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Volume 1
Livro de
atividades
©Shutterstock/Ollyy
CDD 373.33
©Editora Positivo Ltda., 2017
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.
Introdu çã o ao es tudo 01
da literatura
Conceito de literatura e texto literário
O TEXTO LITERÁRIO
dialoga linguagem
com realidade É o trabalho com a linguagem para que esta dialogue
esteticamente com a realidade.
apresenta
expressividade, Modo de expressão por meio do qual se pode despertar reflexão.
promove a reflexão
complexidade e Possibilita novas visões sobre os mundos social, físico e
densidade psicológico.
Sempre se pode extrair um sentido, mesmo sendo ele
culturalmente ou historicamente distante do leitor.
literatura
Utiliza a língua corrente, que é retrabalhada de modo que forme
é uma forma de
apresenta uma realidade paralela.
novas visões
conhecimento
sobre o mundo
É uma forma de conhecer o mundo, pois, primeiro, registra
situações próximas àquelas em que os leitores estão situados,
depois as transmite.
Os textos literários se diferenciam dos demais produzidos na
sociedade por várias razões, entre elas sua expressividade e
retrabalha sempre se extrai densidade.
a língua corrente um sentido dela
Linguagem literária
Literariedade e plurissignificação
Na literatura, as palavras significam mais do que o sentido literal, pois têm caráter múltiplo, pelo fato de ser recorrente a linguagem metafórica,
figurada. Diferentemente dos textos jornalísticos ou científicos, que são bem mais objetivos, os literários carregam alta carga semântica. O que
caracteriza um texto literário, portanto, é o trabalho com a linguagem, de maneira que esta conte com uma expressividade específica, denomi-
nada literariedade.
Origem da literatura
Inicialmente, a literatura existiu na modalidade oral e passou a ser registrada muito tempo depois, com a invenção da escrita.
Funções da literatura
Dar acesso a conhecimento, ser fonte de divertimento, fazer pensar.
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Atividades
1. Como observou Erico Verissimo, os escritores, por meio de palavras, acendem lâmpadas para “fazer luz sobre a rea-
lidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão”. Essa frase foi retirada do texto a seguir. Leia-o.
Solo de clarineta
Às vezes, tarde da noite, homens batiam à porta da farmácia ou da nossa residência, trazendo nos braços,
ferida e sangrando, alguma vítima das brutalidades dos capangas do chefe político local ou alguém que
fora “lastimado” numa briga Capoeira ou no Barro Preto. Lembro-me de que certa noite – eu teria uns
catorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de
operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia
Municipal haviam “carneado”. Eu terminara de jantar e o que vi de relance inicial me deixou de estômago
embrulhado. A primeira coisa que me chamou a atenção foi um polegar decepado, que se mantinha pen-
durado à mão esquerda da vítima apenas por um tendão. O ferimento mais horrível de todos era o talho,
provavelmente de navalha, que rasgara uma das faces do caboclo duma comissura dos lábios até à orelha.
Tinha-se a impressão de que o homem estava sorrindo de tudo aquilo. Seus olhos conservaram-se abertos
e de sua boca não saía o menor gemido. Um golpe, provavelmente de adaga, lhe havia descolado parte
do couro cabeludo. Pelo talho do ventre escapava-se a madrepérola dos intestinos. Foi a primeira vez na
vida que senti de perto o cheiro de sangue e de carne humana dilacerada. Apesar do horror e da náusea,
continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer,
por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar
essa vida? Por incrível que pareça, o homem sobreviveu.
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que
o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada,
fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma
lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente,
como um sinal de que não desertamos de nosso posto.
VERISSIMO, Erico. Solo de clarineta: memórias. 20. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 64-65. v. 1.
a) No trecho, as ideias de luz e de escuridão são empregadas de forma metafórica. Que relações podem ser estabe-
lecidas entre essas duas metáforas?
No texto, a luz, demonstrada na ação de segurar a lâmpada, simboliza a lucidez diante da realidade; a escuridão seria
ignorância dos fatos. Iluminar, portanto, seria um ato de civilidade, ao denunciar a realidade, ou, ao menos, dá-la a conhecer.
b) Quando o autor afirma que o escritor faz luz sobre a realidade, que sentido atribui à escrita literária? Qual é a função
da literatura para Erico Verissimo?
Fazer luz sobre a realidade é denunciá-la, revelá-la, ou seja, ao escritor cabe denunciar aquilo que lhe parecer em desacordo com
lastimado: que é objeto de lástima, sofrimento, pena. madrepérola: parte interna, brilhante e colorida, das conchas.
caboclo: mestiço de branco com índio; pessoa do campo, de modos simples. atrocidades: crueldades.
comissura: união, encontro de duas partes. desertamos: abandonamos alguma obrigação.
Literatura 3
Quando um texto apresenta características literárias, diferencia-se de outros produzidos na sociedade, embora possa
tratar dos mesmos temas. Para observar essa característica, leia os textos a seguir e responda às questões de 2 a 5.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
2. Sobre o que tratam os dois textos? Selecione a alternativa que informa o tema adequadamente.
a) Alimentação saudável
X b) Catadores de lixo
c) Espécies animais
d) Reciclagem
3. Cada texto tem um objetivo. Preencha as lacunas abaixo, no comentário sobre a função desempenhada por cada um
dos textos.
O texto de Manuel Bandeira tem como uma de suas principais funções promover a reflexão do leitor :
inicialmente, não informa a respeito de quem revira o lixo,
depois, surpreende o leitor ao informar que se trata de um homem . No texto de Angela Lacerda, a prin-
cipal função é informar sobre um acontecimento localizado numa cidade do estado de Pernambuco,
onde crianças morreram em razão da ingestão de alimento retirado de um lixão .
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4. Aponte, a seguir, as diferenças de composição entre os textos, relacionando as colunas.
a) Manuel Bandeira ( a ) Escrito em verso.
b) Angela Lacerda ( b ) Inicia-se com um lide, que resume as informações.
( b ) Escrito em prosa.
( a ) Apresenta ritmo.
( a ) Retrabalha a linguagem corrente.
( a ) Não apresenta caráter informativo.
( b ) Texto claro e objetivo.
5. Qual dos textos apresenta literariedade? Justifique.
O texto de Manuel Bandeira apresenta literariedade, pois mostra uma nova visão sobre um problema do mundo de modo expressivo:
embora não contenha rima nem forma fixa, tem ritmo e musicalidade.
(ENEM) O poema a seguir, de Manoel de Barros, é base para as questões 6 e 7. Leia-o atentamente.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In: PINTO,
Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia brasileira do século 21.
São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.
Literatura 5
6. É próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em geral, de menor importância no
mundo moderno. No poema de Manoel de Barros, essa valorização é expressa por meio da linguagem
a) denotativa, para evidenciar a oposição entre elementos da natureza e da modernidade.
b) rebuscada, com neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno.
c) hiperbólica, para elevar o mundo dos seres insignificantes.
X d) simples, porém expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu lírico.
e) referencial, para criticar o instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.
7. Considerando o papel da arte poética e a leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-se que
a) informática e invencionática são ações que, para o poeta, correlacionam-se: ambas têm o mesmo valor na sua poesia.
X b) arte é criação e, como tal, consegue dar voz às diversas maneiras que o homem encontra para dar sentido à própria vida.
c) a capacidade do ser humano de criar está condicionada aos processos de modernização tecnológicos.
d) a invenção poética, para dar sentido ao desperdício, precisou se render às inovações da informática.
e) as palavras no cotidiano estão desgastadas, por isso à poesia resta o silêncio da não comunicabilidade.
(IBMEC) Utilize o texto a seguir para responder às questões de 8 a 11.
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vida toda. Dizer que os livros daqueles escritores entretêm seria injuriá-los, porque, embora seja impossí-
vel não ler tais livros em estado de transe, o importante de sua boa literatura é sempre posterior à leitura
– um efeito deflagrado na memória e no tempo. Ao menos é o que acontece comigo, porque, sem elas,
para o bem ou para o mal, eu não seria como sou, não acreditaria no que acredito nem teria as dúvidas e
as certezas que me fazem viver.
(Mario Vargas Llosa, in: O Estado de S. Paulo, 1996)
8. Dos fragmentos seguintes, aponte aqueles que também atribuem à literatura uma função cívica e transformadora.
I. As palavras escritas frequentemente escoiceiam as verdades oficiais, como cavalos alados. Mordem os
torturadores, atacam os corruptos e os burocratas, conduzidas pela ética de quem as organiza. Além
disso, elas nos fazem sonhar; abrem portas, janelas, cofres, alçapões e caixas de Pandora; permitem
que as flores nasçam em pleno asfalto; transformam o naufrágio da velhice num tempo de ventura,
quando restam apenas o homem e a alma.
(Rodolfo Konder in O Estado de S. Paulo, 8/3/1999)
II. Pertenço àqueles que ainda acreditam que livros impressos têm um futuro e que todos os receios ‘a
propos’ de seu desaparecimento são apenas o exemplo derradeiro de outros medos ou de terrores
milenaristas em torno do fim de alguma coisa, inclusive do mundo.
(Umberto Eco in Folha de S. Paulo, 14/12/2003).
III. Heráclito disse – e já repeti isso em demasia – que ninguém desce duas vezes o mesmo rio. Ninguém
desce duas vezes o mesmo rio, porque suas águas mudam. Mas o mais terrível é que nós não somos
menos fluidos do que o rio. Cada vez que lemos um livro, o livro mudou, a conotação das palavras é
outra. Ademais, os livros estão impregnados do passado.
(Jorge Luis Borges. Cinco Visões Pessoais. p. 20. Editora UNB)
X a) I e IV
b) II e III
d) II e IV
e) III e IV
c) I e III
9. Assinale a alternativa que melhor corresponde à ideia central do texto de Mario Vargas Llosa.
a) Os meios audiovisuais diminuíram o poder da palavra escrita.
b) O papel cívico da literatura está na complexidade do conteúdo da obra e dispensa o leitor.
c) O avanço da tecnologia audiovisual contribuiu para a morte da literatura.
X d) A literatura que não mobiliza o leitor torna-se estéril.
e) A literatura light possibilita a fuga da realidade objetiva.
Literatura 7
10. “[...] os mecanismos da vida social como os livros de Tolstoi e de Balzac, ou os abismos e os pontos altos que podem
coexistir no ser humano, como ensinaram as sagas literárias de um Thomas Mann [...].”
Segundo o fragmento, a natureza humana é
a) insegura e instável.
b) introspectiva e desequilibrada.
c) solitária e imprevisível.
d) efêmera e contrastante.
X e) complexa e ambígua.
11. A metáfora que dá título ao texto refere-se
a) ao papel secundário dos livros na sociedade imagética.
b) ao anacronismo dos escritores clássicos.
X c) aos escritores que negam a literatura de entretenimento, de caráter efêmero.
d) ao desprestígio dos autores consagrados.
e) aos escritores que tentam emocionar seus leitores.
12. (ENEM) Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos.
Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; falo somente do que falo: a vida seca,
áspera e clara do sertão; falo somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e
na míngua. Falo somente para quem falo: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria
no Nordeste.
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