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A POLÍTICA DE EFETIVAÇÃO

DOS DIREITOS DA
POPULAÇÃO NEGRA
Prof. Dr. Silvio Luiz de Almeida
O que é racismo?
Racismo estrutural
Racismo institucional
Racismo de Estado
Formas de discriminação
 Discriminação direta
 intrageracional

 Discriminação indireta
 intergeracional

 Estratificação social
Exemplo de discriminação indireta

 Discriminação indireta ou “discriminação por


impacto desproporcional ou adverso”.
 Griggs v. Duke Power Co. de 1970. Empresa de
energia elétrica, que além do racismo clássico,
praticava discriminação indireta, ao instituir testes de
inteligência como condição para a promoção.
Entretanto, tais testes de inteligência não
consideravam que os negros estudavam nas escolas
segregadas, de baixíssima qualidade
O racismo na formação do Estado
brasileiro

 Escravidão
 Latifúndio
 Patrimonialismo
 Consequências:
 Ausência de um Estado de direito
 Ausência de uma República
 Ausência de uma cultura democrática
Política do “branqueamento”

 Política de “branqueamento”
 - “Em 100 anos seremos todos brancos”
 Racismo científico
 “A raça negra no Brasil [...] há de constituir sempre
um dos fatores da nossa inferioridade como povo.”
(Nina Rodrigues)
A população negra e a cidadania

 Direitos Políticos:
 - população negra afastada da participação política
 Direitos Civis:
 - impediu a formação de direitos individuais
 - impediu a formação de instituições republicanas capazes de
garantir direitos mesmo formalmente instituídos
 Direito Sociais
 - menos acesso às políticas universais de saúde, educação, cultura
e lazer
 - desemprego e informalidade
O que é ação afirmativa?
• Hipótese de discriminação legítima
• Discriminação positiva (“reverse discrimination”)
• Tratamento preferencial:
• - Dado a grupo historicamente discriminado
• - Visa a impedir que a igualdade formal perpetue a
desigualdade.
• Caráter redistributivo e restaurador
• Correção de situação de desigualdades historicamente
constituídas
• Tempo determinado
• Objetivos sociais claros
O que é ação afirmativa?

 Formulação teórica: segundo pós-guerra.


- Estado indutor ou Estado de bem estar
social.
- Políticas antidiscriminatórias clássicas:
proibitivas ou “neutras”
 Foco nos atos concretos de discriminação
Objetivos das ações afirmativas

 Coibir a discriminação do presente


 Eliminar os efeitos da discriminação no
passado e que tendem a se perpetuar.
 Instituir diversidade e maior

representatividade dos grupos minoritários


 Valorizar a dignidade e a promover da
autoidentidade.
Ações afirmativas - argumentos

 Backward looking argument


 Retrospectivo

 Justiça
corretiva
 Reparação histórica

 Forward looking argument


 Prospectivo

 Justiça
distributiva
 Reconhecimento e redistribuição (diversidade)
Ações afirmativas - base jurídica

 Cidadania formal
 Base jurídica para as ações afirmativas:
 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:


Ações afirmativas - base jurídica
 I - a soberania;
 II - a cidadania
 III - a dignidade da pessoa humana;
 IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa;
 V - o pluralismo político.
 Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Ações afirmativas - base jurídica

 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil:
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
 II - garantir o desenvolvimento nacional;
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais;
Ações afirmativas - base jurídica
 IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
Homicídios
 A probabilidade de um homem preto ou pardo
morrer assassinado é mais do que o dobro se
comparado a de um indivíduo que se declara branco,
é o que revela o relatório.
 Apesar de o número de homicídios no país
permanecer estável nos últimos anos, o número de
negros assassinados não para de subir, por outro
lado, os homicídios entre homens brancos vêm caindo.
Homicídios
 Entre as mulheres, a morte por homicídio entre as
pretas e pardas é 41,3% maior à observada entre
as mulheres brancas, segundo os dados de 2007.
Expectativa de vida
 A esperança de vida da população negra segue
inferior à da população branca. Entre os homens
pretos e pardos, o indicador não passou de 66,74
anos. No contingente masculino da população branca,
a expectativa alcançou 72,39 anos.
 No estudo com as mulheres, a esperança de vida
entre pretas e pardas foi de 70,94 anos, abaixo dos
74,57 anos estimados para a parcela feminina da
população branca.
Educação
 A avaliação de jovens de 15 a 17 anos mostra que 8 em
cada 10 estudantes pretos e pardos estavam cursando séries
abaixo de sua idade, ou tinham abandonado o colégio. Entre
os brancos, 66% dos estudantes estavam na mesma situação.
 Na população de 11 a 14 anos, que segundo o estudo é a
fase que jovens começam a abandonar a escola, 55,3% dos
jovens brasileiros não estavam na série correta em 2008. Entre
os jovens pretos e pardos, essa proporção chega a 62,3%,
bem acima dos estudantes brancos (45,7%).
 O relatório evidencia que a população branca com idade
superior a 15 anos tinha, em 2008, 1,5 ano de estudo a mais
do que a negra.
Educação II
 A taxa de analfabetismo em 1992 era de 10,6% para
brancos e 25,7% para negros; em 2009, 5,94% para brancos
e 13,42% para negros. Nesse período, embora tenha caído a
desigualdade, a taxa dos negros permaneceu mais que duas
vezes maior que a taxa da população branca, de acordo com
dados do IBGE compilados pelo Ipea.

 Por outro lado, o aumento das matrículas em creches ou pré-


escolas é muito maior entre crianças brancas. A entrada no
percurso escolar regular é mais atribulada para as crianças
afrodescendentes.
Saúde
 Estabelecimentos do SUS atenderam mais pretos e
pardos (66,9% da sua população atendida em
2008) do que brancos (47,7%), a taxa de não
cobertura também é maior entre o grupo de pretos e
pardos, 27% para afrodescendentes e para 14%
dos brancos.
 Em 2008 40,9% das mulheres pretas e pardas nunca
haviam feito mamografia, contra 22,9% das brancas
e 18,1% das mulheres pretas e pardas nunca haviam
feito papanicolau (13,2% entre as brancas).
Políticas sociais
 A importância dos benefícios do Bolsa Família sobre a renda das famílias
negras é significativamente maior do que para as famílias brancas. Entre
os afrodescendentes, o programa representa 23,1% da renda da família.
Para os brancos, 21,6%. Além disso, a proporção de famílias cujo chefe é
preto ou pardo beneficiadas pelo programa – 24% do total de famílias
deste grupo no país – é quase três vezes maior do que a das unidades
familiares brancas (9,8%).
 embora em números absolutos mais negros tenham ultrapassado a linha da
pobreza, a redução proporcional dos índices ficou em torno de 30% para
os dois grupos, mantendo as diferenças significativas. Em 1997, 57,7% dos
negros brasileiros eram pobres. Dez anos depois, eram 41,7%. Entre os
brancos, o percentual caiu de 28,7% para 19,7% no mesmo período.
Políticas sociais II

 “Essas políticas gerais não afetam a maneira como os


afrodescendentes chegam ao mercado, nem como
são tratados dentro dele. A estrutura do vínculo com
cor e raça não muda”. (Marcelo Paixão)
Cenário de agravamento
 Mudanças estruturais no Estado
 Fordismo e pós-fordismo
 Estado de bem estar social
 Estado neoliberal

 Crise econômica e racismo


 Desconstrução das políticas de ação afirmativa
(Schuette v. Coalition to Defend Affirmative Action)
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