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A estabilidade no emprego após o encerramento do

auxílio-doença

Existe uma grande dúvida sobre a estabilidade do empregado quando é afastado do


emprego e passa a receber o auxílio-doença do INSS, então, nesse momento, vamos
tentar explicar, de forma bem clara e objetiva, quem tem direito à estabilidade e quem
não tem.

Primeiramente, é necessário falarmos um pouco do auxílio-doença.

Existem dois tipos de auxílio-doença, e essa é a razão de tanta dúvida, pois ambos são
conhecidos somente pelo "primeiro nome", que é auxílio-doença.

Então, para que não restem mais dúvidas, entendam que existe o auxílio-
doença previdenciário e o auxílio-doença acidentário. E qual a diferença entre eles?

O auxílio-doença acidentário (espécie B91) é o benefício concedido ao empregado que


sofreu acidente de trabalho. Mas esse conceito de acidente de trabalho é bem
extenso. Vejamos o que diz a lei 8.213/91 sobre o conceito de acidente de trabalho:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de
empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho.

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as


seguintes entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício
do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:


a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação


prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o
trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve
considerá-la acidente do trabalho.

E não acabou não! Ainda têm os acidentes de trabalho equiparados:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência


de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro
de trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro
de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força
maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de


sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;


b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (por
causa disso que acidente indo ou voltando do trabalho é considerado acidente do
trabalho)

§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de


outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é
considerado no exercício do trabalho.

§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que,


resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências
do anterior.
Ou seja, tudo isso aí em cima enseja direito ao auxílio-doença acidentário, e é esse
tipo de auxílio que dá direito a estabilidade no emprego, por 12 meses, após o
encerramento do benefício. Vejam:

Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após
a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção do
auxílio-acidente.

E olhem que interessante a parte acima destacada. Mesmo que o empregado não
receba o auxílio do INSS, ainda sim ele terá sua estabilidade garantida. Isso porque
muitas empresas ainda atuam na irregularidade e acabam por não registrar seus
funcionários, ou sequer possuem registro formal, o que, consequentemente,
inviabiliza que seus funcionários sejam segurados da Previdência. Então, a lei, através
desse dispositivo, garantiu que o empregado, mesmo que a empresa esteja irregular,
tenha, também, a estabilidade de 12 meses.

Para encerrar o auxílio-doença acidentário, é bom destacar que não há carência de


contribuições para que o empregado seja beneficiário. Se no primeiro dia de trabalho
ele sofrer um acidente de trabalho, existe o direito ao auxílio-doença.
Já o auxílio-doença previdenciário (espécie B31)é o benefício devido ao segurado que,
desde que cumprida a carência (12 contribuições mensais), fica incapacitado para o
seu trabalho ou atividade habitual por mais de 15 dias.

Considerações importantes:

1- O auxílio-doença acidentário também é devido a partir do 16º dia, assim como


o previdenciário.
2- A incapacidade para o trabalho que enseja a percepção do auxílio-
doença previdenciário não é de acidente do trabalho. Imagine a situação de um
trabalhador que quebrou a perna jogando futebol no final de semana e terá de ficar
30 dias sem trabalhar. É esse tipo de incapacidade que o auxílio-
doença previdenciário engloba.

E aqui é que muita gente se pergunta: o beneficiário do auxílio-


doença previdenciário tem, também, estabilidade no emprego nos 12 meses
seguintes ao término do benefício?

A resposta é não! Somente o segurado que sofreu acidente de trabalho é que faz jus
à estabilidade. Portanto, o funcionário afastado que está recebendo o auxílio-
doença previdenciário não tem estabilidade no seu emprego, ok?

SÉRGIO MEROLA
Sérgio Merola é Advogado especializado em Direito Administrativo e Público para carreiras
públicas (estudantes, concurseiros e servidores públicos). É bacharel em Direito pela
Universidade Salgado de Oliveira (2009), pós-graduado em Direito Público pela Universidade
Cândido Mendes e membro da Comissão de Direito Administrativo da OAB/GO. Atuou como
advogado por 2 anos junto ao escritório Tibúrcio Advogados, ex-presidente da OAB/GO. Hoje,
se especializou em demandas na área de Direito Administrativo, tais como processos
Administrativos e Judiciais de servidores públicos e demandas de aprovados em concursos
públicos. É fundador do Sérgio Merola Advogados Associados, com atuação nacional, e
escritórios em São Paulo e Goiânia.

Tribunal Superior do Trabalho TST - AGRAVO DE


INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA : AIRR 34800-
26.2009.5.02.0465

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. AUXÍLIO-DOENÇA COMUM. FGTS


DO PERÍODO. LEI Nº 8.036/90, ART. 15, § 5º.RECOLHIMENTO INDEVIDO. A
Lei 8.036/90, em seu artigo 15, § 5º, mantém a obrigação patronal somente nas
situações em que o empregado se afasta para prestar serviço militar obrigatório e em
razão de licença concedida por acidente de trabalho. No caso, a Corte de origem fixou
a premissa de que o autor se afastou do trabalho mediante recebimento de auxílio-
doença previdenciário e não acidentário. Nesse contexto, o autor não tem direito aos
depósitos do FGTS. Intacto, pois, o art. 15, § 5º, da Lei nº 8.036/90. O único aresto
colacionado é inservível, nos termos da Súmula nº 337, IV, do TST. AUXÍLIO-DOENÇA
COMUM. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A DOENÇA E AS ATIVIDADES.
ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA NÃO ASSEGURADA. O Tribunal Regional consigna que o
autor é portador de doença degenerativa - "abaulamento discal e osteófitos
marginais" -, ou seja, sem relação com o trabalho desenvolvido na ré. Salienta que não
há prova que elida o conteúdo do laudo pericial, cuja conclusão é no sentido de falta
de nexo causal entre as moléstias diagnosticadas e as atividades exercidas na ré, bem
como de ausência de incapacidade laborativa. A Corte Regional, soberana no exame
da prova, foi categórica no sentido de que o benefício percebido pelo autor foi "Auxílio
Doença" e não "Auxílio-Doença Acidentário". Nesse contexto, não há direito do autor
à estabilidade acidentária prevista no art. 118 da Lei 8.213/93 e tampouco à
reintegração. Intactos, portanto, os dispositivos de lei e da CF invocados. Os arestos
colacionados ou são inespecíficos (Súmula nº 296 do TST) ou inservíveis (Súmula nº
337, IV, do TST). Agravo de instrumento conhecido e desprovido.

(TST - AIRR: 348002620095020465, Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data


de Julgamento: 29/06/2015, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/07/2015).

Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região TRT-1 -


Recurso Ordinário : RO 00016278520105010341 RJ

RECURSO ORDINÁRIO. ACIDENTE DO TRABALHO. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. NÃO


CARACTERIZAÇÃO. 1) São pressupostos para o reconhecimento da estabilidade
provisória do empregado seu afastamento por prazo superior a quinze dias e a
percepção de auxílio-doença acidentário, salvo de constatada após a dispensa a
preexistência de doença profissional que guarde relação de causalidade com a
execução do contrato de trabalho. Inteligência do item II, da Súmula nº 378, do C. TST.
2) Recurso ordinário do autor ao qual se nega provimento.

(TRT-1 - RO: 00016278520105010341 RJ, Relator: Jose da Fonseca Martins Junior,


Data de Julgamento: 11/12/2018, 9a Turma, Data de Publicação: 05/02/2019)

Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região TRT-15 :


ROPS 00103355020185150149 0010335-
50.2018.5.15.0149

(..)

Estabilidade Acidentária / Indenização Substitutiva

A recorrente questiona o reconhecimento de estabilidade acidentária, ressaltando que


não restaram preenchidos os requisitos do artigo 118 da Lei nº 8.213/91, como
afastamento acidentário por mais de 15 dias. Alega que, nos termos da súmula 388, II
do C.TST, é pressuposto para a concessão da estabilidade acidentária, o afastamento
superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, ou seja,
para o trabalhador adquirir o direito à estabilidade é necessário que estejam
preenchidos os dois requisitos mencionados de forma cumulativa, o que não ocorre na
hipótese vertente. Pede reforma do julgado para que seja excluída a condenação ao
pagamento da indenização do valor equivalente aos salários do período de 13/06/2018
a 31/01/2019.

Sem razão.

Não se afigura imprescindível o gozo de benefício previdenciário e afastamento superior


a 15 dias durante o pacto laboral para que se reconheça a condição de estabilidade,
consoante ressalva da parte final do item II da Súmula nº 378 do C. TST: "... salvo se
constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade
com a execução do contrato de emprego" - grifamos.

No caso vertente, conforme sentença exarada nos autos do processo nº 0010065-


26.2018.5.15.0149, incontroversa a ocorrência do acidente de trabalho e comprovada a
culpa do empregador, bem como demonstrada a existência do nexo causal e do dano
efetivo, conclusões corretamente acolhidas e aplicadas à presente reclamatória pela
origem.

E o simples fato de a autora não ter recebido o auxílio doença acidentário não é óbice
para o reconhecimento da garantia de emprego em análise, reconhecido nos autos do
processo nº 0010065-26.2018.5.15.0149 quanto a ter nexo de causalidade com a sua
atividade o acidente ocorrido (súmula 378, II, do C. TST).

Nesse sentido, comprovado o acidente de trabalho e o afastamento por período


superior a 15 dias, faz jus a autora à estabilidade prevista no artigo 118 da Lei 8213/91
e não demonstrada intenção de reintegrada da obreira, correto o deferimento à autora
da indenização correspondente aos salários devidos pelo período compreendido entre
a rescisão contratual (13/06/2018) e 31/01/2019 (devidamente corrigido pelos índices
de reajustes concedidos à categoria), com reflexos nas férias + 1/3, trezentos salários e
FGTS + 40%.

(...)

Sessão realizada em 05 de fevereiro de 2019.

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