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no carvão
Sessão Temática 3: Energia, Indústria e Meio Ambiente
Resumo: O artigo tem como objetivo mostrar a trajetória da geração de energia na África do
Sul, desde o princípio do processo de industrialização até as últimas décadas de alto
crescimento e participação no grupo dos BRICS. Para isso, inicialmente descreve a opção pela
adoção do carvão como principal fonte energética, por motivos econômicos e disponibilidade
de matéria-prima, e a fundação das empresas estatais responsáveis pelo setor. Depois, é
realizada uma discussão da importância da matriz energética para o desenvolvimento atual e
qual suas implicações nas políticas adotadas pelos países e Nações Unidas – passando para
qual o direcionamento adotado pela África do Sul nas últimas décadas. Por fim, são
apresentados os dados de emissão de CO2 e de perfil energética dos BRICS para comparação
com os resultados sul-africanos. Conclui-se que a África do Sul não passará por mudanças
energéticas no curto-prazo e é um país ainda bastante dependente da utilização do carvão.
Palavras-chave: África do Sul, eficácia energética, desenvolvimento sustentável
ABSTRACT: The article aims to show the trajectory of energy generation in South Africa,
from the beginning of the process of industrialization to the last decades of high growth and
participation in the BRICS group. To do so, initially describes the option of adopting coal as
the main energy source, for economic reasons and availability of raw material, and the
foundation of state-owned companies responsible for the sector. Then there is a discussion of
Introdução
2
pode vir a afetar uma cadeia produtiva bastante consolidada no país e que consiste em
empresas de grande porte.
Neste artigo, primeiro será apresentado brevemente o contexto histórico da formação
do setor de geração de energia no país, destacando a formação de grandes empresas estatais
destinadas primeiramente a suprir a demanda por energia originada pelas iniciativas de
política de substituição de importações.
Depois, apresenta a discussão por trás da necessidade de mudança de matriz energética
e como a questão da preservação ambiental a demanda por maior eficiência energética entrou
na pauta governamental e da administração das grandes empresas do setor, confrontando a
necessidade de suprir energia para consumo doméstico, num contexto de seca, com a
possibilidade de utilizar fontes renováveis mais limpas para a geração de eletricidade. A
última traz evidências empíricas sobre a mudança no perfil energético da África do Sul, com
dados a partir da década de 1960, e compara suas características com a dos outros países dos
BRICS, principais economias emergentes durante a primeira década do século XXI.
Fonte: http://www.ucsusa.org/global_warming/science_and_impacts/science/each-countrys-share-of-
co2.html#.WP4Fh1MrLfY
3
a geração de energia elétrica subam 45,0%. Quase 97,0% dessa variação viriam de países em
desenvolvimento, principalmente devido ao uso mais intensivo de carvão, pelo baixo custo da
matéria-prima e a baixa complexidade tecnológica envolvida nos seus processos (PEGELS,
2010).
Uma das metas para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas é diretamente
ligada a redução de emissões, visando evitar mudanças na temperatura global, através de
mudanças institucionais e utilização (e transferência) de tecnologias mais avançadas2. Os
países já desenvolvidos tem conseguido reduzir a intensidade do crescimento de suas
emissões, seja por mudanças tecnológicas ou por mudanças na estrutura econômica dos
países, transferindo setores mais poluentes para os países asiáticos. Assim, o foco (em acordos
transnacionais, declarações de intenções, projetos de política cooperativas) para reduzir o
ritmo do aumento das emissões passa necessariamente pelos países em desenvolvimento, nos
quais existem maiores expectativas de crescimento econômico, mudanças nas próprias
décadas para atender necessidades locais e atingir melhor qualidade de vida.
Outro ponto sensível para a necessidade de adotar novas formas de geração de energia
é a redução da dependência de importação de combustíveis, uma preocupação constante após
os Choques do Petróleo durante a década de 1970 (SIMAS; PACCA, 2013). Para manter a
estabilidade econômica e não depender de matéria-prima que provem de regiões em constante
conflito, muitos países, mesmo os em desenvolvimento, buscaram novas fontes de energia.
Por exemplo, o Brasil conseguiu avançar na utilização de biocombustíveis e a África do Sul e
a Índia investiram no desenvolvimento da energia nuclear (mesmo que devido a motivações
geopolíticas e militares).
Mesmo nos países ricos em matérias-primas como carvão, petróleo ou gás natural é
razoável ter fontes energéticas não esgotáveis (como eólica e solar), para poder gerir melhor
os recursos disponíveis. Assim, fontes de energia renováveis não somente tem importância
por questões puramente ambientais, mas para a estratégia de desenvolvimento de longo prazo
dos países. Por fim, é estimulada uma ação governamental explícita para colaborar com a
adoção de fontes renováveis, seja através de investimentos públicos diretos ou de facilitação
para o desenvolvimento de um mercado. A consistência dos incentivos e políticas, sejam quais
forem, são vitais para o sucesso na disseminação de tecnologias menos poluentes, já que o
tempo de maturação dos investimentos necessários é bastante longo (SEBITOSI; PILLAY,
2008).
Fonte: http://www.un.org/sustainabledevelopment/climate-change-2/
4
2. Histórico do Setor de Geração de Energia na África do Sul
A África do Sul tem como um dos marcos em sua história econômica a descoberta e
exploração de diamantes e ouro. Em conjunto com a mineração, foi realizada
concomitantemente a exploração de carvão para geração de energia, destinada em um
primeiro momento a atender um público limitado, já que os centros de geração de eletricidade
utilizavam pequenas usinas hidrelétricas e também gás no período.
A primeira empresa que surgiu com intuito de fornecer energia de forma massiva para
a África do Sul foi a Victoria Falls and Transvaal Power Company Limited (VFP), registrada
na Rodésia do Sul (atual Zimbábue), que tinha como projeto o estabelecimento de uma usina
hidrelétrica nas Cataratas de Vitória. No entanto, tal plano foi abandonado por razões técnico-
financeiras e optaram pela utilização do carvão na região do Transvaal3.
A partir da década de 1920, a economia sul-africana sofre mudanças, com o advento
das indústrias surgidas pela substituição de importações espontânea e a recuperação da
mineração pós-guerra civil. Nesse período, o governo da África do Sul optou por realizar uma
política de substituições de importações (através da adoção de tarifas protecionistas em 1925),
realizou grandes obras de infraestrutura e criou duas companhias estatais: a Electricity Supply
Commission (ESCOM) em 1923 e a South African Iron and Steel Corporation (ISCOR) em
1928.
A ESCOM contou com o impulso da Lei da Eletricidade de 1922, na qual um dos
maiores contribuidores era Hendrik Johannes Van der Bijl. Van der Bijl, que também se
tornou o primeiro presidente da ESCOM, era um entusiasta do desenvolvimento industrial e
defendia como fundamental proporcionar uma oferta de eletricidade barata e abundante.
Apesar de não haver uma intervenção direta no uso do carvão para gerar energia, há
um aumento progressivo no seu uso com esse propósito, principalmente nos locais com
problemas de escassez de água.
A partir da década de 1940 há uma mudança na forma de atuação estatal e o governo
passa a interferir diretamente nos preços e nas exportações de carvão, fundando a South
African Coal, a Oil and Gas Corporation (Sasol/SASOL) em 1951 (MAQUARD, 2006), uma
empresa estatal com o propósito de produzir combustível sintético e produtos químicos para
suprir a demanda crescente por energia (NORDAS, 2001). A evolução da demanda no período
Fonte: http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/early-years.aspx
5
tem uma relação estreita com o processo de industrialização sul-africano e também com o
boom populacional após a Segunda Guerra Mundial, porque ambos aumentaram a demanda
doméstica de energia no país.
Durante a década de 1940 e nas décadas seguintes a ESCOM expande-se e incorpora
empresas menores para poder expandir sua oferta, num período de escassez de equipamentos
para importação, aumentando a quantidade de usinas de carvão. Nos anos 50, o interesse por
extrair energia nuclear aumenta, em 1948 é decretado o Atomic Energy Act, que na década
seguinte dá origem à Atomic Energy Commission, com objetivo de pesquisar e investigar a
possibilidade de energia nuclear. A ESCOM, apesar da África do Sul estar envolvida nestas
iniciativas por seus reservatórios de urânio, mantém uma postura cautelosa e aumenta as
usinas a carvão mesmo que isso significasse condições insalubres pros trabalhadores; em
apenas um dia de 1960, 431 mineiros ficaram presos4. Uma Comissão é instaurada para
verificar as condições dos trabalhadores nas minas e estações de carvão e algumas são
fechadas.
Fonte: http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/1960.aspx
5
Único embargo obrigatório nos anos 1970, foi em 1977, quando o embargo voluntário contra à venda de
armas para a África do Sul se tornou obrigatório pela ONU (Organização das Nações Unidas).
6
Fonte: http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/1960.aspx
6
estavam utilizando tecnologias defasadas. Após isso, a Sasol sofre uma reformulação tanto
tecnológica quanto administrativa, sendo parcialmente privatizada em 1979 e completamente
privatizada em 1991. A ESCOM também passa por mudanças administrativas – ao mesmo
tempo que ocorre maior intervenção governamental visando reduzir os preços que haviam
passado por grandes reajustes devido aos investimentos realizados.
A década seguinte, anos 1980, é marcada pelo primeiro documento relevante
elaborado no continente africano, que abrange questões ambientais, é o Plano de Ação dos
Lagos de 1983. Este documento, concebido pela Comissão Econômica para a África (CEA) e
a Organização para a Unidade Africana (OUA), sob forte influência do pan-africanismo 7, era
considerado inovador por trazer à tona discussões ambientais até então não realizadas e outras
questões como o papel da mulher na sociedade.
Uma grande preocupação do documento é em relação aos solos, já que a pobreza e
falta de cuidado dificultam o desenvolvimento de culturas agrícolas, consideradas
fundamentais para o desenvolvimento econômico. O documento também destaca a
necessidade dos pequenos produtores agrícolas diminuírem a geração de energia por meio de
lenha e carvão e encontrarem fontes alternativas (Comissão Econômica para a África, 1983).
Ainda na área energética, quando se trata de um âmbito nacional, o enfoque do plano é
diferente. Apesar de apoiar a utilização de novas fontes de energia renováveis, o objetivo
principal do documento fica claro no fragmento a seguir: “A disponibilidade de recursos
energéticos em África deve ser aumentada rapidamente e, de forma a assegurar um
desenvolvimento endógeno e autossustentável” (Comissão Econômica para a África, 1983,
p.80, tradução nossa); ou seja, a preocupação principal era o aumento de energia, que poderia
ser dado pelo carvão ou petróleo, desde que cumprisse o princípio de colaboração entre países
africanos.
Durante a década de 1970 o direcionamento da política energética na África do Sul
coincide com o Plano de Lagos. Na década posterior o foco das políticas, realizadas pela
ESCOM (que se torna ESKOM), volta-se para o consumidor e sob o slogan “energia para
todos” é iniciada uma expansão sem precedentes, que ainda assim não levava acesso à energia
elétrica para a maior parte da população negra.
Enquanto a estatal ainda não mostrava um plano sólido para uma matriz energética
mais limpa, surgiram uma série de documentos sul-africanos que partilhavam desta
preocupação. O primeiro deles foi o White Paper on Energy Policy, de 1998, elaborado pelo
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7
Departamento de Minerais e Energia da África o Sul (DME), que reforçava garantias
constitucionais de um ambiente seguro a saúde, o que inclui evitar o avanço da degradação
ecológica e elaborar uma estratégia de energia renovável, incluindo objetivos e metas
(SEBITOSI & PILLAY, 2008). Como resposta, o governo estabeleceu em 2003 alcançar 36
Petajoules (PJ) de consumo de energia renovável até 2013 e foi elaborada uma política para o
desenvolvimento de biocombustíveis (SEBITOSI & PILLAY, 2008). A ESKOM
conjuntamente com o DME também atuaram na difusão de algumas tecnologias, como os
aquecedores de água utilizando energia solar e lâmpadas fluorescentes compactas (MENYAH
& WOLDE RUFAEL, 2010).
A África do Sul, a partir de outubro de 2007, começa a ter problemas no
abastecimento de energia; em janeiro de 2008 foi declarada emergência nacional no setor de
energia elétrica, resultando em apagões. Após este evento, o caminho que o país espera seguir
em termos de fontes energéticas alternativas e eficiência energética pode ser considerado
controverso.
De acordo com Winlker (2007), no período de 2006-2024 mudanças na eficiência
energética foram planejadas como um dos indicadores de maior impacto na sustentabilidade;
entretanto, como a eficiência diz respeito a qualquer fonte de energia, incluindo o carvão, não
pressupõe troca das fontes de energia utilizadas. Além disso, a eficiência energética supõe
uma diminuição de consumo de energia, de difícil aplicação num cenário como o da África do
Sul, sofrendo com apagões e tendo a necessidade de uma ampliação das fontes de energia.
Para ter capacidade de responder a situações emergenciais, em maio de 2007 a
ESKOM iniciou a construção de uma nova base energética de carvão, Usina de Medupi,
localizada em Lephalele, com capacidade de gerar aproximadamente 788 Megawatt (MW) e,
em agosto de 2008, começou a construção de outra central de carvão chamada Kusile Power
Station, localizada na província Mpumalanga, com capacidade de gerar aproximadamente
4800 MW8. A opção por expandir as centrais de carvão vem do custo relativamente baixo,
retorno rápido e pelo conhecimento já existente, devido à longa trajetória explorando carvão,
mesmo que isso significasse um retrocesso nas preocupações ambientais.
Outra questão importante para a energia na África do Sul é a contradição entre a
necessidade constante de investimentos entre o setor produtivo e o setor doméstico. O
governo sul-africano priorizou um plano de expansão energética para a população,
particularmente a que sofreu com o apartheid e teve que morar em “pátrias” ou “bantustões”,
Fonte: http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/2000.aspx
8
ou seja, pedaços de terra pequenos para o contingente populacional que o ocupava, com solos
pobres e distantes das cidades, sem acesso à energia. Além de garantir que a energia elétrica
chegasse a população mais pobre, também era importante prover subsídios que ajudassem a
custear tais serviços como a “tarifa da pobreza” que fornece 50 kWh de eletricidade
gratuitamente para as famílias. Essa expansão porém foi feita de forma desordenada e o
principal argumento da ESKOM para os apagões foi a falta de investimentos na expansão da
malha energética diante do crescimento econômico do país, mesmo mediante o envio de
diversos relatórios ao governo
Apesar do governo sul-africano ampliar o acesso à eletricidade, que chegou à 83,0% 9
da população, a ESKOM tomou algumas medidas polêmicas diante dos apagões, como o
aumento de tarifas, para que estas sustentassem manutenção e crescimento necessário da
malha de distribuição, e negar a continuidade de isenções a indústrias, sob o argumento de
que não é uma responsabilidade da estatal fazer esse tipo de política.
O plano quinquenal referente ao governo 2014-2019, deixa claro que a prioridade no
setor de energia é o Programa de Eficiência Energética, que tem como objetivo tratar os
problemas de fornecimento de energia. No tópico relativo ao meio ambiente do documento
são citadas a conservação da água, o combate a incêndios na mata e controle do efeito das
secas, porém nada é citado no âmbito da matriz energética10.
A África do Sul, apesar da consciência ambiental expressa em diversos documentos,
ainda possui problemas de abastecimento de energia e de investimento que a impedem de
seguir uma trajetória sólida para uma matriz energética limpa. Mesmo com o
desenvolvimento da energia nuclear e um grande potencial para a produção de energia eólica
e solar, a prioridade segue na utilização de energia gerada através do carvão, mais poluente e
que já conta com problemas de escassez de reservas em algumas regiões, e dificuldades
técnicas ligadas ao regime de chuvas que molha a matéria-prima11.
Como visto no tópico anterior, a África do Sul ainda foca sua geração
de energia em fontes não limpas de energia – notadamente, a geração através da queima do
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Fonte: http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/2000.aspx
10
Fonte: http://www.gov.za/about-government/government-programmes/projects-and-campaigns
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carvão. O carvão, mesmo alguns tipos podendo ser considerados como fontes renováveis, já
que dependem do processamento de árvores e vegetação, é visto como uma das fontes de
energia mais prejudiciais quanto a emissão de CO2 na atmosfera. No Gráfico 1 fica evidente a
grande dependência do carvão como fonte energética – em quase nenhum momento da série
histórica seu uso é responsável por menos de 80,0% do total das emissões.
Pode ser observado também no gráfico um momento que ocorre uma inflexão: durante
a década de 1970, o uso do carvão teve uma queda acentuada, tendência que é rapidamente
revertida na segunda metade dessa década. Uma possível explicação para isso é o efeito do
primeiro Choque do Petróleo, que alterou um panorama de preços estáveis por um longo
período num reajuste brusco, fazendo com que o uso de petróleo para a geração de energia
deixasse de compensar e estimulasse um uso ainda mais intenso do carvão.
No Gráfico 2 fica evidente que a adoção de tecnologias mais limpas ainda progredia
lentamente na primeira década do século XXI, na qual a maior parte da geração de energia
segue sendo produzida através de carvão. Entre as fontes renováveis de destaque, estão a
energia nuclear, desenvolvida em décadas anteriores com apoio norte-americano e o uso ainda
1
tímido de energia hidrelétrica, afetado pelo regime de chuvas irregular e pelas diferenças na
capacidade hídrica para cada região do país.
A utilização de energia solar e eólica ainda são insignificantes dentro do total gerado,
ainda que consideradas de grande potencial devido a região geográfica que o país está
inserido, com áreas que apresentam insolação intensa na maior parte do ano e também um
regime de ventos favorável. Os principais obstáculos para a adoção atual dessas novas
tecnologias são os preços ainda elevados nos investimentos iniciais, falta de mão-de-obra
especializada e uma percepção de risco excessivamente elevada para investidores privados
(PEGELS, 2010).
Gráfico 3 - Porcentagem das Emissões de CO2 Provenientes de Combustíveis Sólidos
nos BRICS, 1960-2013
11
Fonte: World Bank Data.
No Gráfico 3 é possível observar que entre os países dos BRICS, excluindo o Brasil e
Rússia, a parcela emissão de CO2 através da queima de carvão ainda é preponderante nos
países de crescimento mais acelerado, mesmo com uma tendência generalizada de queda,
bastante abrupta na China e Índia no período histórico analisado. Mesmo assim, a África do
Sul segue como destaque, evidenciando sua dependência energética.
O Gráfico 4 ilustra o quanto existe de disparidade entre a emissão sul-africana per
capita comparada com a dos outros países menos desenvolvidos do grupo – mesmo no
período inicial, as emissões eram até 6 vezes superiores as dos outros países, o que mostra que
sua matriz energética sempre foi consideravelmente mais suja do que a dos demais,
diferentemente da China, que devido aos enormes incrementos de atividade econômico das
últimas décadas alcançou um patamar totalmente diferente de emissões. A comparação com a
Rússia tem que ser feita levando em conta que o país apresentou um parque industrial muito
mais desenvolvido e muito maior do que os outros num período anterior como União
Soviética, também baseado em tecnologias que não são consideradas limpas.
Em todos os países apresentados nos gráficos existe uma tendência de aumento da
emissão per capita, que coincide principalmente com as duas últimas décadas de crescimento
econômico. Menyah e Wolde-Rufael (2010) através de estudo econométrico sugerem que a
África do Sul, utilizando uma matriz energética similar à atual e crescendo economicamente,
não tem capacidade de reduzir suas emissões de gases-estufa – que poderiam ser reduzidas se
a economia não crescer ou o consumo por unidade produtiva de energia fosse diminuído. Para
evitar soluções drásticas, apontam que a melhor possibilidade seria investir em energias
renováveis e novas tecnologias que possibilitassem um crescimento com menos
consequências negativas.
1
Gráfico 4 – Emissão de CO2 Per Capita dos Membros do BRICS (Toneladas Métricas
Per Capita), 1960-2013
Conclusão
1
ainda desconhecidas de uso. Como apontam os dados apresentados durante o texto, a
mudança no padrão energético sul-africano parece estar ocorrendo mais lentamente que em
outros grandes países industriais em desenvolvimento, como o restante do grupo dos BRICS.
Também, a intensidade do uso, representada pela emissão de CO2 per capita, é
desproporcionalmente maior que dos outros, somente comparável ao de países que tem uma
indústria mais complexa, como a Rússia.
Sendo assim, apesar de existir uma preocupação sul-africana em relação as suas fontes
de energia e potencial para o desenvolvimento e expansão de fontes alternativas, em especial
nuclear, solar e eólica, não há vislumbre de um plano significativo para uma mudança
consistente na matriz energética da África do Sul. Conclui-se que a África do Sul no curto-
prazo não terá mudanças significativas no seu mix energético e enquanto houver pressões por
generalizar a utilização de energia elétrica, dificilmente eles terão como utilizar de forma
menos intensiva o carvão.
1
Referências
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development of Africa 1980-2000, Addis Aba-ba, Etiopia, p.1-104, 1983. < >
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em: < http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/1960.aspx > Acesso em: fev. 2017.
ESKOM. Ezkom 2000-2008: Our Recent past: shift performance and grow sustainably.
Disponível em: <http://www.eskom.co.za/sites/heritage/Pages/2000.aspx> Acesso em: fev.
2017.
NORDAS, H. K. South Africa: A developing country and net outward investor. Foundation
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2001.
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Energy Policy, n.38, p. 4945-4954, 2010.
1
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WINKLER, H. Energy policies for sustainable development in South Africa. Energy for
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