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Direitos Humanos, Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Instituto de Defensores de Direi-
tos Humanos (DDH), Instituto Sou da Paz, Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), Justiça Global
e Pastoral Carcerária Nacional. Nosso objetivo é a efetivação de uma justiça criminal mais justa e
pacífica, que questiona o caminho do encarceramento em massa e do recrudescimento penal.
Por isso, a realização de uma audiência imediatamente após a prisão, que possibilite o encontro
entre a pessoa presa e o juiz, é fundamental como mecanismo de prevenção e combate à tor-
tura e para um efetivo controle judicial.
A Rede Justiça Criminal apoia a aprovação do PLS nº 554/2011, de autoria do Senador Antonio
Carlos Valadares, com texto substitutivo apresentado pelo Senador João Capiberipe na Comissão
de Direitos Humanos do Senado, que prevê a apresentação do preso perante o juiz em até 24
horas após a prisão para a realização da audiência de custódia.
Para subsidiar os parlamentares e a sociedade em geral com argumentos técnicos sobre a neces-
sidade e viabilidade da criação da audiência de custódia, a Rede Justiça Criminal apresenta este
Boletim, composto por: um texto assinado pelo grande processualista Aury Lopes Jr., uma ma-
nifestação do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado De São Paulo, uma
entrevista com um defensor público do Amazonas, um artigo do diretor do IDDD, uma análise
comparativa internacional produzida pela organização Human Rights Watch e por uma carta de
apoio ao instituto da audiência de custódia subscrita por diversas organizações latino-america-
nas que fazem parte da Red Regional para la Justicia Previa al Juicio em 2012.
Boa leitura!
Dez razões para aprovar o projeto de lei que institui a
audiência de custódia:
Outros países da América Latina já incorpora- É injustificável que em uma democracia conso-
ram a obrigação de apresentar o preso em juízo lidada como o Brasil esse direito fundamental
em 24 horas. tenha sido ignorado por tanto tempo. Essa re-
forma não vai resolver, sozinha, o problema das
práticas policiais abusivas e deixará desprovida
Em contrapartida, o Código de Processo Penal do direito parte dos detentos no país, uma lacuna
brasileiro exige que quando um adulto é pre- que o Congresso Nacional também deveria abor-
so em flagrante e, consequentemente, mantido dar. Entretanto, é um passo crucial para coibir os
sob custódia policial, somente documentos poli- maus-tratos de uma significativa parcela de indi-
ciais do caso (mas não o próprio detento) sejam víduos no momento da prisão e contribuirá para
apresentados a um juiz no prazo de 24 horas (art. que as forças policiais trabalhem de forma mais
306, § 1o). Juízes avaliam a legalidade da prisão transparente, profissional e eficaz.
e decidem se ordenarão a detenção preventiva
ou medidas cautelares com base exclusivamente
nos documentos escritos fornecidos pela polícia.
O Código estabelece um prazo máximo de 60 dias
para a primeira audiência judicial com o indivíduo
detido, mas não determina explicitamente quan-
do esse período começa (art. 400).
Trazendo a realidade para o mundo do direito
As nossas “rodovias” são aquáticas, rode- Um bom exemplo de vontade política deu
adas pela imensa floresta tropical e, em al- recentemente o Governador do Estado do
guns casos, por reservas ambientais e aldeias Amazonas, Omar Aziz, ao nomear 60 novos
indígenas. Mas a impossibilidade relatada de Defensores Públicos para exercerem suas
que seria preciso deslocamentos de até 7 dias funções nas comarcas do interior. Esses pro-
de barco não condiz com a realidade. fissionais tomaram posse no dia 15/10/2013.
De fato, se estivermos considerando a distân- Rede: Ainda que um juiz esteja mais dis-
cia de barco desses municípios mais afasta- tante do local em que se encontre o preso,
dos até Manaus, poderíamos até conceber seria possível a sua apresentação em 24 ho-
esse elástico prazo de uma semana, mas o ras? Em caso negativo, qual o prazo que o
projeto de lei não diz que os presos tenham senhor entende que poderia ser considera-
que ser conduzidos (exclusivamente) até um do razoável nestas situações excepcionais?
juiz de direito da capital, caso em que, certa-
mente, teríamos que concordar que poderia RMQ: A política de interiorização vai além de
levar 7 dias ou até mesmo mais do que isso uma simples alteração legislativa. Com essa
para a condução da pessoa presa até a audi- obrigação legal de conduzir uma pessoa presa
ência de custódia. Mas não é isso que fala o em 24 horas à presença de um juiz de direito,
aludido projeto. presentes o representante do Ministério Públi-
co e o advogado (particular ou público), tam-
bém existiria a obrigação do Estado aparelhar opção de balizar as suas relações internacio-
seu sistema de justiça, criando as condições nais pela primazia dos direitos humanos.
estruturais e humanas para a implementação
da audiência de custódia, tornando os compro- Valorizar o ser humano, portanto, não é op-
missos internacionais firmados pela República ção de caridade ou mandamento religioso,
Federativa do Brasil realidade, e confirmando mas acima de tudo opção política. A imple-
a opção brasileira por um Estado Democrático mentação da audiência de custódia revela a
de Direito. sensibilidade do legislador na implementa-
ção de políticas legislativas que tornem efe-
Rede: Mesmo diante das dificuldades estru- tivas as inúmeras garantias constitucionais.
turais que deverão ser enfrentadas para a
implementação da audiência de custódia, Considerando que no momento em que se cer-
o senhor vê o projeto de lei uma iniciativa ceia a liberdade de um indivíduo podem ocor-
positiva? Por quê? rer (como sói ocorrer em casos tais) muitos
desrespeitos aos direitos humanos, tendo em
RMQ: Nunca é demais repetir que a nossa vista algumas estruturas administrativas ainda
República optou por ser um Estado Democrá- estarem vinculadas ao chamado Direito Penal
tico de Direito, colocando, como um dos fun- do inimigo, punitivo, repressor. Garantir um
damentos dessa estrutura política, a dignida- mínimo de dignidade nesse momento crucial
de da pessoa humana; isto sem falar na clara é, por assim dizer, uma necessidade inadiável.
Exma. Senhora
Dilma Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil
Senhor
José Sarney
Presidente do Congresso Nacional do Brasil
Exmo. Senhor
Carlos Ayres Britto
Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil
Pela presente e em representação das organizações da sociedade civil de diversos países que
compõe a Red Regional para la Justicia Previa al Juicio – América Latina, nos dirigimos a Vossas Ex-
celências para manifestar nossa preocupação com a falta de previsão legal explícita que garanta
a apresentação da pessoa presa, imediatamente, a um juiz.
1. A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de San José de Costa Rica), ao tratar
do Direito à Liberdade Individual dispõe que toda “pessoa detida deve ser levada, imediata-
mente, a um juiz”. A apresentação imediata tem como objetivo a verificação da legalidade da
prisão, além de prevenir e combater a tortura e corrupção.
Agradecemos sua atenção a esta carta. Qualquer comunicação sobre a referida causa podem se
dirigir a Álvaro Herrero, da Asociación por los Derechos Civiles, Argentina: aherrero@adc.org.ar,
tel (5411) 5236.0555; Janaína Homerin, da Rede Justiça Criminal, Brasil, São Paulo: jhomerin@
soudapaz.org tel: (5511) 98715.5669 ou Isadora Fingermann, do Instituto de Defesa do Direito de
Defesa, Brasil, São Paulo: isadora@iddd.org.br, tel: (5511) 3107 1399
Agosto de 2012