O ponto de partida para compreensão de toda a história do povo judeu, incluindo
os marranos e os denominados cristãos-novos deve ser a própria Bíblia. Com ela nós poderemos compreender em detalhes a origem e a missão do povo judeu e a conseqüente perseguição. Não é propósito aqui discorrer sobre gênese do universo e do ser humano, tentarei abordar este assunto de uma forma bem imparcial, sem levantar nenhuma questão doutrinária ou sectária. Mas, a bíblia relata claramente que Deus criou os céus, os mares, a terra e tudo o que nela existe. No mesmo capítulo primeiro do livro de Gênesis, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, ordenando que ele, o homem, fosse seu único semelhante dotado de inteligência e capacidade de criar e dominar sobre toda a terra. Em seguida, D-us os abençoou (homem e mulher), concedendo poder a eles que fossem bem sucedidos e prósperos, dando-lhes a ordem: - “frutificai e multiplicai; enchei a terra e sujeitai-a”. (Gn. 1: 26-28) Se somos capazes de entender um pouco da filosofia e da crença judaica, entenderemos melhor este povo, seus costumes e tradições. Depois no capítulo doze do mesmo livro de Gênesis encontramos D-us escolhendo o patriarca Abraão para que dele fosse gerado uma grande nação, um povo com um propósito específico. Mas, ao mesmo tempo através deste homem chamado Abraão, não só o povo judeu é originado, mas por meio da fé deste homem seriam abençoadas todas famílias da terra (Gn. 12: 2-3). Abraão teve dois filhos, o primeiro foi Ismael gerado com a escrava egípcia de Sarah, Agar, uma vez que esta era neste momento estéril. Depois D-us celebra uma aliança com Abraão, ordenando sua circuncisão como sinal deste pacto e se cumprindo a profecia que foi dada a Sarah, sua mulher, a chegada um herdeiro legítimo, fruto da senilidade de ambos: Isaac. Assim Isaac gera Jacó e deste saíram as doze tribos de Israel. Resumindo, Abraão, Isaac e Jacó passaram a ser os patriarcas do povo judeu e toda origem do povo judeu, bem como, de Ismael saiu a descendência do povo árabe que se separou naquela época de Abraão e seu filho, indo viver nas planícies de Sanear, no lado mais sudoeste da terra de Israel. Devido a fome José, filho de Jacó que havia sido vendido como escravo a Potifar do Egito, ocupando posição de destaque junto ao Faraó, traz seus pais, seus onze irmãos e sua parentela para o Egito. No futuro eles dariam origem as doze tribos de Israel. Com a queda de José da corte do faraó egípcio, o povo hebreu viveu por mais de quatrocentos anos como escravo naquela terra. Assim, a vida do povo hebreu na condição de escravo foi mais uma conseqüência circunstancial do que uma perseguição. Após a libertação e saída do Egito, sob a liderança de Moisés, este povo ruma pelo deserto em direção à terra prometida por D-us a eles: a terra de Canaã, a terra que corre leite e mel. Eles tiveram muitos inimigos como os amalequitas, os cananeus, heveus, amorreus, heteus, jebuzeus, perizeus e outros, os quais sentiram-se ameaçados com aquele grande povo peregrinando entre eles em suas terras. Mas um fato que iria gerar um certo ciúme em outros povos e uma mudança radical no estilo de vida do povo judeu, foi o recebimento das tábuas da lei aos pés do monte Sinai. Ali, Deus se manifestou a este povo de maneira peculiar, acrescentando- lhes através de Moisés, posteriormente, todos os outros mandamentos, estatutos e ordenanças. Este fato é de suma importância e seria conhecido por toda a humanidade, quando D-us faz deste povo um povo peculiar, o qual passou a crer num só Único D-us, o criador dos céus e da terra e tudo o que nela há. Imaginem, até então, todos os povos do mundo eram pagãos, idólatras, vivendo e cultuando seus inúmeros deuses. Havia quase um deus para cada necessidade humana, como o deus da felicidade, o deus da colheita, a deusa do trovão, da tempestade, a deusa dos prazeres carnais, etc. Os povos eram polígamos e viviam cada um conforme as próprias leis. Tentem imaginar que conflito e discordância que isto causou ao povo judeu ao qual foi revelado como primeiro mandamento: “Eu sou o Senhor teu D-us e não terás outros deuses diante de mim... não terás imagens esculpidas; não as farás e nem as adorarás; não tomarás meu nome em vão; santificarás o dia de Sábado; honra teu pai e sua mãe; não matarás; não adulterarás; não furtarás; não direis falso testemunho contra o teu próximo; não cobiçará a casa do teu próximo e nem tua mulher (Ex. 20: 3- 17). Moisés, inspirado pelo próprio D-us se revela ao povo dizendo: “Shemá Israel, Adonai Eloheinu Adonai Echad”, que quer dizer: “Ouça, Oh Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Como se sentiriam seus vizinhos e outros povos quando tomavam conhecimento que existe um povo por aí que foi tirado miraculosamente da escravidão do Egito, e que agora tem por herança uma terra prometida por um D-us que é superior a todos os deuses do mundo e além de tudo, é o único? Isto passou a significar, todos os outros são falsos! Estava, então criado o conflito com os outros povos. Este D-us mostrava a este povo o caminho pelo deserto através de uma nuvem, que não só os guiava, mas os protegia do calor do dia e à noite os aquecia com uma coluna de fogo? (Nm 9:15 – 21). Que privilégio é este que os outros povos não têm? Além do mais, este povo passa a dizer que não se pode roubar, desejar a mulher do próximo, não matarás, etc. Isto seria uma loucura para o mundo e o ódio já estaria fustigado contra este povo, mesmo antes que o mesmo tivessem direito a uma terra. A grande verdade que é difícil de ser aceita pelos outros povos é que a lei chamada Lei de D-us, através de, centenas de mandamentos, inúmeros estatutos e ordenanças , abrangendo princípios e condições, preservando o senso de justiça, melhor qualidade de vida através de uma alimentação diferenciada, quer no modo de vestir, trabalhar, no modo de cultuar e adorar um único D-us, gerou no povo judeu uma filosofia peculiar os levando a destacar em superioridade e prosperidade sobre outros povos . Além do mais, eles não se misturavam e não se deixavam ser assimilados filosoficamente e culturalmente por nenhum outro povo. O exílio de 70 anos da Babilônia é um bom exemplo desta não assimilação por outros povos. Nabucodonozor tentou de todas as formas dominar, escravizar e desfazer esta nação. Mas, através de Esdras e Neemias, este povo volta à terra de Israel, reconstrói os muros, o Templo, a cidade e lá se estabelecem novamente. Como se não bastasse, aparecem dezenas de profetas nesta época falando em nome deste D-us Todo- Poderoso que da linhagem deste povo viria o Messias de Israel, o Redentor e Salvador para toda humanidade que nele cresse. Se analisarmos profundamente estes pontos até aqui enumerados, o mundo já teria motivos suficientes para antipatizar e perseguir este povo. Poder-se-ia citar vários exemplos deste terrível ódio e perseguição aos judeus. Tivemos o exílio na Babilônia e depois durante o domínio grego-sírio-persa. Basta ler sobre a história da rainha Ester que encontramos o terrível Hamã querendo exterminar o povo judeu. A luta dos judeus macabeus por volta dos 130 anos aC. contra o domínio helenista e a profanação do Templo. Hoje sabemos que apenas os cristãos crêem que Jesus, o Cristo veio como Messias. Mas, imaginem se toda a humanidade cresse que este Jesus, nascido de uma virgem em Belém, criado em Nazaré, filho de Davi, da tribo de Judá, que morreria numa primeira vinda numa cruz como oferta pelo pecado da humanidade, ressuscitaria dos mortos, e no final dos tempos restauraria voltaria à nação de Israel como Rei dos reis, trazendo para ela seus filhos dispersos pelo mundo, salvando-os, implantando a paz tendo como centro de seu reino a cidade Jerusalém, Israel, para estabelecer nesta terra o Reino milenar de glória e poder sobre todas as nações esta perseguição já estaria sendo ainda muito pior.
Espartacus
Escravo latino nascido na Trácia, Originalmente pastor e depois soldado romano,
desertor do exército e chefe de uma quadrilha até ser preso e vendido para uma escola de gladiadores (73 a. C) em Cápua, sul da Itália, pertencente ao lanista Lêntulo Baciato, ex-legionário e ex-gladiador. Segundo Plutarco, auxiliado pelos gauleses Crixo e Enómao, ele e vários companheiros conseguiram fugir da escola (73 a.C.) e uniram-se progressivamente a vários outros escravos dos latifúndios vizinhos formando um exército de gladiadores rebeldes, que se refugiaram nos montes escarpados do Vesúvio. Crasso, como provavelmente todo romano daquele tempo, não conseguia levar a sério a revolta de escravos, considerados uma espécie de criança grande, umas almas sem autonomia ou força para se tornarem inimigos efetivos da grande potência e designou não mais que uma centúria para a região de Nápoles a fim de eliminar os insubordinados. Os 100 soldados foram facilmente dominados e passados na espada pelos revoltosos. Usando táticas de guerrilhas, derrotou as tropas de cerca de 3 mil homens, do pretor enviado de Roma, Cláudio Glaber. Com essa vitória, pequenos proprietários arruinados, desempregados e escravos engrossaram as fileiras dos rebeldes. Um novo pretor foi enviado, Públio Varino, mas também foi derrotado. Quando Roma finalmente se conscientizou do tamanho do problema, teve de enfrentar um exército de 60 mil escravos fugitivos, das mais variadas nacionalidades, que atacavam em turba. Foi preciso reunir dez legiões inteiras, algumas chegadas da Espanha, para resolver acabar com a ameaça. O exército rebelde foi dividido, com uma parte, cerca de 20 mil rebeldes, permanecendo no sul sob o comando de Crixo, enquanto a outra sob o comando do chefe maior se dirigiu ao norte com o objetivo de atravessar os Alpes e chegar à Gália e depois, a sua terra natal, a Trácia. Após ser surpreendido pelas tropas do cônsul romano Gélio Publícola, Crixo morreu durante a batalha, no Monte Gargano, na Apúlia. Após aniquilar os rebeldes do sul, Gélio e seus comandados uniram-se com as tropas de Lêntulo Clodiano e dirigiram-se para o norte, porém ambos foram derrotados pelos rebeldes. Aproximando-se de Roma seus comandados foram atacados pelo exército de 10 mil homens do governador da Gália Cisalpina, Cássio, mas também saiu vitorioso. Com mais essa derrota, o Senado romano enviou o general Crasso para enfrentar os rebeldes que venceram mais uma vez, porém a luta fez com que o ex-escravo e chefe supremo dos rebeldes desistisse definitivamente de atacar Roma e voltar para o sul da Península Itálica, atravessando toda a Lucânia até alcançar o Mar de Brútio. Traídos pelos piratas da Cilícia, subornados pelos espiões de Crasso, e isolados pelo exército do general romano, os rebeldes que começam a passar fome. Desesperadas e famintas suas tropas atacaram o exército romano e apenas cerca de 1/3 conseguiu escapar, mas foram destroçadas pelas tropas de Pompeu, que dava cobertura a Crasso. Em sua última batalha, cercado por muitos inimigos, continuou a lutar até que caiu sob as espadas dos centuriões. Apenas 6 mil rebeldes sobreviveram, mas por poucos dias: todos foram crucificados numa interminável e tenebrosa fila ao longo dos 200 quilômetros da Via Ápia, de Cápua a Roma.
Tiradentes
Tiradentes ( Joaquim José da Silva Xavier) (1746-1792), é considerado o grande
mártir da independência do nosso país. Nasceu na Fazenda do Pombal, entre São José ( hoje Tiradentes) e São João del Rei, Minas Gerais. Seu pai era um pequeno fazendeiro. Tiradentes não fez estudos das primeiras letras de modo regular. Ficou órfão aos 11 anos; foi mascate, pesquisou minerais, foi médico prático. Tornou-se também conhecido, na sua época, na então capitania, por sua habilidade com que arrancava e colocava novos dentes feitos por ele mesmo, com grande arte. Sobre sua vida militar, sabe-se que pertenceu ao Regimento de Dragões de Minas Gerais. Ficou no posto de alferes, comandando uma patrulha de ronda do mato, prendendo ladrões e assassinos. Em 1789 o Brasil-Colônia começava a apresentar algum progresso material. A população crescia, os meios de comunicação eram mais fáceis a exportação de mercadorias para a metrópole aumentava cada vez mais. Os colonos iam tendo um sentimento de autonomia cada vez maior, achando que já era tempo de o nosso país fazer a sua independência do domínio português. Houve então em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais, uma conspiração com o fim de libertar o Brasil do jugo português e proclamar a República. Uma das causas mais importantes do movimento de Vila Rica foi a independência dos Estados Unidos, que se libertara do domínio da Inglaterra em 1776, e também o entusiasmo dos filhos brasileiros que estudaram na Europa, de lá voltando com idéias de liberdade. Ainda nessa ocasião não era boa a situação econômica da Capitania de Minas, pois as Minas já não produziam muito ouro e a cobrança dos impostos ( feita por Portugal) era cada vez mais alta. O governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, resolveu lançar a derrama, nome que se dava à cobrança dos impostos. Por isso, os conspiradores combinaram que a revolução deveria irromper no dia em que fossem cobrados esses impostos. Desse modo, o descontentamento do povo, provocado pela derrama, tornaria vitorioso o movimento. A conjuração começou a ser preparada. Militares, escritores de renome, poetas famosos, magistrados e sacerdotes tomaram parte nos planos de rebelião. Os conspiradores pretendiam proclamar uma república, com a abolição imediata da escravatura, procedendo à construção de uma universidade, ao desenvolvimento da educação para o povo, além de outras reformas sociais de interesse para a coletividade. Uma das primeiras figuras da Inconfidência foi Tiradentes. O movimento revolucionário ficou apenas em teoria, pois não chegou a se realizar. Em março de 1789, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que se fingia amigo e companheiro, traiu-os, denunciando o movimento ao governador. Tiradentes achava-se , nessa ocasião no Rio de Janeiro. Percebendo que estava sendo vigiado, procurou esconder-se numa casa da rua dos Latoeiros, atualmente Gonçalves Dias, sendo ali preso. O processo durou 3 anos, sendo afinal lida a sentença dos prisioneiros conjurados. No dia seguinte uma nova sentença modificava a anterior, mantendo a pena de morte somente para Tiradentes. Tiradentes foi enforcado a 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, arrasaram a casa em que morava e declararam infames os seus descendentes. Escravidão
Após quase um século de sucessivos fracassos, em 20 de dezembro de 1695,
uma tropa mercenária, contratada pela Coroa portuguesa e os usineiros de açúcar da então capitania de Pernambuco no Nordeste brasileiro, trucidavam o último foco da resistência armada dos escravos que passaria à história como o Quilombo dos Palmares. Seu líder, conhecido pelo nome de guerreiro africano, Zumbi, era morto em um combate heróico e desigual. Sua cabeça seria decepada do corpo, enfiada em uma estaca e exibida em na praça principal de Olinda até descarnar-se totalmente, para mostrar que o grande líder negro não era imortal e para meter medo nos escravos e prevenir futuras rebeliões. A repressão contra o Quilombo de Palmares não se esgotou com a morte de Zumbi. A historiografia oficial procurou retirar legitimidade histórica à resistência negra, com o argumento de que, caso saíssem vitoriosos, os quilombolas teriam transformado o Brasil em um outro Haiti, ou seja, liquidado a cultura européia, lusitana, substituindo-a pela barbárie africana e condenando o país a um atraso sem perspectivas de redenção, concepção esta que ignora o atraso nacional existente, causado justamente pela predominância e longa sobrevivência da escravidão contra a qual lutavam os quilombolas de Zumbi: "A todos os respeitos, menos indiscutível é o serviço relevante prestado pelas armas portuguesas e coloniais, destruindo de uma vez a maior das ameaças à civilização do futuro povo brasileiro, nesse novo Haiti, refratário a todo o progresso e inacessível a toda civilização, que Palmares vitorioso teria plantado no coração do Brasil" (Os Africanos no Brasil, Nina Rodrigues). Na década de 40, iniciam-se no Brasil o estudos negros voltados para recuperar a verdade histórica sobre a escravidão, a situação do negro e suas lutas. Um dos pioneiros deste gênero proscrito de historiografia, Édison Carneiro, escreve o clássico O Quilombo dos Palmares onde, pela primeira vez, a história da epopéia dos escravos é relatada sobre a base de uma documentação rigorosa e um método científico. Escrito em pleno Estado Novo - que foi, entre outras coisas, um regime de segregação racial - o livro é proibido e tem que ser publicado pela primeira vez no estrangeiro. Na década de 70, a luta dos escravos será resgatada pelas tendências nacionalistas e foquistas, sendo Zumbi transformado em símbolo da resistência nacional ao imperialismo, da mesma forma que em outros países latino-americanos o foram os líderes das grandes rebeliões indígenas como Tupac Amaru e Tupac Catari. Os historiadores deste período (Décio Freitas, Palmares, a guerra dos escravos, originalmente, Palmares, a guerrilha dos escravos; Clóvis Moura, Quilombos e rebelião negra) buscam apresentar a guerra dos escravos como um antecedente da luta guerrilheira dos anos 60 e 70. O nacionalismo, ao contrário do marxismo, procura, como movimento político apoiar-se no mito. Assim como a luta de José Marti foi o mito dos guerrilheiros de Fidel Castro, Tupac Amaru, o de vários movimentos sul americanos, Zumbi foi um dos heróis semi-mitológicos das tendências foquistas (VAR Palmares!) no Brasil. Este fato não diminui, de forma alguma, o serviço prestado de resgatar a experiência histórica que a classe dominante procurou, sempre, enterrar no esquecimento. A crise da ditadura militar, onde novamente intensificou-se a opressão do negro, com manifestações de aberta segregação racial, levou ao surgimento de um novo movimento negro como parte da luta antiditatorial do movimento estudantil e operário. Esta nova vaga da mobilização política do negro brasileiro terá maior envergadura que a do período 45-64, expressa nos Congressos negros da década de 40 inspirados pelo próprio Édison Carneiro e outros, cuja atividade política se colocava claramente nos marcos do nacionalismo burguês varguista. O movimento do final dos anos 70 levará à constituição do Movimento Negro Unificado, um primeiro esforço de dar um caráter unificado e nacional às tendências políticas do movimento negro e, pela primeira, vez de claras características nacionalistas, ou seja, de afirmação do negro como parte oprimida da sociedade e de condenação das tentativas de "integração racial" que, em absolutamente nada, modificaram a sorte da segundo maior população negra do planeta, maior que todos os países africanos, com a exceção da Nigéria. O impasse do incipiente nacionalismo negro brasileiro - que nunca conseguiu definir um programa ou criar uma verdadeira organização política, apesar do seu começo vigoroso na luta contra a ditadura - não impediu o crescimento de uma consciência embrionária e de uma mobilização negra, impulsionada pela situação geral subalterna do negro no interior da sociedade brasileira, formando a camada mais miserável da população, que abrange a maioria dos desempregados, dos sem-teto, ganhando salários mais baixos que os brancos, continuando a ser vítima preferencial da arbitrariedade judiciária e da violência policial e tendo bloqueada todas as possibilidades de ascensão social, a começar pela própria universidade, onde os negros que perfazem cerca de 60% da população do país constituem menos de 5% do total de matrículas. A grande repercussão dos 300 anos do martírio de Zumbi, que a própria imprensa burguesa reconheceu, para evitar cair no ridículo, ser um "herói ignorado pela história", inclusive com a inédita benção oficial é expressão do crescimento das contradições sociais e da revolta do negro (Fernando Henrique Cardoso, ladeado pelo ex-rei do futebol e ministro dos Esportes, Pelé, e a senadora petista Benedita da Silva, compareceram ao município de União dos Palmares, no Estado de Alagoas, na Serra da Barriga, próximo ao legendário mocambo do Macaco, centro da resistência Palmarina, para prestar a homenagem cínica do representante maior dos opressores da nação ao herói dos oprimidos).