Você está na página 1de 4

RESUMO

O estudo da leitura passou por diversas modificações a partir da


década de 30. Abordagens como decodificadora, psicolinguística e interacionista
tentaram explicar como funcionava a construção do sentido durante a leitura do
texto. Em nosso trabalho estudamos a leitura com base na teoria de
complexidade da leitura desenvolvida por Franco (2011), que a apresenta como
um ato influenciado por vários fatores, como (leitor, autor, texto, contexto social,
contexto histórico, contexto linguístico, conhecimento de mundo, frustrações
expectativa, crenças e etc.). Identificamos, através de uma entrevista
semiestruturada, alguns fatos que colaboram na construção do significado e
concluímos que, o leitor não utiliza somente fatores linguísticos para dar sentido
ao texto, mas também suas experiências e conhecimento de mundo que são
essenciais nesse processo.

INTRODUÇÃO

Outrora os estudos voltados para o entendimento da leitura como um


ato de decodificação era voltado exclusivamente para o leitor que só podia
desenvolver um significado em um determinado texto por meio da estrutura
gramatical. Observando nessa perspectiva, isso influenciou e ainda influencia o
ensino de língua portuguesa no Brasil, principalmente as aulas de leitura. Nosso
trabalho é trazer a abordagem de leitura complexa, que é esclarecida por Franco
(2011) e entender que o conhecimento do leitor e inserido nesse espaço outros
fatores são os que determinam no processo de interpretação de um texto. Para
clarear essa abordagem, desenvolvemos uma entrevista semiestruturada,
baseada na crônica “A Velhinha de Taubaté” de Luís Fernando Veríssimo.
Entrevistamos três pessoas e, com base em suas respostas, tentamos identificar
como fatores textuais e não textuais foram determinantes para a construção do
significado.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao longo do tempo, a investigação da língua era voltada por meio do


estudo da palavra isoladamente. Segundo Bonifácio e Maciel (2010) a linguística
textual trouxe uma nova perspectiva de estudo da manifestação da linguagem
por meio do texto, isso em resumo quer dizer que era necessário “descrever e
explicar a língua dentro de um contexto considerando suas condições de uso”.
Assim como o estudo da língua evoluiu com o surgimento da linguística textual,
o estudo da leitura e compreensão de textos desenvolveu-se com o passar dos
anos. Entre os anos 1930 a 1960, via-se a leitura como um ato de decodificação
também conhecida como ascendente, onde a construção de sentido surgia por
meio da materialização do texto. Nos anos 60 surgiu uma nova visão que ia em
contraponto a abordagem mecânica, conhecida como psicolinguística, cujo foco
é voltado para o leitor. Com avanços dos estudos da psicolinguística, em 1980
surge uma nova abordagem a partir das ideias de Dell Hymes e Michael Haliday:
A abordagem interacional. Essa vertente é uma mesclagem de características
essenciais das abordagens mencionadas anteriormente. Ela vê a leitura como
uma interação entre o leitor e o texto, buscando desenvolver o significado sem a
existência de uma ordem preestabelecida.

Goodman (1981) afirma que o modelo interacional é aquele em que


usa o texto impresso como input e tem o significado como output.
Contudo, o leitor também fornece input e ele, ao interagir com o texto,
é seletivo em usar as pistas textuais necessárias para construir
significado. Na verdade, o significado não se encontra nem no texto
nem no leitor, mas é construído por meio das interações entre ambos.
(Franco 2011)

A partir dessas vertentes surge a teoria de Franco (2011), o qual


aborda a leitura como um ato complexo. Para o autor, durante a prática de leitura,
ocorre múltiplos agentes (leitor, autor, texto, contexto social, contexto histórico,
contexto linguístico, conhecimento de mundo, frustrações expectativa, crenças
e etc.) que se relacionam ao mesmo tempo. Essa inter-relação é variável, pois à
medida que o leitor aprofunda a interação eles se modificam, tanto o leitor como
os agentes.

À medida que o leitor se complexifica, seu posicionamento em relação


ao texto pode ser inédito. Da mesma forma, os outros elementos
podem se complexificar ao interagir com o leitor. Durante o ato de ler,
suas expectativas, por exemplo, podem ser alteradas bem como suas
crenças podem ser fortalecidas ou enfraquecidas. (Franco 2011)

2. PROCESSO METODOLÓGICO
Tendo como base a ideia de Franco (2011) que a leitura é um ato
complexo, propomos uma análise qualitativa com o objetivo de demonstrar
possíveis interpretações que podem surgir na leitura de um texto. Trabalhamos
com a crônica de Luís Fernando Veríssimo, “A velhinha de Taubaté”.
Desenvolvemos um questionário e com base nas respostas dos entrevistados,
pretendemos identificar os fatores internos e externos presentes na entrevista
que possivelmente influenciaram na construção do significado do leitor.
A entrevista foi realizada com quatro pessoas de idades entre 20 a
55 anos da cidade de Fortaleza, por meio de uma entrevista semiestruturada
com três questões que estão relacionadas com alguns pontos específicos do
texto, onde era preciso ter algum conhecimento de mundo para respondê-las. As
perguntas estão logo abaixo:
1- Após a leitura do texto, quais ideias lhe remete em relação ao
título?
2- Diante do contexto político da crônica e levando em
consideração os seus conhecimentos de mundo, o que dá a entender as
expressões “até” e “no Delfim Neto”?
3- Segundo o contexto político e situações que o texto se encontra,
para você qual foi a real causa da morte da velhinha? Explique.
Logo após iremos analisar cada resposta e buscar explicar em
quais contextos essas elas estão inseridas na complexidade da leitura.

Para responder a primeira pergunta, dois dos entrevistado


relacionaram o título com a notícia da “grávida de Taubaté”. Entendemos assim
que, para criar o significado ao título os entrevistados associaram ao
conhecimento prévio de mundo a história da falsa grávida de Taubaté e assim
remetendo a história chegaram a entender que o título se referia a algo falso. Os
outros participantes tiveram outra pespectiva. Para justificar o título, os
participantes recorreram ao conhecimento cultural da região em que nasceram,
o qual, o nome de uma pessoa famosa era associado a cidade em que ela mora
ou nasceu.

Na segunda pergunta os leitores apresentaram dificuldades para


desenvolver um significado para os termos, pois, segundo eles, não conheciam
e também não conseguiram identificar um fato histórico que remetesse a nossa
questão. Franco (2011) relata esse momento como uma mudança inesperada a
qual a falta de compreensão do texto causa uma desordem ao leitor que tende
fazer com que ele busque refazer suas interações com outros elementos do texto
para que consiga um novo referente. Em nossa entrevista, percebemos que para
criar um novo referente, eles buscaram pistas textuais na crônica.

Percebemos nas respostas da terceira pergunta a descrença e a falta


de credibilidade que foi construída ao longo dos anos na política brasileira foi o
fator determinante para as respostas, pois os entrevistados relacionaram a morte
ao desgosto que a personagem sofreu com passar dos anos, acentuando que
não há político honesto. E que por ainda acreditar que existiam políticos
honestos a velhinha teria tido um choque de realidade e assim causando sua
morte.

A partir das entrevistas pode-se comprovar que o significado não é


construído somente por fatores linguísticos presente no texto, e sim, é
desenvolvido numa interação entre leitor e texto. Cada entrevistado usou do seu
conhecimento histórico, social, suas crenças, frustrações e outros fatores para
compreender o texto. Entendemos que a leitura é um ato complexo e não deve
ser tratada apenas como uma ação decodificadora, pois dessa forma, excluímos
a grande participação que o leitor tem na construção do sentido do texto.

Referências
Barros Demétrio, A. K., Alves, L. E., & Costa, M. H. (2016). Compreensão (con)textual

em mídias sociais digitais. Signo.

Bonifácio, C. A., & Maciel, J. W. (2010). Linguística Textual. Fonte: Biblioteca Virtual :

http://biblioteca.virtual.ufpb.br

Franco, C. d. (2011). Por uma abordagem complexa de leitura. Fonte: Claudio Franco:

http://www.claudiofranco.com.br/textos/franco_ebook_leitura.pdf

Hanks, W. F. (2008). O que é contexto? São Paulo: Contrix.

Você também pode gostar