Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
12
OS ONZE ANOS DA LIMNOLOGIA NO
ESTADO DO MARANHÃO
IBAÑEZ, M. S. R.
Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Oceanografia e Limnologia
Praça Gonçalves Dias, 21 – Centro, 65020-240, São Luís, Maranhão, Brasil
ABSTRACT: Eleven years of Limnology in Maranhão State. A synopsis about the origin and
evolution of Limnology in Maranhão State is presented, containing comments about its actual situation
and perspectives.
INTRODUÇÃO
OS LIMNÓLOGOS E A INTERDISCIPLINARIDADE
.
(da esquerda para a direita) 1. Nivaldo Magalhães Piorski, 2. Viviane Moschini-Carlos, 3. Marcelo Luiz Martins
Pompêo, 4. Maria do Socorro Rodrigues Ibañez, 5. Maria José Saraiva Lopes, 6. Naiza Maria Castro Nogueira,
7. Maria Marlúcia Ferreira Correia, 8. Ilka Maria Prazeres Paixão, 9. José Policarpo Costa Neto, 10. Rica Barbieri.
Quanto à taxonomia vegetal, o Maranhão pode contar com a colaboração de Guacyra de Lavor
Fernandes (Lavor-Fernandes, 1988; 1990), Maria Marlúcia Ferreira Correia (Barbieri et al., 1989), Célia
Leite Sant'Anna, Carlos Eduardo de Matos Bicudo, Denise de Campos Bicudo e Raimundo Paulo
Barros Henriques, principalmente. Maria José Saraiva Lopes (Lopes, 1981/82; 1988), Janet W. Reid
(Turner & Reid, 1989), Takako Matsumura-Tundisi, Odete Rocha, Arnola C. Rietzler e Evaldo Luís
Gaeta Espíndola ofereceram contribuições na área de taxonomia do plâncton animal. Por outro lado,
Cecília Volkmer Ribeiro, desenvolveu estudos inéditos sobre as esponjas na região da Baixada e dos
Lençóis.
Ambientes afetados pela eutrofização cultural como a Lagoa da Jansen foi investigada pelo
pesquisador Jorge Salomão Boabaid Ribeiro. O fenômeno da pororoca no Rio Mearim foi avaliado
cientificamente por Bjorn Kjerfve e Helder Oliveira Ferreira.
A geologia e geomorfologia da extensa bacia do Rio Itapecuru foi analisada pelos geólogos
Ismar de Souza Carvalho e Francisco José Correia Martins.
Uma nova geração, sobretudo de pós-graduandos está sendo formada por pesquisadores como
Maria do Carmo Calijuri, Pedro Américo Cabral Senna, Claudia Padovesi Fonseca e Paulo Roberto
Saraiva Cavalcante, responsáveis pelas orientações de Andreia Araújo, Naiza Maria Castro Nogueira,
Dayani de Fátima Pereira e Mariano Oscar Anibal Ibañez Rojas, respectivamente.
4
O Maranhão possui características singulares quanto à sua fisiografia pois situa-se numa região
de transição entre a floresta tropical úmida e o sertão árido sendo dividido em sete regiões, cada uma
delas representada por diferentes biomas (Pré-Amazonia, Cocais, Litoral, Planalto, Cerrado, Baixada e
Chapadões).
O Estado é bastante privilegiado em termos de recursos hídricos tanto subterrâneos, pois ocupa
a segunda posição no Nordeste, quanto superficiais devido a nove grandes bacias hidrográficas,
predominantemente perenes (Ibañez, 1991). As peculiaridades de alguns ecossistemas aquáticos que
têm sido alvo de investigação serão descritos a seguir.
BAIXADA MARANHENSE
A várzea maranhense (1.775.035,6 ha) é formada pela invasão em terras baixas das águas dos
cursos inferiores do Rio Pericumã, Turiaçu e Mearim com seus dois grandes afluentes, o Pindaré e o
Grajaú. Os solos aluvionários de origem geológica recente conferem à região grande fertilidade e
riqueza biológica, sobretudo da fauna ictiológica.
Os inúmeros lagos dessa malha fluvial formam extensivos cordões (Lopes, 1970) entremeados
pela predominância de matas de galeria adaptadas à alagação no caso do Turiaçu, gramíneas no
Pericumã e o mangue nas porções sujeitas ao ciclo de marés. O regime hidrológico condiciona a
existência de uma diversificada fauna e flora adaptadas à grande elasticidade dos ambientes. A caça e
pesca predatórias vêm comprometendo a fauna local.
A introdução de rebanho bubalino proveniente da Ilha de Marajó, com sua superpopulação em
certos municípios, vêm causando problemas não só ambientais como a pastagem de gramíneas e
ciperáceas, o revolvimento e a compactação dos sedimentos, bem como sócio-econômicos face à
imposição de um modelo pecuarista extensivo e predatório em detrimento da pesca, vocação natural da
área.
Outros problemas ambientais como o desmatamento dos manguezais, as queimadas, a
implantação de projetos agrícolas e de irrigação, doenças de veiculação hídrica a exemplo da
esquistossomose e outras agravadas pela ausência de saneamento, a pressão antrópica exercida por 84%
da população economicamente ativa na região, aliados à influência de parte do trecho da estrada de
ferro Carajás, vêm comprometendo esses frágeis ecossistemas, detentores de lençol freático raso e
considerados similares à várzea amazônica mas com singulares atributos e mecanismos de
funcionamento.
O RIO ITAPECURU
LENÇÓIS MARANHENSES
AS AGÊNCIAS DE FOMENTO
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA
REFLEXÕES CRÍTICAS
• A crescente perda das matas ciliares e a redução da biodiversidade das bacias lacustres e fluviais,
com o inevitável empobrecimento dos recursos pesqueiros;
• Redefinição de novas unidades de conservação abaixo do paralelo latitudinal de 04° 00', que
contemplem mormente as nascentes de grandes rios, uma vez que a maioria dessas unidades
estão acima desse limite;
• Busca incessante de integração entre todos os órgãos responsáveis pela gestão dos recursos
hídricos sejam federais, estaduais ou municipais;
E por fim, não menos relevante, o oportunismo de alguns consultores que vêm ao Estado a
serviço de empresas estatais e particulares em busca de dados secundários, sem o mínimo senso ético e
de respeito pela inteligência local.
SÍNTESE E PERSPECTIVAS
Se a Limnologia é considerada uma ciência relativamente recente (Margalef, 1983), essa área do
saber no Estado do Maranhão encontra-se numa fase todavia pueril de sua existência, quando
comparada com a de outras regiões do país.
A consolidação de um programa de pós-graduação para a formação de profissionais
competentes para o exercício dessa profissão tem sido uma grande lacuna.
O programa denominado Ecologia e Recursos Naturais Tropicais, proposto pelo
Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão é um fato
concreto que aguarda atualmente parecer favorável da CAPES para a sua implementação em março de
2000.
8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alumar/Billington/Alcoa. 1985. Documentos Maranhenses. D. Frei Cristovão de Lisboa. História dos animais e
árvores do Maranhão. Editorial Alhambra, 130 p.
Aranha, F.J., Ibañez, M.S.R., Ferreira-Correia, M.M., Carvalho, I.S. and Martins, F.J.C. 1998.
Limnology, geomorphology and aspects of the ciliar vegetation of Itapecuru river basin (Maranhão,
Brazil). Verh. Internat. Verein. Limnol. 26: 857-859.
Barbieri, R., Ibañez, M. do S., Aranha, F. de J., Correia, M. M. F., Reid, J. W. and Turner, P. 1989.
Plâncton, produção primária e alguns fatores fisico-químicos de dois lagos da Baixada Maranhense.
Rev. Bras. Biol. 49 (2): 399-408.
Castro, A. C. L. 1997. Características ecológicas dos peixes da Ilha de São Luis - MA. Bol. Lab. Hidrob.
10: 1-18.
Damazio, E., Ferreira-Correia, M.M. e Medeiros, T.C. 1989. Golfo do Maranhão: Levantamento
Bibliográfico sobre Oceanografia, Biologia Marinha e Ecologia Marinha. Cad. Pesq. São Luis, 5 (2):
41-86.
Espíndola, E.G., Rocha, O., Moschini-Carlos, V., Rietzler, A., Tundisi, J.G., Matsumura-Tundisi, T.,
Pompêo, M. and Ibañez, M. S. 1998. A comparative study on the diversity of the flora in tropical
and subtropical freshwaters, I: The periphytic algae. An. Acad. Bras. Ci. 70(4): 776-784.
Garavello, J.C., Rocha, O., Espíndola, L.E.G. e Leal, A.C. 1998. Diversity of fauna in the interdunal
lakes of "Lençóis Maranhenses": II - The ichtyofauna. An. Acad. Bras. Ci. 70 (4): 797-803.
Gopal, B. and Wetzel, R. G. 1995. Limnology in developing countries. International scientific publications, New
Delhi, India, 230 p.
Lavor-Fernandes, G. de L. 1988. Microfitoplâncton no estuário do Rio Paciência, Paço do Lumiar,
Maranhão. Bol. Lab. Hidrob. 8: 23-44.
Lavor-Fernandes, G. 1990. Composição e variação do microfitoplâncton no estuário do Rio Tibiri em
são Luis, Maranhão, Brasil. Cad. Pesq. UFMA. São Luis. V. 6(1): 45-59.
Ibañez, M. S. R. 1991. Recursos hídricos: potencial e uso. In: Diagnóstico dos principais problemas ambientais
do Estado do Maranhão, IBAMA/SEMATUR, São Luis, LITHOGRAF, 193 p.
Ibañez, M. S. R., Silva, R. N. M., Aranha, F. J. 1999. Rio Itapecuru: percepção ambiental de ribeirinhos
de nove municípios da bacia. Anais do XX Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental,
2260-2267.
Lopes, M. J. S. 1981/82. Zooplâncton do estuário do Rio Anil - São Luis - Maranhão. Bol. Lab. Hidrob.
V.IV (1) 77-95.
Lopes, M. J. S. 1988. Levantamento prévio do zooplâncton da Lagoa da Jansen, São Luis, M Maranhão
(Brasil). Bol. Lab.Hidrob. 8: 61-80.
Lopes, R. 1970. Uma região tropical. Editora Fon-Fon e Seleta. Rio de Janeiro. 197 p.
Margalef, R. 1983. Limnología, Ediciones Omega, S. A.,Barcelona. 1009p.
9
Mattews, H.R., Ferreira-Co Pia, M.M. e Sousa, N.R. 1977. Levantamento da fauna aquática da Ilha de
São Luis (Estado do Maranhão, Brasil). I Molusca. Bol. Lab. Hidrobio., São Luis, 1(1): 9-12.
MMA, 1996a. Macrodiagnóstico da Zona Costeira do Brasil na Escala da União. MMA, UFRJ, FUJB, LAGET
- Brasília: Programa Nacional do Meio Ambiente. 280p.
Mochel, F. R. 1991. Unidades de conservação e áreas indígenas: a proteção de um espaço vital do solo
maranhense. In: Diagnóstico dos principais problemas ambientais do Estado do Maranhão,
IBAMA/SEMATUR, São Luis, LITHOGRAF, 193 p.
Pitombeira, E. da S. e Morais, J.O. de. 1977. Comportamento hidrodinâmico e sedimentológico do
estuário do Rio Bacanga (São Luis, Estado do Maranhão, Brasil). Arq. Ciênc. Mar. Fortaleza, 17(2):
165-174.
Paixão, I. M. P. 1980. Estudo da alimentação e reprodução de Mvlossoma duriventris, Cuvier 1818 (Pisces,
Characoidei) - Manaus, dissertação de mestrado INPA, 127p
Pompêo, M.L.M., Moschini-Carlos, V., Costa-Neto, J.P., Cavalcante, P.R.S., Ibaflez, M.S.R., Correia,
M.M.F. e Barbieri, R. 1998. Heterogeneidade espacial do fitoplâncton no reservatório de Boa
Esperança (Maranhão, Piauí, Brasil, Acta. Limnol. Brasil. 10(2): 101-113.
Riettzler. A.C., Pompêo, M., Rocha, O., Espíndola, E.L.G., Moschini-Carlos, V and Barbieri, R. 1998.
A comparative study on the diversity of the flora in tropical and subtropical freshwaters, II: The
macrophyte community. An. Acad. Bras. Ci. 70(4): 785-791.
Silva, R.N.M., Jedeon, A.D. e Rodrigues, E.E. 1999. Rio Itapecuru- água para o consumo humano
(dados físicos e químicos das águas do baixo curso do Rio Itapecuru, 1993- 1998), Anais do XX
Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, 3814-3820.
Tundisi, J.G., Matsumura-Tundisi, T., Rocha, O., Espíndola, L.E.G., Rietzler, A.C., Ibanez, M.S., Costa
Neto, J.P., Calijuri, M.C. and Pompêo, M.L.M. 1999. Aquatic biodiversity of habitats and
functioning mechanisms. An. Acad. Bras. Ci., 70(4): 767-773.
Turner, P.N. and Reid, J.W. 1988. Planktonic rotifera copepoda and cladocera from lagos Açu and
Viana, state of Maranhão, Brasil. Rev Bras.Biol., 48(3): 485-495.
Williams, W.1). 1994. Constraints to the conservation and management of tropical inland waters. Mitt.
Internat. Verein. Limnol. 24: 357-363.