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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

AUTORIZAÇÃO: DECRETO Nº92937/86, DOU 18.07.86 – RECONHECIMENTO: PORTARIA Nº909/95, DOU 01.08.95

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS


CAMPUS UNIVERSITÁRIO Dr. SALVADOR DA MATTA

IPIAÚ-BA

CULTURAS HIBRIDAS NA OBRA DOIS IRMÃOS DE MILTON HATOUM

Fernando Pedro Santos Silva1

RESUMO

Este artigo tem por objetivo apresentar as marcas pós-moderna no romance, a


saber, Dois Irmãos de Milton Hatoum apresentando as multiculturalidades que
é um tema pós-moderno muito recorrente na presente obra. A narrativa Dois
Irmãos trata-se de um romance que apresenta culturas hibridas bem evidente
sublinhemos. Milton Hatoum é de origem amazonense e filho de imigrantes
libaneses, uma das possíveis razões para “o criador está na criatura”. O autor
narra história de ódio familiar entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em
uma família de origem libanesa que vive em Manaus. idênticos no físico, mas
opostos nas atitudes e no caráter. Movidos pela rivalidade, vão destruindo as
relações pessoais e familiares, semeando discórdia, inveja, vingança e ódio.

Palavras-chave: Culturas hibridas, Dois irmãos, Yaqub e Omar.

INTRODUÇÃO

Sabemos que o pós-modernismo está aplicado às mudanças ocorridas


na sociedade, portanto, a estética pós-modernista Poética\Política implica no
fusionismo. Milton Hatoum nascido em 1952 é de origem amazonense e filho
de imigrantes libaneses, uma das possíveis razões para “o criador está na
criatura”. Para Hatoum, o resgate do passado no Líbano, não anula o resgate
dos valores manauaras. Daí o fusionismo de culturas, o que nos faz pensar
logo em pós-modernismo, já que as identidades se cruzam, fundem-se.

1 Discente do V semestre Vespertino do curso de Letras Vernáculas da UNEB.


Dois irmãos (2000) é um romance matéria de memória, pois as
personagens tenta resgatar a identidade através da memória. O autor narra
história de ódio familiar entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em uma
família de origem libanesa que vive em Manaus. Idênticos no físico, mas
opostos nas atitudes e no caráter. Movidos pela rivalidade, vão destruindo as
relações pessoais e familiares, semeando discórdia, inveja, vingança e ódio.

Para CANCLINE 2008 “a hibridação modificam o modo de falar sobre


identidade, cultura, diferença, desigualdade, multiculturalismo e sobre pares
organizadores dos conflitos nas ciências sociais...”. Na narrativa, as culturas
hibridas não está só centrada na questão da identidade, mais também na
cultura gastronômica representada pelo pai de Zana, Galib dono do
restaurante, a mestiçagem representada pela figura do narrador filho de
escrava e de um dos gêmeos, pela língua libanesa e cultura manauara,
conforme o fragmento:

Por volta de 1914, Galib inaugurou o restaurante


Biblos no térreo da casa. O almoço era servido as
onze,comida simples, mas com sabor raro. Ele mesmo, o
viúvo galib cozinhava, ajudava a servir e cultivava a horta,
cobrindo-a com um véu de tule para evitar o sol abrasador.
No mercado municipal, escolhia a pescada, um tucunaré ou
um matrinxã, recheava-o com farofa e azeitona, assava-o
no forno de lenha e servia-o com molho de gengilim.
(idem,ibidempg47)

O pós-modernismo transforma tabu em totem como é o caso da


desconstrução familiar de Yaqub e Omar, mistura culturas, língua e raça. Esses
aspectos ficam bastante evidentes nos personagens, Yaqub e Galib. O
primeiro sai do Brasil para o Líbano e o segundo do Líbano para o Brasil, neste
contexto há uma mistura de línguas e de cultura. Sobre isso Cancline reforça
que “ Outra das objeções formuladas ao conceito de hibridação é que pode
sugerir fácil integração de culturas, sem dar suficiente peso as contradições e
ao que não se deixa hibridar”pg25.
Dois irmãos exemplifica bem a perfeição do fusionismo, tão caro aos
pós- modernistas, agora fundindo raça negra de dominga (tida como ex-
escrava) com um dos gêmeos Yaqub ou Omar (libanês+brasileiro) nascendo o
mestiço Nael, que é o narrador desta história. A figura do árabe na obra, serve
como representação identitária universal das minorias étnicas, pois Galib,
Halim, Zana, Omar, Yaqub e Rânia, trazem particularidades, claro, da sua
cultura, mas, ao se inserirem no contexto Amazônico entram em contato com
as outras, seja com a do indígena, representada por Domingas ou com a do
negro, simbolizada pela personagem Pau-mulato, e assim, as incorporam.

A hibridação funde práticas sociais, às vezes recorrentes de imigração


ou de intercâmbio econômico “os processos de hibridação levam a relativizar a
noção de identidade”. Dessa maneira “quando se define uma identidade
mediante um processo de abstração de traços (língua, tradição, condutas
estereotipada) freqüentemente se tendem a desvincular essas praticas da
história de misturas em que se formam.”(Cancline 2008 pg22,23).

Yakub, Galib e Zana retrata bem esse processo de imigração, pois


fundem-se as tradições, as línguas, os aspectos culturais como veremos
nessa passagem: “A distância não dissipara certos tiqueis e atitudes comuns,
mas a separação fizera yaqub esquecer certas palavras da língua portuguesa”
EX: “lá não mama” em resposta a pergunta de sua mãe (idem, ibidempg17). O
fato de yaqub ter sido mandado para o Líbano aos 11 anos, fez com que o
mesmo absorvesse um pouco da língua e cultura deste país. Podemos notar a
muticulturalidade, pois yaqub agora fala libanês com português a um
fusionismo de línguas. Para Jair Ferreira “isso é pós-moderno Essa mistura de
varias tendências e estilos sob o mesmo nome”.

O romance em estudo a saber dois irmãos, assim como Lavoura


Arcaica e Lite Derramado e uma prosa poética, que tem em sua temática a
família tema pouco comum ao pós-modernismo, mas a sua desconstrução e
pós-moderno, esse amor e ódio vivenciado pelos dois irmãos. Estes
personagens, ao mesmo tempo que tentam valorizar a sua cultura, sua
tradição, sua religião, deparam-se com um novo universo, um mundo
degradante, selvagem, exótico. Fazendo com que a memória e a referência ao
exílio, aos países de origem e ao isolamento sejam constantes nos relatos das
personagens da obra, principalmente por parte de Zana e Halim. Por isso Jair
ferreira pg17,18 afirma “o pós modernismo não quer aliar o passado
completamente,quer, revisá-lo, revê-lo, reaproveitá-lo”.

Merecem atenção, ainda, em dois irmãos, as vozes narrativas, em


especial a de Nael. Embora haja outros narradores no romance em questão, a
voz de Nael serve bem á representação do mestiço. Portanto, da fusão do
elemento de fora (libanês) com o de dentro (amazonense). Ao final do romance
não se esclarece quem é pai de Nael se é Yacub ou Omar. Não está dito o
nome; está interdito. Cabe a nos leitores, descobri-lo.

Por fim, voltando ao tema do amor e do ódio entre dois irmãos gêmeos ,
Yaqub e Omar, filhos de Zana e Halim, e irmãos de Rânia Hatoum retoma
intertextualidade entre personagens machadianas, Pedro e Paulo, de Esaú e
Jacó (1904) bíblicos, os míticos Castor e Pólux.

Em virtude do que foi mencionado, estudar processos culturais ,


portanto, mais do que levar-nos a afirmar identidades auto-suficientes , servem
para conhecer formas de situar-se em meio a heterogeneidades e entender
como se produzem as hibridações. Em fim, o pós-modernismo, de acordo com
uma de suas pesquisadoras, Linda Hutchean, é “fundamentalmente
contraditório, deliberadamente histórico e inevitavelmente político”.

Como obra pós-modernista, o romance Dois Irmãos, em sua


concepção denota ambigüidades, com a linguagem lírica comum aos autores
árabes. “são discursos, construtos humanos, sistemas se significação, e é a
partir dessa identidade que as duas obtêm sua principal pretensão á verdade”.
(HUTCHEON,1995,P.127)
REFERÊNCIAS

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós- Moderno. São Paulo: Brasiliense,
2006, p. 22 a 30

CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas.4.ed. 4reimpr.-São Paulo: Editora


da universidade de São Paulo,2008.

HUCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. Trad. Ricardo Cruz. Rio de


Janeiro:Imago,1991

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