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Atendimento Familiar
Atendimento Familiar
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
TERAPIAS PÓS-MODERNAS..................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
TERAPIAS PÓS-MODERNAS........................................................................................................ 9
CAPÍTULO 2
AS ESCOLAS E AS TERAPIAS PÓS-MODERNAS........................................................................... 17
CAPÍTULO 3
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS PÓS-MODERNAS........................................................................ 25
CAPÍTULO 4
EQUIPE REFLEXIVA................................................................................................................... 30
CAPÍTULO 5
CONTRIBUIÇÕES TERAPÊUTICAS............................................................................................... 46
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 64
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
O Assistente Social, no exercício de suas atribuições, possui a necessidade do
conhecimento das Terapias Pós-Modernas.
Objetivos
»» Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre Equipe Reflexiva da Terapia
Pós-moderna.
7
TERAPIAS PÓS- UNIDADE ÚNICA
MODERNAS
CAPÍTULO 1
Terapias Pós-Modernas
No Brasil, podemos destacar como grandes nomes da Terapia Familiar dentre outros:
Marilene Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra
Fedulo, Roberto Faustino (Recife), Rosana Rapizzo e Luiz Carlos Prado.
É possível compreendermos que o sistema familiar vive interações que repercutem no seu
desempenho, tanto em seu ambiente interno como externo. Desta forma, conseguimos
entender um dos principais pilares da Terapia Familiar que é a circularidade que
estuda atenciosamente as sequências interacionais dos familiares para um olhar mais
aprofundado acerca dos fatores que estão “segurando” o padrão comportamental
familiar. Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo,
é importante relacionar a família observando-se sua rede de subsistemas mediante a
leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de
crenças, cultural, político.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada pelas interações
tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O contexto
familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual se vai em
busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um todo. O
terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar
feridas e também de mobilizar talentos e recursos.
Para tal é preciso que ao trabalhar no processo terapêutico familiar, o terapeuta possa
se aprofundar nos seguintes pontos significativos:
»» contexto relacional;
»» processos de comunicação;
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
»» sabendo que não existe apenas uma realidade, o terapeuta precisa estar
consciente das suas ideias que tem acerca das patologias, estruturas
disfuncionais, seus preconceitos, das suas demandas, para que colocando
tudo isso em parênteses, possa estar aberto para visões alternativas;
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Refletindo sobre o panorama atual da Terapia Familiar podemos considerar que sua
consistência decorre de uma epistemologia unificadora pós-moderna apoiada numa
hermenêutica contemporânea construída na intersubjetividade, envolvendo a pessoa
do terapeuta como coconstrutor das realidades com as quais trabalha. A prática dessas
terapias ditas pós-modernas envolve um trânsito do terapeuta entre teoria e prática de
modo epistemologicamente coerente, de acordo com os meios que se lhe apresentem
mais úteis e despertem seu entusiasmo e criatividade enquanto interlocutor qualificado.
Enquanto uma prática social transformadora esta terapia se organiza a partir dos
contextos locais e das histórias culturais de distintas comunidades linguísticas. O
respeito pela diversidade e multiplicidade de contextos com seus saberes locais implica
numa terapia construída a partir da aceitação da responsabilidade relacional do
terapeuta, legitimando os direitos humanos de bem-estar e de exercício da livre escolha.
O pensamento pós-moderno
Temos encontrado uma pluralidade de entendimentos para o que pode ser chamado de
pós-modernismo, desde a sua apresentação à Psicologia na conferência de Aarhus na
Dinamarca, em 1989 (HOLZMAN; MORSS, 2000).
Embora nem todos esses entendimentos sejam coerentes entre si, o pós-modernismo
pode ser compreendido como uma mudança paradigmática que surge da crise do
modelo epistemológico da modernidade, colocando em xeque dentre outras coisas:
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Terapias pós-modernas
Nesse sentido, os conceitos teóricos pelos quais nós terapeutas construímos nossas
compreensões das pessoas que nos procuram e dos dilemas que elas vivem, são
construções sociais úteis, não devendo ser reificadas como se correspondessem a uma
realidade pré-existente, independente do terapeuta em questão.
O terapeuta pode ser considerado como um agente de transformação social para a qual
contribui sua experiência pessoal, profissional e posicionamento político, implicando
necessariamente uma ética das relações cujos traços mais significativos são a consciência
e a autorreflexividade, nos dizeres de Gergen (1989, 1994, 1991 e 1998), e a consciência
de que as práticas e métodos terapêuticos não são ideologicamente neutros. Quando
atuamos como terapeutas estamos construindo uma certa forma de mundo, legitimando
um determinado conjunto de relações sociais e de forma de tratamento e valorização
das pessoas.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
O pensamento pós-moderno trouxe para a terapia familiar uma mudança dos modelos
informados pela Cibernética de Primeira Ordem, com sua ênfase nos padrões de
interação e nas organizações familiares baseadas nas noções Parsonianas de estrutura
e papel para os modelos condizentes com uma Cibernética de Segunda Ordem, com
ênfase na construção de significados, nos modelos dialógicos e nas metáforas narrativas
e hermenêuticas. Dentre as palavras-chave comumente empregadas pelos muitos
modelos terapêuticos pós-modernos, destacam-se: sistemas linguísticos, narrativa,
conversação, diálogo, histórias, significado, cultura. As teorias que os terapeutas adotam
são, neste referencial pós-moderno, lentes provisórias (conforme o dizem ANDERSON;
GOOLISHIAN, 1988), não derivando seu valor de qualquer pretenso valor verdade,
mas sim de sua utilidade como marco gerador e organizador de significados úteis para a
compreensão dos dilemas humanos e favorecimento de uma prática terapêutica geradora
de mudança. As técnicas, dentro desta concepção, somente podem ser compreendidas
como criadoras de contextos propícios para a mudança terapêutica, derivando seu
valor de sua generatividade para favorecer transformações criativas. Dessa maneira,
uma teoria passa a ser considerada útil conforme ofereça subsídios para a construção
de significados que façam sentido para organizar a experiência vivida pela família e a
evolução do sistema terapêutico.
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CAPÍTULO 2
As escolas e as terapias pós-modernas
Escola estrutural
Na década de 1950 a Teoria Estruturalista tornou visível o conflito entre as teorias
Clássica e das Relações Humanas. A primeira considerava a organização formal sob
uma visão de que para as empresas serem eficientes, deveria ter o foco na estrutura e na
forma. Já a última valorizou a teoria informal, as pessoas e os grupos internos.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Conceito de estruturalismo
O conflito nas organizações pode ser decorrente tanto dos atributos estratégicos,
estruturais, processuais e ambientais quanto de desempenho.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
as pessoas podem ser vistas pelas outras como ríspidas, indignas de confiança, difíceis,
estranhas de lidar. Essas diferenças pessoais podem estimular o conflito.
Alguns autores identificaram a corrente que foi denominada corrente estruturalista cujo
enfoque foi estabelecer uma crítica sobre o que tinha sido escrito até então dentro desse
campo. Com isso foram passados em revista os conceitos da Escola Clássica, de Relações
Humanas e da Burocracia, tomando-se novamente a retórica sobre organizações e sua
complexidade.
As escolas anteriormente estudadas tinham visão parcial dos elementos que compunham
uma organização. E é impróprio considerarmos que o Estruturalismo constitui por si
só um corpo teórico com inovações conceituais sobre a administração, mas não o é
considerá-lo a forma organizada de analisar os mesmos problemas já abordados de
maneira fragmentada.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as famílias são aglutinadas; fronteiras
rígidas caracterizam famílias desligadas. Famílias saudáveis emocionalmente possuem
fronteiras claras. A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente
acessível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém
os dados, escalonamento do stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é
uma terapia de ação e o sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma
determinada estrutura.
Escola estratégica
Escola de Milão
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“jogo” intrafamiliar, ou seja, das regras internas e implícitas que regem a família – e
que, normalmente servem de apoio à sintomática.
A neutralidade é a posição de que o sistema deve ser visto em todas as suas partes,
e todas têm a mesma importância na sua expressão. Na prática é fazer aliança com
todos os membros da família. Além do valor da equipe como um importante recurso no
atendimento, a Escola de Milão trouxe questionamento sobre intervalo entre as sessões,
como um outro recurso terapêutico (BOSCOLO, CECCHIN, HOFFMAN; PENN, 1993).
Nichols e Schwartz (2006-2007) consideram que a Escola de Milão pode ser vista
como estratégica (na origem de seus conceitos e prescrições) e com ênfase na adoção de
rituais, que são ações prescritas para dramatização da conotação positiva.
Escola Construtivista
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A Terapia Sistêmica de Família mudou juntamente com o mundo que já não é mais o
mesmo. As ideias pós-modernas com contribuições dos aportes filosóficos abordando
as questões da linguagem, as teorias sobre a construção conjunta de significado, as
questões de gênero, a ética, as contribuições da nova física e os novos conhecimentos
sobre o funcionamento do cérebro e da mente formaram um pano de fundo para o
surgimento de novas escolas de Terapia de Família.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
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CAPÍTULO 3
Abordagens terapêuticas
pós-modernas
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A família, então, é vista como recurso, como um sistema que tem competências.
Trabalhar em terapia sobre a competência supõe uma grande confiança na capacidade
do sistema familiar em resolver problemas. Ausloos (1995) coloca que todas as famílias
têm competências, mas em certas situações elas não sabem as utilizar, não sabem que
as têm, estão impedidas de utilizá-las, ou ainda, impedem a si próprias de as utilizar por
diferentes razões. O papel do terapeuta ou equipe terapêutica, como ativadora deste
processo de competência familiar. Sobre este aspecto Ausloos (1995) refere que o papel
do terapeuta é de trabalhar com a família para encontrar ou descobrir o que ela sabe
para reinventar soluções e para resolver seus problemas.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
já que a identificação dos problemas com o abuso de drogas é tema recorrente e cada
vez mais crescente. A sociedade em constante processo de mudança aponta para
vivências e sofrimentos da coletividade que se alteram, cabendo a psicologia propor
novas estratégias de enfrentamento desta realidade.
Do mesmo modo, sua personalidade e comportamento são moldados pelo que a família
permite e espera dele. Para Minuchim (1999), o indivíduo é a menor unidade do sistema
familiar. O mesmo autor salienta que ele contribui para a formação de padrões familiares.
As diferentes temáticas que emergiram dos atendimentos familiares realizados
possuem desdobramentos a partir de um conflito central. O conflito que motivou o
atendimento familiar num primeiro momento é identificado em um dos membros da
família. Entretanto, no decorrer dos encontros realizados, a família começa a identificar
como os demais familiares envolvem-se na conflitiva apresentada inicialmente, assim
como, começam a perceber novas possibilidades de entendimento daquele conflito e a
possibilidade uma mudança nos padrões de funcionamento familiar.
Abordagens narrativas
comunidades linguísticas das pessoas, tendo uma dimensão canônica. Entre suas
variações, gostaria de destacar:
Abordagens colaborativas
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Podemos incluir aqui as propostas como a Just Therapy do grupo do Family Centre
da Nova Zelândia (WALDEGRAVE, 1990; 2000). Charles Waldegrave, Kiwi Tamasese
e Wally Campbell, organizam sua abordagem terapêutica em torno de conceitos de
equidade e justiça social, considerando que muitos dos problemas e saúde mental
e de relacionamentos, decorrem das consequências das diferenças de poder e de
injustiças sociais. O grupo propõe que se considerem as influências do macrocontexto
socioeconômico, político, cultural, étnico, de gênero e espiritual no microcontexto
familiar. Para esses terapeutas há significados preferidos para as narrativas emergentes,
edificados em torno de valores promovendo a igualdade de gênero, a autodeterminação
cultural, pertencimento e espiritualidade. Tal proposta coloca o terapeuta no lugar
de um profissional engajado com a transformação das políticas sociais mais amplas,
comprometido com uma ética da igualdade e legitimação da pessoa, encorajando uma
metodologia de ação/reflexão que considere não apenas indivíduos, casais e famílias,
mas comunidades, sociedades e países.
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CAPÍTULO 4
Equipe reflexiva
Enfocaremos um terapeuta que baseia a sua prática, em uma posição narrativa, que
considera que os sistemas humanos são geradores de linguagens e sentidos, (incluindo
o sistema terapêutico), os quais são construídos socialmente dialogicamente, em uma
troca de mão dupla, na qual novos sentidos são criados. O terapeuta passa a ser um
observador- participante que exercita a sua “arte” ao fazer perguntas terapêuticas
a partir de uma posição de não saber, que objetiva a criação dialógica de uma nova
narrativa, que dá um novo sentido para a vida (MCNAMEE; GERGEN, 1998).
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
forma a oferecer uma visão compreensiva dos complexos padrões familiares. A utilização
do Genograma proporciona uma visão do quadro geracional de uma família e de seu
movimento através do ciclo de vida: “Os genetogramas são retratos gráficos da história
e do padrão familiar, mostrando a estrutura básica, a demografia e os relacionamentos
da família” (CARTER; MCGOLDRICK, 1985, p.144). As informações reunidas através
do Genograma incluem nomes e idades de todos os membros da família; datas
exatas de nascimentos, casamentos, separações, divórcios, mortes, abortos e outros
acontecimentos significativos; indicações datadas das atividades, ocupações, doenças,
lugares de residência e mudanças no desenvolvimento vital; e as relações entre os
membros da família.
Por meio dos Genogramas, ao acessar os principais mitos e crenças que norteiam a
vida da família atendida, que a acompanham há gerações e determinam os padrões de
relacionamentos é possível criação de hipóteses sobre o problema clínico da família.
Com isso, é possível fazer determinadas predições sobre os processos futuros que a
família vivenciará baseando-se na utilização do Genograma. De acordo com Bowen
(apud WENDT; CREPALDI, 2007), passado e presente são examinados para se obter
possíveis informações sobre o futuro.
Outro método é impeli-los para frente, em direção às novas gerações. Ao supor que
os sintomas têm continuidade através das gerações, é possível acessar ao rico mundo
simbólico que percorre a família extensiva. Sequências comportamentais que formam
padrões tornam-se organizadas em torno de temas, que frequentemente servem
como metáforas para o tipo de sintoma que é escolhido. A palavra tema quer dizer
uma questão específica emocionalmente carregada, em torno da qual há um conflito
periódico. Visto que há muitos temas em toda a família, o terapeuta procura aquele que
é mais relevante para o sintoma. O entendimento destas crenças e temas serve de base
para a intervenção terapêutica (PAPP, 1992). A compreensão das crenças e dos temas é
deduzida, por meio da escuta da linguagem metafórica, no rastreamento de sequências
comportamentais. “O interesse primário do terapeuta é com o uso do comportamento
e em como a função de uma parte do comportamento está ligada com a função de uma
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
outra parte do comportamento, a fim de preservar o equilíbrio familiar” (PAPP, Op. cit.
p.22).
A ação terapêutica pode ser em si pode ser considerada um ritual, que provoca
uma estrutura espacial e rítmica aos encontros, e pode prescrever rituais singulares
adaptados a cada contexto familiar, os quais permitem que sejam abordadas situações
que seriam explosivas se abordadas de frente. A ritualização terapêutica poderá
apoiar-se em diversos suportes mediáticos, bem como nas suas hibridações recíprocas
(palavras, desenhos, cartas, “objetos metafóricos”, equipamentos técnicos—registros,
sala equipada com um espelho unidirecional, pessoas dos terapeutas, jogos relacionais,
jogos interinstitucionais etc.) (M. SELVINI apud MIERMONT, 1994).
Culturalmente, na época em que os pais eram crianças, não havia uma proteção social
em relação às crianças como existe hoje, acumulando neles então, sofrimentos e
experiências destrutivas para a construção de um eu positivo, em meio a muita solidão.
É necessário que terapeuta fale sobre este tema para proteger a criança maltratada que
existe dentro do adulto. O adulto que comete uma violência é responsável por seus atos
e ao mesmo tempo uma vítima que tem urgente necessidade de proteção e respeito. O
terapeuta deve saber como proteger a criança, vítima atual, sem maltratar mais uma
vez o adulto e sua criança interna.
Para Byng-Hall (1998), o papel do terapeuta então seria propor um modelo de mudança
no qual, ele ajudará a família se sentir segura o suficiente para arriscar a improvisar nos
relacionamentos inseridos nos scripts familiares. A terapia serve desta forma, como
uma base segura que facilita a mudança de um padrão inseguro para um seguro, na
qual novos scripts podem ser criados.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Equipe Reflexiva
Uma das mais contundentes mudanças que as ideias oriundas do Construcionismo
Social acarretaram na clínica pode ser observada na terapia familiar, com o advento
da Equipe Reflexiva, que emergiu dos trabalhos de Tom Andersen (1991). Na terapia
familiar, por ele conduzida, depois de um longo tempo de germinação, segundo
Andersen “a própria ideia forçou seu nascimento” (ibidem p. 33). Após várias situações
de hipóteses e incômodos pessoais dos terapeutas com o processo paralisado, aconteceu
de em determinado momento, a equipe observadora da sessão terapêutica propor um
momento de interação com a família, no mesmo ambiente.
A partir de então, surge a prática da Equipe Reflexiva que, presente no consultório, num
momento em que é solicitada pelo terapeuta de campo, faz uma reflexão sobre o que
ouviu até ali. Espera-se que esse momento seja uma diferença facilitadora da mudança.
Essa crítica curiosa, proposta a partir do Construcionismo tem como uma das bases a
crença de que os significados, as verdades humanas sejam variáveis dependentes do
discurso, das conversações, enfim, da linguagem.
Sobre a reflexão, podemos partir dos estudos sobre as ideias de Tom Andersen, acerca
da adoção de equipes reflexivas, trabalhando sob a orientação dos Processos Reflexivos.
Na terapia familiar, por ele conduzida, depois de um longo tempo de germinação,
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
segundo Andersen “a própria ideia forçou seu nascimento” (p. 33, 1991). Após várias
situações de hipóteses e incômodos pessoais dos terapeutas com o processo paralisado,
aconteceu de em determinado momento, a equipe observadora da sessão terapêutica
propor um momento de interação com a família, no mesmo ambiente.
A partir desse momento divisor de águas, a terapia familiar conduzida por Andersen
e seus discípulos vem delineando novas formas de tratamento e de concepção
epistemológica da Terapia Sistêmica, agregando, inclusive, o estudo da cibernética
como fonte de analogias epistemológica (RAPIZO, 2002).
A abrangência dos estudos acerca dos Processos Reflexivos pode ser verificada nas
ramificações pedagógicas ressaltadas por Schon (1988), num experimento que passou
a criticar a relação de poder\saber entre professor e aluno:
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Este evento pode ser considerado de suma importância para as ideias de que falamos
aqui .É o exemplo claro de uma mudança paradigmática prática.
Como pano de fundo, podemos estabelecer uma discussão sobre o que uma postura
reflexiva pode provocar nas relações tradicionais porque não venho defender a erosão
das relações de poder no cotidiano. Todavia, penso que devam ser criticadas todas.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A relação que aqui fazemos entre reflexão e flexibilidade não é absoluta nem pretende
ser e antes, a apresentação de uma interpretação possível para o que se pode entender
por reflexão.
No campo conceitual, podemos obter várias definições e aplicações para o termo reflexão.
È muito comum que as definições carreguem o sentido de uma ação reflexiva diante de
algo apresentado ou vivenciado. Podemos visitar alguns comentários de Abbagnano
(2007) sobre a definição feita por alguns grandes nomes da história da Filosofia:
Um trabalho focado na reflexão é menos simples do que afetivo. Pode ser encarada
como uma postura frente ao que se nos apresentada.
É comum, em nossos atendimentos, deparamos com situações que nos afetam e nos
provocam. Cada uma dessas situações pode ser encarada como mais um momento em
que o terapeuta deve escutar, acessar sua abordagem teórica de referencia, avaliar como
deve proceder para fazer melhor o seu trabalho.
A postura reflexiva vai além de uma pessoa autocrítica; é ainda, uma postura cuidadosa
e atenta aos afetos em nós provocados pelo encontro com nossos pacientes. Segundo
Leibniz, a reflexão é a atenção dada àquilo que está em nós, enquanto os nossos sentidos
não conseguem acessar tal coisa (ABBAGNANO, 2007).
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Um caráter ressaltado ainda por Abbagnano que consideramos importante apara este
trabalho é o caráter de ação criativa. Tal ideia, proposta por Hegel (IBID) está de acordo
com os pressupostos do Construcionismo Social, quando afirma que “tal ação criativa
traz à luz a verdadeira natureza daquilo que se investiga e, portanto, de algum modo
produz tal natureza” (p. 986). Nas palavras de Hegel, segundo Abbagnano, podemos
identificar algo que pode ser identificado como uma proposta de construção da realidade
pelo sujeito.
Uma ideia importante e básica de seus estudos fala sobre a crítica ao saber apriorístico.
Qualquer que seja, esse saber concorre para uma gama de preconceitos por parte do
terapeuta, que na verdade, acabará eventualmente bloqueando o processo terapêutico,
se tentar adaptar a problemática do paciente a um arcabouço teórico, antes de procurar
investigar a situação e se relacionar genuinamente com a família.
A observação das ideias de Cecchin que são tão bem exploradas e difundidas por
seus predecessores, nos faz considerar a importância da crítica sobre o trabalho do
profissional que conduz qualquer processo terapêutico.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
palavras de McNamee (2004) que fala sobre a chamada promiscuidade teórica, que
além de se preocupar com o olhar crítico e curioso, atenta a para o modo como os
profissionais tomam decisões no processo terapêutico, caminhando no sentido de uma
compreensão do que realmente “significa ser um terapeuta” e fazer um trabalho clínico.
( p.16)
Na terapia familiar, muitas vezes somos como que convidados a adotar uma postura
rígida e talvez mais acessível para nós. A facilidade inicial pode se transformar em
problemas posteriores, que serão observados quando o processo estiver muito limitado.
Nas palavras de McNamee:
A irreverência pode ser encarada, simplesmente, como o ato de não reverenciar. É uma
recusa sem agressividade. Uma recusa que substitui o tom carrancudo de uma recusa
comum por uma alternativa mais produtiva que esta curiosidade.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
A abertura às surpresas do encontro pode ser uma das mais eficazes ferramentas de que
o terapeuta dispõe. Cada encontro é novo, cada encontro é único, e não somos capazes
de prever as forças que irão emergir dele. Entretanto, podemos limitar essas forças,
caso nos mantenhamos firmemente olhando para um único lado do horizonte, caso nos
detenhamos a pensar sobre a validação de nossa abordagem teórica de afinidade.
Algumas palavras não combinam com o que procuramos trazer como objetivos de
terapia: limitação é certamente uma delas. Quando uma forma de ver ou de lidar parece
limitar as possibilidades de ação do sujeito em qualquer situação em que se encontre, a
ampliação pode ser uma boa saída. É disso que falamos o tempo todo quando citamos
a expressão mudança paradigmática.
Para o caso deste trabalho não é diferente. A proposta de uma aproximação entre
Fenomenologia e Construcionismo Social pode ser encarada como uma proposta
de outra visão sobre as coisas. Uma atitude irreverente frente às verdades que nos
transmitem na academia certamente levará a outras estradas a percorrer.
No trabalho de campo
Quando tratamos dos Processos Reflexivos fazemos uma conexão imediata com a noção
de mudanças paradigmáticas que permeia toda a produção de conhecimento nos dias
atuais. A própria ideia de produção passa a ser questionada num momento que costuma
ser chamado por alguns profissionais de pós-modernidade.
Trazemos uma reflexão sobre os processos reflexivos no trabalho de campo para que
possamos situar com algum critério a figura do terapeuta nessa nova forma de trabalhar.
No trabalho desenvolvido por Guanaes (2006), encontra-se algo essencial para este
trabalho. Nas palavras da autora, quando se refere a formas determinadas de se ver o
mundo e a explicações de como as coisas são:
39
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
como construções sociais. Essa perspectiva propõe que é por meio de nossa
participação em práticas discursivas, social, histórica e culturalmente situadas,
que produzimos, conjuntamente, descrições de realidade. (p. 19, 2006).
Alguns aspectos nos parecem de suma importância, quando tratamos dos chamados
Processos Reflexivos na prática clínica. Pretendemos neste capítulo, trazer uma
discussão sobre tais aspectos do ponto de vista do profissional que comanda o encontro
terapêutico, que chamamos aqui de terapeuta de campo.
Em primeiro lugar, a relação com o Conhecimento. Depois de toda uma era em que
se buscava atingir o Conhecimento por meio de métodos e análises criteriosas, tão
próximas quanto possível de verdades científicas, chega-se a um tempo em que a ideia
de que o conhecimento construído ganha força. E é nesse tipo de ambiente que surge,
quase que imperativamente, a concepção dos Processos Reflexivos. A abordagem que
lida com o conhecimento construído trará forçosamente uma nova forma de olhar para
a figura que em outros tempos lá estaria para oferecer respostas e orientações.
Quando passa a fazer parte do sistema, o terapeuta de campo – nesse caso, a figura
observadora – passa também a relacionar-se com o sistema de maneira diferente. Não
está mais em um lugar estável e inabalável de saber ou em posição de dar respostas e
instruções. O novo lugar é um lugar que oferece possibilidades de sensações novas e
hipóteses novas sobre o que esteja acontecendo.
O novo lugar também traz novos desafios, como o incômodo que serviu de mola
propulsora para as modificações no que se chamava de intervenção. A célebre mudança,
que passava a fazer com que o terapeuta de campo consultasse a equipe reflexiva na
presença da família, nos parece contribuir para a ideia do conhecimento construído.
Este nos parece um detalhe crucial para uma aproximação maior e para um conforto
também diferenciado no caso da família. Pensamos que, se a família se sente amparada
durante todo o encontro, poderá sentir-se mais estimulada a contribuir com as ideias
da equipe, que na verdade, serão ideias sobre seu próprio funcionamento. E uma das
principais ideias gira em torno da parceria que experimenta com a equipe reflexiva.
40
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
famílias pareciam trazer um retorno importante para eles nesse sentido. Nas palavras
de Castanho:
No trabalho de campo, o terapeuta se dá conta de que não pode exercer a função sem
considerar a parceria. O profissional reflexivo, em seu trabalho de campo, deve estar
atento ao que ouve e ao efeito que o que ouve lhe causa. Podemos citar as palavras de
Andersen sobre a reflexão, aparecendo esta como “algo ouvido que é internalizado e
pensado antes de uma resposta a ser dada” (p. 35, 1991).
Tendemos a pensar que isso esteja relacionado com o que vem da família, do casal etc.
No entanto, devemos atentar para o que diz e faz a nossa parceria terapêutica. A conexão
com o membro da equipe reflexiva é essencial para que o trabalho seja vivenciado de
forma eficaz por todos os elementos do sistema. Deve-se evitar o afastamento que pode
ocorrer facilmente entre terapeutas e entre terapeutas e pacientes.
Este ponto traz a importância de ser mais uma forma de questionar a validade do
método científico para o campo da terapia familiar. A perspectiva sistêmica contribui
de forma incontestável para tal questionamento.
41
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Mais uma vez, podemos dizer que a mudança paradigmática em relação ao lugar do
observador guarda estreita relação com o teor compreensivo do trabalho orientado
pelos Processos Reflexivos.
Devemos ressaltar que uma postura compreensiva não parece ter sido fácil de alcançar,
mesmo para o próprio Andersen. Na verdade, não é difícil pensar que uma postura
compreensiva seja alcançada depois que você já deu alguns “tiros n’água” com uma
postura explicativa.
Compreender sem explicar parece mesmo pouco natural; parece a metade do caminho.
Mas começamos a perceber a utilidade compreensão quando admitimos que o caminho
não deva ser todo trilhado por nós, quando falamos de trabalho terapêutico.
A ideia de uma postura compreensiva chega ao autor após uma reflexão sobre a sua
própria obra. No capítulo em que trata das reflexões feitas dois anos depois de seu livro,
Andersen nos traz estas palavras:
Este nos parece o cerne do caminho percorrido pelos Processos Reflexivos. Uma
trajetória que vai do extremo das necessidades para o espectro das possibilidades. Sai
das necessidades de dar ao mundo uma razão específica e única para o lugar em que
podemos abrir espaço para a existência de versões variadas sobre uma mesma história.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
O trabalho de campo é uma oportunidade ímpar para que possamos nos desvencilhar
das regras que conhecemos quanto à atitude correta de um terapeuta. Nesse momento,
podemos acrescentar às nossas intervenções clínicas elementos de metaforização
baseados em nossa experiência de vida e perceber como esses elementos podem ser
construtivos num trabalho de compreensão.
Na equipe reflexiva
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Por essas e outras razões, penso que uma discussão sobre a equipe reflexiva venha
forçosamente carregada de subjetividade. O trabalho na equipe reflexiva acaba sendo
um trabalho de autoconhecimento instantâneo, pois passamos a observar com mais
cuidado o que acontece com nós mesmos quando somos tomados pela história de uma
outra pessoa. Naturalmente, as perguntas serão um dos pontos mais importantes dessa
função.
Segundo Tom Andersen (1991), as perguntas que se tornam saudáveis e construtivas são
as perguntas adequadamente incomuns. Perguntas óbvias não nos fariam sair do lugar,
perguntas agressivas e estranhas demais poderiam fazer com que a família se retesasse
em um lugar de resistência à mudança. As perguntas adequadamente incomuns são ao
mesmo tempo intrigantes e sedutoras, fazendo com que o paciente se sinta motivado a
responder e a sair do lugar onde havia fincado os pés.
Se acreditarmos que não haja uma verdade universal, um modo de ser e de estar antes de
sabermos com quem estamos lidando, poderemos, ainda que com dificuldade, manter
a postura de curiosidade e de irreverência tratadas neste trabalho. Além de curiosidade
e irreverência, considero essencial a postura autêntica. Podemos não dizer tudo que
pensamos, mas é funcional, saudável, terapêutico e justo que, quando falarmos, falemos
algo que pensemos genuinamente.
Uma das grandes armadilhas que temos que desarmar quando estamos na equipe
reflexiva é aquela montada por nós mesmos, para nos proteger sabe-se lá de quê.
Podemos imaginar que nos protejamos de fracassos, de sensações desagradáveis
provocadas pela autoexposição, de um olhar crítico do colega, mas no fim das contas, a
necessidade de proteção é sempre uma armadilha nossa para nós mesmos.
O treinamento pelo qual passamos nos anos de cursos de especialização não me parece
ser suficiente para que paremos de nos proteger. Nem sei se devemos parar de nos
proteger. Acontece que muitas vezes pecamos por proteção.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Quando estamos a ponto de fazer uma reflexão pela primeira vez, é comum que
sintamos algo de visceral e estranho, como um desconforto na barriga, ou um ligeiro
descompassar em nossos batimentos cardíacos. Se conseguimos aprender que esta é
tão importante quanto a etapa da segurança.
É imprescindível que olhemos para nós mesmos de uma outra forma, para que
consigamos fazer um bom trabalho que é totalmente “outra forma”. Em meu curto tempo
de trabalho como membro de equipe reflexiva consegui assimilar a ideia de que não
há como evitar uma palavra mal colocada em algum momento. Curiosamente, quanto
menos me importo com as palavras bem colocadas, menos me sinto errando. A procura
do certo me parece uma característica saudável, apesar de nos levar a enrijecimentos
que apenas prejudicam.
O trabalho na equipe reflexiva pode servir para uma nova forma de ver tudo o que
acontece à nossa volta, num encontro terapêutico. Estamos em um outro lugar, não
precisamos conduzir o atendimento .Não precisamos fazer primeiro contato com as
famílias. Podemos, simplesmente estar ali, sem estar ali.
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CAPÍTULO 5
Contribuições terapêuticas
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
A reabilitação extrapola a especificidade das profissões de saúde, cujas ações têm pontos
de inserção que abrem possibilidades para criatividade do agir, que se relacionam
as habilidades e capacidades, tanto dos profissionais como do usuário inserido na
assistência em saúde mental. Leva à reflexão contínua de que não há limite definido para
este processo de buscar de ações que não estejam dentro de um protocolo organizado
academicamente para produzirem reabilitados.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A relação de ajuda abrange vários tipos de relações: com a pessoa e sua família, médico,
professores, terapeutas e outros. O AT caminha nessa mesma direção: utilizar de
forma funcional os recursos internos latentes do indivíduo. O AT é, por si só, um ato
de movimento e de deslocamento do corpo do terapeuta até o corpo do acompanhado,
este trabalho é uma prática que em si já se constitui investida no corpo do sujeito,
portanto corporal, impressa na marca dos movimentos do corpo já no próprio ato de
acompanhar.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Por isso, o presente estudo teve como objetivo apontar e discutir a contribuição do AT
no processo de assistência e reabilitação psicossocial do portador de transtorno mental.
Método
Trata-se de uma pesquisa qualitativa descritiva que aborda a prática do AT fundamentada
em diversos autores e estudos relacionados, analisando os benefícios do AT dentro de
um projeto terapêutico multiprofissional, focando a relação entre o AT e o portador de
transtorno mental e a importância desse encontro.
A usuária participante do estudo (denominada, aqui, Lua) foi escolhida pela equipe
do CAPS, por apresentar o seguinte quadro: diagnóstico de depressão moderada,
transtorno de alimentação, transtorno bipolar, transtorno de personalidade narcisista,
transtorno conversivo e bulimia, desencadeados após um acidente de carro ocorrido há
12 anos, no qual perdeu 90% da visão, passando a enxergar apenas vultos.
O motivo de sua escolha pela equipe referida foi sua limitação e a não aceitação da
condição (deficiente visual), situação que indicava que o AT trabalharia favoravelmente
no alívio de seu sofrimento psíquico e também no enfrentamento de suas limitações
físicas e psíquicas, buscando melhor qualidade de vida. A usuária morava com o avô e a
mãe, a qual, por ser portadora de síndrome do pânico, também fazia parte do programa
de assistência do CAPS.
Lua passava a maior parte do tempo em casa, dormindo, e não demonstrava interesse
por nada. Deveria ir ao CAPS para atividades programadas, mas comparecia apenas na
avaliação do psiquiatra, não se interessando pelos outros atendimentos.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Fato relevante foi o acidente que tornou Lua deficiente visual ter ocorrido seis meses
antes de ela concluir o curso de musicoterapia. Após o acidente, voltou a estudar
concluindo tal curso, teve uma vida social, com amigos e família, saía com os amigos
para se divertir e a família sempre a apoiou em tudo que precisasse. Com o passar
do tempo, Lua foi se afastando dos amigos, se isolando, perdendo o interesse por
tudo. Atualmente, com 32 anos de idade, está obesa, não tem vontade de sair de casa,
desenvolveu alguns transtornos, tem muita ansiedade e apresenta obesidade mórbida.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Assim sendo, a síntese elaborada foi examinada por três examinadores, sendo dois
com formação básica na Área de Ciências Humanas, com grande aproximação à área
específica em questão, ou seja, a Área da Saúde Mental, e, o terceiro, também com
formação básica na Área de Ciências Humanas, mas sem nenhuma aproximação com
a Área da Saúde Mental. Esses examinadores, individualmente, após os exames das
sínteses dos dezesseis encontros, fizeram uma nova síntese, mas agora, estabelecendo
todo o significado de cada um dos encontros, em apenas uma frase. Sequencialmente,
em uma reunião, foram feitas as leituras das frases dos três examinadores e realizada
uma profunda discussão, para, finalmente, através do consenso, serem estabelecidas as
dezesseis frases representativas dos dezesseis encontros.
É importante fazer referência aos debates anteriores sobre este tema e aos seus
resultados, que forneceram fundamentos à sua reflexão, presente na agenda do Serviço
Social brasileiro desde o final dos anos de 1990. Nesse momento conjuntural, de
intensas mudanças societárias, com impactos no mundo do trabalho e repercussões
na profissão, o Conjunto CFESS/CRESS também tomava como desafio a discussão
sobre as competências e atribuições privativas, nos marcos da regulação profissional,
especialmente quanto aos artigos 4o e 5o da Lei no 8.662/1993.
Esses debates foram desencadeados pelo Conselho Federal de Serviço Social – CFESS,
na gestão 1996-1999, posteriormente aprofundados na gestão seguinte (1999-2002),
e sistematizados nas reflexões feitas pela COFI/CFESS e pela Professora Marilda
Iamamoto e, coletivamente, debatidas na categoria, dando origem em 2002 à publicação
“Atribuições Privativas do(a) Assistente Social em Questão”. O Conselho Regional de
Serviço Social –CRESS, 7a Região Rio de Janeiro, Gestão 2002-2005, realizou debates
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Tais publicações constituem, portanto, referências fundamentais para essa reflexão, com
vistas ao seu aprofundamento e ao cumprimento da deliberação da Plenária Ampliada
de 2007. Não se pode, portanto, deixar de reconhecer a importância do debate sobre
este tema e a necessidade de vincular a reflexão a uma preocupação e desafio que já
se colocavam naqueles contextos e que se aprofundam no Serviço Social hoje, ou seja,
em que medida essas práticas terapêuticas se compatibilizam com as competências
e atribuições privativas do assistente social, e de que forma consolidam, no exercício
profissional, o projeto ético-político que representa, hegemonicamente, o processo de
ruptura com o conservadorismo na profissão.
Sem extrair o Serviço Social das condições e relações sociais que lhe conforma – as
relações capitalistas de produção, o que implicaria na sua desistoricização – reconhece-
se que o trabalho profissional ocorre na concretização de um processo que tem como
matéria as diferentes e múltiplas expressões da questão social. Um processo de
trabalho exigente, portanto, de definição clara de objeto, objetivos, instrumentos e
técnicas de atuação, além de referências teórico-metodológicas e ético-políticas, que
dão sustentação aos elementos indicados. Em termos de sua finalidade na realidade
brasileira, encontra-se em acordo com seu projeto ético-político profissional, a defesa,
ampliação e consolidação dos direitos sociais, da democracia e da cidadania, cuja
materialidade implica na realização de ações concretas, viabilizadoras do acesso dos
sujeitos aos serviços e programas sociais.
Sonia Beatriz Sodré Teixeira, (pp. 24-25, 2004) assistente social que desenvolve prática
clínica no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, afirma que:
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Afirma, ainda, que é uma abordagem que privilegia a escuta da demanda imediata, que
pressupõe a participação do assistente social de forma reflexiva, mobilizando recursos
e condições para que as pessoas se “tornem capazes de exercer a crítica e reivindicar
seus direitos sociais”.
Marilda Iamamoto (p. 39, 2004), vem reafirmar que o Serviço Social é uma profissão
que interfere nas relações sociais quotidianas dos sujeitos, no entanto aponta que “não
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
A assistente social Mavi Rodrigues (p. 39, 2002) questiona: o Serviço Social Clínico
aprofunda, faz avançar a direção social estratégica que está presente no projeto ético-
político do Serviço Social ou nega essa direção? A problematização, por ela apontada,
atinge de modo contundente questões importantes que devem ser explicitadas no
debate: numa primeira dimensão, que denomina de técnico-operativa, traz as relações
entre o Serviço Social Clínico e o mercado profissional, analisando a relação entre
demandas e respostas profissionais, onde sustenta “que as demandas profissionais não
ecoam no Serviço Social Clínico” e afirma que este não reconhece as demandas postas
ao Serviço Social.
Explica que o campo socio-ocupacional do Serviço Social está composto das políticas
sociais e dos diversos serviços, programas e benefícios, com competências e atribuições
profissionais relativas à administração, planejamento, gestão e avaliação de programas
e projetos, o que parece não estar posto ao profissional da clínica, uma vez que este se
volta para questões de ordem micro.
Em última análise, significa entender que o “Serviço Social Clínico” não amplia como
às vezes anuncia a atuação profissional, assim como não responde de acordo com o
projeto ético-político. No que se refere aos objetivos das práticas terapêuticas, destaca-
se o autoconhecimento, a facilitação de acesso aos recursos da comunidade, a mudança
subjetiva, o reforço da dinâmica interna de cada indivíduo – autoestima, ajuda
para superação de crises, potencialização da força de vida interna – demonstrando
certa convergência na direção proposta para o trabalho, que apenas ganha sinais
mais expressivos de diferenciação a partir do referencial teórico que serve de base e
fundamento à ação profissional. Daí aparecer como vertentes teóricas a Psicanálise, a
Psicopatologia, a Teoria Sistêmica, a Teoria Construtivista, a
Deste modo, ainda que não se possa afirmar um retorno reacionário do conservadorismo,
análises têm revelado no âmbito da profissão uma espécie de entrada (ou retomada) de
uma perspectiva, afinada com uma direção psicologizante, verificada, sobretudo em
algumas áreas, a exemplo da saúde mental. Isso decorre também de uma compreensão
de que a realidade e as demandas atuais estariam a exigir outros referenciais analítico-
interventivos. Assim, as práticas profissionais vão se afinando de modo acrítico com tais
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Marilda Iamamoto (p. 58, 2004) afirma que o trabalho com indivíduos, grupos e
famílias, obviamente, é parte da nossa matéria profissional: as múltiplas expressões
da questão social, vividas pelos sujeitos, condensam suas necessidades e suas lutas.
Contudo, aponta que é preciso ter claro a abordagem teórica metodológica. Neste
campo do chamado “Serviço Social Clínico”, em que a abordagem psicossocial tem
seus supostos, corremos o risco de retomar o que questionamos no Movimento de
Reconceituação, retomar a tricotomia, caso, grupo e comunidade ou a “pulverização
das especializações (SS clínico do judiciário, da previdência, da habitação).” Aponta,
ainda, que a “abordagem psicossocial na nossa cultura profissional tem a sua história,
uma história que foi submetida à análise crítica nas últimas quatro décadas”.
Afirma que ela não é só um termo, é uma concepção. “É uma maneira de ler as ações
profissionais que norteia a sua efetivação.” Ainda que esse tema mereça um exame
mais atento e rigoroso, observa-se como a problemática é examinada do ponto de
vista do sujeito e não da integralidade do processo. As chamadas práticas terapêuticas,
ao englobarem valores, metodologia e prática voltadas para a perspectiva pessoa-
situação-ambiente, utilizam instrumentais técnico-operativos como diagnóstico,
plano de tratamento psicossocial, atendimento individualizado, anamnese social,
acompanhamento, visitas domiciliares, hospitalares e institucionais, anotações em
prontuários, entrevistas, testes específicos, relatórios, grupo, oficinas terapêuticas,
supervisão clínica, encaminhamentos para especialistas, terapia comunitária, terapia de
orientação sistêmica, estudo trigeracional, utilização de vivências (danças, exercícios,
caminhadas, relaxamento etc.). Vistos desse modo, não se pode depreender que isso lhe
confere por si só uma perspectiva conservadora, uma vez que o uso dos instrumentais
não pode ser analisado fora de toda a estatura teórico-conceitual e ético-política que
lhes envolve e direciona.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
É, também, nisto que consistiria o que Mavi Rodrigues (2002, p. 39), entende a partir de
uma segunda dimensão de sua análise, qual seja, os traços conservadores restaurados
pelo “Serviço Social Clínico” na medida em que tais usos e manuseios servem a uma
finalidade (auto conhecimento, elevação de autoestima, potencialização da força de
vida interna, entre outras) que naturaliza a vida social, encobre problemas típicos da
ordem burguesa e, por fim, desconhece o significado o sócio-histórico da profissão e
destitui o trabalho profissional de todo seu conteúdo político.
Sobre isso não se pode afirmar que o Serviço Social e o projeto pelo qual lutamos e
conquistamos não tenha suficientemente avançado em suas proposições, inclusive em
bases jurídico-legais de sustentação, encontradas na Lei no 8.662/1993, no Código de
Ética Profissional e nas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, cujas respostas profissionais estão ali manifestas
ao se eleger os valores que conferem legitimidade à profissão, ao definir seus objetivos,
ao delimitar direitos e deveres profissionais, ao vincular-se a um projeto societário
radicado na construção de uma sociedade destituída de qualquer tipo de exploração,
seja de classe, gênero ou etnia.
Como bem afirma Iamamotto (p. 55, 2000), o assistente social não trabalha com
“fragmentos da questão social, mas trabalha com indivíduos que condensam, nas suas
singularidades, as dimensões universais e particularidades das relações de classe”.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Uma vez que as interações são várias, as relações familiares assentes em processos de
comunicação permitem o equilíbrio do sistema familiar. Por outro lado, encarando
a família como sistema ela permite através do processo de socialização interiorizar
valores e as normas sociais para a sua formação e desenvolvimento (RELVAS, 1996).
Sendo um sistema aberto está sujeito a apreciações e influências em todo o processo
comunicativo. Havendo relações familiares equilibradas o próprio processo sistêmico
permitirá o equilíbrio do sistema como um todo, ao mesmo tempo em que estabelece
uma ligação com a sociedade, contribuindo desta forma para o equilíbrio social.
Por causa do contato com as pessoas em seu ambiente familiar, o Assistente Social
consegue aproximar-se do vivido e do cotidiano do usuário, observando as interações
familiares, a vizinhança, a rede social e os recursos institucionais mais próximos. Essa
prática supera, em diversos aspectos, a entrevista feita na instituição, pois quando
metodologias de atendimento à família se vê o movimento e o cotidiano das pessoas,
muitos registros ficam na ‘memória fotográfica’ do assistente social.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Nessa direção, a prática dos assistentes sociais está pautada sob duas perspectivas: a
prestação de serviços (concessões de benefícios e auxílios) e as ações socioeducativas
(orientação, prevenção, fortalecimento do grupo familiar).
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Ademais, verificamos um certo ecletismo por parte dos profissionais na condução de suas
ações. Neste estudo evidenciamos que muitas vezes os profissionais têm dificuldade em
explicitar o referencial que guia suas ações, o que indica um desafio para o Serviço Social
na medida em que o conhecimento, elemento constitutivo do trabalho profissional, é
necessário para que o assistente social decifre a realidade e indique as possibilidades nela
contidas. Entendemos que o assistente social precisa estar munido de um referencial
teórico metodológico cuja direção aponte para o compromisso de transformação da
atual ordem societária, da luta por direitos, pela qualidade dos serviços prestados e
para o fortalecimento das famílias. No que concerne ao instrumental técnico operativo,
observamos que o assistente social lança mão de diferentes instrumentos e técnicas
que o auxiliam no trabalho com famílias e nas situações que exigem a sua intervenção.
Alguns instrumentos não são específicos da profissão, como a entrevista, a reunião
de grupo, o prontuário, entre outros, porém, são adaptados dentro dos objetivos do
Serviço Social. Já o parecer social e o estudo social constituem o instrumental próprio
do assistente social. Enfatizamos que este parecer deve ser elaborado com base num
referencial teórico e não nos juízos de valores do profissional.
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
conteúdo compatível com a realidade social vivenciada por cada família, na busca em
despertar e conquistar a emancipação, a autonomia, visão crítica da realidade, projeto
de vida e perspectiva de mudanças.
Nesse sentido, é possível elaborar uma posição, ainda que preliminar, que atribui
às práticas terapêuticas no Serviço Social brasileiro uma natureza conservadora,
podendo-se ainda observar, a partir do que está informado, mas não expresso, vínculos
com projetos societários distintos e antagônicos daquele do projeto ético-político-
profissional.
Desta forma, pensar a prática profissional, de acordo com Iamamotto (2004, p. 81), não
é pensar só no que o assistente social faz, mas é também no como o assistente social
pensa aquilo que faz e a sociedade na qual está inscrito, portanto a prática profissional
envolve como o assistente social explica, interpreta, analisa a sociedade, os sujeitos, a
sua posição profissional. Supõe um substrato teórico-metodológico, histórico e ético.
O Serviço Social é uma profissão que se inscreve na divisão social e técnica do trabalho,
como afirma Iamamoto (p. 54, 2004), é uma profissão que depende da relação entre
Estado e sociedade civil, que depende das relações entre as classes, uma profissão
que é inseparável da “questão social”. “A questão social não se identifica, de forma
simplista, com ‘problema social’, e nem com ‘exclusão”. Assim não se pode pensar tais
elementos – objeto, objetivos, referencial teórico e técnico-operativos – componentes
da cultura profissional, sem levar em conta as expressões que a crise atual vai adquirir
em tais elementos, denotando mudanças de princípios, valores, finalidades, orientações
políticas, referencial técnico, teórico-metodológico, ideocultural e estratégico, assim
como nos modos de operar e nos tipos de respostas construídas. Isto redunda em projetos
profissionais e societários e racionalidades que se confrontam. Por isso a importância
de compreender os elementos constitutivos da crise contemporânea. Tendências e
perspectivas de atuação profissional devem ser apanhadas no contexto histórico uma
vez que, das transformações macrossocietárias recentes – econômicas, políticas, sociais
e culturais – derivam um tipo de abordagem que fragmenta e autonomiza estes aspectos
e abstrai deles o conteúdo político do qual a questão social é portadora, formalizando-a
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
A dimensão subjetiva não é negada no trabalho do assistente social. Mas não é atribuição
privativa, nem tampouco competência deste profissional, realizar um trabalho
terapêutico, fazendo da “psi” e da clínica, a base da sua intervenção profissional, não
encontrando respaldo no estatuto legal da profissão e no arcabouço teórico metodológico
consolidado nas últimas décadas.
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Para (não) Finalizar
Poder-se-ia perguntar o que reúne, então, este campo tão vasto? Podemos compreender,
ao refletirmos sobre esse panorama, que é precisamente esta lógica epistemológica
e hermenêutica que dá coesão e identidade a esta diversidade de possibilidades,
permitindo espaços contínuos por onde podemos transitar, coerentemente, de acordo
com os meios que nos pareçam mais úteis e despertem nosso entusiasmo e criatividade.
O respeito pela diversidade cultural e pela multiplicidade de contextos com seus saberes
locais implica numa terapia construída a partir da aceitação da responsabilidade social
do terapeuta, legitimando os direitos humanos de bem-estar e de exercício da livre
escolha. Uma tal postura coloca-se como imperativa, considerando-se as diversidades
territoriais como, por exemplo, a do meu país de origem, o Brasil, um imenso território
com toda a sua miscigenação cultural, étnica, religiosa e social. Contextos como este,
exigem práticas locais, como por exemplo a desenvolvida por Barreto (s/d), que,
com sua terapia comunitária, trabalhando com camadas de populações econômica e
culturalmente carentes, pode ser considerado um terapeuta do povo, uma espécie de
Paulo Freire da terapia.
Considerar as idiossincrasias dos contextos locais conduz a nós terapeutas para além das
noções tradicionais de cultura, raça, gênero, classe social, com ênfase na complexidade,
para além dos modelos e com espaço para inclusão de questões de espiritualidade.
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REFERÊNCIAS
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Referências
BLOCK, D. A.; RAMBO, A. O início da terapia familiar: temas e pessoas. In: ELKAÏN,
M. Panorama das terapias familiares. São Paulo: Summus, 1998.
ELKAÏM, Mony. Panorama das terapias familiares. São Paulo: Summus, 1998,
v.2.
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
WHITE, M. Guias para uma terapia familiar sistêmica. Barcelona: Paidós, 1994.
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