensões na entrada das linhas na subestação,
promovendo a devida proteção para o equipamento de entrada, assim como uma proteção adicional
para o restante equipamento. Não se justificando o emprego de descarregadores de sobretensões,
esta distinção pode representar uma redução do nível de isolamento do restante equipamento rela-
tivamente ao de entrada.
Relativamente ao nível de isolamento interno, o GCI estipula um nível abaixo daquele con-
siderado para isolamento externo. Com base no anexo H da publicação IEC 60071-2, é possível
observar que o nível de isolamento interno não é propriamente menor que aquele considerado para
o exterior, apesar do uso de descarregadores de sobretensões, principalmente devido às solicita-
ções à frequência industrial. Este facto resulta aplicação de factores de segurança no processo de
coordenação de isolamento, e que não são tomados em consideração pelo GCI. Desta forma, mais
uma vez, recomenda-se o cumprimento do processo de coordenação de isolamento constante no
documento normativo IEC.

5.1.2 Distâncias de isolamento no ar

As distâncias de isolamento recomendadas pelo GCI são, em quase todos os níveis, superi-
ores aos aconselhados pelo documento normativo IEC, embora sejam bastante próximos em al-
guns casos, conforme se comprova a partir das tabelas 4.18, 4.19 e 4.20. As maiores diferenças
encontram-se nos níveis de tensão mais elevada para o equipamento de 170 kV e 245 kV, para
isolamento fase-fase.
Mais uma vez, o facto de o GCI estipular apenas um nível de isolamento externo por cada
nível de tensão mais elevada para o equipamento compromete a otimização da coordenação de
isolamento.
O GCI especifica apenas um conjunto de distâncias de isolamento por cada nível de tensão
mais elevada para o equipamento, ao passo que a norma especifica mais que um excepto para
Um = 72, 5kV , conforme se comprova pelas tabelas 4.18, 4.19 e 4.20. Deste ponto de vista, a
disparidade entre o GCI e a norma pode tornar-se ainda maior.
No nível de Um = 420kV as diferenças são bastante reduzidas, mas o mesmo problema relati-
vamente à especificação de apenas um nível de isolamento também aqui se aplica. As alterações
a este nível depende essencialmente dos níveis de isolamento adotados, visto que as distâncias
consideradas pelo GCI, apesar de superiores, se aproximam das sugeridas pela norma. Se o nível
de isolamento necessário a um equipamento fosse inferior ao adotado pelo GCI, optar por dis-
tâncias recomendadas pelo documento normativo poderia representar um impacto considerável na
redução do espaço necessário.
Apesar de tudo sugere-se a adoção das distâncias mínimas apontadas pelo documento norma-
tivo IEC 60071-1.
5.1 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento 85

5.1.3 Colunas e cadeias de isoladores

No que diz respeito a colunas e cadeias de isoladores, chama-se a atenção, mais uma vez, para
os níveis de isolamento considerados. Uma eventual redução do nível de isolamento necessário
terá impacto no custo das cadeias e colunas isolantes.
Contudo, no que concerne a isoladores, é crucial o funcionamento em atmosfera poluída,
pelo se devem considerar linhas de fuga específicas de acordo com o nível de poluição do local.
A seleção desadequada do nível de poluição, isto é, optar por um nível mais elevado do que o
necessário também influenciará o custo deste equipamento. Desta forma sugere-se uma seleção
adequada do nível de poluição de acordo com o local.
Relativamente ao tipo de isoladores utilizados, são comummente empregues isoladores cerâ-
micos ou de vidro. Atualmente é reconhecido o melhor comportamento dos materiais compósitos.
Estes apresentam melhor comportamento à poluição e maior rigidez mecânica [15], pelo que re-
presentam uma melhor solução que os tradicionais cerâmicos.

5.1.4 Transformadores de potência

As alterações propostas, ao nível dos transformadores de potência, dependem de uma aná-


lise das solicitações que podem advir do sistema em que estes se integram. Conforme analisado
em 4.10.5, assumir um nível de isolamento mais baixo para o isolamento interno pode não estar
correcto, principalmente para sistemas de tensão mais elevada para o equipamento até 245 kV,
onde o nível de isolamento é composto por uma tensão suportável à frequência industrial e uma a
impulsos de descargas atmosféricas.
Nestes níveis de tensão verifica-se que, para sobretensões temporárias, a tensão suportável
para isolamento interno é maior que para isolamento externo, apesar de se verificar o inverso no
que concerne a sobretensões de frente rápida. De facto, as solicitações de frente rápida sobre
equipamento protegido por DST são menores para o isolamento interno. Contudo, visto que uma
das tensões suportáveis que constituem o nível de isolamento é superior para isolamento interno,
pode estar a cometer-se um erro considerar um nível de isolamento menor do que aquele para
isolamento externo.
Esta situação provém dos factores de segurança considerados (Ks = 1, 05 para isolamento
externo e Ks = 1, 15 para isolamento interno) na determinação das tensões suportáveis requeridas.
Para níveis de tensão superior a 245 kV, com base no exemplo H.2 da publicação IEC 60071-
2, verifica-se que as tensões suportáveis requeridas para isolamento interno são efectivamente
menores que aquelas para isolamento externo, no entanto não são suficientemente mais baixas
para que se possa considerar um nível de isolamento interno inferior ao externo.
Assim, a proposta de alteração ao GCI é que não se adotem níveis de isolamento interno in-
feriores ao externo, a não ser que seja provado que as solicitações sobre tal isolamento sejam de
facto inferiores, permitindo uma redução a esse nível. A melhor forma de efectuar esta verifica-
ção é através da avaliação das solicitações espectáveis e pela aplicação dos devidos factores de
coordenação, segurança e correcção de altitude.
86 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

5.1.5 Proteção do equipamento

5.1.5.1 Painel de linha

A proteção dos painéis de linha é actualmente assegurada por explosores, o que, conforme
analisado em 4.10.6, se adequa quando as linhas conectadas à subestação, e a própria subestação,
são devidamente protegidas por cabos de guarda. Esta proteção por cabos de guarda limita a inci-
dência de descargas atmosféricas sobre os condutores de fase e por consequência as sobretensões
de frente rápida. Ainda assim, este tipo de sobretensões não é totalmente eliminado, sendo que
estas podem ainda surgir na sequência de manobras ou por contornamentos de retorno devido a
descargas atmosféricas sobre os condutores de guarda. Refira-se, no entanto, que quanto mais
elevada a tensão nominal do sistema, menor o impacto de descargas atmosféricas.
Tendo em conta estes fatos, e considerando as desvantagens descritas em 4.10.6 relativamente
aos explosores, sugere-se a aplicação de DST, em vez destes na entrada das linhas nas subestações,
de acordo com o nível expectável de incidência de sobretensões de frente rápida. Assim, se se
verificar uma probabilidade considerável de contornamento dos explosores, a aplicação de DST
representaria uma solução mais fiável relativamente à proteção do equipamento do painel de linha
e com vantagens para a qualidade de serviço.

5.1.5.2 Restante equipamento

Quanto ao restante equipamento da subestação, nomeadamente transformadores de potência,


baterias de condensadores e cabos de alta tensão, visto que a proteção prevista é assegurada por
descarregadores de sobretensões, não se prevêem alterações a este nível. Considera-se portanto
que os dispositivos utilizados para o efeito representam a melhor solução disponível.

5.2 Caso de estudo

O caso de estudo, ao qual se tentarão aplicar as alterações propostas anteriormente em 5.1,


trata-se da Subestação de Tavira, explorada pela REN. Esta nova subestação compreende três
níveis de tensão: 400 kV, 150 kV e 60 kV.
Segundo a memória descritiva do projecto da instalação em causa, o objetivo desta nova subes-
tação é a melhoria da alimentação em termos de continuidade e qualidade de serviço, constituindo
um apoio à rede de 150 kV a partir dos 400 kV. O estabelecimento da interligação com Espanha,
a partir dos 400 kV, permitirá aumentar a capacidade técnica de trocas entre a REN e a REE.

5.2.1 Configuração final da subestação

A configuração final da subestação inclui os painéis de linhas a seguir apresentados:


400 kV (tipologia “Disjuntor e 1/2”)

• 5 Módulos disjuntor e 1/2, incluindo os seguintes painéis:


5.2 Caso de estudo 87

• 6 Painéis de linha;

• 3 Painéis autotransformador 400/150 kV (450 MVA);

• 1 Painel de reactância shunt.

150 kV (tipologia “dois barramentos principais e barramento de transferência”)

• 3 Painéis autotransformador;

• 8 Painéis de linha;

• 3 Painéis de transformador 150/60 kV (170 MVA);

• 1 Painel interbarras/bypass/TT/ST.

60 kV (tipologia “dois barramentos principais, com disjuntores extraíveis”)

• 3 Painéis de transformador;

• 10 Painéis de linha;

• 2 Painéis baterias de condensadores

• 1 Painel interbarras/TT/ST.

5.2.2 Disposição geral e tecnologia de construção

Todos os postos (400 kV, 150 kV e 60 kV) que integram a subestação são do tipo convencional,
exterior, com aparelhagem de alta tensão de isolamento no ar.
Relativamente às topologias, foram adotadas as seguintes:

• 400 kV: Disjuntor e 1/2;

• 150 kV: Dois barramentos principais (BI e BII) e Barramento de transferência (BBP);

• 60 kV: Dois barramentos principais (BI e BII), com disjuntores extraíveis.

Quanto às cotas das ligações em alta tensão, as seguintes foram adotadas:


400 kV:

• Barramentos: cota 12,05 m;

• Ligações AT: plano inferior, cota média de aproximadamente 7 m; plano superior, ligações
tendidas à cota de 23 m.

150 kV:

• Barramentos: cota 7,20 m;


88 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

• Ligações AT: plano inferior, cota máxima de aproximadamente 4,20 m; passagem sobre a
via, cota 6,60 m; plano superior, ligações tendidas à cota 12 m.

60 kV:

• Barramentos: cota 5,77 m;

• Ligações AT: plano inferior, cota máxima de aproximadamente 3,70 m; plano superior,
ligações tendidas à cota 10 m.

5.2.3 Coordenação de isolamento


Relativamente à coordenação de isolamento foi adotado o nível de poluição forte, por uma
questão de intermutabilidade de equipamentos com as demais subestações, onde habitualmente é
adotado este nível. Assim, a linha de fuga específica é de 25 mm/kV correspondendo a compri-
mentos mínimos de linhas de fugas dos isoladores de 10500 mm, 4250 mm e 1813 mm para os
400 kV, 150 kV e 60 kV respectivamente.
Em termos de níveis de isolamento, de acordo com as recomendações IEC, Guia de Coorde-
nação de Isolamento para a Rede de Transporte e Especificação Técnica para instalações da RNT,
apresentam-se nas tabelas 5.1 a 5.6 os valores adotados para os diversos equipamentos.

Tabela 5.1: Níveis de isolamento nominal para transformadores de medição

5.2.4 Colunas e Cadeias de isoladores


De acordo com o estipulado para o nível de poluição “forte”, apresenta-se na tabela 5.6 as
características que as colunas isolantes devem respeitar.
Todos os isoladores de coluna, associados ou não a aparelhagem de AT devem cumprir as
seguintes linhas de fuga mínimas:

• 400 kV: 10500 mm;

• 150 kV: 4250 mm;

• 60 kV: 1813 mm.


5.2 Caso de estudo 89

Tabela 5.2: Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 60 kV e 150
kV

Tabela 5.3: Níveis de isolamento nominal para aparelhagem de corte e manobra para 400 kV
90 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

Tabela 5.4: Níveis de isolamento nominal para transformadores, autotransformadores de potência


e reactância shunt
5.2 Caso de estudo 91

Tabela 5.5: Distâncias mínimas de isolamento e proteção

Tabela 5.6: Características das cadeias isolantes

São usados os seguintes tipos de isoladores:

• Cadeias de amarração (das linhas aos pórticos), constituídas por isoladores de cadeia tipo
“rótula-haste”;

• Isoladores de suspensão em V, isoladores rígidos (pórtico de amarração);

• Colunas isolantes de apoio de barramentos e ligações.

5.2.5 Proteção contra sobretensões


Em termos de proteção contra sobretensões, os painéis de linha são protegidos por hastes de
descarga (explosores), cujas distâncias entre hastes, de acordo com os níveis de tensão das linhas,
são as seguintes:

• 400 kV: 1700 mm;

• 150 kV: 800 mm;

• 60 kV: 300 mm.

Para transformadores e autotransformadores de potência, reactância shunt e baterias de con-


densadores, são estabelecidos como equipamento de proteção descarregadores de sobretensão do
tipo óxidos metálicos, sem explosores. Os DST apresentam as seguintes características:

• Modo de ligação: Fase-terra;


92 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

• Tipo de montagem: Apoiada;

• Corrente nominal de descarga: 10 kA;

• Classe do limitador de pressão: A (40 kA);

• Onda de corrente de grande amplitude: 100 kA;

• Classe de descarga, onda de longa duração: 4 (400 kV), 3 (150 kV e 60 kV).

5.2.6 Propostas de alteração


5.2.6.1 Níveis de isolamento

Em primeiro lugar, e porque uma alteração a este nível afecta todo o equipamento da subes-
tação, propõe-se uma análise das sobretensões expectáveis à entrada da instalação e aplicação do
procedimento proposto em IEC 60071-2.
Os níveis de isolamento adotados para o equipamento, tabelas 5.2, 5.3, 5.1 e 5.4, são ba-
seados nas tabelas 4.1 e 4.2 do Guia de Coordenação de Isolamento e, conforme analisado em
4.10.1 , estes são, normalmente, os níveis normalizados mais elevados presentes em IEC 60071-1.
Chama-se especial atenção para o patamar de 400 kV, onde o nível de isolamento adotado é o valor
normalizado mais elevado, o que leva a um custo com equipamento bastante avultado. Convém
relembrar que as medidas tomadas na limitação de sobretensões permitem prever que estas não
serão tão gravosas e portanto optar por o nível de isolamento máximo pode representar uma mar-
gem demasiado generosa. Ainda relativo aos níveis de isolamento, sugere-se a seleção do nível de
isolamento interno (enrolamento dos transformadores de potência) não inferior ao externo.

5.2.6.2 Distâncias de isolamento

As distâncias de isolamento mínimas consideradas, tabela 5.5, estão em conformidade com


a tabela 4.3 do Guia de Coordenação de Isolamento. Estes valores são ligeiramente superiores
aqueles apontados pela IEC, conforme analisado em 4.10.2, no entanto estes são valores mínimos
pelo que se adotam margens, não relacionadas com a coordenação de isolamento, mas antes por
uma questão de segurança, de acordo com o disposto em 4.2. Desta forma a hipótese de redução
de distâncias de isolamento assenta na redução das margens adotadas, que parecem ser bastante
conservadoras.
Através das plantas do projecto mediram-se as distâncias entre condutores de fase dos barra-
mentos e painéis (distâncias condutor-condutor). Na tabela 5.7 apresentam-se as distâncias medi-
das assim como as margens relativas aos valores mínimos apontados pelo GCI e IEC. Nesta tabela
indicam-se ainda as margens propostas e respetivas distâncias assim como a redução relativamente
aos valores adotados.
Uma vez que é necessário garantir as devidas margens que permitam operações de manu-
tenção, estas apresentar-se-ão maiores nos patamares mais baixos de tensão e menores nos mais
elevados. Isto deve-se às ditâncias mínimas que serão bastante maiores nos patamares superiores
5.2 Caso de estudo 93

Tabela 5.7: Propostas de redução das distâncias de isolamento fase-fase

o que leva a que as margens necessárias sejam mais baixas nestes níveis. Assim optou-se por
sugerir margens que vão desde os 50 % nos 400 kV até 100 % nos 60 kV, sendo que para os 150
kV se considerou uma margem de 70 %. Estes valores dão origem a reduções, relativamente aos
valores medidos, de 10 % a 16 %, conforme se confirma pela tabela 5.7. As margens sugeridas
são valores hipotéticos pelo que se propõe um efetuar um estudo sobre a possibilidade de redução
das mesmas.

5.2.6.3 Colunas e Cadeias de isoladores

O tipo de material utilizado para as colunas e cadeias de isoladores é a cerâmica, mais preci-
samente porcelana. Este tipo de material tem sido utilizado intensivamente na conceção de isola-
dores desde o início das redes elétricas e representa, ainda atualmente, uma boa solução ao nível
dos isoladores. Contudo o seu comportamento sob poluição pode pôr em causa a rigidez dielétrica
exigida. Desta forma, uma alternativa eficaz seria a aplicação de isoladores compósitos. Estes
podem significar um custo inicial acrescido em relação aos cerâmicos. Contudo, as vantagens ao
nível do comportamento à poluição acaba por os tornar vantajosos.
Sugere-se assim optar pela utilização de colunas de isoladores compósitos em vez dos tradici-
onais cerâmicos.
Relativamente às cadeias de isoladores, os materiais compósitos apresentam as vantagens
enunciadas para as colunas de isoladores, contudo existe a dúvida da utilização destes nas cadeias
de amarração. Este facto deve-se, não ao pior comportamento sob tração, porque na realidade se
verifica o contrário, mas à possibilidade de deterioração precoce do revestimento isolante, devido
a ataques químicos e elétricos, permitindo a entrada de agentes degradantes no núcleo fibroso
enfraquecendo a sua rigidez mecânica.
No entanto, apesar de os isoladores em materiais compósitos apresentarem um tempo de vida
útil inferior ao dos cerâmicos, não é expectável que a deterioração ocorra num curto período de
94 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo

tempo e portanto estes podem ainda assim apresentar-se vantajosos relativamente aos demais.
Desta forma sugere-se optar também por isoladores em materiais compósitos nas cadeias de amar-
ração.

5.2.6.4 Aparelhagem de corte e manobra

Os níveis de isolamento seleccionados para o equipamento de corte e manobra, tabelas 5.2 e


5.3, estão de acordo com aqueles sugeridos pelo GCI, tabela 4.2. A este nível, a possibilidade de
alteração depende do nível de isolamento exterior considerado. Conforme analisado em 4.10.1,
existem níveis de tensão onde se adotaram as tensões suportáveis normalizadas máximas. Esta
é uma visão pessimista, o que leva a crer que existe a possibilidade de redução de isolamento
em determinadas situações. Portanto, aquilo que se sugere em relação à aparelhagem de corte e
manobra, com vista a eventual redução de custos, vem na sequência do já sugerido para os níveis
de isolamento, que é efectuar uma análise das sobretensões e aplicar o método de coordenação
de isolamento de acordo com a IEC 60071-2 com vista à seleção das tensões suportáveis mais
adequadas.

5.2.6.5 Transformadores de medição

Relativamente aos transformadores de medição verifica-se a mesma situação que aquela ob-
servada para a aparelhagem de corte e manobra. Os níveis de isolamento considerados, 5.1 estão
de acordo com a tabela 4.2. Portanto, as tensões suportáveis para este equipamento serão afectadas
pela medida tomada para a seleção dos níveis de isolamento.

5.2.6.6 Transformadores de potência

Em relação aos transformadores de potência, aplica-se também o já disposto para a aparelha-


gem de corte e manobra e transformadores de medição no que concerne aos níveis de isolamento.
Ou seja, sugere-se que os níveis de isolamento sejam seleccionados com base no procedimento de
coordenação de isolamento de acordo com IEC 60071-2. Verifica-se ainda que as tensões supor-
táveis para o isolamento interno, tabela 5.4, são inferiores ao isolamento externo para o restante
equipamento, o que está de acordo com a tabela 4.1. Relativamente a este aspecto, sugere-se,
em conformidade com o disposto em 5.1.4, optar por um nível de isolamento interno equivalente
àquele considerado para o exterior.

5.2.6.7 Proteção do painel de linha

A proteção dos painéis de linha é assegurada por hastes de descargas (explosores) montadas
nas cadeias de amarração das linhas aos pórticos. Conforme analisado em 4.10.6, a actuação
dos explosores apresenta inconvenientes para a instalação. Estes inconvenientes que resultam
do estabelecimento de um curto-circuito, causando esforços electrodinâmicos sobre as cadeias
onde este se estabelece e provocando o accionamento do disjuntor, necessário na dissipação do
5.2 Caso de estudo 95

curto-circuito, podem ser eliminados através da utilização de DST. Além disso, a utilização destes
dispositivos na entrada das linhas na subestação pode ainda promover uma redução do nível de
isolamento no restante equipamento. Desta forma, sugere-se a aplicação de DST como alternativa
aos explosores.

5.2.6.8 Proteção do transformador de potência

A proteção dos transformadores de potência é assegurada por meio de DST de óxidos metá-
licos sem explosores, conforme disposto em 5.2.5. O tipo de DST considerado representa uma
tecnologia actual com melhor comportamento relativamente aos clássicos de carboneto de silício,
conforme descrito em 2.2.3.4. Portanto, relativamente à proteção dos transformadores de potência
observa-se uma proteção efectiva através de equipamento normalizado, pelo que não se prevêem
propostas de alteração a este nível.

5.2.6.9 Proteção de baterias de condensadores

Comparativamente com a proteção dos transformadores de potência, também as baterias de


condensadores são protegidas contra sobretensões através de descarregadores de sobretensões.
Estes são do mesmo tipo daqueles utilizados para os transformadores de potência e reactância
shunt, conforme o disposto em 5.2.5. Portanto, no que diz respeito à proteção das baterias de
condensadores não se prevêem propostas de alteração.

5.2.6.10 Resumo das alterações propostas

As alterações propostas são as seguintes:

• seleção dos níveis de isolamento para os equipamentos de acordo com o procedimento su-
gerido pelo guia de aplicação da publicação IEC 60071-2;

• adotar niveis de isolamento interno e externo iguais;

• redução das margens de distâncias de isolamento no ar em 10 %; 15 % e 16 % para os níveis


de 400 kV; 150 kV e 60 kV respetivamente;

• optar por cadeias e colunas de isoladores compósitos;

• Substituição dos dispositivos de proteção das cadeias de amarração (haste de descarga) por
descarregadores de sobretensões;
96 Propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento e Caso de estudo
Capítulo 6

Conclusão e Trabalhos Futuros

6.1 Conclusão

O sistema elétrico de energia apresenta-se em grande parte instalado exteriormente, sujeito


a diversos agentes, como por exemplo às descargas atmosféricas ou a queda de árvores sobre as
linhas de transmissão. Estes agentes externos ao sistema irão introduzir sobretensões no mesmo.
No caso das descargas atmosféricas porque se trata de uma injeção de corrente elétrica que fará
elevar rapidamente a tensão, e no segundo caso pode ser provocado um defeito à terra que elevará
a tensão nas restantes fases.
As sobretensões mencionadas são chamadas de origem externa, contudo, as sobre elevações
de tensão podem ser originadas internamente ao sistema através de energização ou reenergização
de uma linha em vazio, corte de correntes indutiva ou capacitavas, deslastre intempestivo de carga,
curto-circuitos e condições de ressonância. As sobre elevações de tensão irão afetar os equipamen-
tos de forma diferente, conforme a sua forma, amplitude e duração, portanto podem classificar-se
como sobretensões temporárias, sobretensões de frente lenta e frente rápida.
De forma a garantir uma boa qualidade de serviço aos consumidores torna-se necessário ga-
rantir o menor número de falhas possível. Para tal será crucial tomar medidas de redução de
sobretensões assim como selecionar o equipamento de forma que suporte, quase na totalidade, os
surtos a que é sujeito. Como é impossível prever exatamente a ocorrência das sobretensões e as
suas amplitudes, torna-se, tanto económica como tecnicamente, impraticável o dimensionamento
do equipamento de forma a suportar toda e qualquer sobretensão a que é sujeito. Desta forma surge
a necessidade da coordenação de isolamento, que consiste em determinar a menor rigidez dielé-
trica do equipamento, com um risco de falha aceitável, com a melhor relação técnico-económica
com vista à garantia da sua proteção contra as solicitações dielétricas existentes no sistema tendo
em conta o ambiente de serviço e as características disponíveis do equipamento de proteção.
O processo de coordenação de isolamento é constituído, segundo a norma internacional IEC
60071, por quatro etapas. A primeira consiste em avaliar as sobretensões representativas do sis-
tema. Estas têm formas normalizadas e é esperado que tenham o mesmo impacto dielétrico no

97
98 Conclusão e Trabalhos Futuros

isolamento que as sobretensões do sistema. Na segunda etapa são encontradas as tensões su-
portáveis de coordenação, que representam as tensões que satisfazem o critério de desempenho.
Estas são obtidas multiplicando as tensões representativas pelo fator de coordenação. Este de-
pende do tipo de método utilizado, determinístico ou estatístico. Na terceira etapa determinam-se
as tensões suportáveis requeridas. Aqui são aplicados fatores de correção para compensar as va-
riações do comportamento do isolamento de acordo com a altitude da instalação e ainda fatores
de segurança. Este último tem por objetivo compensar diferenças na conceção dos equipamentos,
qualidade da instalação, envelhecimento durante o período de vida do equipamento, entre outros.
A última etapa corresponde à seleção dos níveis de isolamento normalizados. Nesta fase, depen-
dendo do nível de tensão do sistema, pode ser necessário converter tensões suportáveis ao choque
de manobra em tensões suportáveis à frequência industrial assim como ao choque atmosférico, ou
converter tensões suportáveis à frequência industrial em tensões suportáveis ao choque de mano-
bra. A seleção dos níveis de isolamento é efetuada a partir dos valores normalizados presentes em
IEC 60071-1.
No que respeita a subestações, os isolamentos envolvidos são as distâncias de isolamento no
ar, colunas e cadeias de isoladores e ainda isolamentos internos e mistos. A análise comparativa
entre o Guia de Coordenação de Isolamento e o documento normativo IEC 60071 consistiu na
análise dos níveis de isolamento dos diferentes componentes, das distâncias de isolamento no ar e
dos equipamentos de proteção.
Após a análise comparativa verificou-se à partida que os níveis de isolamento adotados pelo
GCI são valores normalizados e contantes na norma. Contudo, verificou-se também que os níveis
de isolamento não são selecionados caso a caso, sendo que são adotados sempre os mesmos valores
para cada patamar de tensão mais elevada do sistema. Além disso, por cada nível de tensão é
apenas adotado pelo GCI um nível de isolamento (externo), enquanto a norma apresenta dois
ou mais exceto para o nível de tensão mais elevada para o equipamento de 72,5 kV (note-se
que os níveis em análise são: 72,5 kV, 170 kV, 245 kV e 420 kV). Observou-se ainda que os
níveis de isolamento interno adotados pelo GCI se situam um patamar abaixo daquele apontado
para o isolamento exterior, para o mesmo nível de tensão. Com base nos exemplos presentes no
documento IEC 60071-2 esta consideração não se verifica e portanto considera-se que a mesma
não é correta. A sugestão apontada no que respeita aos níveis de isolamento é que se realize uma
análise das solicitações dielétricas a cada caso e que se aplique o processo de coordenação de
isolamento apontado pela IEC 60071.
As considerações relativas aos níveis de isolamento aplicam-se a todos os equipamentos no-
meadamente colunas e cadeias de isoladores, aparelhagem de corte e manobra, transformadores
de medição e potência. Assim, uma possível redução do nível de isolamento afeta todo o equipa-
mento da subestação tendo um impacto significativo no custo da mesma.
Relativamente às distâncias de isolamento mínimas adotadas pelo GCI observou-se que es-
tas se apresentam próximas daquelas apontadas pelo documento normativo, embora um pouco
superiores especialmente nas distâncias fase-fase.
No entanto, o GCI indica apenas um conjunto de distâncias mínimas (este conjunto é composto
6.2 Trabalhos Futuros 99

por uma distância fase-fase e outra fase-terra) por cada patamar de tensão mais elevada para o
equipamento, ao passo que a norma indica dois ou mais, excepto para o patamar de 72,5 kV. Isto
deve-se ao facto de a norma considerar mais que um nível de isolamento por cada patar de tensão
mais elevada para o equipamento.
Comparando as distâncias mais baixas sugeridas pela norma com aquelas sugeridas pelo GCI,
então a diferenças entre ambas aumenta significativamente. Contudo, as distâncias realmente
utilizadas nas instalações comportam margens significativas por uma questão de segurança. A
adoção das distâncias mínimas sugeridas pela IEC por si só não teria impacto relevante, mas
associando a estas uma redução das margens pode ter uma impacto considerável.
Em termos de proteção de equipamentos, o GCI estipula a utilização de descarregadores de
sobretensões para a proteção dos transformadores de potência, baterias de condensadores e cabos
de alta tensão. Estes dipositivos de proteção são os únicos efetivamente recomendados pela norma,
embora se admita a utilização de outros dispositivos de proteção dependendo da importância do
equipamento e das consequências da sua saída de serviço. Como os transformadores de potência
e baterias de condensadores, assim como os cabos de alta tensão (dependendo da sua função),
representam elementos de elevada importância no sistema, os DST constituem a melhor solução
no que respeita a proteção contra sobretensões. Desta forma nenhuma sugestão a este nível foi
sugerida, assumindo que as soluções adotadas são as melhores.
Os painéis de linha, conforme o GCI, devem ser protegidos por hastes de descarga (explo-
sores). Estes dispositivos de proteção contra sobretensões representam uma solução económica
mas apresentam inúmeras desvantagens. Por exemplo, aquando da sua atuação estabelece-se um
curto-circuito que causa esforços eletrodinâmicos nos equipamentos a proteger, apresenta dificul-
dade de extinção do arco o que leva à atuação do disjuntor afetando a continuidade de serviço, o
estabelecimento do curto-circuito introduz outra sobretensões no sistema. Desta forma sugeriu-se
a instalação de DST como dispositivo de proteção contra sobretensões dos painéis de linha.
O caso de estudo analisado segue as recomendações do Guia de Coordenação de Isolamento
pelo que as propostas de alteração sugeridas para o GCI aplicam-se também a este caso específico.
Em termos de colunas e cadeias de isoladores observou-se que são ainda utilizados isolado-
res cerâmicos. Atualmente os isoladores compósitos apresentam vantagens, tanto em termos de
comportamento dielétrico como mecânico, promovendo um incremento da fiabilidade, além de
serem consideravelmente mais leves facilitando a sua instalação e transporte favorecendo ainda a
redução de custos de instalação.

6.2 Trabalhos Futuros

Durante o desenvolvimento da presente dissertação observou-se que, no projeto de uma nova


subestação, não são analisadas as sobretensões à entrada da mesma, sendo que a seleção dos níveis
de isolamento são adotados a partir de valores pré-estabelecidos. Desta forma, seria interessante
efetuar um estudo das sobretensões afetando uma subestação atualmente em funcionamento, e
100 Conclusão e Trabalhos Futuros

realizar a coordenação de isolamento, de acordo com o guia de aplicação IEC, com vista à com-
paração com os valores previamente adotados. Com este trabalho pretender-se-ia avaliar as mais
valias do recurso ao guia de aplicação IEC.
Uma das propostas de alteração ao Guia de Coordenação de Isolamento foi a substituição de
das hastes de descargas, utilizadas nas cadeias de amarração, por descarregadores de sobretensões.
Assim, um possível trabalho futuro seria estudar a viabilidade da utilização de descarregadores de
sobretensões em alternativa aos explosores avaliando em qual dos casos o impacto para a rede
seria menor.
Finalmente, uma vez que começa a ser cada vez mais comum optar por subestações blindadas
em vez de subestações isoladas ao ar, haveria interesse em efetuar uma análise comparativa da
fiabilidade entre ambos os tipos de subestação.
Referências

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[13] ISO/IEC. High-voltage test techniques - Part 1: Test definitions and test requirements. IEC
60060-1, 3.0 edição, 2010.

[14] ISO/IEC. Surge arresters - Part 5: Selection and application recommendations. IEC 60099-
5, 2.0 edição, 2013.

101
102 REFERÊNCIAS

[15] N Bashir e H Ahmad. Ageing of transmission line insulators: The past, present and future.
Em Power and Energy Conference, 2008. PECon 2008. IEEE 2nd International, páginas
30–34. IEEE, 2008.

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