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Experimentação e Modelagem Térmica em 2D do Concreto nas

Primeiras Idades da Caixa Espiral da UHE Batalha


Experimental, monitoring and modeling applied to spiral case of UHE Batalha

GOMES, Flávio Mamede Pereira (1); GAMBALE, Eduardo de Aquino (1)

(1) Engenheiro civil, ELETROBRAS FURNAS


Fones: +55+62+32396495 ou 32396459 / Emails: fmpgomes@furnas.com.br ou gambale@furnas.com.br

Resumo
Neste artigo são apresentados os resultados da análise por elementos finitos em 2D do campo de
temperatura da Caixa Espiral da UHE Batalha, localizada no rio São Marcos, na divisa entre Goiás e Minas
Gerais, Brasil. No programa experimental foi considerada a caracterização das propriedades térmicas,
inclusive a elevação adiabática de temperatura. Nos cálculos térmicos foi admitida a construção em
subcamadas de 20cm simulando a velocidade de lançamento da 1a. camada desta estrutura. O resultado
da simulação computacional foi comparado ao resultado experimental do monitoramento da estrutura por
meio de sensores do tipo Carlson, que além de medirem a temperatura, medem também as deformações de
origem térmica. Foram determinadas as temperaturas e as deformações provenientes dos gradientes
térmicos atuantes na estrutura, para posterior comparação com a resistência do concreto. A consideração
do acoplamento termoquímico a partir do ensaio de elevação adiabática de temperatura foi importante para
a determinação precisa do campo de temperaturas, requisito importante na análise das tensões
provenientes dos gradientes térmicos e, por conseguinte, na análise da segurança contra a fissuração de
origem térmica.
.
Palavra-Chave: Concreto Massa. Temperatura..

Abstract
In this article we presents the results of finite element analysis of 2D temperature field of Spiral Case of the
hydroelectric power plant Batalha, located in the river São Marcos, on the border between Goiás and Minas
Gerais, Brazil. The experimental program was considered to characterize the thermal properties, including
the adiabatic temperature rise.. In the thermal calculations was admitted the construction in sub-layers of
20cm to simulate the speed of release of the first. The result of computer simulation was compared to the
experimental result of the monitoring framework through Carlson types sensors, which in addition to
measuring the temperature, also measure the deformation of thermal origin. Temperatures and
deformations were determined, as well the thermal gradients acting on the structure, for later comparison
with the strength of concrete. Consideration of the thermochemical coupling from the test adiabatic
temperature rise was important for the accurate determination of the temperature field, a condition in the
analysis of the stresses from the thermal gradients and therefore the analysis of safety against cracking of
thermal origin.
Keyword: Mass Concrete. Temperature.

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 1


1 Apresentação
Neste artigo estão apresentados os resultados do monitoramento e da análise em 2D pelo
método dos elementos finitos do campo de temperaturas do concreto utilizado na
construção da 2ª caixa espiral da UHE Batalha, localizada no Rio São Marcos, entre
Cristalina-GO e Paracatu-MG. O concreto foi ensaiado quanto às propriedades térmicas e
mecânicas, incluindo a fluência e a variação autógena, conquanto a análise referentes à
parte mecânica estão fora do escopo deste artigo. No plano de monitoramento, foram
inseridos sensores de temperatura e deformações do tipo Carlson em locais significativos
do ponto de vista da comprovação da modelagem computacional realizada. A modelagem
levou em consideração a concretagem em camadas segundo a velocidade real de
execução. O quadro teórico dos acoplamentos termoquímicos foi considerado a partir de
AZENHA (2004), sendo que foi deduzida expressão analítica para a equação diferencial
do grau de hidratação a partir do resultado do ensaio de elevação adiabática de
temperatura, segundo a metodologia apresenta por GOMES (2011). Esta campanha de
monitoramento inclui ainda a medição de deformações para validação de futura
modelagem termo-químico-mecânica em 3D considerando a construção em camadas e o
material viscoelástico com envelhecimento, em projeto de cooperação técnico-científico
internacional envolvendo o Prof. Flávio Vasconcelos Souza, da Universidade Federal do
Ceará, e o Prof. Miguel Azenha, da Universidade do Minho-Portugal.

1.1 Introdução
Estruturas de concreto de dimensões suficientemente grandes ou com restritas condições
de dissipação de calor, estão particularmente sujeitas à fissuração nas primeiras idades.
Atualmente, cada vez mais estruturas estão sujeitas a este tipo de fissuração, devido ao
aumento do consumo de cimento utilizado nos concretos (resistências mais altas,
limitação da relação água/cimento, concretos reodinâmicos, etc). O presente trabalho tem
por objetivo o estudo do comportamento do concreto nas primeiras idades, considerando
“primeiras idades” (early ages) o período em que suas propriedades variam rapidamente.
Nesse período, as mudanças significativas em sua microestrutura devido ao avanço da
hidratação são percebidas macroscopicamente por meio da variação das propriedades
com o tempo. Enquanto as propriedades se desenvolvem, principalmente as relacionadas
ao endurecimento e à impermeabilidade, a matriz cimentícia apresenta variações de
volume de diferentes origens. As reações de hidratação do cimento com a água produzem
uma massa de hidratos que ocupam menor volume que os reagentes, ocasionando
retração autógena. A perda de água não hidratada que ocupa os poros capilares de
diferentes tamanhos provoca retração plástica ou de secagem, sendo influenciada pela
temperatura do meio externo, velocidade do vento e condições da superfície. As
variações de temperatura, principalmente devido à exotermia das reações de hidratação,
provocam deformações, de dilatação e contração, que em certos casos podem ser a
principal causa de fissuração do concreto jovem (GOMES, 2011).

Portanto, não é sem motivo que os primeiros estudos sobre a fissuração do concreto
jovem se desenvolveram em função dos problemas observados durante a construção de
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barragens decorrentes de tensões de origem térmica (FAIRBAIRN et al., 2007). Desde a
década de 30 já se estudava a adição de material pozolânico para reduzir a geração
interna de calor, sendo histórico o exemplo da barragem de Hoover, onde foram utilizadas
pela primeira vez serpentinas para pós-refrigeração do concreto e cimento de baixo calor
de hidratação como medida para mitigar os efeitos indesejáveis do aumento de
temperatura no interior da estrutura (GOMES, 2011).

As propriedades do concreto, e, portanto, seu comportamento estrutural, são


conseqüência da atuação simultânea de todos os fatores --- termo-quimo-higro-mecânicos
--- afetando sua integridade nas primeiras idades, em geral ainda durante o processo
construtivo, fatores estes nem sempre conhecidos e menos ainda corretamente
considerados. As condições de apoio ou aderência impostas à estrutura, ou mesmo as
restrições internas, transformam o somatório de deformações por variações de volume em
tensões capazes de superar a resistência do material provocando fissuras. Uma vez
instalado o quadro de fissuração, o concreto perde resistência, podendo chegar ao
comprometimento da segurança da estrutura, além de ficar sujeito à percolação de água
e, portanto, às patologias decorrentes, ficando comprometida também sua durabilidade.
Assim, jamais suportará os esforços ou atenderá à finalidade para a qual foi projetado
sem vultoso esforço financeiro.

Apesar da complexidade dos fenômenos envolvidos no processo de hidratação,


considerando a geração interna de calor, as variações de volume de diversas origens e as
relações deformação-tensão dependentes do tempo, o comportamento do concreto nas
primeiras idades pode ser satisfatoriamente modelado e previsto, de modo a verificar se
as premissas de projeto podem ser atendidas. As propriedades térmicas e mecânicas do
concreto podem ser determinadas por ensaios normatizados ou, na falta destes, por
modelos previsores das propriedades dependentes do tempo e valores tabelados para as
demais propriedades. A metodologia de cálculo pode ser complexa e trabalhosa,
considerando a influência da temperatura na exotermia da reação, dentro do quadro
teórico dos acoplamentos termo-químico-mecânicos, ou pode ser realizada de maneira
simplificada. Quanto ao comportamento mecânico, o concreto, bem como os materiais
compósitos à base de cimento, possui comportamento de sólido viscoelastoplástico
sujeito ao envelhecimento, ao dano e à influência da temperatura, afetado pela retração
de secagem, pela variação autógena e pelas condições de contorno complexas e
transientes da estrutura real. Não raro, o concreto é considerado um material
elastoplástico (FAIRBAIRN, et. al., 2007; SILVOSO, 2003) para efeito da otimização dos
principais fatores intervenientes no quadro de fissuração: a temperatura de lançamento de
camadas de concreto, a altura e o intervalo de lançamento, e o consumo de cimento.
Diversos pesquisadores consideram o concreto material viscoelástico com
envelhecimento (GAMBALE, et. al., 1991 e 1992). Simplificações são adotadas em função
de recursos e tempo disponíveis, ou em função de especificidades do problema a ser
modelado, podendo ser ou não razoáveis conforme o nível de segurança exigido e do
grau de aproximação da realidade alcançado.

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2. EQUACIONAMENTO

A equação do fluxo de calor é conhecida como equação de Fourrier. A geração interna de


calor devido às reações de hidratação menos o calor que sai do elemento por condução
(ou convecção, se for de contorno) resulta em calor armazenado pelo elemento. Este
fenômeno pode ser descrito pela equação1:

ρ c T& = k∇ 2T + Q& (1)

em que:
ρ , c, k são a massa específica, calor específico e condutividade térmica, respectivamente;
são em geral considerados constantes do material e independentes da temperatura.
T , T& : temperatura no ponto e taxa de variação da temperatura, respectivamente.
Q& : taxa de variação da geração interna de calor no ponto.

A taxa de geração interna de calor - Q& - não é constante ao longo do processo de


hidratação do concreto. Pode ser determinada experimentalmente por meio de ensaios
calorimétricos adiabáticos, semi-adiabáticos ou isotérmicos. É influenciada pela
temperatura em dado instante e pelo grau de hidratação, cujo efeito pode não ser
desprezível.

2.1. Equacionamento da geração interna de calor a partir de ensaio em


calorímetro adiabático

O calorímetro adiabático é aquele em que não há fluxo de calor através da superfície da


amostra. A reação de hidratação provoca variação de temperatura na amostra, que é
medida. O ambiente circundante é mantido à mesma temperatura para que não haja fluxo
de calor. No ensaio adiabático, o termo k∇ 2T da equação do calor é igual a zero, ou seja,
não existe variação de temperatura nas direções x, y, z do espaço, caso em que todo o
calor gerado internamente é armazenado pelo próprio material na forma de aumento de
temperatura. Uma vez que a taxa de geração interna de calor cessa após certo tempo, a
temperatura aumenta continuamente enquanto existe geração de calor até se estabilizar
em um patamar constante.

A modelagem do campo de temperaturas depende de se obter os parâmetros e a


equação constitutiva que rege a geração interna de calor. Embora diversos pesquisadores
tenham abordado o problema termoquímico (FAIRBAIRN et al., 2007; SILVOSO, 2003) e
a influência da temperatura na reação, a equação diferencial utilizada na modelagem do
campo de temperaturas e da hidratação foi deduzida a partir de AZENHA (2004).

1
Particularizada para material isotrópico. É a equação do balanço de energia em termos de taxa, ou seja, derivada em
relação ao tempo.

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T(t) processo adiabático
TEMPERATURA DO MATERIAL:

∆Tad∞
processo qualquer

T0

tempo
GERAÇÃO INTERNA DE CALOR:

Tad(t) Q(t) ξ(t)


processo adiabático processo adiabático processo adiabático
∆Tad∞ Q∞ 1

processo qualquer processo qualquer processo qualquer

tempo tempo tempo

O calor gerado internamente, a elevação adiabática de temperatura e o grau de


hidratação estão relacionados conforme a equação (2):

Q(t ) = ρc ∆T ad (t ) = Q∞ ξ (t ) (2)

O calorímetro adiabático, utilizado geralmente para concreto, fornece diretamente a


elevação de temperatura adiabática que, multiplicada pela capacidade térmica do
concreto (massa específica x calor específico), resulta no calor gerado em função do
tempo. Uma excelente equação que se adapta aos dados experimentais em calorímetro
adiabático é a equação do tipo2 abaixo, sendo que a, c e Q∞ podem ser obtidos por ajuste
aos dados experimentais pelo método dos mínimos quadrados.
tc
Elevação adiabática de temperatura: ∆T ad (t ) = ∆T∞ad c c = ∆T∞ad ξ (t ) (3)
a +t
c c
t t
Calor acumulado: Q(t ) = ρc ∆T∞ad c c = Q∞ c c = Q∞ ξ (t ) (4)
a +t a +t
c −1
t
Taxa de geração de calor: Q& (t ) = Q∞ a c c c c 2 (5)
(a + t )
Equação diferencial correspondente: ξ& = (1 − ξ ) c ξ c
c 1+ 1 1− 1
(6)
a

2
Equação citada pelo nome de “função Hill” em FARIA (2003) [3]

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2.2. Influência da temperatura da geração interna de calor a partir de ensaio
em calorímetro adiabático

Se a geração interna de calor é definida a partir de ensaio em calorímetro adiabático, e a


modelagem do campo de temperaturas resulta em um processo dito “qualquer” (inclusive
variável com o ponto), é necessário escrever a geração interna de calor para um processo
qualquer a partir da elevação adiabática do processo adiabático.

Em um dado instante t, a taxa de geração interna de calor Q& de um processo qualquer é


a taxa de geração interna de calor se o processo tivesse se processado adiabaticamente
até aquele instante, corrigida de acordo com a equação de Arrhenius pela diferença de
temperatura do processo e da temperatura adiabática do processo.

Este raciocínio foi apresentado de maneira didática por IURA e BREUGEL (2001) apud
AZENHA (2004), e resulta na seguinte equação diferencial em termos do grau de
hidratação, segundo GOMES (2011):

 Ea  
ξ& = f (ξ ) exp 
1 1

 − 
 (7)
 R  ∆T∞ ξ + T0 + 273.15 T + 273.15 
ad

A temperatura de referência para função da temperatura segundo a equação de Arrhenius


não é constante como se utiliza comumente, mas é a própria temperatura adiabática do
processo e, portanto, variável com o grau de hidratação. Adota-se então a temperatura
inicial como referência para a elevação adiabática O procedimento de cálculo da energia
de ativação segundo esta abordagem requer considerações adicionais que fogem ao
escopo deste artigo3.

Se a elevação adiabática obtida experimentalmente for substituída então por uma função
do tipo “Hill”, a equação diferencial em termos do grau de hidratação fica particularizada,
resultando em:

  
c
(1 − ξ )1+ c ξ 1− c exp  Ea  ad 1 1
1 1
ξ& = − 
 (8)
a ref  R  ∆T∞ ξ + T0 + 273.15 T + 273.15 

sendo aref a constante do ensaio de elevação adiabática de referência. Esta é a equação


diferencial do campo de hidratação dependente da temperatura e do próprio grau de
hidratação, que deve ser resolvida por processo não-linear simultaneamente à equação
da difusão de calor, escrita agora em função do grau de hidratação.

ρ c T& = k∇ 2T + ρc∆T∞ad ξ& (9)

3
Mais detalhes em GOMES (2011)

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

A dosagem utilizada no concreto de 2º estágio da segunda caixa espiral da UHE Batalha


foi conforme a Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Dosagem utilizada


Material Tipo (kg/m³) Outras informações
Cimento CP III 40 RS 273 Referência 25.C.20.8-b
Água --- 196 fck 20 MPa
Areia natural 815 MF 4.956
Brita 25mm calcário 1025 a/c 0.718
Aditivo Policarboxilato não foi usado slump 14 cm (bombeável)

O concreto utilizado foi caracterizado quanto às propriedades térmicas e mecânicas


conforme apresentado nas Tabelas 3.2 e 3.3 e nos Gráficos 3.1 e 3.2.

Tabela 3.2 – Propriedades mecânicas


Laboratório Goiânia Obra
Idade (dias) Fc ft E_carlson E_strain_gage E_strain_gage
1.25 2.06 6.2
3 5.71 0.92 15.6 15.2
5 9.63 1.15 18.6 18.0 18.6
7 10.45 1.56 20.9 20.9 23.1
14 26.2 26.5
28 31.6 30.1 32.3

Tabela 3.3 – Propriedades térmicas


Propriedade Parâmetro
o
Calor Específico (J/kg. C) 990.60
Difusividade Térmica (m²/dia) 0,106
Condutividade Térmica (W/m.s.oC) 2.55
3
Massa específica (kg/m ) 2243.00
-6 o
Coeficiente de Dilatação Térmica (10 / C) 9,10

O módulo de elasticidade e a elevação adiabática de temperatura obtidos


experimentalmente resultou, pelo ajuste pelo método dos mínimos quadrados, nas
seguintes equações:

z1.05 t 1.86
E0 ( z ) = 34.9 ∆T (t ) = 28.1
ad

4.451.05 + z1.05 0.921.86 + t 1.86

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Gráfico 3.1 – Módulo de elasticidade versus tempo Gráfico 3.2 – Elevação adiabática versus tempo

4. RESULTADOS

4.1. Informações da obra e plano de monitoramento

A caixa espiral da UHE Batalha pode ser vista na Figura 4.1, bem como a geometria da
caixa espiral em planta e em corte, conforme as Figuras 4.2 e 4.3.

Figura 4.1 – Vista superior da caixa espiral

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Figura 4.2 – a) Planta (EL 750.62); b) Corte 1-1

EC 4

EC 3

EC 6 EC 1

EC 5 EC 2

Figura 4.3 – Detalhe da seção e plano de monitoramento

• EC 1 (Extens. Carlson no ponto provável de temperatura máxima)


• EC 2 (Extens. Carlson na vertical do EC 1 próx. 10 cm do concreto velho)
• EC 3 (Extens. Carlson na horizontal do EC 1 próx. 10 cm do concreto velho
• EC 4 (Extens. Carlson na metade da distância entre a forma metálica do caracol e o concreto velho
da lateral, 10 cm abaixo da superfície da camada)
• EC 5 (Extens. Carlson dentro da Caixa-Tubo Livre de Deformação, próx. 10 cm acima do EC 1)
• EC 6 (Extens. Carlson, único não-perpendicular ao plano da seção, próx à sup. do caracol)

A Caixa-Tubo Livre de deformação consiste em uma fôrma metálica cilíndrica com


acolchoamento interno, com extensômetro embutido. É concretada juntamente com a
camada de concreto e fixada da mesma maneira que os demais extensômetros. Serve
para acompanhar as deformações oriundas apenas da deformação térmica incluída a
variação autógena. A análise das deformações não fazem parte do escopo deste artigo.

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4.2. Informações e condições de contorno utilizadas na modelagem

A modelagem em 2D do campo de temperaturas foi realizada em programa desenvolvido


por FURNAS que contempla a construção em camadas e o acoplamento termoquímico,
cuja saída é preparada para visualização dos resultados no Paraview.

A temperatura ambiente foi considerada conforme a Tabela 4.1

Tabela 4.1 – Temperatura ambiente versus tempo


Tempo (h) 0 6 22 28 46 52 70 76 82 400
Temperatura
22.0 28.0 22.0 30.0 22.0 32.0 22.0 32.0 23.0 25.0
ambiente

Nos nós correspondentes ao arco de caracol foi considerada uma temperatura fixa de
36 °C. Em ulterior análise, será modelada a água dentro do caracol, que não sofre
reposição nem circulação.

O coeficiente de convecção considerado para o contato concreto-ar foi 12 W/m²K, tanto


para o concreto velho quanto para as camadas lançadas de concreto jovem.

A temperatura inicial das camadas de concretagem foi de 32 °C, considerada como a


primeira leitura de temperatura após o concreto recobrir completamente o extensômetro.
A velocidade de execução foi considerada também pelo mesmo critério. Após um ajuste
considerando a posição vertical do extensômetro e o instante da primeira leitura, chegou-
se ao seguinte “cronograma” de concretagem das subcamadas de 20cm:

Tabela 4.2 – Intervalo de lançamento das camadas


Camada 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Lançamento (h) 0.0 1.0 1.9 2.7 3.5 4.3 5.0 5.6 6.2 6.7 7.2 7.7 8.1

A posição dos extensômetros de acordo com as medições feitas na obra é conforme a


Tabela: 4.3

Tabela 4.3 – Posição dos extensômetros


Sensor EC 2 EC 1 EC 5 EC 6 EC 3 EC 4
X 93.50 93.00 93.00 148.00 23.00 70.00
Y 20.00 94.00 114.00 128.00 185.00 260.00

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4.3. Resultados da modelagem

0h 7h

10h 14h

20h 30h

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40h 60h

80h 100h

150h 400h

O histórico de temperaturas versus tempo obtido da modelagem para cada ponto onde
foram situados os extensômetros pode ser visualizado comparativamente aos dados
obtidos do monitoramento com extensômetros Carlson.

Devido a problemas construtivos não foi possível instalar o extensômetro EC 4 na mesma


seção de monitoramento das demais, ocasionando a maior diferença entre a modelagem
e o obtido experimentalmente.

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5. Considerações finais:

A campanha de monitoramento realizada pela equipe de FURNAS foi de grande


importância para a validação do modelo numérico utilizado para o cálculo do campo de
temperaturas da caixa espiral da UHE Batalha. As diferenças encontradas entre a
temperatura calculada pela modelagem e a temperatura medida experimentalmente
mostra a coerência do modelo numérico e dentro de uma razoável aproximação de
engenharia.

A análise crítica dos fatores de incerteza da simulação leva a considerar a temperatura do


contorno do caracol. A modelagem considerou esta temperatura fixa por motivo de
simplicidade, e considerando que não haveria maneira de medi-la. Durante a
concretagem o caracol é preenchido com água pressurizada, sem reposição ou
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circulação, podendo ser conveniente a modelagem da condução de calor no caracol com
água.

Os coeficientes de convecção adotados de acordo com a experiência prévia dos autores e


a bibliografia especializada são, na verdade, extremamente difíceis de serem obtidos
experimentalmente. A troca de calor do concreto com o meio circundante é influenciada
pela velocidade do vento, umidade ambiente e condições de radiação do entorno,
variáveis não consideradas pelo modelo. São, portanto, outra fonte de incerteza do
modelo numérico. Não foi realizado um estudo de refinamento da malha de elementos
finitos utilizada, mas o cálculo em 3D objeto de futuro artigo deverá considerar esta
hipótese.

A temperatura medida experimentalmente também conta com incertezas, algumas das


quais merecem ser relatadas. A principal delas é certamente o instante em que é lançado
o concreto. Embora com todo o cuidado em apontar exatamente o horário de lançamento
de cada sub-camada de concreto, é praticamente impossível saber o grau de hidratação
do material naquele instante. O concreto lançado é proveniente de diversos caminhões-
betoneira, cada qual com um tempo de espera e um histórico de temperaturas diferente
entre a hora da mistura do cimento com a água e a hora do lançamento. Isto é refletido
até mesmo no apontamento da temperatura inicial, que é definida pelo instante em que o
concreto submerge o sensor Carlson, que é diferente para cada um. Simplificadamente,
foi adotada uma temperatura inicial média, de 32 ºC e um grau de hidratação inicial de
10%.

A temperatura ambiente foi medida em apenas um ponto, tomando-se o cuidado de ser à


sombra, mas ocasionalmente a temperatura ambiente real do entorno do concreto recém
lançado pode ser diferente da temperatura medida considerada.

A modelagem do campo de temperaturas considerando o acoplamento termoquímico


mostrou-se importante para a previsão do comportamento real do concreto jovem,
tornando-se uma importante ferramenta na análise do potencial de fissuração nas
primeiras idades

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6. Referências

AZENHA, M.A.D. Comportamento do betão nas primeiras idades: Fenomenologia e


análise termo-mecânica. Dissertação (Mestrado em Estruturas de Engenharia Civil) –
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2004.

AZENHA, M.A.D. Numerical simulation of the structural behaviour of concrete since


its early ages. Tese (Doctor of Philosophy in Civil Engineering) – Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2009.

BETTEN, J. Creep Mechanics. 3a ed. Berlin: Springer, 2008.

FAIRBAIRN, E.M.R.; TOLEDO, R.D.; RIBEIRO, F.L.B.; SILVOSO, M.M.; GUERRA, E.A.;
FERREIRA, I.A. Modelagem do concreto a poucas idades com aplicações em
barragens: Novos paradigmas e novas soluções. Relatório Final. 2007. Parceria
FURNAS/COPPETEC (não publicado).

FARIA, E.F. Predição da exotermia da reação de hidratação do concreto através de


modelo termo-químico e modelo de dados. Tese (Mestrado em Ciências em
Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de Janeiro,
2004.

GAMBALE, E.A.; FONTOURA, J.T.; GUEDES, Q.M.; PACELLI, W.A. Resolução


numérica do modelo viscoelástico linear com envelhecimento do concreto e sua
aplicação no cálculo das tensões de origem térmica em barragens de CCR. In: 34a
REIBRAC. Curitiba: IBRACON, 1992.

GAMBALE, A.G.; FONTOURA, J.T.; PIMENTA, M.D.; GUEDES, Q.M. A evolução da


tensão obtida a partir da deformação medida em um material viscoelástico. In: XXV
Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. Porto Alegre, 1991.

GOMES, F.M.P. Concreto nas primeiras idades: propriedades e modelagem


termomecânica simplificada. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011.

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