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Tecnologia na Construção
São Paulo, 22 de março de 2018
O
mercado da construção
do Brasil, visando ganhar
competividade, encontrou
na inovação uma saída
para aumentar a qualidade dos seus
produtos, reduzir custos e melhorar
a transparência dos projetos ligados
ao setor público. A aposta é no BIM,
sigla em inglês para Building Informa-
tion Modeling (ou Modelagem de In-
formações da Construção), tecnologia
que possibilita a criação de modelos
virtuais em 3D e organiza as informa-
ções referentes às obras de maneira
automatizada e precisa, viabilizando
controle e gestão mais eficientes do
que as plataformas usadas até hoje.
Para expor a importância e os be-
nefícios do uso dessa tecnologia, a Câ-
mara Brasileira da Indústria da Cons-
trução (CBIC), em correalização com o
Senai Nacional, promoveu no último
dia 15 o seminário BIM: Oportunidade
para Inovar a Indústria da Construção
e Aumentar a Transparência das Com-
pras Públicas. O evento foi realizado no
hotel Royal Tulip, em Brasília, e reuniu Bilal Succar, professor
cerca de 130 pessoas, em sua maioria da Newcastle
representantes do setor público. University (Austrália)
Entre os palestrantes, estavam em-
presários da construção, gestores pú-
Théo Lima
CBIC e Senai Nacional Eficiência, controle de Comitê estratégico Empresários contam como Para presidente da CBIC,
trabalham em parceria para custos e transparência interministerial trabalha a tecnologia trouxe uma momento é ideal para
informar e orientar setor justificam uso da tecnologia em uma política de adoção revolução na maneira implementar a plataforma
da construção sobre BIM. em obras públicas. do BIM no Brasil de fazer negócios na cadeia da construção
Este material
Esteé produzido
material épelo
produzido
Media Lab
peloEstadão
Media Lab
comEstadão.
patrocínio da CBIC.
ESPECIAL Tecnologia na Construção 2
MENOS FRAUDES
O professor também considera o
Brasil bem posicionado em termos
de pesquisa sobre BIM. Nessa via-
gem, ele visitou pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP), da
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e da Universidade Federal
do Ceará (UFCE), e se impressionou
com o que viu. “A USP e a Unicamp
não lideram só localmente; elas são
universidades de nível internacional,
fazem um grande trabalho.”
Na opinião de Succar, o evento
dá um sinal de maturidade sobre o
tema no País. “É impressionante ver
a CBIC enxergando o futuro com cla-
reza e decidindo se engajar em vez
de só sentar no meio-fio e não fazer
nada.”, disse.
No Brasil e em outros países, o
BIM é visto como uma arma contra
a prática de corrupção em obras no
setor público. Como esse conjunto
de processos permite maior visibi-
lidade e um compartilhamento de
dados mais ágil, ela dificulta fraudes
e aumenta a transparência dos pro-
iStock
jetos. O pesquisador concorda, e cita
Para Succar,
a Itália como exemplo: lá, o governo
incentivou o uso do BIM fazendo
menção explícita à necessidade de
reduzir os desvios em obras públicas.
avanços no Brasil
do BIM, e uma das barreiras para isso
são os custos envolvidos na aquisi-
ção dos programas e no treinamento
de equipes, que levam empresas a
resistir à implantação desse proces-
Pesquisador radicado na Austrália elogia engajamento so. O professor entende essas preo-
de entidades, governo e empresas cupações, mas lembra que, se uma
A
empresa não muda, um concorrente
adoção do BIM está ama- Civil do Estado de São Paulo (Sindus- vai acabar ocupando esse espaço.
durecendo no setor da con-SP), época em que as discussões “O empresário costuma pensa no
construção no Brasil, com sobre esse tema estavam apenas sur- ROI [return on investment, ou retorno
uma atuação importante gindo no País. sobre o investimento], mas não foca
de entidades, empresas, governo e “A tomada de consciência aumen- em outro ROI, o risk of inaction [risco
universidades para disseminar esse tou muito. A dúvida deixou de ser ‘de- da inação], e isso é mais importante.
processo, afirma o professor e pes- vemos fazer?’, ou ‘vão me pagar mais É melhor mudar pela sua própria for-
quisador Bilal Succar, da Newcastle para trabalhar com BIM?’ e se tornou ça do que ser levado pelo governo
University (Austrália), que abriu o ‘devemos fazer desse jeito ou daque- ou pela concorrência.”
primeiro painel do seminário BIM: le?’, ou ‘vamos priorizar esse passo Além da resistência aos valores e
Oportunidade para Inovar a Indústria ou aquele?’. Não parece muito, mas à mudança, outro desafio que Suc-
da Construção e Aumentar a Transpa- isso é uma grande conquista”, diz o car vê na disseminação do BIM – não
rência das Compras Públicas, iniciati- especialista. somente no Brasil, mas no mundo
va da CBIC, em correalização com o Ele crê que a crise econômica ini- – é a defasagem tecnológica. Ele
Senai Nacional, na cidade de Brasília. ciada em 2015 tenha desacelerado faz referência a hardwares, estrutu-
Essa foi a segunda visita de Succar a disseminação do BIM, mas aprova ras de redes e banda larga, que, se
Théo Lima
ao Brasil. Na primeira, em 2013, este- o nível de envolvimento do poder apresentarem problemas, impedem
ve em um encontro promovido pelo público nesse sentido. “O governo a colaboração e a integração dentro
Sindicato da Indústria da Construção tem algumas opções. Uma delas é só O pesquisador Bilal Succar, da Newcastle University da cadeia da construção.
BIM permite
criar modelos
virtuais em 3D
A
Câmara Brasileira da In- entre outros dados, de acordo com esse conjunto de processos. “Precisá- conjunto de processos é um investi- tivar o uso da tecnologia no País.
dústria da Construção a necessidade dos envolvidos, os vamos introduzir um trabalho prático mento. “Construir e projetar com mais “O BIM só vai ganhar força no Bra-
(CBIC) e o Serviço Nacio- objetivos de uso da informação e em inovação, e escolhemos o BIM qualidade torna as empresas mais sil, como vimos no Reino Unido, na
nal da Indústria (Senai) a fase referente ao ciclo de vida do porque, além de possuir característi- competitivas, e quando você passa por França e no Chile, no momento em
trabalham em uma parceria para empreendimento. cas afins, já estava sendo utilizado em um surto de crescimento, como o que que mais pessoas saibam utilizar a
disseminar o uso do BIM no Brasil algumas organizações pioneiras”, diz estamos projetando com o uso dessa ferramenta, e quando o governo
– conjunto de processos de contro- DO COMEÇO AO FIM Dionyzio Klavdianos, presidente da tecnologia, você só tem a lucrar”, diz. usar sua força no setor de construção
le e gestão de obras já em uso no O conjunto de processos que podem COMAT/CBIC. Ele acredita que o poder público contratando empresas que utilizem
exterior, e que tem o potencial de ser integrados, e até acompanhados Depois da publicação e divulgação será peça fundamental para incen- a tecnologia”, afirmou.
revolucionar o ramo da construção online, dá suporte ao projeto ao longo da coletânea, a CBIC e o Senai Nacio- “Ele pode ser custoso em um pri-
civil no País, mudando a cultura de de todas as suas fases, mesmo depois nal realizaram em 2017 um roadshow meiro momento, mas muda a dinâ-
toda a cadeia produtiva do setor e de seu fim, e a inteligência gerada pelo Brasil, mostrando o BIM em 14 mica das empresas. A parceria entre
trazendo novos parâmetros de qua- leva a melhores análise e controle. cidades e a cerca de 2 mil pessoas. Senai Nacional e a CBIC pode ajudar
lidade e eficiência aos projetos. Além disso, a construção se torna Klavdianos diz que foi necessário muito, pois traz incentivos para dimi-
O BIM permite criar modelos virtu- mais sustentável, já que se pode me- explicar as vantagens e diferenças do nuir o custo do treinamento, demo-
ais em 3D, combinando objetos tri-
dimensionais que correspondem aos
dir sua eficiência energética e avaliar
os materiais a serem empregados, de-
BIM em relação a outros processos.
“Muitos acham que é só uma evolu-
Essa iniciativa cratizando o conhecimento”, afirma
Klavdianos, da CBIC.
componentes que serão utilizados cisões que levam à redução de custos ção do projeto 3D, mas ele tem toda ajudará as A parceria entre o Senai Nacio-
nas obras e facilitando a adequação e ao menor desperdício. uma inteligência por trás, vai além de nal e CBIC existe há oito anos, e um
das informações aos A CBIC, vendo o poten- uma mera evolução”, afirma. empresas do de seus objetivos é potencializar a
projetos.
Esses modelos,
cial transformador dessa
tecnologia na indústria MUDANÇA DE CULTURA
segmento a prestação de serviços à indústria da
construção por meio dos Institutos
além de conterem da construção, começou Um desafio a ser enfrentado para a enfrentar os Senai de Tecnologia e dos Institutos
as medidas e a re- em 2014 um projeto vi- disseminação do BIM no Brasil é a Senai de Inovação.
presentação geo- sando à sua dissemina- mudança na cultura da cadeia pro- desafios do Marcelo Prim, gerente-executivo
métrica e gráfica dos
materiais de que são
ção no Brasil. Em 2016, a
entidade lançou, em cor-
dutiva da construção. A utilização
dessa tecnologia requer novos méto-
atual ambiente de Tecnologia e Inovação do Senai,
acredita que a parceria com a CBIC
compostos, podem realização com o Senai dos de trabalho e de relacionamento econômico vai democratizar a informação e
ter também especi- Nacional, uma coletânea entre engenheiros, arquitetos, pro- melhorar o ambiente de negócios
ficações, datas, pra- Coletânea BIM- publicação sobre o BIM, compilando jetistas, consultores, contratantes e MARCELO PRIM , da construção civil no País. “Essa
zo de garantia, nome traz informações uma série de informações construtores. gerente-executivo iniciativa ajudará as empresas do
da empresa respon- completas sobre fundamentais para os Para Paulo Sanchez, líder do proje- de Tecnologia e segmento a enfrentar os desafios do
sável pela instalação, a plataforma interessados em adotar to BIM na COMAT/CBIC, apostar nesse Inovação do SENAI atual ambiente econômico”, afirma.
cada pela entidade em correalização as diferentes necessidades e utili- redução média de 3% a 5% dos
com o Senai Nacional. dades. De acordo com Dyonizio An- custos das obras que utilizam a
No entanto, segundo ele, o “de- podemos realizar coisas novas, que A possibilidade de melhor visuali- tonio Martins Klavdianos, a parceria plataforma. Alguns mercados es-
grau tecnológico” é muito maior ago- eram impossíveis e impensáveis, como zação do projeto, a coerência da do- da CBIC com o Senai Nacional ser- tão mais avançados na adoção da
ra. “No CAD, os processos não mu- simulações de desempenho de consu- cumentação e a extração automática virá para fomentar o aculturamento tecnologia, como São Paulo, que
daram, eles continuaram baseados mo de energia, comportamento estru- de dados representam uma evolu- dos profissionais quanto às opções teria entre 30% e 35% das constru-
em desenhos e projetos. Com o BIM, tural, sombreamento etc.”, afirma. ção gigantesca. “O BIM não é um fim de ferramentas disponíveis no mer- ções usando o BIM.
Ivo Mainardi,
Théo Lima
supervisor BIM do
Metrô de São Paulo
à gestão pública
graram-se ao projeto, com diferentes sua vez, é parte de algo ainda maior,
níveis de responsabilidade. que é a busca pela sustentabilidade.
A Companhia Paulista de Trens Me-
COMPREENSÃO tropolitanos (CPTM) é outra empresa
E EFICIÊNCIA pública que busca uma solução para
Com o objetivo de alcançar um en- ter mais eficiência. A companhia criou
Custos mais racionais duas frentes. A primeira, iniciada em encontrar soluções coordenadas e volvimento efetivo das pessoas, os em 2017 um departamento específico
e maior transparência 2013 junto à Gerência de Projetos livres de problemas construtivos. gestores do programa buscaram voltado para a qualidade de projetos,
Básicos Civis (GPR), já levou a duas O desafio é maior na construção compreender como o BIM poderia no qual o BIM é fundamental. Depois
justificam o uso pelo obras: uma foi a Estação Ponte Gran- da Estação Ipiranga, que ainda está influenciar nas suas rotinas e dentro de fazer pilotos com base em modelos
poder público de, na Linha 2-Verde, entregue em em execução. Com 32 modelos no das especificidades das suas funções, existentes, uma equipe interna usou os
O
2015; a outra é a Estação Ipiranga, projeto, envolvendo diversas disci- ouvindo os funcionários em vez de processos para criar cinco projetos de
BIM, processo que re- da futura Linha 15-Prata, que estará plinas, a coordenação para integrá- implementar políticas de cima para acessibilidade de estações, dos quais
voluciona a maneira de interligada ao Aeroporto de Guaru- -los é difícil, mas, segundo Mainardi, baixo. Como resultado, os metroviá- três foram desenvolvidos por equipes
criar, projetar, construir lhos por monotrilho. está trazendo bons resultados. rios que participam do projeto acei- multidisciplinares em uma “sala BIM”,
e manter construções, é No painel “Oportunidades do BIM A segunda frente do BIM no Metrô é taram bem a inovação, aumentando uma espécie de laboratório onde são
uma solução estratégica para levar em Contas Públicas”, o supervisor BIM um projeto corporativo chamado ino- sensivelmente o conhecimento so- desenvolvidos projetos usando a tec-
eficiência, redução de custos e maior do Metrô, Ivo Mainardi, disse que seus vAçãoBIM: ele pretende fazer com que bre o BIM entre o início e o fim de nologia. Duas obras estão começando
transparência às obras públicas do benefícios ficaram claros na definição o processo seja assimilado por todas 2017. Além disso, integrou o plano a ser executadas.
Brasil. Algumas iniciativas expostas do projeto no caso da Estação Ponte as áreas em que tenha algum impacto. de negócios de 2018 da estatal: das “Um dos benefícios de desenvol-
no seminário da CBIC mostram que Grande, mais detalhado que o usual, “O BIM é sobre pessoas, e não tecno- 50 metas indicadas para a compa- ver isso internamente foi capacitar a
isso já é uma realidade, enquanto ampliando as suas possibilidades de logia”, disse Mainardi. “Ele precisa es- nhia no ano, ele está presente em 17. equipe, já que alguns funcionários
outras evidenciam os desafios que o análise. Além disso, foram obtidos tar não só na mente de todos, mas no Mainardi considera importante dar tinham pouca experiência em fazer
setor público enfrenta. avanços na compatibilização, ou seja, coração.” Para isso, foi feito, a partir de ao BIM a devida importância, tirando projeto”, disse Eduardo Tavares de
O Metrô de São Paulo trabalha na sobreposição entre os diferentes 2017, um trabalho junto a funcionários um pouco do peso da sua suposta Lima, líder do departamento, no se-
com esse conjunto de processos em projetos que compõem a obra para do Metrô para que conhecessem me- complexidade. Para ele, é fundamen- minário da CBIC.
Pioneira em busca
de transparência
Santa Catarina foi o primeiro estado ção, o setor público tem característi-
a usar o BIM na gestão pública, a par- cas que aumentam o desafio de ado-
tir do diagnóstico de que a inovação tar processos como o BIM. Uma delas
seria um instrumento importante no é a lógica da carreira do funcionalis-
planejamento e no controle de obras, mo, que faz com que muitos órgãos
reduzindo atrasos e erros de projetos mantenham um quadro de profissio-
e diminuindo custos. nais quase inalterado por anos, ou até
Em 2014, o estado abriu licitação, mesmo décadas, tornando mais difícil
elaborada com base nesse processo, a introdução de novas culturas.
para a construção do Instituto de Car- É o caso da Fundação para o Desen-
diologia em Florianópolis. Ela estabe- volvimento da Educação de São Paulo
leceu um nível de detalhamento inédi- (FDE), que pretende usar o BIM para
to, com 37 itens a serem verificados na manutenção e preservação de 5,4 mil
fase de análise de modelos. Com isso, escolas em todo o estado. De acordo
a busca por empresas foi bem mais com Ricardo Grisólia Esteves, arquite-
rigorosa do que o normal. to da FDE, o quadro de servidores da
“Foi ousado, mas pensamos na efe- fundação tem pelo menos 30 anos de
tividade que iríamos conseguir”, disse casa, o que traz dificuldades na assimi-
o coordenador de Projetos Especiais da lação de novos processos.
Secretaria de Planejamento de Santa Esteves disse que já houve impor-
Catarina, Rafael Fernandes, no painel tantes avanços em termos do BIM
sobre gastos públicos. “Possivelmen- dentro da FDE, e que as diretorias
te afastamos muitos ‘aventureiros’, e já sabem dos seus benefícios. “Mas
iStock
A
ampla adoção do BIM no um Grupo de Apoio Técnico (GAT)
Brasil é vista pelo governo para dar suporte às decisões toma-
federal como estratégia das. Abaixo do GAT, ainda há seis
fundamental para aumen- grupos com temas e tarefas específi-
tar a qualidade e a transparência nas cas: Regulamentação e Normatização;
obras públicas, além de ser um instru- Plataforma BIM; Capacitação de Re-
mento para colaborar com a revitali- cursos Humanos; Compras Governa-
zação do setor da construção. Esse foi mentais; Infraestrutura e Tecnologia;
o recado do diretor do Ministério da e Comunicação.
Indústria, Comércio Exterior e Serviços
(MDIC) e representante do Comitê Es- GANHOS COLETIVOS
tratégico de Implementação do BIM, E PRIVADOS
Nizar Lambert Raad, durante seminá- Segundo Raad, o governo federal tem
rio realizado pela CBIC. acompanhado de perto as melhorias
O Comitê Estratégico foi criado em que o BIM pode trazer, como maior
junho de 2017 por meio de decreto qualidade nas obras públicas, redu-
presidencial, com o objetivo de pro- ção de desperdícios, ganho na sus-
por, no âmbito do governo federal, tentabilidade e mais transparência
iStock
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ESPECIAL Tecnologia na Construção 6
Nemetschek (Vectorworks)
Projetos executados com o BIM
M
arrojados está na mudança de fluxo Segundo ele, isso foi fundamental para o investimento se pagou por inteiro. o investimento se pagou por inteiro.
udança de cultura in- de trabalho, principalmente em re- que a equipe assimilasse os processos “O BIM deve sempre ser visto como
terna, valores altos lação a outros participantes, como sem maiores traumas. Gizzi lembra que, RETORNO GARANTIDO investimento”, ressalta.
para aquisição de equi- empreendedores, contratantes ou antes da utilização do BIM, era mais di- Os empresários do setor da construção “O BIM é o presente, é a reali-
pamentos e progra- projetistas, e não nas relações inter- fícil apresentar uma proposta técnica que abraçaram a tecnologia são unâ- dade”, diz Paulo Sanchez, da Sinco.
mas e ainda dificuldade da equipe nas, com a própria equipe. com um detalhamento razoável. “Isso nimes em dizer que ela trouxe mais “Quem não souber projetar com ele
na absorção dos novos processos. Para o empresário, 2011 foi ano de melhora a produtividade e otimiza os negócios e lucro às suas empresas. vai ficar fora do mercado muito rapi-
Todos esses são fatores que podem um marco no Brasil, quando a Petro- seus recursos, sejam eles humanos, se- “Tenho projetos com menos erros, damente, e os contratantes já estão
ser enfrentados por quem resolve bras fez a primeira licitação que exigia jam equipamentos, para o bem da sua que geram menos trabalho, conten- percebendo a diferença.”
adotar o BIM no setor da constru- BIM, para a obra da sede da estatal em
ção. No entanto, empresários que Santos (SP). A Contier ganhou essa
abraçaram a inovação relatam que, licitação, deixando público, a partir
depois dessa virada, seus negócios
nunca mais foram os mesmos.
daquele momento, que existia um
processo de disseminação da tecno- Por dentro • Os modelos gerados são • É possível acompanhar
logia no Brasil, e que o escritório tinha
experiência na sua utilização. da nova em 3D, combinando objetos
que correspondem aos
passos e etapas de uma obra
ao longo da sua execução,
MAIS SATISFAÇÃO
E VISIBILIDADE
tecnologia componentes usados na obra
real e permitindo a visualização
de cada etapa, como se fosse
além de gerar documentos
de manutenção para serem
usados depois do seu
O BIM é o A visibilidade do que é feito nas obras uma “construção virtual”. término.
é o principal impacto para os clientes, • BIM é a sigla para Building
presente, é segundo Paulo Sanchez, que também Information Modeling, ou • Esses objetos virtuais • As atividades feitas com
a realidade. vê um aumento claro na satisfação de
quem contrata sua empresa, a Sinco.
Modelagem de Informações
da Construção, um conjunto
(como, por exemplo, portas,
janelas e colunas) incluem
o BIM são colaborativas
e compartilhadas entre
Quem não “Antes entregávamos apenas o pré- de tecnologias, processos medidas, especificações e as partes envolvidas
dio construído, agora entregamos e políticas que permite materiais constituintes, e se no projeto — sejam
souber projetar virtualmente construído. Então você projetar, construir e operar autoajustam ao ambiente em construtores, contratantes
com ele vai sabe mês a mês as atividades que vão
ser executadas”, afirma.
uma edificação ou instalação
desde o seu planejamento até
que estão inseridos. ou fornecedores.
ficar fora do A maior transparência na realização o pós-entrega. • Os dados estruturados • As obras tornam-se mais
das atividades é outro aspecto que, podem ser visualizados sustentáveis, pois o seu
mercado muito para o diretor da Sinco, marcou uma • Vários softwares compõem de várias maneiras, planejamento é detalhado,
rapidamente diferença entre antes e depois da im-
plementação dos processos BIM. Para
a sua lógica, atendendo às
diferentes necessidades
sejam desenhos (plantas,
cortes, fachadas), listas de
evitando desperdício de
material e trazendo maior
Sanchez, essa percepção por parte dos ligadas ao setor da quantidades ou imagens economia e precisão para
PAULO SANCHEZ , clientes foi determinante para a con- construção. renderizadas. executar orçamentos.
presidente da Sinco quista de mercado da empresa.
U
Sagazio e do deputado Júlio Lopes
ma gama de processos
(da esquerda para a direita)
essenciais para a moder-
nização do setor da cons-
trução, o BIM não deve ser
adotado apenas por um governo ou
grupo de empresas, mas se tornar
uma política de Estado. Essa foi a
posição defendida pelo presidente
da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), José Carlos Mar-
tins, ao fim do seminário organizado
pela entidade, em correalização com
o Senai Nacional, visando divulgar o
BIM junto ao setor público e à indús-
tria da construção.
No evento realizado no último dia
15, em Brasília, Martins afirmou que o
BIM será consolidado como parte de
uma pauta. A CBIC pretende solidifi-
car sua ideia de disseminar e demo-
cratizar a adoção desses processos,
durante o 90º Encontro Nacional da
Indústria da Construção (ENIC), em
Florianópolis (SC). “Não podemos fi-
Théo Lima
O
BIM, conjunto de processos
tecnológicos que oferece Como fazer com que toda a
ao usuário o acompanha- cadeia da construção no Brasil
mento online de todas as entenda a importância dessa
etapas da execução de um empreen- ferramenta para seus negócios?
dimento na construção civil, com visu- É preciso trabalhar ao longo do
alização em 3D e mais inteligente que tempo, em um processo evolutivo,
outras plataformas, pode ser a gran- para que nessa cadeia não faltem
de saída para a crise do mercado da elos. Logicamente isso é muito
construção no Brasil, pela eficiência e difícil no início, mas é importante
inovação que ele agrega aos projetos. verticalizar os fornecedores, ou
É no que acredita José Carlos Mar- seja, todos têm que estar bem
tins, presidente da Câmara Brasileira adaptados: o seu fornecedor de
da Indústria da Construção (CBIC). material, o seu projetista, a pessoa
Para ele, é fundamental garantir que que faz o controle. Não adianta eu
toda a cadeia do setor esteja adap- querer projetar em BIM se o meu
tada aos processos BIM, e não so- fornecedor de portas não tem na
mente as construtoras. “Não adianta sua biblioteca um modelo que eu
eu querer projetar em BIM se o meu possa encaixar no meu projeto.
fornecedor de portas não tem um
modelo que eu possa encaixar no O Brasil ainda enfrenta os efeitos
meu projeto”, afirma. da crise que começou em 2015,
Engenheiro civil formado pela Uni- mesmo que a situação já esteja
versidade Federal do Paraná e mem- melhorando. O senhor acredita
bro do Conselho de Desenvolvimento que esse seja o momento para
Econômico e Social (CDES) da Presi- investir no País?
dência da República, o presidente da Não tenho dúvida. A retomada
CBIC diz ainda que o País vive o mo- do investimento, dentro do
mento ideal para buscar a capacitação nosso modelo econômico, vai
de profissionais e a mudança de cul- ter algumas características. Uma
tura das empresas, no sentido de im- delas é a concorrência acirrada, e
plementar novas tecnologias e buscar quem estiver mais bem preparado
maior competitividade. Acompanhe José Carlos Martins, tecnologicamente terá mais
os principais trechos da entrevista. presidente da CBIC espaço para trabalhar. Mas você
não consegue colocar essas novas
Por que a CBIC aposta tanto no tecnologias em funcionamento do
sucesso do BIM no Brasil? Quais as principais necessidades ele faz é trabalhar as informações que ainda há essa resistência do dia para a noite. Elas demandam
Porque é uma ferramenta que da construção civil do relacionadas à obra de maneira mercado brasileiro? capacitação, mudança de cultura
melhora a gestão, que dá mais mercado brasileiro? que outras ferramentas menos É aquela questão: se não tem das empresas, melhoria de
transparência e eficiência no A qualidade dos projetos e a melhoria inovadoras não conseguem. mercado, não tem profissional; processos, e fazer isso é mais fácil
controle da obra. Isso diminui de gestão da obra, principalmente. O resultado disso é a melhor se não tem profissional, não tem quando a atividade econômica está
custos, o que é bom para todo Como se trata de um processo que qualidade do projeto, da mercado. Nós entendemos que, mais devagar do que quando ela
mundo. Em alguns países, estima-se integra custo, tempo, manutenção fiscalização e do produto final. nesse momento, é necessário criar está em pleno vapor. Então essa é a
que o custo dos empreendimentos e compatibilidade dos vários tipos um mercado em que as empresas hora de investir, de aprender a lidar
com a implantação do processo BIM de projetos, é possível melhorar Uma das principais resistências busquem a capacitação de seus com essas novas ferramentas, essas
possa diminuir em até 20%. Além muitíssimo o resultado final e também em usar essa tecnologia, funcionários, fazendo com que novas tecnologias.
disso, ao aperfeiçoar a qualidade o preço do seu produto com o BIM. segundo arquitetos, é que muitos fornecedores e muitos
dos projetos, consequentemente poucos profissionais usam profissionais trabalhem com Como o BIM pode
a qualidade do produto também A plataforma é capaz de melhorar a plataforma, o que acaba o BIM. Por isso, a CBIC está tão ajudar na questão da
aumenta. Com a indústria sozinha a eficiência de uma obra? impactando na compatibilização envolvida e mobilizada em transparência das Parcerias
da construção cada vez mais Logicamente o BIM não pode vir de projetos (ou seja, a análise que se democratize e se dissemine Público-Privadas (PPPs)?
preocupada com isso, a aposta é sozinho. Ele é um conjunto de que sobrepõe os diferentes essa tecnologia. E temos tido no Ele é importantíssimo no aspecto
que essa seja a grande plataforma processos, e sobre ele você aplica projetos que compõem uma obra Senai Nacional o parceiro ideal da transparência, porque deixa
de modernização do setor. várias outras tecnologias. O que para encontrar soluções). Por para esse objetivo. muito explícito quando um projeto
está mal feito, ou seja, quando
ele abre espaço para problemas
futuros, como aditivos de contratos,
algo que tanto se critica nas obras
públicas no Brasil.
Dia desses eu visitei o dono de
Como se trata de uma ferramenta uma empresa de construção, e ele
que integra custo, tempo, manutenção me contou que, ao utilizar o BIM a
partir de uma determinada etapa
e compatibilidade dos vários tipos da obra, ficou evidente que a viga
havia sido colocada antes do pilar,
de projetos, é possível melhorar um erro que não existiria se ele
muitíssimo o resultado final tivesse sido utilizado desde o início.
Esse é um exemplo de que,
e também o preço do seu produto quando você vai modelando e
estudando sua obra por meio
JOSÉ CARLOS MARTINS, presidente da CBIC do BIM desde o início, você tem
a certeza de que o processo de
construção está sendo feito da
maneira correta.
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