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1ᵃ edição – 2016

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COLETÂNEA DE MENSAGENS

Hugo Lapa

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Dedicatória

Este livro é dedicado ao Padre Pio de


Pietrelcina. Seu exemplo de vida e sua renún-
cia em favor do bem têm sido uma grande ins-
piração em meu caminho.

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Índice

Mensagens sobre Sofrimento ......................... 14

Lições do Sofrimento
Atravessando o Vale do Sofrimento
O Remédio Amargo
Nascer de Novo
Madrugada escura
Ataque espiritual
A razão da dor
Luz e trevas
Do mundo caminhamos para Deus
Tudo está dando certo
A lenda da flor azul
O jardineiro cósmico
Provações da vida
Nosso Posicionamento na Vida
Luz Divina
O Menino e a Árvore
Um Homem num Leito de Hospital
Perguntas para a Vida
Siga em Frente
Véu da Ilusão
Força Interior
Destino e Escolha
O Bom e o Mau
Nosso Egoísmo
Perdemos o que não tem valor
Comparações
Criar Expectativas
A Arte de Viver
Quem tudo quer
Simplicidade do Viver
Isso Passa...
Provocando Sofrimento
Não sou nada
Como encarar os problemas da vida
As Partes perdidas
Buscar Deus somente na dor

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O Consolo após a morte
Desejo e Sofrimento
O Apego
Não se importe tanto
Quando você perder
Não lute
Não reaja ao mal
A Vida nos ensina
Superando o sofrimento
Perdas da Vida
Sentimento de Vazio
Infelicidade
Vale dos Arrependidos
A Pedra que me jogaram
Tudo vem e vai embora
A esperança
Preciso de ajuda
Por que os bons morrem jovens?
Viver e Morrer
A Cegueira do Egoísmo
Por que as pessoas sofrem?
A Eterna Jornada do Espírito
Por que Deus permite o sofrimento?
Sofrimento da humanidade
Vazio do egoísmo
Doença que cura
Morrer todos os dias
Ser e ter
Não se importe

Mensagens sobre Relacionamentos ................ 166

Esperar o outro
Amor e dependência emocional
A Venda nos Olhos
Sobre os filhos
Solidão
Medo de perder
Egoísmo Humano
Obrigado Professor
Educação e Limites
Medo da Solidão
Reflexo de si mesmo

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O Veneno da Serpente
Tratando como espírito eterno
Decepção com as pessoas
Papel de Salvador
O Mal está sempre no outro?
O que é importante em sua vida
Quem é o obsessor?
O Último abraço
Mimar os filhos
O Sábio e a Árvore
O Amor é a solução
Não se anule pelo outro
O que os outros pensam de você
Amor e aceitação
Observando a vida
Sobre o karma do aborto
A História das Quatro Almas
Podemos evitar a morte de alguém?
Ninguém protege ninguém
As Crianças são espíritos
Ninguém vence ninguém

Mensagens sobre Evolução


Espiritual e Libertação .................................... 246

Você é espírito
A mente tranquila
A escolha certa
O Lobo Feroz
Deixe tudo fluir
Missão Espiritual
Materialismo espiritual
O erro do outro
Caminho do Meio
Paz de espírito
O Olhar do Inimigo
Ser Feliz
O Viajante e a Bebida do Prazer
Fundo do Poço
Como transmutar nosso karma
A Pedra no caminho
Abandone o consumismo
Esperar para viver

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Preciso mesmo disso?
Não se identifique
Viva pelo Espírito
A Fábula do pássaro que aprendeu a voar
Imagem e essência
O Caminho dos Sábios
Preocupações
Ser e estar
Pensamentos Obsessivos
Ninguém nos afeta
O Silêncio Interior
Sobre a Humildade
A Fábula do Pintinho e do Ovo
Cinco Regras da Raiva
Lutar por melhores condições no mundo
O que é o Sucesso
A Maledicência
A Fábula do mundo das velas
Tempo de Despertar
Sentido da Vida
O Velho e o novo
Rótulo e embalagem
Aceitar a vida
Eu estou certo
A porta da verdade
Viver Fugindo
Felicidade e Paz
Um espírita no umbral
Tudo tem um fim
Meu Inimigo
Sabedoria e Ignorância
Contradição humana
Hoje em dia
Início e Fim
Falatório Pessoal
Não critique
Mudança externa e interna
A Vaidade
Os três obsessores
Conselhos de Vida
Onde foi que eu errei
O que te faz feliz
Grandes Corporações

9
Orgulho nos faz perder
Nossa Barreira Emocional
A Ansiedade
Como encontrar nossa essência
É preciso abrir mão
Apego e Sofrimento
Não dê seu poder
Não deixe para amanhã
Um homem ofende um sábio
Uma alma de luz na Terra
Caminho para a felicidade

Mensagens sobre Religião e Fé ........................ 404

Ser e essência
Oração de Deus
O que é espiritualidade
Religião e espiritualidade
A Paz Espiritual
Deus e perfeição
A melhor religião
A religião mais verdadeira
O que controlamos nessa vida?
Fé em Deus
Uma Luz na escuridão
Encontrar Deus
Fé na Vida
Inferno e Paraíso
Deus nos ajuda a evoluir
Um obsessor no centro espírita
Cair e Levantar
Os últimos serão os primeiros
Contato com o anjo
A Benzedeira e a melhor oração
Os Falsos Profetas
Para ser feliz
O que é Deus
A Chuva Divina
Ascensão Celestial
O Plano das Trevas
Deus em nossa vida
A Fé
Deus está em nosso próximo

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Resgate de si mesmo
A Pobreza
Para ir ao céu temos de morrer
O que vamos levar desta vida
Seja verdadeiro
Vida Simples
O Tempo de Deus
Lição de Vida
Dormir em paz e se envolver na luz
O Religioso Fundamentalista
Deus e os interesses mundanos
Luz do Espírito
O Essencial e o Supérfluo
Em Busca da Luz
Sobre datas do fim do mundo
Medo da morte
Pedindo ajuda a Deus
Merecimento e entrega
Qual o tamanho do seu mundo?
Pra que pedir algo a Deus?

Mensagens sobre Bem e Caridade ................... 520

A Joia da Caridade
A Chama Sagrada
Semeando o bem
O Trabalho no Bem
Sete Pedras Preciosas
Fazer o bem
A real necessidade
O Vazio Interior
A Caridade
Respeito
Reflexões sobre a caridade
O bem cura
O Amor transforma
Pedindo ajuda a Jesus
Amor Incondicional
Dar e Receber
Preocupação com os outros
A Estrada da Vida
O Consolo Espiritual
Meu Quintal

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Quem nos ajuda de verdade?
A História de uma vida
Nada podemos possuir
Disciplina é Liberdade
Por que as pessoas são enganadas pelos picaretas?
O mal que te fizeram
Pureza de intenção
Caridade Verdadeira
Não alimente o mal
Os frutos do bem

Mensagens sobre as
Leis Naturais da Vida ......................................... 584

Princípios espirituais da vida


O Outro Lado da Vida
A Parábola do Deserto e do Mundo
Sobre Vida após a morte
Ensinamentos de Vida
Seu Lugar no cosmos
Ah se eu soubesse
Sinais da Vida
O Prisma Espiritual
A Mensagem Eterna do Mar
Partícula de Deus
Um homem mau no céu
O que você quer
A Vida Passa
A verdade existe?
Eu sou universal
Nosso Jardim Interior
Lei da Afinidade
A Eterna Aurora
Metamorfoses da Vida
Como é o nosso mundo
O Poder
Medo de Fantasmas
O que é a vida
Passado, presente e futuro
Individualismo e coletivismo
As Aparências do Mundo
Um dia você vai morrer
Nossos Apegos

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O Valor do Vazio
Verdades Eternas
Lei da Atração
Por que os maus se dão bem?
A Vida Sempiterna
Nosso Ritmo de Evolução

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MENSAGENS SOBRE SOFRIMENTO

LIÇÕES DO SOFRIMENTO

Quando você estiver atravessando um profundo so frimento,


procure lembrar de oito princípios básicos da vida:

1 – Não há mal que dure para sempre. Qualquer dor, ou so-


frimento que você esteja passando é necessari amente pas -
sageiro. Por mais que demore e por mais que o sofrimento
pareça eterno, um dia ele sempre terá um fim.

2 – Você não é a única pessoa a sofrer no mundo. Nosso


sofrimento sempre parece maior, pois estamos sentindo-o
diretamente, em nós mesmos. Mas basta olhar para o lado e
ver o quanto cada pessoa no mundo sofre de igual forma, ou
até mais gravemente que nós.

3 – Pense que, se o sofrimento fosse menor, ele poderia não


ser suficiente para provocar um movimento em você e te tirar
do conformismo. No momento em que o sofrimento se torna
insuportável, esse limite nos força a tomar uma atitude e a
buscar um desenvolvimento. Se alguma parte do seu orga-
nismo não começasse a doer fortemente, você não saberia
que ele precisa de cuidados, e não buscaria a cura. Da
mesma forma, quando há uma enfermidade da alma preci -
sando de purificação interior, é neces sário que a dor nos tire
da inação e nos mostre o caminho. Logo, não reclame da dor,
tome-a como a base de sua transformação e do seu desa -
pego das coisas fúteis e efêmeras.

4 – Tal como uma criança grita e se debate quando toma uma


vacina, nós também reclamamos e esperneamos quando
Deus nos coloca diante das vacinas dolori das da vida. Da
mesma forma que a vacina irá imunizar a criança e evitar
doenças futuras, assim tam bém o sofrimento advindo das
adversidades da vida tem o poder de imunizar nosso espírito
e nos libertar das futuras doenças da alma.

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5 – Uma grande lição do sofrimento é que só aprendemos
uma coisa quando a realizamos e sentimos. É como o aluno
de natação e seu professor. Por mais que o professor expli -
que a teoria da natação, num dado momento o aluno preci -
sará mergulhar na água e se virar sozinho para con seguir
nadar. É certo que, em algum momento o professor precisa
jogar a pes soa na água, e deixa-la sozinha, para que ela
aprenda a nadar pelos seus próprios meios e recursos, sem
depender mais de ninguém. Em essência, Deus faz isso para
que cada pessoa cresça por si mesma e se torne indepen-
dente, pois é assim que evoluímos es piritualmente. Por esse
motivo, Deus nos coloca num mundo de sofrimento para que,
sem nenhuma ajuda nos momentos difíceis, possamos
aprender as sagradas lições da vida.

6 – Saiba que, se os sofrimentos da vida fossem sim ples de


serem vencidos, o mérito espiritual seria igualmente simples,
e pouco traria de benefícios es pirituais para nosso espírito.
Quanto maior o sofrimento, maior o mérito em supera-lo, e
consequentemente, maior a conquista espiritual. Portanto,
não reclame do sofrimento, agradeça a Deus a oportunidade
de atravessar uma provação.

7 – Os sofrimentos da vida mundana podem ser com parados


aos sofrimentos que passamos na infância. Quando somos
crianças, as pequenas tribulações de briguinhas com colegas,
lutas por brinquedos, ciúmes dos irmãos, gozações dos meni -
nos, tudo isso parece terrível. Naquela fase esses problemi -
nhas parecem imensos, mas após nosso crescimento e ama -
durecimento volvemos o olhar novamente à infância e nos
damos conta do quão irrisórios e insignificantes eram esses
problemas. Os adultos podem até deixar de lado pequenas
rixas infantis por descobrirem o seu caráter banal. O que
acontece na infância com a visão da fase adulta, é seme -
lhante ao que ocorre na visão do espírito no plano espiritual
em relação aos sofrimentos do mundo. Percebemos a sua
natureza transitória e sua total irrelevância di ante da eterni-
dade da vida espiritual.

8 – E por fim, não se esqueça: Deus nos dá a cruz do s ofri-


mento na medida em que podemos carrega-la. Se Deus
desse uma cruz mais pesada do que alguém poderia conduzi-
la, ele seria um Deus injusto. Como Deus é a inteligência

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perfeita e infinita, Ele te conhece muito melhor do que ti
mesmo, e sabe que você é capaz de carregar uma pesada
cruz. Logo, não reclame da injus tiça do sofrimento, tome para
si a sua cruz, pois ela foi esculpida pelo carpinteiro cós mico,
que conhece tuas forças e sabe que você é capaz de passar
pelos labirintos tortuosos da vida e conseguir a sagrada e tão
sonhada purificação interior.

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ATRAVESSANDO O VALE DO SOFRIMENTO

Quando você estiver passando por um grave sofri mento, não


hesite em chorar…

Chore, chore o quanto for necessário, e coloque tud o de ruim


para fora. Não tenha vergonha. Chorar não te faz fraco, ao
contrário: permitir que o sentimento flua te faz mais forte.
Aqueles que prendem o choro não conseguem lidar com suas
emoções, e essas os controlam. Portanto, chore, sem re -
ceio…

Libere toda a emoção retida. Solte tudo que esteja preso


dentro de você. Visualize uma fumacinha negra saindo do seu
peito. Desprenda-se.

Depois de chorar e de liberar todo o sentimen to reprimido e


engasgado, ore…

Faça uma oração, depois faça outra, e outra… Ore até sentir
que sua energia vai se elevando, se elevando… até você se
sentir envolvido de energias boas, energias calorosas, que te
acolhem… até você sentir paz… até você sentir que suas
emoções negativas vão sendo purificadas. Ore um Pai Nosso,
uma Ave Maria, e faça uma oração sincera, de coração, colo-
cando todo o seu ser naquela prece.

Não ore pedindo apenas… Ore simplesmente para se sentir


mais próximo do Senhor, para se harmonizar com Deus. Sinta
o calor divino esquentando seu peito. Entregue-se à oração e
a Deus com toda a confiança. Não importa como seja Deus
para você, coloque-se nas mãos de Deus e tenha fé.

Depois disso, perdoe as ofensas; perdoe as calúnias, perdoe


o mal que qualquer pessoa tenha te feito. O perdão é purifi -
cador e libertador. Perdoe, pois você também não é perfeito,
e pode errar. Perdoe e entenda que cada pessoa tem um
nível de desenvolvimento. Faça como Jesus e diga “Pai, per-
doe-os, pois eles não sabem o que fazem”. Perdoe 7 vezes
70 vezes. Emane vibrações de amor, paz e bem àqueles que
por ventura te fizeram mal. Você se sentirá muito, muito me -
lhor…

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Depois disso, não peça a Deus que diminua o peso de sua
cruz, peça mais força para conseguir conduzir sua cruz para
onde ela tiver que ir. Deus jamais te daria uma cru z mais
pesada do que você pode carregar. Por isso confie em Deus.
Se nem os homens fazem cadeados sem chaves, Deus, que
é a inteligência infinita de todo o universo, jamais te colocaria
dentro de um problema que não tivesse solução.

Nesse ponto, entregue seu problema a Deus. Faça isso da


seguinte forma: Visualize seu problema, dê uma forma a ele,
qualquer uma. Depois que seu problema tiver sido formatado,
jogue para bem alto e veja ele se integrar ao infinito, ao plano
divino. Pense mais ou menos assim: “Deus, nesse momento,
eu entrego esse meu problema a Ti. Rogo que me dê sabedo -
ria e me conceda os sinais necessários para que eu atravesse
com resignação e fé esta dura provação.”

Abra sua mente. O sofrimento deve nos ajudar a abrir os


olhos para novas possibilidades. Sempre que perdemos uma
coisa, ganhamos outra. Todo fim é sempre um novo começo.
Quando descemos ao fundo do poço, não há mais para onde
cair, esse então é o momento em que tudo começa a melho-
rar. Portanto, amplie sua visão e veja aquilo que, até agora,
você não conseguiu ver. A solução do seu pro blema pode ser
mais simples do que você imagina. E lembre-se que aquilo
que não tem remédio, remediado está.

Não perca a fé e siga em frente. A única coisa que você não


pode fazer ao enfrentar o vale de lágrimas da existência mun-
dana é deixar de caminhar. Continue sua peregrinação neste
mundo de espinhos e trevas… Olhe para frente e siga. Quem
para, perece. Quem continua caminhando, mesmo sujo com a
mais densa lama, e mantém sua fé, faz brotar uma chama
sagrada em seu interior e se liberta do sofrimento.

Jamais se esqueça: não há mal que sempre dure…. Um dia,


mesmo que demore, tudo isso irá se encerrar, e o que sobra é
apenas uma pequena lembrança. Quando você despertar
desse profundo s onho de muitas ilusões será recebido nos
planos superiores, de braços abertos, comemorando o grande
sucesso do cumprimento de sua missão na Terra…

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O REMÉDIO AMARGO

Uma mulher estava passando por grandes sofrimen tos em


sua vida. Estava cheia de dívidas , seu marido a abandonou,
seus filhos brigaram com ela, e havia o risco de perder a sua
casa. Já não aguentava mais aquela situação, e começou a
se questionar o motivo de tamanho sofrimento. Pensou em
desistir de tudo e tirar sua própria vida.

À noite, em meio a muitas lágrimas derramadas, orou a Deus


pedindo que interrompesse tanto sofrimento, pois ela não
queria passar por tudo aquilo. Fez uma prece declarando:
“Deus, por favor, Não consigo aguentar tanto sofrimento,
tantas dificuldades em minha vida. O Senhor é todo poderoso.
Suplico que retire este peso dos meus ombros”.

Após a oração, a mulher deitou-se e adormeceu. Começo a


sonhar que um anjo vinha em sua presença e lhe dizia as
seguintes palavras: “Sou o anjo que Deus enviou para te
acudir nesse momento. Por favor venha comigo”.

No sonho, a mulher foi seguindo o anjo e percebeu que am -


bos iam regressando ao seu próprio passado. Co meçou a
rever várias fases de sua vida, e finalmente parou numa cena
em que ela obrigava seu filho a tomar um remé dio. O anjo
aproximou-se e disse: “A resposta as tuas angústias está
dentro de ti. Tu mesmo usaste este método para ajudar teus
filhos”.

A mulher olhou a cena e viu que, num passado não muito


distante, quando seus dois filhos ainda eram cri anças, ela os
obrigou a tomar um remédio bas tante amargo. Um dos seus
filhos estava doente, e o médico havia receitado aquele medi -
camento afirmando que, caso o menino não o tomasse, pode-
ria ficar ainda mais doente. Mas, ao contrário, se ele tomasse
a medicação, iria melhorar em pouco tempo. A mãe então
levou o remédio para o filho. O menino recusou-se a tomar a
medicação, dizendo que o gosto era muito amargo, e que ele
não queria sentir aquilo. A mãe então disse que ele deveria
tomar de qualquer forma, caso contrário iria castigá-lo seve-
ramente. O filho chorou, esperneou, gritou, fez muitas cenas,
mas finalmente tomou o medicamento. Alguns dias depois
estava curado de sua enfermidade.

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O anjo, que acompanhava tudo, perguntou a mulher:

– Você deixaria de dar este m edicamento a seu filho por que


ele pediu, alegando que não queria sentir o gosto ruim do
remédio?

– De jeito nenhum! Respondeu a mãe. Se o medicamento é


necessário, e se vai cura-lo, ele precisa tomar, não importa a
sua vontade. Pois naquele momento ele era uma criança, e
não podia entender o que se pas sava e a importância da
medicação.

O anjo respondeu:

– O mesmo ocorre entre você e Deus. Deus é seu pai ou


mãe, e a humanidade inteira são Seus filhos. Os seres huma -
nos são como crianças que não compreendem ainda os be-
nefícios do remédio amargo dos sofrimentos e provações da
vida. Da mesma forma que tu obrigas teu filho a tomar uma
medicação que é para o bem dele, Deus também nos coloca
em circunstâncias que nos são indesejadas, mas que são
imprescindíveis para a cura do nosso espírito. Tam bém para
ti, os sofrimentos são remédios muito amargos, e te revoltas e
te recusas a sentir tamanho dissabor. Procure compreender
que, da mesma forma que teu filho precisou do medicamento
para se curar, teu es pírito precisa atravessar estas tribulações
para se purificar.

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NASCER DE NOVO

Certa vez, sonhei que estava num campo gramado muito


extenso, num dia nublado, fresco e com uma brisa bem leve e
acolhedora. Estava sentado debaixo de uma grande árvore.

O sonho parecia bem real. Olhei para o lado, e incrível, per-


cebi que Jesus estava sentado sob a mesma árvore que eu,
observando a paisagem, com olhar sereno e profundo.

“O que Jesus estaria fazendo do meu lado?” Pensei. Resolvi


falar com ele e disse:

– Senhor, deu-me a honra de sua presença. Por que resolveu


falar comigo nestas belas paragens esverdeadas?

O senhor olhou-me com muito carinho, e disse:

– Você sempre quis entender o motivo do sofrimento humano.


Então estou aqui para te fazer essa revelação.

Não tinha vontade de falar coisa alguma, apenas de ouvir


Nosso Senhor, Jesus, que estava ali, me dando um precioso
ensinamento.

– Sim mestre. Por favor, explique-me sobre o sofrimento


humano.

Subitamente, apareceu diante de nossos olho s uma mulher


dando à luz a uma criança. Olhei aquela cena e não compre -
endi. Jesus disse:

– O que te revelarei agora desejo que seja passado a toda a


humanidade. Lembra-te do que foi dito: “Para entrar no Reino
dos Céus é necessário nascer de novo”. Pois bem. O sofri-
mento é como uma mulher dando a luz. O parto é o momento
mais doloroso na vida de uma mulher, e é igualmente o único
que permite o nascimento. Dessa forma, o sofrimento é como
um parto. Sofremos muito, chegamos ao limite da dor supor-
tável ao ser humano, mas o resultado disso, quando sabemos
aproveitar, é um novo nascimento. Se não permitimos o nas -
cimento do ser interior que jaz latente no âmago de cada um,
a dor pode se perpetuar. Mas se deixarmos o novo nasci -

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mento ocorrer, o sofrimento cessa. No caso da dor e do so-
frimento, o efeito não é o nascimento de outra pes soa, mas
de um novo eu, da morte do “velho homem” e do nascimento
do “novo homem”, renascido, renovado e divino. Esse é o
significado profundo do sofrimento.

Agradeci imens amente a Jesus, e despertei para um novo


dia…

“Jesus respondeu, e disse-lhe: Em verdade, em verdade te


digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus.” (João 3: 3)

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MADRUGADA ESCURA

Joana estava vivendo o inferno na Terra. Seus pais morre-


ram, seu marido a deixou, seus filhos foram em bora e ela
acabara de perder o emprego. Estava sozinha no mundo,
sem ninguém que a amparasse. Sentiu uma solidão imensa,
um abismo em seu interior, um vazio que mal podia traduzir
em palavras. A vida havia perdido todo o sentido.

Jogou-se na cama após chegar em casa. Arremessou a carta


de demissão no lixo e ficou prostrada por meia hora, ainda em
estado de choque. Depois começou a chorar. Chorou por
horas a fio… O choro se tornara compulsivo, e ela simples -
mente não conseguia parar de chorar. A angústia e a incer-
teza a consumia completamente.

Seus olhos ficaram inchados de tão pesados prantos. Era de


madrugada, e ela só ouvia a cantoria do grilo que insistia em
proferir sua melodia noturna. Mesmo assim, todo o seu chão
parecia ter desaparecido e a palavra esperança havia se
tornado algo muito dis tante para ela. “Minha vida agora será
um oceano de trevas”, pensou. “Nunca mais verei a luz no -
vamente.” E continuou chorando….

A madrugada parecia muito silenciosa e fria. O tempo parecia


não passar, e o escuro da noite se revelava assustador para
Joana. “Ficarei nessa escuridão para sempre?” disse para si
mesma. “Não posso aguentar todas essas perdas”.

O choro e o sofrimento continuaram madrugada a dentro, e a


angústia apertava forte seu peito. Estava quase desistindo de
viver… Já eram mais de 5:00 da madrugada. Joana foi ao
banheiro, pegou uma navalha, e disse em voz alta:

– Deus, por favor, me dê uma luz. Tenho eu esperança em


minha vida?

Nesse momento, Joana olhou para a janela, e o sol estava


nascendo. Ela ficou um tempo de olhos fechados, chorando, e
decidindo se cortaria ou não sua garganta. Ela pensou “Se-
nhor, por favor, lhe imploro. Dê-me uma esperança, me dê
uma luz. Só há trevas em minha vida, haverá alguma luz
sobre mim?”

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Nesse momento, um raio de sol entra pela sua janela e vai
iluminar precisamente a sua face. Joana sentiu a luz incidindo
sobre seu rosto e mal podia acreditar. Pediu uma luz e essa
luz veio… Ela então abriu a janela de sua casa, e viu que o
sol estava começando a brilhar. Joana pensou:

“O sol começou a brilhar sobre mim. É um novo dia que está


nascendo… Passei a madrugada inteira mergu lhada em
prantos, dor, angústias e sofrimento. Vivi nas trevas o que
parecia ser uma eternidade, mas a des peito da mais escura
madrugada, o sol não deixou de brilhar no dia seguinte. Sim,
minha vida recomeça agora.”

Joana, levantou-se, tomou um banho, se arrumou, e foi procu-


rar emprego…

Toda madrugada, por mais escura e sofrida que seja, sempre


precede um novo amanhecer… Não perca a esperança, pois
a luz de Deus sempre volta a brilhar sobre você.

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ATAQUE ESPIRITUAL

Um homem estava passando por uma fase de muito sofri -


mento. Chorava quase o dia inteiro…

Certa vez, estava tentando dormir a noite, e começou a se


sentir muito mal. Começou a perceber que havia dezenas de
espíritos sombrios que o atacavam e o transmitiam muitas
energias negativas.

Muitos pensamentos ruins, de morte, destruição e sofrimento


começaram a atravessar sua mente. Lembrou-se de terríveis
traumas da infância, e tudo isso parecia se intensificar em
fortes emoções negativas.

O homem começou então a mandar aquelas entida des em-


bora, com muita firmeza, dizendo:

– Vão embora daqui! Aqui não é o lugar de vocês!

Começou também a ofender aquelas entidades, e sentir ódio


de todas elas. Quanto mais ele se opunha a elas com um tom
emocional de raiva, mais elas o atacavam e sugavam a sua
energia. O homem começou a sentir-se meio tonto, de tão
mal que estava passando. Começou a ter pensamentos suici-
das e pensou seriamente em pegar uma faca e dar cabo de
sua vida.

No meio do caos e da confusão mental de trevas que ele se


encontrava, lhe veio um pensamento bem leve. Ele resolveu
seguir este conselho que lhe chegou.

Iniciou então uma oração, com muita fé, dirigida a Deus. Co -


locou todo o seu coração, mente e alma naquela prece e
sintonizou com Deus. Entregou-se ao plano divino naquele
instante. Proferiu também as palavras “Ainda que eu ande
pelo vale da sombra e da morte, não temerei nenhum mal,
pois estas comigo Senhor”. Fez várias preces com muita fé e
se colocou nas mãos de Deus.

Depois de um tempo, sentiu que todo o clima do am biente


começou a mudar. Estava mais tranquilo, fisicamente também
se sentia melhor, a tontura passou, as emoções ruins foram

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aliviadas, e começou a sentir-se bem e relaxado. Percebeu
que os espíritos foram se retirando, até que deixaram total-
mente sua residência.

O homem então viu que toda aquela situação havia passado,


e agradeceu a Deus pela mensagem que havia recebido
antes de iniciar a oração.

A mensagem dizia:

“Não b rigue com a escuridão. Acenda uma luz… e to das as


trevas se dissipam.”

26
A RAZÃO DA DOR

Um homem foi acometido por um terrível sofrimento.

Orou fervorosamente a Deus pedindo que sua dor fosse


amenizada.

Um anjo apareceu e disse:

– O que deseja meu filho?

O homem ficou muito feliz de ver o anjo. Aproveitou aquela


sublime presença e perguntou:

– Não aguento mais tanto sofrimento. Por que a dor precisa


ser tão intensa?

O anjo respondeu:

– Se a dor fosse menor, ela não seria suficiente para você


tomar uma atitude e se transformar.

Muitas vezes a dor vem ao nosso encontro para qu e possa-


mos sair do comodismo e nos transformar. Sem a dor o ser
humano permaneceria sempre no mesmo lugar, sem um
estímulo para ir além.

A dor tem sempre um propósito maior, que é o pro gresso


incessante de nossa alma. A dor nos tira da zona de conforto
e nos provoca a buscar algo diferente.

A dor nos obriga a caminhar; nos força a rever nos sos con-
ceitos; nos impulsiona ao progresso; nos ajuda a abandonar
nossas crenças e a buscar o novo; nos faz ir além dos nossos
limites; nos proporciona a reflexão necessária; nos impele a
deixar de lado os preconceitos, a abrir a nossa mente e a
olhar para nós mesmos.

Toda dor e todo sofrimento têm como objetivo di vino a purifi-


cação do nosso espírito.

27
LUZ E TREVAS

Uma mulher estava bastante abalada com seus problemas


atuais. Encontrava-se depressiva, tomava medicamentos e
não via mais saída para a sua situação. O suicídio era uma
opção desde muito tempo, mas nunca teve coragem de tirar
sua vida.

Certo dia, resolveu procurar um guru oriental que mui tos


tinham como um verdadeiro mestre. Foi então visitar o guru
no mosteiro onde ele vivia. As sim que encontrou o mestre,
contou sua situação e pediu:

– Querido guru, por favor, me dê uma orientação sobre a


minha vida. A única coisa que vejo é escuridão.

– Encontre-me amanhã de manhã no alto desta colina. Quero


te mostrar uma coisa, disse o mestre.

A mulher esperou até o dia seguinte, e assim que o dia raiou,


foi encontrar com o mestre ansiosa pela res posta.

Logo que chegou ao alto da colina, observou o mestre em


frente a um túnel escuro.

– Peço que entre por este túnel, até a parte mais es cura do
mesmo. Mas não pare de caminhar. Aconteça o que aconte -
cer, continue caminhando.

A mulher, sem entender nada, confiou e fez o que o mestre


pediu. Adentrou no interior do túnel, que ainda estava ilumi -
nado pelos raios de sol. Conforme ela foi penetrando na parte
interna do túnel, percebeu que a luz estava começando a se
enfraquecer. Entrou ainda mais fundo, e quase não mais
conseguia se ver ou ver qualquer coisa lá dentro. Começou
então a sentir medo. Não sabia o que continha ali no interior
do túnel. Talvez um bicho viesse atacá-la, ou poderia topar
numa pedra, cair e machucar-se. Começou a suar e tremer
descontroladamente. Imaginou-se sendo atacada por animais,
sendo picada por cobras ou aranhas, etc. Pensou tam bém se
tudo aquilo não passou de uma armadilha do suposto sá bio
para estupra-la. Na escuridão, na hora do temor, sua imagi-
nação foi bem longe. Inevitavelmente comparou a situação

28
atual de s ua vida com aquela escuridão tenebrosa. Porém,
reuniu os últimos resquícios de coragem, e lembrou -se das
palavras do sábio que a havia orientado a não parar no cami -
nho, a seguir em frente, caminhando, independente de qual -
quer coisa. Então fez isto, continuou percorrendo o túnel,
mesmo sem nada enxergar. Andou alguns quilô metros e
começou a ver uma pequena brecha de luz a frente. Conti -
nuou mantendo o mesmo passo. A luz foi aumentando, e logo
se revelou como sendo a saída do túnel. Voltou a enxergar-se
e a ver tudo, e finalmente saiu do túnel.

Assim que saiu, deparou-se com o guru, com um sorriso no


rosto.

– Mestre, disse ela, não compreendi por que tive que atraves -
sar este túnel. Por que me fizeste passar por essa escuridão?

O mestre respondeu:

– Para que pudesse ter contato com a luz no final do túnel.


Observe que você iniciou sua jornada dentro do túnel, chegou
a região mais escura de sua traves sia e assim que você cru-
zou a metade do caminho, viu um ponto luminoso mostrando
a saída. Você quase desistiu de caminhar, paralisada pelo
medo e por outras travas emocionais. Isso é o que costuma
acontecer com a maioria das pessoas quando se de param
com a escuridão. Elas param ali, ficam imobilizadas e até
entorpecidas por conta do medo e da cegueira da escuridão,
das névoas da ignorância. Nossa mente começa a viajar e
imaginamos muito mais problemas e perigos do que de fato
existem. A escuridão faz a mente ver riscos e so frimentos
onde nada existe. Mas quando se insiste em seguir a traje -
tória com firmeza, sem desistir, mesmo na escuridão, saímos
da região central do túnel e vislum bramos a luz que sempre, e
afirmo, sempre… brilha do outro lado. Jamais se esqueça
desta lei natural da vida: quando chegamos ao ponto mais
escuro do túnel, es tamos iniciando o caminho da saída. O
mesmo ocorre em nossa vida: assim que chegamos ao ápice
da escuridão, caso continuemos caminhando, um pequeno
facho de luz é avistado, e se persistimos, encontrare mos
certamente a luz que dissipa as trevas.

29
DO MUNDO CAMINHAMOS PARA DEUS

A dúvida é o caminho da sabedoria. Aquele que du vida de


tudo, até mesmo da própria dúvida, chega a certeza de que
nada sabe, e nesse momento… se inicia a sabedoria.

Através da mentira pode-se chegar a verdade. De tanto que


vivemos a mentira em toda a nossa vida; de tanto que a men-
tira nos sufoca, nos ilude, nos engana, nos sabota, começa -
mos a abrir os olhos, ainda que de forma tímida, para entrever
a verdade.

Por meio do tempo seguimos um trajeto rumo à eternidade. O


tempo passa, tudo acontece, os fenômenos fluem, as situa-
ções mudam, tudo se forma e perece, tudo vai e vem, tudo
começa e termina, as coisas exis tem e deixam de existir.
Nesse ciclo infindável da tem poralidade, começamos a sentir
um pouco da inefável natureza da eternidade.

Vivendo intensamente a prisão da carne iniciamos nossa


jornada rumo à liberdade. O cativeiro terrestre nos prende,
nos oprime, nos aperta, nos esmaga, nos escraviza. Sentindo
o cárcere dos desejos e dos sofrimentos do mundo vamos
aos poucos nos soltando, nos elevando e, sem embargo,
vamos atingindo a leveza da libertação espiritual.

Mergulhados nas trevas começamos a peregrinar em direção


à luz. No túnel escuro e aterrador do vale de lágrimas do
mundo, tudo parece perdido, estranho, vazio, sem se ntido.
Nesse momento, diante da tamanha escuridão, vislumbramos
a luz que nos guia pelas vias da plenitude. Quanto maior a
escuridão desse mundo, mais brilhante será a luminosidade.
Das densas trevas começamos a enxergar a luz.

Perdidos pelos labirintos do mundo é que acabamos por nos


encontrar. O ser precisa antes se perder para só depois se
encontrar. Quem não se perde, não pode se achar. Perdendo -
se dentro das estradas limitadas da existência humana é que
a alma começa a encontrar-se no infinito sem caminhos.

Viajando por todos os lugares chegamos a lugar ne nhum.


Nesse lugar sem lugar descobrimos que não se caminha para
fora, mas sim para dentro de nós mes mos. Percorremos o

30
mundo, peregrinamos pelo cosmos para descobrir que não
saímos do lugar, não saímos de dentro de nós. A única via-
gem possível é aquela que vai para o interior, para a essência
de nosso ser.

Seguindo pelas ilusões e miragens do mundo alcan çamos a


plena realidade. É percorrendo a ilusão que se chega ao real;
é pelo esgotamento da miragem que se vê a realidade. Preci-
samos cair mil vezes nos sonhos, nos devaneios do mundo,
nas aparências que ludibriam, envolvidos pelas quimeras e
ficções da existência para só depois descobrir o verdadeiro, o
essencial, o real. De tanto cair no poço fundo e vazio da ilu-
são acordamos finalmente para a realidade.

É por intermédio da morte no mundo que atingimos o renas -


cimento no ser. Morremos muitas vezes para aprender a não
mais morrer. Precisamos passar milhares ou milhões de ve-
zes pela morte para entender que nossa essência não morre.
Vivemos, morremos, nosso corpo se degrada, e aos poucos
vamos renas cendo, morrendo para deixar de morrer, de-
caindo na existência para deixar de perecer. Assim, gradual -
mente, vamos alcançando a verdadeira vida… vamos atin-
gindo a imortalidade.

31
TUDO ESTÁ DANDO CERTO

Uma moça, chamada Caroline, jovem e muito religiosa estava


fazendo as primeiras escolhas em sua vida. Decidiu que que -
ria ser médica e optou em cursar medicina. Porém, no pri-
meiro vestibular, não alcançou nota suficiente para passar. No
ano seguinte prestou mais uma vez, e de novo não obteve
sucesso. Estudou muito e tentou pelo terceiro ano consecu -
tivo, e mais uma vez não conseguiu ser aprovada na universi-
dade.

Após três decepções em três anos seguidos ela orou fervoro -


samente a Deus e perguntou por que ela não conseguia pas -
sar na universidade e qual era o motivo de suas tentativas
frustradas. Ficou em oração por um tempo e veio em sua
mente uma voz angelical que disse:

– “Está dando certo…”.

Caroline ouviu a voz, mas não deu importância, já que obvia -


mente o vestibular não tinha dado certo, pois ela não passou
em medicina, que era seu sonho. No ano seguinte tentou
Direito e conseguiu ser aprovada, porém com certa tristeza.

Quando estava cursando Direito, leu num cartaz da faculdade


uma excelente oportunidade de estágio, num dos escritórios
de advocacia mais conceituados do Brasil. Passou por uma
entrevista de emprego e foi muito elogiada pelo entrevistador.
Mas na prova teórica necessária para a aprovação não teve o
mesmo sucesso e foi reprovada. Assim que chegou em casa,
a noite, orou mais uma vez aos anjos e perguntou por que o
estágio também tinha dado errado, assim como a medicina.
“Por que quase tudo dá errado?”, perguntou ela em oração.
Subitamente ouviu a mesma voz angelical dizendo

– “Está dando certo…”.

Mais uma vez não deu importância à voz, posto que, obvia -
mente, ela tinha perdido uma grande oportunidade de estágio.

Caroline morava num apartamento com sua mãe. Havia ter-


minado a faculdade quando, num ataque cardíaco fulminante,
sua mãe morreu e a deixou sozinha neste mundo. Caroline se

32
desesperou muitís simo, pois era bastante apegada a sua
mãe. Desenvolveu um quadro depressivo após a perda e
precisou de alguns meses até se recuperar. Numa de suas
crises de desespero, fez uma prece dirigida aos anjos do
Senhor e mais uma vez perguntou:

– Por que Senhor? Por que tudo em minha vida dá errado?

Mais uma vez, a mesma voz angelical, muito bela, res soou
dentro de sua mente, mas agora lhe veio também à imagem
de um anjo, que disse:

– “Está dando certo…”.

Caroline já começava a ficar brava com a voz. “Nada está


dando certo, que droga!”, disse ela em voz alta. “Tudo em
minha vida está dando errado! Não entendo por que Deus faz
isto comigo!”

Após a morte de sua mãe, Caroline, que já era viciada em


trabalho, começou a ficar ainda mais mergulhada nos afaze -
res do escritório em que começou a trabalhar. Já estava por
demais estressada e cansada de tanto trabalho, e por isso
acabou ficando muito doente e foi conduzida a UTI de um
hospital com um quadro bem grave. Ficou mais de dois me -
ses internada, sem poder trabalhar, e ficou pensando sobre a
sua vida até aquele momento. Sua sensação era de ter per-
dido tudo e estar à beira de um surto. Mais uma vez orou
ardentemente e pediu uma explicação a Deus e aos anjos.

– Deus, por favor, me ajude. Perdi tudo e estou aqui neste


leito de hospital inválida. Qual o sentido de tudo isso? Por que
tudo dá errado para mim?

Caroline ficou tão nervosa com essa situação que aca bou
tendo um ataque cardíaco. Percebeu seu corpo muito leve e
começou a levitar acima do leito hospitalar. Viu a equipe mé -
dica tentando reanima-la, mas sem sucesso. De repente já
não estava mais no hospital, mas numa espécie de cosmos
espiritual infinito, além do tempo e do espaço, numa região de
luz e amor. Nesse momento, uma voz suave disse:

– “Está dando certo…”.

33
Caroline reconheceu aquela voz. Era a mesma voz que, ao
longo de várias fases de sua vida até aquele momento, havia
sempre lhe incentivado com a afirmativa de que tudo estava
dando certo. Logo depois um anjo apareceu. Caroline então
resolveu aproveitar aquela situação de “quase-morte” e per-
guntou ao anjo.

– Ao longo de minha vida sempre ouvi sua voz dizendo que


tudo estava dando certo. Mas eu não pas sei em medicina,
perdi o estágio que tanto queria para minha carreira em Di -
reito, minha mãe, que era a pessoa que eu mais amava mor-
reu, fiquei depres siva e agora estou aqui, morta, após uma
grave enfermidade. Como é possível acreditar que minha vida
deu certo?

O anjo, com olhar amoroso, respondeu:

– Caroline, em todos os momentos difíceis de sua vida eu lhe


disse que as coisas estavam dando certo, e de fato estavam.
Você não passou na faculdade de medicina por que não seria
feliz como médica, não era esse o seu dom. Você seria mais
produtiva, feliz e cumpriria muito mais a sua missão sendo
advogada. Você não passou no “prestigiado estágio”, pois
seria estuprada no escritório nos primeiros dias de trabalho, o
estuprador ficaria impune e isso provocaria feridas psicológi -
cas que você dificilmente superaria. A morte de sua mãe
serviu para você se libertar do apego que tinha dela, e para
você aprender a se virar sozinha, como você con seguiu de-
pois. A doença que te levou a interrupção do seu trabalho
veio para que você pudesse parar um pouco com sua rotina
super corrida e estressante e refletisse um pouco sobre você
mesma, caso contrário, algo pior poderia ocorrer. Tudo isso
serviu de aprendizado, lições que você jamais irá perder. Por
isso eu sempre lhe transmitia o pensamento de que “Está
dando certo”. De um ponto de vista humano limitado, tudo
estava dando errado, mas de um ponto de vista infinito, den -
tro do seu desenvolvimento es piritual, tudo estava dando
certo. Muitas vezes as pessoas pedem a solução dos seus
problemas e acreditam que sua vida está toda errada. E na
maioria das vezes, está tudo dando certo, mas o ser humano
não percebe isso. Os anjos ficam repetindo “está dando
certo… está dando certo…” e as pessoas não acreditam.

34
Agora volte a Terra, pois ainda não chegou a sua hora. Você
vai retornar e passar a viver uma existência muito melhor.

35
A LENDA DA FLOR AZUL

(Provação e Missão humana)

Há uma lenda muito antiga, que vem de tempos imemoriais, e


que se perdeu dos anais da história conhecida. É uma lenda
muito bela, que conta a estória de um menino de sete anos de
idade que se chamava “Archen”.

Havia uma serpente muito perigosa que passeava pela região


onde Archen morava. Essa serpente se chamava “Daimonia”,
muito conhecida por sua cor de um tom azul escuro. Muitas
pessoas haviam sido picadas e mortas por essa cobra. Seu
veneno era perigosíssimo, e dizem que era capaz de matar
uma pessoa em apenas 3 minutos. Archen, no entanto, era
um menino muito puro e abençoado pelos deuses. Por isso
ele foi escolhido para uma missão que aju daria todo o povo
de sua região.

Certo dia, Archen estava brincando numa estrada de terra,


num lugar de muita natureza. Sua mãe estava sentada a uns
50 metros do filho apreciando as belezas naturais. Archen
andava pela estrada, olhando os pás saros, quando de re-
pente Daimonia, a perigosa serpente apareceu ali. Archen
não percebeu a presença da serpente, e assim que a viu, ela
pulou rapidamente na perna do menino, picando-o, sem que
ele pudesse esboçar qualquer reação. O menino sentiu a
força da picada e a dor latejante. Começou então a chorar
muito… A lenda conta que suas lágrimas caíram sobre o local
da picada e depois derramaram no solo. Como o veneno agia
rapidamente, em 3 minutos o menino já estava morto. Foi
encontrado pela mãe somente uma hora depois.

A lenda pode parecer muito triste, mas ela tem um final feliz.
Archen foi enterrado no mes mo lugar onde a serpente o havia
picado. A estória termina dizendo que no exato local onde
Archen foi enterrado, nasceu e desabrochou uma belíssima
flor azul, várias delas. Ao contrário da pele da serpente, a
coloração da flor não era de um azul escuro, mas de um azul
muito claro e lím pido. Dizem que essa flor continha o precioso
antídoto que por muitos séculos protegeu o povo da letal
picada da Serpente Daimonia. Assim, Archen teria cumprido a
sua missão e conseguido salvar a vida de milhares e milhares

36
de pessoas de várias gerações seguintes, pois seu sofrimento
fez com que brotasse do solo uma sagrada flor que continha o
antídoto para o mal que há muito assolava os habitantes
daquela região.

Essa estória simples contém um significado muito pro fundo,


que serve para a vida de qualquer pessoa. Ela revela o sen -
tido do sofrimento e da missão que se segue a partir da cura,
renovação ou purificação que o sofrimento nos traz, assim
como o possível início de uma caminhada que semeará o
mundo com algum benefício espiritual, caso a pessoa permita
o renascimento. Essa lenda encontra correspondência em
outras lendas, como a lenda da flor de lótus, que da lama faz
nascer a flor com o branco mais puro da natureza, e também
a lenda do curador ferido, que se fere e desse ferimento
nasce a cura para o mal.

Vemos muito exemplos na vida humana de como um grande


sofrimento, uma ferida interior, uma doença, ou qualquer
outra adversidade ou provação pode se transformar num
caminho, numa missão ou na realização de um trabalho do
bem que se espalhe pelo mundo. Em Psicologia, esse pro -
cesso se dá quando alguém consegue transformar o seu
maior complexo num arquétipo, ou seja, num “modelo” que
servirá de caminho para que outras pessoas sigam seus pas -
sos e tomem um rumo na vida. Vamos citar alguns exemplos:

Pessoas que sofreram graves doenças podem se transformar


em médicos, enfermeiros e curadores, e iniciarem a missão
de ajudar a curar outras pessoas. Pessoas que sofreram
graves acidentes, tiveram grandes perdas, podem iniciar
campanhas, ações ou projetos de lei que visem melhorar as
condições que provocaram os acidentes, como os acidentes
de trânsito. Pessoas que passaram por depressões gravíssi -
mas ou outros transtornos psíquicos se tornam grandes tera -
peutas, psicólogos ou ajudadores. Pes soas que viveram a
extrema pobreza criam ou se engajam em projetos sociais
diversos. Pessoas que foram injustiçadas e passam a lutar
por justiça. Pes soas que foram abandonadas na infância e
lutam por iniciativas contra o abandono, por adoção ou proje-
tos a favor das crianças. Pessoas que transformam um
grande medo numa coragem inspiradora; uma grande angús -
tia no consolo; um grande ódio num sublime amor; uma

37
grande desesperança numa inabalável fé ou esperança na
vida, que vem iluminar os passos de outras pessoas.

Seria possível estender essa lista indefinidamente, ci tando


muitos exemplos de como é possível trans formar um sofri-
mento numa missão em favor do coletivo, ou como transfor-
mar um complexo, uma ferida interior, num arquétipo, ou
modelo de conduta e modo de ser que pode curar ou ser o
guia de dezenas, centenas ou milhares de pessoas. Numa
analogia com as cores, Archen transformou o azul escuro da
pele da serpente no azul claro da flor. Ou tros podem trans -
formar o vermelho escuro no vermelho claro; o amarelo es -
curo no amarelo claro; o verde escuro no verde claro, dentre
outros exemplos, e isso depende da “cor” da “serpente” que te
“picou” e feriu. Muitas vezes, quanto maior o sofrimento,
maior o poder de transformação quando a pessoa consegue
se purificar através da provação, e consegue transformar a
provação numa missão.

Você também pode transformar sua doença numa cura; seu


sofrimento ou provação numa missão, seu com plexo num
arquétipo, modelo ou exemplo de vida. Basta fazer como
Archen, morrer para seu eu inferior e deixar a flor azul nascer
do solo do túmulo onde você enterrou o “velho homem”.

Transforme a serpente que te picou na flor que de sabrocha,


esparge seu perfume, e que será o antídoto ou a luz p ara
outras pessoas.

38
O JARDINEIRO CÓSMICO

Era uma vez uma plantinha muito bela, que vivia num suntu -
oso e vasto jardim muito florido. Ela es tava sempre feliz, pois
o jardineiro dedicava muita atenção a ela, cultivando, regando
e cuidando de várias formas.

Certo dia, uma grande tempestade se abateu sobre o jardim.


A plantinha foi arrastada pelo vento, seus galhos ficaram
como trapos e quase que seu tronco foi quebrado.

No dia seguinte, o jardineiro começou a cuidar do jardim,


como costumava fazer. Assim que ele chegou na plantinha,
ao invés de cuidar dela, como sempre fazia, ele começou a
cortar seus galhos. A plantinha tomou um susto, e sentiu todo
seu corpo vegetal doer muito. Perdeu várias partes de si
mesma, e ficou muito triste com tudo isso.

Ela pensou: “Mas como o jardineiro pôde fazer isso comigo?


Eu que sou uma das plantas mais belas e vigorosas do
imenso jardim. Ele me abandonou depois dessa terrível tem -
pestade e agora quer se livrar de nós.”

O tempo passou, e novos galhos começaram a nascer no


lugar dos que foram cortados. Ela cresceu mais, ficou mais
robusta e estava até mais bonita.

Passados alguns meses, outra feroz tempestade de sabou


sobre o jardim, trazendo ventos fortíssimos, parecidos com a
outra vez. No entanto, dessa vez a plantinha pouco se ver-
gou. Sentiu a intensidade do vento, mas parecia que estava
mais forte, e manteve-se firme enraizada no chão resistindo
bravamente à fúria da tormenta. Após o susto, ela ficou bem.

Uma árvore, que residia próximo ao jardim , disse a plantinha:

– Minha querida, o jardineiro não cortou seus galhos por que


te abandonou, ou por que não se importava com você. Há
uma lição que nós, árvores mais antigas, aprendemos após
tantas tormentas. Toda planta, quando é podada, se torna
mais forte e mais resis tente. Por esse motivo o jardineiro
podou várias de vocês, retirando os galhos já envelhecidos e

39
usados, permitindo nascer novos galhos, renovados e resis -
tentes.

A plantinha chorou, e agradeceu muito ao jardineiro pela


ajuda…

Assim também ocorre com Deus e os seres humanos. Deus,


o Jardineiro Cósmico, poda nosso emocional, retirando dele
os pedaços envelhecidos das lem branças acumuladas, obri-
gando o homem a se des prender do lixo emocional do seu
passado. O homem, assim como a plantinha, ao ser podado
por Deus, se renova e se torna mais forte e mais experiente.
Assim ele não sofre tanto quando as mais terríveis in tempé-
ries o atingem. É preciso entender bem essa verdade: não
existem erros nos planos de Deus.

40
PROVAÇÕES DA VIDA

Deus nos tira o casaco para ver se nós aprendemos a resistir


ao frio.
Deus coloca uma estrada longa para ver se aprende mos a
caminhar.
Deus nos faz ficar cegos para ver se conseguimos en xergar
além das aparências.
Deus nos faz cair para ver se aprendemos a levantar.
Deus nos afasta das pessoas para ver se aprendemos a
valorizar o outro.
Deus nos coloca limites para ver se somos capazes de su -
pera-los.
Deus coloca barreiras em nossa frente para ver se somos
capazes de transpô-las.
Deus nos faz perder para ver se somos capazes de nos de -
sapegar.
Deus nos joga na escuridão para ver se somos capa zes de
acender a luz.
Deus nos tira o chão para ver se somos capazes de voar.
Deus nos faz morrer para ver se, finalmente, nós somos ca -
pazes de renascer.
Todas as circunstâncias da vida são provações que necessi -
tamos passar.
É como o aluno que faz uma prova…
A prova serve para testar seus conhecimentos,
Mas na vida as provações servem para testar o ser humano e
sua fé.
Avaliar, verificar e nos ajudar a viver na plenitude de nossa
ética, do nosso caráter, do nosso desprendimento, de nossa
fé e do nosso amor.
Quando Deus te tirar o chão, não reclame… Aprenda a voar.
Voe pelos espaços sagrados do despertar espiritual no seio
do infinito…

41
NOSSO POSICIONAMENTO NA VIDA

Um homem estava muito triste com sua situação atual. Sua


vida estava cada vez mais difícil. Não sabia mais o que fazer
e pensou em desistir.

De repente, presenciou um acidente de carro. Dois carros


colidiram de forma brutal. Um dos motoristas saiu do carro e
disse:

“Ai meu Deus, que droga! Que inferno de vida! Perdi meu
carro nessa batida! Como a vida é injusta! Que raiva de tudo!

Outro motorista, que sofreu o mesmo acidente na coli são,


com os mesmos danos ao seu veículo, saiu do carro e disse:

Graças a Deus estou vivo! Abençoado seja esse dia em que


minha vida foi salva. Consegui sobreviver a um acidente fatal.
Estou feliz e aliviado.

O homem viu aquela cena e agradeceu a Deus pela resposta,


pensando:

“Claro, agora eu compreendi. O primeiro motorista sofreu o


mesmo acidente e reagiu negativamente, amaldiçoou tudo e
ficou raivoso. O segundo, ao contrário, agradeceu ter sobrevi-
vido e abençoou a exis tência. Tudo na vida depende da forma
como nos posicionamos diante das circunstâncias. Boa parte
dos problemas que enfrentamos com a ver com a forma como
nós o encaramos. O que importa não são as situações em si
mesmas. O que faz a diferença é a forma como nós reagimos
ao que nos ocorre”.

Não importa o que te aconteça na vida, o importante é o que


você faz com isso.

42
LUZ DIVINA

Muitos já ouviram falar da famosa “luz no fim do túnel”, mas a


maioria não sabe exatamente qual o significado dessa luz.
Em muitas das chamadas “experiências de quase morte”
aparece o túnel e a luz no final. A luz funciona como se fosse
um “guia” dos espíritos que estão na condição de quase
morte e também dos espíritos que acabaram de desencarnar.

O chamado “Livro Tibetano dos Mortos” também fala sobre


essa luz, a qual ele denomina de “Clara Luz”. O bardo, que é
o espírito que acabou de desencarnar e que está atraves -
sando as etapas do período pós -morte, deverá, segundo a
tradição tibetana, seguir em direção a essa luz para se ilumi -
nar e também para fugir da necessidade da roda das encar-
nações.

Os monges tibetanos que seguem O Livro Tibetano dos Mor-


tos passam por um treinamento que dura boa parte da vida e
que consiste apenas em se preparar para a morte, e princi-
palmente, prepararem-se para este momento derradeiro onde
o “bardo”, ou a alma após a morte, precisa ser orientado pela
clara luz e se integrar nela. Na tradição Hindu, mais espe -
cificamente nos Upanishades, há uma referência bas tante
poética sobre a luz, o texto sagrado diz: “Há uma luz que b ri-
lha para além de todas as coisas na Terra, para além de nós,
para além dos céus, para além do mais alto, do mais alto dos
céus. É a luz que b rilha nos nossos corações”.

Em algumas obras espíritas e espiritualistas é possível en-


contrar algumas referências sobre essa luz. Aque les que
possuem mediunidade desenvolvida podem, algu mas vezes,
acompanhar a transição de uma alma logo após o desliga -
mento do corpo físico e o que acontece em seguida. Alguns
espíritos se deparam com essa luz brilhando para eles, como
se a luz os estivesse chamando para o plano espiritual mais
elevado. O que acontece é que os espíritos sentem a luz,
sentem a sua grandiosidade e um excelso enlevo espiritual
onde são arrebatados a uma realidade que só poderia ser
chamada por nós de divina.

No entanto, s entindo todo esse êxtase cósmico de amor total,


pureza total, etc, as almas recém desencarnadas têm a im -

43
pressão de que se tornam pequenos diante dessa luz, e tam -
bém que, se forem em direção a luz, eles vão se dissolver
nela e isso vai neutralizar sua individualidade, tal como uma
pequena gota poderia dissolver-se e se perder no oceano.
Porém, tanto O Livro Tibetano dos Mortos quanto os espíritos
de luz garantem que não é isso que ocorre. Como diz a má -
xima mística: “Não se trata de perder-se no oceano, mas de
tornar-se oceano”.

Mas o que é exatamente essa luz? Todos sabem que, do


ponto de vista de nossa mente dual, a luz é o oposto da escu -
ridão. Pois bem, podemos dizer que a vida humana se depara
a todo momento com uma oscilação entre luz e escuridã o. Em
alguns momentos estamos preenchidos de luz e em outros
caímos na mais aterradora escuridão. A escuridão parece
tomar a nossa vida naqueles momentos em que, por exem plo,
passamos por um trauma fortíssimo, perdemos alguém que
muito amamos, mergulhamos numa depressão profunda,
vivemos uma crise de vários tipos, sofremos um grave aci -
dente, pegamos uma doença fatal, dentre outros casos.

Nesses momentos de grande sofrimento, algumas ve zes


parece que ficamos tão mal, mas tão mal que caímos numa
espécie de vazio. Algumas pessoas sentem como se estives -
sem num vazio sem fim, como que caindo num abismo psi -
cológico, e nada parece restar em nossa vida a não ser trevas
e vazio. Em casos extremos como esse, as pessoas podem
ter uma sensação de sufocamento da própria identidade,
onde sentem o seu ego se dissolver, como se elas mesmas
fossem deixar de existir e cair numa profunda escuridão.
Muitas pessoas estão a um passo dessa escuridão e aqui
ocorre um outro fenômeno: elas ficam tão deses peradas em
fugir dessa escuridão que acabam por reforça-la dentro de si.

No entanto, nesses momentos de angústia extrema, é preciso


lembrar que Deus nada faz de inútil, que tudo tem um propó -
sito superior, e que mesmo no vazio existe alguma coisa. Na
natureza não existe a queda num abismo sem fim, nada é
excluído do cos mos. Mesmo as fezes servem como adubo da
terra, e mesmo a semente que caiu esquecida na terra pode
pensar que está prestes a morrer, mas ela morre para dar
lugar a uma linda plantinha que começa a brotar. O mesmo
ocorre com os seres humanos. Nos momentos de maior de -

44
sespero, onde a escuridão toma conta de nossa vida, é jus -
tamente o momento em que a luz pode brilhar com mais in -
tensidade. As pessoas podem pensar que esse é o momento
que Deus as abandonou, mas é justamente o contrário. Al-
guns podem não entender isso, mas é algo simples de com -
preender. Observemos que a noite precisa aparecer com sua
escuridão para que as estrelas possam brilhar no céu. Da
mesma forma, a escuridão total precisa se fazer em nossa
vida para que possamos ver a luz, tanto a luz externa de
Deus quanto a luz interna, que existe dentro de cada um. No
plano do absoluto, essas duas luzes são uma só e mesma
luz.

Então, a pergunta mais importante é: o que fazer quando


nossa vida está sendo engolida pela escuridão? A resposta
não poderia ser outra senão “Vá para a luz”. Todos devem
conhecer o famoso versículo bíblico que foi feito justamente
para esse momento (assim como para todos os momentos
difíceis da vida), que diz “O Senhor é meu pastor e nada me
faltará (…) Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da
morte, nada temerei, pois estás comigo Senhor” (Salmo 23).
Isso significa que, mesmo que a pessoa esteja sub mersa na
mais densa escuridão, Deus jamais a abandonou, ao contrá-
rio: esse é o momento em que a luz primordial divina está
mais próxima . Mas a pessoa precisa ir até a luz; a pessoa
precisa ir até essa sublime emanação luminosa.

Nesse momento, a fé deve ser o farol que guia aque les que
desejam sair das trevas e ir para a luz.

Assim também ocorre nas chamadas iniciações dos mistérios.


O candidato à iniciação é colocado numa situação em que
vivencia o chamado “umbral” ou “abismo”, que é a escuridão
total, onde todas as suas imperfeições e impurezas vão apa -
recer mais fortes do que nunca, e ele precisa vencer sua
sombra para se envolver na luz. Falamos com mais detalhes
sobre a iniciação espiritual em outro artigo deste mesmo blog.

Obviamente “Ir até a luz” não significa levantar e cami nhar até
uma luz que fica a sua frente. Trata-se apenas de se integrar
na luz divina e permitir que Deus tome conta de sua vida.
Nesse momento vamos compreender o profundo significado
de outra máxima bíblica que diz “Já não sou eu quem vive,

45
mas o Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20). Assim, a pes -
soa deve se integrar na luz e se entregar comple tamente a
Deus, sem qualquer restrição. Explicando de uma forma mais
simples: Deus nos joga na escuridão para que possamos en-
contrar a luz. É justamente quando somos jogados na escuri -
dão que se apresenta o momento mais propício para a har-
monização com a luz divina. Meditem nessas explicações, e a
luz divina estará sempre com vocês, como uma chama eterna
que nunca se apagará, ardendo em vosso interior.

46
O MENINO E A ÁRVORE

Havia um menino de apenas 6 anos de idade que ado rava


árvores. Passava boa parte de seu tempo observando e brin-
cando com elas. Ficava horas abrigado pela suave sombra de
imensas árvores que existiam num bosque muito belo pró -
ximo a fazenda onde morava.

Certo dia o menino decidiu que plantaria uma árvore. Procu-


rou um local do bosque onde não havia nenhuma árvore,
cavou e ali mesmo depositou uma semente de solo. Fez isso
imitando um jardineiro da região que sempre semeara árvores
formosas e cheirosas. Após o plantio, ficou todo feliz com sua
realização.

No dia seguinte, o menino, todo orgulhoso, chamou seus


cinco amiguinhos para apreciar seu grande feito. Os colegas
aceitaram o convite e foram caminhando pelo bosque até o
local exato onde a semente estava. Lá chegando, os colegas
olharam, olharam e não viram nada, pois a semente estava
debaixo do solo. Um dos meninos disse: “Não tem nada aqui.
Você não plantou nenhuma árvore. Estava apenas mentindo
para nós. Que mentiroso você é!” Os garotos saíram rindo e
escarnecendo do menino. Este ficou com lágrimas nos olhos
e foi correndo, muito decepcionado, para sua casa.

Dez anos depois, o menino e os cinco colegas esta vam na


escola. Eles decidiram visitar o bosque após tantos anos. Ao
chegarem ao mesmo local que há anos o rapaz, ainda me -
nino, afirmara ter plantado uma árvore, eles observaram, para
seu total espanto, um belo e monumental carvalho… A árvore
era esbelta e imponente, com lindos e harmoniosos arbus tos.
Os jovens ficaram impressionados, pois há 10 anos nada
havia ali e por isso, riram do menino. O rapaz ficou muito feliz
e realizado ao ver a árvore e compreendeu uma grande lição.

A vida do homem que semeia o bem e leva uma vida de fé é


semelhante a essa estória. Muitas vezes nossa vida parece
vazia, tal o solo da árvore que ainda não nasceu. Mas aquele
que semeia o bem, tem fé e busca a Deus sempre em sua
vida futuramente vê florescer a essência divina em seu inte -
rior. Não se deixe abater pelo vazio ou pela falta de sentido

47
de sua vida. Mesmo numa aparente ausência existe a perfeita
alquimia da natureza sendo realizada.

O vazio do mundo das formas e aparências muitas vezes


esconde um novo germinar, um novo nascimento em nosso
interior. Não se preocupe… Você pode não ver ou sentir nada
agora, tal como o solo vazio que esconde uma semente, mas
se persistir no bem, na paz, no amor e na fé, verá crescer
uma linda árvore divina em seu interior.

48
UM HOMEM NUM LEITO DE HOSPITAL

Estava na rotina de minha vida,


Trabalhando e vivendo normalmente.
Agora estou aqui, nesta cama de hospital,
Esperando, deitado, a morte iminente.

Tinha tudo, casa, comida e lazer,


Mas o essencial, escapou-me por inteiro,
Em poucos momentos da minha existência,
Lembrei-me que tudo era passageiro.

Agora a angústia vem para ficar,


E quero minha vida de volta,
Às vezes me pego a chorar,
Remoendo-me na revolta.

Sei que não aproveitei a vida,


Da forma como gostaria,
Se pudesse voltar no tempo,
Até na árvore eu subiria.

Queria fazer tanto e nada fiz,


Fingindo-me de sério e correto,
Mas acredite, não aproveitar a vida,
Só te deixa incompleto.

Quero rolar na grama,


Mergulhar no rio,
Sujar-me na lama,
E aceitar o desafio.

Quero ficar com meus pais,


Curtir a família e a natureza,
E agora estou paralisado,
Preso num leito de tristeza.

Não entendi como a vida é simples,


Para quem não se prende ao superficial.
Se soubesse o quanto era feliz,
Quando cultivava m eu quintal,
E contemplava com naturalidade,
O alvorecer matinal.

49
Agora tudo mudou,
E não posso sequer me mexer,
Apenas movimentos com a boca,
Eu posso levemente fazer.

Mas espere, ainda posso falar…


Mexer a boca devagar,
Quero aproveitar esse momento,
E falar de sentimento.

Posso dizer a meus entes queridos,


O quanto sempre os amei,
Pois durante toda a minha vida,
O amor eu nunca declarei.

Sinto-me estranho, estou com frio,


E me sentindo leve…
Agora percebo, estou morto,
E tive uma existência breve.

Nem sequer pude falar,


À minha família o quanto os amei,
Perdi mais es ta oportunidade,
Algo que, em minha vida, nunca tentei.

Vejo minha vida passar num segundo,


Tudo um desperdício, nada foi profundo,
Agora compreendo claramente como as coisas são,
O que vale, de verdade, é a pureza de intenção.

Minha fé foi uma mentira,


Uma máscara social,
Devia ter sido eu mesmo,
Bastava apenas ser natural.

Agora vejo claramente,


Que a vida não se desperdiça,
Perdi tudo de mais precioso,
Mergulhando no fútil e na cobiça.

Deixo, portanto, essa mensagem a você,


Que ainda está vivo e cons ciente,

50
Não esqueça de valorizar as coisas pequenas,
Pois a vida é um presente.

Viva e deixe viver…


Sem se preocupar com a aparência,
Acredite, quando tudo perecer,
Só lhe resta a consciência.

Valorize as coisas simples,


Isso sim tem importância,
Não deseje os prazeres quiméricos,
De quem vive na extravagância.

Não inveje uma pessoa,


Que vive na ignorância,
Mas também não a condene,
Cultive a tolerância.

Com o avançar da idade,


É essencial a humildade.
Esqueça a ganância,
Tudo isso é arrogância.
Deixe de lado a vaidade,
E cultive a caridade.

Se alguém te agredir,
Ofereça uma flor,
Algumas pessoas desconhecem,
O benefício que traz o amor.

Assim, construa uma obra que sobreviva,


E esteja pautada no bem,
Para que a semente cresça em cada um,
Agora, e no futuro também.

51
PERGUNTAS PARA A VIDA

Qualquer pessoa, seja homem ou mulher, de qualquer profis-


são, de qualquer religião e de qualquer classe social deve
responder para si mesmo algumas perguntas básicas sobre a
vida, se um dia quiser viver em paz interior. Responda essas
doze perguntas com toda a sinceridade, e veja qual é o re -
sultado:

São as suas coisas e bens que te possuem ou você possui as


suas coisas e os seus bens?

Você dá mais valor às aparências, à forma, à apresen tação,


ao exterior, ou dá mais valor à essência?

Você cria necessidades ilusórias de coisas que não precisa,


ou consegue viver bem apenas com o neces sário?

Você cria muitas expectativas sobre as pessoas e a vida, ou


não espera que a vida ou as pessoas corres pondam ao que
você deseja?

Você acredita que é vítima das circunstâncias, da sorte ou do


azar, ou entende que é responsável pela sua vida?

Você faz o bem esperando ganhar algo em troca, ou o bem


realizado já é o ganho que você esperava?

Você deseja impor as suas verdades a outros, ou aceita as


verdades dos outros com respeito?

Você sacrifica sua vida interior visando algumas con quistas


mundanas, ou sacrifica algumas conquis tas mundanas vi-
sando paz na sua vida interior?

Você reclama do que tem achando que a vida tem obrigação


de lhe dar mais, ou agradece o que a vida te deu e procura
fazer o melhor com o que tem?

Você foge de si mesmo e do enfrentamento de suas imperfei -


ções, ou aceita mergulhar em seu interior para resolver suas
más inclinações?

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Você se acha melhor do que a média das pessoas, ou tem
humildade e aceita trabalhar a si mesmo para se tornar al -
guém melhor para si mesmo e para os outros?

Você ainda acredita que suas maiores conquistas são exterio -


res, ou já entendeu que suas maiores conquis tas são interio-
res?

Analise bem essas doze perguntas. Se você estiver mais


inclinado à primeira parte da pergunta, reveja profundamente
a sua vida. Por outro lado, se você estiver mais afeito a se-
gunda parte das perguntas, então continue assim, pois você
está no caminho certo para a paz interior.

53
SIGA EM FRENTE

Numa pequena cidade do interior, havia um padeiro, o dono


da padaria, que diziam ser um homem singular. Todos que
entravam em sua padaria podiam ler a seguinte inscrição
numa placa afixada na parede:

“A vida é feita de duas escolhas principais. Escolha sempre


seguir em frente.”

Certo dia, um viajante passou pela rua da padaria e resolveu


comprar pão. Entrou no estabelecimento, viu a placa e não
entendeu direito seu conteúdo. O padeiro olhou para o foras -
teiro e perguntou se ele queria com prar algo. O viajante disse
que havia ficado intrigado com a inscrição da placa e pediu ao
padeiro que explicasse seu significado. O padeiro respondeu:

– Meu caro, isso é simplesm ente a vida…

- Na vida humana temos sempre duas opções em tudo…

Ou ficamos remoendo as mágoas e dores, ou perdo amos


tudo e seguimos em frente.

Ou ficamos nos sentindo culpados pelos nossos erros, ou


aprendemos com eles e seguimos em frente.

Ou deixamos o medo nos paralisar, ou enfrentamos o medo e


seguimos em frente.

Ou caímos e ficamos no chão machucados, ou nos levanta -


mos e seguimos em frente.

Ou lamentamos as perdas do passado ou tentamos renovar


nossa vida no presente e seguimos em
frente.

Ou nos acomodamos ao estado atual, ou agimos para mudar


as coisas e seguimos em frente.

Ou ficamos reclamando das desgraças da vida, ou as sumi-


mos a responsabilidade de nossa vida e seguimos em frente.

54
Ou esperamos algo do outro e nos decepcionamos, ou p as-
samos a confiar em nós mesmos e seguimos em frente.

Ou vamos morrendo e definhando um pouco a cada dia, ou


vamos morrendo e renascendo um pouco a cada dia.

Tudo isso se resume em:

Ou viver esperando a morte, ou não esperar nada e viver a


vida.

O viajante ficou maravilhado com as explicações. O padeiro


concluiu:

Você, que está viajando, alguma vez ficou parado no mesmo


lugar indefinidamente? Não, pois isso atrasaria a sua viagem
e seria contraproducente. O ser humano é também um via-
jante do cosmos , e não pode jamais ficar parado… É neces -
sário sempre seguir em frente, não importa o que aconteça.
Então a vida é sempre uma questão de ou ficar parado em
algo, ou libertar-se e seguir em frente. Essas são as duas es -
colhas do espírito humano.

O que você tem escolhido até hoje? Não importa o que você
escolheu até agora. Siga em frente… O que im porta é o que
você vai escolher a partir de agora.

55
O VÉU DA ILUSÃO

Quando todos seus amigos te deixarem por você ter perdido


tudo, não se desespere. Agora você sabe quem é seu amigo
de verdade.

Quando toda sua força humana se encerrar, não se deses -


pere. Busque sua força espiritual que nunca se esgota.

Quando toda a inteligência humana não der conta de resolver


um problema, não se desespere. Bus que sua inteligência
emocional e sua intuição espiritual.

Quando você descobrir todas as mentiras e falsida des que


inventaram, não se desespere. Agora você está muito mais
próximo da verdade.

Quando todas as concepções sobre Deus não derem conta


de explicar o plano divino, não se desespere. Esse é o mo -
mento de você encontrar Deus dentro de você.

Quando todos os caminhos que você percorreu esti verem


bloqueados, não se desespere. Agora é a hora certa de você
criar seu próprio caminho.

Quando toda a crença religiosa não conseguir te ajudar, não


se desespere. Esse é o momento de despertar sua verdadeira
fé e apoiar-se em Deus sem dogmas.

Quando a doença te abater e você ficar parado numa maca


de hospital, não se desespere. Esse é o mo mento de você
ficar um pouco consigo mesmo, refletir sobre sua vida e se
conhecer melhor.

Quando toda a ilusão do mundo se quebrar e se es vair, não


se desespere. Agora você poderá encontrar aquilo que é real
além de qualquer véu de miragens mundanas.

Quando você perder tudo e nada mais te sobrar, não se de-


sespere. Esse é o momento em que você pode encontrar a si
mesmo.

56
Sempre que o manto das fantasias e dos sonhos da vida
mundana se romper, você tem uma chance de enxergar e
viver a realidade tal como ela é.

Então, quando você perder algo e não souber mais o que


encontrar, procure refletir se não é a vida te aju dando a rom -
per todos os véus que cegam tua visão.

57
O BOM E O MAU

O que é bom e o que é mau em nossa vida?

A maioria das pessoas passa pela vida sem questionarem a si


mesmas o significado dos opostos bem e mal, certo e errado,
positivo e negativo, etc. Vamos nessa oportunidade explicar
vários pontos relacionados a existência do bem e do mal na
vida humana, para que cada pessoa possa compreender
melhor esses temas que são universais em nossa cultura.

O primeiro ponto diz respeito as noções de bom e mau como


algo relativo e condicionado, que existem dentro de uma visão
humana, mas que são inexistentes na realidade espiritual.
Consideramos algo bom e algo mau dependendo de nossos
valores, crenças, de nossa moral, de nossa religião ou de
qualquer código que consideremos verdadeiro. Uma doença
pode ser considerada algo muito ruim, mal e negativo do
ponto de vista humano, mas de uma perspectiva es piritual
uma doença pode ser algo extremamente positivo, pois nos
liberta de uma série de limitações mentais e abre nossa vida
para novas perspectivas. A perda de um emprego pode ser
considerada algo péssimo e desastroso, mas para o espírito,
é algo sublime e libertador. Não sentimos dessa forma, pois
estamos trancados na matéria, mergulhados em ilu sões e
abarrotados de conceitos sociais e culturais. O fim de um
relacionamento pode ser péssimo para a pessoa, mas ótimo
para o espírito e para seu avanço espiritual, pois impõe o
desapego e a libertação de certas prisões emocionais que
cultivamos em relação àquela pessoa. O bem e o mal tam -
bém são definidos em termos de códigos religiosos, mas nem
sempre o que as religiões julgam como m al ou pecaminoso
de fato é assim. Cada religião pode ter definições dife rentes
do que é bom ou mau: a homossexualidade pode ser conside-
rada pecado em algumas formas de cristianismo mais ortodo -
xas, já no Budismo, a homossexualidade em si mesma não é
impedimento no caminho da iluminação. Fora da esfera religi-
osa, o que é bom para uma pessoa pode não ser para outra.
O que é bom para uma época pode não ser para outra. O que
é bom numa cultura pode não ser na outra. E assim podería -
mos estender ao máxim o muitos exemplos que demonstram
serem as noções de bem e mal sempre relativas ao sujeito
que as observa.

58
O segundo ponto nos mostra o quanto algo conside rado mau
num momento de nossa vida pode depois se transformado
em algo bom e vice versa. Quantas situações que numa
época de nossa vida nos pareciam devastadoras e na época
seguinte pensamos: “Foi ótimo tal situação ter ocorrido, pois
consegui reconstruir minha vida de outra forma”. Ou quando
pensamos “Foi bom o término desse relacionamento, pois
aquela pessoa não me fazia bem” Ou quando admitimos que
“aquele antigo emprego me tomava muito tempo e agora que
fui demitido e estou trabalhando em outro lugar, posso me
dedicar mais a minha família”. Todas essas situações deixam
claro que tudo aquilo que parece ruim, mal, desastroso num
certo período de nossa vida, passa a ser encarado como algo
bom, positivo e renovador em outro momento. As ilusões de
uma época podem ser quebradas pelo que consideramos mal
e posteriormente serem tomadas por algo que, no final das
contas, foi positivo. São muitas as situações que podem ser
más num momento e depois se transformarem em algo bom.
Por exemplo, (1) a perda num momento pode se transformar
num ganho posterior; (2) o afastamento de certos falsos ami-
gos pode s er considerado ruim, mas nos faz descobrir os
poucos amigos verdadeiros; (3) a disciplina paterna pode nos
desagradar na infância, mas nos transformará numa pessoa
correta na idade adulta; (4) os estudos da escola podem ser
desgastantes, penosos e chatos, mas serão a chave para a
entrada na universidade; (5) o fim de um relacionamento pode
nos ajudar a encontrar outra pessoa com maior afinidade
conosco; (5) uma doença pode nos tirar do ritmo estressante
do trabalho e nos permitir reavaliar nossa vida e pensar um
pouco mais em nós mesmos; (6) uma doença também pode
nos obrigar a mudar certos hábitos e nos tornarmos uma
pessoa mais saudável; (7) uma pessoa que nos fere com
palavras duras, mas verdadeiras, pode nos abrir os olhos
sobre alguma faceta autodestrutiva de nossa personalidade;
(8) uma mentira descoberta pode nos causar muito mal estar,
mas a queda da mentira nos coloca diante da verdade (9) a
iminência da morte pode nos tornar mais humanos, pode nos
aproximar de nossa família, pode nos ajudar a resolver certas
questões em nossa vida, pode nos inspirar à solidariedade,
ao amor e à paz. São muitas as situações que nos causam
dor, mau estar, cólera, mágoa, tristeza, sofrimento, etc, mas
que depois nos elevam, nos abrem os olhos, nos co locam

59
frente a frente com a verdade, nos renovam, ou nos fazem re -
nascer.

O terceiro ponto deixa claro que o bom e o mau não vem do


prazer ou conforto gerado, mas sim de uma vivência mais real
da existência. Isso significa que o ser humano interpreta como
sendo bom tudo aquilo que lhe gera prazer, conforto, satisfa -
ção, etc. Obviamente, o que é prazeroso nem sempre pode
ser considerado bom, pelo contrário: muitas vezes o prazer
pode ser um caminho para nossa perdição espiritual e um
mergulho mais acentuado nas ilusões do mundo. Por exem -
plo, um viciado pode fazer uso de uma substância qualquer e
sentir um imenso prazer com seu uso. Essa substân cia pode
gerar um deleite corporal, uma euforia emocional, uma via-
gem interna de puro gozo mental. No entanto, todos s abem
que muitas substâncias podem causar vícios químicos e psi-
cológicos, a ponto de tornar a pessoa totalmente dependente.
O que é maravilhoso para o viciado após a ingestão da subs -
tância, pode se tornar um inferno no futuro. O vício muitas
vezes é um caminho sem volta e pode destruir totalmente a
vida de uma pessoa. Em outro exemplo, uma pessoa pode
gostar muito de fazer sexo e deleitar-se nesses prazeres por
bastante tempo. Sempre que desejamos muito uma coisa,
como por exemplo o sexo, a tendência humana é sempre a
de se fazer um esforço para reproduzir essa mesma experi-
ência prazerosa no futuro. Tudo o que é bom, obviamente,
queremos que continue acontecendo e nos gerando aquele
prazer. No entanto, muitas vezes não encontramos o prazer
da forma como gostaríamos, seja pela ausência de um par-
ceiro, seja por alguma doença que nos incapacite, ou por
qualquer outro motivo e isso pode nos causar carência, re-
volta, insatisfação, desejo reprimido, etc, de modo que o pra -
zer que antes era motivo de contentamento, depois acaba se
tornando algo que precisamos muito, que nos falta, que nos
cria uma ausência e, da mesma forma, o que antes era bom,
passa a ser considerado algo ruim; passa a ser um problema
quando o bom não está mais a nossa dis posição como antes.
Tudo aquilo que nos faz bem e gera prazer, quando não te -
mos, acabamos sofrendo pela falta, e isso nos gera decep -
ção, desgosto, frustração, sensação de fracasso, etc. O que
antes era prazer, depois acaba se transformando em dor. E
podemos dizer que, quanto maior o prazer, maior será a dor
pela ausência do prazer. Por isso, é fato que o bom não está

60
no prazer, posto que se assim fosse, o prazer não geraria a
dor da perda do prazer e uma ausência que sempre fica em
nosso interior pelos momentos de prazer que não podem
mais ser vividos. Por isso, o prazer é sempre algo efêmero,
passageiro e ilusório: quem busca o prazer como sendo algo
bom vê-se na posição futura inexorável da perda desse bom,
e consequentemente, do bom transformar-se em mau, em
angústia, em privação. Quando consideramos o bom sempre
tendo como fonte os prazeres do mundo acabamos caindo
numa posição de erro, posto que o mundo é ilusório e nunca
vai nos satisfazer. O ser humano quer sempre mais e mais, e
esse “querer mais” é um sofrimento por si mesmo, ainda mais
quando o desejo não pode ser saciado e surge a falta. A
busca pelo prazer é também uma imensa perda de tempo
para o espírito, posto que na vida espiritual não existe nem
prazer nem dor, mas sim uma busca pela eterna es sência da
vida. Por esse motivo, tudo que é bom no mundo não é ne -
cessariamente bom para o espírito.

O quarto ponto nos mostra como algo que consideramos mau


pode ser o agente de nossa transformação. Dentro dessa
visão, o mal nada mais é do que o bem ainda não visto, não
compreendido ou não reconhecido. Um bom exemplo é a
estória da vacina e da criança. O ato de tomar uma vacina
com agulha pode ser considerada abominável para a criança,
que não compreende a razão de seus pais estarem lhe cau -
sando aquela dor. Mas a vacina que a criança toma nada
mais é do que o processo de imunização de doenças futuras.
A dor da vacina é o livramento de enfermidades que iriam
acometer a criança. Enquanto a criança vê a vacina como
algo dolorido e sem sentido, o pai vê co mo a cura e o alívio
de problemas futuros. Tanto a criança quanto o pai tem pers -
pectivas diferentes sobre o bom e o mau para a criança. A
criança parece correta de seu ponto de vista e o pai está
correto também numa perspectiva de maior experiência de
vida e conhecimento. Da mesma forma, o que as pessoas
veem como mal, sofrido, ruim, catastrófico, difícil, espinhoso
nada mais é do que a cura de enfermidades espirituais. O que
ocorre quando a criança resiste à vacina? Não há dú vida que
o pai vai obriga-la a tomar, pois sabe que é o melhor para ela.
Nós somos como essa criança que resiste à vacina que nos
conduzirá à cura… Quanto mais nos debatemos evitando o
“mal” da vacina, mais prolongamos o sofrimento de forma

61
desnecessária, um sofrimento de agora que será a cura para
o nosso espírito no futuro.

O quinto ponto nos mostra o quanto o que conside ramos mau


pode ajudar em nossa libertação e des pertar espiritual. A
maioria das pessoas desconhece esse fato, mas muitas situ -
ações que interpretamos como péssimas, desesperadoras e
sofridas nos vem para nossa livramento espiritual. O adulto
pode lembrar de sua infância e com alívio reconhecer que:
“Foi ótimo quando meu pai me tirou à força do meu quarto,
pois eu ficava o dia todo brincando com meus bonequinhos e
vivia num mundo que eu mesmo havia criado. Assim que
perdi meus bonequinhos, eu sofri muito, chorei, esperneei,
mas depois pude sair da prisão do meu quarto e comecei a ir
na rua brincar. Assim que fiz isso, tive muito mais liberdade,
comecei a brincar com outras pessoas e estava realmente
livre, e não preso apenas no meu mundo.” O ser humano
atravessa um processo semelhante a essa criança. O mal
vem para que a pes soa saia da prisão de sua consciência, e
passe a sair do “quarto” de seus limites menta is, correndo
livremente pelos “campos infinitos do espírito”. Aqui pode mos
observar claramente que bem e mal existiam apenas em
nossa consciência, mas não na realidade. Bem e mal são
estados passageiros que dependem sempre de uma referên -
cia limitadora daquilo que é bom e daquilo que é mal. Para o
espírito, não há bom nem mau, há experiências que nos fa -
zem despertar.

O estar mal é apenas um ponto de vista humano, que não


considera uma visão maior e abrangente da his tória daquela
alma. O mal de agora pode se trans formar em bem… e o bem
de agora pode depois se tornar mal. Mas bem e mal nada
mais são do que estados ilusórios que dependem de um
observador externo que os caracteriza como tal. Além disso, o
mal nada mais é do que o caminho do bem. O mal é como
aquele extremo cansaço e desespero ao escalar uma altís -
sima montanha, mas que nos conduz a uma visão panorâ -
mica do mundo a nossa volta e nos deixa mais próximos do
céu. Para a alma há o ser… e apenas o ser; há o atravessar
experiências visando seu desenvolvimento. Como tudo é
experiência que o faz avançar em espírito, tudo é bom,
mesmo que consideremos “mau”. Ninguém deve esquecer
que o sofrimento se transforma em benção, as trevas aju dam

62
a acender nossa luz, a dor nos purifica e o ódio se trans forma
em amor. De igual maneira, a morte, que muitos consideram
como a pior coisa da vida humana, não é o fim… mas o co -
meço de uma nova vida.

63
FORÇA INTERIOR

Há alguns séculos, um escravo trabalhava para um grande


feudo. Seu trabalho consistia basicamente em carregar gran -
des quantidades de mantimentos de um ponto a outro. Era
um trabalho muito desgas tante, que o consumia demais.

Certo dia, já exausto de carregar sempre mantimen tos tão


pesados, ele abaixou os sacos e ajoelhou-se… Orou fervoro-
samente a Deus pedindo que seu fardo fosse diminuído.

Nesse momento, um anjo desceu do céu e o saudou.


Ele ficou muito feliz com a presença do anjo e disse:

– Ser angelical, por favor me ajude a conduzir essa carga


diária tornando-a mais leve, para que eu possa realizar meu
trabalho com menos esforço.

O anjo respondeu:

– Dar-te-ei uma benção muito melhor. Eu te ofereço mais


força para que você consiga superar seus limites e atingir sua
meta diária de trabalho. Assim a carga que você conduz lhe
parecerá menos pesada. Se Deus diminuísse o peso de sua
cruz, a próxima dificuldade que você fosse enfrentar lhe cau -
saria o mesmo problema, e você sentiria novamente o peso
do seu fardo. Por isso, é melhor você se tornar mais forte,
pois sendo assim todo fardo lhe parecerá mais leve. Cada
adversidade da vida nos obriga a extrair forças de nosso inte -
rior, e esse é um dos objetivos das provas que Deus nos
proporciona. Portanto, ao invés de pedir uma carga mais leve,
peça sempre mais força para carrega-la. Esse é um pedido
que agrada a Deus, pois o objetivo de todas as provas da vida
humana é tornar os seres mais fortes interna mente, supe-
rando seus limites, e, com isso, torna-los mais sábios.

O homem entrou dentro dele mesmo e começou a sentir uma


força interior brotando do âmago do seu ser. Ele pegou no -
vamente a carga, e sentiu que agora o peso parecia mais
leve. Isso o permitiu conduzir os mantimentos de forma mais
eficaz até o seu objetivo.

64
DESTINO E ESCOLHA

Você não pode evitar de ter limites, mas pode criar as condi-
ções para supera-los.

Você não pode evitar a tempestade, mas pode se abri gar


quando a chuva vem.

Você não pode evitar que alguém te agrida, mas pode buscar
a tranquilidade quando isso ocorre.

Você não pode evitar uma ou outra queda durante a vida,


mas pode se levantar sempre que cai.

Você não pode evitar a passagem do tempo, mas pode se


adaptar a uma nova época.

Você não pode evitar o envelhecimento, mas pode adquirir a


sabedoria das experiências de vida.

Você não pode evitar que seus filhos cresçam, mas pode
prepara-los para a vida.

Você não pode evitar que outros te julguem, mas pode con -
duzir sua vida sem se preocupar e sem sofrer com a visão
dos outros sobre você.

Você não pode evitar que outros falem mal de você, mas
pode não dar importância e seguir em frente.

Você não pode evitar errar, mas pode aceitar suas im perfei-
ções e aprender com seus erros para que eles não mais se
repitam no futuro.

Você não pode evitar que uma ou outra coisa dê errado, mas
pode buscar consertar tudo o que você considera incorreto.

Você não pode evitar que existam muros no cami nho, mas
pode pula-los ou contorna-los para continuar no caminho.

Você não pode evitar de, por vezes, seguir caminhos falsos,
mas pode avistar e mudar de direção escolhendo novos ca-
minhos.

65
Você não pode evitar que as pessoas morram, mas pode
aceitar a morte como parte da vida.

Você não pode evitar de morrer, mas pode, com toda certeza,
escolher viver.

E por fim… Você não pode evitar as turbulências da vida, mas


pode escolher cultivar a paz de espírito.
Como diz a máxima: o que uma pessoa te faz, é o karma
dela; a forma como você reage, é o seu karma.

Não importa o que te aconteceu, o que importa é o que você


faz a partir do que aconteceu.

Não são as circunstâncias da vida que nos fazem mal, mas


sim a forma como nos posicionamos a elas.

Você não controla o que te acontece, mas pode con trolar o


que fazer a respeito.

Escolha, portanto, viver em paz… viver em plena paz de espí-


rito.

66
NOSSO EGOÍSMO

Era uma vez uma mulher de meia idade chamada Maria das
Dores.

Maria tinha muitos problemas na vida, e não sabia lidar com


eles. Seus filhos brigavam com ela, seu marido se divorciou,
ela tinha frustrações profissionais, tinha doenças diversas e
conflitos internos.

Maria ficava muito envolvida com seus problemas. Sempre


pensava muito em como solucionar seus males, ficava ape-
nas se preocupando com isso; pas sava a vida inteira, quase
24 horas do seu tempo remoendo suas atrib ulações. Era
sempre “eu, eu eu”; “meus problemas, meus filhos, meu pro-
fissional, meu casamento, minhas fraquezas”, etc.

Certo dia, uma amiga foi visitar Maria das Dores. Após ouvir
Maria fazer um relato pormenorizado e detalhado que tudo
que a incomodava, a amiga disse: Maria, você precisa parar
de ficar pensando apenas nos seus pro blemas. Perceba
como esse é um com portamento um tanto egocêntrico, pois
parece que só existe isso no mundo. Venha comigo hoje
visitar uma instituição.

Maria não queria ir, pois se sentia desgastada de tanto pensar


em seus contratempos, mas acabou aceitando o convite. Lá
chegando, viu que se tratava de um hospital psiquiátrico pú -
blico, e encontrou muitas pessoas em situação de profundo
desespero.

Homens e mulheres vivendo muitos sofrimentos psíquicos,


alguns impossíveis de serem definidos. Maria conversou com
vários e tentou ajuda-los.

No dia seguinte, a amiga levou Maria num asilo pú blico de


idosos. Maria observou todo o descaso que os ve lhinhos são
submetidos por suas famílias, que os abandonaram como se
não mais prestassem.

Ela conversou, brincou e riu com muitos deles. Pela primeira


vez em sua vida, Maria sentia um alívio do peso dos seus
próprios problemas. No momento em que tentava prestar

67
auxílio a pessoas enfermas, abandonadas, carentes e solitá-
rias, ela não mais se sentia tão envolvida pelas adversidades
de sua própria vida.

Maria e a amiga frequentaram várias outras institui ções e


organizações públicas e civis. Com o tempo, Maria quase não
se concentrava em suas dores, seus conflitos, seus pesares.
Ela havia percebido que es tava tão focada em suas próprias
mazelas que quase não conseguia enxergar a vida lá fora. A
partir do momento em que passou a olhar além e não ficar
apenas debruçada em suas questões e preocupações, tudo
começou a fluir melhor, e agora ela se sentia bem e leve.

A amiga de Maria disse que uma importante lição pode ria ser
tirada de tudo isso. A amiga resumiu da seguinte forma:

“Nosso egoísmo em pensar apenas em nossos pro blemas


aumenta muito a carga do nosso sofrimento. Por outro lado, o
nosso altruísmo em pensar mais no coletivo diminui muito
nossa carga, alivia o fardo e nos ajuda na libertação dos nos -
sos males.”

68
PERDEMOS O QUE NÃO TEM VALOR

Existe um princípio de vida muito importante, que todas as


pessoas deveriam conhecer. Esse princípio diz as sim:

“Quanto mais as pessoas se importam com coisas materiais,


fúteis e ilusórias, mais essas coisas lhes serão tiradas.”

Isso ocorre porque o cosmos infinito e inteligente não pode


permitir que o ser humano dê valor ao que não tem valor…
Por isso, Deus nos faz perder o que não tem valor para nos
ajudar a valorizar aquilo que é realmente importante para
nosso espírito.

Já explicamos isso em outros textos, mas vamos entender


isso agora mais profundamente. Imagine que seu filho fica o
dia inteiro jogando videogame. Ele não estuda, não sai, não
fala mais com os outros, fica matando aula apenas para jogar
mais e mais. O que você como pai ou mãe faria numa situa -
ção como essa? Primeiro poderia conversar com ele e dizer:

“Filho, esse jogo é apenas uma diversão momentâ nea, mas


você não pode ficar jogando para sempre. Você precisa se
concentrar naquilo que realmente importa em sua vida, que é
estudar, trabalhar, aprender mais, crescer como ser humano,
para se tornar uma pessoa de bem”.

Vamos imaginar agora que seu filho ignorasse seus conse -


lhos paternos ou maternos e insistisse em ficar horas e horas
jogando videogame. Vamos considerar que ainda por cima
esse fosse um jogo de violência, que o tornasse mais raivoso,
menos paciente e mais ansioso. O que você como pai ou mãe
faria? Você daria um jeito de retirar o jogo dele, mesmo que à
força. Qualquer pai ou mãe minimamente sensatos tomariam
essa mesma atitude. Ness e momento ele poderia berrar,
brigar, se jogar no chão, pedir milhares de vezes para conti-
nuar seu jogo. Qual seria a atitude do pai consciente? Não
importa o que ele deseja. Ele está perdendo tempo com um
game, algo que é fútil, vazio, sem sentido, que nada acres -
centa. Está perdendo sua vida com bobagens, com coisas
sem valor, com situações que nenhum benefício trará a ele, a
não ser um prazer momentâneo, efêmero, bobo, superficial,
que está atrasando sua vida.

69
Ocorre algo semelhante com as pessoas. O ser humano
insiste em se dedicar a experiências, crenças e atividades
que não têm a menor importância para sua vida espiritual e
cósmica. Cultivamos valores materiais que por si só são to -
talmente vazios de significado. Damos valor àquilo que não
tem o menor valor. Com isso, estamos perdendo nosso preci -
oso tempo espiritual. Estamos estagnados na caminhada do
nosso espírito, jogando fora nossa vida com banalidades que
não fazem parte de nossa natureza essencial.

Mas quem está seguindo por esse caminho não fica sem uma
orientação prévia. Deus nos transmite uma série de mensa -
gens sobre isso. O Cosmos se comunica conosco e nos
manda sinais… Da mesma forma que o pai e a mãe podem
conversar antes com o filho e tentar mostrar-lhe a ausência
de valor do game para sua vida, o universo também nos envia
muitos alertas de que estamos focando em coisas sem valor
em nossa existência terrena. Deus nos dá uma série de avi -
sos de que estamos mergulhados em ilusões, em miragens
irreais, criando um personagem inexis tente, tal como um
personagem de videogame, e dotando-lhe de realidade. Per-
demos nossa vida em prazeres quiméricos, em pequenas
fantasias, em sonhos sem sentido, em prazeres bobos e frí-
volos. No final das contas, mergulhamos em devaneios exis -
tenciais, em agrados prazenteiros que nada tem a nos ofere-
cer. Perdemos tempo com religiões fundamentalistas; perde-
mos tempo julgando nossos semelhantes; perdemos tempo
tentando possuir e controlar o outro; perdemos nossa vida
impondo nossas verdades; perdemos a nós mesmos criando
realidades ilusórias que são projeções dos nossos desejos,
traumas, medos e ignorância. Tudo isso nos afasta de nossa
essência…

Por esse motivo, quem faz sua vida girar em torno da materi -
alidade superficial, de questões mundanas sem importância,
vai perde-las mais cedo ou mais tarde. Muitas pessoas se
perguntam: Por que perdemos tantas coisas? A resposta é
essa: Porque Deus quer nos mostrar que essas coisas são
transitórias, são sem espírito e sem vida… Deus nos faz per-
der o que não tem valor para que possamos acordar para o
que tem relevância real. Para que deixemos de lado os praze -
res quiméricos, as satisfações morredouras, as preocupa ções

70
finitas, as problemáticas passageiras, o ego inflado, o sentido
de pertencimento, as posses de coisas e pessoas, tudo o que
não tem utilidade espiritual real, mas uma valia superficial.

Assim, e somente assim, vamos passar a dar valor àquilo que


realmente tem valor em sua essência, que é a paz, a vida, o
espírito, a compaixão, a fraternidade, o desenvolvimento
interior, a humildade, o respeito, a fé, a felicidade, a paz de
espírito e todas as virtudes da alma.

Todos devem entender um grande princípio da vida infinita:

“O que perdemos no plano superficial e ilusório, ga nhamos no


plano real e espiritual.”

71
COMPARAÇÕES

Não te compares aos outros.


Não entre jamais no jogo da comparação.
Acaso a rosa vermelha vive a sonhar com a brancura imacu -
lada da rosa branca?
Ou a margarida do campo sofre invejando a fragrância do
lírio?
A comparação é a mãe de muitos sofrimentos desnecessá-
rios.
Quem se compara com aos demais, vive sofrendo por aquilo
que lhe parece faltar.
Desejamos ter o que o outro tem; fazer o que o outro faz; ser
o que o outro é.
Mas cada pessoa é única nas profundezas de uma singular
individualidade,
E nisso reside a riqueza e a beleza da vida.
Como seria a sociedade humana se todos seguissem uma
criação de modelo ideal?
Onde estaria a diversidade se todos se guiassem pela propa -
ganda do igual?
Não compare duas crianças, colocando a outra para baixo,
Dizendo “fulano é bom, e você está sendo mau”.
Preserve suas crianças do cruel jogo da comparação.
Sociedades mais avançadas entenderão o grosseiro erro de
comparar duas crianças,
Pois cada qual tem suas qualidades, suas virtudes, seu papel
e sua missão.
Seria como comparar o jacaré com a cobra,
Cada um tem seu papel na imensa cadeia do ciclo da vida.
Toda comparação visa um modelo ideal que, em es sência, é
falho,
Posto que serve apenas para uma época, um padrão e algu-
mas circunstâncias.
A comparação fará parecer que uns são superiores ou inferio -
res a outros,
Mas você não é superior e nem inferior a ninguém.
Cada pessoa vive etapas distintas dentro das experi ências
que escolheu para si mesma.
Quando te comparas a outros, desconheces suas feridas,
suas mágoas, suas fraquezas,
A comparação se faz apenas pela superfície das coi sas,
Que retrata apenas um fragmento do real.

72
Tens certeza de que alguém que parece bem, está mesmo
bem?
És capaz de penetrar nos meandros mais secretos do cora-
ção humano?
Quem tu julgas no ápice da felicidade humana, pode atraves -
sar tormentas que nem fazes ideia.
Não desmereças o que você tem e o que você é.
Não dê tanto poder as aparências do outro, e nem retire o
poder de ti.
Tampouco fique desejando a queda do outro para te senti res
melhor.
Avança-te a ti mesmo, no caminho do desenvolvimento, inde-
pendente das aparências externas de sucesso.
Não olhe para os lados, não se deixe desviar do teu caminho
focando-se em vias alheias.
Cada percurso é único em valor e profundidade.
Podes fraquejar na corrida da vida se vês todos a tua frente,
E podes sentir-se exageradamente confiante e perder a cor-
rida se vês outros atrás de ti.
Não olhe para os lados, pois ninguém veio ao mundo pa ra
vencer outros,
Mas sim para vencer nossos próprios limites; para vencer a
nós mesmos e ir além.
Deixa de lado, portanto, o jogo da comparação,
Pois somente assim percorrerás a senda da vida com equilí-
brio e paz.

73
CRIAR EXPECTATIVAS

Não espere nada de ninguém…


Nem fique criando expectativas sobre a vida.
A expectativa é o primeiro passo para o sofrimento.
Quem fica esperando algo, não vive,
E quem vive, não fica esperando.
Quanto mais você espera de alguém,
Mais se decepciona quando o outro não corresponde.
A frustração é sempre proporcional as nossas expectativas.
A vida nunca te prometeu nada, ela apenas é o que é.
Somos nós que projetamos nela sonhos e ilusões,
Que desde que foram criadas, já estão fadadas ao fra casso.
Quem fica esperando retribuição, sofre mais por não ser retri-
buído.
Quem fica esperando atenção, sofre mais por não ganhar a
atenção.
Quem fica esperando afeto, sofre mais por não receber o
afeto esperado.
Criamos um ideal de como as coisas devem ser,
E ficamos sempre na expectativa de que esse ideal se con-
cretize.
Mas todo ideal é sempre destituído de realidade
Criar expectativas é abster-se do real e viver na ilusão.
O ideal é, por definição, inalcançável.
Nunca uma coisa estará exatamente como nós esperamos,
A realidade estará sempre ao menos levemente diferente do
ideal.
O tolo cria muitas expectativas,
O homem comum ainda espera ao menos um pouco da vida.
Mas o sábio, nada espera, e por isso, nunca se decep ciona.
Quem vive sem nada esperar ganha a cada segundo.
Quem vive esperando perde a cada segundo.
Quem não cria ideais e nada espera, vive melhor.
“Não espero nada, o que vier é lucro.”,
Este é o melhor lema para nossas vidas.
Esse se satisfaz com pouco, e esse pouco se torna suficiente.
Quem não cria expectativas, não cai em desilusões,
Vive sem esperar pelos frutos de suas ações, e assim, está
satisfeito.

74
A ARTE DE VIVER

Um professor muito sábio e sensato começou a ministrar sua


aula numa escola pública. Ele lecionava para adolescentes de
14 e 15 anos. Antes de iniciar, ele disse que hoje realizaria
uma atividade diferente, mas que não poderia ainda ser re -
velada aos alunos.

Logo após iniciada a aula, um dos alunos chegou 20 minutos


atrasado. O professor virou-se, viu o aluno sentando na car-
teira e perguntou com firmeza:

– Por que você chegou atrasado? Quero uma boa explicação!


– O aluno respondeu:

– Foi o trânsito professor. Estava todo engarrafado.


Outro aluno chegou meia horas depois do início da aula, o
professor fez a mesma pergunta. O aluno disse:

– Eu moro muito longe professor. É difícil chegar na hora.

Mais um rapaz chegou 40 minutos depois do início da aula. O


professor, de novo, fez a mesma pergunta.
O jovem respondeu:

– Tinha um bloqueio policial por onde o ônibus veio professor.


E isso atrasou a viagem.

O último aluno havia chegado 50 minutos depois de


iniciada a aula. O professor, dessa vez, foi mais firme ainda
na pergunta do porquê ele ter se atrasado. O jovem ficou
encabulado, olhou para baixo, pensou por um instante e disse
com toda a sinceridade:

– Desculpe professor, foi culpa minha. Eu dormi tarde e não


consegui acordar hoje, por isso me atrasei.

O professor ouviu o aluno e disse:

– Parabéns!

O aluno e toda a classe ficaram sem entender. O pro fessor


explicou.

75
– Essa era a atividade surpresa que faria hoje com vocês.
Estou dando os parabéns a esse rapaz, pois de todos que
chegaram atrasados, ele foi o único que ad mitiu a própria
responsabilidade pelos seus atos. Ele confidenciou a todos
que dormiu tarde e por isso não conseguiu acordar. Ele não
jogou a culpa no trânsito, no bloqueio policial ou na distância
de onde mora. Não deu nenhuma desculpa para se livrar. Ele
trouxe a res ponsabilidade para si e admitiu seu erro.

Os alunos ficaram calados e perplexos com a dis curso do


professor. Ele concluiu:

– Prestem bastante atenção nisso que vos ensino agora, pois


admitir os próprios erros e não ficar culpabilizando as pes -
soas, as circunstâncias ou o mundo é o primeiro passo para o
desenvolvimento e o amadurecimento do ser humano. Quem
culpabiliza algo ou alguém tem tudo para se dar mal na vida,
mas quem não atribui culpas e traz a responsabilidade para si
tem tudo para se sair melhor na arte de viver.

Reflexão: Você costuma atribuir culpas a algo ou al guém


pelos seus erros, ou traz a responsabilidade para si?

76
QUEM TUDO QUER

Quem quer tudo conquistar, acaba por perder tudo.


Quem quer dominar, acaba por ser o dominado.
Quem quer levar vantagem, acaba perdendo todas as vanta -
gens.
Quem quer as coisas somente para si, acaba por perder uma
a uma.
Quem quer subir no topo do mundo, acaba caindo no mais
profundo abismo.
Quem quer chegar mais rápido, acaba por se perder no cami -
nho.
Quem quer ser melhor em tudo, acaba por ser o pior no es -
sencial.
Quem quer passar a perna no outro, acaba por levar um
grande tombo.
Quem quer vencer uma discussão de todas as formas, acaba
por perder a razão e a percepção.
Quem quer fazer tudo apenas do seu jeito, acaba por fazer
tudo errado.
Quem quer de todas as formas estar sempre satisfeito, acaba
por viver na insatisfação.
Quem quer passar uma imagem positiva sempre, acaba por
viver frustrado e incompreendido.
Quem quer agradar a todos todo o tempo, acaba por viver
mais para os outros do que para si mesmo.
Quem quer construir castelos e barreiras inquebrantáveis
neste mundo, acaba por ver sua vida desmoronar.
Quem quer viver sempre na previsibilidade, acaba por se
chocar mais facilmente com o imprevisto.
Há um ditado da sabedoria popular que diz:
“Quem tudo quer… tudo perde.”
O próprio desejo de nos conduzir a ter tudo, a tudo possuir,
tudo abarcar, a tudo saber, a tudo abraçar… é suficiente para
nos reduzir a nada.
Como disse Jesus: “De que adianta uma pessoa ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma?”
Aqueles que conquistam um império no mundo exterior, serão
os próprios vassalos do mundo interior. Erga um imenso
castelo para sua morada e te tornarás nada mais do que o
escravo dele.
Quem quer ter tudo, acaba não sendo nada.
Quem vive pelo ter… morre dentro do ser.

77
Na vida, precisamos abandonar a ideia de onipotên cia, de
poder, de mando, de conquistas totais.
Ninguém pode ser completo, necessário, absoluto e irrestrito.
Entender nossos próprios limites, aceitar a vida, vi ver na rea-
lidade e buscar o aperfeiçoamento interior é, com efeito, o
melhor caminho que o ser humano pode trilhar neste mundo.

78
SIMPLICIDADE DO VIVER

É difícil estudar? Pode ser ainda mais difícil viver sem estudo.
É difícil fazer o bem? Experimente levar uma vida fazendo o
mal e sofrendo as consequências desse mal.
É difícil divorciar-se? Pode ser ainda muito mais difícil viver
preso num casamento infeliz e vazio.
É difícil aceitar o outro? Pode ser ainda mais difícil que rer
ficar impondo ao outro nossa maneira de agir.
É difícil ser honesto? Pode ser ainda muito mais difícil, com o
passar do tempo, viver na desonestidade.
É difícil ser desprendido? Pode ser ainda muito mais difícil
viver preso, apegado e dependente a uma série de coisas,
pessoas e situações.
É difícil viver dentro da ordem? É muito mais difícil viver em
meio a desordem e ao caos.
É difícil encarar nossos problemas e se tratar? É muito mais
difícil viver doente, transtornado, carente e cheio de conflitos
internos não resolvidos.
É difícil falar a verdade? É muito mais difícil contar uma men-
tira e ter que ficar sustentando essa falsidade por longos
períodos.
É difícil viver em silêncio? É muito mais difícil viver no baru -
lho, na confusão e nos ruídos constantes de nossa tagarelice
interior.
É difícil ficar calado? É muito mais difícil falar bobagens, ma-
goar alguém quando falamos sem pensar ou falar sem medir
as consequências de nosso discurso.
É difícil viver apenas com o necessário? É muito mais difícil
viver uma vida superficial, fútil e infeliz.
É difícil viver uma vida simples? É muito mais difícil viver na
extravagância, no vazio da sofisticação e na carência de ter
tudo e não ter nada ao mesmo tempo.
É difícil amar? É muito mais difícil viver uma vida sem amor.
É difícil ser você mesmo? É muito mais difícil viver como
sendo o sonho de uma personalidade ideal e falsa.
É difícil viver no real? Se você pensa que é muito pe noso e
árduo viver no real, acredite… é muito mais difícil e doloroso
viver na ilusão…

79
ISSO PASSA...

Aquela humilhação que você sofreu na escola. Isso passa…


Aquele relacionamento que não deu certo e te machucou
muito. Isso passa…
Aquela dor que tanto te incomoda e que atrapalha a sua vida.
Isso vai passar…
Aquele erro que você não se perdoa por ter cometido. Isso
um dia acaba…
Aquela pessoa que te traiu, te enganou e te iludiu. Isso
também vai passar…
Aquele medo que você tem de ser abandonado e ficar
solitário o resto da vida. Isso passará em breve…
Aquela tristeza, depressão, mágoa, angústia e vazio. Tudo
isso vai passar…
Aquela pessoa que te agrediu na frente dos outros. Isso
também passa…
Aquele troco no ônibus que você brigou, se irritou e ficou com
raiva. Isso vai deixar de existir…
Aquele processo na justiça que demorou anos e você perdeu
injustamente. Isso vai passar…
A perda dos seus familiares, das pessoas que você ama, e a
saudade de reencontra-los. Isso também passará…
Para que se preocupar se tudo isso passa?
Assim como as nuvens se dispersam…
Assim como rio corre…
Assim como as flores nascem e perecem, abrem e fecham…
Assim como a primavera sucede o inverno; como as frutas
caem…
Assim como as marés sobem e descem, como o vento sopra,
isso passa…
Da mesma forma que a gaivota cruza o céu e vai embora…
Por mais que demore, tudo isso certamente passará…
Não há qualquer coisa no mundo que dure para sempre.
Você pode até sentir que uma dor é eterna; pode até sentir
que o sofrimento não acaba; pode acreditar que a angústia é
inesgotável, ou que o vazio do seu coração vai te destruir…
Mas não vai… pois tudo isso, s em exceção, vai passar…
Se tudo é passageiro, para que ter medo?
Para que se desesperar?
Para que cair no solo e sofrer?
Um sopro de Deus abala nossas certezas; uma simples
intempérie pode redesenhar nossa vida.

80
Vamos de cima a baixo… e de baixo para cima, na eterna
roda da existência universal. Uma hora estamos por baixo e
outra hora estamos por cima. Não escarneça quem está
embaixo e nem veja com adoração quem está em cima, pois
o alto e o baixo também passarão.
Tanto os bons momentos e quanto os maus momentos
também vão passar…
Os injustos estarão arrependidos…
Os coxos vão caminhar…
Os cegos vão enxergar…
Os dementes vão aprender…
Os surdos vão passar a ouvir…
Os doentes vão se curar…
Todo limite será ultrapassado e todos os sofrimentos vão se
extinguir.
A construção será erguida e depois será destruída…
O bebê nasce e o idoso morre…
O trem passa e a paisagem se modifica…
A roda da existência sempre vai girar… e tudo… tudo
mesmo… vai passar…
Não se trata de uma opinião, de uma suposição, de uma
crença. Essa é a lei eterna da vida e essa lei não passa…
No mundo nada fica… nada permanece como foi… tudo vai e
vem… Todas as coisas mudam e tudo se faz e desfaz…
Mas o espírito da vida, a fonte de tudo, a ordem cósmica, a
harmonia universal, o ritmo da eternidade, a essência do
infinito… Isso ficará para sempre.
Isso não passa… O infinito e a eternidade jamais passarão…
Assim como nossa essência primordial… Não passará…

81
PROVOCANDO SOFRIMENTO

Uma das verdades da vida, um axioma de sabedoria, que


muitas pessoas têm dificuldade de entender ou não querem
admitir, é a seguinte:

“Ninguém faz ninguém sofrer.”

Sim, é fato que ninguém provoca o sofrimento em nin guém,


pelo simples motivo de que todo o sofrimento nasce apenas
de nossa própria condição psicológica, emocional e espiritual.
Cada pessoa sofre sempre pelas suas próprias questões
internas, por sua predisposição ao sofrimento e não por que
alguém lhe impingiu ess e sofrimento.

É importante entender que estamos falando de so frimento e


não de dor. A dor, no sentido orgânico do termo, pode ser
provocada pelo outro. Se um bandido nos dá um tiro, vamos
necessariamente sentir dor. Mas se estivermos em paz com
nossa consciência e tivermos fé inabalável em Deus, apesar
da dor, não haverá sofrimento pelo ocorrido. O sofrimento
somente ocorre quando nós mesmos o produzimos com base
em nossas imperfeições, em nossas expectativas, em nossas
ambições, em nossos desejos, em nossas fraquezas, etc.
Cada pessoa sofre por suas próprias mazelas e limites. Essas
fraquezas nascem sempre da própria pessoa, jamais são
criadas externamente por alguém.

Vamos elaborar uma ilustração para que isso fique mais claro.
Imagine que uma pessoa tem uma ferida no braço. Outra
pessoa vem e toca nessa ferida. O resultado não será outro
senão a dor do toque na ferida. Mas se a pessoa tocasse em
nosso braço e não exis tisse uma ferida, não haveria dor na
hora do toque. Só há dor por haver uma predisposição nossa,
uma ferida, uma fraqueza de nosso ser na hora do toque. O
mesmo ocorre com o sofrimento. Se uma pessoa consegue
nos provocar algum tipo de sofrimento, isso significa que
existe uma ferida dentro de nós, uma fraqueza, uma predis -
posição interna que é ativada.

Em outro exemplo, vamos imaginar um homem que se apai -


xonou por uma mulher. Esse homem criou uma série de ex-
pectativas em sua mente sobre essa mulher. Ele gerou em

82
sua mente um anseio em pos suir essa mulher para si. Seu
desejo é ficar com ela. No entanto, se ela diz que não o ama
e quer ficar com outra pes soa, ele naturalmente vai sofrer por
isso. Mas a causa do sofrimento não será o “não” da moça,
mas sim todas as expectativas que ele criou, seu an seio por
tê-la, seu desejo romântico de namorar e casar, sua imagina -
ção solta criando situações e mais situações que não poderão
ocorrer na prática. É isso que gera o sofrimento, e não a ne -
gativa da moça em ficar com ele.

Portanto, não acredite que o sofrimento vem de al guém, ou


de fora de você. Por mais que as ilusões do mundo nos façam
crer que o sofrimento é provocado pelo outro, todo sofrimento
sempre nasce de nós mes mos.

83
NÃO SOU NADA

Um menino de 12 anos tinha voltado da escola aos prantos.


Seus pais estavam viajando e seu avô ficou cuidando dele. O
avô viu que o menino estava chorando e foi falar com ele,
perguntando:

– Aconteceu alguma coisa?

-Tive uma briga na escola – disse o menino meio choroso – e


um dos garotos fez pouco de mim, dizendo que eu não sou
nada.

O avô pensou por um tempo de cabeça baixa. Depois olhou


para o neto e disse:

– Que bom que você é nada!

O menino olhou para o avô e disse para ele parar de brinca -


deira, pois o assunto era sério.

– Eu estou falando sério! – Disse o avô enfaticamente. –


Preste atenção no que vou lhe dizer agora:

– Muitas pessoas não compreendem isso, mas o nada, ou o


vazio, está presente em tudo que existe em nosso mundo, e
podemos até mesmo dizer que o mundo não é mundo se não
fosse o nada, ou o vazio. Observe que um copo de água só
tem utilidade graças ao espaço de vazio, ou de nada que
existe dentro dele, e se ele não tivesse esse espaço vazio,
não poderia nele caber todas as coisas, nem água, nem coisa
alguma. Graças ao espaço vazio de dentro de uma casa que
as pessoas podem morar nela. Uma residência não seria útil
se não possuísse um espaço com nada dentro onde pudesse
caber tudo. Uma flauta só toca graças ao espaço de “nada”,
de vazio que existe no seu interior. Inclusive se em nossa
casa estivesse lotado de milhares de coisas, não teríamos
espaço nem para nos mexer, ou seja, não teríamos qualquer
liberdade. É justamente o nada ou o vazio que nos permite a
liberdade de movimento e de ser. É possível construir uma
casa num terreno cheio de rochas, por exemplo, ou temos
antes de retirar tudo e criar um espaço vazio para depois

84
construir a nova residência? O nada ou vazio é o espaço que
permite a criação e a existência de algo.

Um copo cheio não cabe mais qualquer líquido, mas um copo


vazio pode conter qualquer tipo de líquido. Com os seres
humanos ocorre a mesma coisa: não ser nada implica na
liberdade de ser o que quisermos. Pode-se mesmo dizer que
se você não é nada, então você pode ser qualquer coisa.
Você tem infinitas possibilidades de ser o que quiser. Azar
daqueles que são alguma coisa, pois estes que são algo só
são esse algo e mais nada. Você não… Você tem um uni -
verso de possibilidades de ser, enquanto eles só tem uma
possibilidade. O nada é um infinito reservatório de possibili-
dades e criação, além de ser um pré-requisito para a liber-
dade.

O menino parou de chorar e ficou surpreso com as explica-


ções do avô. O senhor concluiu:

Então, quando alguém disser que você é nada, ou que você é


vazio por dentro, agradeça a essa pessoa, pois mesmo sem
saber, esse é um grande elogio.

85
COMO ENCARAR OS PROBLEMAS DA VIDA

Os seres humanos enfrentam problemas a todo momento. A


vida humana parece ser uma eterna resolução de problemas.
As problemáticas humanas encontram-se tão arraigadas em
nossa existência que para muitos é impossível conceber a
arte de viver sem que elas estejam presentes. Nessa oportu -
nidade vamos descrever sucintamente alguns aspectos da
natureza dos problemas humanos para que cada pes soa, em
sua rotina, possa melhor lidar com eles:

Todo problema tem solução: Esse é o aspecto m ais impor-


tante que todos devem entender sobre os pro blemas huma-
nos. A verdade é que todo problema sem pre tem uma solu-
ção, pois não podemos jamais conceber um problema onde
não exista uma solução. Seria como imaginar uma porta sem
maçaneta. Para que s erviria uma porta sem uma maçaneta?
Seria uma porta que jamais poderia ser aberta, e isso invi -
abilizaria sua própria existência e função de porta. Há uma
frase que diz “Ninguém faz cadeados sem chave. Do mesmo
modo, Deus não te dá problemas sem solução.” Algumas
pessoas dizem: Tudo tem solução, só a morte que não tem
solução. Mas esse pensamento é um equívoco. De fato, a
morte não tem solução, mas ela não tem solução pelo simples
fato dela não ser um problema. A morte, que seria o fim der-
radeiro da existência, é apenas uma passagem para uma
nova forma de vida. A morte no corpo físico é um renasci-
mento no plano espiritual, assim como o sol que “morre” no
horizonte, mas sempre renasce do outro lado do mundo.
Assim como o dia segue a noite, um problema sempre tem
uma solução. Para cada lágrima há sempre um conforto, para
cada doença há sempre uma cura, para cada perda há sem -
pre um ganho, assim como para cada problema há sempre
uma solução, mesmo que não a enxerguemos. A solução
pode não ser exatamente o que desejamos ou esperamos,
mas ela existe.

Nenhum problema é inútil: Assim como tudo em nossa vida


tem uma função, todos os problemas sem pre nos trazem
algo. O problema é como uma caixa com um código. Quando
descobrimos seu código e abrimos a caixa, ela sempre nos
traz um aprendizado importante para nossa vida. Por exem -
plo, uma mulher cujos namorados sempre a deixam no início

86
do relacionamento. Ela não entende o motivo desse padrão.
Mas refletindo sobre sua vida e seu comportamento, ela des -
cobre que desde o início de seus relacionamentos ela tinha
uma forte postura de cobrança em relação aos namorados.
Isso os sufocava e eles a deixavam. Esse problema a ajudou
a enxergar que os términos vinham dessa cobrança e a co -
brança tinha origem numa carência que ela tinha dentro de si.
Depois ela pode des cobrir que essa carência tinha como
causa a indiferença de seus pais em relação a ela mesma. A
moça decide então que precisa vencer essa carência para
que possa enfrentar esse problema e não mais atuar com
cobranças excessivas. Isso significa que o problema que ela
enfrentou acabou sendo a chave para lhe revelar algo de
negativo que existia dentro de si. Assim, o problema a ajudou
a enxergar melhor a si mesma e a se tornar uma pessoa mais
evoluída. Há um ditado popular que diz “Quando Deus fecha
uma porta, ele abre uma janela”. Os problemas nunca são
inúteis, eles sempre têm um propósito para nossa vida. Eles
nos ensinam algo, principalmente a sermos pessoas melho -
res. São também como cargas pesadas que levamos, que
nos obrigam ao exercício diário e nos fa zem mais fortes. O
ato de desvendar um problema contribui em nosso autoco -
nhecimento. Nossa reação diante de uma forte tempestade
diz muito sobre quem somos e nos ajuda a nos conhecer.
Passamos a conhecer nossos ser mais íntimo dependendo de
como nos posicionamos diante da tormenta, pois enquanto
uns saem correndo amedrontados, outros se tranquili zam e
buscam uma solução. Portanto, os problemas da vida são
nossos maiores professores, eles nos ensinam muito sobre a
vida e principalmente sobre nós mesmos. Por isso, todo pro-
blema tem sempre um significado profundo em nossa vida.

Criar um Problema: Isso é muito comum de acontecer. Muito


daquilo que nós consideramos um problema é na verdade um
problema falso, um problema que nós mesmos criamos. Pro-
blemas podem ser criados pela nossa excessiva sensibili-
dade, pelas nossas feridas internas, pelas nossas crenças,
por uma moral intransigente ou pela generalização de situa-
ções. Existem várias formas de criar problemas. Por exemplo,
um homem, após um relacionamento fracassado, internaliza
uma crença de que nenhuma mulher presta. Passa muito
tempo e ele evita relacionamentos por conta dessa crença.
Anos se passam e ele sente-se sozinho, carente e infeliz, pois

87
não consegue mais se relacionar. Nesse caso não é um pro -
blema real, mas um problema falso, que ele mesmo criou com
base numa crença igualmente criada e alimentada por si
mesmo. Ele poderia ter outros relacionamentos que fossem
satisfatórios, mas sua crença o impedia de conhecer outras
pessoas e assim ele mesmo criou seu problema e seu conse -
quente sofrimento. Esse tipo de situação é mais comum do
que a maioria pensa. Boa parte dos nossos problemas somos
nós mesmos que criamos.

A solução é mais simples do que pensamos: No caso de


existir um problema real e não um problema falso ou imaginá -
rio, a solução de um problema é quase sempre mais simples
do que supomos. O ser humano tem a tendência de sempre
engrandecer um problema, seja por simples medo ou por
alguma predisposição inconsciente. No entanto, ao se debru -
çar em sua solução, muitas vezes ele constata que trata-se
de algo mais simples do que se previa inici almente. O pro-
blema sempre parece mais grave quando olhado de longe, ou
quando fugimos dele. A própria fuga de um problema pode
aumentar seu tamanho, pois quando o evitamos, ele parece
crescer em tamanho e periculosidade. Mas quando nos apro -
ximamos do problema visando resolve-lo de forma franca e
aberta, a solução quase sempre se desenrola de um jeito
mais tranquilo do que nos parecia a prin cípio. Sempre que
você se deparar com um problema procure refletir se você
não está complicando algo que em essência é simples.

Nossa sensibilidade aumenta o problema: Esse é outro


aspecto importante. Nossa sensibilidade diante de um pro -
blema, assim como nossas tendências inconscientes basea-
das em experiências prévias negativas quase sempre trans -
forma algo menor em algo maior, e nos induz a não resolução
do problema. Uma pessoa mais sensível sempre verá um
perigo adicional onde não existe. É como tocar numa ferida
em nossa pele. Se uma pessoa toca numa pele sem qualquer
ferida, não há dor, mas se essa pessoa toca com a mesma
intensidade numa pele onde há uma ferida mais ou menos
profunda, a dor será maior ou menor dependendo da profun-
didade da ferida. A influência do problema sobre nós também
depende da profundidade de nossas feridas interiores.
Quanto maior nossa sensibilidade apoiada nas feridas do

88
passado, maior será o tamanho do problema na ótica da pes -
soa.

Sofrendo por antecipação: Esse é outro aspecto muito


comum no trato com os problemas. A maioria das pessoas
quando toma ciência de um problema, já começa a sofrer por
antecipação, antes mesmo dos efeitos do problema se abate-
rem sobre ela. Algumas vezes nem sabemos se o problema é
real ou vai se concretizar e já começamos a sofrer. Nesse
caso, criamos um problema antes do problema se instalar. A
própria antecipação do sofrimento já se torna um problema
em si mesmo, um problema adicional que não existia até
então, mas que pode causar efeitos até mais devasta dores do
que o problema em si. Por exemplo, uma sus peita de doença
no coração. A pes soa já começa a sofrer mesmo antes de
saber se ela tem mesmo um problema no coração. Já começa
a chorar, a ficar deprimida, a não querer sair de casa, a faltar
no trabalho, a sentir angústia, etc. Ela nem sabe ainda se sua
doença tem cura, mas ela já começa seu sofrimento ante -
cipado que, como dissemos, muitas vezes é pior do que o
sofrimento do próprio problema.

Um problema que esconde outro: Isso também ocorre


muitas vezes. Quando não queremos aceitar a existência de
um problema, criamos outro que serve como proteção para
não resolvermos o problema maior. Esse é o caso de casais
que brigam por pequenas coisas, detalhes sem importância,
para não terem que mexer na “caixa preta” do relacionamento
que oculta o real problema. Muitas pessoas preferem mergu -
lhar em problemas pequenos para deixarem o problema
grande intocado. Algumas sentem-se irritadas pelo problema
maior, mas ao invés de encara-lo, tentam resolver o problema
menor acreditando que ele é a real ameaça. É preciso não se
enganar com relação ao problema maior, a fim de não ficar-
mos perdendo tempo com os problemas menores e se m
muita importância.

“O que não tem remédio, remediado está”: Esse provérbio


popular é muito importante e merece ser citado aqui. Todo
problema tem solução, mas se por acaso existir algum pro -
blema insolúvel, não há o que fazer a respeito, e nesse caso,
ele já está solucionado. Não há o que se preocupar com pro -
blemas insolúveis, pois nesse caso a única coisa que resta

89
fazer é aceitar as coisas como são. Não há motivo para preo -
cupações, para sofrimentos, para dores, para deses pero. Se
não há solução, o que fazer? Nada pode ser feito, portanto, já
está solucionado. Quando você perceber um pro blema que
aparentemente não tem solução, é assim que as coisas de -
vem ser, consequentemente, apenas aceite, e não haverá
mais um problema.

Acostumar-se com um problema: Aquela situação proble-


mática vivida durante anos ou mesmo décadas pode criar em
nós um certo costume, ou mesmo uma zona de conforto que
nos impede de seguir em frente. As circunstâncias do pro -
blema nos afetaram por tanto tempo que não conseguimos
mais nos enxergar sem ele, é como se o problema já fizesse
parte de nossa identidade, do nosso modo de ser. Algumas
pessoas podem até mesmo se recusar a resolve-lo para não
saírem da zona de conforto a que estão acostumadas, que é
cômoda, segura e onde há ganhos secundários. Conheci uma
pessoa rica que sofria há mais de 15 anos com o transtorno
do pânico. Ela começou a fazer uma terapia e logo iniciou um
processo de melhora. Porém, quando sentiu que es tava me-
lhorando e que a partir de sua reabilitação deveria passar a
cuidar de si mesma, e não mais receber o amparo dos pais e
dos enfermeiros que a assistiam, ela claramente hesitou,
largou a terapia e não quis assumir a si mesma. Isso ocorre
com muitas pessoas que passaram anos mergulhadas em um
problema e que não conseguem mais ver como seria sua vida
sem ele. Essa reformulação de vida sem aquele problema
pode ser um passo difícil que muitos se recusam a dar.

90
AS PARTES PERDIDAS

Havia um homem que não estava feliz com sua vida. Sentia -
se muito triste e vazio. Na hora de dormir, fez uma oração a
Deus pedindo uma orientação sobre o que fazer para se tor-
nar uma pessoa mais feliz, mais integral, sem esse vazio que
sentia.

Apagou a luz, deitou-se, e assim que fechou os olhos, ouviu


uma voz dizendo:

“Para preencher esse vazio, recupere as partes perdidas de


sua alma”.

O homem não compreendeu a mensagem e julgou se tratar


de um capricho de sua imaginação.

O homem dormiu e começou a sonhar… Sonhou que estava


num campo esverdeado muito extenso, onde caminhava
livremente. De repente, viu uma luz saindo de dentro dele. O
homem sentiu que essa luz era sua própria essência, sua
energia mais profunda, sua vida ou sua centelha cósmica…
em outras palavras, era seu próprio ser. Essa luz se dividiu
em miríades de luzes e foi pousando em diversos lugares
diferentes daquele imenso campo.

Nesse momento, o homem sentiu uma imenso vazio, que


entendeu ser a ausência de si mesmo, e saiu correndo pelo
campo em busca daquela luz. Viu então sua mãe passando
pelo caminho portando um pedacinho da sua luz. Lembrou-se
do quanto sentia saudade de sua mãe já falecida e percebeu
que uma parte de seu ser “morreu” quando ela partiu. Depois
viu sua ex-esposa, que o deixou por outro homem, e perce -
beu também um pedacinho de sua luz com ela.

Nesse momento, o homem sentiu o quanto sua ex-esposa lhe


fazia falta e o término do casamento havia deixado um buraco
em seu peito. O homem então foi se deparando com várias
cenas diferentes: com as humilhações que sofreu na escola,
que também haviam tirado um pouco de sua alegria de viver.
Essas crianças da escola também estavam com uma partí-
cula de sua luz. O chefe que o demitiu injustamente também
estava portando um fragmento da sua luz. As meninas que o

91
haviam rejeitado igualmente estavam de posse de uma pe-
quena porção de sua luz.

Depois disso, o homem começou a ver que sua luz estava


distribuída por milhares de lugares e situa ções diferentes:
traumas de infância, apegos, prazeres quiméricos, saudades,
desejos não satisfeitos, sua fixação na comida, na cerveja, as
horas que perdia com jogos e situações inúteis, suas raivas,
seus medos, suas mágoas, suas carências, tudo isso estava
roubando dele a luz que antes residia em seu inte rior. O ho-
mem sentiu, assustado, que muitas partes de si mesmo esta-
vam distribuídas em milhares de pessoas, lugares, situações
e sentimentos diferentes, e esse era o motivo de todo o vazio
que sentia há muitos anos. Todos os sonhos não realizados,
os ressentimentos, as carências, as rejeições das pessoas, as
pessoas que ele amava, mas que se foram, tudo isso havia
ficado com uma pequena parte do seu ser. Não que essas
coisas tenham lhe roubado a si mesmo, mas ele mesmo havia
deixado um pouco de sua luz perdida pelo caminho, no seu
passado, em todos os seus apegos, traumas e faltas. Seu ser
estava fragmentados em muitas partes, que haviam ficado
pelo caminho em decepções, apegos, sofrimen tos e ausên-
cias.

O homem sentiu que precisava reverter essa situação, e para


isso o único caminho era recuperar todas as “partes perdidas”
do seu próprio ser. Ele precisava agora retomar a luz de si
mesmo que ficara perdida pelo caminho, presa em pessoas,
situações e sentimentos. Fez uma viagem de volta, e foi pe-
gando de volta todos os pedaços do seu interior que ficaram
distribuídos pelas areias do tempo. Foi resgatando a si
mesmo em todas essas miragens passadas, rea vendo as
frações perdidas do seu ser em diversas partes do mundo
transitório e ilusório.

Quando conseguiu reassumir todas as partes de si mesmo e


traze-las de volta para si, o vazio em seu interior sumiu. O
homem passou a se sentir maravilhosamente preenchido e
livre. Sentiu um calor divino em seu peito, que o fazia sentir-
se mais íntegro. Ele não estava mais preso em milhares de
pessoas, situações e sentimentos. Ele retomara a si mesmo
em pedaços do exterior e devolveu todas as partes perdidas
ao seu interior. Estava agora integral e pleno de si mesmo.

92
Quando acordou, sentiu um bem estar maravilhoso. Decidiu
que nunca mais iria se extraviar nas ilusões do caminho e
jamais permitiria que partes de si mesmo ficassem perdidas
pelos recantos do mundo.

Reflexão: Onde estão as partes perdidas de ti mesmo? Recu-


pere-as, pois só assim serás feliz.

93
BUSCAR DEUS SOMENTE NA DOR

De vez em quando vejo uma pessoa dizer:

Por que Deus somente nos ensina pela dor? Não seria mais
fácil aprender pela felicidade, pela satisfação, pela alegria,
pelo amor?

A resposta a essa pergunta é bem simples. Sim, seria muito


melhor que o ser humano pudesse aprender pela felicidade,
pelo amor, pela bondade, mas não é isso que as pessoas
fazem. Todos podem observar isso em abundância na vida
humana. Pare um pouco e lembre nesse instante dos mo -
mentos da vida de outras pes soas e da sua própria vida em
que você estava feliz, em que tudo corria bem, em que nada
te faltava, em que você estava satisfeito, alegre, com seus
desejos satisfeitos, ou seja, bastante confortável na vida.

Qual é a postura de quase todas as pessoas quando es tão


muito bem? A tendência é cada um ficar estagnado; é perma-
necer como se está, é não sair do lugar. Vamos refletir: se um
lugar está bom, confortável e atende aos nossos desejos,
queremos sair deste lugar? Não… Desejamos permanecer
nessa condição o maior tempo possível. Quando nos encon-
tramos em condições favoráveis, não pensamos em nossa
melhora, não pensamos em ir além, não pensamos em cres -
cer, em evoluir, em nos desenvolver, em nos libertar, em
buscar alternativas, em olhar para nós mesmos e nos desco-
brir…

Por exemplo, aquele jovem rico que tem tudo, tem uma namo-
rada linda, faz muitas viagens, come tudo o que gosta, vive
uma vida muito confortável, tem muita energia para sair e
curtir. Esse jovem vai desejar buscar Deus, ou vai mergulhar
num mundo materialista, superficial, ilusório, de conforto e sa-
tisfação dos desejos passageiros? Mas quando esse jovem
começar a envelhecer, o que vai ocorrer? Ele vai aos poucos
perdendo toda a sua energia, pode começar a ter várias do -
enças, se tornará mais dependente dos outros, não poderá
mais sair, viajar, não será mais atraente para as mulheres,
seus falsos amigos podem abandona-lo, sua família pode não
procura-lo como antes, ele pode ficar carente e vazio… Pode

94
ainda ser rico, mas já não poderá mais usufruir o dinheiro e
seus prazeres como antes.

Nesse momento, em que ele começa a perder tudo, ele po -


derá começar a pensar em Deus e a entender que a vida não
é apenas a busca pelo prazer, festas, viagens, tecnologias,
sexo, etc. Quando nos deparamos com a inevitabilidade da
morte, com a degeneração do corpo físico e com a carência,
a falta e o vazio, nossa pers pectiva começa a mudar e pas -
samos a buscar algo que seja imortal, essencial.

Alguém faz esforço em observar a si mesmo, em se autoco -


nhecer, quando tudo está bem? Alguém pensa em buscar a
Deus quando o mundo nos provê todas as necessidades
materiais? Quantas pessoas buscam a Deus na bonança?
Quase ninguém… Mas quantas pessoas buscam a Deus
durante uma forte tempes tade? Quantas pessoas pensam
que precisam se melhorar quando estão de férias, fazendo
sua viagem favorita, com muito dinheiro no bolso? Mas e
quando perdemos tudo, não temos mais dinheiro, nossos pa -
rentes e amigos morreram ou nos deixaram?

Nesse momento lembramos que existe um Deus, que a vida


não é apenas dinheiro, viagens, sexo, comida, festas, redes
sociais, conforto, etc. Nesse momento, começamos a sentir
necessidade de buscar algo que o mundo não pode e nunca
pôde nos oferecer… A verdade é que o ser humano só busca
Deus quando a dor lateja, quando ele perde alguém que
amava, quando não tem mais dinheiro, quando não vê mais
saída, ou seja, quando o mundo já não pode mais lhe ofere -
cer aquilo que ele deseja.

Muitas pessoas só passam a se preocupar verdadei ramente


com sua saúde após passarem por uma grave doença. De -
pois que vem a dor da enfermidade, elas fazem uma reflexão
e decidem que, daqui em diante, elas devem fazer exercícios,
ter uma alimentação mais saudável, cultivar hábitos positivos,
ter bons pensamentos, etc. O ser humano só busca se melho-
rar com o dor… São poucos os que seguem o caminho do
amor quando estão bem e confortáveis no mundo. Por isso os
mestres costumam dizer que o ser humano precisa perder o
mundo para encontrar a Deus e a si mesmo. O mundo abafa
nossa essência espiritual e precisamos recupera -la, pois a

95
vida verdadeira só existe em nossa natureza essencial, mas
profunda e divina.

É preciso que a inteligência da vida nos tire todas as vesti -


mentas ilusórias, todas as aparências, todos os confortos
passageiros, todos os desejos, todas as pos ses… É preciso
que tudo isso seja tirado para que uma pessoa passe a bus -
car a si mesmo e sua essência. Como disse Jesus: “Toda a
pessoa que bebe desta água, voltará a ter sede. Mas aquele
que beber da água que eu dou nunca mais terá sede. A água
que eu dou se tornará numa fonte de água viva dentro dele.
Ela lhe dará a vida eterna”. (João 4:13-14) Jesus quis dizer
que quem vive bebendo o líquido das miragens do mundo
sempre terá sede, pois as benesses mundanas são uma uma
ilusão, uma aparência, um sonho, uma fantasia. Mas quem
bebe da essência da vida, que é real e eterna, nunca mais
sentirá qualquer falta, qualquer carência, qualquer tristeza,
qualquer vazio.

Essa é a resposta do motivo de Deus não nos en sinar pela


felicidade, mas pela falta, pela perda, pela dor, pela destrui -
ção, pelo caos. Os momentos em que tudo nos é favorável,
tendemos a ficar paralisados e não buscar nosso desenvolvi -
mento… não nos libertar deste mundo instável, de aparência,
de ilusão. Mas quando perdemos tudo que é exterior,
começamos a olhar para o nosso interior e buscar a essência
divina dentro de nós mesmos.

96
O CONSOLO APÓS A MORTE

É fato que o ser humano tem muita dificuldade de aceitar a


morte. Muitas pessoas me mandam mensagens pedindo um
consolo, uma palavra ou mesmo uma psicografia de um ente
querido ou amigo já falecido. O sofrimento dessas pessoas
pela “perda” de alguém que muito amam parece não ter fim.
Por esse motivo, decidi escrever alguns dos principais pontos
a respeito da vida após a morte. Essas informações podem
ajudar algumas pessoas a enfrentarem com fé e resignação a
passagem de pessoas muito queridas.

O primeiro ponto que todos devem entender para se consola -


rem com a partida de uma pess oa que amamos é a verdade
de que a morte, absolutamente, não existe. É preciso que
todos saibam que a morte é apenas uma passagem, uma
transição de um estado a outro de existência. A morte nada
mais é do que a perda do corpo físico. Descartamos o invólu -
cro carnal e passamos a existir apenas numa dimensão mais
sutil de realidade. Aquilo que somos lá no fundo e que não
depende do corpo físico para existir se conserva e vai ao
plano espiritual. A morte é apenas uma mudança de vibração.
Costumo comparar a morte a uma espécie de viagem que
nossos entes queridos e amigos fizeram. Uma viagem para
um lugar distante que nós ainda não podemos ir. Um dia, é
certo que vamos encontrar as pessoas falecidas que muito
amamos e ninguém deve duvidar disso. Por mais que as
impressões materiais possam nos fazer crer que a vida se
encerra com a morte, é certo que a vida continua sempre, em
muitos níveis, fases, planos e estados da existência universal.
O segundo ponto fala da ausência de sentido caso a morte
fosse o fim de tudo. Isso significa que se a alma humana se
encerrasse definitivamente com a morte, a vida não teria
nenhum sentido. Imagine que vivemos apenas um segundo
da eternidade e morremos, para nunca mais voltar, nunca
mais existir. Qual seria o sentido da vida se assim fosse?
Seria melhor que abraçás semos logo esse fim absoluto, que
seria nosso destino inexorável, do que permane cer na Terra
apenas para gozar nossa condição material. Portanto, se
acreditamos que a vida tem um sentido, jamais podemos
aceitar a ideia do fim absoluto do ser. Por outro lado, se a
morte representasse a extinção completa de nosso ser, de
nossa vida, do nosso eu, essa morte seria o único fim abso -

97
luto de alguma coisa em toda a natureza e universo. Isso
porque nada que é natural morre de fato, mas ocorre apenas
uma mudança de forma. A flor que morre renasce como
adubo da terra; a semente que morre no solo nasce como
planta; a lagarta morre como lagarta e nasce a borboleta.
Como diz Lavoisier, “Nada se perde, tudo se transforma”.
Tudo aquilo que morre, renasce em outra forma. Essa é uma
lei natural que também vale para a alma humana. O espírito
também morre como forma para depois aderir a outra forma.
Como dissemos em um de nos sos escritos, morremos no
plano físico, para renascer no plano espiritual, da mesma
forma que o sol “morre” no horizonte num ponto da Terra e
“nasce” no outro lado do mundo. Portanto, não há morte… há
sempre continuidade da vida.

O terceiro ponto nos informa que a morte existe no nasci -


mento e o nascimento existe na morte e que am bos são parte
de um mesmo ciclo da alma. Da mesma forma que a morte de
uma pessoa é motivo de lágrimas e saudade para aqueles
que permanecem no plano físico, aqueles que permanecem
no plano espiritual também sofrem e sentem saudades de nós
quando nascemos no plano físico. O contrário também ocorre:
quando uma alma nasce na Terra, ela é recebida com alegria
e festa. Da mesma forma, quando a alma morre no plano
físico, ela é recebida com alegria e festa no plano espiritual.
Portanto, assim como não há motivo para tristeza quando
uma alma nasce, também não há motivo para tristeza quando
ela morre, pois muitos es píritos que a amam ficam muito
felizes com sua chegada ao plano espiritual. Aqui reside outro
aspecto importante da morte… Sempre acontece da alma que
acabou de desencarnar ser recebida no plano espiritual pelos
seus entes queridos espirituais, que o recebem com todo o
amor e carinho. As pesquisas com “experiências de quase
morte” confirmam de forma clara esse ponto. Esses es píritos
foram pessoas que a alma amou, ama e conviveu ao longo de
sua existência terrena e ao longo de muitas vidas passadas.
Por esse motivo, não há qualquer razão para sofrimento,
posto que, quando desencarnamos, as pessoas que desen -
carnaram antes de nós estarão lá para nos receber e regozi-
jar-se com nossa chegada à pátria espiritual. Pessoas que
acreditamos termos “perdido” aparecerão nesse sublime
momento de nossa chegada ao plano espiritual e nos recebe-
rão com todo o amor e carinho.

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O quarto ponto fala sobre a possibilidade da alma ficar presa
a Terra e nos fazer muito mal. Já falamos sobre isso em outro
texto, portanto, não nos alongaremos nesse assunto. O que
as pessoas precisam saber é que não devem ficar prendendo
mentalmente um espírito junto delas, pois nesse caso, ela
pode se tornar o que no espiritualismo se chama de um “espí-
rito preso a Terra” e gerar muito mal aos encarnados e a si
próprio. É muito comum que uma alma recém desencarnada
fique presa a nós por conta de nosso apego. Qua ndo isso
ocorre, ela pode sugar nossas energias, assim como nos
transmitir toda a sua tristeza, confusão e até fazer com que fi -
quemos doentes e deprimidos. É necessário permitir que a
alma ascenda ao plano espiritual e não fique aprisionada na
matéria. Portanto, uma forma eficaz de diminuir nossa dor é
permitir a partida do espírito que pode ter ficado preso a
Terra. Em outro texto de nossa autoria ensinamos uma téc-
nica que permite ao encarnado encaminhar o recém desen -
carnado ao plano espiritual. O nome da técnica é “Encami-
nhando Espíritos”. Ela pode ser encontrada no blog de Hugo
Lapa. Pessoas que realizaram essa técnica rela taram senti-
rem-se aliviadas e mais tranquilas após sua realização. Isso
se deve ao fato que o desencarnado já não está mais co-
nosco, nos transmitindo sua tristeza e pesar.

O quinto ponto, e muito importante, é que a morte nos ajuda a


dissolver os apegos que temos diante de algu mas pessoas.
Se uma pessoa não consegue viver a sua vida após a morte
de outra pessoa, significa que ela se apoiava emocionalmente
no outro, o outro era seu sustento psicológico, seu alimento
emocional, e ninguém pode ficar dependente assim de outra
pessoa. Por exemplo, quando um filho morre e uma mãe não
consegue dar continuidade a sua vida, significa que essa mãe
era totalmente dependente do seu filho no sentido emocional.
Ela estava presa a esse apego e essa dependência emocio -
nal do filho. Mas o desenvolvimento espiritual pressupõe o fim
de todos os apegos, o fim de qualquer dependência emocio -
nal. Pressupõe que sejamos capazes de viver sem nos apoiar
no outro, sem descontar no outro nossas carências, sem usar
o outro como nosso alimento emocional. Por isso, Deus leva
momentaneamente as pessoas que amamos a fim de nos
libertar desse apego ao outro. Não vamos confundir amor
com apego. O amor mais puro, real, não é apegado, não nos

99
faz estar viciados no outro, necessitando de sua presença
conosco. O amor incondicional é aquele que existe mesmo
quando a pessoa amada está longe e, mesmo sentindo s au-
dade, aceitamos de bom grado essa condição, pois não es -
tamos presos ao outro. Portanto, conseguem lidar melhor com
a morte aqueles que não cultivam nenhum apego. Ao contrá -
rio, aqueles que estão muito apegados, praticamente não
conseguem mais seguirem suas vidas sem o outro. É preciso
amar sem posses, sem se anular pelo outro, sem fazer do
outro nossa vida. Dessa forma, a passagem se torna muito
menos dolorosa e não nos prejudica.

O sexto ponto nos mostra que nenhuma vida pode ser inter-
rompida antes da hora, como as ilusões do mundo podem nos
fazer supor. Vejo muitas mães dizendo que “perderam” seu
filho “antes da hora” e que ele ainda tinha muito para viver
nessa vida não fosse a causa de sua morte, como um homi -
cídio, um acidente de carro, uma doença que o acometeu,
dentre outras causas de sua morte. Queremos declarar aqui a
verdade de que ninguém morre antes da hora. Em primeiro
lugar, é certo que não há interrupção da vida, posto que a
vida sempre continua e jamais se extingue. Em segundo
lugar, essa “interrupção” não foi algo que ocorreu ao acaso,
por acidente ou pela força das circunstâncias, mas precisava
acontecer. Isso porque quando uma alma desencarna, sua
missão na Terra já se completou. Mesmo quando uma pessoa
é assassinada, ela só desencarnou porque sua hora chegou,
caso contrário, o assassino não conseguiria seu intento e algo
daria errado. Uma alma só deixa a Terra quando não precisa
mais ficar aqui, pois já passou por todas as provas e expia -
ções que necessitava e já cumpriu sua mi ssão. Portanto,
mesmo um jovem de 15 anos que foi assassinado, não teve
sua vida interrompida pelo assassino. Ele foi embora porque
Deus permitiu que ele se libertasse da matéria após o término
de sua missão e das provas que precisava suportar para
evoluir espiritualmente. Seu tempo terrestre se esgotou e
nada mais havia para ele fazer na Terra.

Esse é um ponto bem difícil das pessoas compreen derem,


mas é verdadeiro e também consolador. Aqueles que tomam
consciência de que as pessoas apenas desencarnam quando
terminaram suas tarefas terrenas para a vida presente, são
mais resignadas e não cultivam dúvida ou raiva de certos

100
acontecimentos que consideramos como a causa da morte.
Por outro lado, mesmo pessoas mais jovens, até crianças nos
primeiros anos, têm uma missão a cumprir e são úteis ao
desenvolvimento espiritual de uma família e em alguns casos
até mesmo da coletividade. É o caso de crianças em tenra
idade que são violentadas e assassinadas. As almas que
passam por essas tragédias, que tocam a sociedade, podem
ser espíritos missionários que vêm nos ensinar a importância
do amor, do perdão e vem sensibilizar a todos de que é ur -
gente uma transformação em nível global.

O sétimo ponto e um dos mais importantes é o fato de que a


morte nos mostra o quanto esse mundo é transitório, efêmero
e ilusório. O ser humano sempre procurou negar a morte, pelo
simples fato de que ele é muito apegado ao mundo e seus
prazeres. Acreditamos que nós vamos viver eternamente
nesse mundo, que o outro vai ficar conosco até a velhice e
acabamos esquecendo da imprevisibilidade da morte. Temos
a ilusão de que a morte ocorre com os outros, mas nunca
conosco. Queremos acreditar que vamos viver 100 anos e
que nossa família nunca vai morrer. Essa crença inconsci ente
vem do irremediável apego que temos diante do mundo das
formas, da matéria e dos prazeres. A morte é um instrumento
que Deus se serve para ir dissolvendo aos poucos dentro de
nós esse apego a matéria e as ilusões do mundo. Por outro
lado, a morte nos dá uma noção de que não há tempo a per-
der, de que tudo que devemos realizar, precisamos fazer
imediatamente, sem desvios e sem atraso. Portanto, a morte
serve para nos mostrar que essa vida aqui é somente uma
passagem e que estamos apenas temporariamente revestidos
de matéria. De outro modo, uma pessoa que amamos pode ir
embora a qualquer momento e isso é que nos move a dar-lhe
o devido valor, a perdoar, a aproveitar sua estada conosco e
trata-la com amor e carinho. Ninguém deve permitir que a
raiva, as disputas de ego, a soberba, as contrariedades, as
rixas pequenas e os problemas passageiros sejam causas de
brigas, pois o outro pode ir embora mais rápido do que espe -
ramos e a culpa de tê-lo maltratado e não lhe dar valor pode
nos torturar por anos.

O oitavo ponto nos deixa claro o quanto a vida mun dana, que
tanto valorizamos, é insignificante, estéril e sem valor. As
mensagens dos espíritos sempre afirmam a verdade de que a

101
vida na matéria é passageira e pequena diante da imensidão,
da glória, da harmonia e da felicidade da vida espiritual. A
maioria das pessoas se digladia e morre pelas migalhas do
mundo perecível. Trocamos facilmente nossa felicidade pelo
dinheiro e pelos bens materiais deste mundo. Passamos a
vida tensos e angustiados para manter nosso sustento fi-
nanceiro sempre com medo de tudo perder. Ao desen carnar
percebemos a imaturidade de tais atos; nos damos conta do
caráter ínfimo, transitório e irrisório de tudo isso. Os espíri tos
dizem que brigamos por coisas sem nenhuma importân cia;
nos matamos pelas sobras dos ossos debaixo da mesa; per-
demos nossa vida alimentando o ilusório ao invés de valorizar
o eterno ser espiritual que somos. Tudo isso para depois nada
receber; vivemos para tudo conquistar apenas para nos dar
conta que depois vamos tudo perder. Sofremos pelas perdas
como uma criança chora e se esperneia ao perder sua bola, e
quando chega a idade adulta, admite que a perda da bola foi
um episódio absolutamente sem valor. Os espíritos descre-
vem a eterna luz da vida, o infinito sol espiritual que sustenta
todas as almas , assim como o sol brilha e dá vida a tudo o
que existe na Terra. Mesmo a mais luxuosa mansão, o carro
mais sofisticado, as festas mais badaladas, o vinho mais
antigo e saboroso, a refeição mais opulenta, as viagens mais
refinadas, tudo isso é irrelevante, ilusório, miserável, vazio e
sem alma perto da felicidade suprema da vida cósmica. Essa
vida de bênçãos infinitas nos aguarda, mas para sentirmos
essa inexplicável paz é preciso enfrentar com fé e resi gnação
as lutas da vida humana; é preciso não guerrear contra
aqueles que querem a batalha; é preciso acalmar nosso cora -
ção diante da mais es trondosa tempestade; é preciso en-
tregar nossa vida a um plano maior que tudo organiza; é pre -
ciso abençoar as mazelas, os sofrimentos e as dores enca-
rando-as como provas do infinito para nos elevar. É preciso
despertar o amor mesmo por aqueles que nos perseguem,
nos caluniam, nos maltratam e nos agridem; é preciso neutra -
lizar o ódio com o amor; o conflito com a paz de espírito; as
pragas com a bem aventurança; não se importar de estar nos
últimos lugares, de ser o marginalizado, o oprimido, o rejei -
tado, pois os últimos sempre serão os primeiros; o mais baixo
sobre a Terra será o mais elevado no reino do infinito .

102
DESEJO E SOFRIMENTO

Quando uma pessoa vem e diz que você é ruim, muitas vezes
isso te irrita porque no fundo você deseja ser bom ou passar a
imagem de bom.
Quando uma pessoa vem e diz que você é um mau profissio -
nal, muitas vezes isso te afeta porque no fundo você deseja
ser um exímio profissional ou quer passar essa imagem a
outros.
Quando uma pessoa vem e diz que você é pequeno, muitas
vezes isso te aborrece porque no fundo você deseja ser
grande ou quer parecer grande perante os outros.
Quando uma pessoa vem e diz que você é fraco, muitas ve-
zes isso te entristece porque no fundo você deseja ser forte e
poderoso ou quer transmitir essa im pressão aos demais.
Quando uma pessoa vem e te trata como subalterno, muitas
vezes isso te chateia porque no fundo você deseja ser o
chefe, o comandante, o líder, o destaque.
Quando uma pessoa diz que você é feio, pare e perceba o
quanto isso te abala possivelmente porque, no fundo, você
deseja muito ser visto como bonito, es belto, deslumbrante,
garboso etc.
Todo sofrimento humano está baseado nessa sim ples regra:
eu desejo, não tenho, (ou perco) me frus tro e sofro.
Eu queria ser algo, não sou, ou deixo de ser, e isso me dói.
Se a pessoa não desejasse ser isso ou aquilo, ela não sofre -
ria por não ser isso ou aquilo.
Nossos desejos não satisfeitos criam o sofrimento que nos
tortura e nos degrada, nos apequena, nos faz cair nas má -
goas, frustrações e tormentos.
Quem não deseja ser alto, não sofrerá por ser baixo; quem
não deseja ser bonito, não sofrerá por ser feio; quem não
deseja ser santo, não sofrerá por ser profano.
Quem se aceita como é e tem fé na dádiva da vida, evita
muitos sofrimentos por conta de desejos não satisfeitos, e não
padece com as frustrações daquilo que se desejou, se perdeu
ou não se cons eguiu.
Viva a existência universal com a graça daquele que tem
tudo, por nada desejar para si.
Como diz a máxima: quem perde seu telhado, ganha o céu
como teto, assim como as estrelas brilham den tro de sua
residência.

103
Quem deseja suprir seus próprios interesses, sofre com o
maior mal do ser humano: o egoísmo.
Essa é a raiz de todo o sofrimento.

104
O APEGO

Quanto mais você se apega a uma pessoa, mais você sofre


com sua perda.
Quanto mais você se apega a algum bem, mais você sente
falta quando o perde.
Quanto mais você se apega a sua aparência, mais você sofre
com o envelhecimento.
Quanto mais você se apega a algum objeto, mais vazio você
fica quando isso vai embora.
Quanto mais você se apega a um dogma, mais você sofre por
descobrir que essa suposta verdade era falsa.
Quanto mais você se apega a uma situação, mais você deixa
de viver outras situações que poderiam ser proveitosas.
Quanto mais você se apega a um sentimento (como a raiva
ou a mágoa), mais você vai repeti-lo dentro de ti e mais essa
emoção te domina.
Quando uma situação nos proporciona um prazer repe tido,
Isso pode gerar um apego que funciona como alicerce psico-
lógico em nossa vida.
Aquele que se apega facilmente, faz sua vida depen der do
objeto de seu apego.
Apego é o caminho mais fácil: gera conforto, estabili dade e
nos dá uma base… algo para nos segurar.
Mas trata-se de uma base falsa, pois tudo o que existe, um
dia chegará ao fim… posto que nada se mantém eterna -
mente.
Aquele que não imagina sua vida sem algo ou alguém, está
seguindo rumo à infelicidade.
Nos apegamos a pessoas, a coisas, a situações, a ideias e
até a emoções.
Mas o maior apego é sobre nós mesmos.
Não queremos morrer, não queremos nos perder, não quere -
mos ser esquecidos.
Alimentamos o máximo nosso ego para sentir que continua-
remos existindo.
Tudo aquilo com que nos apegamos, ficamos com medo de
perder.
E o medo paralisa nossa vida, nos atrasa, nos prende e nos
desequilibra.
O apego é um dos maiores inimigos do ser humano… ele
sempre nos escraviza e nos submete.
O apegado diz: “Não posso viver sem isso”, “Não posso viver

105
sem aquilo”.
Quando nos apegamos, precisamos sempre de mais e mais e
nunca estamos satisfeitos.
Quem se apega a uma pessoa, quer sua presença a todo
momento e não consegue mais viver sem ela.
Quem se apega quer, de alguma forma, suprir uma carência
ou uma ausência dentro de si mesmo.
Mas é inútil, pois nossos apegos nunca poderão nos preen -
cher.
A fé na vida é, com efeito, o oposto do apego.
Quem tem fé, não se apega a nada, não precisa de coisa
alguma para se completar emocionalmente.
Aquele que coloca muitas coisas ao redor de uma lâm pada,
acaba abafando seu brilho.
Libere totalmente sua lâmpada, sua chama interior, de tudo
que a abafa.
Assim sua essência brilhará livremente.
Renuncie a todos os seus apegos, deixe de lado tudo aquilo
que te prende… Não há outro nome… isso se chama liber-
dade.
Aquele que vive desprendido de tudo, sem depen dências,
sem vícios, necessitando do mínimo possível…
Esse é muito mais feliz.

106
NÃO SE IMPORTE TANTO

Havia um homem que detestava barulho. Ele vivia re cla-


mando e brigando com o morador do apartamento de cima,
por ser um vizinho muito barulhento. O que ele mais queria
era ter um pouco de paz e que o vizinho parasse com os
constantes ruídos. Certo dia, ele percebeu que não mais
adiantava ficar sem pre estressado, pois nada iria mudar.
Dessa forma, decidiu não mais se importar com o barulho, e
passou a concentrar sua consciência em outras coisas. Com
o tempo, os barulhos do vizinho foram diminuindo, até que
praticamente não existiam mais. Depois que ele parou de ficar
bravo e dar valor ao barulho, este cessou e nunca mais o
incomodou.

Havia um rapaz que passou anos sofrendo bullyng dos seus


colegas de escola. Os rapazes caçoavam dele pelas suas
características físicas. Ele ficava bravo, se deixava irritar e
quase sempre saía do sério. O rapaz queria muito que os
colegas parassem de enche-lo, mas não adiantava. Sempre
que os colegas percebiam que ele se deixava afetar, eles
aumentavam o bullyng sobre ele. Certo dia, o rapaz decidiu
que não daria mais importância ao que os outros falassem.
Os colegas então falavam, zoavam, faziam pouco dele, mas
agora ele parecia não ligar. Aos poucos os meni nos foram
parando com o bullyng, até que, num dado momento, para -
ram de escarnece-lo em definitivo.

Uma jovem queria muito encontrar um homem e casar. Esse


sempre foi seu sonho, pois queria muito constituir uma famí-
lia. No entanto, o tempo passava e nenhum dos seus relacio -
namentos vingava. Ela estava muito carente e sentindo -se
muito solitária. Os anos escorriam sobre suas mãos e nada
do homem da sua vida aparecer. Certo dia, ela parou de se
importar com isso e foi viver sua vida. Deixou de lado a preo -
cupação em ter alguém ao seu lado e pas sou a não se im -
portar mais com isso. Certo dia, quando menos esperava,
conheceu um homem, se apaixonou e logo depois de casa -
ram.

Na vida humana ocorre assim: sempre que desejamos muito


algo, a ponto de depender de uma coisa para viver, a vida
pode bloquear por um tempo essa situação. O querer exces -

107
sivo, a neurose ou a irritação por não conseguir algo, faz com
que fiquemos presos a essa situação por um tempo indefi -
nido. É como o inseto preso numa teia de aranha: quanto
mais ele se debate tentando se libertar, mais preso fica.

O mesmo ocorre com os seres humanos: quanto mais bate -


mos o pé, ou ficamos agitados e nervosos tentando nos livrar
de algo que nos incomoda, ou desejando algo prazeroso e
ideal de que necessitamos, mais presos ficamos e mais blo-
queamos nossa libertação. Mas quando cessamos essa ne-
cessidade dentro de nós, tudo começa a fluir de forma livre e
espontânea. Isso acontece porque os planos de Deus sempre
pressupõe que não devemos nos importar tanto com as coi -
sas, a ponto de nos tornarmos dependentes delas. Somente
quando não precisamos de alguma coisa, é que ela passa a
acontecer naturalmente.

108
QUANDO VOCÊ PERDER

Quando você perder seus brinquedos, você poderá brincar


com tudo.
Quando você não tiver mais uma casa, sua residência será o
lar planetário.
Quando você perder seu quintal, você terá o quintal do mundo
com todas as matas e florestas.
Quando você não tiver mais irmãos, todos os seres humanos
serão seus irmãos.
Quando você não tiver mais luz elétrica, o sol será sua luz.
Quando a luz de sua vida física se apagar, você terá a luz do
seu espírito.
Quando você não amar apenas uma ou outra pessoa, você
passará a amar todas as pessoas e todos os seres viventes.
Quando você não tiver mais isso ou aquilo, você terá todas as
coisas.
Quando seu mundo for destruído, você ainda terá o mundo
real para ser seu.
Quando a luz de sua vida física se apagar, você ainda terá a
luz do seu espírito.
Quando você perder a si mesmo, você será tudo em Deus.

109
NÃO LUTE

Tudo o que existe na vida humana é um conflito de opostos.


Vivemos em conflito entre o que é e o que não é.
Uma eterna briga buscando o que desejamos e ten tando
evitar o que não desejamos.
Uma luta contra realizar o ideal e deixar de lado tudo o que se
afaste desse ideal.
Um combate permanente entre como acreditamos que algo
ou alguém deve ser e como acreditamos que não deve ser.
Sempre existe uma disputa mental entre o que de vemos e o
que não devemos fazer.
Estamos sempre evitando a dor e buscando o prazer, e nisso
há uma tensão, um perene conflito.
Até mesmo em nossa mente é travada uma luta entre pensa -
mentos desejados e indesejados.
A própria natureza do pensamento é buscar algo.
E quando buscamos algo, há algo em nós que está em falta.
Todo buscar implica em algo que não se possui,
E nessa busca sempre há um conflito em direção a algo que
se quer alcançar.
Aqui reside o problema: na busca há sempre o con flito;
No conflito existe sempre algo que se consegue e alg o que
não se consegue.
Quando buscamos nosso desejo e conseguimos, fi camos
felizes.
Então se inicia outro conflito: o medo de perder o que já se
conquistou.
E quando não se consegue o desejo, há o conflito pela sen -
sação da falta; pela ausência do desejo.
Quando estamos em repouso, ficamos entediados para estar
em movimento;
E quando estamos em movimento, ficamos cansados e al -
mejamos o repouso.
Não importa o que se faça; não importa o quanto se esteja
feliz ou satisfeito,
O conflito continua existindo, de forma abundante, em toda a
vida humana.
Não importa o quanto você é feliz ou acredita que é ou que
pode ser feliz.
Quanto maior a satisfação, maior será a frustração pela perda
desse prazer.

110
Quanto maior a busca, maior a ausência dentro de nós, e
dessa forma, maior é o conflito.
A roda do mundo gira e por melhor que seja nossa situ ação,
sempre sucedera o conflito, a tensão e a confusão.
Os sábios ensinaram a fórmula para o fim do sofrimento:
Cesse toda a luta entre ter e não ter; entre querer e não que -
rer; entre o prazer e a dor; entre ser e não ser.
Os sábios dizem: não busque fora o que você só pode en -
contrar dentro de ti.
“Se deixar de lutar, deixo de viver”, dizem alguns.
Mas é justamente na luta onde reside a perda, a dor, a ilusão
e a morte.
Quando paramos de lutar e nos colocamos além dos conflitos,
a verdadeira vida do espírito começa a fluir de nosso interior.
Outros podem argumentar que sem luta nada se melhora no
mundo.
A conclusão desse pensamento é que mesmo na luta não há
garantia de melhora.
Podemos lutar e nos destruir muitas vezes, que o mundo só
mudará quando tiver que mudar.
Quem luta pode se ver com o poder de mudar, mas esse
mudar é sempre ilusório.
A vida só se transforma de dentro para fora e nunca de fora
para dentro.
É nosso interior que precisa estar em paz. Assim todo conflito
desaparece e isso reflete uma harmonia no mundo externo.
Não deseje algo para depois não sofrer pela perda.
Não anseie pelo futuro nem se prenda ao passado, pois tudo
o que você precisa já está no presente.
Não busque explicação, pois a essência do cosmos é inefável
e incognoscível.
Não vá de um ponto a outro, pois sua essência está aqui, lá
no fundo, em seu interior.
Não lute contra, entregue a Deus.
A cessação da luta e dos conflitos não é algo passivo, mas
ativo,
É a vida dando a vida para a vida. E não a vida lu tando contra
a vida; ou a vida anulando a vida.
A luta, as brigas e os conflitos trazem a perda, a dor e a
morte.
A harmonia e a aceitação trazem a paz, a essência e o espí-
rito.

111
NÃO REAJA AO MAL

Aquele que responde uma agressão com outra agres são se


coloca no mesmo nível do seu agressor.
Aquele que sente raiva daquele que cultiva raiva por nós se
deprecia tal como o raivoso.
Aquele que devolve a ofensa ao seu ofensor torna -se tão
degradado quanto a baixeza da ofensa que repudiamos no
outro.
Aquele que reage com irritação a situações estressantes está
semeando cada vez mais irritação em sua vida.
Aquele que luta contra quem luta conosco acaba se pondo na
linha de combate e pode sempre sofrer ataques.
Aquele que se deixa envolver pela energia negativa de que
nos maldiz e nos maltrata, está alimentando mutuamente o
mal que quer evitar.
Quando levantamos a voz para aquele que grita conosco,
quedamos na corrente da cólera que nos prejudica e desvita-
liza.
Aquele que reage ao mal com o mal coloca-se no mesmo
nível do mal que condena para si.
Seja superior às investidas da escuridão; coloque-se acima
das energias pesadas; eleve-se sem reagir.
Quando você reage ao mal, ele te atinge; mas quando você
se coloca acima dele, ele jamais pode te alcançar.
Não responda ao agressor com agressão; ao ofensor com
ofensa; ao mal com o mal.
É como entrar numa poça de lama para jogar a mesma lama
que jogaram em nós, quem se suja é você.
Uma pessoa só pode te atingir se você responder na mesma
moeda.
Curve-se do mal, esquive-se da lama das emoções negativas
que querem te passar.
Porém, não evite o mal por medo, covardia ou submissão,
Mas para não decair no mesmo abismo que o outro se en -
contra.
Quando alguém te convida para a escuridão, você só entra na
porta das sombras se quiser.
Deixe a agressão, a ofensa, a raiva, a provocação, a hostili -
dade, o menosprezo com aquele que os possui em si.
Não se deixe contaminar ou envolver pelas energias negati -
vas.

112
Coloque-se acima, invulnerável ao mal que jogam em você.
A correnteza do mal só te puxa se você mergulhar no rio.

113
A VIDA NOS ENSINA

Maria Eduarda era uma pessoa orgulhosa e trabalhava como


faxineira em um restaurante. Ela detestava o trabalho que
fazia, pois acreditava que era algo menor, inferior, mas não
tinha escolha, pois precisava do dinheiro para se sustentar.
Ela tinha que engolir seu orgulho e aprender a ser humilde. A
vida estava lhe ensinando a virtude da humildade.

Jonathan era um rapaz muito preguiçoso. Não gos tava de


trabalhar e nem de estudar. Seus pais tive ram uma crise
financeira e começaram a perder tudo o que tinham. Jonathan
estava agora numa encruzilhada, pois precisava tomar uma
atitude e arranjar um emprego, assim como iniciar seus estu-
dos. A vida estava lhe ensinando o valor do esforço e a sair
do conformismo.

Elaine era uma pessoa muito nervosa, irritada e não admitia


receber ordens. Trabalhava em um banco quando certo dia
houve uma mudança na equipe. O novo chefe era um homem
autoritário e começou a pegar no pé de Elaine. A moça, muito
irritada, não podia responder nem brigar com ele, caso contrá-
rio seria demitida. Por isso foi obrigada a se controlar e a
relevar certas atitudes do chefe. A vida estava lhe ensinando
a ser uma pessoa menos nervosa e mais tranquila.

Augusto era um homem muito organizado, muito certi nho e


tinha horror a desorganização. Tinha crenças muito rígidas e
era bastante conservador. Certo dia, conheceu e se apaixo -
nou por uma mulher que era o oposto dele. A moça era libe -
ral, não ligava para organização e não cultivava as mesmas
crenças que ele. Augusto detestava esse jeito da moça, mas
a amava muito, e por isso, foi obrigado a conviver com as
diferenças e teve que se tornar uma pessoa mais aberta. A
vida estava lhe ensinando o respeito as diferentes vi sões de
mundo e comportamentos, abrindo sua mente.

A vida sempre nos coloca em situações que nos obri garão a


rever nossos comportamentos, valores e crenças e a nos
tornarmos pessoas melhores. Não reclame ou fique brigando
com as circunstâncias, mas procure decifrar sua mensa -
gem. Nada disso é ruim, mal ou negativo, mas é apenas a

114
força e a inteligência da vida tentando te ensinar algumas
lições de sabedoria.

E você, que está passando por algum sofrimento, re flita… O


que a vida está querendo te ensinar?

115
SUPERANDO O SOFRIMENTO

Existem alguns pontos básicos que todas as pessoas devem


conhecer no momento em que estão atraves sando um pro-
fundo sofrimento. Vamos analisar cada um desses pontos, de
forma bem resumida, para que qualquer pessoa possa, em
momentos de grande provação, superar os infortúnios e as
tormentas da melhor forma possível.

O primeiro ponto é o seguinte: é importante que todos saibam


que nenhum sofrimento deve ser evitado. No momento em
que uma pessoa tenta de todas as formas evadir-se do ato de
sofrer, isso significa que ela já está sofrendo. Isso pode não
ser tão óbvio para algumas pessoas que procuram conter,
reprimir ou esquivar-se de todas as formas de amargura,
aflição, etc. Mas é certo que sempre que alguém procura
preservar-se de algum tipo de sofrimento, há uma parte de
seu ser, mesmo que inconsciente, que já sofre. Não haveria
motivo para se tentar evitar algo que não vai ocorrer; ou seja,
se a pessoa tenta evitar o sofrimento, é porque ele já é uma
realidade interna e está prestes a suceder. Há algo dentro de
nós que está a ponto de eclodir e, por um mecanismo de
defesa, nós reprimimos esse sentimento.

O segundo ponto fala sobre o valor de se reconhecer o sofri -


mento. Se o sofrimento realmente está prestes a acontecer,
isso significa que ele já está dentro de nós, e , portanto, deve
ser reconhecido. Muitas pes soas não sabem disso, mas é
melhor conhecer os sentimentos negativos que residem den -
tro de nós e deixar que eles apareçam, do que ficar fingindo
que eles não existem e conviver com eles. Isso porque o
conhecimento e a vivência das realidades interiores permite a
libertação delas. No entanto, é certo que aqueles que procu-
ram esconder ou camuflar suas emoções e seu sofrimento,
acabam fazendo-os retornar depois com mais força e em
momentos indesejados. Como disse Jesus: “Conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará”. Isso significa que é melhor
conhecer a verdade do que ocorre em nosso interior, pois
assim poderemos nos libertar dela. Há um princípio psicoló-
gico que diz assim: tudo aquilo que es condemos dentro de
nós, e de que não temos consciência, passa a nos controlar.
O sofrimento que camuflamos e não queremos aceitar ou
identificar tam bém funciona assim. Quando reconhecemos o

116
sofrimento em seu nível mais profundo, retiramos as rédeas
dele e passamos nós ao comando.

O terceiro ponto aborda uma máxima muito importante sobre


a permanência do sofrimento dentro de nós. Essa máxima diz
o seguinte: O sofrimento contínuo e difuso é muito pior do que
o sofrimento abrupto e intenso. O primeiro tende a permane-
cer, enquanto o segundo tende a passar muito mais rá pido.
Isso significa que o sofrimento que permitimos que ocorra,
que deixamos fluir, que vem forte, duro, árduo, vigoroso, pe -
sado e profundo, tende a passar num espaço de tempo bem
mais curto. Por outro lado, o sofrimento que se evita, que
procuramos dis simular, que reprim imos e não queremos
sentir, tende a manter-se mais tempo, a perdurar e sobreviver
por um período bem maior dentro de nós. Imagine uma re-
presa cheia de água que precisa desem bocar no rio. Um
homem, para evitar toda a turbulência das águas, abre ape-
nas uma fresta da represa para que a água passe. Obvia -
mente a água jorrará com menos força e demorará muito
mais tempo para sair. Mas se o homem abrir mais as com -
portas, a água se chocará com o rio e provocará muito mais
agitação, no entanto, ela fluirá com muito mais rapidez e logo
a represa estará vazia. Por outro lado, se as comportas forem
muito pouco abertas, a água continuará chegando à represa e
uma hora ela vai transbordar ou se romper. O mesmo ocorre
com o sofrimento do ser humano. Quando evitamos a aber-
tura de nossas com portas emocionais para não sentir e não
tomar consciência da dor e do sofrimento, podemos estar
enchendo cada vez mais nosso depósito de emoções. Da
mesma forma que chegará uma hora em que a represa não
poderá conter toda a água, também vai acontecer de não ser
mais possível conter nossas emoções e elas transbordarem.
Ficar contendo o escoar do sofrimento pode provocar o rom -
pimento de nossas comportas emocionais, e nesse caso, o
sofrimento será muito mais intenso.

O quarto ponto nos ajuda a compreender que, quanto mais


reprimimos uma emoção dentro de nós, mais forte ela se
torna e mais danos ela provoca. Isso ocorre com qualquer
atividade mental ou emocional do ser humano. Imagine que
um pensamento vem repetidas vezes em nossa mente. Se
uma pessoa tenta evitar que ele surja em sua mente, ten -
tando anula-lo ou usar sua “força mental” para exclui-lo, esse

117
processo só aumentará sua intensidade e o fará retornar com
mais força. Por isso que muitas pessoas sofrem de pensa -
mentos obsessivos, dos quais não conseguem se libertar.
Isso ocorre por uma razão muito simples: ao tentar excluir de
todas as formas um pensamento, damos -lhe muito poder
sobre nós, dotamos esse pensamento de uma grande impor-
tância. Se ele não pode de jeito nenhum aparecer, é porque
ele é muito poderoso e pode nos afetar seriamente. Por isso,
quanto mais desejamos banir, suprimir ou eliminar algo dentro
de nós, mais damos poder a isso, e mais forte ele se torna.
Ocorre o mesmo com o nosso sofrimento. Quanto mais dese-
jamos evita-lo, mais potente e resistente ele aparece dentro
de nós.

O quinto ponto nos diz o seguinte: quando o sofri mento vem


de forma muito intensa, e atinge seu ponto máximo, a tendên-
cia é que ele comece a decair e a se enfraquecer. É co mo
uma onda no mar. A onda chega próxima a terra, vai cres -
cendo, atinge um ponto máximo de altura, e com isso cai,
quebrando-se na praia. Tudo aquilo que é levado ao extremo
começa a perder sua energia e o resultado é sua queda ab -
rupta ou gradual. Para aqueles que desejam libertar-se de
toda forma de sofrimento, esse é um princípio muito impor-
tante, pois ele é a base de como enfraquecer uma forte emo -
ção negativa. Por isso, o exercício que todos po dem realizar
segue essa linha, que descreveremos agora .

No momento em que um grande sofrimento lhe abater e você


não conseguir lidar com ele, a primeira coisa que você deve
fazer é não reprimi-lo. Sim, você deve deixa-lo fluir, como já
explicamos, para que ele seja reconhecido e não haja qual-
quer repressão. Vai doer muito, vai ser muito ruim passar por
isso, mas é um caminho necessário para o seu enfraqueci-
mento e a nossa libertação. Em segundo lugar, não fique
brigando com ele, mas aceite-o como parte de um processo
de autoconhecimento e crescimento interior. Em terceiro
lugar, deixe que ele venha e atinja o ponto máximo, sem no
entanto que você se identifique com ele. Procure pensar que
o sofrimento vem, mas ele não faz parte de você, e que ele irá
embora. Se a pessoa se identifica com ele, ele permanecerá.
Mas se você entender que todo esse sofrimento é apenas um
momento de sua vida, e que isso logo vai passar, a tendência
é que ele se vá em pouco tempo. Por isso deixe tudo fluir,

118
chore… bote tudo pra fora e permita que ele atinja o ponto
máximo, para que, como dissemos, ele possa começar a
decair.

Outro ponto importante é o seguinte: no momento mais difícil,


entregue-se ao seu objeto de fé e tenha a convicção interior
de que tudo isso tem um sentido maior, e que existe um plano
cósmico de desenvolvimento interior para sua alma. A entrega
desinteressada a Deus, com toda a fé, é a matéria prima que
fará com que todo sofrimento vá se dissolvendo. Se a angús -
tia te abater fortemente, deixe-a fluir; se a dor vier, aceite-a e
permita sua livre expressão; se a decepção tomar conta de
todas as suas entranhas, não dê poder a ela, e con ceda pas-
sagem… Quem consegue seguir estes pas sos, pode se li-
bertar do sofrimento em pouco tempo.

119
PERDAS DA VIDA

Se você perdeu algo, não era seu de verdade.


Se esse algo for mesmo para você, não se preocupe, pois ele
vai retornar.
Nada do que não é nosso fica conosco.
E nada do que nos pertence pode ir embora.
Se nunca mais voltou, não chore, pois não era para você.
Mas se era para você, não chore também, pois o regresso é
certo.
Tudo o que vai embora, nunca nos pertenceu;
E se nos pertence, não importa o quanto demore,
Um dia é restituído.
Ninguém deve chorar pela ilusão destruída,
Mas antes agradecer pela verdade desvelada.
Assim como a banana jogada na terra se torna adubo,
O erro cometido se transforma no adubo da experiência e
sabedoria.
Não se preocupe com as perdas da vida.
Pois é certo que jamais há perda,
Mas sim renovação, recomeço, um novo advento.
Quando perdemos uma coisa, ganhamos outra.
A vida é um contínuo abrir mão do que se possui por algo
maior.
Somente sofre aquele que não admite perder agora para
ganhar depois.
Como a lagarta que perde sua roupagem rastejante,
Para sair do casulo e abrir suas belas asas em encan tadores
voos extáticos.
Somente ganha de verdade, quem conquista em espírito.
O que é do corpo, perece; o que é do espírito, perma nece.
A matéria se degrada, o sentimento se esvai, mas o espírito é
perene…
Você pode perder uma coisa, pode perder dinheiro, pode
perder uma pessoa, pode perder sua saúde,
Só não pode mesmo, jamais, perder a si mesmo, quem você
é em essência.
Muitas pessoas preferem ganhar no mundo às custas de
desistirem de si mesmas..
Perdem tempo trabalhando para ganhar dinheiro e de sistem
de buscar quem eles são.
A pior perda é quando deixamos a vida nos levar
E nos tornamos robôs ou marionetes das circunstâncias.

120
Por outro lado, como dizem os mestres:
“Toda sensação de perda vem de uma falsa sensação de
posse”.
Acreditamos que somos capazes de possuir algo ou alguém,
E dessa posse ilusória, julgamos que algo foi perdido.
Mas a verdade é que não podemos possuir coisa al guma
nesse mundo.
Nada se possui, portanto, nada pode ser perdido…
Não temos um espírito, somos um espírito, uma es sência.
Dessa forma, podemos perder o que temos, mas jamais o que
somos.

121
SENTIMENTO DE VAZIO

Muitas pessoas relatam que sentem um vazio dentro de si


mesmas. Como se algo as faltasse, como se não estivessem
mais vivendo suas próprias vidas.

Existem diversas explicações para o surgimento desse senti -


mento de vazio que assola boa parte da humani dade. Mas de
uma forma geral a explicação é a de que estamos vivendo
nossa vida sem levar em conta aquilo que somos lá dentro de
nós. Hoje vivemos na era da tecnologia, da informação e do
consumo, onde quase não precisamos refletir sobre nós
mesmos, onde milhares de soluções são vendidas como
“produtos” de mercado, onde descontamos nossas carências
na comida, em remédios de diversos tipos e em programas de
TV, onde passamos mais tempo num aparelhinho de celular
do que convivendo com nossos irmãos, onde também vive-
mos mais no barulho, no concreto, no cimento e na polui ção
do que na natureza, junto com a grama verde, o rio que corre,
com a brisa matutina do campo ou com os animais que antes
alegravam nossa vida.

Tudo isso nos proporciona uma sensação de ausên cia de


algo que é essencial, de vazio da alma, um es tado de torpor
onde apenas reagimos aos estímulos externos, falamos com -
pulsivamente e buscamos o prazer a todo custo, sempre
como forma de amenizar um pouco a falta profunda que
existe dentro de nossa alma. Es sas soluções fúteis podem ser
comparadas a alguém que bebe agua do mar para aplacar a
sua sede: quanto mais bebemos, mais s entimos sede e a
consequência pode ser uma forte disenteria. O espírito da
vida parece ter se retirado do mundo atual e dado espaço ao
novo reality show ou ao es tojo de maquiagem da moda.

E qual a melhor forma de preencher o vazio que fica desse


mundo fútil e sem alma?

Em primeiro lugar, é preciso retomar o contato com a natu -


reza. A seiva vital da mãe Terra nos acolheu há milênios e
dela nascemos e nos alimentamos. Um dos motivos desse
vazio é a dolorosa separação do filho perante sua mãe sa -
grada. Os filhos da Terra precisam regressar ao seu lar natu-
ral, e assim voltar a viver na simplicidade de um belo campo

122
gramado esvoaçando com a brisa, de um canto de pássaro e
de um mergulho num riacho de águas frescas e límpi das.

Em segundo lugar, precisamos deixar de ser o que o outro


espera de nós. Hoje em dia vivemos sendo tão somente
aquilo que as pessoas esperam de nós, apenas para agradar
o outro. Sendo assim, deixamos de ser nós mesmos e pas -
samos a ser apenas uma imagem projetada dos desejos do
outro. As pessoas aceitam ser essa imagem ideal criada para
que, com isso, possam se sentir amadas pelo outro, mas
obviamente isso nunca dá certo. As pessoas nunca rece bem
o amor do outro apenas sendo uma cópia do que a mídia e a
sociedade determinam. É fato que muitas pessoas comem
muito, consomem muito e fazem muitas coisas a fim de pre -
encher esse vazio, mas claro que isso nunca funciona. Parar
de viver de acordo com as tendências da moda, com as exi-
gências do mercado, imitando modelos de comportamento
socialmente aceitáveis e permitindo que nosso interior ex-
presse aquilo que somos é essencial para aqueles que aspi -
ram a uma vida mais plena e feliz. Neste caso, a vaidade e o
orgulho são os principais ingredientes do vazio que se forma
dentro de cada um.

Em terceiro lugar, as pessoas precisam se dedicar mais à


leituras, ao teatro, a filmes humanistas, à meditação, à con-
templação e ficarem mais tempo sozinhas, consigo mesmas.
Uma das características do mundo atual é que, de uma forma
geral, o ser humano tem medo da solidão, e por isso evita a
todo custo o ato de ficar consigo mesmo. Mas quando uma
pessoa fica consigo mesma, e percebe o quanto isso é posi -
tivo, ela começa a se sentir melhor e passa a não mais temer
a solidão. No momento em que ela não mais evitar a solidão,
ela pode se libertar, ao menos em parte, dessa tentativa sis -
temática de ser amado pelos outros, e isso ajuda a extinguir
comportamentos de desespero em que visamos ser amados e
aceitos. Passamos a gostar mais de nós mesmos, não como
mera personalidade, mas como uma essência ou uma luz
espiritual que vive e se desenvolve no plano material.

Além dos três aspectos anteriores, é importante


também deixamos de lado as futilidades, as superfi cialidades
e passarmos a nos dedicar àquilo que realmente importa,
como nossa família, nosso trabalho, nosso desenvolvimento

123
interior, à leituras, à meditação e a reflexão sobre nossa vida.
É difícil de acreditar que existem pessoas vivendo no mundo
de hoje que jamais fizeram reflexões mais profundas sobre
quem são e o que estão fazendo aqui nessa vida. Pare e
reflita sobre essas questões fundamentais, e procure se ater a
tudo o que é essencial, como valores universais, aquilo que
não é tragado pelas correntezas do tempo, como o amor, a
caridade, a compaixão, a paz, a tolerância, o respeito, a vida,
etc. Faça mais períodos de reflexão e não se aquiete caso
você não encontre respostas prontas. A força que empenha -
mos na busca pelo sentido da vida é muito mais im portante
do que o encontro com respostas prontas e acabadas. Res -
postas prontas são sempre dispensáveis, uma vez que po-
dem dar origem ao fanatismo religioso, a intolerância em
relação a crenças e com portamentos alheios, além de gerar
estagnação e bloquear nosso caminho.

Outro fator importante é permitir que a vida flua com toda


liberdade dentro de nós. Emoções presas geram tensão,
irritação e depressão. E como fazer isso? Quando sentir von -
tade de chorar, chore; quando sentir desespero, se deses -
pere; quando sentir raiva, bote para fora sem atingir outros;
quando sentir tristeza, fique triste; quando sentir alegria, viva
essa alegria; quando sentir uma emoção, permita sua livre
expressão. Não fique prendendo seus sentimentos, não tenha
vergonha de demonstrar o que sente e nem acredite que
emoções que vêm à tona implicam em fraqueza. Pessoas que
vivem se anulando, se reprimindo frequentemente têm pro-
blemas com suas emoções, e passam a viver como zumbis,
autômatos, frios e sem alma. A partir disso cresce um vazio
dentro delas. Não importa se hoje você está triste ou melan-
cólico, amanhã você estará melhor. Ficar bloqueando a tris -
teza só fará com que você não olhe para ela, não a descarre -
gue, não a libere, e assim ela ficará represada dentro de você
e causará muito mais efeitos deletérios em seu psiquismo.

Reflita sobre esses pontos e procure pratica-los em sua vida.


O vazio interior é ausência de uma existência plena onde
vivemos pelo mundo ilusório e não pela essência que existe
dentro de tudo e todos.

124
INFELICIDADE

A infelicidade gera muitos inconvenientes nossa vida.


E nos faz cair em ciladas muito perigosas.
É certo que, quanto mais infeliz é uma pessoa,
Mais ela vai querer comprar, consumir, ganhar e ter.
Uma pessoa feliz, de bem consigo mesma e em paz, não
precisa de quase nada.
Mas uma pessoa infeliz sempre precisa de muitas coi sas,
sempre quer ter muito.
O infeliz mergulha no mundo consumista tentando pre encher
um pouco do seu buraco interior.
O apetite do infeliz, em vários sentidos, é sempre voraz e
insaciável.
É também certo que, quanto mais infeliz é uma pes soa, mais
ela vai buscar modelos para seguir.
Quanto mais ela se apoia em estereótipos, menos ela segue
seu próprio caminho.
A pessoa infeliz sempre prefere seguir junto com a ma nada,
Ao invés de caminhar com sua própria consciência.
O infeliz tem muito medo da solidão, ou já sente uma solidão
irremediável.
E por isso, luta para ser igual a todos, ao invés de des cobrir
sua originalidade.
É certo que a pessoa infeliz cria diversas dependên cias emo-
cionais com as pessoas.
Quanto mais infeliz, mais ela faz do outro sua razão de viver.
Não encontrando em si mesma a felicidade e o bem estar, a
pessoa infeliz deseja extrair a felicidade de alguém.
Pessoas infelizes também falam muito, querem aten ção só
para si e costumam ser bastante possessivas.
Quanto mais possessiva é uma pessoa, mais falta ela sente
de si mesma.
Quanto mais faladora é uma pessoa, menos ela ouve a si
mesma.
A pessoa infeliz também costuma ser muito egoísta.
O infeliz quer reter tudo para si e nada dá aos outros.
A pessoa feliz, ao contrário, pode dispor do que tem, compar-
tilha e não teme perder.
A chama da felicidade é o maior tesouro que o ser hu mano
pode ter nessa vida.
Por isso, se temos felicidade de sobra, podemos dar em
abundância o que muito já temos.

125
A pessoa infeliz também sofre muito com as perdas.
Cada perda para ela é um abismo emocional quase impossí-
vel de superar.
O infeliz se apega fácil a algo ou a alguém,
E, por isso, sofre muito quando esse apego se desfaz.
Pessoas infelizes a todo momento cortejam a ilusão.
Não querem descobrir o sentido da vida, mas preferem entre-
gar sua vida ao acaso.
Vivem sem se perguntarem quem são e sem olhar para seu
interior.
Quanto menos se enxergam, melhor…
Quanto mais camuflam seu emocional, melhor.
Mal sabem elas que precisam sentir a si mesmas para melho-
rarem.
Mal sabem que é melhor ver a verdade do que ficar se envol -
vendo na ilusão.
Mal sabem que o egoísmo é um caminho que apro funda o
medo e a insegurança.
Não desconfiam que não precisam de modelos midiáticos
para definir seu comportamento.
Não enxergam que viver dependentes e em função de pa -
rentes, só lhe traz sofrimento.
Não querem perceber que as conquistas do mundo só trazem
desalentos,
E que as conquistas interiores são verdadeiras e permanen-
tes.
Quando se descobre tais coisas, trocamos o conflito pela paz;
a ilusão pelo real; o ter pelo ser…
Trocamos, finalmente… A infelicidade pela felicidade.

126
VALE DOS ARREPENDIDOS

Um espírito estava prestes a nascer no mundo mate rial. Um


anjo que o estava instruindo decidiu conduzi-lo a um vale no
submundo do plano espiritual onde dezenas de milhares de
espíritos se mantinham presos. Muitos não sabem, mas as
almas que vivem nos mundos espirituais sempre se ligam uns
aos outros pela afinidade de suas vibrações e de sua natu -
reza.

O espírito e o anjo chegaram a um vale desconhecido de


muitos, conhecido como o “Vale dos espíritos arrependidos”,
para onde vão as almas daqueles que viveram vidas superfi -
ciais, cometeram erros e não aproveitaram a sua encarnação.
Ambos foram conversando com alguns desses espíritos. Um
deles disse:

“Desperdicei minha vida com a bebida, a boemia, bares, fute-


bol, churrascos e com falsos amigos. Todos eram meus “ami-
gos” quando eu estava bem, bebia e contava muitas piadas
nos botecos da vida, mas depois que contraí uma doença,
todos se afastaram. No leito de morte vi que desperdicei
minha vida com frivolidades e depois que cheguei ao plano
espiritual tive uma forte sensação de tempo perdido…”

Outro espírito de uma mulher, ainda chorosa, nos disse:

“Sim, desperdicei minha encarnação tentando ajudar meu


filho a ser alguém na vida. Eu não percebi que fazia isso por-
que me sentia carente e sozinha. No fundo queria que ele
ficasse comigo e não desejava s ua liberdade e independên-
cia. Eu era dependente dele e por isso achava que o estava
ajudando, mas só o prejudiquei. Eu o mimei muito e depois
ele não conseguia ser independente. No meu leito de morte
ele nem apareceu. Eu vivia também para outras pes soas e
elas nunca me deram nenhum valor. Podia ter feito tantas
coisas na vida, estudado, trabalhado, me dedicado a vida
espiritual, mas perdi toda uma encarnação vivendo em função
de outras pessoas.”

Outra alma, que parecia muito triste, disse:

127
“Sim, eu desperdicei minha vida mergulhando no trabalho e
vivendo apenas para conquistar bens materiais. Meu objetivo
na vida eram os melhores cargos, os melhores salários, ga-
nhar mais e mais dinheiro, status e uma posição de destaque.
Vaidade das vaidades, tudo isso era apenas vaidade, como
diz Salomão na Bíblia. Perdi 70 anos da minha vida com
bobagens, futilidades e remoendo coisas supérfluas. Como
gostaria de ter uma outra chance e cuidar mais de mim
mesmo, ajudar outras pessoas, amar mais, dar valor as coi -
sas simples da vida, me ligar no espírito eterno que sou, ter
vivido mais a vida espiritual, e não as ilusões do mundo mate -
rial. Aqui no plano do espírito, nada podemos trazer da maté -
ria.”

Uma alma que parecia um pouco agitada e até irada dizia:

“Aquele líder religioso me enganou! Ele me prometeu um


paraíso no céu se eu desse o dízimo, se seguisse os dogmas
da religião, se eu fosse casto e reto, e estou aqui, nesse vale
sombrio, amargando todas as consequências de um vazio
interior pela total perda de tempo. Gostaria de voltar a vida e
mudar de postura, não acreditar cegamente em líderes religio-
sos, ter fé apenas em Deus, amar e não cultivar dog mas ou
verdades prontas e acabadas. Poderia ter exercido a verda -
deira espiritualidade, mas perdi tempo, muito tempo e fui um
hipócrita. Não praticava o que eu mesmo pregava. Mas pen-
sando bem, no fundo ninguém me enganou, eu mesmo que
me deixei enganar, pois acreditar em dogmas e no funda-
mentalismo era algo muito mais cômodo do que me desen -
volver espiritualmente e me tornar uma pessoa melhor, mais
humilde e mais amorosa.”

Outros espíritos diziam:

“Eu desperdicei minha vida com sexualidade descon trolada”;


“Já eu desperdicei minha vida com intelecto agudo e muito
conhecimento teórico, mas sem prática e sem experiência
direta”; “Eu fiz algo muito comum: desperdicei minha vida me
julgando sempre superior a outras pessoas, e não compre-
endi que esse sentimento de superioridade nada mais era do
que uma forma de abafar a imensa insegurança e inferiori -
dade que eu sentia.”

128
E assim, muitos relatos nos foram passados pelos espíritos
presos ao “Vale dos Arrependidos”, almas que desperdiçaram
a oportunidade que Deus lhes deu de evoluir espiritualmente
se detendo em ques tões banais, transitórias e sem nenhuma
importância para a verdadeira vida, que é a vida do espírito
imortal que somos.

Você, que ainda está encarnado e vivendo a sua vida, não


faça como esses espíritos, que jogaram suas vi das fora le-
vando existências superficiais, sem alma, sem profundidade,
sem se perguntarem quem são e o que estão fazendo aqui.
Almas que vivem apenas pelo corpo e pelas aparências do
mundo, e não pelo espírito e pela verdade. Você tem tempo
de mudar, não des perdice essa sagrada oportunidade de de-
senvolvimento espiritual que Deus te deu… que é a vida.

129
A PEDRA QUE ME JOGARAM

Havia um jovem de 22 anos que tinha diversos pro blemas.


Ele era tímido, tinha dificuldade de relacionamentos e vivia
com medo de tudo. Era filho de pais separados, que d ecidi-
ram se divorciar quando o jovem tinha 4 anos de idade.

Mas havia um problema… Toda vez que a mãe lem brava o


filho da importância dele tomar uma atitude e se libertar des -
ses infortúnios, o jovem sempre colocava a culpa em seu pai.
Ele dizia que, em sua infância, seu pai o havia traumatizado,
pois sempre repetia que ele não prestava; que ele era inca -
paz, que os outros garotos eram melhores que ele, dentre
outros absurdos.

A mãe concordava com o rapaz que seu pai era uma pessoa
difícil, mas enfatizava sempre a necessidade do filho se li -
bertar destes traumas e seguir em frente com sua vida. Mas o
filho se recusava alegando que os traumas estavam muito
arraigados dentro dele, e que a culpa era toda de seu pai.
Esse discurso do jovem já se perpetuara por anos e anos,
sempre colocando a res ponsabilidade de seus bloqueios em
seu pai.

Certo dia, o filho estava dirigindo o carro e a mãe es tava no


banco ao lado. O jovem estava mais uma vez insistindo na
ideia de que o seu pai era o culpado por todas as travas de
relacionamento e medos que ele carregava na vida. De re -
pente, alguém jogou uma pedra que caiu dentro do carro, pois
o vidro do veículo estava aberto, e quase acertou sua
mãe. Ambos tomaram um susto, mas nenhum prejuízo sofre-
ram. A pedra ficou no chão próximo dos pés da mãe.

O filho, dirigindo, pediu que a mãe jogasse a pedra para fora


do carro. A mãe disse que não conseguia fazer isso. O filho,
surpreso, perguntou por que ela não conseguia jogar a pedra
para fora do carro. A mãe disse:

– A culpa é de quem jogou a pedra, e eu fiquei trau matizada


com essa situação. Agora estou imóvel e não consigo jogar a
pedra para fora.

130
O filho não entendeu o motivo de mãe não conseguir jogar a
pedra fora, pois bastava se inclinar, pegar a pedra e ti ra-la do
carro. O filho disse que não estava entendendo e pediu para a
mãe explicar. A mãe res pondeu:

– Isso lhe parece absurdo, mas é exatamente o que você faz.


Você joga a culpa no outro de ter jogado a pedra em seu
carro. Mas não importa se alguém jogou a pedra, quem man-
tém a pedra ou qualquer coisa que jogarem dentro do veículo
somos nós mesmos. Não podemos agora mesmo retirar a
pedra atirada? Da mesma forma, uma pessoa não precisa
ficar com o lixo emocional que outra jogou nela, basta retirar o
peso desse lixo e seguir em frente. Não podemos evitar que
outros taquem pedras em nosso carro ou em nossa vida, mas
podemos nos desfazer de todas as pedras que nos jogaram.

O rapaz havia compreendido a fala da mãe. A mãe comple -


tou:

– Portanto, nunca esqueça disso: o que o outro faz com você


é de responsabilidade dele. Você manter isso dentro de você
é responsabilidade sua.

131
TUDO VEM E VAI EMBORA

Era uma vez um menino de 6 anos que vivia numa zona rural,
um lugar muito bonito e com natureza. Seus pais trabalhavam
no campo, e por isso, ele tinha muito tempo livre.

Certo dia, caminhando pelos campos, ele notou uma flor


muito bonita. Seu primor e sua formosura o en cantaram.
Todos os dias o menino retornava ao mesmo local e ficava
contemplando a flor. Certo dia, ele decidiu que levaria a flor
para casa, assim poderia observa-la sempre que quisesse,
sem precisar ir em bora e vê-la apenas no dia seguinte. Reti-
rou-a do solo e levou para casa. Dois dias depois ela murchou
e logo depois morreu. O menino chorou e ficou muito triste.

O menino agora estava com 10 anos. Quando passe ava pelo


campo, começou a avistar sempre um pás saro muito belo.
Esse pássaro ficava diariamente numa mesma árvore. Ele
pousava num de seus galhos, ficava uns 25 minutos e depois
ia embora. O menino começou a achar aquele passarinho
fascinante, além de ter um gracioso canto. Decidiu então que
queria obter ele para si, para que não mais fosse embora e
pudesse ficar sempre com ele. Conseguiu uma rede e jogou
na direção do pássaro, capturando-o em suas mãos. O me-
nino olhou o pássaro e este lhe deu uma boa bicada. Ele
gritou e soltou o pássaro, que voou rapidamente. O menino
caiu em prantos e ficou muito triste com tudo.

O menino, agora um rapaz, estava com 14 anos. Começou a


ajudar seu pai na fazenda. Em seus passeios à tardinha, ele
encontrou-se com um cachorro de rua. Um animal muito dócil
e alegre. Ele passou a brincar todos os dias com ele, que
acabou se tornando seu melhor amigo. O animal ficava um
pouco com ele e logo depois ia embora, caminhar pelo
campo, como sempre fazia. O menino ficava triste, pois queria
permanecer mais tempo com seu amigo. Certo dia, o menino
decidiu que era melhor levar o cachorro para casa, assim ele
não poderia mais ir embora e ficaria com ele em definitivo.
Chegando em casa, prendeu-o pelo pes coço e o deixou lá,
parado, com um olhar de triste de quem perdeu sua liberdade.
Passado algum tempo, o menino se aproximou do cachorro e
este o mordeu. O menino começou a chorar e o cachorro
fugiu. O animal ficou nervoso de ficar tanto tempo preso, pois

132
estava acostumado com a liberdade. O menino ficou bem
triste com o ocorrido.

O menino cresceu e agora estava com 18 anos. Em seus


passeios conheceu uma menina, filha de um fazendeiro local
que acabara de comprar uma fazenda próxima. O rapaz ficou
deslumbrado com a beleza da moça e decidiu conversar com
ela. Eles conversaram e logo estavam namorando. O tempo
foi passando e, certo dia, ela revelou que não queria mais um
compromisso sério, pois ainda era jovem. O rapaz ficou ator-
doado com aquela notícia e começou a discutir com a moça.
Não aceitava o fato de que ela poderia terminar tudo. O rapaz
então agarrou a moça e disse que ela não iria embora, que
ficaria com ele custe o que custar. A moça se desesperou,
pegou seu canivete no bolso e cortou o braço do rapaz. Este
gritou de dor e soltou a moça, que correu desesperada para
bem longe.

O rapaz caiu no chão, chorando muito e sentindo uma imensa


dor no peito. Parou por um tempo e fez uma revisão de sua
vida até aquele momento. Em várias situações, ele havia se
negado a aceitar o término de algo e, por conta de seu apego,
queria pos suir esse algo para impedir que fosse embora.
Após muita reflexão, levantou-se ainda sangrando, e decidiu
que, a partir daquele momento, tudo de bom que chegasse
em sua vida ele passaria a sempre aceitar que em algum
momento aquilo iria embora. Após essa decisão, sentiu -se
muito mais leve e livre de tudo…

Cada coisa que nos chega faz sentido apenas num dado
momento de nossas vidas e tem sempre um tempo de per-
manência conosco. Muitas vezes desejamos prolongar esse
período quando algo já acabou ou precisa ir embora. O apego
a algo ou alguém im pede que aceitemos a ida do antigo e a
chegada do novo. Tudo na vida humana vem, passa um
tempo conosco, e tão logo cumpre sua missão, deve ir em -
bora. Todas as coisas vem e vão… Se não permitimos que
algo que veio possa ir embora, ficamos presos, subme tidos
àquilo, enlaçados, apegados, fixados e aprisiona dos. Dessa
forma, podemos não conseguir continuar nossas vidas e se -
guir em frente. Ficamos parados no tempo e morremos um
pouco dentro de nós.

133
Quando for o momento, deixe que algo se vá… É certo que
nada fica conosco para sempre. Tudo sem pre vem e vai em -
bora… Por isso, desapegue-se. Viva sempre com total des -
prendimento. Aceite o eterno fluxo da vida, e somente assim,
você será mais livre e feliz.

134
A ESPERANÇA

A esperança é algo de extremo valor em nossa vida. No en -


tanto, a maioria das pessoas canaliza suas es peranças no
mundo e nas pessoas. Essa é a forma errada de se ter espe -
rança.

É preciso entender de uma vez por todas que esse mundo


nada tem a nos oferecer. Na vida humana tudo é incerto, tudo
é instável, tudo muda a todo instante, tudo é inseguro e pas -
sível de interpretações equivocadas. Enxergamos uma coisa,
e depois vemos que era outra coisa.

As pessoas não são e nem poderiam ser aquilo que espera -


mos. Colocamos todas as nossas esperanças em tudo o que
é imperfeito, incerto, defeituoso, falho, errático, viciado e sem
realidade. Todas as esperanças relacionadas a vida humana
um dia vão falhar, vão nos frustrar, pois esse mundo é falho,
as pessoas são falhas e aqui tudo é vazio.

Por isso, ninguém deve alimentar sua esperança com


as coisas que existem nesse mundo. Muitas pessoas têm
esperança que um dia vai ganhar mais dinheiro; que um dia
vão encontrar sua alma gêmea; que um dia vão se curar de
uma doença; que um dia as condições de vida serão mais
favoráveis; que um dia terão conforto e estabilidade. Algumas
dessas coisas podem até ocorrer da forma como esperamos,
mas sempre por um período limitado e tão logo comecemos a
nos acostumar com elas, tudo nos será tirado. Por isso, não
canalize sua esperança em qualquer coisa relacionada a
melhora da vida humana. Deixe de lado qualquer espe rança
humana, qualquer expectativa sobre pessoas e coisas que
existem nesse mundo.

Muitos vão perguntar: se tudo neste mundo é incerto e vazio,


onde então devemos depositar noss a esperança?

A chama sagrada da esperança só pode ser deposi tada na-


quilo que não depende deste mundo para existir. A esperança
deve ser colocada em Deus. A esperança deve ser colocada
na vida futura, na certeza de que, não importa o que acon-
teça, a vida sempre continua. A esperança deve ser colocada
na existência do nosso espírito, que é uma centelha do infi nito

135
que reside eternamente dentro de nós. A esperança deve ser
colocada na certeza de uma existência pós -morte. A espe-
rança deve ser colocada na convicção de uma ordem e har-
monia cósmica, que tudo compensa, tudo conserta e tudo põe
em seu devido lugar. A esperança deve ser semeada em
nosso interior e não na instabilidade exterior. E, finalmente, a
esperança deve ser colocado na essência d a vida, que tudo
permeia e tudo ilumina.

136
PRECISO DE AJUDA

Um homem estava com muitos problemas em sua vida. Ele


vivia pedindo ajuda a várias pessoas, mas quase ninguém o
ajudava.

Os anos se passaram e ele não conseguia resolver suas


pendências e seus sofrimentos. Pedia ajuda a pessoas co -
nhecidas e desconhecidas, mas ninguém o ajudava.

O homem vivia pedindo que outras pessoas o ajudassem com


tratamentos, com orações, com conselhos. Recorria a carto -
mantes, búzios, médiuns, etc. Apesar de ter alguns resulta-
dos, ele não via como suficientes.

Em seu leito de morte, manteve esse mesmo padrão. Pediu


ajuda aos médicos, aos enfermeiros e a diferentes pessoas.
Ninguém pôde ajuda-lo e ele morreu com muita amargura,
raiva e angústia em seu coração.

Morreu e se viu saindo do corpo… Chegou num jardim muito


florido, numa espécie de limbo, onde um homem de branco
veio falar-lhe. Antes que o homem dissesse qualquer coisa, o
recém-falecido disse:

– Será que você pode me ajudar?

O homem de branco respondeu:

– Sim, eu trouxe uma pessoa que pode finalmente te ajudar a


resolver todos os seus problemas. Ele é a única pessoa que
pode te tirar do buraco e te reerguer na vida. Mas você pre-
cisa me garantir que es tará aberto e vai permitir que ele te
ajude.

O homem caiu de joelhos e deu graças a Deus por finalmente


encontrar alguém que poderia ajuda-lo. “Quem seria essa
alma tão abençoada?” pensou.

“Ele está vindo…” disse o homem de branco.

Nesse momento, ele percebeu que um homem se aproximava


e vinha em sua direção. O homem chegou e colocou-se à sua

137
frente. Para seu total espanto, percebeu que o homem era
muito parecido consigo. Na verdade, observando bem… Era
ele mesmo! “Esse homem sou eu!” disse.

– Mas como isso é possível? Perguntou. O homem de branco


explicou:

– Você passou toda a sua vida acreditando que al guém deve-


ria vir te ajudar, mas na verdade a única pessoa que poderia
te auxiliar era você mesmo. Ninguém, nem mesmo Deus,
pode fazer o que somente nós podemos e devemos fazer por
nós mesmos. Cada pessoa ajuda e salva a si mesma; cada
pessoa cura a si mesma e se revolve por si só; ninguém salva
ninguém. Somos os criadores de nossos próprios problemas
e, dessa forma, somente nós podemos nos libertar desses
mesmos problemas que criamos.

138
POR QUE OS BONS MORREM JOVENS

Por que existem milhões de pessoas boas que morrem tão


cedo e milhões de pessoas ruins que continuam vivas?

Algumas pessoas reclamam de uma suposta injustiça que


existe na vida humana. Elas alegam que as pes soas boas
morrem cedo e muitas vezes têm uma vida sofrida, enquanto
as pessoas más vivem muito tempo e muitas delas têm uma
vida boa, confortável, prazerosa, são ricos, etc. Para respon -
der essa pergunta, é neces sário antes compreender a natu-
reza do nosso mundo, que é precária e miserável. Já aborda -
mos esse assunto no texto “Como é o nosso mundo” que
pode ser encontrado no blog de Hugo Lapa. Nesse artigo
descrevemos o mundo terrestre como uma zona cósmica de
provações, sofrimento, caos, carência, ignorância e vazio
espiritual. A explicação de algumas pessoas boas morrerem
mais cedo tem a ver com o fato que vamos explicar agora.

De um ponto de vista mais elevado, permanecer um período


mais longo na Terra pressupõe igualmente uma carga de
sofrimento maior. O envelhecimento do corpo físico é o maior
exemplo dessa tormenta. A velhice traz muitos problemas a
uma pessoa, como cansaço, doenças, perda de memória,
falta de agilidade, rugas, fraqueza, algumas vezes abandono
dos familiares, solidão, etc. Mesmo na juventude, os espíritos
sempre nos alertam que o corpo físico nada mais é do que
uma uma rígida prisão. O espírito nasce na matéria e fica um
período bastante longo indissociavelmente ligado a esse
invólucro reves tido de matéria terrestre. Dessa forma, quanto
maior for a duração da encarnação do espírito em sua condi -
ção material, maior será a dor, o sofrimento, as tormentas, as
angústias, as aflições, os pesares, etc. O corpo físico é um
envoltório grosseiro, pes ado e denso. Pode ser considerado
uma masmorra, um cárcere, um cativeiro sólido, fechado e
rígido. Os encarnados não sentem dessa forma pois com o
tempo acabaram se acostumando ao corpo e aprendendo a
gostar dele, mas para o espírito o corpo é muito incô modo,
vedado e sujeito as mais diferentes influências mate riais.

Os espíritos antes do nascimento sabem que toda sua liber-


dade espiritual será perdida tão logo passem a assumir o
corpo, condição que vai durar até o término da vida terrestre

139
com a morte. Por isso, os es píritos mais elevados, bondosos,
caridosos, puros e desprendidos, quando vêm à Terra, não
precisam permanecer muito tempo encarnados, posto que na
maioria das vezes conseguem realizar mais rapidamente suas
tarefas evolutivas e, assim, podem retornar à pátria espiritual
num tempo mais curto e sem tanto sofrimento. Isso já não
ocorre com os espíritos arcaicos, ignorantes, bestializados,
incautos, embrutecidos e apegados. Esses espíritos ainda
imaturos, ímpios e presos às paixões inferi ores, têm a
necessidade de ficar mais tempo na matéria, pois frequen -
temente demoram mais para aprender as lições necessárias
ao seu desenvolvimento espiritual. Uma alma missionária que
vem a Terra pode escolher, por sua própria vontade, demorar-
se mais tempo no mundo a fim de inspirar um número maior
de almas no bem, na paz, no amor, na fraternidade, etc. Esse
é o caso de Chico Xavier, que viveu mais de 90 anos. É o
caso de Padre Pio de Pietrelcina, que viveu 70 anos. É tam -
bém o caso de Buda que, dizem, viveu mais de 80 anos.
Muitos desses missionários de Deus conservam-se uma
quantidade maior de anos em seu corpo, não porque gostem
dele, mas para cumprir com mais eficiência sua missão.

A maioria das pessoas não encara a vida humana desse


modo. Para eles, quanto mais tempo alguém permanece na
Terra, melhor. Ao contrário, tem -se a impressão de que uma
vida curta é uma vida desperdiçada; é uma vida que foi “inter-
rompida” antes da hora, mas não é isso que ocorre. A verda -
deira vida é a vida espiritual, e nossa passagem na matéria é
apenas um curto intervalo, um ponto temporal infinitesimal na
história de nossa alma. Para entender melhor esse aspecto,
vamos imaginar que uma pessoa está num lugar lindo, cheio
de natureza, com muitos recursos e com as pessoas que
ama. Essa pessoa viaja e chega num país deserto, com
quase nenhum recurso, sem água, onde prevalece a solidão,
a sede, a fome, calor extremo de dia e frio a noite. Vamos
considerar que nossa verdadeira vida, nosso local original é
esse país de abundância e felicidade, e que nossa passagem
por esse deserto é apenas passageira e serve tão somente
para se adquirir algum aprendizado sobre a natureza do de -
serto.

A pergunta que se faz aqui é: desejaremos ficar nesse de -


serto por muito tempo, ou preferimos aprender rápido o que é

140
necessário e depois regressarmos ao nosso país de origem?
Obviamente qualquer pessoa de bom senso vai optar por
permanecer um tempo mais breve possível nesse deserto,
pois é um local estranho a nossa natureza. O mesm o ocorre
com o nascimento e a vida terrestre. O ideal seria permanecer
o mínimo de tempo possível aqui e tão logo seja possível,
voltar para nosso “local” de origem. Por isso se diz que “os
bons morrem jovens”, pois eles abreviam o tempo no “de-
serto” da vida humana, aprendem mais rapidamente as lições
necessárias e, desse modo, não precisam ficar tanto tempo
no vale de lágrimas da existência humana.

E por que os bons sofrem tanto enquanto muitas vezes os


maus são poupados do sofrimento e vivem bem? Ess a res-
posta está em consonância com as considerações anteriores.
Apenas acrescentaremos que: as pes soas boas, puras e
elevadas têm condições de atraves sar provações mais duras
num período mais curto de tempo, pois elas estão preparadas
para isso. As pes soas más, ao contrário, precisam de um
período maior para atravessarem as mesmas prova ções e
assimilarem as lições que elas trazem.

Imagine um aluno que tem dificuldade de aprendi zado. Ele


deve passar mais tempo estudando antes de ser submetido à
prova, pois caso fizesse logo o exame, inevitavelmente seria
reprovado. Por isso, o aluno menos preparado precisa de
mais tempo para estudar, ler, fazer exercícios, etc, e só de -
pois ele poderá ser tes tado. O aluno que já tem conhecimento
não precisa mais estudar, pois ele já sabe a matéria. Por isso,
ele já pode ser colocado diante da prova, até mesmo com
questões mais difíceis, pois seu conhecimento é maior e mais
abrangente. O mesmo ocorre na vida humana. Os espíritos
ainda ignorantes precisam de mais tempo para aprender as
lições antes de serem postos à prova, o que não ocorre com
os espíritos que já adquiriram a sabedoria da vida. Por esse
motivo, os espíritos ignorantes demoram -se mais tempo na
matéria, enquanto os espíritos já mais adiantados não preci-
sam de um período tão longo. Deus concede as mesmas
oportunidades para todos, mas sempre nos dá as provações
na medida em que es tamos aptos a aprende-las.

Isso não significa, obviamente, que pessoas mais ve lhas


sejam espíritos ainda presos à ignorância ou que pessoas

141
que morrem cedo sejam mais evoluídas. Não existe necessa -
riamente essa relação entre morte prematura e pureza do
espírito ou entre morte na velhice e negatividade e inferiori -
dade espiritual. Uma pessoa que morre jovem pode não ser
mais adiantada espiritualmente, assim como uma pessoa que
morre mais velha pode não ser menos adiantada. Estamos
apenas explicando o porquê de algumas pessoas muito jo -
vens morrerem cedo. Isso ocorre porque alguns dos espíritos
que desencarnam mais jovens podem já ter completado seu
aprendizado e não se fazer necessária uma permanência
mais extensa na matéria.

As pessoas precisam entender que morrer não é algo ruim,


não é uma catástrofe, mas é algo bom, posto que o espírito
se desprendeu mais cedo do cárcere da matéria. Precisamos
diluir em nossas mentes a ideia de morte como algo negativo.
Claro que para muitas pes soas a morte de um jovem é uma
catástrofe, pois parece ser a interrupção de uma vida cheia de
esperanças e sonhos. Mas o que são os pequenos e transitó-
rios sonhos humanos perto da pureza, da liberdade e da gló-
ria dos mundos divinos? As conquistas mundanas são pueris,
efêmeras, vazias e sem sentido: duram apenas um segundo
na eternidade, são como um sonho dentro de um sonho e que
a qualquer momento pode se tornar um pesadelo. Ninguém
deve optar em permanecer na lama densa e sofrida da vida
humana quando pode se elevar a patamares mais sutis, lumi-
nosos e paradisíacos da exis tência universal.

Por outro lado, a morte nada mais é do que um retorno para


casa, uma libertação da prisão material e um reencontro com
nossa natureza. Por isso, ninguém deve temer a morte ou se
desesperar com aqueles que foram mais “cedo” ao plano
espiritual. Devemos antes agradecer a Deus pelo retorno da
alma ao seu estado livre e natural.

142
VIVER E MORRER

Tudo o que vive, morre… e tudo o que morre, renasce.

O nascimento também é uma morte: a morte da condição do


útero. A infância é a morte do bebe. A adolescência é a morte
da criança… É quando chega a puberdade e outras transfor-
mações. A idade adulta é a morte da juventude, seus praze -
res, sua revolta, seus sonhos, seu despojamento. A velhice é
a morte da idade adulta. A morte do corpo físico é o fim da
vida e o início de uma outra forma de vida ainda in-
compreensível para nós.

A morte não é um fim, mas sempre uma transição, seja no


sentido orgânico, seja no sentido emocional, seja no sentido
da ascese. Deixar o passado morrer é essencial para que o
nascimento possa ocorrer no presente. Há sempre uma morte
e um nascimento ocorrendo a todo momento. Cada expiração
é uma morte e cada inspiração é um nascimento que con-
solida a continuidade da vida no corpo físico. Nossas células
morrem a cada segundo, fazendo outras nas cerem e garan-
tindo a perpetuação do existir orgânico. Em sete anos todas
as células do nosso organismo já morreram e renasceram.
Você já é completamente outro, apesar de ser a mesma pes -
soa.

A semente morre para deixar que a plantinha nasça. A lagarta


morre para fazer nas cer a borboleta. Os idosos morrem para
dar lugar aos mais jovens. A primavera morre para dar lugar
ao verão; o verão dá lugar ao outono e o outono morre e logo
vem o frio do inverno. O inverno também morre, para abrir
espaço a uma nova primavera. A fruta morre e cai da árvore,
para que suas sementes façam brotar uma nova árvore. Tudo
morre para dar lugar a outra coisa. Tudo acaba para que algo
possa não acabar. O fim chega para que um novo início
possa acontecer. A vida se perpetua num constante morrer e
renascer, finalizar e recomeçar, esgotar e renovar, perecer e
novamente brotar.

A morte de um ente querido ou alguém que muito amamos


pode também provocar uma morte interior, uma morte emoci -
onal, bastante difícil de superar. Essa morte nos obriga a
rever nossa vida e a renas cer, caso se queira manter nossa

143
saúde mental e psíquica. A morte de um relacionamento
também pode nos fazer morrer um pouco por dentro. A sepa -
ração é uma morte terrível para muitos. A saída de um filho
de casa é outra forma de morrer. Essa morte interna pode ser
mais ou menos devastadora dependendo do grau de afeto,
valor ou vitalidade que doamos ao outro, ao relacionamento
ou a algum desejo, sonho ou situação. Vivemos 30 anos com
o outro, e quando ele parte, não consegui mos mais viver.
Nossa vida estava tão atrelada à vida do outro que morre mos
um pouco quando nosso relacionamento morre. O abandono
é outra forma de morte, quando somos rejeitados por outra
pessoa. A expectativa e a frustração é outra forma de morrer.
É preciso entender que toda morte traz sempre uma possibili-
dade de vida nova… e não um fim, um encerramento de algo.

Morrer é terminar uma coisa e iniciar outra. Morrer é deixar o


passado e fazer nascer o presente, o agora, em nossa exis -
tência. Morrer é decretar o fim de uma fase de nossa vida e
abrir o coração para o surgimento do diferente, da novidade,
da renovação, da revisão, da vida em um outro nível de sentir,
pensar e existir.

Se você vai morrer ou renascer depende sempre para que


lado você vai olhar. Você pode lançar os holofotes para o que
foi, para o que já morreu… e morrer junto com o que não
existe mais. Ou então você pode deixar o sol bater sobre o
novo, sobre o espaço aberto pela morte; lançar o olhar sobre
o que vem, sobre o que se abre, sobre o inédito, sobre o
desconhecido que tanto tememos, sobre a regenera ção de
nós mesmos.

Você já morreu muitas vezes e renasceu em todas elas.


Morre apenas quem fica preso ao que passou. Morre quem
não quer largar o antigo… E vive aquele que sabe deixar
passar o que, em verdade, já foi. Morre aquele que não quer
largar o que tem que acabar… Morre quem não admite perder
o que já não mais se possui, ou talvez nunca tenha possuído.

Dessa forma, morra e deixe morrer… No entanto, siga o fluxo


da vida, desapegue-se, desprenda-se, solte o que já foi… E
deixe sua vida renascer.

144
A CEGUEIRA DO EGOÍSMO

Uma mulher já estava há quase dois anos internada no hos -


pital por causa de uma grave doença. Ela era frequentemente
visitada pelos seus dois filhos, um mais novo e ou tro mais
velho.

No horário de visita do hospital, os filhos estavam con ver-


sando com a mãe. De repente, a mãe começa a se sentir
muito mal. Ela fica ofegante e desmaia. Os filhos chamam os
enfermeiros que lhes atendem prontamente. A mãe é levada,
mas não resiste e vai à óbito.

O médico veio dar a notícia da morte da mãe. Um dos filhos,


o mais novo, começa a chorar descontroladamente, dizendo:

– Meu Deus, por que levou a minha mãe? Eu a amava tanto!


Por que me faz ter essa dor senhor, por quê?

O outro filho, chorando, também começou a orar, mas o fez


em voz baixa, dizendo:

– Senhor, apesar da minha dor, eu te agradeço ter le vado a


minha mãe, pois há mais de um ano ela es tava sofrendo
muitíssimo aqui neste hospital com sua doença. Suas dores
eram muito intensas e sofridas, e foi melhor ela ter se liber-
tado do jugo desta moléstia e ter sido acolhida nos braços do
divino. Tenho certeza que ela teve uma vida muito longa e
cumpriu sua missão.

Precisamos sempre tomar cuidado para que o nosso egoísmo


não seja como um venda em nossos olhos e nos impeça de
ver o que é melhor para o outro. O primeiro filho estava pen-
sando apenas nele e na saudade que teria de sua mãe. Ele
pensava apenas na dor da separação, mas não na dor da
mãe sofrendo no hospital. O segundo pensou em primeiro
lugar no sofrimento da mãe no hospital, e mesmo com a tris -
teza diante da morte de uma pessoa tão querida e amada,
agradeceu o alívio da dor de sua mãe.

Não permita que o egoísmo te faça ver sempre as suas ne -


cessidades, as suas dores, e não o bem estar do outro.

145
POR QUE AS PESSOAS SOFREM?

Essa é uma pergunta muito importante, talvez a pergunta


mais importante da vida: Por que sofremos e por que não
conseguimos ser felizes? A resposta é sim ples, mas nem
todos estão preparados ou dispos tos a fazer o que é preciso
para que a felicidade e a liberdade se façam presentes.

Vamos imaginar uma pessoa que deseje muito uma coisa,


tenha perdido essa coisa e agora sofra por essa perda. Por
que essa pessoa sofreu tanto com tudo isso? É simples… Ela
sofreu tanto porque ela igualmente desejou tanto… Precisa-
mos entender que quanto maior é o nosso desejo de conse -
guir algo, maior será o sofrimento por não ter conseguido.
Quem quer muito ganhar algo, muito sofre por perder esse
algo. Todo sofrimento é proporcional ao desejo ou ao apego
que temos em relação a algo. Quem deseja ser feliz não pode
jamais depender de algo externo para ser feliz.

Se alguém deseja muito um carro e não tem o carro ou perde


o carro, sofre muito por isso… Se alguém deseja muito casar
e não consegue casar ou seu casamento termina, o sofri-
mento será intenso. Se alguém quer muito, muito ter um filho,
está muito desejosa, muito fixada e dependente de ter um
filho para só depois ser feliz… Essa pessoa provavelmente
faz sua felicidade depender de ter um filho. Mas caso essa
pessoa não consiga ter um filho, ela não poderá ser feliz, pois
criou essa dependência em relação a maternidade.

Uma pergunta que pode ser feita quando refletimos sobre o


desejo é: por que desejamos? Por que fundamentalmente
somos seres desejantes? A resposta é que desejamos algo
porque sentimos que algo nos falta. O ser humano é incom -
pleto, é limitado, é vazio por dentro. Essa ausência que existe
dentro dele é sentida com muita intensidade, e po r isso, ele
se torna um ser desejante, que busca coisas para se preen -
cher. Todo vazio quer ser preenchido, assim como toda fome
necessita de alimento para ser mitigada, ou toda sede requer
água para ser suavizada. O ser humano, sendo incompleto,
busca, assim, sua completude. A grande causa do sofrimento
humano não é tão somente sua carência, sua privação, seu
buraco interior, mas principalmente buscar sua inteireza e seu
preenchimento em algo que jamais o satisfará.

146
As pessoas comuns buscam em coisas ilusórias algo para
aplacar sua falta, mas a ilusão, por ser também vazia em si
mesma, jamais poderá trazer-lhe a presença interior, jamais
poderá ocupar seu buraco interior. Buscamos nossa comple-
mentação em objetos, sentimentos e realizações que, em
última instância, são imagens transitórias e irreais. É como
avistar uma miragem de água no deserto e se atirar nela,
correndo em sua direção, tentando aplacar sua sede. A mira -
gem some e continuamos sedentos, buscando mais e mais
miragens que nunca vão matar nossa sede. Sentir essa au-
sência interior e não conseguir suprir essa falta, bus cando
sempre nos lugares errados, é, com efeito, a causa do sofri-
mento.

Vemos todos os dias situações que nos remetem a esse prin -


cípio… As pessoas colocam toda a sua vida em algo ou al-
guém, em algum desejo ou algum objetivo. Quando esse
desejo ou objetivo não pode ser alcançado, ou depois de
alcançado é perdido, elas sofrem e culpam a Deus pela sua
perda. Ninguém sofreria pela perda se não quisesse muito
ganhar; ninguém perderia sua vontade de viver se não tivesse
colocado sua vida em algo ou alguém, para depois perder
algo ou alguém. A vida humana é feita de ganhos e perdas.
Tudo aquilo que ganhamos vamos um dia necessariamente
perder, posto que nada do que existe aqui na matéria nos
pertence: todas as contingências do mundo são empréstimos
de Deus, nada é nosso, nada podemos levar, tudo se perde e
termina. Portanto, quem deseja muito, quem põe sua vida em
algo está irremediavelmente fadado ao sofrimento de uma
perda futura inevitável.

A verdade é que os seres humanos jamais podem ser felizes


dependendo de algo externo para serem felizes, pelo simples
motivo de que as coisas externas não são partes de nosso
espírito, elas são parte de um mundo material, ilusório e tran-
sitório do qual nada pode nos acrescentar, posto que tudo no
mundo é vazio.

A essência da vida está dentro de nós e não nas coi sas pere-
cíveis da matéria. Ninguém pode ser feliz criando dependên -
cias, pois toda dependência decai, degenera e morre por si
mesma, pela própria ilusão de seus fundamentos. Só pode-

147
mos ser felizes por nós mesmos, sem precisar de nada, sem
qualquer apego, sem depender de coisa alguma para ser
feliz. O espírito não precisa de nada para ser feliz, pois ele é
uma essência divina que deve ser independente de tudo para
poder existir de forma plena.

Quando nosso corpo físico se esgotar, perecer e nosso espí-


rito for encaminhado ao limiar entre a vida e a morte, caso ele
tenha ainda desejos, dependências e apegos a algo deste
mundo, ele terá que retornar mais e mais vezes à Terra para
viver esse apego, para usufruir desses desejos e se despren-
der deles. Esse vai e vem ao plano físico é a roda dos nas -
cimentos e mortes, é o próprio processo da reencarnação. O
espírito não pode viver seu desejo no mundo espiritual, pois
nos planos sutis não há o que desejamos. Por isso, o espírito
ainda preso à matéria precisa retornar a ela até se libertar de
todas as prisões do mundo. Esse retorno compulsório é algo
muito sofrido, pois esse mundo é um local de dor e aprisio-
namento, onde há “choro e ranger de dentes”.

Por isso, todos devem libertar-se dos apegos, fixar-se apenas


na eternidade, no infinito e no divino, pois essa é a fonte da
verdadeira vida, essa é a única fonte da felicidade suprema.
Quem fica preso as coisas desse mundo sofre, se desespera
e morre junto com as coisas. Quem vive pelo espírito, por
Deus ou pelos princípios do infinito, se torna ele mesmo
eterno e infinito.

148
A ETERNA JORNADA DO ESPÍRITO

Uma mulher de 50 anos vivia há alguns anos com uma do -


ença grave. Ela decidiu procurar um monge e contou sua
história de vida e sua doença. Disse a ele que não aguentava
mais viver assim e que todos os dias pedia a Deus pela sua
cura. “Por que Deus não atende minhas preces e me propor-
ciona a cura dessa doença?” Perguntou ela. O monge res -
pondeu:

– Senhora, vou responder sua pergunta contando -lhe uma


estória bem simples. Imagine que existe um aluno que está
realizando uma prova final em sua escola. Esse exame é um
pré-requisito para ele ser aprovado no ano letivo e para que
possa galgar à série seguinte.

O aluno inicia o exame, mas sente o alto grau de difi culdade


das questões. Ele começa então a ficar muito nervoso e não
consegue pensar direito. Em seu desespero, ele fala com o
professor e pede a ele para que o isente de realizar a prova.
O aluno pergunta se pode ser aprovado sem a necessidade
do exame.

O professor olha em seus olhos e lhe responde que isso não


é possível, posto que esses conhecimentos contidos na prova
são uma base essencial para o entendimento do conteúdo da
série seguinte. Ele não pode deixar de realizar a prova, caso
contrário, não poderá dar continuidade a sua vida escolar e
terá que repetir o ano letivo.

O aluno fica triste, mas resolve fazer a prova mesmo com seu
alto grau de dificuldade. Consegue aos poucos se acalmar e
resolve todas as questões. O professor pega a prova, olha as
respostas e diz que ele está aprovado, pois a maioria das
questões estão corretas.

O monge então olha para a moça e completa sua explicação:


– Essa estória é semelhante ao que acontece na vida de cada
um de nós. Muitas pessoas são colocadas numa situação de
prova em suas vidas. Essa prova serve para testar nosso
espírito, para que estejamos bem preparados para a etapa
seguinte de nossa evolução. Pedir a Deus que nos retire da
provação é o mesmo que o aluno pedir ao professor para não

149
fazer o exame que lhe dará acesso à série seguinte. Deus
não pode nos retirar das provas da vida, pois em sua infinita
sabedoria, Ele sabe que precisamos passar à etapa seguinte
de nossa evolução espiritual. Caso Deus nos retire a prova
através da cura de uma doença, ou de qualquer outro benefí-
cio concedido, Ele nos tiraria a oportunidade de progresso
espiritual, de ascendermos mais um degrau na jornada de
nosso espírito. Por esse motivo, ninguém deve pedir a Deus
que nos retire das provas da existência material. Devemos,
isso sim, aceitar essas provações como necessárias e utiliza -
las como meio de passagem para a fase seguinte de nossa
caminhada espiritual.

São as provas da vida que nos impulsionam a seguir em


frente, peregrinando sempre, na eterna jornada do espírito.

150
POR QUE DEUS PERMITE O SOFRIMENTO?

Uma pergunta muito comum que as pessoas fazem é:

“Se Deus é infinitamente bom, justo e misericordioso, por que


Ele permite tantos sofrimentos no mundo?”

Vamos responder essa pergunta com uma pequena estória,


para que todos possam compreender a permis são de Deus
sobre nossos sofrimentos.

Havia um rapaz que recentemente enveredara pelo caminho


das drogas. Seu pai muito o aconselhou para não seguir este
direcionamento na vida, mas o rapaz não o ouviu. Experi -
mentou algumas drogas e após um tempo não conseguia
mais parar de usar. O pai conversou com ele e insistiu que ele
fizesse um tratamento. O rapaz recusou. O pai tentou mais
uma vez e o rapaz não o ouviu.

Seu pai então providenciou que ele fosse internado numa


clínica de reabilitação antidrogas. O filho fez todo o trata -
mento, se desintoxicou e foi liberado. No entanto, duas sema-
nas depois já estava se drogando novamente. O pai decidiu
mais uma vez leva-lo a uma clínica e fez todo o tratamento,
mas assim que recebeu alta, novamente foi se drogar. O pai o
internou cinco vezes, mas em todas as oportunidades o filho
retomava o antigo padrão e voltava a suar drogas.

O pai, desesperado, já não sabia mais o que fazer. Decidiu


então que nada mais poderia ser feito, pois o filho simples -
mente não correspondia, não reagia e tam pouco queria ser
ajudado. Ele desejava continuar mergulhado no mundo das
drogas e nada do que o pai fizesse poderia lhe tirar desse
caminho. O pai então decidiu que permitiria que o filho vi -
vesse essas experiências para que chegasse sozinho a con-
clusão. Um dia ele entenderia o malefício das drogas e que,
na verdade, ele estava se destruindo.

O filho então saiu de casa e passou a praticar roubos. Ele


vivia de assalto em assalto, pois só assim conse guia usar as
drogas e se alimentar. Tornou-se um marginal e logo virou um
traficante conhecido. Certo dia levou um tiro numa guerra
entre facções para controle de uma boca de fumo. Foi para o

151
hospital, ficou em coma por semanas e depois voltou. Assim
que retomou a consciência, decidiu que largaria esse cami -
nho…

Essa estória ilustra um pouco o que acontece com o ser hu-


mano neste mundo. Como um pai pode ajudar um filho que
não deseja ouvi-lo e quer permanecer no caminho do erro e
da ilusão? Podemos tentar orienta-lo de várias formas, dar o
tratamento adequado, mas se a pessoa insiste no erro, é
necessário permitir que ela sofra as consequências de suas
próprias ações. É mais ou menos assim que funciona o sofri -
mento humano. Deus procura enviar diversos tipos de men -
sagens sobre os erros que cometemos, mas nós não O ouvi-
mos e não mudamos de caminho; insistimos no erro e na ilu -
são. O homem insiste em permanecer na embriaguez das
ilusões do mundo, e Deus autoriza que venha a dor, o sofri -
mento, o desespero, as perdas, etc., para liberta -lo.

Dessa forma, Deus autoriza o sofrimento para que, somente


assim, possamos encontrar o caminho real e nos transformar.
Se as pessoas querem viver de tal modo a criar o sofrimento
para si mesmas, Deus permite que isso seja feito para que
elas possam aprender e despertar para a realidade. Nesse
sentido, o sofrimento acaba sendo a única forma do espírito
acordar dos sonhos e miragens mundanas que criou para si
mesmo.

152
O SOFRIMENTO DA HUMANIDADE

Um homem procura um sábio e lhe faz uma pergunta:

– Mestre, como é possível que cada pessoa console uma a


outra se toda a humanidade está chorando?

O sábio pensou por um instante e disse:

– Justamente pelo fato de estar o mundo inteiro chorando é


que as pessoas passam a compreender o valor de todos
consolarem uns aos outros.

O homem gos tou da resposta. O sábio continuou:

– No momento em que uma pessoa está sofrendo e outra


está feliz, quem está feliz pode não compreender o que o
outro está passando. Por isso, pode não sentir empatia ou
compaixão. Mas quando o outro vive seu sofrimento, sente
tudo na pele, chora e sofre como você, ele adquire um olhar
diferente sobre seu estado. Por isso toda a humanidade vive
no sofrimento, pois é o sofrimento que abre nossos olhos para
fragilidade da natureza humana e isso nos impulsiona a aju -
dar uns aos outros. Todos sofrem, todos choram, todos er-
ram, todos caem. Por esse motivo, no sofrimento do outro, no
pranto do outro, no erro do outro e na queda do outro, nos
tornamos mais sensíveis ao que lhe ocorre.

Dessa forma, quanto mais sofremos, mais sens íveis nos


tornamos ao sofrimento do outro, que no fundo, é nosso pró -
prio sofrimento. Quando você sofrer, não fique revoltado
pensando apenas em sua dor. Olhe para os lados e se colo -
que no lugar daquele que também sente uma dor profunda. A
dor de ambos é a mesma. O sofrimento une toda a humani-
dade. Estamos todos imersos no oceano de dor da vida hu -
mana, mas justamente isso pode ser a nossa salvação cole -
tiva.

Portanto, se cada pessoa aprender a enxugar as lágrimas do


seu irmão, ninguém mais ficará desamparado.

153
O VAZIO DO EGOÍSMO

Uma das causas do vazio é o estilo de vida egoísta e indivi -


dualista que a maioria das pessoas leva atualmente. Uma
pessoa egoísta é aquela que vive apenas para si mesma. Ela
desconsidera os outros, não vive pelo coletivo, não olha para
o mundo a sua volta, e pensa apenas em seus desejos, em
suas conquistas, em seus sonhos, em suas demandas imedi -
atas.

Pensar apenas em seus interesses pessoais gera um isola -


mento do restante do mundo e cria um sentimento de solidão.
Quanto maior o egoísmo de uma pessoa, mais ela viverá
apenas para si, e, consequentemente, mais ela se sentirá
isolada e solitária. Essa solidão, claro, gera um vazio dentro
dela. Todos aqueles que vivem apenas para si mesmos co -
meçam a sentir esse vazio. Por isso, tentam preencher esse
vazio com as conquistas individuais, com o consumo, com o
ter tudo para si, com a obtenção de poder, dinheiro, posses,
status, fama, cargos, admiração dos outros, etc.

Quando não conseguem, o vazio começa a retornar com mais


força. Mas quando uma pessoa vive não somente para si
mesma, mas para o coletivo, para o mundo, para Deus, para
a vida, ela passa a sentir a aquilo que denominamos de a
plenitude da existência. Quanto mais rígido é nosso ego,
maior será a solidão e maior será o vazio. Por outro lado,
quanto mais abertos, livres, compassivos e em harmonia com
tudo e todos, mais nos sentimos plenos e felizes.

Um exemplo dessa situação é o amor humano, que é egoísta


por si mesmo. Quando amamos e vivemos apenas por uma
pessoa, nossa vida passa a depender apenas dessa pessoa.
Caso a percamos, o vazio se instala e não conseguimos mais
sentir em frente. No entanto, quando amamos todas as pes -
soas, ou quando amamos toda a vida, todo o cosmos, como é
possível se perder alguma coisa? O amor ao todo nunca é
perdido, nunca nos decepciona, nunca nos traz dúvidas,
medo e incertezas. O amor humano limitado a apenas um ou
outro indivíduo nos traz, ao contrário, medos, incertezas,
dúvidas, decepções, mágoas, etc.

154
Aquele que vive pelo bem de todos, nunca erra, nunca se
decepciona, nunca se magoa, está sempre bem, satisfeito e
feliz. Mas aquele que vive apenas para si mesmo, ou por uma
ou algumas pessoas, esse está sempre infeliz, sempre au -
sente, sempre vazio.

Por isso, o egoísmo, o individualismo e a vida voltada aos


interesses pessoais sempre vai nos conduzir a um vazio inte -
rior profundo, a depressão e a infelicidade. Não importa o
quanto conquistemos, o vazio nunca vai embora. Dessa
forma, devemos deixar de lado todo o egoísmo, todo o senti -
mento de valor individual, todo o egocentrismo, toda a aposta
na felicidade particular e exclusiva.

155
A DOENÇA QUE CURA

Algumas pessoas oram a Deus pedindo a cura de uma pes -


soa que está doente, ou oram pedindo a própria cura. Elas
frequentam locais que realizam tratamentos, cirurgias e curas
espirituais. Pedem milagres aos santos e algumas chegam a
fazer promessas para se verem livres de alguma enfermi -
dade. A maioria não é propensa a aceitar a doença física e
passa a desejar rapidamente que venha a cura. O ser hu-
mano faz isso no intuito de evitar sua dor, seu desconforto, as
limitações que as doenças podem trazer e, claro, evitar a
morte.

O que as pessoas precisam compreender, entretanto, é um


princípio simples da espiritualidade que diz assim:
“Toda a doença do corpo vem com o objetivo da cura de
nossa alma”.

Esse princípio não é muito bem compreendido e nem mesmo


aceito pela maioria. Ele implica em dizer que as patologias
que se abatem sobre os seres humanos não ocorrem de
forma arbitrária e acidental, mas tem uma finalidade bem
específica: a doença exterior pode curar os males interiores.
O que na prática isso significa? Vamos dar o exemplo do
homem que exagera em sua alimentação desregrada. Ele
come toda sorte de alimentos tóxicos e não liga minimamente
para isso. Sua opulência alimentar tem como objetivo faze -lo
usufruir dos prazeres da comida. Ele gosta de sentir os sabo -
res e está bastante apegado ao prazer do gosto. Como diz a
frase, ele não come para viver, mas vive para comer. Burlou a
ordem das coisas e passou a viver apenas para se alimentar.
Sua principal atividade do dia é comer um copioso churrasco,
ou um doce bastante açucarado. A sabedoria da vida pode,
nesse momento, incutir-lhe uma doença no sistema digestivo
a fim de obriga-lo a manter uma dieta rígida. Dessa forma, ele
tem a oportunidade de se libertar do apego à comida.

Muitas pessoas descontam suas frustrações e carências na


alimentação desequilibrada. Comem para preencher o vazio
que existe em seu interior. A provação da doença pode obri-
gar essas pessoas ao desapego e a viverem mais em harmo -
nia consigo mesmas. No momento em que elas param de
usar a comida como subterfúgio psicológico, elas ficam com

156
suas carências mais afloradas, e dessa forma, são forçadas a
enxergarem a si mesmas e tomarem certas providências para
se curarem interiormente.

Outro exemplo interessante que podemos citar da cura inte -


rior que vem com a doença é do workaholic, o homem que
trabalha demasiadamente por medo de ficar sem dinheiro, o u
pelo desejo de querer possuir e conquistar. Mais uma vez a
sabedoria da vida pode ajuda-lo a se libertar desse desejo de
posse ou desse medo da perda por intermédio de uma enfer-
midade orgânica. Vamos supor que esse homem adquira uma
doença grave que o incapacite de trabalhar. Ele deverá ficar
em casa e não poderá mais ir ao trabalho. Por isso, não po -
derá mais atender seus clientes e, pela força dos aconteci -
mentos, ele começará a perder dinheiro. Esse homem fica
assim por meses e meses. Com o tempo a sua reserva finan-
ceira vai se extinguindo e ele vê se dissipar toda a ilusória
segurança que o dinheiro proporcionava.

A sabedoria da existência universal vai agindo e retirando


dele o dinheiro e as posses, para que ele possa gradualmente
se libertar do medo de perder e do desejo de tudo conquistar.
Ele começa então a despertar para outras facetas da vida,
que tem mais valor do que o dinheiro. Ele passa a ter uma
visão mais desprendida, mais livre, mais espiritual e inicia
uma jornada interior. Pode começar, por exemplo, a fazer
cursos de autoconhecimento, a valorizar as coisas simples da
vida, a não se preocupar com as miudezas efêmeras da vida
humana, etc. Ele torna-se também mais humilde e mais es -
pontâneo. A doença que antes era vista como um desastre
em sua vida, como algo terrível, passa a ter outro significado.
É justamente a enfermidade que vem desencadear seu pro -
cesso de cura interior. Ou, como diz a máxima espiritualista, a
doença exterior nos impulsiona para a cura interior.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados, como


por exemplo da mulher que anseia muito pela sua indepen -
dência e seu o poder. Nesse momento vem uma doença e lhe
mostra a sua fragilidade humana, seus limites, suas mazelas,
suas imperfeições, algo que ela nunca quis aceitar. Isso a
obriga a olhar para si mesma com outro entendimento e tentar
lapidar seu íntimo aceitando que não detém o poder total, a
capacidade total, o conhecimento total e passa a se libertar

157
de uma patologia interior chamada prepotência. Outro exem -
plo é o do homem que é muito apegado ao seu corpo físico;
fixado em sua beleza corporal e em seus músculos. Ele ad -
quire uma doença que começa a atrofiar seu organismo e o
obriga a ter uma outra visão de si mesmo. Nesse momento,
ele pode começar a buscar uma vida mais real, com mais
amor, mais compaixão, mais desapego, e deixar de dar des -
taque em sua vida apenas as formas físicas. Ele pode passar
a ver uma pessoa não pela sua beleza externa, mas pelo que
ela expressa em seu íntimo.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados aqui,


mas o importante é todos compreenderem o quanto as en -
fermidades orgânicas podem ser o caminho para nossa cura
interior, para uma purificação de nossa alma. A alma humana
encontra-se demasiadamente intoxicada com os venenos
desse mundo. Por isso, a doença vem como uma limpeza,
uma higienização de nossa mente e de nossas emoções. É
como a desintoxicação que se faz através do jejum. Quando
iniciamos o jejum, a tendência é o mal estar, a angústia, dores
pelo corpo, etc. Tudo iss o é a sabedoria da natureza iniciando
o processo de desintoxicação, que causará desconforto pela
eliminação das toxinas, mas depois trará uma pureza orgâ -
nica. É importante mencionar também que não é a doença em
si que promove essa depuração, mas sim a forma como cada
pessoa muda sua perspectiva durante e depois da doença.

Por isso, não se esqueça dessa máxima. Ao invés de ficar


orando a Deus e pedindo uma cura que não virá, procure
desvendar o enigma da doença. Essa doença veio para me
transformar. Como posso aproveitar as lições que ela veio me
transmitir? Torne-se aberto ao sagrado ensinamento da vida
através da doença.

As enfermidades não são desgraças fortuitas e amaldiçoadas


que vem para nos destruir… No plano do espírito, a doença é
uma benção que estabelece e sinaliza o caminho a ser per-
corrido para nossa transformação e para a purificação de
nossa alma.

158
MORRER TODOS OS DIAS

Muitas pessoas têm medo da morte.

O medo de morrer parece ser uma das grandes marcas do


ser humano nesse mundo.

No entanto, muitos não sabem que cada pessoa nasce e


morre todos os dias.

Podemos morrer a cada segundo, e renascer no segundo


seguinte.

Morrer não é perder o corpo físico…

Morrer é desistir de viver e deixar de seguir em frente.


Morremos um pouco todos os dias quando nossos medos
substituem nossa esperança e nossa fé.

Morremos um pouco todos os dias quando passamos a nos


reprimir, a nos cobrar excessivamente, a não aceitar nossos
erros, e a esperar muito de nós mesmos.

Morremos um pouco todos os dias quando fazemos de outra


pessoa nossa razão de viver… Mas quando essa pessoa a
que demos nossa vida vai embora, acabamos morrendo
internamente.

Morremos um pouco todos os dias quando nos culpamos por


tudo e não nos perdoamos pelos nossos fracassos.

Morremos um pouco todos os dias quando não nos aceitamos


como somos e sempre nos frustramos ao tentar viver tal como
um ideal de pessoa que nós mesmos criamos.

Morremos um pouco todos os dias quando optamos nos mol -


dar pela maioria, em seguir com a manada,. Assim, acaba-
mos nos despersonalizando e morrendo por dentro para ser a
imagem daquilo que a sociedade espera que sejamos.

Morremos um pouco todos os dias quando desistimos de


duvidar e aceitamos as respostas prontas e acabadas que
nos são vendidas em embalagens belas e enfeitadas.

159
Morremos um pouco todos os dias quando permitimos que a
nau de nossa vida seja conduzida pelas correntezas e pelas
ondas, ao invés de tomar o leme em nossas mãos e navegar.

Morremos um pouco todos os dias quando optamos pelo


conforto da paralisia, pela proteção do hábito ou do igual, ao
invés de encarar o esforço do novo, do desafio, da renovação,
da transformação.

Morremos um pouco a cada dia quando acreditamos que já


sabemos algo e não precisamos aprender mais.

Morremos um pouco a cada dia todas as vezes que escolhe-


mos a superficialidade do julgamento ao invés da profundi -
dade do entendimento; quando rotulamos sem pensar, padro -
nizamos sem refletir, definimos algo ou alguém sem meditar
ou quando passamos a ver sem enxergar.

Morremos um pouco todos os dias quando somos elogiados e


nos deixamos levar pelo ego; quando somos criticados e nos
deixamos abater pela baixa estima; quando somos agredidos
e ficamos com ódio; ou principalmente… quando caímos no
chão e não levantamos.

Morremos um pouco a cada dia quando fugimos da crise;


quando evitamos a dor; quando tememos o sofrimento;
quando não aprendemos com as dificuldades; quando fica -
mos entorpecidos diante do muro a nossa frente ao invés de
escala-lo para continuar seguindo.

Morremos um pouco dentro de nós quando nos importamos


demais com coisas pequenas, quando não perdoamos,
quando guardamos rancor, quando acreditamos que somos
sempre vítimas e não os responsáveis pela nossa existência.

Morremos um pouco a cada dia quando ficamos pre sos ao


passado; aprisionados às alegrias ou às tristezas do que já se
foi. Morremos também ao ficar projetando um futuro promis -
sor, de sonhos e ideais, ao invés de ser feliz no momento
presente.

Morremos um pouco todos os dias quando aceitamos as


ilusões da vida e negamos a realidade; ou quando, final -

160
mente, fugimos de tudo e de nós mesmos, não enfrentando
de forma simples e direta a sombra que está dentro de nós.

161
SER E TER

Eu queria ter um carro… Eu adorava carros… Quando eu era


adolescente meu sonho era poder comprar um carro conver-
sível. Queria ter um carro do ano para poder desfilar com ele
na entrada nas boates, e impressionar as meninas. Ah…
Como seria maravilhoso passear pelo litoral, num dia ensola -
rado, com meu belo automóvel.

Eu queria também ter uma lancha… Sim, esse era outro so -


nho importante, tão forte quanto o sonho do carro. Com uma
lancha eu poderia deslizar sobre as águas do mar, ao cair da
tarde, ou durante a manhã, vendo o nascer do sol. Poderi a
parar e ficar horas e horas boiando no mar numa calma pes -
caria. Depois mergulhar no mar e apreciar o frescor das
águas numa contemplação pacífica do oceano infinito.

Eu queria ter um videogame de última geração em minha


infância. Era maravilhoso poder jogar todos aqueles jogos.
Ser o herói virtual que salva o mundo, derrota os inimigos e
resgata a princesa. Videogame era meu grande sonho. Infe -
lizmente não pude ter um… e ficava triste por não ter ganho
este belo presente dos meus pais.

Eu também queria ter minha própria empresa. Isso me ajuda-


ria a conquistar minha independência financeira. Não precisa -
ria ficar aguentando chefes e nem ficar seguindo horários
rígidos. Ser o dono do próprio negócio era maravilhoso. Eu
queria tanto… mas nunca consegui. Is so ficou apenas no
plano do sonho.

Eu também gostaria de ter um sítio. No sítio dos meus dese -


jos haviam muitos cavalos de raça. Todos eles se alimenta -
vam da melhor ração. Eu queria ter esses cavalos para poder
cavalgar livremente pelos campos, com meu cabelo esvoa-
çando ao vento, sem hora para sair e tampouco para voltar.
Trabalhei muito durante a vida, me esforcei, mas meu orça -
mento jamais foi suficiente para que eu comprasse um sítio.

Do alto dos meus 80 anos, revendo todo o meu passado, vejo


todas as coisas que eu queria ter e não tive. Cada desejo não
conquistado era para mim motivo de tristeza. Sofria por de -
sejar ter e não conseguir ter. Sofria por sonhar e cair sempre

162
na realidade do não ter. Sofria por imaginar algo que poderia
conquistar com meu trabalho, mas que nunca consegui.

Lançando o olhar sobre toda a minha vida, vejo que gastei


muito tempo seguindo um mesmo padrão: eu desejava ter,
não tinha… e sofria por isso.

Hoje entendo que ao invés de passar minha vida buscando o


ter, teria sido m uito mais proveitoso para mim deixar isso de
lado e simplesmente ser…

Muitas pessoas confundem o ter com o ser. Elas acreditam


que só podemos ser, caso conquistemos o ter. Mas isso não
é verdade…

O ser independe do ter. Ninguém precisa ter para ser…

Por isso, eu aprendi essa lição. Na vida, para serem felizes,


as pessoas não precisam de coisa alguma, não precisam ter
milhares de coisas… Sim, as pessoas não sabem disso, mas
elas precisam tão somente ser… e nada mais.

Ser é suficiente… Quem simplesmente é sem se preocupar


com o ser, consegue ser feliz e realizado. Mas aqueles que
passam suas vidas buscando o ter… esses acabam perdendo
suas vidas. Eles desperdiçam sua existência em quimeras,
em ilusões, quando poderiam simplesmente deixar tudo fluir…
e apenas ser.

163
NÃO SE IMPORTE

Uma pessoa disse que não gosta de você


Não se importe com isso…
Alguém desferiu ofensas e agressões graves a ti.
Não dê valor a isso…
Alguém fez fofocas a teu respeito, proferiu calúnias e te difa -
mou em público.
Não dê atenção a isso…
Alguém te maltratou, humilhou, traiu e rejeitou.
Não se importe, não dê atenção, não dê valor…
Você perdeu o emprego, seu casamento terminou e você caiu
em depressão.
Não se deixe abater, não se importe, não dê valor a nada
disso.
Há uma máxima na vida que diz assim:
Quanto mais valor damos a um problema, maior ele se pa-
rece.
Quanto mais nos importamos com alguma coisa, mais poder
ela rouba de nós.
Quanto mais atenção conferimos a algo negativo,
Mais nos tornamos apequenados, desvitalizados, diminuídos,
fracos, encolhidos, limitados e incapazes.
Por outro lado, mais o conflito, problema, sintoma ou bloqueio
parece colossal, gigantesco, poderoso e devorador.
Por isso, não se importe com as pequenezas desse mundo.
Não dê atenção e nem força para os conflitos.
Não se importe em ganhar ou perder, em fazer ou não fazer,
em conseguir ou não conseguir.
Nada disso vale tua paz interior…
Quanto mais você se importa, mais aprisionado você está e
mais você sofre.
Quanto mais você se importa e se envolve com um problema,
menos você consegue ver tudo com clareza.
Quanto menos você se importa, mais desligado você está do
mal. Logo, mais imparcial você se encontra e melhor pode
agir adequadamente sobre ele.
Uma pessoa que não dá tanta importância ao que lhe ocorre
deixa tudo passar…
As coisas ruins vem e vão… a tristeza chega e depois vai
embora. Todo sofrimento passa por nós, mas não fica dentro
de nós.
Quando damos demasiado valor, tudo que vem acaba ficando

164
em nosso interior. Permanece preso, retido e mal digerido.
Ficamos remoendo aquilo, processando, relembrando, e isso
nos cria mais e mais problemas; mais e mais mal estar; mais
e mais infelicidade.
Mas quando não damos valor as coisas pequenas desse
mundo, passamos a sentir uma paz e uma liberdade es piritual
impossível de ser descrita em palavras.
Assim como ninguém pode te fazer maior ou menor do que
você já é.
Somente nós podemos dar uma dimensão maior ou menor ao
nosso problema.
Por isso, siga essa máxima da vida… repita sempre esse
mantra:
“Não me importo, não dou valor, não dou atenção indevida e
não entrego meu poder.”
O sábio não se importa com o passageiro, com a natureza
ilusória desse mundo.
Ele não dá importância a nada que é efêmero, e por isso, não
sofre, não se diminui, não se enfraquece e não se perde nas
banalidades das quimeras mundanas.
Quanto mais medo você tiver dos seus monstros internos, dos
seus demônios…
Maior eles serão para você, mais espaço ocuparão em sua
vida, mais te roubarão energia e mais ainda te farão sofrer.
Pare de dar valor ao que não tem valor; pare de se importar
com o que não deve se importar…
Não se importe, fique em paz…
E permita que a vida flua livremente em ti.

165
MENSAGENS SOBRE RELACIONAMENTOS

ESPERAR O OUTRO

Não acredite que o outro pode preencher o vazio que há den-


tro de ti. Isso só você pode fazer.

Não projete no outro as suas carências, pois você vai se frus -


trar. A carência não se resolve com o outro, mas com a auto -
aceitação.

Não transfira ao outro os seus desejos, acreditando que você


só poderá se satisfazer a partir de alguém. So mente você
pode usufruir dos seus desejos.

Não acredite que o outro deve seguir o caminho que você


seguiu. Cada pessoa faz a sua própria história baseado em
suas escolhas.

Não queira que o outro faça algo por você. É melhor que você
mesmo realize, pois assim a alegria é maior.

Não espere que o outro vá corresponder às suas as pirações e


vontades. Cada pessoa é diferente e ninguém é o modelo de
perfeição que você construiu.

Seja feliz independente do outro. Não espere que o outro seja


feliz para você ser feliz. Não acredite que a infelicidade do
outro pode impedir sua felicidade.

Não viva como se o outro fosse capaz de te comple tar. Nin-


guém completa ninguém, e ninguém pode tirar algo de ti.

Ou você é inteiro por si mesmo, ou continuará eternamente


esperando o outro para preencher um buraco que, certa-
mente, jamais será preenchido.

166
AMOR E DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

Não confunda amor com dependência emocional e não faça


do outro a sua razão de viver.

Infelizmente boa parte das pessoas ainda faz essa confusão:


confunde amor com dependência e acabam fazendo do outro
a sua própria vida, seja filho, marido, esposa, irmão, pai, mãe,
etc.

Quando nossa vida não está bem, tentamos extrair o bem do


outro, mas isso nunca dá certo. Quando nossa vida está va -
zia, tentamos preenche-la, por exemplo, com um filho, mas
um filho jamais vai nos preencher. Quando nossa vida está
sem sentido, tentamos dar esse sentido entrando numa sim -
biose com uma pes soa.

O grande problema é que essa simbiose sempre é desfeita. O


preenchimento do vazio que vem de fora sempre acaba. O
filho pode sair de casa, pode morrer, pode parar de falar co-
nosco… Nosso marido pode se afastar, nos abandonar, mor-
rer, etc. As pes soas que decidimos estabelecer como nossa
muleta emocional sempre podem sair de nossa vida. Por isso,
todos devem saber que, buscar alguém para nos dar vida é o
mesmo que tirar a vida de nós próprios… A verdade é que: se
uma pessoa é tudo para você… você acaba se torna ndo
nada. E o resultado disso é apenas um… sofrimento.

Vejo quase diariamente pessoas caindo nas mais pro fundas


depressões e vazios porque em algum momento elegeram
uma pessoa para ser sua tábua de salvação, ser sua muleta
emocional… filhos são os exemplos mais extremos dessa
situação, mas é pos sível fazer isso também com outros pa-
rentes ou mesmo amigos. O resultado é sempre o mesmo:
um dia o outro vai em bora ou nos decepciona e parece que
perdemos uma parte de nós mesmos que deixamos no outro
e, consequentemente, sofremos e deprimimos.

Quem quiser ter como companheira a infelicidade, deve fazer


exatamente isso: colocar no outro o sentido de nossa vida.
Mas quem quiser ter como com panheira a felicidade, a alegria
e a liberdade, não deve depositar em ninguém uma carga de

167
dependência emocional, pois o efeito pode ser devastador em
nossa vida.

Enquanto o ser humano buscar o sentido da vida fora de si


mesmo, no outro, sua vida não terá sentido… O sentido da
vida só pode ser encontrado em nós mes mos e em nossa
essência divina.

168
A VENDA NOS OLHOS

Uma adolescente e seu avô eram muito próximos. Eles sem -


pre conversavam sobre todos os assuntos, e o diálogo era
sempre muito aberto e sem restrições. Eram não apenas neta
e avô, mas também bons amigos.

Certo dia, a adolescente veio contar ao avô sobre o término


de seu primeiro namoro. Em prantos ela mal conseguia for-
mular as frases, tentando explicar ao avô o motivo do seu
namorado ter dito que não queria mais nada com ela, pois
havia traído ela e ficado outra pes soa. A menina estava in-
consolável. Já o avô, um homem equilibrado, fazia algumas
ponderações importantes, dizendo:

– Minha querida, pense bem, ao menos vocês tiveram um


namoro rápido, foram apenas 7 meses juntos. Já pensou se
fossem anos e anos de relacionamentos que descambasse
numa traição? É sempre melhor descobrir logo quem é o
outro do que ficar se iludindo.

Mas a menina parecia não ouvir os apontamentos do avô e


dizia que ela havia sido enganada por ele. Ela começou a
relatar todas as promessas que o namorado havia feito, todas
as palavras bonitas que ele proferia a ela, todos os afagos,
todos os presentes, e outras coisas que indicavam que ele
gostava dela.

– Ele me enganou vô! Dizia ela repetidamente ao avô.

O senhor continuava a consolando, mas depois de muito


tempo, ele percebeu que a neta não estava nem ouvindo o
que ele dizia, e ficava apenas repetindo que ele a havia en-
ganado. O avô sentiu que deveria ser mais direto com a neta
e disse:

– Pare um pouco de falar querida, e me responda uma coisa.


Foi ele que te enganou, ou foi você que fechou os olhos para
quem ele era?

A menina ficou muda, não sabia o que dizer. O avô prosse -


guiu:

169
– Querida, há um grande ensinamento na vida que vou te
passar agora. Guarde isso com você, pois te prote gerá de
muitos infortúnios. Na maioria das vezes, ninguém nos en-
gana num relacionamento, nós é que fechamos os olhos para
quem a pessoa é de verdade. As pessoas gostam de cultivar
ilusões, e por isso querem enxergar apenas as promessas de
amor eterno, de estabilidade, de afeto, e de muitas outras
coisas que o outro nos diz. Mas verdadeiramente somos nós
que fechamos os olhos e optamos em não vislumbrar o outro
dentro da realidade. Portanto, jamais vende s eu olhar e, por
mais doce que alguém pareça, não dê as costas para a reali -
dade.

“Na maioria das vezes, ninguém nos engana em um relacio -


namento, nós é que fechamos nossos olhos.”

170
SOBRE OS FILHOS

A forma como o pai e a mãe devem tratar e criar seus filhos


sempre foi objeto de polêmica. Muitos pais ainda têm sérias
dúvidas sobre o que fazer para educar seus filhos da melhor
forma possível. É certo que uma boa educação é essencial
para se formar seres humanos melhores, mais madu ros e
mais aptos a enfrentar os desafios da vida. Todos sabem que
as crianças de hoje são o futuro do nosso planeta, por isso é
muito importante que a formação dada a eles seja a melhor
possível para que tenhamos um mundo melhor. Nesse texto
decidimos tecer algumas considerações básicas que todas as
pessoas deveriam saber sobre a relação entre pais e filhos.
Falaremos não apenas do ponto de vista humano, mas tam -
bém do que nossos filhos representam do ponto de vista
espiritual.

A primeira coisa que todos os pais deveriam saber sobre seus


filhos é a máxima que diz: “Nossos filhos não são nossos,
mas deles mesmos e do mundo”. Como diz Kalil Gibran, os
filhos “Vem através de vós, mas não de vós. Emb ora vivam
convosco, não vos pertencem”. Quem duvida des se princípio,
vale refletir: É por algum esforço nosso que o feto é gerado no
corpo, ou apenas permitimos que nosso corpo seja utilizado e
talhado pelo grande arquiteto do universo para que os seres
venham ao mundo através de nós? Quem gera os filhos não
são os pais… é a inteligência da vida, criada por Deus e não
por nós, seres humanos. Os filhos nascem por nosso inter-
médio, mas não por nossa habilidade, nossa inteligência,
nossa cons ciência, mas pela inteligência divina que reside em
nosso organismo. Muitos pais esquecem essa verdade e
passam a cultivar a ilusão de que os filhos são, de alguma
forma, sua propriedade. Nada poderia ser mais falso que isso.
Nossos filhos são seres humanos em desenvolvimento do
ponto de vista biológico e psicológico, mas são espíritos li-
vres, independentes, e não nos pertencem, não são nossos e
nem de ninguém. Por isso devemos sempre respeitar sua
individualidade e não tentar molda-los a nossa forma de pen-
sar e viver.

O segundo ponto, muito importante por sinal, diz que nossa


tarefa com nossos filhos se constitui em duas vias simples: o
cuidado e a orientação. Cuidado significa que os pais recebe-

171
ram a sagrada missão, que veio de Deus, de tomar conta,
responsabilizar-se, ocupar-se e zelar pelos filhos. No entanto,
devem fazer isso apenas enquanto ainda eles não são capa-
zes de cuidar de si mesmos. E orientação no sentido de que
não se pode forçar os filhos a ser ou fazer aquilo que os pais
acreditam ser o melhor para eles. É importante enten der que
os pais devem apenas mostrar o caminho, e cabe aos filhos
seguir por esse trajeto ou escolher seu próprio roteiro de vida.
Os pais não podem e não devem forçar os filhos a fazer isso
ou aquilo, mas apenas orientar, propor, sugerir, aconselhar,
recomendar, mos trar os caminhos, as possíveis trajetórias,
com seus perigos, seus percalços, e a forma de percorrer
cada estrada da vida, mas os pais não podem conduzir o filho
por essa via, nem impor ou forçar algo, podem apenas ob -
serva-lo de longe e deixar que ele caminhe por si mesmo.

O terceiro ponto é igualmente importante e tem relação com o


segundo. Ele diz que os pais jamais devem resolver algo para
os filhos, mas deixar que os filhos solucionem seus problemas
por si mesmos. Muitos pais veem seus filhos numa situação
difícil e sentem -se impelidos a resolver para o filho, fazer por
ele, decidir algo para que o filho não decida, solucionar um
enigma para que o filho não precise ter trabalho em encontrar
uma solução. Ninguém deve duvidar que essa atitude impede
o desenvolvimento dos filhos e cria indivíduos acomodados,
apáticos, dependentes e por vezes tiranos, que exigem que
os pais sempre façam aquilo que lhe cabe fazer. Nesse âm -
bito é essencial deixar o filho o mais livre possível para resol -
ver seus problemas, ainda mais os problemas criados por ele
mesmo. Por outro lado, colocar algum peso de responsabili-
dade neles desde cedo ajuda em seu amadurecimento. Fa zer
tudo por eles, ao contrário, atrasa seu desenvolvi mento e cria
indivíduos paralisados e inaptos para a vida.

O quarto ponto, mas tão importante quanto os anteriores, nos


fala da nossa condição espiritual como pais. Vamos entender
isso com calma, pois esse ponto é muito importante. Do ponto
de vista espiritual, pode-se dizer que não há pais e filhos, mas
apenas espíritos em evolução. Todos devem saber que o
papel de pai, o papel de mãe e o papel de filho são apenas
isso: papéis humanos. Não são realidades do plano espiritual,
são apenas condições biológicas do corpo físico e rela ções
afetivas humanas. Isso significa que, no mundo espiritual, não

172
há pai, mãe ou filho, há espíritos parceiros, almas afins, seres
espirituais que se amam e se ajudam, onde um contribui para
a evolução do outro. Dentro da teoria da reen carnação, os
papéis humanos podem se inverter de uma vida para outra.
Isso significa que numa vida um espírito pode ser pai e na
vida seguinte pode ser filho. Numa vida um espírito pode ser
mãe e na outra irmã. Numa vida pode ser filho e na outra pai,
e assim por diante. Essa alternância de papéis mostra que os
filhos nem sempre foram nossos filhos, podem ter sido nossos
pais, avós, irmãos, amigos, ou podemos nem mesmo tê-los
conhecidos em vidas passadas. Por isso, todos devem enten -
der que dentro da realidade espiritual, que é a única ve rda-
deira, não há papéis, há apenas espíritos, seres dotados de
uma essência divina que busca por si mesma. Quando espí-
ritos encarnam na mesma família como pai, mãe e filho, na
realidade não há pai, mãe e filho, há apenas espíritos parcei-
ros que buscam juntos evoluir e se aproximar de Deus, reali-
zar o propósito divino em si mesmos, despertar espiritual -
mente para a realidade cósmica. Por isso se diz que não há
pai e mãe, pelo simples motivo de que o único pai é Deus, e
todos nós somos seus filhos. Sim , somos filhos de Deus, e
não somos filho, pai, mãe, avô, avó. Somos todos irmãos,
pois todos são filhos de Deus. Deus é o único pai ou mãe
celestial.

O quinto ponto diz que ninguém deve acreditar que os pais


são os únicos que devem orientar os filhos. Es sa é uma ideia
equivocada e limitada. Muitas vezes os filhos ensinam muito
mais os pais do que os pais ensinam os filhos. Aqui não há
uma hierarquia paterna e materna, mas como já dissemos,
uma parceria espiritual. Há filhos que são espíritos mais evo -
luídos ou bem mais evoluídos que os pais. Hoje em dia isso é
uma realidade cada vez mais evidente. Algumas crianças que
vêm nascendo neste mundo são espíritos missionários, seres
de luz, que vem ao seio de uma família mais para ensinar do
que para aprender. Portanto, a verdade é que os papéis hu-
manos são ilusórios e, fundamentalmente, todos somos espí-
ritos em parceria evolutiva, onde no labora tório familiar,
aprendemos o ABC das lições da eternidade.

O sexto ponto fala de duas questões que estão en trelaçadas.


A primeira é que os pais muitas vezes projetam nos filhos
aquilo que desejaram para si mesmos e conquistaram, ou não

173
conseguiram alcançar durante suas vidas. A segunda é que
os pais frequentemente reproduzem a criação dos seus pró-
prios pais nos filhos, e assim uma espécie de onda de erros
familiar vai sendo disseminada de geração em geração, até
que alguma das gerações resolva interromper o ciclo e não
crie os filhos com os mesmos erros com que foi criado. Essas
são duas questões importantes e que o pai e a mãe deveriam
sempre refletir. É preciso muito cuidado para não agir com os
filhos da mesma forma que nossos pais agiram conosco ou
cair no extremo oposto, que também é um grande erro. Por
exemplo, se um pai teve uma educação rígida, ele pode pas-
sar ao filho essa mesma educação fria e endurecida. Mas
também pode cair no oposto e dar uma educação libertina,
onde os filhos podem tudo e vivem sem qualquer limite. É pre-
ciso tomar cuidado para não tentar se curar da edu cação que
recebemos com os exageros do outro extremo. Por outro
lado, não devemos jamais misturar nossos dese jos com os
desejos dos nossos filhos. O pai pode ser militar, mas não
necessariamente é melhor para o filho seguir seus passos e
entrar para o exército. Uma mãe pode ter casado virgem, mas
não necessariamente o melhor hoje para sua filha é também
casar-se virgem. Nesse sentido, os pais devem sempre res -
peitar as es colhas dos filhos e procurar evitar ao máximo
projetar neles seus próprios desejos realizados ou não
realizados. Muitos pais frustrados, que não conseguiram o
que almejaram na vida, podem exigir que os filhos sigam por
um caminho que não é o dele, mas sim o caminho que o pai
queria trilhar, e não o fez. Um pai que dese java ser atleta e
não realizou esse sonho pode tentar se realizar através do
filho. Esse é um erro considerável, que pode prejudicar muito
o jovem em desenvolvimento e desvia-lo de seu caminho.
Nesse terreno, é preciso muito cuidado para não projetar nos
filhos nossos próprios desejos e respeitar sempre sua parti-
cularidade e identidade.

O sétimo ponto diz respeito à forma de educar os filhos. Não


apenas as crianças, mas também os adultos nos ouvem e nos
respeitam mais pelo nosso exemplo do que pelas nossas
palavras. Ninguém pode ter res peito ou querer seguir alguém
que ensina uma coisa, mas não é o exemplo daquilo que
prega. Filhos seguem muito mais o nosso exemplo do que os
nossos ensinamentos. Isso significa que, se você deseja
transmitir uma mensagem ao seu filho, ensine mais com se u

174
modo de ser do que com suas palavras. Os filhos co meçam
seu aprendizados através da imitação e o primeiro modelo
que eles têm acesso são seus pais, que começam sendo
seus heróis, idealizados e cheios de poder. Esse é o mo -
mento em que os filhos estão mais receptivos a influência
positiva ou negativa dos pais. Se o pai não é o exemplo da -
quilo que ensina, suas lições terão muito pouco impacto nos
filhos, mas se o pai ou a mãe é o modelo daquilo que deseja
ensinar, as palavras são dispensáveis, pois o exemplo já
traduziu tudo o que seria necessário dizer.

175
SOLIDÃO

Por que a vida nos coloca em situações de soli dão, a ponto


de nos sentirmos sozinhos e amargurados com tudo?

Em primeiro lugar, ninguém nunca está sozinho. Por mais


isolada que uma pessoa esteja, no alto das mon tanhas do
himalaia, ela sempre conta com a presença de seres espiritu -
ais zelando por ela e auxiliando sua missão na Terra.

Quando expandimos nossa consciência, passamos a ter um


contato sutil com outros seres, sejam humanos, animais,
vegetais, minerais, seres espirituais, etc, de modo que temos
a companhia de todo o cos mos junto a nós. Somente sente-
se sozinho quem se isolou em consciência e passou a viver
dentro dos limites do seu ego, vendo apenas as suas neces -
sidades, e não o coletivo, ou a vida universal a que pertence-
mos.

A solidão é muito mais um sentimento do que uma rea lidade:


uma pessoa pode sentir-se só dentro de uma multidão, e
outra pode sentir-se em comunhão com todos isolada no local
mais inóspito que se possa imaginar.

Quem se abre para a vida não se sente só; quem se fecha


dentro de si mesmo, e vive trancado em suas próprias de -
mandas, desejos, crenças e expectativas, esse sim vive soli -
tário.

Ninguém está verdadeiramente s ozinho, as pessoas é que se


sentem sozinhas por terem construído barreiras que teriam
como objetivo as proteger da vida. Essas muralhas as impe -
dem de ver a vida, de comungar com os seres e as coisas, a
viver e experimentar tudo, a entrar em sintonia com os múlti-
plos níveis de realidade.

Por analogia, um bilionário pode sentir-se só dentro de sua


mansão, mas sua solidão nada mais é do que o isolamento
que ele mesmo provocou em decorrência do medo de sair e
enfrentar o mundo como ele é. Ele optou em viver a ilusão do
seu conforto enquanto milhões de pessoas passam fome,
dormem no chão e sofrem. Ele procura ficar alheio a tudo e

176
viver numa ilusão que ele mesmo criou. Quem vive alheio ao
seu próximo inevitavelmente cai na solidão.

O medo de perder a sua riqueza o fez proteger-se dentro de


seus bens, mas como é de conhecimento geral, a riqueza não
protege ninguém, ao contrário, muitas vezes cria mais pro-
blemas, e um deles, e o mais frequente, é a solidão. Obvia-
mente esse exem plo não serve apenas para quem se isola
nas riquezas materiais, mas também para aqueles que se
isolam usando como escudo qualquer desejo humano, qual -
quer máscara, qualquer crença arraigada. Dentro disso entra
principalmente a vaidade, o orgulho e o egoísmo.

A solidão pode ser resolvida com a abertura de nossa consci-


ência para a vida, e com a renúncia de se viver apenas para
nós mesmos.

Por outro lado, há pessoas que gostam de se isolar, e outras


que detestam ficar sozinhas. Essas últimas pa rece que não
conseguem estar apenas com elas mes mas. Isso muitas
vezes pode caracterizar uma fuga de si, uma tentativa siste -
mática de não parar, olhar para nosso interior e nos reconhe -
cer como somos. Há pes soas que terminam um relaciona-
mento e já vão logo entrando em outro.

Períodos mais ou menos longos de solidão podem ajudar as


pessoas a se encontrarem, e organizarem sua mente, e a
sentirem mais a si mesmas sem a influência de ninguém. Os
momentos de solidão podem nos ajudar a nos dissociarmos
da carência e da falta em relação a outros.

Muitos precisam se isolar após um relacionamento para fica -


rem um tempo consigo mesmos e novamente passarem a ser
apenas o que elas são. Em relacionamentos longos, muitas
vezes as pessoas podem se despersonalizar, e se tornar
aquilo que o outro espera de nós. Também podemos ceder
em nosso modo de ser em diversos aspectos, a ponto de
quase deixarmos de ser nós mesmos em benefício de uma
relação a dois. Por esse motivo, um tempo longo de solidão
após um relacionamento pode ajudar cada um a se despren-
der e se limpar de tudo isso.

177
Há uma frase de Fernando Pessoa que diz “Para sermos
dois, é necessário ser um”. Isso significa que para vivermos
uma relação é preciso que ambos sejam uma individualidade,
e não uma fusão de dois em um, numa massa despersonali-
zada comum.

Para finalizar, a vida nos coloca em situações em que nos


sentimos solitários para que possamos ficar co nosco mes-
mos. O objetivo é ficar mais tempo consigo mesmo e melho -
rar nosso autoconhecimento.

Por isso que muitos mestres es pirituais procuram os locais


mais isolados para meditar. Jesus ficou 40 dias e 40 noites no
deserto a fim de conseguir elevar sua consciência e encontrar
a verdade dentro dele. O isolamento, quando bem praticado,
pode trazer muitos benefícios para a alma humana.

178
MEDO DE PERDER

Um rapaz estava namorando uma jovem, mas no fundo, essa


jovem só estava interessada em seu dinheiro. Muito rico, o
rapaz adorava a menina.

Apesar de trata-la como uma princesa, ela o es nobava e só


aceitava sua companhia na medida em que ela podia usufruir
de seu patrimônio e sua riqueza.

O tempo passou, e todos a volta do rapaz, parentes e amigos,


o alertavam sobre essa situação. A mãe dizia:

– Filho, largue essa moça. Ela só está interessada em seu


dinheiro.

– Mas eu gosto dela mãe, e não quero perdê-la.


Seus amigos diziam a mesma coisa:

– Meu caro, essa garota não gosta de você de verdade, ela


só gosta de dinheiro.

– Mas eu gosto dela, e não quero perde-la, reafirmava sem -


pre o rapaz.

Sua irmã mais velha, vendo aquela situação, também entrou


no coro alertando:

– Você está deixando de aproveitar uma parte importante de


sua vida por causa dessa menina.
Acorda irmão!

– Mas eu gosto dela. E não quero perde-la. Insistiu o rapaz,


repetindo a mesm a frase.

Num outro dia, o rapaz estava andando na rua, pen sando


seriamente sobre seu relacionamento, e sem pre lhe vinha o
mesmo pensamento, o de que “não queria perde -la”.

Passando por um homem maltrapilho na rua que distri buía


panfletos, o homem aproximou-se e entregou ao rapaz uma
folha de papel com alguns dizeres. O homem, um religioso
que convidava as pessoas para o seu templo, costumava

179
entregar as pessoas folhetos com ensinamentos de vida,
lições e provérbios.

O rapaz pegou o folheto, leu, e sentiu-se tonto, quase des -


maiou. O homem o interpelou perguntando se ele estava
bem. O rapaz ficou alguns minutos parado, pen sando, com
olhar distante, e disse ao homem.

– Muito obrigado. O senhor abriu a minha mente.

– Isso acontece algumas vezes. Dis se o homem, com um


sorriso no rosto e com a alegria de quem havia entendido que
cumprira sua missão do dia.

No dia seguinte, o rapaz marcou um encontro com a jovem.


Logo que os dois se encontraram, a jovem disse:

– Então, hoje eu estava a fim de ir ao s hopping comprar uns


vestidos novos, sapatos e outras coisinhas. Depois pensei em
passearmos com seu carro pela cidade, e irmos para um hotel
de luxo. O que acha?

O rapaz olhou profundamente nos olhos da jovem e disse:

– Tenho uma ideia melhor. Hoje decidi que não viverei pelo
medo de perder, mas pelas infinitas possibilidades que a vida
a todo momento nos oferece. Não há motivo para eu conti -
nuar nessa prisão. Estamos terminando aqui nosso namoro.
Tome, isso é para você (O rapaz entregou o folheto a jo vem).

A jovem ficou chocada com a atitude do rapaz. Nunca o havia


visto tão confiante. Depois que o rapaz foi em bora, sem olhar
para trás, a jovem abriu o folheto e viu escrito:

“Não se pode perder algo que nunca nos pertenceu.”

180
EGOÍSMO HUMANO

Há mais de 50 anos, na Índia, um guru estava con versando


com um grupo de pessoas numa comunidade. Ele estava
falando sobre o egoísmo que reina no coração humano, e que
é muito raro de se encontrar em alguém a verdadeira ajuda
ao próximo.

Uma senhora, dos seus 50 anos, levantou-se e disse que isso


não era tão raro assim, pois ela mesma tinha uma preocupa -
ção sincera com seu filho. Tanto era as sim que ela sempre
dizia para seu filho não beber, não ficar comendo besteiras e
se cuidar. “Penso exclusivamente no bem dele e não no
meu”. O guru ponderou dizendo:

– Mas nesse caso você está pensando no seu bem estar e


não no bem estar dele.

A senhora rebateu o guru e disse: – Não meu senhor, eu me


preocupo exclusivamente com ele. Inclusive para ele não
morrer. – O guru então perguntou:

– Mas se ele morrer, qual é o problema? Se ele morrer, ele


vai ao plano espiritual, permanecer em espírito num plano
mais elevado do que a matéria. Estará melhor do que nós que
estamos aqui nesse mundo de caos. O que há de mal nisso?

A senhora respondeu:

– Mas se ele morrer, eu vou sofrer muito com sua morte.

O guru então concluiu dizendo:

– Observe o que você acabou de me falar. Você disse que se


ele morrer, você vai sofrer e esse é o maior problema. Então,
na verdade, você está mais preocupada com o seu sofri-
mento, e não com ele.

A senhora ficou em silêncio com essa resposta. O guru con -


cluiu:

– Procure entender que o ser humano age dessa forma: no


final das contas, quase tudo o que ele faz é visando algum

181
benefício pessoal ou então para evitar algum sofrimento para
si mesmo. A compaixão autêntica e pura, que busca ajudar o
outro sem pensar em qualquer recompensa pessoal, é tão
rara quanto os diamantes no subsolo. Prestem atenção nisso
e sempre procurem verificar o que, lá no fundo, nós estamos
querendo evitar. Em quase todos os casos, almejamos algum
interesse pessoal ou a fuga de algum transtorno para nossa
vida.

Somente quando nada do que fazemos no bem pode nos


beneficiar ou nos atingir, nos fazer ganhar ou p erder, é que
estamos de fato no caminho do amor verdadeiro.

182
OBRIGADO PROFESSOR

Um homem foi conversar com um mestre para entender um


fato estranho. O homem pediu uma explicação ao mestre,
dizendo:

– Mestre, existe uma pessoa do meu convívio que sempre me


tira do sério. Essa pessoa consegue pro vocar o que há de
pior dentro de mim. Como devo proceder diante disso?

O mestre olhou para o homem e respondeu:

– Você deve dizer, “obrigado professor”.

O homem ficou sem entender nada e perguntou:

– Como assim tenho que dizer “obrigado professor”?

O mestre respondeu:

– Sim… Uma pessoa que consegue provocar aquilo que


existe de pior dentro de ti é alguém que contribui no seu auto-
conhecimento. Ele desperta algo que es tava lá no fundo,
oculto em seu interior, mas que você tentava camuflar. Ele te
ajuda a reconhecer e trabalhar dentro de si esse seu lado
sombrio. Essa pessoa é, na realidade, um professor para
você, mesmo que ele não saiba disso. Ele te ajuda a perce ber
e clarear algo que, sem ele, você não era capaz de enxergar.
Portanto, na próxima vez que o vir e que ele novamente des -
pertar o que há de pior em você, agradeça as lições que ele
vem trazer revelando o que reside numa esfera pro funda de
sua mente.

183
EDUCAÇÃO E LIMITES

Um menino de sete anos estava brincando na rua, como


sempre fazia todos os dias. Num dado momento, ele briga
com um coleguinha e bate nele, o que faz o ou tro menino
chorar. A mãe do menino que bateu ouve os gritos, vai ao
local e pega seu filho. No entanto, ela não fala nada ao seu
filho, não o repreende e nem aponta seu erro, mas simples -
mente se omite.

Alguns meses depois, o menino bate em outras cri anças, e


mais uma vez a mãe não fala nada e nem o corrige.

Anos depois, o menino toca a campainha das casas na vizi-


nhança. A mãe não toma nenhuma atitude e finge que nada
viu.

Anos depois, o menino joga lama na porta das casas dos


vizinhos e sai correndo. A mãe, como sempre, se omite e não
educa seu filho.

Anos depois, o menino já era um rapaz, um adoles cente de


17 anos. Ele brigou com um colega de sua turma. Após um
tempo, chamou amigos e todos se juntaram para espancar
seu colega da escola. O rapaz fica todo ensanguentado. O
rapaz chega em casa meio machucado com a mão com san -
gue. A mãe, como sempre, finge que não vê.

Alguns anos depois o rapaz começa a praticar pe quenos


roubos. A mãe vê objetos de valor dentro de casa, mas não
pergunta ao filho a procedência deles. Ela desconfia dos
roubos, mas nada faz.

Meses depois, o rapaz tenta roubar a carteira de um homem.


O rapaz agarra a carteira e puxa com força, mas o homem
era bem forte, e segura firme a carteira. Ambos começam
uma briga. No entanto, o homem era um policial, que saca
seu revolver e, sem titubear, dá três tiros no rapaz. Ele é
levado às pres sas ao hospital. Sua mãe chega, e vê que seu
filho está com a vida por um fio…. e chora muito. Uma hora
depois, o filho morre, e a mãe morre em vida.

184
Sempre que um pai ou uma mãe ensinam, desde a tenra
infância aos seus filhos, noções de respeito aos semelhantes,
ela não está protegendo as outras pes soas dos seus filhos.
Ela está, principalmente, protegendo seu filho dele mesmo, e
de tragédias iminentes futuras.

Ensine aos seus filhos a lição de vida mais importante de


todas: o respeito a outros. Caso contrário, a destrui ção que
ele causa ao seu redor, no seu meio, pode ser apenas o pri -
meiro passo para a destruição de sua própria vida.

185
MEDO DA SOLIDÃO

Era uma vez uma jovem chamada Priscila.

Priscila era um pouco diferente das outras adoles centes da


sua idade. Gostava de coisas diferentes, como poe sia, pintura
e literatura antiga. Gostava de vestir-se num estilo clássico, e
tinha aversão a qualquer traço de moda contemporânea.
Tinha pensamentos e ideologias que destoavam de sua gera-
ção. Por esse motivo, as adolescentes de sua idade a iso -
lavam, e ela acabava por se sentir um pouco sozinha.

Certo dia, Priscila conheceu um rapaz que passou a gostar,


mas o rapaz a rejeitou, dizendo que ela tinha um jeito muito
estranho de ser. Nesse dia, Priscila chorou muito, e decidiu
que agora iria se ajustar a sociedade. Entrou de cabeça no
mundo do consumismo e decidiu que não queria mais ficar
sozinha. Passou a comprar roupas, utensílios, tudo qu e é tipo
de coisas que pessoas de sua idade usavam.

Depois de 1 mês vestindo-se e usando coisas que eram co-


muns a média dos adolescentes, Priscila começou a ser mais
notada, e logo se entrosou com a turma da escola e do clube.
Teve que se adaptar a conversas, passeios, e compras que
não a agradavam, mas pelo menos, ela estava, pela primeira
vez em sua vida, sendo percebida como alguém normal e
sendo respeitada como ser humano.

O tempo passou, e Priscila sentia-se triste. Estava contente


de ter se juntado a outras meninas, mas sentia um vazio que
não sabia explicar. Era um sem número de roupas, revistas
da moda, programas de TV, boates, músicas, etc, que ela
veio a aderi, mas nada disso a satisfazia. Priscila parou, e
procurou entrar dentro de si e tentar descobrir como estava se
sentindo. Percebeu que essa tentativa de se adaptar ao meio
atual a fizera mais triste e solitária do que em tempos anterio -
res. Sentia-se um objeto que tentava ser humana, e não um
ser humano que utilizava objetos. A condição de ter havia
sobrepujado a condição de ser. Tudo que ela consumira havia
apagado, sufocado, distorcido seu interior num mar de futili-
dades.

186
Priscila chorou, chorou, e se arrependeu de um dia ter rene -
gado a sua essência em detrimento de ajus tar-se ao gosto da
média de suas colegas. Após profunda reflexão, ela pensou:

“Mudei meu modo de ser e tentei me ajustar a sociedade para


ser aceita, tudo isso por medo da solidão. Mas depois de
passar por tudo isso percebo que a maior solidão está em
renunciar aquilo que somos e viver num mundo de aparên -
cias. Na tentativa de fugir da solidão e se encaixar dentro de
algo que não somos, nos sentimos ainda mais solitários, pois
abdicamos de quem somos. Jamais abrirei mão do que sou
por medo da solidão e da não aceitação. A verdadeira solidão
está em abrir mão daquilo que temos lá no fundo, lá dentro de
nós, a nossa real essência.”

Priscila jogou fora tudo que tinha adquirido nesse período de


tentativas frustradas de adaptação, e voltou a ser como era
antes. Mais uma vez ela podia sentir sua própria essência, e
agora, não sentia mais qualquer resquício de vazio e a soli -
dão.

187
O REFLEXO DE SI MESMO

Uma mãe e um filho adolescente moravam juntos, mas não


se davam bem. Viviam brigando pelos menores motivos. A
mãe dizia que o filho era preguiçoso, não queria estudar, e
não fazia nada direito. O filho acusava a mãe de ser ausente
e de várias outras coisas. Com o tempo as brigas foram se
intensificando cada vez mais, até que estava se tornando
quase insuportável a convivência de ambos. O filho ofendia a
mãe, e a mãe, nervosa, acabava também por ofende-lo, e
ambos chegavam a ficar dias sem se falar.

A mãe começou a sentir-se cada vez pior. Sentia uma angús -


tia imensa tomando conta de si. Cogitou enviar o filho para
ser criado com a irmã, mas sentiu que isso não daria certo.
Após uma semana de longas e profundas brigas, a mãe fez
uma fervorosa oração pedindo a Deus que lhe desse uma
explicação sobre a razão de tantas brigas. “Senhor, me diga,
por que não consigo conviver bem com meu filho?” falou em
oração.

Era noite, a mãe resolveu deitar-se, pois teria um dia de tra-


balho bastante árduo assim que acordasse. Quando o sol
estava começando a nascer, meia hora antes de acordar para
ir ao trabalho, sentiu-se leve e começou a sonhar. Estava no
meio de um campo de trigo imenso, e subitamente apareceu
um anjo luminoso que se aproximava dela.

– Por favor, venha comigo. Quero mostrar-lhe algo relacio-


nado ao seu filho, disse o anjo.

A mãe, entendendo que Deus havia captado suas súplicas,


não pensou duas vezes e foi junto com o anjo.

Chegaram num local meio escuro e pesado. Havia um espe -


lho bem bonito e grande no centro.

– Veja sua imagem neste espelho, disse o anjo.

A mulher aproximou-se do espelho, esperando ver sua pró-


pria imagem refletida, mas viu a imagem de seu filho no lugar.
Tomou um grande susto e derramou muitas lágrimas. Então
perguntou ao anjo:

188
– Mas o que isso significa? Por que estou vendo a ima gem do
meu filho refletida neste espelho, ao invés de minha própria
imagem? Perguntou.

O anjo respondeu:

– Essa é a resposta para as brigas e confusões entre você e


seu filho. Vocês são muito parecidos em ten dências e com -
portamentos, e seus defeitos são quase os mesmos. Quando
você briga com seu filho, está vendo nele o próprio reflexo de
todos os defeitos que você procura ocultar de si mesma. O
mesmo ocorre com ele. Um é o reflexo do outro, vocês com -
partilham de quase os mesmos defeitos e os dois atacam -se
pelo defeito que ambos pos suem. Mas Deus, em sua infinita
sabedoria, colocou duas pessoas tão se melhantes juntas,
para que pudessem, em parceira, ver a si mesmas uma na
outra, e dessa forma, reconhecerem seus defeitos e ajuda-
rem-se mutuamente a resolver suas principais imperfeições.
Não brigue com seu filho pelas mesmas deficiências e falhas
que guardas em teu interior. Resolva tuas más inclinações, as
brigas cessarão e vocês poderão voltar a viver em paz.

189
O VENENO DA SERPENTE

Um homem estava acampando numa floresta com sua es -


posa. A mulher resolveu ficar na cabana, enquanto o homem
adentrou na mata visando explorar melhor o local. Era uma
selva vasta e densa, com uma flora variada e muitos animais.

Em dado momento, o homem já cansado de caminhar, resol-


veu sentar-se alguns minutos embaixo de uma imensa árvore.
De repente, sentiu uma forte picada em sua perna. O homem
pulou de susto e viu uma cobra fugindo pelos arbustos. O
homem olhou para o local da picada e viu que havia uma
mordida profunda em sua pele. Lembrou-se do formato da
cobra e percebeu que, de fato, era uma espécie vene nosa.

O homem ficou preocupado, mas ao mesmo tempo lhe veio


uma intensa raiva da serpente. Decidiu que iria procura -la até
que a encontrasse, para mata-la, e depois retornaria ao
acampamento para tomar o antídoto. Movido por intensa raiva
pelo animal que destruiu sua viagem e pôs sua vida em risco,
o homem embrenhou-se em mato bravio buscando resquícios
da serpente.

Passados 5 minutos, ele começou a sentir-se fraco e perce-


beu que o veneno estava fazendo efeito muito rapidamente,
mais do que esperava. Lembrou-se então de ter lido numa
enciclopédia que naquela região existe uma espécie rara de
serpente cujo veneno é capaz de matar um ser humano em
apenas 10 ou 15 minutos. O homem, bem enfraquecido,
resolveu retornar ao acam pamento. Assim que chegou, es -
tava quase se arras tando no chão e pediu a esposa o soro
antiofídico. A esposa, muito preocupada, foi velozmente pro -
curar a substância, mas já era tarde… O homem morreu, ali
mesmo, vítima de um veneno rápido e letal. A esposa caiu de
joelhos e ficou muito transtornada, chorando sobre o corpo do
marido.

A maioria das pessoas que foram maltratadas por ou tras


pensam e agem tal como esse homem. Primeiro elas querem
se vingar daqueles que as fizeram mal, para somente depois
deter-se em cuidar do “veneno” das feridas que está dentro
delas. No entanto, é preferível cuidar das feridas interiores ao
invés de ficar se preocupando em vingar-se de nosso algoz.

190
Caso contrário, o veneno do ódio, da mágoa, do trauma, da
dor e do desconsolo pode, muito rapidamente, nos adoecer e
devastar nossa vida interior.

Por isso, não se importe com a “cobra” que te picou, deixe ela
de lado… Cuide apenas do “veneno” das emoções negativas
que ficaram dentro de você e que, em breve, podem matar a
sua alma.

191
TRATANDO COMO ESPÍRITO ETERNO

(Este conto é baseado em um caso real)

Uma mulher, já de meia idade, estava muito desgas tada em


seu casamento. Conforme os anos foram pas sando, seu
marido se tornara extremamente agressivo. Chegava em casa
do trabalho sempre de mau humor, irritado, e algumas vezes
embriagado. Frequentemente berrava, e exigia que sua es -
posa fizesse tudo para ele, mas ele quase nada fazia em
benefício dela. A vida sexual de ambos era pratica mente
inexistente. O casamento já estava por um fio e a mulher a
beira de um colapso nervoso. Foi conversar com um monge,
que diziam muito sábio, sobre sua situação. Ela explicou tudo
e o monge disse:

– Você tem duas opções. Ou separa-se dele ou pode fazer


uma coisa que vou orienta-la a fazer. Mas permanecer neste
casamento apenas por comodismo só vai causar mais mal
ainda a ambos.

A mulher refletiu por uma instante e disse:

– Sim, eu vou me separar, mas quero tentar uma última solu-


ção. Por favor, me explique o que posso fazer.

– Pois bem, disse o monge. Todas as pessoas pos suem um


lado egoísta, interesseiro, materialista, e um lado humano,
fraterno, elevado e divino. Suas brigas com ele demonstram
que você o está tratando como uma pessoa e exigindo dele
reações que só tocam seu lado inferior. Passe, a partir de
agora, trata-lo como um ser espiritual, como uma alma vivente
num corpo. Por mais que ele a trate mal, res ponda com amor,
com carinho, e faça as coisas que ele gosta. Inicialmente ele
pode ficar bem irritado com sua tranquilidade, mas in sista e
trate-o como seu coração desejar e não de acordo com seus
interesses terrenos.

A mulher sentiu-se tocada por estas palavras, e voltou a sua


residência. No mesmo dia a noite, preparou um jantar do jeito
que seu marido gostava, arrumou tudo, e aguardou ele che -
gar. Ao chegar do trabalho, ele estava um pouco embriagado,

192
e começou reclamando do serviço. A mulher, muito afetuosa,
pediu que ele se sentasse a mesa para comerem juntos.

O marido sentiu que algo estava diferente. Por algum motivo


se irritou, e começou a reclamar da esposa. Sua irritação
chegou a um nível tal, que ele arremes sou copos e pratos na
parede. A mulher, impassível e tranquila, ficou em silêncio, e
apenas recolheu os estilhaços de vidro do chão. Ele conti -
nuou aos berros com ela, mas a mulher nada disse, ficou
apenas ouvindo ele, com atenção, e disse:

– Meu amor, seja o que for que eu tenha feito contra você,
agora prometo melhorar. Eu te amo e quero seu bem.

O homem ficou bastante surpreso, e foi desarmado pela


reação amorosa de sua esposa. Ficou um pouco mais calmo,
mas mesmo assim, ainda sob o efeito da bebida, continuou
resmungando.

Nos dias e semanas seguintes ocorreu s ituações semelhan-


tes. O homem chegava estressado, irritado, e descontava
toda a sua raiva na esposa. A mulher sen tia-se muito mal,
irritada, mas sempre que sentia raiva, procurava acalmar-se e
não revidar no mesmo nível, mas ao contrário, seguia as
orientações do monge, que sugeriu que o tratasse não como
personalidade humana, mas como um espírito eterno, uma
luz em desenvolvimento na matéria. A mulher então continuou
tratando-o amorosamente, ouvindo-o, dando afeto e transmi-
tindo paz a ele, mesmo em meio a gritos, acusações, recla-
mações e agressões verbais.

Mais uma semana se passou e a mulher preparou um jantar


impecável para o marido. E mais uma vez o marido chegou
estressado do trabalho, mas dessa vez um pouco mais tran -
quilo. Sentou-se a mesa aborrecido com algo. Ele a tratava
com irritação e ela sempre devolvia a agressão com palavras
amorosas e tranquilas. Passou-se um tempo, e ele estava
agora em silêncio. Permaneceu em silêncio por quase meia
hora durante o jantar. De repente, olhou para b aixo, e come-
çou a chorar copiosamente, soluçava de tanto chorar… es -
tava em prantos profundos. A mulher estava espantada com
tudo aquilo, pois quase nunca o havia visto chorar em 30
anos de casamento. Então ele disse:

193
– Meu Deus! O que eu fiz esse tempo todo com você? Você é
uma mulher maravilhosa e eu não percebi isso em todo esse
tempo. Estive te tratando muito mal, gritando, te criticando,
cheguei até a te agredir fisicamente, mas você não merece
nada disso. Você é uma pessoa muito boa e estou muito
arrependido de ter feito isso. Peço que me perdoe.

Nesse momento, a mulher também desatou a chorar. Ambos


se abraçaram forte e ficaram cerca de dez minutos chorando
abraçados. A partir deste dia, seu marido tonou-se uma pes -
soa bem diferente. Ainda sentia o estresse do trabalho e
ainda conservava um pouco de irritação, mas a qualidade da
vida do casal melhorou muitíssimo e o matrimônio foi salvo.
A mulher foi conversar com o monge e contou como tudo
ocorreu. Ela então perguntou ao monge:

– Mas por que ele mudou assim? Como eu consegui trans -


forma-lo?

O monge respondeu:

– É bem simples. Você se desligou do nível de sua personali -


dade humana, e passou a trata-lo como um espírito eterno,
uma alma universal que passa por experiências humanas.
Você acessou esse nível dele, com amor e paz, e ajudou-o a
despertá-lo. No momento em que você o tratava como ser
espiritual, e não como homem terreno, você permitiu que sua
própria alma se expressasse, e não seu ego limitado. Sempre
que regamos uma plantinha com água e sol, ela desabrocha.
A alma humana precisa ser regada com amor e luz, e igual -
mente ela desabrocha.

194
DECEPÇÃO COM AS PESSOAS

Há muito tempo, havia um monge diferente dos demais. Ele


não permanecia trancado no mosteiro apenas fazendo ora-
ções. Sempre que suas obrigações lhe permitiam, ele fazia
longos discursos sobre a importância de que diminuírem as
injustiças sociais entre as pes soas. “Não há justificativas nas
escrituras para a exis tência de homens ricos e homens po-
bres”, dizia ele.

Após algum tempo de pregação, multidões compareciam aos


seus discursos, e isso começou a preocupar os poderosos da
região. Os ricos temiam uma revolta popular e a perda de
seus bens.

Resolveram então que seria melhor calar o monge.


Um grupo de comerciantes muito ricos ofereceram propina ao
líder do mosteiro onde o monge vivia, e pediram que o expul-
sasse de lá. O líder se deixou levar pela cobiça e pediu ao
monge que se retirasse.

Mas o monge não desistiu, reuniu um grupo de aju dantes,


que também eram monges, e começou a cons truir um outro
mosteiro. Os comerciantes então ofereceram rios de dinheiro
aos monges, que se vergaram ao poder material e largaram
suas tarefas, abandonando o monge.

O monge então resolveu tocar sozinho a construção do n ovo


mosteiro e continuou suas pregações por justiça social. Certo
dia foi cercado por um grupo de brutamontes que o espanca-
ram até deixá-lo prostrado no chão, desacordado.

O religioso precisou de alguns dias para se recupe rar, mas


logo que o fez continuou a construção do mosteiro e voltou a
fazer suas pregações. Quando o mosteiro estava quase
pronto, os comerciantes contrataram pessoas da região para
tocar fogo na cons trução, e assim ocorreu.

O monge viu, com lágrimas nos olhos, seu mosteiro ser qu ei-
mado, fruto de tanto trabalho. Decidiu, no entanto, que iria
construir outro mosteiro, e começou colocando a primeira
pedra.

195
Um homem, que já acompanhava o monge desde o início,
ficara espantado com sua persistência. Resolveu então falar
com o monge.

– O senhor foi expulso do seu mosteiro e traído pelo seu líder,


seus pares também o traíram e abandonaram, o senhor foi
agredido e teve seu novo mosteiro queimado por pessoas da
região que deveriam apoia-lo… e no entanto, continua firme
em seu propósito de ajudar. Após tantas traições o senhor
não se decepciona com as pessoas?

O monge respondeu:

– Não… Eu não me decepciono, por que eu não es pero nada


das pessoas. Eu não guardo nenhuma expectativa em rela-
ção a elas. Se eu esperasse algo das pessoas, sem dúvida já
teria me frustrado muito, e não poderia continuar este traba -
lho. Mas como nada espero dos outros, jamais me frustro.
Quanto mais uma pessoa cria expectativas de qualquer tipo,
maior é a sua frus tração. Não esperar nada de outrem é con-
dição essencial para se viver e fazer o bem.

196
O PAPEL DE SALVADOR

É muito comum de se encontrar, nos dias de hoje, pes soas


que sofrem do terrível vício do papel de “salvado ras”. Muitas
vezes, o papel de salvador bloqueia nossa vida de tal maneira
que o resultado acaba sendo a depressão. Salvador é todo
aquele que quer ajudar os outros em excesso. É aquele que
se oferece ou se doa demasiadamente a outros, e a par tir
desse comportamento surge uma série de problemas. Vamos
entender melhor neste artigo no que consiste o papel de sal -
vador e o que cada pessoa pode fazer para se libertar dessa
tendência. Explicaremos tudo em tópicos curtos para que as
ideias se tornem mais acessíveis e objetivas.

Em primeiro lugar, o “salvador” é todo aquele que vive mais a


vida dos outros do que a sua própria vida. Ele se preocupa
mais com o que acontece com outras pes soas do que consigo
próprio. Ele pensa muito na vida dos filhos, na vida dos pais,
na vida dos irmãos, na vida dos familiares e na vi da alheia do
que em suas próprias questões. Não apenas pensa mais na
vida de outrem, como busca agir de forma a auxiliar, instruir,
beneficiar ou amparar os outros em muitas situações diferen -
tes. Com esse comportamento, o salvador passa a ser ape-
nas um espectador da própria vida, fica apenas assistindo sua
existência passar diante dos seus olhos, e não mais participa
dos principais eventos, posto que passou a viver apenas
pelos outros.

A maternidade sempre foi um terreno fértil para a expressão


do papel de salvador. É muito comum ver mães reclamando
dos filhos, alegando que se sacrificaram por eles, e que de-
pois os filhos não reconheceram os esforços feitos. Quantas
mães passam a viver apenas para ajudar seus filhos?

Quantas mães procuram sempre evitar a todo custo que seu


filho se prejudique pelos seus próprios atos? Quantas mães
visam superproteger os filhos e coloca-los numa redoma de
vidro? Quantas mães bus cam fazer pelos filhos aquilo que
cabem apenas a eles próprios? Esse comportamento atrasa a
vida de ambos, bloqueia o desenvolvimento do filho e torna a
mãe insatisfeita com a sua vida.

197
Aqui podemos adiantar que os salvadores sempre es peram
por um reconhecimento que não pode nunca preencher a
lacuna que eles mesmos deixaram em suas vidas. Esse vazio
foi criado pela perda das melhores partes de nossas vidas
que se esvaíram enquanto estávamos mais preocupados em
viver a vida dos outros. É certo que, quem vive a vida do outro
acaba perdendo a sua própria vida, e a consequência dessa
escolha não poderia ser outra senão a frustração e um senti -
mento de perda de si mesmo. O salvador não vive com os
outros, ele vive em função dos outros. Toda a sua vida se
encaminha, se organiza e se programa para a resolução dos
conflitos alheios.

O salvador sempre presta essa ajuda de forma bas tante exa-


gerada, e muitas vezes é uma assistência não solicitada.
Todos deveriam ter consciência de que só é possível amparar
uma pessoa quando esta reconhece que tem um problema e
quando pede nossa ajuda. Quando alguém não sabe que tem
um problema, ou mesmo não quer melhorar, de nada adianta
insistirmos no auxílio a essa pessoa. Só é possível resolver
algo quando há a percepção de um problema. Se a pessoa
não reconhece o que tem como um problema, talvez a melhor
saída seja permitir que ele sinta na pele as consequências de
seus atos. Por outro lado, ninguém pode ajudar eficazmente
uma pessoa quando esta se nega a fazer algo por si mesma.
O salvador é “especialista” em se meter na vida dos outros e
encontrar brechas para im por sua visão das coisas. Como o
salvador perdeu o controle de sua própria vida, ele deseja
conquistar o controle da vida dos outros.

Outra característica do salvador é suas constantes tentativas


de resolver a vida de alguém de tal forma que a pessoa não
precise fazer nada ou quase nada para se melhorar. O salva -
dor cultiva a crença de que é pos sível uma pessoa solucionar
os problemas da outra, mas obviamente essa ideia é total -
mente falsa. Ninguém pode fazer pelo outro aquilo que só
cabe a ele fazer. E aqui entra outra característica do salva dor:
o desejo de que outras pessoas fiquem depen dentes dele.
Muitas vezes a ajuda prestada pelo salvador visa preparar o
terreno para que seja criada uma relação de dependên cia
entre salvador e a pes soa “salva”. A atitude de salvador
acaba sendo, para algumas pessoas, uma forma de se con -

198
quistar poder, ou de instituir uma relação de ordem e mando.
“Eu te ajudo, mas você deve fazer o que eu quero”.

Um dos artifícios muito utilizados pelo salvador é o jogo da


culpa. Em alguns casos, o salvador fica ressaltando ao outro
“o quanto o ajudou”; “o quanto ele melhorou”; “o quanto ele se
sacrificou por ele”; “o quanto ele precisa dele”; e obviamente
“o quanto ele lhe deve por isso”. O salvador deseja atenção,
afeto, carinho, além de outros ganhos psicológicos. Muitas
vezes o salvador pode alegar que “não quer nada em troca”,
mas isso pode ser mais um artifício, até mesmo inconsciente,
para ser reconhecido pelos outros pelo seu desprendi mento,
e assim, quando o salvador precisar, alguém também possa
vir em seu auxílio e também se “sacrifique” por ele. Fica claro
que o salvador faz para o outro sempre esperando algo em
troca. Ele fica sempre na expectativa de algo que as pessoas
nunca vão lhe dar, o reconhecimento de sua bondade. Essa
sensação de ser taxado como uma pessoa “boa” alimenta seu
ego, e ao menos por alguns instantes ele se sente alguém
importante, que fez a diferença na vida de outros. O senti -
mento de autoimportância pode ser uma forma de compens ar
uma vida bastante desinteressante, sem graça e cheia de
decepções. O salvador pode não se sentir relevante ou inte -
ressante, e por isso ele neces sita que os outros digam que
ele foi importante na vida deles para que, somente assim, ele
possa sentir seu valor.

Um fato que precisa ser exposto aqui é uma faceta preponde -


rante da dinâmica psicológica de algumas pessoas que ves -
tem a capa do salvador. É certo que, muitas vezes, uma pes -
soa que apresenta uma bondade um pouco exagerada pode
conter dentro de si ao menos alguns resquícios de uma raiva
reprimida. No entanto, o salvador repele essa raiva e a vê
como algo terrível e vergonhoso. Ele pode se enxergar como
sendo “bom demais” para conter aquela raiva. Por esse mo -
tivo, para que essa raiva ou mágoa não se sobressaia, ele se
dedica a provar a si mesmo que é bom, e nesse sentido,
precisa de todas as formas demonstrar a si mesmo e a outros
o quanto é bondoso, altruísta, caridoso e solidário.

A insegurança e a falta de autoestima do salvador muitas


vezes podem leva-lo a tentar compensar tudo isso com a
percepção de que é alguém muito benevolente. Nesse pro-

199
cesso, ele pode tentar compensar a baixa estima com um
complexo de superioridade. Essa inclusive é uma caracterís -
tica muito comum de pessoas arrogantes e soberbas. Muitas
delas, lá no fundo de si mesmas, são pessoas inseguras,
frustradas e cheias de fraquezas, que visam ocultar esses
atributos sob a capa da soberba, com a crença do “eu sou
melhor do que você” ou principalmente “Ele não é tão bom
como parece”.

Nesse sentido, o salvador também possui um com plexo de


superioridade, mas como ele encara como bastante difícil
sentir-se melhor pela via do mérito pessoal, ele tenta sentir-se
superior pela via de uma suposta benignidade. Ele pensa “sou
melhor porque sou uma pessoa boa e ajudo os demais”.

O salvador quase sempre vê os outros como ingratos, posto


que ele sempre acredita que merecia mais elo gios e mais
reconhecimentos pelo seu trabalho em prol de alguém. Como
muitas vezes os outros não o reconhecem, ele fica sempre
com a impressão de que o outro não agradeceu o suficiente,
ou que o outro pensa apenas em si mesmo. O salvador sem -
pre acredita que o outro é muito egoísta e autocentrado para
reconhecer os bons feitos praticados por ele. Nesse sentido, o
salvador vive sempre frustrado, pois ele faz algo visando o
reconhecimento, o agradecimento, e o status de “bom”.

O salvador ajuda os outros também para tentar moldar o outro


a sua vontade de como o outro deve ser, mas faz isso sempre
exalando o agradável perfume das melhores intenções do
mundo. O salvador tenta fazer o outro acreditar que suas
intenções são puras e cristalinas, e caso ele cometa algum
erro, isso não tem valor, pois sua intenção era boa e isso que
importa. Com essa atitude, o salvador procura algumas vezes
se isentar de qualquer responsabilidade no auxílio pres tado.

O papel de salvador é muito frequentemente encon trado em


religiosos fanatizados por suas crenças. Alguns fiéis podem
se comportar como verdadeiros salvadores no trato com ou-
tras pessoas a fim de seguir a risca seus dogmas religiosos.
O salvador religioso acredita que, caso ele seja uma pessoa
boa e caridosa, seu lugar estará bem guardado no céu, ou ele
conquistará um bom karma para na próxima vida evitar o
sofrimento desta. Algumas vezes os salvadores religiosos

200
fazem uma negociata com Deus pensando, até mesmo de
forma inconsciente “Deus, eu ajudei fulano de tal, agora você
me ajude em tal situação”.

Existem muitos salvadores em diversas profissões, principal-


mente nas profissões relacionadas a saúde e ao bem estar
humano. Médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes soci-
ais, terapeutas, etc, são muitas vezes vítimas de sua própria
neurose salvacionista. Estes podem acreditar que precisam
de todas as formas salvar, curar e ajudar outras pessoas, e
sofrem quando não conseguem seu intento. Aqui tam bém
existe um sentimento de superioridade incons ciente que nos
convence de que só seremos bons profissio nais se conse-
guirmos ajudar todas as pes soas em todas as condições, o
que obviamente é fantasioso e irreal. Esse instinto salvacio-
nista das profissões acomete principalmente jovens recém -
formados que querem mostrar serviço e se firmar como pro-
fissionais bem sucedidos e com boa reputação.

É muito comum também encontrarmos homens que querem


salvar mulheres e assim obterem benefícios juntos a elas, e
também mulheres que acreditam serem capazes de ajudar os
homens, principalmente maridos ou namorados cujo relacio -
namento não vai bem. A esposa pode fantasiar-se salvando o
marido de algum mal que ele possua, e assim evita enxergar
que o problema não está no marido em si, mas sim no relacio-
namento de ambos ou mesmo nela. Querer salvar o outro
pode indicar uma covardia em não admitir que nosso casa -
mento acabou e em tomar a decisão devida com o divórcio,
ou o fim do namoro. Muitas mulheres se enganam de que os
parceiros podem ser salvos para evitar um término indesejado
o qual elas por medo tentam de todas as formas evitar.

Fica claro que o papel de salvador é um completo atraso de


vida. Nele se confunde altruísmo com covardia, caridade com
desejo de superioridade, auxílio com mimo e superproteção,
prestar a ajuda necessária com “resolver” a vida da pessoa. O
salvador fica encarcerado no desejo de evitar sua própria vida
tomando parte na vida dos outros, e assim perde aquilo que é
essencial: ele mesmo.

201
O MAL ESTÁ SEMPRE NO OUTRO?

Sempre vejo algumas pessoas dizerem que precisam “prote -


ger” seus filhos, seus pais, seus irmãos, ou seus amigos d os
males que existem no mundo. Como se a pessoa que esti -
véssemos protegendo fosse sempre a vítima de algum mal
que sempre lhe vem externamente, mas nunca é gerada por
ela própria.

A questão é bem mais profunda, pois o ser humano quer


sempre acreditar que o outro é o mal e que nós somos os
bons. Querem acreditar que devem proteger seus filhos, que
são bons, do mundo, que é mal; protegerem a si mesmos dos
perigos do mundo, quando na verdade o perigo está dentro
de nós; querem proteger o familiar das más companhias,
quando na realidade é nosso familiar que busca es pontanea-
mente as más companhias, pois se identifica com elas e de-
seja algo que elas ilusoriamente podem dar.

Esse é um dos problemas das pessoas: acreditarem sempre


que o mal é externo; que o mundo é mal e nós somos as
vítimas de um mundo cruel. Nada mais ilusório, pois o mal
que nos vem de fora é sempre atraído pelo mal que está
dentro de nós, seja ele originário do nosso karma, seja origi-
nário de nossos desejos de bus car o mal acreditando que é
algo bom. É preciso parar de acreditar que somos “puros”, e
que é a sociedade que nos corrompe, nos degrada, nos in -
sere o mal sem nossa participação.

Quem pensa assim está se iludindo seriamente e pre cisa


rever sua visão de mundo. É melhor adm itir nossos defeitos,
nossa maldade e admitir que somos nós mesmos os criado -
res do nosso mal… Quando nós, nossos filhos, nossos ir -
mãos, nossos pais, etc, passam por um problema, um sofri -
mento, mesmo que provocado por outra pessoa, esse pro-
blema, sofrimento ou mal não vem de fora, mas é atraído pelo
mal que carregamos dentro de nós em estado potencial, den-
tro do grau evolutivo do nosso espírito. Portanto, é preciso
que cada pessoa vivencie as trevas para, ela mesma, buscar
a luz…

Não dá para proteger uma pessoa das trevas que ela guarda
em seu próprio íntimo. Não temos poder e nem devemos

202
retirar uma pessoa das provas que ela precisa atravessar,
pois são essas provas que purificam seu espírito.

203
O QUE É IMPORTANTE EM SUA VIDA?

Ronaldo namorava uma menina há 5 anos. Ela era muito


companheira, amável e sempre dizia o quanto gostava dele.
Certo dia, Ronaldo conheceu uma mulher muito bonita e
atraente num grupo de amigos. Ela começou a se insinuar
para Ronaldo e ambos acabaram ficando e fazendo sexo.
Passado algum tempo, a namorada de Ronaldo descobriu a
traição, ficou arrasada e o deixou. Ronaldo chorou copiosa -
mente e sentiu que havia perdido a grande compa nheira de
sua vida. Ronaldo percebeu que por causa de uma noite de
sexo jogara fora uma grande oportunidade de ser feliz com
uma pessoa que lhe era muito especial. Ronaldo não soube
valorizar o que era importante em sua vida: uma moça tão
gentil, inteligente, amorosa… e só depois descobrir o quanto
a amava.

Patrícia e Ricardo se divorciaram e começaram a brigar na


justiça pela posse de seu patrimônio. Am bos não conseguiam
se entender sobre qual patrimônio iria para quem e como
ficaria a guarda de seus filhos. O ex-casal passou anos bri-
gando na jus tiça por patrimônio, pela guarda dos filhos e por
pensão alimentícia. Tudo isso causou problemas psicológicos
sérios nos filhos. Além disso, levou am bos a períodos de
muito estresse e exaustão. Tanto ele quanto ela cultivavam
raiva e mágoa um do outro e não s e perdoavam pelas brigas
e desentendimentos. Patrícia e Ricardo perderam a paz, a
tranquilidade, traumatizaram os filhos e ainda mantinham
dentro de si muitos sentimentos que acabaram por se trans -
formar em doenças. Nenhum dos dois soube valorizar o que
realmente era importante em suas vidas: seus filhos, sua
integridade física, emocional e muito importante… sua paz.

Dois irmãos, Pedro e Marcelo, tiveram uma briga feia há al -


guns anos. Eles discutiram muito e acabaram se agredindo
por algo que foi apenas um mau entendido. Um deixou de
falar com o outro durante muito tempo. Toda essa situação
deixou a família muito triste, acabou dividindo a todos e cau-
sou um mal estar generalizado. Após 2 anos, Pedro foi atro-
pelado e levado às pressas ao hospital. Marcelo, sabendo do
ocorrido, sensibilizou-se com o acidente do irmão e desejou
ardentemente pedir perdão por tudo e retomar a convivência
fraterna que ambos sempre tiveram antes da briga. Assim que

204
chegou ao hospital, Marcelo recebeu a notícia de que Pedro
havia falecido. Marcelo caiu de joelhos e mergulhou num
profundo sofrimento. Ficou se culpando por remoer uma briga
sem sentido durante tanto tempo. Gostaria de poder voltar
atrás e dizer ao seu irmão o quanto o amava, mas agora era
tarde. Marcelo não soube valorizar o que era importante na
sua vida: o amor que tinha pelo seu irmão.

Roberto era um adolescente que passava boa parte do seu


tempo vendo televisão e jogando videogame. Saía com os
amigos e constantemente ficava bêbado. Vivia em festas, em
boates, bebendo, fumando e às vezes usando drogas ilícitas.
No período do vestibular, Ricardo estava totalmente despre-
parado, pois não estudara o ano inteiro. Fez a prova e não foi
nada bem. Logo que o resultado saiu, percebeu que muitos
dos seus conhecidos passaram na universidade e ele foi
reprovado. Perdeu todo o ano e seu pai disse que ele teria
que começar a trabalhar, pois eles eram pobres e Roberto
teria que ajudar com as contas da casa. Roberto não soube
valorizar aquilo que realmente era importante em sua vida, e
perdeu tempo com futilidades e superficialidades que nada
acrescentam.

Pare por um minuto e pense como você está guiando a sua


vida. Você está cultivando brigas, confusões, dis putas, rixas,
tudo motivado pelo orgulho, preconceito, prazeres quiméricos,
etc… ou está dando valor aquilo que realmente importa… a
paz, aos seus irmãos humanos, a boa convivência, ao conhe-
cimento, a fé e ao amor?

Não perca seu tempo com aquilo que não tem nenhum valor,
que nada vai te acrescentar; algo que nada mais é do que um
reflexo do seu ego. Passe a valorizar aquilo que é realmente
importante…

Faça uma reflexão sobre o que é realmente significa tivo e


relevante em sua vida… e não deixe mais isso em segundo
plano por conta de ego, vícios e prazeres quiméricos.

205
QUEM É O OBSESSOR?

Muitas pessoas religiosas acreditam em espíritos ma lignos,


demônios e obsessores.
Essas seriam entidades espirituais que podem nos prejudicar
e sugar nossas energias.
No entanto, muitas vezes nós mesmos somos os obsessores
das outras pessoas.
Somos os obsessores quando desejamos fazer pre valecer
nossas ideias e impor nossas verdades a ou trem.
Somos os obsessores quando criticamos, julgamos o conde -
namos o outro sem pleno conhecimento de causa.
Somos os obsessores quando temos ciúme e queremos obter
a posse do outro.
Somos os obsessores quando batemos o pé e força mos o
outro a seguir a nossa vontade.
Somos os obsessores quando exigimos que o outro faça por
nós algo que nos cabe fazer.
Somos os obsessores quando desejamos vencer uma discus-
são, instituir nossas verdades e firmar nosso ponto de vista.
Somos os obsessores quando burlamos o livre arbítrio alheio
e o fazemos trilhar o caminho que nós julgamos correto.
Somos os obsessores quando tentamos ajudar sem no s pre-
ocupar no que é melhor para o outro, mas sim seguindo ape -
nas o que nós acreditamos ser o melhor.
Somos os obsessores quando desejamos comprar o afeto
das pessoas com presentes, regalias, benesses e mimos,
esperando sempre algo em troca.
Somos os obs essores quando não permitimos que o outro
cresça, se desenvolva, para não se tornar melhor do que nós.
Somos os obsessores quando fazemos tudo pelo ou tro e não
permitimos que ele faça, erre e aprenda sozinho.
Somos os obsessores quando vomitamos um longo falatório
desordenado e fútil acreditando que o outro tem obrigação de
nos ouvir.
Somos os obsessores quando não damos espaço para o
outro, o prendemos, o sufocamos, podamos seus movimen -
tos, cobramos, oprimimos, sem permitir sua independência.
Somos os obsessores quando acreditamos que o outro deve
corresponder aos nossos padrões, nossos mode los, nossa
religião, nossos costumes, nossas crenças e nosso ideal de
ser.

206
Somos os obsessores quando geramos milhares de conflitos,
discórdias e desunião, quando criamos confusão, intrigas,
fofocas e distorcemos a realidade para prejudicar o outro.
Somos os obsessores quando dissemos uma coisa ao outro e
fazemos outra, enganando, omitindo e dissimulando.
Somos os obsessores quando vivemos reclamando e acredi -
tamos que o outro tem obrigação de aguentar nossas lamú -
rias.
Somos os obsessores quando elogiamos para mani pular,
louvamos para enganar, enchemos o ego do outro para con -
fundi-lo a fazer o que queremos.
Somos os obsessores quando fazemos do outro a nossa vida
e depois ficamos magoados quando ele se afasta deixand o
um buraco em nosso peito, um vazio existencial e uma pro-
funda infelicidade.
Procure a vida em ti mesmo. Não seja mais um obsessor do
outro.
Não dependa de ninguém para ser feliz. Não fique su gando
as pessoas.
Não acredite que o obsessor é sempre o outro…
Há sempre algo de obsessor em nós mesmos.

207
O ÚLTIMO ABRAÇO

Um homem havia acabado de morrer repentinamente num


acidente de carro. Ele subiu ao céu e se colocou diante de um
Anjo do Senhor. Esse anjo recebia as almas recém chegadas
no céu.

O homem resolveu pedir ao anjo que concedesse ape nas


mais um momento com sua família, pois gos taria despedir-se
de sua esposa, de seus filhos e de seus pais, já velhinhos,
assim como de seu irmão que muito amava.

O anjo olhou o homem com amorosidade e disse que esse


pedido não poderia ser aceito por Deus.

O homem ficou muito bravo com o anjo. Ele disse: “É absurdo


Deus não nos conceder apenas mais alguns minutos com as
pessoas que amamos. O amor não é algo divino? Por que
não podemos amar nos últimos momentos e despedir-nos de
todos? Isso me parece uma injustiça.”

O anjo, mais uma vez com olhar amoroso, disse:

– Meu filho… Se Deus sempre concedesse últimos momentos


para abraçarmos, dar carinho e nos des pedirmos de nossos
entes queridos e amigos que ficaram na Terra, isso acabaria
contribuindo para que nós não os valorizássemos enquanto
ainda estão vivos, pois sempre teríamos um momento último
para finalmente valorizar e amar. Observe bem isso, meu
filho, pois é na própria vida física onde devemos abraçar
aqueles que amamos, dar-lhes o devido valor e, principal-
mente, ama-los como se fosse a primeira e a última vez que
fôssemos vê-los. É isso que Deus espera de nós.

Você valoriza aqueles que ama, ou vai esperar a morte para


isso? Dê agora mesmo um abraço em alguém que você ama
como se fosse o primeiro ou o último, pois nunca sabemos
quando nós ou eles iremos embora.

208
MIMAR OS FILHOS

Queria falar uma coisa relacionada a super proteção dos pais


em relação aos filhos. Esse é um tópico muito delicado, pois
muitos pais, mesmo sabendo dos danos que os filhos podem
sofrer com os mimos, ainda assim incorrem nesse erro tão
grave.

O filho que recebe durante boa parte da vida a su perproteção,


os mimos, é colocado numa cúpula de vidro e é sempre pre -
servado do enfrentamento das adversidades do mundo de-
senvolve sérios problemas em conseguir se virar e se assumir
no futuro. Vejo muito no consultório, aqui no facebook e pes -
soas que me contam milhares de casos por e-mail de filhos
que têm imensa dificuldade de seguir na vida por conta de
terem sido mimados quando eram crianças e adolescentes
pelos pais.

Vejo muitos casos de pessoas que tiveram superpro teção na


infância e adolescência e ao completar 17, 18, 19 ou 20 anos,
e não conseguem iniciar sua vida. Quando conseguem, tem
sérios problemas em se adaptar ao mundo do trabalho e das
responsabilidades. Muitas vezes tornam -se pessoas sem
limites, com pouca noção de regras de convivência. Podem
ter também problemas de relacionamento, pois internalizaram
a ideia de que o outro sempre deve fazer tudo para ele, sem -
pre se acham com a razão, e acreditam que o mundo deve
servi-lo. Tornam-se pessoas egocentradas, preocupando-se
na maioria das vezes apenas com suas necessidades básicas
e imediatas. Ao primeiro sinal de dificuldade, não con seguem
seguir em frente e ficam bloqueadas. A primeira crise na vida
parece tão grave que os paralisa. Alguns chegam a culpar os
pais e a sociedade pelos seus problemas. Podem também
vitimizar-se sistematicamente, e não assumir a responsabili-
dade sobre si mesmos. As marcas da superproteção tendem
a continuar pelo restante de suas vidas, e são raros os casos
de pessoas que conseguem se libertar dessa situação sem
reflexos.

Já cansei de ver pais sentindo uma culpa profunda por obser-


varem seus filhos na idade adulta totalmente dependentes,
sem iniciativa, acomodados e até acreditando que todos de-
vem servi-lo. Crianças mimadas serão jovens e adultos sem

209
limites, sem noção do outro, sem senso social e coletivo.
Muitos dos dramas pessoais vividos por jovens e adultos tem
sua origem nos mimos e na superproteção. Até mesmo casos
de violência praticados por jovens são um reflexo de uma
educação voltada para mimos, paparicos e vontades sempre
satisfeitas. A verdade que esses pais não que rem enxergar é
que filhos mimados estarão muito menos preparados para en-
frentar os desafios da vida, ao passo que a criança cujos pais
deram alguma responsabilidade, não foram protegidos e
tiveram que se virar sozinhos desde cedo se tornam indiví-
duos mais maduros, mais aptos, mais compassivos, mais
corajosos, mais humildes, mais respeitadores e claro, mais
felizes. Os pais precisam dar oportunidade aos filhos se de -
senvolverem. A maioria dos pais mima os filhos por uma
carência pessoal, um apego, algo que os pais sentem que
lhes falta, e querem tentar encontrar isso nos fi lhos… Mas
isso nunca acontece… a carência permanece e os filhos são
imensamente prejudicados pelas nossas carências, nosso
apego e nosso vazio.

A questão dos mimos é muito séria, mais do que a mai oria


das pessoas pensa. O pai ou a mãe que superprotege seus
filhos não tem ideia do mal que está lhe causando. Vejo al -
gumas pessoas dizendo que não cons eguem ser diferentes,
não conseguem não mimar, pois amam muito seus filhos. É
preciso enfatizar que os mimos nada têm a ver com amor e
sim com apego. Quando superprotegemos ou fazemos todas
as vontades do nosso filho, colocando-o numa cúpula de
vidro, não o estamos ajudando em nada, ao contrário, esta-
mos prejudicando eles seriamente. Os filhos só amadu recem
enfrentando sozinhos as adversidades da vida. Se os pais
dão mimos, fazem as vontades, não os corrigem, não os
educam, não im põem limites e os s uperprotegem, as crianças
crescerão sem noção de limites, sem senso do outro; cres -
cerão cheios de si mesmos, cheios de vontades, sem percep -
ção do próximo e sem respeito pelo semelhante. Eles pensa-
rão sempre primeiro em si mesmos e terão dificuldade de se
colocar no lugar do outro.

Amar não é de forma alguma fazer todas as vontades do filho,


mas sim prepara-lo para a vida. Quem ama, educa; quem
ama, ensina; quem ama, corrige; quem ama, ensina os valo -
res básicos da vida humana; quem ama, ensina o re speito

210
pelo próximo; quem ama, ensina o respeito pela sociedade;
quem ama, ensina que o ter não é mais importante que o ser.
Ou como diz a máxima: quem ama ensina o valor das coisas
e não o seu preço. Quem ama ensina que o dinheiro é um
instrumento do viver, e não a finalidade principal da vida.
Quem ama ensina principalmente a solidariedade e não o
egoísmo. É importante deixar que os filhos façam as coisas
sozinho, assim como é imprescindível dar-lhe alguma respon-
sabilidade; mostrar a ele que a vida não segue nossa von-
tade; que para viver a vida é preciso ter esforço; é preciso
passar por provações; é preciso aprender a fazer sozinho; é
preciso aprender a lidar com as frus trações, com as derrotas,
com as perdas e com as decepções. Amadurecer é atraves-
sar as dificuldades com humildade, com a mente e o coração
abertos e sem se deixar afetar por elas. Se os pais apare cem
na hora da dificuldade e resolvem os problemas dos filhos, ou
fazem tudo por eles, os pais não permitem que a frustração
os tome; não permitem que o filho perca; não permitem que
ele sofra as consequências dos seus atos e sinta na pele o
efeito de suas escolhas. Dessa forma, não estamos criando
uma pessoa para a vida, estamos criando monstrinhos, tira -
nos, pessoas egoístas, abusadas e sem nenhuma base para
enfrentar a vida.

Não fique superprotegendo seus filhos. Você pode ter a im -


pressão que o está ajudando, mas cada mimo que você o dá,
cada vez que você tira sua mão da tomada evitando que tome
um choque; cada vez que você o retira de uma situação dolo-
rosa que iria lhe fornecer aprendizado de vida; cada vez que
você não impõe limites a ele; cada vez que você não o ensina
o senso de sociedade, de coletivo, e só o ensina o indi vidua-
lismo do conquistar apenas para si mesmo; cada vez que
você dá tudo que ele pede e não o frus tra com o que ele não
pode obter; cada vez que você deixa sua carência falar mais
alto e tenta comprar o afeto dele com presentes; cada vez
que você faz todos esses mimos diversos, você pode não
perceber, mas você está prejudicando imensamente seu filho,
impedindo que ele se desenvolva por si mesmo e encare a
vida como ela é. Olhando para o passado e vendo tudo o que
você como pai ou mãe fez, você vê claramente seus erros e
pensa que tudo poderia ser diferente se você tivesse um
maior desprendimento. Mas agora você, que é mãe ainda de
filhos pequenos já sabe, pode evitar cometer esse erro.

211
É tudo bem simples: se você não ensina e o protege, a vida
vai ensinar. É melhor que ele aprenda com você, no laborató -
rio do lar, onde ainda existe chance de errar e aprender. No
entanto, quando ele é impedido de aprender por causa da sua
proteção excessiva, a vida vai ensina-lo, de uma forma ou de
outra. E todos sabemos, a vida não ensina com o mesmo
amor. Portanto, ensine-o a ser independente e a respeitar as
pessoas. Deixe ele se virar, ele é um espírito livre e indepen -
dente. Ele tem capacidade de conseguir ven cer todos os
obstáculos que surgem, mas se você não permitir que ele os
vença, tudo será imensamente mais difícil para ele e para
pessoas de sua convivência.

212
O SÁBIO E A ÁRVORE

Há mais de um século, um menino de 9 anos de idade estava


passeando livremente num bosque e brincando sorridente em
suas flores e arbustos.

Continuou caminhando e percebeu que naquele local existia


uma imensa e majestosa árvore, com galhos bem largos, um
verde puro e muitos frutos. A criança olhou para a árvore e viu
que ela possuía um galho espesso a uns 7 metros acima do
solo. O menino logo imaginou que poderia colocar naquele
galho duas cordas e uma tábua para brincar de balanço. A cri-
ança ficou feliz com essa descoberta…

Dias depois, dois jovens namorados de 17 anos pas saram


pelo mesmo local no bosque e se depararam com a gigan -
tesca árvore. Ambos se entreolharam e decidiram que, abaixo
da fresca e vasta sombra daquela árvore, eles viriam sempre
ficar juntos e namorar.

Dias depois, um ladrão de 20 anos passava por ali. Avistou,


surpreso, aquela grandiosa árvore, com uma folhagem bas -
tante espaçosa. Pensou logo que aquela árvore poderia lhe
ser útil. A próxima vez que ele furtasse alguma coisa do po-
voado vizinho, ele poderia correr até aqui e se esconder em
cima da árvore, onde jamais o encontrariam.

Dias depois, um comerciante de 25 anos avistou a árvore de


longe. Observou que ela dava muitíssimos frutos. Eram espe-
ciarias de alto valor comercial. Por isso, cogitou retornar
àquele mesmo local, com uma escada bem alta e uma vara,
para extrair os frutos e vende-los em seu mercado.

Dias depois, um homem dos seus 35 anos passou pelo


mesmo local no bosque e viu a imponente e monu mental
árvore. Há muitos anos seu maior desejo era construir sua
casa, e logo que se deu conta da grandeza da árvore, com
seu tronco robusto, teve a ideia de derruba -la e erguer sua
residência com madeira.

Vários dias depois… um sábio, dos seus 60 anos, che gou ao


povoado. Ele estava peregrinando pelo local e contemplou
aquela sublime árvore. O sábio foi em sua direção e colocou

213
suas mãos sobre ela. Logo depois, abraçou a árvore e sen-
tou-se ao seu lado. Ficou um tempo meditando naquele lo -
cal… O sábio não pensou em como aquela árvore poderia lhe
ser útil; não pensou em como conseguiria tirar dela al guma
vantagem; não pensou em como seria capaz de lu crar com
ela; não pensou em como aquela árvore poderia servi-lo ou
lhe proporcionar algum ganho. Ele simplesmente via a árvore
como árvore, não via a árvore como algo relacionado a si
mesmo e suas necessidades. Ele contem plava aquele ser
vivo e o res peitava pelo que ele era. O sábio via a árvore
como árvore e nada mais…

Os seres humanos, de um modo geral, têm uma pos tura utili-


tarista em relação a tudo a sua volta. Seus primeiros pensa-
mentos são quase sempre de descobrir um modo de poder
tirar alguma vantagem, ou em como algo ou alguém podem
servi-lo. Muitas vezes, pessoas fazem isso com pessoas.
Relacionamo-nos com alguém e logo pensamos no benefício
que aquele indivíduo pode nos proporcionar. Não vemos a
pessoa como pessoa, mas vemos o proveito que podemos
retirar daquele convívio. O sábio não cultiva essa postura. Ele
vê algo e enxerga apenas esse algo; ele conhece uma pes -
soa e concebe apenas como uma pessoa. Ele não procura
fruir qualquer vantagem ou auferir qualquer benefício, e por
esse motivo, ele é muito m ais livre e feliz.

214
O AMOR É A SOLUÇÃO

Muitas pessoas não fazem ideia do poder que as energias


positivas, amorosas e pacíficas têm em suas vidas. Posso
dizer que já vi muitos casos de pessoas, situa ções e até do-
enças físicas se transformarem completamente graças a
energia do bem sendo enviada para o problema, pessoa ou
situação que nos aflige. Vamos contar rapidamente alguns
desses casos para ilustrar como funciona a energia do amor
em nossas vidas e como ela pode mudar tudo total mente.

Sempre que posso, procuro incentivar as pessoas a reagirem


amorosamente ao mal que lhes chega. Digo isso por dois
motivos: o primeiro motivo é que, quase sempre, o mal que
julgamos existir externamente a nós também se encontra
dentro de nós mesmos, em ebulição no nosso interior. Por
isso, quando irradiamos o bem ao outro, essas energias be -
néficas fazem bem, em primeiro lugar, a nós mes mos. Além
disso, o mal que nos chega externamente sempre vem com o
propósito de nos fazer enxergar e curar o mal que existe den-
tro de nós. O ser humano tem a costume de identificar o mal
sempre fora, e nem desconfia o quanto de impurezas carrega
em seu interior. O segundo motivo, como já dissemos. é que
as energias do bem, da paz, do amor, da compre ensão,
quando em anadas a algo ou alguém, tem grande poder
transformador, tanto de nós mesmos quanto do ambiente a
nossa volta e das pessoas.

Um dos casos que tomei conhecimento foi de uma moça que


trabalhava numa repartição pública e era severamente perse -
guida por sua chefe. Não importava estar certa ou errada em
suas tarefas, não im portava o contexto: a chefe sempre dava
um jeito de culpa-la pelo problema e de expor suas falhas
energicamente. A moça estava saturada com tudo aquilo e
muito raivosa com sua chefe. Ela m e contou essa história e
eu lhe aconselhei a tratar o problema de um modo diferente.
Ao invés de pensar na chefe com raiva, desejando pu lar em
seu pescoço sempre que a via, sugeri que ela começasse a
tratar sua chefe muito bem, de forma gentil, amorosa, i rradi-
ando luz, paz e tranquilidade a ela. Disse também que ela de -
veria, antes de dormir, mentalizar sua chefe e enviar energias
de amor, além de fazer orações pedindo tudo de positivo para
essa pessoa. Ela decidiu aceitar esse desafio e começou a

215
praticar tudo isso. O tempo passou… e, para sua grata sur-
presa, aos poucos a chefe começou a mudar sua atitude;
começou a trata-la melhor, a não mais persegui-la e até, em
algumas poucas ocasiões, passou a elogia-la em público. O
resultado foi surpreendente. Is so mostrou a essa moça que o
amor, quando canalizado de forma pura e desprendida, como
pregam os mestres das religiões, os santos e os avatares da
humanidade, tem de fato um grande poder transformador.
Projetar o amor, o bem e a paz ao outro; orar por ele, desejar
sua felicidade, pode realmente mudar nossa vida e a vida de
outras pessoas.

Tratar uma pessoa amorosamente; responder o mal com o


bem; não devolver irritação com irritação, calúnia com calúnia,
ofensa com ofensa, agressão com agres são, mas devolver,
isso sim, a irritação com a calma, a calúnia com a verdade, a
ofensa com o gentileza, a agressão com amor, é o melhor
meio de se neutralizar a negatividade e de dissolver todo o
mal. Aquele que recebe uma agressão e agride de volta, ou
fica com raiva do agressor, alimenta aquela energia, amplifica
o problema e planta as sementes da discórdia, da confu são e
nos degrada em espírito. No caso da perseguição da chefe, o
amor irradiado pela moça foi aos poucos mudando a vibração
de ambas, suprimindo o mal humor da chefe, inutilizando sua
cisma e transmutando qualquer resquício de cólera.

Casos como esse se repetem todos os dias e a solução é


mais simples do que a maioria pensa. Trata -se apenas de
responder o mal com o bem, a obscuridade com a luz, a raiva
com a tranquilidade, o ódio com amor. Há muitas outras situ -
ações de pais que fizeram o mesmo com os filhos e tudo
melhorou; filhos que passaram a responder amorosamente ao
padrasto e a situação se amenizou; parentes que se odiavam
e passaram a conviver em harmonia após um deles começar
a responder amorosamente e irradiar o amor ao outro. Tudo
isso é simples de ser feito e está ao alcance de todos.

Uma pesquisa realizada com monges tibetanos torturados


pelos militares chineses demonstrou o efeito benéfico do
amor e do perdão sobre o combate dos traumas, da raiva, da
mágoa, da depressão e de outros efeitos da tortura. Os mon-
ges tibetanos cultivam a crença de que a resposta amorosa e
compassiva é a melhor saída para lidar com nossos detrato -

216
res. O que aconteceu no Tibet com alguns monges foi o se -
guinte: no momento em que esses monges eram torturados
pelos soldados chineses, ao invés de sentirem ódio por eles,
de pensar negativamente sobre eles, ou de dese jar seu mal,
eles oravam e pediam que os soldados compreendessem o
mal que estavam realizando; mentalizavam que seu espírito
acordasse daquele sono de ilusão; pediam a inteli gência da
vida que os abençoasse e os fizesse bem, para que, assim,
eles encontrassem o caminho do bem. Anos após a tortura,
alguns psicólogos que analisaram o caso desses monges
chegaram à conclusão de que eles não apresentavam os
sinais clássicos do chamado TEPT (Transtorno de Es tresse
Pós-traumático), que é uma psicopatologia sofrida por pes -
soas que passaram por traumas intensos, torturas, acidentes
e outras circunstâncias emocionais limítrofes. Os psicólogos
concluíram que toda a mentalização positiva, amorosa e
compreensiva que es ses monges tiveram com seus algozes
os salvou de danos psicológicos gravíssimos após a tortura.
Isso mais uma vez nos demonstra que o amor, o perdão, a
mentalização da paz, da compreensão, tudo isso pode não
apenas transformar uma relação entre pes soas, mas também
nos proteger efetivamente contra os efeitos deleté rios do mal.

Ao longo de muitos anos trabalhando com terapia e aten -


dendo voluntariamente centenas ou milhares de pessoas que
já me procuraram presencialmente ou nas redes sociais para
resolver os mais diversos problemas, chego a conclusão de
que o amor é uma surpreendente solução para praticamente
tudo em nossa vida. Muitas pessoas acreditam que se dando
bem na vida poderão viver com amor e paz, mas a verdade é
exatamente o contrário: responder amorosamente, pacifica-
mente, de forma compreensiva e compassiva aos probl emas
é justamente o modo de se dar bem na vida e encontrar ainda
mais amor, mais paz e mais felicidade.

Aplicação Prática

A prática do amor, ou podemos chamar de “Amorte rapia”, é


muito simples, mas difícil de ser executada por algumas pes -
soas. A aplicação dessa mensagem consiste no seguinte:
quando uma pessoa estiver tomada pela ira, lançar-te brados
ofensivos, desferir agressões gratuitas, perseguir-te, enganar-
te ou lhe fizer qualquer tipo de mal, a primeira coisa a fazer é

217
não reagir da mesma forma. Trate a pessoa com bondade,
amabilidade, doçura e compreensão. Se a pes soa te ofender,
responda de forma amorosa dentro do contexto do diálogo; se
a pessoa te ferir e for embora, não pense nela com raiva,
indignação ou revolta, mas deseje seu bem, irradie energias
de paz e compaixão, ore por ela e peça a Deus que uma
chuva de energia divina caia sobre ela; pense o bem sobre
ela, pense amorosamente, deseje sua melhora; peça ao cos -
mos para abrir seus olhos; irradie pensamentos positivos e
elevados para essa pessoa.

Depois que fizer isso, atente para uma coisa muito im por-
tante: não espere por resultados, muito menos que eles ve -
nham rapidamente. Não pense que você pode mudar a pes -
soa, pois não temos esse poder, mas você poderá transfor-
mar a relação entre você e ela. Faça apenas a sua parte sem
esperar nada… Em algum momento a tendência é tudo ir
melhorando, não apenas na situação, mas você ficando mais
tranquilo e mais desprendido. Não desista… insista e confie
na perfeição divina.

Nada do que dissemos nesse texto é novidade para nossa


tradição ocidental cristã. Há mais de 2000 anos Jesus já havia
ensinado o que estamos transmitindo aqui. Jesus
disse: “Amai os vossos inimigos, fazei b em àqueles que vos
odeiam; b endizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos
caluniam” (Lucas 6:27,28). A partir de agora, é só colocar
esse princípio máximo do cristianismo em prática.

Deixe o bem, o amor e a paz inundarem sua vida. O resultado


será paz, felicidade e liberdade.

218
NÃO SE ANULE PELO OUTRO

Muitas vezes recebo casos de pessoas me contando o quanto


se anularam por uma ou mais pessoas.

É muito comum ver mães que se anulam completamente para


viver pelos filhos. A pessoa já não vive sua própria vida, mas
passa a viver a vida do seu filho. Ela praticamente se desper-
sonaliza, deixa de ser ela mesma, deixa de ter gostos pró -
prios, deixa de sentir a alegria de viver, e passa a viver ape -
nas segundo os ditames da vida do outro. Ela abdica de si
mesma e passa a existir apenas pelo outro. Vive em fu nção
do outro. Ela já não é mais ela mesma, mas passa a ser uma
sombra de seu passado, perdida dentro da carên cia e da
dependência em relação ao filho.

É muito comum que pessoas infelizes, que tiveram sérias


decepções na vida, passem a viver mais a vida do outro do
que a própria vida. Gosto de dar o exemplo da mãe que se
anula pelo filho porque esse é o caso mais emblemático
desse quadro. A pessoa vive um trauma, uma decepção, um
grande sofrimento e não consegue mais viver com alegria, de
forma desprendida, com vitalidade, nem consegue mais apro-
veitar sua existência. Ela não consegue mais ser ela mesma e
fica triste tentando resgatar a si mesma, perdida que está
num passado que não retorna mais. Quando ela não conse -
gue mais encontrar a si mesma, ela inconscientemente de-
siste dessa busca, e começa a se fundir em outra pessoa.
Isso pode ocorrer com parentes mais próximos, cônjuge e o
mais comum… com filhos.

A mulher que é infeliz, que não realizou seus sonhos, que não
fez na vida o que gostaria de fazer, que sente que sua vida é
insatisfatória, que não consegue mais ter esperança, ou que
entrou num quadro depressivo leve ou mediano, pode se
agarrar emocionalmente ao filho. Ela pode também sentir-se
solitária e pensar que o filho é a presença mais certa em sua
vida, pelo menos por um bom tempo. Quando o filho ainda é
criança, ele depende da mãe. Nesse caso, a mãe sente -se
mais confiante de se ligar emocionalmente ao filho, mesmo
que de forma neurótica, pois ela sabe que o filho não tem
para onde ir, não tem como abandona-la, é uma presença
certa por anos e anos em sua vida. Assim, ela passa a viver

219
em função do filho e deixa de viver a triste e solitária vida que
ela tinha. É também comum ver mulheres vivendo a vida do
marido e vice versa. Pas samos a experimentar a vida por
intermédio do outro e esquecemos de nós mesmos.

Vejo muitas pessoas, muitas mesmo, perdendo suas vidas


nesse processo. Passamos a viver a vida do ou tro, e esque-
cemos completamente de nós mesmos. Alguns podem pensar
que esse sacrifício de si mesmo para viver pelo outro é algo
positivo, nobre, sagrado, meritório, que enaltece nosso ser e
nos faz evoluir, mas não é. Esse é um grande engano, pois
viver em função do outro só atrasa nossa vida, nos paralisa e
nos faz sofrer. O outro passa a ser como um entorpecente.
Sem o outro, não somos nada. Sem o outro, temos dificul -
dade de ficar sozinhos, conosco mesmos. Sem o outro, nos
sentimos vazios. Sem o outro, nem sabemos direito como
continuar nossa vida. Muitos não conseguem se imaginar
vivendo sem a pessoa em questão, tal é o poder da simbiose
que experimentamos. Há pessoas que só em cogitar o tér-
mino de um relacionamento já sentem desespero, tristeza e
uma ausência de si mesmos. E quando a pessoa vai embora,
não conseguimos seguir nossa vida. Por isso acontece? Isso
ocorre por um motivo muito simples. Quem estava dentro de
nós era o outro, e não nós mesmos. O eu se retira para dar
espaço ao outro em nosso interior. Doamos tudo para o outro,
e não sobra quase nada para nós. Acreditamos q ue somos
tão essenciais ao outro que nos esquecemos de uma coisa
básica: A pessoa que mais precisa de nós, somos nós mes -
mos.

É importante também esclarecer que anular-se por alguém


não é sacrificar-se por amor, mas tão somente viver constan-
temente uma fuga de si mesmo e de uma existência infeliz e
solitária. Isso nada mais é do que uma dependência emocio -
nal, um vício, uma embriaguez de renúncia a nós mesmos.
Não há nada de virtuoso em largar quem somos para viver
viciado ou fixado em alguém. A verdadeira renúncia em favor
do bem se faz com todas as pessoas, sem distinção, sem
eleger escolhidos para destinar nossas boas ações.

O resultado dessa troca de nós mesmos pelo outro é muito


claro. Precisamos do outro para nos preencher; para vivermos
nossa vida. O outro passa a ser neces sário a nós, quase

220
como um vício, uma grave obses são. Mas quando o outro nos
falta, está ausente, ou não faz o que desejamos, queremos
imediatamente controla-lo, pois precisamos dele para viver. A
simbiose gera uma necessidade de controle que se manifesta
principalmente com cobranças, chantagens e manifes tações
de ciúme. É comum também a pessoa revestir-se do papel de
vítima, dizendo o quanto ela se “sacrificou” pelo outro; o
quanto já fez pelo outro e o quanto o outro não co nsegue
retribuir sua atenção. Por mais que o outro faça por nós,
nunca é suficiente, queremos sempre que o outro esteja cada
vez mais presente; que faça cada vez mais coisas; que nos
dê mais atenção, pois desejamos de todas as formas que o
outro supra nossas carências e tape nosso buraco interior. As
cobranças podem ser frequentes, assim como tentativas
sistemáticas de controlar as ações do outro. Já que nós não
conseguimos ser quem gostaríamos de ser, desejamos que o
outro seja por nós, tal como a mãe que deseja que o filho faça
medicina porque ela não conseguiu fazer e sente-se frustrada
por isso.

Aquele que está infeliz deve buscar maneiras de curar essa


infelicidade e restituir sua alegria de viver. Essa é a forma
correta de proceder. Fugir de seus problemas e evitar sua
própria realidade para ser pelo outro, respirar pelo outro,
experimentar a vida pela perspectiva do outro, não é saudá -
vel, não é natural, não é necessário, mas algo doentio que
precisa de tratamento.

Quem vive se anulando pelo outro deve rever profundamente


sua vida. A infelicidade é o destino inexorável daqueles que
seguem esse caminho. Não perca sua vida anulando a si
mesmo. Não viva pelo outro, viva por você. Cada pessoa vive
a própria vida. Nossa existência é caracterizada pela arte do
encontro e do convívio e não pelo escapismo e fraqueza da
fusão emocional no outro. Não caia nesse erro. Ninguém
pode ocupar o seu lugar a não ser você mesmo. Nenhuma
pessoa, por melhor que ela seja, é capaz de preencher o
vazio que ficou dentro de você. Esse vazio somente nós po-
demos resolver.

Se você está se anulando pelo outro, vivendo em fun ção do


outro, apegado ao outro, ou sua vida é toda direcionada a
alguém, reveja seus atos. Ninguém pode preencher a si

221
mesmo com alguém. Você é uma pes soa… Você não deve se
preencher com outra pessoa, caso contrário, você morre,
deixa de existir e o outro passa a existir em seu lugar.

222
O QUE OS OUTROS PENSAM DE VOCÊ

Não se preocupe com o que os outros pensam de você .


Deixe que eles pensem o que quiserem.
Não se martirize por isso.
Não podemos controlar a visão do outro sobre nós.
O que importa não é o que o outro pensa, o importante é o
que você é e o que você faz de você mesmo.
Se alguém quiser pensar, por exemplo, que você é um fra-
cassado, ou que você é um mau caráter, deixe ele pensar o
que quiser…
O que uma pessoa pensa sobre mim é um problema dela,
não meu…
O preconceito é dela, não meu…
A visão restrita é dela, não minha…
O julgamento apressado é dela, não m eu…
A condenação é dela, não minha…
Ela julga com o pouco que sabe.
E eu, por meu lado, posso fazer o melhor com o que eu sou…
Mas se você aceita a visão limitada do outro e passa a se
rotular por ela.
O limite do outro se transfere para você.
E você passa a ser aquilo que o outro projetou em você.
Por isso, não ligue para julgamentos, eles nunca estão corre -
tos.
Ninguém pode adentrar em nossa essência ou na inti midade
profunda de ninguém.
As pessoas veem apenas 0,1% do que somos e julgam com
base nessa apequenada percepção.
Também não fique tentando provar nada a ninguém.
Mesmo que você prove, ainda podem existir pessoas que te
desaprovam.
Por mais que você faça, ainda existirão aqueles di zendo que
você não fez o suficiente.
As pessoas não veem o que você é. Elas tiram o que você é
pelo que elas são.
Elas projetam em você aquilo que lhes convém, com base em
suas imperfeições.
Por isso, procure ficar em paz com sua própria consci ência,
ao invés de ficar de bem com a consciência dos outros.
Ninguém vive em paz pautando sua vida na opinião coletiva
sobre si mesmo.
Quando estamos de bem com nossa consciência mais pro-

223
funda, em nada nos afeta os pensamentos e os julgamentos
dos outros.
Quanto mais você se importa com o que os outros pensam de
você, mais você deixa de ser você mesmo.
Por outro lado, não deixe de ouvir os outros, de acolher uma
opinião daqueles que se importam com você.
Mas não se detenha ou se defina pela visão da maioria a seu
respeito.
Aceite as críticas de bom grado, sem se abalar com isso.
A verdade é que só você sabe sobre seu interior.
Portanto, faça o melhor que você pode, não para agra dar os
outros, mas para superar seus limites.
Seja você mesmo e seja feliz.

224
AMOR E ACEITAÇÃO

O ser humano costuma buscar diversas formas de se amar.


Ele quer ficar bonito para poder se amar
Ele quer ter conhecimento para poder se amar
Ele quer ganhar e vencer para poder se amar
Ele quer atingir seus sonhos para poder se amar.
Ele quer se sentir o melhor, ou um dos melhores, para poder
se amar.
Ele quer ser popular, ter muitos amigos e influenciar pessoas
para só assim poder se amar
Ele quer fazer tudo isso… Ele só não quer aceitar-se do jeito
que é.
Ele faz de tudo, menos o que precisa fazer, que é amar-se
sem precisar de nada para se amar.
O amor a si mesmo não pode ter “poréns”, nem pode ter “so -
mentes”.
Eu me amo, porém eu queria ser mais alto.
Eu me amarei somente quando eu passar no concurso.
Se eu não passar no concurso, eu vou me sentir pés simo, vou
me achar uma droga.
E assim, não conseguirei me amar.
Ele só se acha uma droga porque ele queria ser bom.
Mas ele só vai se sentir bem, quando sentir-se bem mesmo
quando tudo está uma droga.
Por isso dissemos que, no fundo, o ser humano não ama a si
mesmo.
Ele ama apenas o ideal que ele criou do que ele deveria ser.
Esse é um ideal que ele pretende atingir no futuro.
Mas o futuro nunca chega, assim como o passado nunca
pode ser resgatado… Pois só o agora pode chegar, só o
agora é real.
Por isso, quem quiser se amar e ser feliz, tem que se amar
agora.
Quem quiser se amar para se sentir bem precisa aceitar-se
do jeito que é.
Não adianta se amar e ficar tentando mudar algo em si
mesmo.
Aquele que deseja mudar algo em si mesmo, no fundo, não
se ama.
Quanto mais tentamos nos modificar, menos nos amamos.
E quanto mais nos aceitamos como somos, mais felizes se-
remos.

225
O ser humano só poderá ser feliz quando se amar de ver-
dade.
E só poderá amar seu semelhante quando amar a si mesmo.
Sem o amor próprio e sem a autoaceitação, não há amo r e
não há felicidade nem paz.
Amor a si mesmo nada tem a ver com se achar o máximo,
com cuidar do corpo e da beleza.
Isso é vaidade, não é amor a si mesmo.
Quem se ama, se aceita, não quer se mudar e gosta de si
mesmo pelo que é…
E não pelo que pode um dia vir a se tornar.
Aceite-se como você é… e assim, ame-se.
Ame-se sem tentar ser o que você não é.
Pois você só pode ser o que você é.
Não desperdice sua vida desejando ser um ideal criado que
vivemos perseguindo
Mas que nunca chega…
A felicidade na vida está em nos amar pelo que somos
E não pelo que acreditamos que deveríamos ser.
Esse é o caminho…

226
OBSERVANDO A VIDA

Um cachorrinho estava correndo bem rápido numa ruazinha


próximo a uma praça pública numa pequena cidade do inte -
rior. Algumas pessoas viram aquela cena engraçadinha e
começaram a comentar uns com os outros. Alguns tentaram
deduzir porque o cachorro estava correndo tanto.

Uma mulher carente, um pouco solitária, que terminara re -


centemente seu casamento, disse:

– Ele deve estar correndo para encontrar a outra cachorrinha


da cidade.

Um vagabundo que vivia na rua, cachaceiro, que não traba -


lhava por opção, disse:

– Ele está apenas curtindo a vida, desimpedido, pois não faz


nada e gosta de ser livre.

Uma moça rica, cheia de pompa e vaidade, que carregava


compras e gostava muito de conforto, disse:

– Ele está apenas correndo para buscar um lugar me lhor, um


local mais confortável, mais acolhedor. Ninguém gosta de
viver à mercê das circunstâncias, sem coisa alguma para s i.

Um homem medroso, sempre muito hesitante, que ha via


perdido várias oportunidades na vida e tinha fugido de várias
situações, disse:

– Nada disso… Ele deve estar fugindo de algum cão raivoso,


ou de algum perigo qualquer. Deve estar com muito medo de
algo.

Outras pessoas foram dando a sua versão do fato.


Cada uma delas tentava entender por que aquele ca chorrinho
estava correndo tanto na rua, no asfalto.

Um homem idoso e muito vivido, que diziam ser muito escla -


recido e sábio, passava por ali e pôde ouvir alguns dos palpi-
tes das pessoas. Ele virou-se para todos e disse:

227
– Que nada meus amigos. Observem como o dia está ensola-
rado, muito calor e o chão de asfalto está quente. Aquele
cachorrinho ali está apenas correndo para evitar a quentura
do solo. Suas patinhas estão queimando…

De fato, o cachorro chegou na grama e, logo parou de correr.


Aliviado, sentou-se e pôde finalmente descansar.

Na vida precisamos sempre tomar cuidado para não projetar


na realidade os nossos desejos, nossos medos ou nosso s
sofrimentos. Tudo isso pode nos dar uma noção irreal dos
fatos. Nosso emocional e nossa subjetividade podem distor-
cer nossa visão do real e nos fazer enxergar coisas que, em
realidade, não existem.

228
SOBRE O KARMA DO ABORTO

Há alguns casos em que o aborto pode ser praticado? Uma


mãe que não tem condições de criar seu filho não seria me -
nos cobrada pelo aborto?

Essa é uma pergunta muito comum e merece toda a nossa


atenção. Do ponto de vista espiritual, o aborto é um ato equi -
vocado em qualquer circunstância. Não importa se for estupro
ou se a mãe supostamente não tem condições de criar o filho.

Dizemos “supostamente” por um motivo muito simples: é


certo que a condição financeira das pessoas podem mudar a
qualquer momento. Ninguém nos garante que uma pessoa
que é pobre num momento de sua vida, não poderá ter me -
lhores condições em outro momento. Numa fase da vida
estamos sem dinheiro e em outra fase podemos estar um
pouco melhores. A vida humana oscila muitas vezes e nada é
tão definitivo assim.

É importante também mencionar que muitas crianças nascem


em ambientes totalmente desprovidos de conforto material e
mesmo assim se tornam grandes homens, grandes seres
humanos. Vemos casos não tão raros de pessoas que nasce -
ram nas grandes tribulações sociais e depois se tornaram
pessoas de destaque na sociedade. Esse é o caso de Ma -
chado de Assis, que nasceu muito pobre, na favela, e mesmo
assim se tornou o maior escritor brasileiro de todos os tem -
pos. Machado de Assis também era negro, enfrentou todos os
preconceitos de raça, classe social, e mesmo assim venceu
todas as dificuldades pelo seu talento e esforço. Por isso
dissemos que as adversidades da vida, como falta de di -
nheiro, antes de serem impeditivos, são formas que Deus nos
oferece para que possamos superar a nós mesmos e romper
nossos limites.

A ausência de patrimônio, bens e dinheiro não indica pobreza


espiritual. Há muitos pobres que possuem uma riqueza inte -
rior muito maior do que muitos ricos, que apesar de terem
muito dinheiro, são pessoas de uma imensa pobreza interior,
além de serem carentes, infelizes e ignorantes. Muitos men-
digos estão mais avançados espiritualmente e são mais puros
e felizes do que grandes milionários. Isso pode nos parecer

229
irreal, mas não é. Por isso, condições materiais jamais deve-
riam ser justificativas para o aborto.

Tudo o que acontece na vida humana tem um planeja mento


espiritual. O que acontece era para acontecer. Nada em
nossa vida é por acaso. se uma doença nos pegou, é porque
tinha que ser assim. Se um acidente nos aleijou, esse era
nosso karma definido em nosso plano de vida. Por esse mo -
tivo, se Deus autorizou que a criança viesse ao mundo, esse
era seu plano de vida e quem somos nós para impedir isso?

Claro que a cada um é dado o livre arbítrio e temos o direito


de decidir nosso destino, mas o aborto não se justifica em
qualquer hipótese, a não ser em um caso muito específico:
quando a vida da mãe corre risco. Nesse caso, deve -se dar
prioridade a vida em curso em detrimento da vida em forma-
ção. Mas com apenas essa exceção, não podemos encarar
como o aborto pode ser algo lícito e natural. Estamos inter -
rompendo uma vida que, caso não sofresse nossa interven -
ção, um espírito livre e independente viria ao nosso mundo
para enfrentar as provas necessárias ao seu adiantamento
espiritual. E isso é algo que todos devem permitir que ocorra.

Apesar de tudo, uma mãe que, na hora do desespero, come -


teu esse ato, não deve ser martirizada nem julgada por isso.
Ninguém tem o direito de julgar e condenar alguém que co-
meteu o aborto. O karma do aborto segue a mesma lei que é
aplicável a qualquer ato humano que gere karma. Ele é sem -
pre proporcional ao nosso nível de consciência. Isso significa
que quanto maior for o grau de esclarecimento de um espírito,
maior será seu karma. E quanto mais ignorante forem os pais,
menor será a carga kármica acumulada com o aborto. Assim,
o karma é sempre proporcional ao nosso estado de consciên -
cia. Uma criança que mata outra criança não pode ser res -
ponsabilizada pelo homicídio da mesma forma que um adulto,
assim como não pode ser exigido de uma criança um bom
rendimento numa prova de doutorado de Física Quântica.
Cada pessoa é responsabilizada pelos seus erros conforme o
grau de consciência em que seu espírito se encontre. Se é
mais esclarecido, é mais responsável.

Por outro lado, o motivo dado para a concretização do aborto


também pode gerar mais ou menos karma. Se uma mãe, por

230
exemplo, resolve fazer o aborto porque não deseja que seu
corpo jovem e esbelto seja modificado, esse é considerado
um motivo muito ligado ao gozo de questões mundanas, e por
isso, é mais grave do ponto de vista kármico. Mas se uma
mãe, assus tada, sem rumo, sem dinheiro, perde a cabeça e
num momento de desespero, pratica o aborto, isso a faz
acumular menos karma, pois nesse caso, ela estava fora de si
e não praticou o aborto por motivos tão banais. A lei do karma
nesse caso funciona de acordo com a natureza de nossa
intenção. Se a intenção for o gozo dos prazeres materiais, o
karma é maior. Mas se a intenção for mais desprendida, o
mesmo ato já pode acumular uma carga kármica menor.

231
A HISTÓRIA DAS QUATRO ALMAS

Era uma vez quatro almas que nasceram na matéria. A pri -


meira delas era um pouco mais esclarecida, e por isso, Deus
lhe deu a missão de conduzir as outras três almas pelos
caminhos da luz.

Logo após o nascimento, durante sua existência corpo ral, a


primeira alma, mais esclarecida, foi ao encontro da segunda
alma. Assim que a encontrou, pegou em sua mão e, de mãos
dadas, a foi conduzindo pela escuridão. Após um tempo,
apontou para ela o caminho da luz e a deixou seguir sozinha.
Logo depois, foi ao encontro da segunda alma e fez a mesma
coisa: pegou em sua mão e, de mãos dadas, a primeira alma
conduziu a terceira alma pela escuridão, mostrando depois o
caminho a ser seguido para a luz.

Assim que deixou a terceira alma, a primeira alma foi ao en -


contro da quarta e última alma que ela deveria auxiliar na vida
corpórea. Fez exatamente o mesmo das duas primeiras:
pegou em sua mão e, de mãos dadas, ambas começaram a
caminhar juntas. No entanto, a quarta alma deu dois passos e
logo depois parou. A primeira alma disse: “Vamos. Eu te
mostrarei o caminho”. Mas a quarta alma retrucou: “Não
quero ir. Prefiro permanecer aqui mesmo”.

A primeira alma insistiu: “Procure entender que aqui só existe


escuridão. Mas há um lugar melhor para todas nós, almas de
Deus, que é um local todo iluminado”. A quarta alma perma -
neceu irredutível e reafirmou: “Não me importo. Quero ficar
aqui.”

Nesse momento, de mãos dadas, enquanto a primeira alma


fazia força para frente, a quarta alma fazia força para trás, e
força de uma anulava a força da outra. Acreditando saber o
que é melhor, a primeira alma, ainda de mãos dadas, tentou
convence-la e fez ainda mais força para que ambas seguis -
sem, mas a quarta alma insistiu que preferia ficar, e por isso,
fez mais força ainda para ficar onde estava. A primeira alma,
mais esclarecida, acabou ficando presa nessa situação, de
mãos dadas com a outra, tentando carrega-la e forçando seu
caminhar, mas a quarta alma não queria de jeito nenhum
seguir para a luz.

232
A vida material de ambas foi se esgotando, até que chegou
ao fim. A primeira alma acabou ficando presa ao mundo, sem
conseguir ir para a luz. A quarta alma também permaneceu
presa à matéria, como era seu desejo. Por isso, as duas al -
mas acabaram se transformando em fantasmas que peram -
bulavam perdidas e erráticas pelo mundo astral da Terra.

Essa é uma lição que serve para todos nós. Aquele que pega
na mão de uma pessoa e tenta leva-la ao melhor caminho,
deve entender que o outro pode não querer ser ajudado e
pode optar em permanecer estagnado onde está. Assim,
quando damos a mão a alguém e essa pessoa não quer se -
guir em frente, o melhor é soltar sua mão e caminhar sem ela.
Caso contrário, os dois ficarão estacionados, presos e o re -
sultado será a perda de suas vidas.

Não jogue fora a sua vida tentando carregar os outros. Se a


pessoa que você ama não quer se melhorar, solte sua mão e
siga em frente. Não tente forçar a melhora do outro; não in -
tente modificar alguém que não quer mudar; não imponha o
desenvolvimento a ninguém. Respeite sua livre vontade de
ficar onde está e não se melhorar. Se a pessoa não quiser
caminhar, solte sua mão e caminhe você… Cada alma que
vem a Terra é responsável apenas e tão somente pelo seu
próprio destino. Ninguém pode forçar a caminhada daqueles
que preferem ficar inertes e estacionados em seu pró prio
nível.

233
PODEMOS EVITAR A MORTE DE ALGUÉM?

É comum as pessoas me procurarem perguntando sobre a


morte de entes queridos. Uma das perguntas mais comuns é
se elas poderiam ter feito algo para evitar a morte das pes -
soas que amam, pois sentem muito sua falta.

A resposta a essa pergunta é simples… não. Elas não pode-


riam evitar, em hipótese alguma. Mas por que não seria pos -
sível evitar a morte de uma pessoa? A morte não pode ser
evitada porque ela já está determinada desde quando a pes -
soa nasceu. Tão logo o espírito encarnado cumpra determi -
nadas tarefas e viva certas experiências na matéria, sua
existência material passa a se tornar desnecessária e o espí-
rito deve ir embora.

O ser humano prefere acreditar que tem poder para intervir


em tudo. Ele quer acreditar que é poderoso e que suas ações
podem mudar as coisas do mundo. Ele quer acreditar que é o
senhor do seu destino e, e não apenas isso, mas também que
é o senhor do destino de outras pessoas. Sem a ideia do
poder, o ser humano sentir-se-ia enfraquecido e perdido. No
entanto, é preciso compreender que o poder que temos não é
o poder material; não é o poder da carne; não é o poder para
interferir nos acontecimentos do mundo. O único poder que
temos é sobre nós mesmos.

Não adianta tentar mudar algo externamente; não adianta


buscar evitar ou provocar certas circunstâncias; não é possí-
vel acreditar que temos o poder de salvar ou deixar uma pes -
soa morrer. Quando uma pessoa desencarna, a hora dela
chegou e nada pode ser feito para evitar isso. Não importa o
quanto você seja forte; não importa o quanto você seja sábio;
não importa as influências políticas que você tem; não importa
quantos médicos você conhece e tampouco quanto dinheiro
você tem. Quando conseguimos “salvar” a vida de alguém,
por exemplo, de um afogamento, só fomos bem sucedidos no
resgate porque ainda não era a hora do seu desencarne.
Caso fosse o momento dela ir embora, nenhum poder hu -
mano seria capaz de salva-la.

Pelo contrário. Supondo que uma pessoa precisasse morrer e


nos fosse dado o poder de intervir e mante-la na matéria por

234
mais tempo, isso a prejudicaria imensamente. Vamos imagi -
nar que uma pessoa está indo embora de um país para tra -
balhar em outro país. Ela precisa daquele emprego, pois vai
incrementar seu currículo, ela terá um experiência inédita e
muito preciosa para sua carreira, além de ganhar mais e as -
sim poder comprar sua casa própria. Agora imagine que
existe uma pessoa apegada a ela e que não deseja essa
distância. O que aconteceria se essa pessoa queimasse as
passagens e a impedisse de ir? Ela estaria destruindo um a
oportunidade valiosa de crescimento profissional de alguém
que ama.

O mesmo ocorre com aqueles que tentam impedir a morte de


alguém cuja estadia na matéria já se findou. Ela estaria preju -
dicando agudamente aquele espírito de seguir sua jornada
evolutiva, ir a outras regiões cósmicas mais sutis para traba -
lhar, aprender, se desenvolver, ter novas experiências, etc.
Portanto, nosso egoísmo em desejar prender alguém que
precisa ir pode atrapalhar consideravelmente a evolução do
seu espírito, da mesma forma que os pais podem atravancar
o desenvolvimento do filho quando obstam sua saída de casa
para morar sozinho. O ser humano muitas vezes se comporta
como uma criança mimada, que bate o pé e grita quando
suas vontades não são atendidas. Os mestres sempre ensi -
naram que devemos seguir a vontade de Deus, como fez
Jesus quando disse: “Pai, que seja feita a Sua vontade e não
a minha”.

Muitas pessoas se culpam por não terem evitado a morte de


um parente. Elas acreditam que, se tivessem levado a pessoa
antes a um hospital; se tivessem socorrido mais rápido; se
tivessem prestado mais atenção; se tivessem certos conhe -
cimentos de primeiros socorros; se não tivessem sido negli -
gentes com a pessoa; se fossem mais espertas, mais inteli -
gentes, mais dinâmicas em algum mom ento, teriam sido
capazes de salvar a pessoa. A grande verdade, que poucos
desejam aceitar, é que ninguém salva ninguém; cada pessoa
se salva por si só. É imenso o número de pessoas que per-
dem suas vidas tentando salvar outras pessoas e acabam
esquecendo de si mesmas. Passam suas vidas tentando
resgatar o outro do abismo em que ele se encontra, e acabam
caindo nesse mesmo abismo, não salvando o outro e ainda
perdendo a si mesmas por puro apego.

235
É preciso deixar o outro viver a sua vida da forma como ele
deseja viver, de acordo com suas escolhas e seus objetivos.
Mesmo que o outro aparentemente fique mal, perca tudo,
fique doente, se destrua… se isso ocorreu, é porque preci -
sava ocorrer. A autodestruição era necessária para seu
avanço espiritual, com base em suas escolhas. Vamos enten-
der de uma vez por todas que não é algo ruim as pessoas
sofrerem as consequências de suas escolhas. Ao contrário, é
algo extremamente positivo, pois quem padece no futuro de
acordo com o que escolheu no passado vai aprender e s e
purificar. Seria o mesmo que queimar uma plantação de jiló
que nosso filho semeou alegando que o jiló não lhe trará
renda. Se ele escolheu plantar o jiló, é necessário permitir que
ele colha o jiló. Se ele não colher, não enfrentará as conse -
quências de seus próprias atos e não aprenderá certas lições.
Isso não é algo a se evitar, até porque não pode ser evitado.
É algo que deve ser aceito como parte da nossa evolução.

Portanto, não se culpe por não ter conseguido salvar alguém


de sua morte ou mesmo salvar alguém em vida. O momento
da morte não vem por acaso. Era para ocorrer exatamente
daquela forma. Aquele acidente que a pessoa sofreu e que a
levou, precisava acontecer; aquela doença que ceifou sua
vida, precisava vir e purifica-la; aquele caminhão que a atro-
pelou precisava atropela-la para ela se libertar; aquela queda
que o levou a morte era necessária a sua elevação; se não
fosse necessária, acredite, não teria ocorrido, pois nada,
absolutamente nada em todo o cosmos ocorre por acaso. O
acaso é mera ilusão de nossa mente que ainda não compre -
ende a vida.

O acaso não existe em todo o universo; se algo ocorreu, é


porque precisava ocorrer. Ninguém deve se culpar por não ter
conseguido evitar algo. A culpa é o efeito de um delírio de
grandeza e poder. Acreditamos que somos poderosos sufici-
entes para decidir sobre a vida e a morte de alguém; acredi -
tamos que sabemos melhor do que Deus quando alguém
deve morrer ou quando alguém deve continuar na matéria.
Nada além de uma fantasia humana de onipotência; a m esma
fantasia que fez o ser humano cair na matéria e que o man -
tém até hoje sofrendo.

236
NINGUÉM PROTEGE NINGUÉM

Há uma grande verdade nessa vida. No entanto, as pessoas


que vivem nesse mundo não querem de forma alguma aceita -
la. Essa máxima diz assim:

“Ninguém protege ninguém”.

Sim, não ha como negar esse axioma. É certo que os espíri -


tos sempre vão passar pelas provações que precisam para
sua evolução, e ninguém, nem mesmo Deus, pode evitar isso.
Seria o mesmo que uma pessoa que deseja se deslocar do
polo sul ao polo norte caminhando seja preservada dos per-
calços contidos no caminho. Todos que desejam ir de um
ponto a outro precisam enfrentar todas as barreiras que se
impõe na estrada.

Você pode até acreditar que está protegendo uma pessoa,


mas pode estar atrapalhando mais do que protegendo. Se
aquele espírito precisa atravessar uma provação, ele vai pas -
sar por isso, independente dos esforços que fizermos para
poupa-lo.

Algumas pessoas preferem acreditar que detêm o poder de


impedir certas catástrofes, certos sofrimentos e provações
que o outro passa. Mas isso não é possível. Os espíritos
precisam viver o seu karma, pois para transmutar seu karma
é preciso vivencia-lo com intensidade.

Dessa forma, ninguém tem o poder de impedir que um aci -


dente ocorra sobre alguém; que uma perda ocorra; que uma
doença ocorra; que o outro se perca, sofra, se abandone,
desista, fique deprimido, ou viva qualquer tipo de catástrofe
da vida. humana. É justamente essas provações que vão
purifica-lo e faze-lo avançar em espírito rumo a felicidade em
Deus.

Por isso, não temos esse poder sobre o outro e nem nunca
vamos ter. Somos espíritos parceiros vivendo uma jornada na
matéria que visa nosso despertar. Tentar proteger alguém
seria o mesmo que retirar um aluno da prova que ele precisa
resolver para passar de ano. Se você retirar o aluno da prova,
ele não vai galgar a série seguinte, e permanecerá onde está,

237
paralisado. Liberte-se nesse momento da ilusão de que é
possível proteger alguém… você não tem esse poder.

Nossas preces e emanações positivas destinadas a uma


pessoa, assim como palavras amigas de incentivo na hora
certa podem lhe dar um alento que revigora seu ser e lhe
ajudará a enfrentar com mais força e fé as tribulações da
existência material. Mas não podemos amenizar as provas,
extirpar as situações opressoras ou retira-la da provação.
Podemos apenas ajuda-la a atravessar com resignação,
confiança, coragem e reflexão as circunstâncias da vida.

Podemos também orienta-la e mostrar-lhe um possível cami-


nho, mas quem deve decidir e seguir é a própria pessoa. Não
é possível interferir, mudar, proteger, preservar, defender,
impedir, neutralizar qualquer acontecimento de que necessite
vivenciar. Você pode dar as mãos para ela oferecendo con -
solo, otimismo e força, mas não pode jamais carrega-la no
colo e impedir que a tormenta se abata sobre ela. O princípio
relacionado a isso é simples: se a pessoa tiver que passar por
algo, ela vai passar e não temos qualquer poder de impedir.

Por isso, aceite as suas provações e do outro. Agradeça a


Deus as desventuras e os infortúnios vividos. Não se es -
queça: o que se destrói em nível humano e mundano, nos faz
ascender em espírito.

238
AS CRIANÇAS SÃO ESPÍRITOS

Como é possível crianças serem atacadas, violentadas e


assassinadas? Por que Deus permite tamanha b rutalidade
com seres tão indefesos?

Muitas pessoas acreditam que as crianças são seres inocen -


tes, quase angelicais, que vêm ao mundo numa condição de
pureza e sublimidade. Aos poucos, as crianças são impreg -
nadas com as mazelas e as impurezas desse mundo, e vão
se transformando para se tornarem adultas com todos os
seus vícios, apegos e impurezas.

É preciso esclarecer, porém, que uma criança não é na ver-


dade uma criança. Essa afirmação pode surpreender algumas
pessoas, no entanto, os seguidores experientes do Espiri -
tismo e Espiritualismo estão bastante ciente deste fato. Os
meninos e meninas em tenra idade estão apenas revestidos
com um envoltório material de criança, um corpo infantil, que
representa o início de sua entrada na matéria com a finali-
dade de viver uma encarnação e suas respectivas provações.
Na verdade, a criança nada mais é do um espírito. Esse espí-
rito pode ter dezenas de milhares de anos aqui nesse planeta.
Pode ter vivido dezenas, centenas, milhares ou mesmo mi-
lhões de vidas passadas em seu processo evolutivo, cuja
origem é o próprio infinito.

Ninguém deve se enganar com relação a isso. As crianças


são como nós, adultos… Elas também possuem um karma
milenar. Em outras vidas elas podem ter feito cois as que
sequer imaginamos, cometido crimes hediondos, piores até
do que ocorre com algumas delas na vida atual. Assim, nada
é por acaso… Como já mencionamos em outros textos, tudo
ocorre de acordo com um plano perfeito e a lei de causa e
efeito é um dos princípios que regem esse plano divino que
nunca falha.

O que o espírito da criança colhe hoje… não há dúvida, ele


plantou numa sucessão de vidas passadas. Essas existências
prévias da alma nos são desconhecidas, pois o ser humano
ainda possui uma visão muito limitada da vida universal e não
consegue enxergar certas verdades cósmicas.

239
No entanto, como já dissemos, nada ocorre de forma arbitrá -
ria e tudo, absolutamente tudo, tem uma causa… E toda
causa tem inevitavelmente o seu efeito. O efeito de nossas
ações passadas se abate sobre todos nós. Somos semeado -
res, mas também somos colhedores daquilo que semeamos.
Como diz a máxima: a semeadura é livre, mas a colheita é
obrigatória. Cada alma segue o caminho que quiser percorrer.
Ela é absolutamente livre para es tabelecer os passos iniciais
de sua trajetória cósmica, mas não pode escapar do destino
que esse caminho irá leva-lo. Como disse Buda: Somos es -
cravos de nossos próprios atos e escolhas.

Algumas pessoas podem dizer: “Mesmo sab endo disso, é


triste ver uma criança sofrendo, sendo vitimadas por crimes,
ou padecendo de uma grave doença”. Diante dessa fala, é
preciso fornecer um cenário que ajudará as pessoas a melhor
visualizarem esse princípio. Vamos supor que exista um cri -
minoso muito perverso, que matou várias pessoas e ainda
regozijava-se em torturar todas elas. Esse bandido, caso
fosse vítima de muito sofrimento e outros crimes, alguém
sentiria pena dele? Obviamente que não, pois o que ele rece -
beu nada mais é do que o resultado de seus próprios atos na
vida de outras pessoas.

Agora vamos supor que esse mesmo criminoso morresse


antes de sofrer as consequências de suas ações, nascesse
numa outra vida, e agora estivesse num corpo infantil, sendo
uma criança aparentemente fofa e bela, loira de olhos azuis.
Caso esse assassino em corpo de criança fosse vítima de um
crime, adquirisse uma doença grave ou fosse abusada, todos
ficariam com pena dela. No entanto, qual a diferença? A cri -
ança de hoje foi o assassino de vidas passadas. É o mesmo
espírito, apenas vivendo o estágio inicial de sua existência
carnal. A única diferença é o corpo material em que o espírito
da criança está inserido. O espírito é exatamente o mesmo,
mas seu corpo é diferente.

Por que é tão difícil para algumas pessoas aceitarem que as


crianças podem não ser puras, mas espíritos muito atrasados
e endividados, tal como os adultos? É simples… Por que o
ser humano ainda é muito apegado à matéria e a todo mo -
mento se deixa enganar pelas ilusões materiais. A ilusão das
aparências do mundo facilmente nos confundem e falseiam

240
nossa visão; acreditamos mais nas exterioridades e formas do
que naquilo que está por detrás das aparências. Os espíritos
mais atrasados veem o exterior e não o interior das coisas. O
ser humano é como o peixe que vê uma carne sa borosa
presa numa isca e corre para satisfazer seus instintos, de
acordo com sua visão das aparências. Mal ele sabe que, por
detrás daquele saboroso alimento está um pescador que em
breve vai fisga-lo e frita-lo, servindo ele mesmo de alimento.

Com essas explicações não estamos dizendo que os crimino-


sos das crianças não devem ser punidos, não devem ser
presos de acordo com a lei humana. Estamos apenas de -
monstrando o mecanismo que explica o propósito de uma
criança ser escolhida como vítima. Numa vida ela é vítima e
na anterior ela foi algoz. Os papéis sempre se alternam e é
assim que aprendemos todas as coisas, para nossa evolução
espiritual. No entanto, é preciso também esclarecer que nem
sempre uma criança sofre por karma, mas algumas vezes o
espírito da criança pede que recaia logo sobre ela toda sorte
de infortúnios, para que dessa forma seu espírito possa avan -
çar mais rapidamente, sem que haja uma perda de tempo
com tantas vidas a serem vividas. Essa é uma escolha de
cada espírito e Deus pode autorizar ou não que isso seja
cumprido.

Dessa forma, não vamos nos esquecer… Apesar de toda a


força da ilusão material, as crianças são também espíritos
muito antigos, cuja bagagem espiritual traz uma infinidade de
experiências multimilenares. Conforme a criança vai cres-
cendo e amadurecendo, ela vai manifestando as tendências e
inclinações de sua trajetória espiritual. Algumas vezes os
meninos e meninas demonstram, ainda em tenra infância,
certas facetas de um caráter nada positivo, que obviamente
elas trouxeram de suas encarnações passadas.
Assim, ninguém deve esquecer que as crianças são seres
espirituais como nós, apenas se encontram nos estágios
iniciais da vida humana.

241
NINGUÉM VENCE NINGUÉM

O mundo atual tem como característica a competição. A maio -


ria das pessoas sonha em vencer umas as outras. Elas de -
sejam vencer o outro para conquistar uma vaga no vestibular;
desejam vencer o outro para conseguir um cargo mais alto na
empresa; vencer o outro para fazer seu comércio ganhar os
clientes do mercado; vencer o outro numa competição espor-
tiva, e assim por diante. Praticamente tudo o que existe em
nosso mundo possui algum aspecto de competição, de con -
quista de uns sobre os outros, onde uma pessoa sai vitoriosa
e outra sai derrotada. Seja num simples jogo de videogame
até uma eleição para presidente de um país; tudo na vida
humana gira em torno de concorrências, rivalidades e dispu -
tas diversas.

No entanto, todo esse mundo de competição e de vitórias e


derrotas nada mais é do que uma insustentável ilusão. Não
há vencedores e não há tampouco perdedores em nosso
mundo. Uma pessoa jamais pode vencer a outra, seja em que
campo for. Essa afirmação pode parecer estranha e irreal a
primeira vista. Ela parece contradizer tudo o que conhecemos
do nosso mundo de êxitos, triunfos, conquistas e sucessos,
onde desejamos que nosso ego seja mais e mais reforçado
diante de todos e nossos desejos mais e mais satisfeitos.
Vamos explicar, com alguns exemplos, porque esse mundo
de competição não passa de mera ilusão e de que forma é
impossível uns vencerem os outros.

Vamos imaginar que um jovem deseje passar no vestibular.


Para realizar esse feito, ele deve fazer uma prova e adquirir
uma pontuação mais alta do que os outros candidatos. Ele
inicia seus estudos e logo se depara com uma série de pro-
blemas e contratempos. Conforme vai estudando, ele sente
dificuldade de concentração. Todo o mundo ao seu redor o
induz a largar os estudos e usufruir dos prazeres que se
apresentam. Ele poderia parar de estudar e começar a ver
TV; poderia parar o estudo e jogar videogame; poderia con -
versar pelo celular com seus amigos; poderia simplesmente
sair e ir ao shopping; poderia também sair com amigos para
beber e se divertir. Mas a cada momento ele sente que o
estudo é mais importante e vai aos poucos vencendo as ten-

242
tações de sair, se divertir, ou simplesmente ficar deitado
numa condição ociosa.

Dentro desse exemplo é importante notar o seguinte: cada


vez que ele dispensa o prazer e se concentra nos estudos,
ele obtém uma vitória sobre si m esmo. Ele sabe que precisa
renunciar a coisas menores, momentâneas e fúteis para
adquirir algo maior. Fazendo isso, ele trabalha a si mesmo e
vai se tornando uma pessoa melhor. Vamos observar que
essa vitória não é sobre outros candidatos, não diz respeito a
ganhar do outro, mas sim uma vitória sobre si mesmo: sobre
a preguiça, sobre o prazer, sobre a impaciência, sobre o té -
dio, sobre a insegurança, etc. Na realidade, conforme ele vai
estudando e se dedicando mais e mais, ele não vai vencendo
outros candidatos, ele vai vencendo apenas a si mesmo. Esse
caso é bastante ilustrativo de como o ser humano conserva a
ilusão de estar vencendo o outro quando, na realidade, ele
está apenas superando a si mesmo a cada dia.

Vejamos outro exemplo que pode nos esclarecer ainda mais.


Vamos imaginar um corredor que deseje conquistar uma
medalha de ouro numa competição. Esse corredor estabelece
uma meta de correr 2 horas por dia. Ele percebe, no entanto,
que essa meta não será suficiente pra leva -lo à vitória. Ele
decide então aumentar esse meta; ao invés de 2 horas, ele
passa a correr 3 horas. Para honrar essa meta ele deve resis -
tir ao cansaço que se estabelece em seu corpo. Conforme ele
vai correndo, não apenas o cansaço físico vai se fazendo
presente, mas também pensamentos de insegurança vão
invadindo sua mente. Ele começa a pensar: Será que sou
capaz? Será que estarei tranquilo na hora da corrida? Vale a
pena largar tudo por esse objetivo? Ele precisa renunciar a
uma série de coisas. Ele terá que vencer o desânimo dentro
de si; terá que vencer seus próprios medos de perder; terá
que vencer sua ansiedade e suas angústias diante da possi -
bilidade da derrota. Tudo isso gera um movimento dentro de
si que o faz conhecer a si mesmo e superar seus próprios
demônios internos.

Nesse momento, seu confronto não é com o outro corredor,


mas sim consigo mesmo. Ele precisa vencer seus limites,
precisa superar sua condição antiga e ir além, passando a
uma condição mais desenvolvida e madura de si mesmo.

243
Conforme vai treinando mais e mais, ele vai conseguindo
vencer e triunfar sobre si mesmo, e não sobre o outro. Se ele
fosse um arqueiro numa competição, precisaria trabalhar sua
tranquilidade interior para acertar o alvo; se ele fosse um
jogador de basquete, teria que liberar sua mente d e qualquer
insegurança, qualquer medo, qualquer autocobrança, para
conseguir acertar as cestas, fazendo mais pontos. Vamos
mais uma vez observar que a vitória que ele conquista não é
sobre outras pessoas, mas sobre si mesmo, sobre suas im -
perfeições, seus limites, seus medos, seu desânimo. Ele vai
ficando mais forte, mais resistente e mais humilde. Cada vez
que ele tenta ir além, há uma série de barreiras internas que
fazem pressão para trás. A pessoa, por seu lado, deve resistir
a essa força contrária de limites pessoais, fraquezas e falhas,
conseguindo superar cada um deles, obtendo assim uma
vitória sobre si mesmo.

Nessa preparação, onde está o outro? Os outros competido -


res não participam daquilo que pode nos levar à vitória. Ele
não vem nos impedir de estudar; ele não vem nos colocar
para baixo; ele não vem nos segurar enquanto estamos trei -
nando; ele não vem nos dizer que não vamos conseguir.
Quem faz tudo isso é a nossa mente, nossas emoções e
nossos limites internos. Por isso, cada competição humana
nada mais é do que o ato de vencer a si mesmo; de vencer
nossos erros, nossas máculas, nossos preconceitos, nossa
apatia, nossa preguiça, nosso orgulho, etc.

Esse processo de mergulho interior e superação ocorre tanto


antes quanto depois de uma competição. O aluno que não
passa numa prova de concurso faz (ou deveria fazer) uma
reflexão sobre o que deveria ter feito para passar. Ele se
lembra de todas as vezes que faltou as aulas; todas as vezes
que deixou de estudar por preguiça; todas as vezes que reali -
zou atividades diversas ao invés de estudar e vai tomando
consciência do que pode melhorar numa próxima ocasião.
Nesse momento, a revisão de nossos erros pode também nos
obrigar a uma mudança de atitude para que, da próxima vez,
nos esforcemos para mudar certos aspectos que nos limita-
ram. Nesse sentido, as competições humanas também são
oportunidades de crescimento interior, melhoramento pessoal,
amadurecimento, superação e autoconhecimento. Então, a
pessoa que estava competindo conosco nos ajudou; ela foi o

244
instrumento de nossa melhora, de nossa reforma interior, do
mergulho que precisamos dar dentro de nós mesmos. Aquele
que competiu conosco e nos venceu pode nos ajudar na
compreensão de muitos dos defeitos e fraquezas que nos
levaram a suposta derrota. Essa derrota aparente traz uma
possibilidade de vitória sobre nós mesmos.

Assim, não apenas a competição humana é mera ilusão,


como aqueles que competem conosco nos ajudam a olhar
para nós mesmos, reconhecer nossas limitações e ir
além. Portanto, todos devem abandonar essa ideia de que é
possível vencer o outro. Não há vitória nem derrota sobre
quem quer que seja. As disputas e competições humanas são
ilusões do mundo. Elas nos fazem acreditar que é possível
vencer uns aos outros, quando, na verdade, as co mpetições
apenas nos colocam diante de nós mesmos, de nossos limi -
tes, fraquezas e imperfeições, e nos obrigam a sempre a
supera-los.

Assim, todos devem entender que o eu está sempre compe -


tindo consigo mesmo, e não contra o outro. A vida humana
não um conjunto de competições contra outras pessoas, mas
é apenas um exercício de superação de si mesmo. Como
disse Buda: “A vitória sobre si mesmo é a maior de todas as
vitórias”. O restante não passa de ilusão, pois ninguém com -
pete com ninguém e ninguém vence ninguém. Cada pessoa é
que deve vencer suas próprias limitações.

245
MENSAGENS SOBRE EVOLUÇÃO
ESPIRITUAL E LIBERTAÇÃO

VOCÊ É ESPÍRITO

Há uma grande verdade na vida:


“Meu Reino não é deste mundo”, disse Jesus.
Assim como nenhum de nós é deste mundo, ou pertencemos
a ele.
Estamos aqui apenas de passagem…
É como cruzar uma ponte, caminhar por uma es trada, percor-
rer uma via.
Este mundo nada é mais do que um acesso, um pas sadouro,
uma viagem de um ponto a outro.
Dizem os sábios “Não fixe aqui sua morada. Não se prenda
nesse mundo. Não se apegue. Não pare aqui!”
Acaso um viajante deseja permanecer eternamente na es -
trada que o leva ao objetivo?
Ou ele se conduz pela via que o permitirá culminar em seu
propósito?
Encantado pelas belezas do caminho, o homem se perde nas
veredas da matéria.
Distraído que está pelas seduções e dores do mundo, ele se
perde em caminhos tortuosos e ilusórios,
E esquece-se de sua natureza essencial, de seu espírito, do
divino que nele habita.
Procure lembrar-te de que não és matéria, mas espírito;
Não és emoção, mas espírito, não és personalidade, mas
espírito.
Você cruza o vale do mundo, mas não pertence a ele; passa
pela matéria, mas não é matéria.
Você veste a roupagem humana, mas não é humano; sente
emoções, mas não é nenhuma emoção.
Convive com pessoas, mas elas não te pertencem; vive na
Terra, mas não é da Terra.
Você sente os prazeres do mundo, mas nada levará daqui;
Possui muitas coisas, mas tudo um dia se des faz.
Tua origem não é a Terra, mas o cosmos, o infinito, a eterni-
dade.
Você vive no mundo para se preparar para a jornada sempi -

246
terna do espírito…
O que é do mundo, deixe no mundo; o que é do espírito, você
pode levar.
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Traga o espírito para o mundo, mas não tente levar coisas do
mundo para a esfera da essência.
Você é o herdeiro do cosmos, não brigue pelas mi galhas
desse mundo transitório. Não lute pelo copinho de água di-
ante de um inesgotável oceano.
Um dia tudo perece, tudo se desgasta, tudo se deteriora, tudo
morre,
Mas o espírito não tem começo nem sequer terá fim.
Você não é humano… Você é espírito. Tudo o que você faz é
o espírito que habita em ti que age e realiza.
Tudo o que você tem é apenas um instrumento que deve ser
usado para o crescimento e o despertar do espírito que você
é.
Não pense que sua personalidade tem o poder, que suas
capacidades humanas te trazem tudo,
Que tua mente pode tudo revelar, que teu pensamento pode
tudo alcançar.
É o espírito que tudo dá e tudo tira; ele que vive em você e
não você que vive com ele.
Você não tem uma alma, não tem um espírito, você é espírito.
Você não vive no tempo… Você vive na eternidade.
Você não vive no espaço… Você vive no infinito.
Você é o espírito da vida habitando momentanea mente um
corpo enquanto se prepara para a vida eterna.
Que é pura paz, puro amor, pura felicidade, onde nada se
esgota, nada deixa faltar e tudo é o que é.

247
A MENTE TRANQUILA

Um discípulo procura seu mestre para lhe fazer uma indaga -


ção muito importante. Aproxima-se do instrutor e pergunta:

– Mestre, o que devo fazer para conhecer melhor a mim


mesmo?

O Mestre pediu que o discípulo o acompanhasse até um lago


que existia ali próximo. Tratava-se de um lago bastante
calmo, sem corredeiras e nenhuma ondulação na superfície.

Assim que chegaram, o mestre pediu que o discípulo olhasse


a água do lago. O discípulo fez o que o mestre pediu, aproxi -
mou-se das margens e olhou a água. Viu sua própria imagem
refletida na superfície da água. Como o lago era bem ca lmo,
pôde enxergar a si mesmo nitidamente.

– Agora, pegue uma pedra e jogue nas margens do lago,


disse o mestre.

O discípulo pegou a pedra mais próxima, e atirou nas mar-


gens, bem próximo onde ele enxergara seu próprio reflexo.

– Agora observe novamente seu reflexo na água, disse o


mestre.

O discípulo olhou e quase não podia mais ver seu pró prio
reflexo. As ondas formadas pela pedra atirada no lago impe-
diam qualquer visão nítida de sua própria imagem.

– Não consigo mais me ver mestre. O que isso significa?

O mestre respondeu:

– Para que possas conhecer a ti mesmo, deves conservar tua


mente tão calma como a água deste lago. Observe que a
água agitada e com ondulações permite apenas uma visão
distorcida de tua própria imagem. O mesmo ocorre com uma
mente agitada, ansiosa, intranquila, dominada pelo medo e
pelas paixões. Ninguém pode enxergar a si mesmo numa
condição de nervosismo, de inquietação, sem que sua cons -
ciência esteja serena como a calmaria das águas deste lago.

248
As ondulações da superfície do lago representam todas as
dualidades que a nossa mente se envolve, e estas formam
um entrave ao autoconhecimento. É preciso pacificar a mente
para que se torne possível a visão das coisas, tal como elas
são, e a visão de como nós somos em essência.

249
A ESCOLHA CERTA

Um homem estava se contorcendo para resolver uma ques -


tão. Não sabia o que escolher em sua vida.

Estava em dúvida se continuava investindo em seu trabalho


atual, que lhe rendia pouco, ou se tentava outra carreira. À
noite, orou fervorosamente a Deus e pediu que os anjos ilu -
minassem seu caminho para que pudesse tomar boas deci -
sões.

Após adormecer começou a ter um sonho que lhe pa recia


bem real. Involuntariamente viajou para uma região celeste e
se deu conta de que estava na presença de um anjo com uma
luz maravilhosamente bela e amorosa. O anjo disse:

– Suas preces foram atendidas. Você orou a Deus pe dindo


que lhe ajudasse a fazer boas escolhas. Mas precisas saber
que na vida há uma escolha fundamental, que ajuda decisi-
vamente em todas as outras, e é isso que procurarei te mos -
trar agora, com a sua permissão. Aceitas submeter-se a uma
prova a fim de verificar se estas pronto para uma escolha
muito importante?

O homem ainda estava um pouco mexido com tudo aquilo. No


entanto, sentiu um halo de amor e paz que emanava do anjo,
confiou nele e decidiu aceitar o desafio proposto.

– Pois bem, disse o anjo. Que a prova comece!

Tão logo o anjo terminou de proferir estas palavras, abriu -se a


frente do homem uma estrada de terra. O homem entendeu
que deveria seguir por aquele caminho e ver o que acontecia.

De repente, ele se depara com uma bifurcação no ca minho,


parecida com um Y.

Ambos os caminhos parecem não levar a lugar algum e se


perdem no infinito. Ele começa então a seguir por uma das
estradas. Nesse caminho, ele percebe que as pessoas vêm
ao seu auxílio, tudo lhe parece mais agradável e as coisas lhe
são oferecidas de forma mais sedutora, sem que seja
necessário um maior es forço da parte dele.

250
Ele começa então a percorrer o outro caminho. Ao con trário
do caminho anterior, neste outro tudo lhe parece mais difícil,
ele precisa se esforçar para conseguir as coisas, as pessoas
já não vêm em seu auxílio e não há qualquer facilidade. No
entanto, neste caminho ele enxerga as coisas de forma mais
nítida e clara, e tem uma forte impressão de ser mais ele
mesmo. Ainda neste caminho, não há tentações, as coisas
são mais difíceis e exigem uma atitude firme da parte dele.

Ao se deparar com o fim dos dois caminhos, nada parece


existir ali, não há coisa alguma. Ele então vê as duas opções
e sente que precisa tomar logo uma decisão, uma escolha
definitiva por um dos caminhos.

Por que não seguir o caminho que lhe pareceu mais fácil, já
que nada parece existir no final das estradas? Por outro lado,
no outro caminho, apesar de tudo ser mais difícil inicialmente,
ele consegue ser mais ele mesmo e perceber as coisas com
mais clareza. Então, qual dos dois escolher? O caminho mais
cômodo, ou o caminho mais árduo, porém onde tudo é mais
claro externa e internamente?

O homem finalmente decide seguir pelo caminho me nos


cômodo, onde tudo é inicialmente mais difícil, mas tudo lhe
parece mais claro e verdadeiro. Assim que dá o primeiro
passo no caminho escolhido, ele se vê novamente no início
da jornada, e novamente na presença do anjo. O anjo então
diz:

– Você obteve sucesso nesta prova! Escolheste o ca minho


real, que leva mais rápida e diretamente a meta suprema. O
caminho onde tudo era fácil, cômodo, em que todos vinham
ao seu auxílio, é o caminho daqueles que cedem as tentações
da vida, escolhem o caminho de maior conforto, onde tudo é
consolador, estável, mas tudo é ilusório e não há esforço
pessoal. O outro caminho, ao contrário, tudo é árduo , pesado,
difícil de início, mas ao mesmo tempo é mais claro e estamos
mais lúcidos a respeito das coisas. No primeiro caminho, tudo
é mais fácil de início, mas depois se torna mais difícil. O outro
caminho; a es trada real, é o contrário; tudo é mais pesado e
exige grande esforço, mas depois se torna mais fácil. É muito
comum se cair na tentação de seguir o primeiro caminho, do

251
comodismo e da ilusão. Esse é o caminho que uma boa par-
cela da humanidade opta em seguir.

O homem ouve tudo com muita atenção e percebe que está


descobrindo uma grande verdade ali, naquele momento. O
anjo continua.

– O primeiro caminho, que tu não escolheste, é o cami nho


daquele que, por exemplo, prefere passar por cima dos ou-
tros, angariar facilidades, fazer negociatas; ser indicado a um
cargo ao invés de merecê-lo; colar na prova ao invés de estu-
dar; comprar o diploma ao invés de seguir numa faculdade
séria; permanecer num casamento que já terminou porque é
mais cômodo para ela e os filhos; ou a mulher que se arranja
com um homem rico que lhe dará todo conforto material; ou a
mulher obesa que precisa fazer dieta pela sua saúde, mas
pensa que mais um docinho na festa “não fará dife rença”; ou
como o fumante que precisa largar o vício, mas pensa sempre
em terminar o “último maço”; ou como o político que desvia
verba ao invés de lutar por justiça social; ou o advogado que
defende clientes comprovadamente culpados a fim de torná-
los inocentes; ou o pobre que envereda pelo caminho do
crime, do tráfico de drogas e ganha muito dinheiro inicial-
mente, mas depois é assassinado ou passa o resto da vida
estressado e infeliz; ou ainda o funcionário que percebe pa-
tentes ilícitos em sua empresa e lhe é pedido que “feche os
olhos” para tudo isso, pois seu salário é alto e ele consegue
ter uma vida material bem estável. Aqui está a resposta que
pediste às tuas indecisões sobre qual caminho seguir. Uma
das escolhas mais importantes, se não for a mais importante,
é esta que fizeste. Todas as outras são uma resultado dessa
escolha fundamental na vida dos seres humanos.

252
O LOBO FEROZ

Certo dia um homem teve um sonho estranho. Sonhou que


estava num ambiente seco, com céu vermelho, parecido com
um deserto.

Ele viu um homem e um lobo ao longe seguindo viagem. Esse


homem parecia adorar o lobo, e por isso ia colhendo alimen-
tos, caçando animais e dando todo tipo de comida ao lobo.

Conforme eles iam seguindo a viagem, o lobo ia co mendo.


Então começou a ocorrer algo curioso. O lobo ia ficando mais
e mais exigente por comida. A impressão que dava é que o
animal estava cada vez mais faminto e quanto mais comida o
homem dava ao lobo, mais o lobo sentia fome e mais exigia
que ele lhe desse cada vez mais. Isso continuou aconte -
cendo até chegar num determinado ponto em que o an imal
estava tão faminto, que começou a morder o homem que o
alimentava. O lobo começou a investir contra o homem, e
este ficou com medo e tentou fugir. No entanto, era tarde
demais: o lobo o alcançou e o devorou ali mesmo.

Assim que o lobo foi embora, o homem se aproximou da


carcaça do homem devorado e percebeu que ape nas a ca-
beça e o rosto foram preservados. Olhou com atenção o
semblante do morto, e começou a passar mal com a revela -
ção: o homem devorado pelo lobo era ele mesmo.

O homem acordou assustado com o sonho e foi procurar um


sábio que era famoso por interpretar sonhos. O homem en-
controu-se com o sábio e indagou sobre o significado daquele
sonho. O sábio explicou:

– Você teve um sonho de um sentido profundo. O lobo repre-


senta os instintos e desejos humanos. Essa trama do so-
nho nos ensina duas coisas:

Em primeiro lugar, quanto mais alimentamos nossos instintos


e desejos, maior se torna seu apetite. Não adianta tentar
satisfazer nossos desejos, pois eles ape nas aumentarão e
pedirão sempre mais e mais.

253
Em segundo lugar, precisamos entender que, ou controlamos
nossos instintos sem alimenta-los tanto e sem fazer todas as
suas vontades, ou eles assumem o controle sobre nós e vão
aos poucos nos devorando e nos fazendo perecer.

O homem agora compreendia que o sonho era uma mensa-


gem para ele mesmo, que há muito exagerava na busca pelos
desejos e prazeres do mundo. O sábio completou:

Não se esqueça desse importante princípio da vida: aqueles


que consomem tudo que seus instintos e desejos demandam,
acabam sendo consumidos por eles.

254
DEIXE TUDO FLUIR

Quando ocorre um acidente numa rua, a passagem fica inter-


ditada e isso pode gerar um engarrafamento.

Quando um rio é represado, forma-se um bolsão de água


retida que transborda por todos os lados e afeta a vida no
entorno, além de secar as paragens próximas.

Quando nosso sangue acumula toxinas, as veias fi cam entu-


pidas e o sangue não flui conduzindo certos nutri entes. Isso
pode gerar patologias cardiovasculares e debilitar o orga-
nismo.

Quando muitas pessoas passam por uma via curta, essa


multidão pode impedir o trânsito de outras, ge rando uma
concentração de pessoas que pode prejudicar cada um des -
ses indivíduos.

Quando uma pessoa retêm suas emoções e não permite que


elas se expressem, cria uma repressão que vai estourar em
algum momento no futuro. Quem retêm perde o controle e
causa danos a si mesmo.

Aquele que prende uma pessoa e não permite que ela se


expresse, está aos poucos aniquilando seu es pírito de vida.
Quem prende a si mesmo em um ou mais as pectos está co-
metendo um gradual suicídio interior.

“Tudo flui”, dizem os sábios. Todas as coisas preci sam da


fluidez para continuarem existindo. No fluxo a vida continua e
completa seu ciclo.

Tudo em nossa vida deve sempre fluir. Quando algum as-


pecto de nossa existência perde sua fluidez, acumu lamos
coisas desnecessárias e impedimos que tudo corra natural -
mente.

Tudo aquilo que acumulamos, ou que bloqueamos, ou que


não desejamos abrir mão, obstrui o movimento, fecha a pas -
sagem, interrompe a expressão da vida.

255
Libere de sua vida todas as acumulações desnecessá rias.
Deixe tudo fluir… Permita que a vida siga seu curso natural.

Quem impede o fluxo da vida, seja físico, emocional ou cole -


tivo, bloqueia o transcorrer natural que insufla o sopro vital.

Quem se bloqueia pode ficar doente. O próprio bloqueio já é a


doença. Quem abre suas energias e deixa tudo fluir, se cura.
O fluxo é a cura.

Aquele que se detém demais numa situação, numa pessoa,


em algum período do passado ou numa visão de mundo, fica
paralisado, se engessa e quando bate o vento inexorável das
transformações, vai sendo aos poucos destruído.

Não represe o córrego sagrado de sua vida. Refrear é lutar


contra. Bloquear é perecer.

Deixe sempre tudo fluir… Fluxo é liberdade.

256
NOSSA MISSÃO ESPIRITUAL

Algumas pessoas me pedem explicações sobre a mis são


espiritual de cada um. Elas afirmam que não sabem qual é a
sua missão e por isso, não sabem como começar a coloca -la
me prática. Um questionamento comum é: o que devo fazer
em minha vida para cum prir minha missão? Essa é uma per-
gunta comum, mas não é tão simples de ser respondida, pois
nossa missão espiritual está muito mais próximo de algo que
devemos sentir interiormente do que de algo que precisamos
saber intelectualmente.

A melhor resposta que se pode dar a esse impasse é que, na


verdade, quase ninguém sabe ao certo qual é a sua missão,
pois nosso compromisso espiritual não é algo que pode nos
ser informado, mas sim algo que cabe a cada um de nós
desvendar. Revelar ao outro qual é a sua missão seria o
mesmo que um professor passar todas as perguntas ao aluno
antes dele fazer a prova. Se o aluno sabe de antemão o que
lhe será perguntado, ele não será testado em seus conheci-
mentos. O mesmo se dá com a nossa missão espiritual. Se
um anjo descesse do céu e dissesse: “Faça isso”, a pessoa
estaria fazendo apenas porque o anjo a ordenou e não por -
que ela sente interiormente que deve fazer. Por isso, Deus
não pode revelar nossa missão, mas somos nós é que preci-
samos descobri-la sozinhos. Na quase totalidade das vezes
não sabemos qual é a nossa missão, mas vamos aos poucos
resolvendo os enigmas e a desvendando. Isso ocorre no
momento em que decidimos seguir o nosso coração, os im -
pulsos de nossa alma, as aspirações mais pro fundas do
nosso ser.

Uma das principais características de uma missão espiritual é


seu caráter impessoal e desprendido. Nossa missão não é
algo feito para nós, para nossos interes ses pessoais, para
ganhar dinheiro, ou para obter coisas no mundo. O cumpri-
mento de metas pessoais tem a ver com nosso karma pes -
soal, com os efeitos do nosso ego, de nossa personalidade, e
não com nossa missão. A missão espiritual é um impulso que
vem do nosso espírito e é um legado que a pes soa deixa para
a humanidade. É uma obra que deve ser concretizada no
mundo e que tem sua origem nos ecos do nosso espírito. Não
é uma realização pessoal, mas vem de uma aspiração cole -

257
tiva. Não se trata de nossa necessidade, mas de uma neces -
sidade do conjunto da sociedade.

É preciso dizer que ninguém deve realizar sua mis são pen-
sando nos ganhos materiais que obterá, pois quem faz isso
está se desviando de sua missão e percorrendo um caminho
pessoal e interesseiro. Quando isso ocorre, é comum falhar-
mos em nossa missão. Sim, é possível se falhar em uma
missão. Um homem religioso, por exemplo, pode vir com a
missão de inspirar em milhares de pessoas a fé em Deus,
mas pode sentir-se muito atraído pelo dinheiro das doações,
pega-las para si mesmo, enriquecer e assim, falhar em sua
missão. Nesse exemplo, o religioso pode se tornar não al -
guém que conduz as pessoas a Deus, mas sim aquele que as
desvia do caminho espiritual. O religioso pode vir com o dom
da oratória. Esse dom o ajudaria em sua missão e muitas
pessoas poderiam sentir-se tocadas pelas suas palavras e,
assim, sentirem-se inspiradas a seguir o caminho espiritual.
Mas o dom que seria utilizado de forma positiva pode também
ser utilizado de forma negativa, caso o religioso falhe em sua
missão e deixe-se levar pelas tentações materiais. Nesse
caso, a pessoa pode até mesmo aprofundar seu karma nega -
tivo e ficar ainda mais endividada.

Dizem que os espíritos mais elevados não falham em suas


missões, mas os espíritos não tão adiantados, como 99,9%
da humanidade, podem sim cometer erros e fracassar. O
principal erro que alguém pode cometer para colocar em
cheque sua missão é seguir um caminho do seu ego e não do
seu espírito. O orgulho, a vaidade e o egoísmo são frequen-
temente o principal motivo das pessoas falharem em suas
missões. Outro dado relevante é que missões muito im por-
tantes para a humanidade e que tratam de ques tões de ne-
cessidade evolutiva global e planetária não são depositadas
apenas em um único indivíduo, mas em dois, três ou mesmo
quatro pessoas. Isso significa que, se uma pes soa vem com
uma missão muito im portante de ser concretizada, outros
espíritos podem nascer ao mesmo tempo para garantir que
aquela obra seja feita. Por exemplo, Buda encarnou e cum-
priu sua missão, mas caso ele tivesse falhado (o que é muito
improvável) outro já estava pronto para realiza-la. Essa pes -
soa foi Mahavira, contemporâneo de Buda. Um homem com

258
uma vida muito semelhante a de Buda e que foi incum bido da
mesma missão.

Mas que tipo de missões as pessoas podem realizar em be -


nefício da humanidade? Uma pessoa pode ter a missão de
escrever um ou mais livros. Outra pessoa pode ter a missão
de cuidar de crianças abandonadas. Outro pode ter como
missão produzir filmes humanistas. Outro pode ter como
missão dar pales tras sobre um determinado tema em seu
país ou em vários países. Outra pessoa pode ter como mis -
são uma profissão comum, como exercer a medicina, a en -
fermagem, a psicologia, a advogacia, tudo isso em prol do
bem comum. Há também aqueles que são pessoas de desta-
que e poder na sociedade, como por exemplo um joga dor de
futebol, de basquete, ou um ator famoso, um político, um juiz,
etc, e que precisem realizar, dentro de suas respectivas
áreas, missões de transformação social e humana. Um polí-
tico pode realizar muito pela população de sua cidade; um juiz
pode ter como mis são prender pessoas do crime organizado
e livrar uma cidade dos malfeitores, para tanto ele precisa
enfrentar o medo de morrer e colocar sua vida a serviço do
bem comum, mesmo sob o risco de morte; um jogador de
futebol pode usar seu prestígio prévio para dar bons exem -
plos de cidadania, ética e solidariedade a todos os seus fãs;
um homem muito rico pode utilizar seu dinheiro para ajudar
instituições, construir abrigos, criar fundações, etc.

Um ator famoso, por seu lado, pode se engajar em projetos


sociais e usar sua influência para chamar a atenção para
determinada causa ou sensibilizar a população sobre algum
segmento excluído da sociedade, como, por exemplo, os
deficientes físicos. Em cada área de atuação é possível se
realizar grandes obras, deixar sua contribuição, estimular
avanços e provocar a abertura de novos campos. Cientistas
podem também ser grandes missionários e realizar g randes
feitos pela humanidade. Um bom exemplo é Albert Sabin, que
renunciou a patente da vacina contra a Poliomielite pra que
ela pudesse ser distribuída gratuitamente para todas as pes -
soas. Sabin ajudou a salvar milhões de vidas ao redor do
mundo com sua renúncia, sua solidariedade e sua benevo-
lência. Ele pode ser considerado um exemplo de cientista
abnegado e missionário que veio a Terra.

259
Além das missões de abrangência local, de pequena monta,
há também aqueles missionários cósmicos, que vêm a Terra
de tempos em tempos, algumas vezes obedecendo conjun-
ções astrológicas, cumprir missões de cunho planetário. Esse
é o caso dos mes tres espirituais, conhecidos como os avata-
res na Índia, ou Adeptos na Teosofia. Esses podem ser consi-
derados os maiores mestres da humanidade; espíritos muito
elevados que vêm trazer mensagens e realizar obras que
ajudam a impulsionar a evolução espiritual de toda a humani -
dade. São exemplos de missionários cósmicos personalida -
des como Jesus, Buda, Krishna, Lao Tsé, Thot, Zoroastro,
Rama, Seraphis, Padma Sambhava, dentre outros. Alguns
deles foram considerados deuses na antiguidade, pois suas
histórias oficiais se perderam na noite dos tempos e eles se
tornaram muito mais um mito ou uma figura lendária do que
um personagem histórico. No caso de uma missão cósmica
tão importante e decisiva para a humanidade, é necessário
que outros espíritos venham antes do mestre e preparem o
terreno para o florescimento de sua obra. Esse foi o caso de
João Batista antes de Jesus. João veio ao mundo apenas
para tornar as pessoas mais receptivas a vinda do messias.
Ele preparou o povo para aquele que viria depois dele. Há
também seres que realizam sua missão silenciosamente, sem
serem conhecidos e de forma absolutamente discreta. Tra -
balham nos “bas tidores do mundo”, mas nem por isso sua
missão é de menor relevância. Para esses espíritos, a fama, a
promoção pessoal e a projeção do seu nome nada repre -
sentam: eles são movidos unicamente pela sin tonia com o
espírito universal, fonte de toda a vida. Sua única inspiração é
fazer o bem pelo bem. Exem plos de missionários espirituais
de menor alcance do século XX e XXI são: Amma, Dadi Janki,
Ram Bonjam, Mathieu Ricard, Padre Pio de Pietrelcina, Irmã
Dulce, Teresa Neuman, Ramana Maharshi, Yogananda, Vi-
vekananda, Albert Schweitzer, dentre outros.

Mas é certo que poucas são as pessoas que conhecem sua


missão e sabem exatamente o que devem fazer. Um exemplo
conhecido de todos é o de Chico Xavier. Certo dia, Chico
estava calmamente descansando próximo a uma cachoeira
quando teve o primeiro contato direito com seu mentor espi -
ritual. O mentor de Chico era o espírito que ficou conhecido
como Emmanuel. Esse espírito guia conversou com Chico e
lhe passou as informações iniciais sobre a missão qu e ele

260
deveria desenvolver em sua vida a partir daquele momento.
Inicialmente, Emmanuel revelou que Chico deveria escrever
30 livros. Chico disse que não havia dinheiro para fazer as
publicações. Emmanuel disse que Chico não se preocupasse
com isso, pois tudo isso seria arranjado pela espiritualidade.

Esse é um aspecto importante da missão de cada um.


Quando alguém está no caminho certo, mesmo que ela não
disponha dos recursos para alguma realiza ção, se aquilo
precisa acontecer, de fato acontece. Por exemplo, uma pes -
soa deseja fazer um filme humanista e essa é sua missão. Se
a pessoa idealiza o filme e só falta o capital para sua produ -
ção, o plano cósmico dá um jeito de trazer esse investimento.
Isso não significa, obviamente, que uma certa carga de e s-
forço não seja necessária. O esforço é essencial e a pessoa
pode atravessar muitas dificuldades até con seguir os recur-
sos, mas se o filme tem que sair, o plano divino dá um jeito de
fazer tudo acontecer.

Já explicamos no livro “Tratado de Terapia de Vidas Passa-


das” que existem três tipos de pessoas que vem a Terra. A
primeira vem apenas para cumprir seu karma e viver certas
provações. A segunda vem com o destino de cumprir uma
parcela de seu karma e, ao mesmo tempo, também realizar
alguma missão espiritual. Outros, esses bem mais raros,
vieram apenas para cum prir sua missão, sem a necessidade
de expiar seu karma. Mas é certo que a maioria veio ao
mundo apenas para cumprir seu destino kármico e assim
aprender certas lições. Pessoas que nasceram ape nas para
cumprir karma e atravessar certas provações podem ter como
tarefa principal, por exem plo, nascer em condições subuma-
nas, viver uma exis tência de miséria e privações, sofrer algum
acidente, ficar paralítico, perder todo o dinheiro, casa e esta -
bilidade. Outros vêm para enfrentar a morte de um filho, da
esposa e de outros familiares. Outros ainda vêm para resolver
certas pendências com seu parceiro evolutivo, além de per-
doar, arrepender-se de certos erros, cuidar de familiares ou
amigos, ser o ponto de equilíbrio numa família, dentre outras
tarefas kármicas. É importante diferenciar a mis são do karma.
Missão espiritual é uma realização de alcance coletivo. Tare -
fas kármicas são realizações apenas de alcance pessoal, que
fazemos para nós mesm os e nossa evolução espiritual.

261
Aqueles que desejam iniciar sua missão devem ficar atentos
àquilo que os antigos chamavam de sinais. Devemos prestar
atenção nos sinais e dar valor a eles, caso desejemos desco -
brir as tarefas que devemos iniciar. Por outro lado, para reali-
zar nossa mis são espiritual devemos iniciar empreendendo
tudo aquilo que sentimos que deve ser feito. Qual é a coisa
que você mais sente afinidade? O que mais te realiza? O que
mais você busca e almeja na vida? O que te faz feliz? Ima -
gine-se daqui a 10 ou 20 anos, o que você gostaria de ter
feito ou ter iniciado? Você gostaria de ser lem brado por ter
realizado qual obra? Qual atividade ou qual realização dentro
do seu trabalho mais te preenche, te alegra, te faz sentir
pleno e realizado?

Entre dentro de si mesmo e tente sentir onde está o seu cora -


ção, onde está seu espírito se manifestando na Terra. Pense
e reflita nessas questões. Se as suas maiores aspirações
forem realizações de interesse meramente pessoal, pode ser
que você tenha vindo a terra somente para viver seu karma e
suas provações. Mas se as suas aspirações tiverem uma
perspectiva coletiva, talvez você seja um missionário que veio
ao mundo deixar uma obra.

Faça aquilo que você sente em sua consciência que é o cor-


reto a se fazer… e naturalmente você estará cum prindo aquilo
que veio realizar.

262
MATERIALISMO ESPIRITUAL

Aqueles que fazem caridade dando comida aos po bres e por


isso sentem-se superiores aos outros, es ses se rebaixam
ainda mais.

Aqueles que divulgam ensinamentos espirituais, mas em sua


vida prática fazem o oposto do que ensinam, estão piores do
que os humildes que, sem conhecimento teórico, fazem o
bem.

Aqueles que vão à igreja toda semana, seguem os preceitos


de sua fé, mas julgam seus irmãos, rotulam e os condenam
sem os conhecer bem, esses têm ainda muito que aprender.

Aqueles que praticam técnicas de meditação pro funda, e por


isso seu ego fica inflado, sua meditação só serve como pas -
satempo sem valor.

Aqueles que colocam vestimentas ritualísticas em sua organi-


zação religiosa ou esotérica e com isso desejam impressionar
os outros para se envaidecer, já se perderam seriamente no
caminho espiritual.

Aqueles que são escolhidos como dirigentes, líderes ou ins -


trutores de seu templo e passam a usar esse cargo para
exercer seu poder, impor seu jeito e não respeitam a plurali -
dade de modos de ser, esses são falsos líde res.

Aqueles que decidem engajar-se num projeto social, viram


vegetarianos ou fazem campanhas humanitárias apenas para
somar em seu currículo, para es banjar ou para sentirem-se na
vanguarda de sua época, esses estão ainda mais atrasados.

Aqueles que fazem yoga pensando apenas na firmeza mus -


cular, na beleza física e em demonstrar a todos o quanto são
fortes e esbeltos, esses estão caindo no terrível abismo do
autoengano.

Se você quer ser espiritual, mas não quer sacrificar um cen -


tímetro de seus gostos e interesses humanos, mude de cami -
nho.

263
Se você quer ser espiritual, mas não quer permitir a transfor-
mação íntima, largue o espiritual e volte para o mundo.

Se você quer ser espiritual, mas intenta manter seus desejos,


seu ego e sua personalidade, está certamente se iludindo.

Se você faz todas essas coisas, consciente ou incons ciente-


mente, pare e reflita sobre suas atitudes.

Você pode estar caindo na lama do chamado materi alismo


espiritual.

Materialismo espiritual é a utilização de aspectos da vida


espiritual apenas para embelezar e alimentar seu ego.

A vida espiritual autêntica jamais pode aceitar de monstrações


vãs, hipocrisia, fanatismo, egocentrismo, vaidade, ganância e
soberba.

Quem segue o verdadeiro caminho espiritual deve aceitar de


bom grado o sacrifício de si mesmo em prol da vida coletiva e
divina.

Permita que o universo seja sua morada e não seu corpo.

Permita que sua consciência interior o conduza e não seus


desejos.

Permita que Deus guie sua vida e não seu ego.

Seja espírito… e não uma mera personalidade.

264
O ERRO DO OUTRO

Não se importe com a hipocrisia, os fingimentos, as farsas, a


arrogância e os erros de outras pessoas.

Sempre vejo algumas pessoas reclamando dos erros de ou -


tros em grupos espirituais, centros, templos, em suas famílias,
na escola na empresa, etc.

Reclamam que as pessoas falam uma coisa e fazem outra;


que as pessoas são dissimuladas e não dizem o que pensam;
que nos sorriem de manhã e puxam nosso tapete a tarde; que
falam mal dos outros pelas costas; que criam intrigas e confu -
sões por coisas pequenas. Mas ninguém deve ficar se preo-
cupando com o que o outro faz ou deixa de fazer de errado.

Em nossa passagem pela Terra, a única coisa que re almente


importa é o que nós mesmos fazemos.

Que pode nos importar o que o outro faz de bom ou mau? Se


uma pessoa faz o mal, ela sofrerá as consequências do mal
que esteja praticando. Isso fará parte do patrimônio espiritual
dessa pessoa, será a sua colheita mais cedo ou mais tarde.
Por isso, ninguém deve ficar nervoso, revoltado, incomodado
ou querendo “dizer umas verdades” ao outro. Se fizermos
isso, o erro passa a ser nosso também e não apenas do ou-
tro. Faculte a cada pessoa o direito que ela tem de errar e
aprender sozinha com seus erros. Como diz Chico Xa vier
“Aos outros dou o direito de ser como são; a mim dou o dever
de ser cada dia melhor”.

Quando tentamos apontar os erros de alguém e o outro não


quer ouvir, ele poderá se voltar contra nós, além da possibili -
dade de se criar conflitos e confusões desnecessárias. Vamos
permitir que o outro seja o que ele quer ser; que ele possa
seguir o caminho que escolheu; que ele possa viver as expe-
riências que determinou para si, mesmo que isso seja errado,
seja hipocrisia e mesmo que isso nos afete de alguma forma.
O choque de retorno ocorrerá na hora certa e fará essa pes -
soa aprender com os erros do passado.

Portanto, deixe o outro errar o quanto quiser e não se irrite


com as faltas alheias. O que tem valor nessa vida é o que

265
fazemos diante da humanidade e diante de Deus. Deus co -
nhece nossa vida, nossos atos e conhece profundamente
nosso irmão em erro. Se o outro quer insistir em suas incorre-
ções e enganos, quem somos nós para corrigi-lo? Isso é um
problema dele, é a escolha que sua alma fez e que o condu -
zirá a um caminho tortuoso, que ele viverá ou talvez já viva
essa tortura em sua consciência. Além disso, sempre h á a
possibilidade de olharmos mais para os erros dos ou tros a fim
de não enxergar os nossos próprios erros.

Dessa forma, não permita que as faltas do outro afe tem seu
trabalho na grande jornada humana. Como diz Madre Tereza
de Calcutá “No fim das contas , tudo é entre você e Deus e
não entre você e os outros”. Cum pra as tarefas que lhe ca-
bem sem olhar para o lado, pois no final das contas, o que
interessa é o que nós plantamos… E nada nos acrescenta
ficar observando a colheita de nosso irmão.

266
O CAMINHO DO MEIO

Aprenda a dosar todas as coisas da vida.


Usufrua com parcimônia os prazeres,
Sem mergulhar em deleites quiméricos.
Seja quem és,
Sem invadir o espaço do outro.
Seja humilde,
Sem ser submisso.
Seja tolerante,
Sem ser condescendente.
Seja corajoso,
Sem tornar-te imprudente.
Seja cauteloso,
Sem fechar os ouvidos às opiniões alheias.
Busca ser forte,
Sem te tornares inflexível.
Busca a compaixão,
Sem te transformardes num sentimentalista.
Pratique o perdão,
Sem esquecer-se dos erros passados.
Trabalha com afinco,
Mas guardes um tempo só para ti.
Conviva com os outros,
Mas não te esqueças de ficar contigo mesmo.
Seja sincero,
Sem dizer tudo o que der na telha.
Diga apenas o necessário,
Sem tornar-te um falador compulsivo,
Jogando a tua energia fora.
E o mais importante:
Não queira ser grande perante os outros,
Procura apenas ser inteiro para si mesmo.
Quem é inteiro para si mesmo,
Conquista seus objetivos.
Quem se faz grande perante o outro,
Cai por suas próprias fraquezas e enganos.

267
PAZ DE ESPÍRITO

Um homem foi procurar um monge e lhe perguntou o que se


pode fazer para ter paz. O monge apenas disse:

– Esteja sempre exatamente onde você está.

O homem não compreendeu a frase do monge. “Eu não sem -


pre estou onde estou?” indagou-se. Aquilo que não fez sen-
tido para ele.

Voltou para casa e ficou refletindo sobre aquela mis teriosa


frase, que parecia mais ser um enigma. Depois de muito
refletir, lembrou que precisava, no dia seguinte, ir à escola de
seus filhos, pois um dos meninos havia brigado com seu
colega. Ficou preocupado se ele seria expulso ou não. Foi
então deitar-se, pois o dia seguinte prometia ser bem esta -
fante. Fechou os olhos e lembrou-se de sua recente separa-
ção conjugal e em como sua ex-mulher o havia maltratado.
Ficou pensando nisso por 20 minutos e logo depois lembrou -
se da apresentação que deveria fazer na empresa na próxima
semana e sentiu-se bastante ansioso.

Acordou no dia seguinte já preocupado com a hora do traba -


lho. Lembrou-se do filho que estava na es cola e tentou deci-
dir, bastante tenso, como poderia ser libe rado da empresa
para falar com a diretora da escola. Saiu de casa e lembrou
que as contas do mês não es tavam ainda todas quitadas.
Ficou muito inquieto, pensando no que fazer para que um
dinheiro extra pudesse entrar e resolver essa dívida. Lem -
brou-se dos anos anteriores onde o dinheiro não foi suficiente
para arcar com as despesas mensais e isso o deixou deveras
apreensivo. Começou a sentir uma pequena dor no estô -
mago. Essa dor já o acompanhara há alguns anos e sempre
vinha em momentos de angústia e incerteza sobre seu futuro
e com as mágoas de pas sado. Começou então a pensar que
se tivesse estudado mais em sua juventude, nada disso pre-
cisaria estar acontecendo. “Perdi muito tempo com bebida,
mulheres, falsos amigos e futilidades que nada me acrescen -
taram”, refletiu. Lembrou-se das decepções amorosas que o
levaram a uma vida de gastança e carência e que o afastou
dos estudos. “Como será meu futuro daqui pra frente se eu
não melhorar?” pensou.

268
Chegado o fim de semana, mais uma vez o homem foi ao
templo falar com o monge, dizendo que o ensina mento rece-
bido ainda não tinha feito sentido para ele. O monge pediu
então para o homem meditar em tudo o que havia feito du -
rante a semana.

O homem começou então a lembrar… e lhe veio um insight,


uma luz. A todo momento, o homem estava ou preocupado
com o futuro, ou preso ao passado; ou estava na escola dos
filhos, ou preso a decepções e a perda do tempo do seu pas -
sado. Em nenhum momento ele estava no lugar onde estava,
ali mesmo, dentro de si, observando-se e sentindo-se. Ele
estava sempre em outros lugares, mas nunca no lugar onde
ele se encontrava. Sua mente estava em todo lugar, menos
com ele.

“Agora entendi essa máxima” disse o homem.

O monge reafirmou:

“Para ter paz de espírito em nossa vida, esteja sem pre exa-
tamente no lugar onde você está, pois ou es tamos onde es -
tamos, ou nos perdemos em muitos lugares e acabamos não
estando em lugar nenhum.”

269
O OLHAR DO INIMIGO

Um guerreiro persa teve sua família assassinada por um


soldado romano numa guerra. Todos que pre senciaram a
cena contaram que o romano assassinou a família do persa
com muito ódio em seu coração. Muito perturbado com a
morte de seus entes queridos, o persa jurou que iria se vingar
desse soldado. Estava com muito ódio em seu coração e só
pensava em fazer o romano sofrer da mesma forma que ele
também estava sofrendo.

Certo dia, o persa estava caminhando por uma flo resta e


chegou até um rio. Viu diversos soldados romanos, dentre
eles o soldado que havia assassinado sua família. Escondeu-
se rapidamente atrás de uma árvore e ficou observando.
Eram três soldados mais jovens e o que havia assassinado
sua família, o mais velho.

Os três mais jovens se afastaram do soldado mais velho, que


ficou lavando seu rosto no rio. O persa esgueirou-se até onde
estavam os três soldados e, pelas costas, desferiu um golpe
de espada fatal nos três, cortando-lhes a cabeça. O persa
estava todo ensanguentado, e ainda mais raivoso. Foi cami-
nhando em direção ao romano, que tranquilamente lavava
seu rosto.

O persa foi caminhando silenciosamente em sua di reção e


começou a correr gritando. Assim que o romano olhou para
trás, o persa desferiu um golpe superficial em seu abdômen,
fazendo o romano cair no chão, ao lado do rio. O guerreiro,
muito raivoso, pulou em cima do romano, que ficou paralisado
e sem reação. Nesse momento, o persa levantou sua espada
e se preparou para o golpe final. Nesse momento, o romano
começou a chorar copiosamente. O persa ficou tão surpreso
com aquela reação, que interrompeu o derradeiro golpe e
resolveu perguntar:

– Mas por que você está chorando?

– Os soldados que você matou – disse o romano – eram


meus filhos, os três.

270
Nesse instante, o guerreiro persa olhou bem fundo nos olhos
do soldado romano. Observava seu olhar que era bem triste,
desolado e prostrado. De repente, o persa contemplou, na
pupila de seus olhos, sua própria imagem refletida. Ele pôde
ver seu rosto todo ensanguentado, seu semblante raivoso, e
naquele momento percebeu o que havia se tornado. Aquela
visão parecia ter-lhe despertado de um sono profundo. O
persa captou sua própria imagem nos olhos do romano e
percebeu que, em última instância, não havia muita diferença
entre ele e o romano. Ambos eram guerreiros, ambos lutavam
por seu pais, ambos eram muito ligados à família, ambos a
tinham perdido por alguém que os matou e tinham ódio de
quem os tirou a vida.

Parece que toda a sua vida atravessou sua consciên cia num
segundo… Eles eram humanos, cheios de erros, de vícios, de
imperfeições. Apesar de colocados em posições diferentes,
eram semelhantes. A imagem de si mesmo nos olhos do
romano fez o persa perceber a si mesmo na posição do outro,
e compreendeu que essa posição era a sua mesma posição,
só que do lado oposto. Podia ser o persa a morrer naquele
momento, assim como podia ser o romano. Naquele mo -
mento, tudo fez sentido para ele. Se um podia estar na posi -
ção do outro, por que um haveria de matar o outro, de destruir
o outro, de sentir ódio pelos erros do outro? Não eram ambos
humanos? Não eram sujeitos a erros, como qualquer pessoa?
Ao contemplar o olhar de tris teza do romano, suas lágrimas e
seu desespero, recaiu sobre ele um profundo sentimento de
compaixão. Naquele momento, o persa desistiu do seu intento
e disse:

– Perdoe-me. Você matou minha família há meses atrás. Eu


mergulhei no ódio e acabei perdendo a mim mesmo. Mas
agora pude contemplar meu reflexo no fundo dos seus olhos
e ver que não há diferenças significativas entre nós.

O persa ajudou o romano a se levantar, ainda aba lado. O


persa disse: “Me perdoe pelo que fiz aos seus filhos”. O ro -
mano, ainda chorando, disse: “Perdoe-me também, pelo que
fiz a sua família”. O persa ajudou o romano a en terrar seus
filhos e depois foi embora.

271
Para que tentar destruir o outro, matar o outro, ofender o
outro ou agredir o outro por defeitos, falhas e impurezas que
todos nós possuímos? No fundo, não somos muito diferen -
tes… Todos nós somos humanos e passíveis de erros. So-
mos todos semelhantes. Agredir uma pessoa é o mesmo que
agredir a si mesmo. Humilhar alguém é o mesmo que humi-
lhar a si próprio. Matar alguém é o mesmo que morrer dentro
de si. Todos precisam entender que o outro é um reflexo do
eu e o eu é um reflexo do outro. Cada um de nós pode, um
dia, ver a si mesmo no fundo dos olhos do nosso semelhante
e perceber como somos todos muito parecidos.

272
SER FELIZ

Uma pessoa que não consegue ser feliz por si mesma,


Não será feliz dependendo de algo ou alguém.
Se você não é feliz sem ter amigos, não será feliz com seus
amigos.
Se você não é feliz sozinho(a), você não será feliz na morando
ou casado(a).
Se você não é feliz desempregado(a), você não será feliz
empregado(a).
Se você não é feliz sendo pobre, você tampouco será feliz
sendo rico(a).
Se você não é feliz fazendo o que não gosta, também não
será feliz fazendo o que gosta.
Se você não é feliz durante a tempestade, também não será
feliz quando vier a calmaria.
Se você não consegue ser feliz sem amor, você não será feliz
amando ou sendo amado.
Se você não consegue sua felicidade na insegurança, na
dúvida e na incerteza, tampouco será feliz sem isso.
Se você não é feliz na madrugada, não será no ama nhecer;
se não é feliz no inverno, não será no verão; se não é feliz
sem precisar de nada, não será feliz tendo tudo.
Isso significa que, se a pessoa não é feliz por si mesma, ela
jamais será feliz com algo que a preenche artificialmente.
Em suma, se a pessoa não é feliz de dentro para fora, ela não
será feliz de fora para dentro.
Enquanto as pessoas não entenderem essa verdade, conti -
nuarão infelizes buscando em coisas externas, algo que só
pode ser conseguido internamente.
Não se engane, não se iluda: tudo na vida que não for conse-
guido de dentro para fora, não nos pertence verdadeiramente,
não é nosso, não faz parte de nós, e um dia vamos perder.
Mas o que for conseguido de dentro para fora, não du vide, é
nosso para sempre…

273
O VIAJANTE E A BEBIDA DO PRAZER

(Uma metáfora da condição humana)

Era uma vez um homem muito rico, que vivia num país mara-
vilhoso, muito próspero e com muita natureza. Certa feita,
desejoso de conhecer o resto do mundo, ele viaja a uma terra
distante. Lá chegando, percebe que essa terra é m uito ca-
rente de recursos. O lugar é vazio, estéril e frio. As pessoas
andam aos trapos e estão sempre com fome e com sede. É
um lugar de sofrimento que alguns chamam de “cidade som -
bria”.

O homem caminha por este lugar e vai conversando com


seus habitantes. Um deles oferece ao viajante uma bebida
especial, que afirma ser algo inebriante, mara vilhoso e que
gera muito prazer. O homem resolve então experimentar
aquela bebida. Logo que a toma, sente um prazer enorme e
sua mente começa a viajar. É uma sens ação muito agradável,
um deleite raro, uma satisfação vivaz e prodigiosa.

O viajante permanece mais um tempo caminhando pelas ruas


da “cidade sombria”. As ruas são escuras e meio tenebrosas.
Passado um dia, o viajante deseja novamente ingerir a bebida
exótica. A primeira experiência foi tão agradável que ele de-
cide repeti-la. Retorna ao mesmo homem e pede mais. O
homem diz que agora a bebida custa 5 moedas. O viajante,
sem pestanejar, paga ao homem e leva logo uma caixa da
bebida. O viajante resolve retornar a sua terra.

Durante a viagem, o homem consome todas as garrafas da


bebida, e se satisfaz com aquela substância única. No dia
seguinte, já longe da terra escura, o homem começa a sentir
falta da bebida… Sente uma imensa vontade de tomar nova -
mente aquele líquido sublime e “viajar” novamente no prazer
e no contentamento que a bebida proporciona. Mesmo longe
da cidade, resolve retornar e ingerir mais da bebida praze -
rosa. O homem fica mais alguns dias na cidade e com pra
mais e mais da substância. Algumas semanas se passam e o
homem continua lá. Passados alguns meses, o viajante, que
agora não era mais viajante, resolve ficar mais e mais tempo.
Ao invés de viajar pelo mundo real, o homem agora só con -
segue “viajar” mentalmente no prazer da bebida e no “barato”

274
que ela proporciona. O homem sente que, de certa forma, já
estava completamente dependente da bebida e não conse -
guia mais parar de toma-la. O prazer que ela proporcionava
havia criado um certo vício que se tornara muito difícil de
resistir.

No entanto, a vida na “cidade sombria” era muito difícil. As


pessoas estavam sempre abatidas, esfomeadas, envelheci-
das, cansadas e carentes. Havia muita violên cia, pobreza e
morte. Descobriu que quase todos os habitantes da cidade
eram viciados na bebida e faziam de tudo para obtê-la. Nes-
ses meses, o homem havia sido roubado várias vezes, havia
sido agredido, e após tanto consumo da bebida, sentia -se
cansado, carente e vazio. Já não tinha mais aquela alegria de
viver, aquela paz e felicidade que sempre fizeram parte de
seu ser. Parecia que tudo girava em torno da bebida e do
prazer que ela proporcionava.

Após alguns anos, o homem já tentara diversas vezes sair


dessa cidade, mas sempre que viajava para longe, acabava
irremediavelmente retornando, pois não conseguia mais ficar
sem ingerir a substância. Já percebera que estava viciado.
Por isso, ficou anos e décadas preso aquela cidade. Quanto
mais consumia a bebida, mais ele se sentia consumido por
ela. Já não tinha mais dinheiro, pois toda sua fortuna acabara
no consumo da bebida. O resultado de tudo isso foi dor, ca -
rência, envelhecimento, debilidade, cansaço, apatia, paralisia
e medo, coisas que jamais havia sentido antes.

Certo dia, já cansado de tudo e muito debilitado, de cidiu que


não mais aceitaria viver dessa forma, com pletamente depen-
dente da bebida. Não podia mais viajar por conta do estado
deplorável de seu organismo. Decidiu então ficar semanas
fazendo uma “desintoxicação” e se libertando do apego e da
dependência da bebida. Sofreu muito e foram dias muito
difíceis, de muito sofrimento e de intensa provação, mas ao
final conseguiu libertar-se.

Saiu definitivamente daquela cidade sombria e re tornou a sua


terra, onde encontrou novamente a paz e a felici dade sem
nada que o prendesse.

275
A vida no mundo é semelhante a essa parábola. Os seres que
nascem em nosso mundo, representado pela “cidade som -
bria”, acabam se acostumando com a “bebida do prazer”, que
representa os prazeres, o regozijo, os apegos e todas as
delícias e muletas desse mundo. Mas quanto mais buscamos
o prazer, mais a dor se faz presente, pois ambos são partes
de uma única e mesma realidade.

Da mesma forma que o rico viajante foi perdendo sua fortuna


e ficando vazio e infeliz, as almas que vêm ao mundo aos
poucos vão se prendendo na matéria e ficando igualmente
vazias, carentes, nervosas, solitárias e infelizes. Ao morrer, o
homem sai do mundo, mas tal como o viajante que ao deixar
a cidade sombria tinha sempre que retornar a ela para tomar
a bebida do prazer (que só existe na cidade sombria) e que
criou apego e dependência… Assim também todas as almas
que saem deste mundo precisam sempre retornar, nas cendo
novamente, para mais uma vez experimentar seus apegos,
suas dependências emocionais e todo tipo de pris ão psicoló-
gica que só podem ser experimentados aqui. É isso que na
filosofia oriental se chama de “Roda de samsara” ou roda dos
nascimentos e mortes sucessivos.

Todos devem fazer como o viajante, que abdicou da depen -


dência da bebida do prazer, desintoxicou-se do apego, e
conseguiu finalmente sair da cidade e voltar a sua terra natal.
Assim como o viajante, nenhum de nós pertence a esse
mundo… e por isso, a libertação é necessária para nossa paz
e felicidade.

276
FUNDO DO POÇO

Uma mulher estava passeando com seu filho pequeno. O


menino corria e brincava pelos campos verdes das pradarias.
A mãe olha um pássaro voando, e subitamente ouve um grito
de desespero do seu filho, que caiu num poço fundo e escuro.
A mãe corre até o poço e vê o menino lá embaixo, preso e um
pouco machucado.

Ela se desespera, fica nervosa e grita “Calma filho, vou aí te


buscar!”. Ela se atira no poço, cai lá em baixo, se machuca
toda, e fere ainda mais seu filho. Ela tenta subir, mas com o
peso do filho, não consegue subir pela corda. Ambos, mãe e
filho, ficaram lá por dias e dias. Gritavam, mas ninguém podia
ouvi-los, e acabaram definhando e morrendo de inanição.

Dois anos depois desse incidente, outra mulher tam bém


estava brincando com seu filho no mesmo local. Pela ironia
do destino, o filho dela também caiu lá em baixo e gritou pela
sua mãe. A mulher viu seu filho lá, no fundo do poço, todo
ferido, mas procurou ficar calma e refletir na melhor solução.
Ao contrário da outra mãe, ela não se jogou ou desceu ao
fundo do poço para salvar o filho. Ela pensou, pegou a corda
ao lado do poço, jogou ao menino, e disse alto: “Filho, amarre
essa corda em volta de sua barriga, que eu vou te puxar daí”.

O filho atou a corda em si mesmo, e bem devagar a mãe foi


lentamente puxando o filho. Demorou um pouco, mas ele
conseguiu subir com alguns ferimentos, mas são e salvo.

Quando uma pessoa que muito amamos se encontra no


fundo do poço, ou seja, numa situação compli cada, degra-
dante, de sofrimento, vivendo uma grande tribula ção, dor e
muito ferida, não devemos nos desesperar e descer ao fundo
do poço junto com ela. Unir-se a ela na dor, no sofrimento, e
passar a sentir o que ela sente, nos envolvendo com a
mesma dificuldade, só fará com que afundemos no poço es -
curo em sua companhia, mas efetivamente não nos permitirá
ajuda-la.

A primeira mãe desceu ao fundo do poço com o filho, e por


isso não conseguiu mais sair de lá. Já a segunda mãe, man -
teve distância do fundo do poço, não des ceu de sua posição

277
para juntar-se ao filho, sofrendo com ele, mas do ponto mais
alto onde estava, ela pôde lançar uma corda, e ajuda-lo a
subir do “poço do sofrimento” onde ele estava preso.

Isso vale não apenas para pais e filhos, mas para qual quer
relação humana. Quando nos envolvemos nos proble mas do
outro, e nos deixamos contaminar, sofrendo com a pessoa e
por causa da pessoa, ficaremos mal. Antes era apenas uma
pessoa no fundo do poço, mas depois viraram duas. A melhor
atitude é permanecer onde estamos, em nosso lugar, e sem
descer ao fundo do poço com a pessoa, e ajuda-la a sair de
lá. Quem se mantém onde está e não vai ao fundo do poço
com a pessoa, tem melhores condições de prestar ajuda, se
de fato a pessoa quiser ser ajudada.

Seja empático com o outro, compreenda a visão dele dentro


do contexto em que vive, mas não sofra junto com ele.

278
COMO TRANSMUTAR NOSSO KARMA

Todas as pessoas, em algum momento de sua vida, já ouvi -


ram falar do karma ou da lei do karma. No entanto, são pou-
cas aquelas que sabem o que fazer para transformar seu
karma negativo e se libertar dele. Nessa oportunidade vamos
dar algumas orientações de como cada pessoa, em sua vi-
vência diária, pode se libertar de seu próprio karma.

Karma é a lei de causa e efeito. Tudo aquilo que você faz,


sente ou pensa você atrai para você mesmo. Aquilo que reali -
zamos como obra no mundo retorna para nós como destino,
criando acontecimentos e o cenário de nossa vida futura.
Como disse Jesus: “Quem vive pela espada, perece pela
espada” (Matheus 26, 52). Como disse Buda: “Os seres têm
como patrimônio seu karma; são os herdeiros, os descen -
dentes, os pais, os vassalos do seu karma. É o karma que
divide os homens em superiores e inferiores”. Quem cria uma
teia acaba caindo e se prendendo a ela. Vivemos no mundo
que nós mesmos criamos, experimentamos o céu ou o inferno
que formamos em nossa vida. Quem joga pedras pelo cami -
nho, tropeça nessas mesmas pedras. Quem joga uma bola na
parede, vê a bola retornar a si com a mesma força com a qual
foi lançada. Por outro lado, quem vive pelo bem, recebe as
consequências do bem que produziu. Colhemos aquilo que
semeamos. Ou como diz a máxima: “A semeadura é livre,
mas a colheita é obrigatória”. Tornamo-nos escravos das
consequências de nossas ações. Criamos no presente aquilo
que nos sucederá no futuro. Essa é a lei do karma, ou lei de
ação e reação. O karma vem tanto de nossas ações presen -
tes quanto das ações realizadas em nos sas vidas passadas.
Esse é um pequeno resumo da lei do karma.

Mas o que cada pessoa pode fazer para transmutar seu pró-
prio karma? Essa pergunta obviamente não é sim ples de ser
respondida, pois as implicações e a com plexidade da lei do
karma são imensas e quase insondáveis pela nossa mente
objetiva. No entanto, existem alguns caminhos que pode m ser
trilhados que nos ajudam a amenizar ou mesmo transmutar
nosso karma. Vamos enumerar alguns desses cami nhos:

Em primeiro lugar, uma atitude que contribui para a transmu -


tação de uma parcela considerável do nosso karma é o arre -

279
pendimento. Quem bem compreendia o valor do arrependi-
mento era, como ele mesmo se definiu, “a voz que clama no
deserto”, ou seja, João Batista. Antes do ministério de Jesus,
João Batista convidava o povo a se arrepender de seus peca-
dos. Ele gritava: “Arrependei-vos, pois que é chegado o Reino
dos céus” (Mateus 3, 2). As pessoas que procu ravam João
Batista confessavam a ele seus pecados e depois eram ori -
entadas a se arrependerem desses mesmos pecados, e logo
depois eram banhadas nas águas do rio Jordão no ritual que
ficou conhecido como “batismo”. Esse ritual seguia três pas -
sos importantes: a confissão do pecado, o arrependimento e o
ato de ser banhado nas águas do rio Jordão. A confissão dos
pecados e o arrependimento eram uma forma da pessoa
lembrar dos seus pecados, dos atos reprováveis que havia
cometido e depois ser chamada a arrepender-se deles. O ato
de ser banhado nas águas representava uma purifi cação das
emoções que impregnavam o pecado. Dessa forma, no ritual,
a pessoa se arrependia do mal que havia feito, e esse arre-
pendimento gerava uma libertação desse mal. Alguns místi -
cos ensinam que o arrependimento pode transmutar uma
parte do nosso karma, mas não todo o karma. Dessa forma, a
primeira atitude a ser tomada para aqueles que desejam
purificar seu karma é o arrependimento do mal criado por si
mesmos. Há algumas passagens na Bíblia que parecem
confirmar esse ponto, em (Marcos 1:4), que diz: “E apareceu
João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrepen -
dimento, para remissão dos pecados”. Vemos a mesma ideia
em (Lucas 3:3): “E percorreu toda a terra ao redor do Jordão,
pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos
pecados”. Nos Atos dos Apóstolos, há uma associação entre
arrependimento e remissão dos pecados: “Deus com a sua
destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o
arrependimento e a remissão dos pecados” (Atos
5:31). Portanto, aqueles que quiserem seguir por esse cami-
nho, devem fazer o seguinte: em primeiro lugar, pense em
qualquer atitude negativa que você haja feito. Em segundo
lugar, arrependa-se dessa atitude, admitindo o erro e apren-
dendo com ele. Depois, entregue tudo isso a Deus e pratique
o autoperdão, ou seja, o perdão perante você mesmo e re-
mova qualquer resquício de culpa que você ainda possa ter.
Aceite que o erro faz parte do nosso desenvolvimento espiri -
tual e entregue seus pecados para serem transmutados pelo
plano divino. Esse é o primeiro ponto a ser buscado.

280
O segundo ponto é provavelmente o mais importante de todos
e se refere a “não reação” diante do karma que nos chega.
Quando os efeitos do nosso karma se abatem sobre nós, eles
não devem ser alimentados, e precisam apenas ser observa-
dos em sua passagem. Esse princípio da transmutação do
karma foi claramente ensinado por Jesus, no Serm ão da
Montanha, quando disse: “Eu, porém, vos digo que não re -
sistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, ofe -
rece-lhe também a outra” (Matheus 5:39) e “se qualquer te
obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Matheus 5,
41). Isso significa que, quando o karma nos chega, devemos
aceita-lo de bom grado, abençoa-lo e não reagir ao malfeitor
ou a situação que nos oprime, pois tudo isso nada mais é do
que a ação do nosso karma sobre nós mesmos.

Isso significa que, quando uma pessoa te agredir, não a


agrida de volta; quando uma pessoa te ofender, não devolva
a ofensa; quando uma pessoa te fizer qual quer mal, não de-
volva esse mal a ela, pois assim você es tará permitindo que
seu karma passe por você e se esgote ali mesmo, sem ser
alimentado. Mas se a pes soa ofendida devolve a ofensa, o
karma se mantém; se a pessoa agredida agride de volta, o
karma é alimentado e continua conosco (podendo até mesmo
se tornar mais forte e intenso).

Tudo isso está expresso com clareza no Sermão da Monta -


nha, que é um guia muito eficaz para a trans mutação de
nosso karma. Jesus, que obviamente conhecia a lei do karma
e de reencarnação, ensinou um modo eficiente para qualquer
pessoa, em sua vida diária, transmutar seu próprio karma. É
como atirar uma bola na parede. Se uma pessoa joga a bola
na parede, essa bola retorna a ela. No momento do re torno,
se ela bater de novo nessa bola com a mesma força que ela
vem a nós, a bola novamente atingirá a parede e retornará
com a mesma intensidade, ou talvez com intensidade ainda
maior. O mesmo ocorre quando uma pes soa reage diante de
uma circunstância que lhe parece negativa. Quando a força
do karma vem e reagimos, nós estamos, mesmo sem querer,
alimentando o karma, dando força para ele, e aquela energia
karmática retornará novamente mais cedo ou mais tarde no
futuro. Ao reagir de forma emocional podemos até mesmo
estar criando um novo karma.

281
Vamos agora imaginar a energia do karma como uma cor-
renteza que nos arrasta. Quando uma pessoa vai de encontro
a uma corrente lutando contra ela, sofrerá seus efeitos e per-
manecerá parada, ou será arrastada ainda mais. Por outro
lado, quando essa pessoa se deixa levar sem nada fazer,
talvez pelo medo que a paralisa, a corrente a arrastará e ela
será conduzida rio abaixo. Mas se, de outro modo, ela se
colocar acima da correnteza, estará fora de seu raio de in -
fluência e o arraste das águas não terá qualquer poder sobre
ela. O mesmo ocorre com a força do nosso próprio karma. No
entanto, é preciso dizer que não basta apenas não reagir ao
mal que é feito: é necessário não se deixar levar pelas emo -
ções que eles nos suscitam. De nada adianta não reagir e
permanecer com raiva do nosso agressor, daquele que nos
ofendeu, ou preocupado, com medo, magoado, etc. É preciso
deixar que a força do karma venha e passe por nós, sem que
haja qualquer reação de nossa parte, seja física ou emocio -
nal. É como deixar que a bola que atiramos na parede venha
a nós e nos atinja, sem que isso nos afete internamente. Ou
tão somente nos desviarmos da bola sem qualquer emoção,
apenas nos esquivando. Ao invés de bater no vamente na
bola, deixe que ela venha e simplesmente cumpra aquilo que
a ela está destinada. Se a pessoa deixa acontecer e não
reage emocionalmente, não se deixa abalar, não se perm ite
atingir pelo mal que lhe acomete, o karma vem e vai embora,
sem qualquer efeito sobre nós e acaba sendo neutrali zado: a
energia se perde e deixa de existir. Aqui entra o princípio da
equanimidade, tal como ensinado pela tradição Hindu. Esse
princípio implica em agirmos e sentirmos da mesma forma
tanto na tempestade quanto na bonança. O sábio não se
deixa entristecer nos tempos de crise e não se regozija nos
tempos de abundância. Ele permanece tranquilo diante do
bem e do mal que o atinge. Os acontecim entos simplesmente
passam por ele sem que fiquem nele, sem que ele os guarde
dentro de si, sofrendo ou se alegrando. Alguns podem acre-
ditar que isso implica numa frieza profunda, mas isso não é
verdade: a equanimidade nos conduz além das alegrias e
gozos mundanos, para alcançar uma alegria espiritual que
não depende de nada que existe nesse mundo. Ao contrário
dos gozos do mundo, esta é uma felicidade muito mais pura e
real.

282
Quem soube usar muito bem esse princípio da trans mutação
do karma foi Gandhi. O Mahatma conseguiu a libertação da
Índia convidando o povo indiano ao famoso método da não-
violência, em Sâns crito “ahimsa”, ou seja, a não reagir à vio-
lência dos ingleses, mas tam bém a não cooperar com eles,
não obedece-los, não fazer o que eles mandavam. Quando os
ingleses agrediam o povo, Gandhi orientava as pessoas a não
revidar a agressão com outra agressão, e assim deixar o mal
apenas com os ingleses. É como aquela parábola do pre -
sente: se você aceita o presente que te dão, ele fica com
você, mas se você não aceita o presente, ele fica com a outra
pessoa. Aquele que aceita uma agres são e não revida, deixa
a agressividade, a raiva etc, com o outro. Assim, se os india-
nos reagissem à agres são, o mal permaneceria com eles, e
não apenas com os ingleses. Com esse método tão simples,
Gandhi pôde conduzir a Índia a sua libertação, graças a trans -
mutação de uma parcela do karma de toda a nação.

O terceiro ponto que nos ajuda a transmutar todo o nosso


karma de uma ou várias vidas passadas é a reparação do
erro cometido. Essa é a forma de transmutação mais conhe-
cida e compreendida pelo público em geral. Vamos imaginar
uma pessoa que ao longo de várias vidas tenha sido um guer-
reiro que matou, estuprou e torturou milhares de pessoas.
Numa vida futura a providência divina pode lhe conceder um
instrumento de transmutação desse karma, que pode ser, por
exemplo, uma profissão na área de saúde, como a me dicina,
a enfermagem, a farmácia, a psicologia, etc. Uma enfermeira
pode atender milhares de pessoas durante a sua vida, e estas
podem ser as mesmas pessoas que ela, em vidas passadas,
cometeu várias crueldades. Outras pessoas podem participar
de campanhas beneficentes visando reparar o mal que fize-
ram no passado; outras podem realizar trabalh os em sua
comunidade; podem ajudar animais de rua; podem se enga jar
em campanhas de diversos tipos; há muitos instrumentos que
a inteligência cósmica nos oferece para que possamos con -
sertar o mal pretérito. Alguns dizem que a mediunidade é
também um instrumento de transmutação do karma passado.
Muitos médiuns vêm ao mundo com a missão de ajudar mi -
lhares de pessoas a fim de diminuir um pouco, ou mesmo es -
gotar, uma dívida que foi gerada ao longo de várias vidas
passadas.

283
Uma pergunta que as pessoas podem fazer é: como posso
fazer o bem? Que ações devo iniciar? A res posta a essa
pergunta varia de pessoa para pessoa, mas há uma resposta
geral que é bem simples: faça aquilo que você acredita que
seja o bem, dentro do seu nível de consciência. Tornar-se
uma pessoa boa dentro do seu trabalho, de sua família, em
suas relações sociais e diante de sua comunidade, expres -
sando em atos e sentimentos todo o bem que lhe for possível,
já é um grande feito. No entanto, é preciso que esse bem
realizado seja total e plenamente isento de qualquer resquício
de interesse pessoal. Tudo o que fizer, faça pensando no bem
estar do outro e não na sua recompensa kármica. Isso inclu -
sive tem a ver com o quarto ponto a ser abordado.

O quarto ponto é muito bem conhecido pela tradição hindu.


Nos textos sagrados da tradição do “Sanatana Dharma” (Hin -
duísmo), em especial num livro sagrado conhecido como
“Bhagavad Gitá” (Canção do Senhor), dos diálogos de
Krishna com Arjuna, em muitos momentos o avatar (Krisna)
vai desenvolvendo a seguinte ideia: não espere qualquer
resultado de seus próprios atos. A expectativa de resulta dos
é, sem engano, um grande gerador de novos karmas e, no
Hinduísmo, ao longo dos milênios, esse princípio foi muito
bem compreendido. Numa passagem lemos: “Faze as tuas
obras sem procurardes recompensa, sem te preocupardes
com teu sucesso ou insucesso, com teu ganho ou com teu
prejuízo pessoal”. Em outra passagem está escrito “Quem
atingiu a consciência do yogui é capaz de ele var-se acima
dos resultados bons e maus”. A expectativa em relação aos
resultados de nossas ações é o substrato da formação dos
karmas em nossa vida. A não expectativa dos frutos de nossa
ações é mais uma atitude preventiva para a criação de novos
karmas do que propriamente transmutadora, embora também
ajude nessa transmutação dos karmas já contidos em nosso
ser. Todo aquele que realiza uma ação espe rando uma re-
compensa está direcionando sua cons ciência para o futuro,
onde se espera algo que supos tamente virá. No entanto,
aquele que nada espera e passa a viver apenas o presente,
feliz com o que é no presente, vive melhor e não cria qualquer
fruto a partir de suas ações, além de ir aos poucos transmu -
tando o karma que ainda se tem. A vivência plena do mo -
mento presente, sem esperar algo no futuro, nos ajudará a
transmutar uma parcela considerável do nosso karma. Espe -

284
rar frutos de nossas ações é o mesmo que criar um sofri -
mento futuro, pois esses frutos nunca saem como nós os
imaginamos, e sem pre geram angústia, frustração e infelici-
dade.

O quinto ponto, e não menos importante para a trans mutação


de uma boa quantidade de nossa dívida kármica, se refere a
entrega consciente e abnegada de nossa vida nas mãos da
consciência divina, sem qualquer restrição, aceitando plena-
mente a vontade do cosmos sobre nós. Esse ponto é muito
importante, pois ele afirma ou reafirma nossa fé numa in -
teligência superior que guia todos os acontecimentos huma-
nos, e as sim nos liberta de karmas pesados. Essa máxima
pode ser expressa em quatro palavras chave: “confio, en-
trego, aceito e agradeço”. Quem confia em Deus, deve se
entregar totalmente a Ele; quem se entrega, aceita tudo o que
nos ocorre com total confiança nos planos divinos; e quem
aceita toda a obra cósmica em nossa vida, agradece a opo r-
tunidade de desenvolvimento de nossa alma que Deus nos
concede nesse mundo, a fim de purificar integralmente nosso
espírito. Se tenho uma doença grave, não importa, não sofra
com isso, não duvide, não se abale, apenas se entregue a
Deus e diga “Que seja feita a Sua vontade, e não a minha”.
Quem está desempregado, sem dinheiro, pronto para perder
sua casa e ser despejado, não se preocupe, não se deixe
abater, apenas entregue sua vida nas mãos de Deus, tendo
consciência que os planos do cosmos são melhores que
nossos planos humanos. Aquele que está deprimido, sem
rumo, sem ânimo, que apenas vê os dias passarem, sem
qualquer esperança, apenas se entregue ao divino e acredite,
do fundo de sua alma, que tudo concorre a um bem maior, a
um propósito divino, a uma harmonia universal, que um dia
será nossa realidade, e que precisamos apenas en tregar a
Deus e esperar que sua vontade seja reali zada. Quem con-
segue fazer isso de forma pura e plena, consegue uma liber-
tação dos karmas. No entanto, aquele que mentaliza se en-
tregar, mas não o faz com fé irrestrita, e age movido pelo
interesse de benefícios humanos e mundanos, não conse -
guirá a libertação do karma. É preciso que essa entrega seja
completa e sem restrições, sem nada esperar, apenas se
colocando nas mãos de Deus. Aqueles que pensam que é
muito difícil seguir estas instruções, devem entender que é

285
muito mais difícil viverem suas vidas entregues a severa e
implacável trama do karma.

Algumas pessoas dizem: “Fiz todas essas coisas, mas nada


mudou em minha vida”. A quem profere tais palavras deve-
mos adiantar que elas estão violando o quarto ponto expli -
cado da transmutação dos karmas, que prega a não expecta -
tiva dos frutos de nossas ações. Aquele que faz esperando
melhorar de vida, nada consegue, pois ainda semeia espe-
rando uma abundante colheita, e quem pensa dessa forma,
ainda permanece com sua consciência presa na expectativa
dessa colheita, aprisionada aos frutos de suas ações, enjau -
lada nas tramas da lei do karma e na roda do samsara. É
preciso deixar claro que esse trabalho pode nem mesmo vir a
se concretizar na vida atual. É possível que um contexto mais
favorável venha a se expressar apenas em nossas vidas
futuras, ou como se diz nas tradições orientais, que a alma
venha a renascer em zonas cósm icas que são consideradas
paraísos celestiais, onde um nível de karma mais denso não
pode alcançar. Aqui devemos lembrar um ditado popular que
diz “Estrada de mil léguas começa nos primeiros pas sos”. Em
algum momento devemos iniciar nossa jornada. Então, que
esse momento seja agora e não no futuro, pois tudo na vida
só pode ter seu início no presente, e nunca no futuro, pelo
simples motivo de que o futuro não existe. Pro cure também
não se preocupar com o karma alheio dizendo “Mas tal pes -
soa fez o mal a vida inteira e ela parece estar numa condição
muito boa”. A resposta a essa questão é bem simples: ela se
encontra apenas temporiamente numa condição favo rável e
confortável, e essa condição pode até mesmo durar sua vida
inteira.

Deus sempre permite que os seres vivam a plenitude de suas


escolhas, mesmo aqueles que fazem o mal. Essas almas
precisam fazer o mal para depois sentirem em si mesmos
todo o mal que foi realizado a outros, e só assim vão se li -
bertar do mal que há em seu próprios corações. No entanto,
nas próximas encarnações, ela deverá sentir em si mesma
toda a carga da semeadura que acumulou ao longo dessa
vida, renascendo em situações sofridas, com escas sez
de recursos, muitas vezes em estado de miséria, infortúnios e
calamidades. Lembrando sempre que a lei do karma jamais
pode ser considerada punitivia, mas educativa, pedagógica.

286
Ela serve para ajudar a alma em seu adiantamento, desen -
volvimento e libertação do jugo da matéria, e não para puni-la
pelos maus feitos praticados, posto que não existe algo que
podemos caracterizar como “punição” em toda a criação de
Deus.

287
A PEDRA NO CAMINHO

Um homem começou a seguir um caminho extremamente


tortuoso. Começou então a percorrer o caminho. Foi cami-
nhando, pulando alguns buracos, subindo nas pedras e fu-
gindo de alguns animais. No entanto, ao subir em pedras
maiores, ele passou a observar o que o esperava mais à
frente. Havia muitos animais ferozes, como lobos. Havia
também mais à frente areia movediça, assim como muita
lama no caminho. Havia buracos fundos e bem perigosos. O
homem começou então a ficar preocupado com os desafios
que o esperavam. Foi atraves sar um barranco, mas estava
pensando nos animais e na lama à frente. Muito nervoso e
pesaroso com o que teria que enfrentar, não prestou atenção
onde pisava, desequilibrou-se e acabou caindo de cima do
barranco. Morreu ali mesmo.

Outro homem foi cruzar o mesmo caminho. Iniciou des viando


de algumas pedras e buracos. Subiu nas pedras maiores e,
tal como o outro homem, viu os perigos que deveria enfrentar.
No entanto, o homem pensou “Por agora vou me concentrar
em cada desafio no momento em que eu o estiver cruzando.
Deixe o depois para depois”. Dessa forma, o homem passou
a prestar bas tante atenção em cada perigo que es tava diante
de si, sem se preocupar com o que aconteceria no futuro.
Sempre que lhe vinha algum perigo, procurava focar sua
mente apenas nele, e deixar de lado o restante dos perigos
que se encontravam à frente no caminho. Foi então ultrapas -
sando um a um, e finalmente cruzou a longa e tortuosa es -
trada.

Qual a diferença desses dois homens? O primeiro olhou


adiante e ficou preocupado com o que teria que enfrentar,
deixando de prestar atenção no desafio imediato. O segundo
focalizou sua atenção no desafio imediato, e deixou o futuro
de lado para deter-se sobre ele apenas quando ele chegasse.

Na vida humana, é necessário enfrentar sempre o desafio que


está diante de nós, sem se preocupar com os problemas que
ainda não se apres entaram. Aqueles que ficam preocupados
com as dificuldades que se encontram posteriormente deixam
de se concentrar naquelas que se encontram agora, e aca -
bam não fazendo o que precisam. É necessário vencer sem -

288
pre a pedra de cada momento, sem se importar com o que
ainda não veio. Quem age dessa forma, caminha muito me -
lhor pelas tortuosas estradas da vida.

289
ABANDONE O CONSUMISMO

Vejo muitas pessoas desempregadas, com dívidas e falidas


pedindo ajuda. Esse é o melhor momento para refletir sobre
esse mundo capitalista e consumista que vivemos.

Toda nossa cultura consumista nos induz a consumir muito


mais do que o necessário. Digo “nos induz”, mas essa indu -
ção não é bem verdadeira, pois ela é muito confortável e
conveniente para nós, nos gera prazer e contentamento. Por
isso, ela nos induz apenas relativamente, pois nós somos os
grandes res ponsáveis pelo mergulho nesse mundo consu -
mista.

Hoje em dia nossa vida parece só ter sentido com o con -


sumo… Parece que nos comparamos com os outros e dese-
jamos consumir somente porque os outros consomem. Por
outro lado, nossa infelicidade, nossas frustrações e nossa
carência estimulam mais e mais o consumo desenfreado.
Compramos muito mais coisas do que precisamos e depois
não conseguimos arcar com as coisas fundamentais, ficamos
endividados, desempregados e não temos uma reserva finan-
ceira para a época de vacas magras.

Todos precisam nesse momento abandonar comple tamente


esse mundo consumista e vazio, e entender que esse con-
sumo exacerbado nos prejudica imensamente, seja criando
dívidas, seja fazendo com que pas semos a dar valor ao su-
pérfluo, seja tentando fechar o buraco interior que existe den -
tro de nós e que nunca será preenchido com bens de con -
sumo.

Deixemos de lado as extravagâncias nos shoppings, as refei -


ções opulentas nos churrascos e barzinhos nos fins de se -
mana, as bebedeiras irrefreadas que só servem para camuflar
nossos sentimentos, as ostentações tos cas daqueles que
querem sentir-se superiores apenas pela sua capacidade de
compra, renda e consumo. Tudo isso é uma ilusão que nos
atrapalha em momentos que necessitamos de uma reserva
financeira…

Vamos acordar desse sono consumista e começar a dar valor


ao que realmente importa….

290
Ou não… quem quiser continuar com esse instinto consu-
mista, essa gana de possuir mais e mais, essa ânsia de des -
tacar-se da sociedade apenas pelo poder de compra… conti -
nue.

Mas depois não reclame que sua vida está vazia, sem sentido
e solitária.

291
ESPERAR PARA VIVER

Há pessoas que vivem esperando o tempo passar…


Existem aqueles que vivem esperando o fim de semana para
poderem fazer o que gostam. Elas vivem pulando de um fim
de semana ao outro, e depois ao outro, e ao outro… e ficam
assim indefinidamente.

Existem aqueles que vivem esperando um sonho se realizar


para poderem viver mais plenamente.

Há aqueles que esperam ser médicos; que esperam ser ato -


res ou atrizes; que esperam ser cantores; que espe ram com-
prar uma casa; que esperam passar num concurso; que espe-
ram aposentadoria; que es peram alguma realização, algum
sonho, ou qualquer coisa que os traga a felicidade que eles
não têm agora. É preciso entender que: Quem vive esperando
o sonho, acaba não vivendo a realidade.

Existem também aquelas pessoas que vivem esperando sua


alma gêmea para poderem aproveitar o amor e a vida a dois,
que passam a vida esperando o outro para se sentirem com -
pletos consigo mesmo.

Há também aqueles que vivem esperando o relógio marcar


seis horas da tarde para poderem sair do em prego e chega-
rem a casa. Muitas dessas pessoas podem ter dificuldade de
dormir, pois não querem que o dia bom acabe; ou terem difi -
culdade de acordar, pois não querem que o dia ruim comece.

Existem aqueles que vivem torcendo para o fim de semana


não passar rápido, para que não chegue segunda feira e eles
tenham de deixar de viver.

Existem aqueles que vivem esperando estar com o outro,


estar com a mãe, com o pai, ou aqueles que vivem esperando
o filho chegar em casa, para só nesse momento começarem a
viver.

Existem sempre pessoas que estão esperando algo terminar


ou pessoas que estão esperando algo come çar para que
possam, finalmente, começar a viver.

292
Existem muitas pessoas que esperam chegar ao barzinho
para beber com os amigos, que esperam chegar aquela via-
gem dos sonhos, que esperam chegar aquele almoço no
restaurante com os amigos, que esperam chegar ao shopping
e comprar o que quiserem, ou aqueles que esperam ter di-
nheiro, ou mesmo ter muito dinheiro, para só então poderem
viver plenamente.

Essas pessoas acreditam que viver intensamente é esperar


que algo bom aconteça.

Mas esperar algo bom não é viver… vivemos quando nos


sentimos bem mesmo sem nada de bom acontecendo.

Nada bom, agradável ou satisfatório precisa acontecer para


você estar bem… e se você está bem, não precisa que
aconteça algo bom para fazer você se sentir bem.

Aquele que vive brigando com o relógio, que vive ten tando
prolongar o tempo ou encurtar o tempo… Esse está perdendo
sua vida e jogando fora a oportunidade de ser feliz agora.

Se você vive querendo que o tempo passe rápido ou que -


rendo que um período de tempo não acabe, você não vive
enquanto espera e não vive enquanto deseja que algo não
termine.

Há uma frase de sabedoria que diz: Quem não começa a


viver agora, não começará a viver no futuro ou em alguma
realização no futuro.

“Quem espera sempre alcança”… Diz o ditado popular.

Mas o mais correto seria dizer… Quem fica esperando nunca


vive.

Quem fica esperando a felicidade, nunca a alcançará.


Pois a felicidade não se espera… A felicidade se vive, a felici -
dade se escolhe viver agora.

Enquanto você não for feliz mesmo não tendo nada… Não se
engane: você jamais será feliz mesmo que tenha tudo.

293
É no momento presente que a vida acontece… É preciso
ignorar a temporalidade; é preciso viver além do tempo; é
preciso estar na eternidade para viver plenamente. O mo-
mento presente é a eternidade…

E nunca é demais repetir:

Você não precisa de nada para ser feliz.

294
PRECISO MESMO DISSO?

Uma adolescente saiu com o seu avô e ambos decidiram ir ao


shopping.

Chegando lá no shopping, a adolescente disse que iria com -


prar dois sapatos, duas camisetas, uma saia e um kit de ma -
quiagem.

O senhor, dos seus quase 75 anos, olhou para a neta e disse:

– Querida, no meu tempo vivíamos na roça, com muita es -


cassez de recursos. Então, meu pai, seu bisavô, quando nos
dirigíamos ao centro da cidade para fazer algumas compras,
ele me ensinou a sem pre fazer uma simples pergunta.

– A pergunta é: preciso mesmo disso?

A neta olhou para o seu avô e disse:

– Ah vô, precisar mesmo eu não preciso, mas vai ser bom ter
essas coisas a mais.

O senhor olhou para a jovem e disse:

– Veja querida, se você está adquirindo algo de q ue não ne-


cessita, isso se chama “criar a própria necessidade”. O ato da
compra se transforma apenas num ritual que gera prazer e
satisfação momentânea, mas, no fundo, é algo totalmente
desnecessário e vazio. Você está criando em você mesma a
necessidade da compra, mas na realidade você não precisa
destas coisas. Vamos lembrar que você já possui uma grande
coleção de sapatos em sua casa que eu já vi. Você já tem
muitas camisetas parecidas com essas que você quer com -
prar. Você já tem várias saias, e já pos sui um kit completo de
maquiagem. De onde nasce o desejo por mais compras de
objetos que você já possui?

A neta não sabia bem explicar o motivo de querer com prar


estas coisas. O avô continuou.

– Em sua vida, lembre-se sempre dessa simples pergunta:


preciso mesmo disso que desejo comprar? Pois, na maioria

295
das vezes, nossa noção de necessidade de compra nada
mais é do que uma necessidade criada apenas para satisfa-
zer uma ânsia de consumo passageira, e não é algo que
precisamos, que será útil, ou que fará alguma diferença em
nossa vida. O homem moderno sempre consome muito mais
do que precisa, sempre come muito mais do que precisa, e
quase sem pre faz muitas coisas que não são verdadeira -
mente necessárias, tudo para corresponder a um instinto que
foi criado por ele mesmo ou pela mídia, mas que não encon -
tra nenhuma base em sua realidade.

A adolescente, ouvindo estas palavras, disse:

– De fato, não preciso destas coisas…

Ela voltou ao balcão da loja e devolveu cada um dos itens que


iria adquirir.

O idoso concluiu:

– Lembre-se sempre da pergunta chave, um questionamento


muito importante: Isso realmente é neces sário? Preciso
mesmo disso? Na maioria das vezes, a resposta é não…

296
NÃO SE IDENTIFIQUE

Eu tenho um corpo físico, mas eu não sou esse corpo.


Eu tenho emoções, mas eu não sou nenhuma dessas emo -
ções.
Eu tenho uma personalidade, mas eu não sou essa persona -
lidade.
Eu tenho uma mente, mas eu não sou essa mente.
Eu vivo determinadas situações e acontecimentos no mundo,
mas eu não posso me identificar com eles.
Eu tenho um carro, mas esse carro não me pertence de fato.
Eu gosto de comer arroz, mas quem gosta é o corpo físico.
Eu gosto de viajar, mas quem viaja é o corpo, a mente e as
emoções, não o espírito.
Você pode ter um corpo, mas não se identifique com ele.
Você pode ter emoções, mas não se deixe escravizar por
elas.
Você pode ter prazer, mas não fique aprisionado nele.
Você pode correr, mas não tenha pressa.
Você pode ajudar, mas não fique preocupado em aju dar.
Você pode possuir, mas não fique apegado ao que você pos -
sui.
Você pode ter dinheiro, mas não permita que o di nheiro tenha
você.
Você pode buscar conhecimento, mas saiba que ele é limi -
tado e que, no final das contas, você nada sabe.
Você pode cultivar crenças, mas não sofra quando elas forem
destruídas pelo real.
Você pode viver bem, mas não fique triste quando co meçar a
viver mal.
Você pode buscar a paz, mas não perca a paz quando não
conseguir ter paz que é do seu desejo.
Você pode buscar ser bom, mas não se martirize quando não
conseguir ser tão bom quanto acredita que deve ser.
Você pode ter sucesso, mas saiba que ele um dia terá um fim.
Não viva por isso ou aquilo, apenas viva.
Não faça esperando resultados, apenas faça ou deixe de
fazer.
Não queira recompensas, pois elas sempre vão te frus trar no
final.
Não se identifique com as coisas do mundo.
Não pense “eu sou isto”, “eu sou aquilo”.
No momento em que você pensa “eu sou isso”, você deixa de

297
ser tudo e passa a se limitar.
No momento em que você tem, você deixa de ser.
No momento em que você pensa que é, você não é mais.
Então, apenas deixe toda a vida fluir através de você… e não
se apegue a coisa alguma.
Seja o espírito em Deus… e Deus no espírito.
“Eu e o Pai somos Um” (Jesus)

298
VIVA PELO ESPÍRITO

O espírito é o ser eterno… o ego é passageiro.


O espírito é luz… o ego é a sombra.
O espírito existe, é real, é essência… o ego é falso, é ilusório,
é apenas uma aparência.
O ego é uma onda que vem e vai… O espírito é como o mar.
Enquanto o ego diz: quero que seja feita a minha von tade.
O espírito diz: entrego, tenho fé e agradeço ao divino.
Enquanto o ego diz: quero te possuir.
O espírito diz: quero que sejas feliz.
Enquanto o ego diz: quero ter.
O espírito diz: quero ser.
Enquanto o ego diz: sou mais eu,
O espírito diz: estou em harmonia com a vida universal.
Enquanto o ego diz: quero impor minha verdade.
O espírito diz: eu busco a verdade.
Enquanto o ego diz: não quero sentir.
O espírito diz: permito que a existência flua através de mim.
Enquanto o ego diz: vou vencer o outro.
O espírito diz: vou vencer a mim mesmo e as minhas imper-
feições.
Enquanto o ego diz: eu sei de tudo.
O espírito diz: minha mente é limitada e por isso tenho muito
o que aprender.
Enquanto o ego diz: sou melhor do que você.
O espírito diz: somos filhos do universo e não há supe rior ou
inferior.
Enquanto o ego diz: preciso correr para atingir obje tivos.
O espírito diz: sou feliz com o que tenho.
Enquanto o ego diz: tenho pressa para realizar.
O espírito diz: tenho paciência.
Enquanto o ego diz: vivo no passado e no futuro.
O espírito diz: vivo no eterno presente, a fonte da vida.
Enquanto o ego diz: o diferente é estranho e mau.
O espírito diz: é na diferença que reside a diversidade e a
riqueza.
Enquanto o ego diz: a culpa é sua.
O espírito diz: a responsabilidade é minha.
Enquanto o ego diz: eu julgo mesmo sem conhecer.
O espírito diz: procuro compreender sem julgar.
Enquanto o ego diz: busco a vida no exterior.
O espírito diz: eu encontro em meu interior.

299
Os sábios de todas as épocas sempre disseram:
O ego é a morte… o espírito é a vida.
O ego é a imagem… o espírito é a essência.
Não viva pelo ego…
Viva pelo espírito.

300
A FÁBULA DO PÁSSARO QUE APRENDEU A VOAR

Um passarinho acabara de romper a casca e nascer. Ele


viveu por um certo período no ninho, sendo dia riamente cui-
dado pela sua mãe. Após algum tempo, ele começou a andar
ao redor do ninho e foi reconhecendo o local onde viveu até o
presente momento.

Depois disso, começou a contemplar o céu… Viu sua mãe e


outros pássaros cortando a abóbada celeste em esplendoro -
sos voos, exercendo seu direito sagrado à liberdade. Após
essa observação, o passarinho decidiu que queria também
viver no céu e aprender a voar como os outros pássaros, mas
para isso ele deveria renunciar à proteção, ao conforto e à
estabilidade do ninho.

Seu entusiasmo diante dos voos rasantes dos pássa ros e de


tão promissora liberdade lhe parecia muito mais animador do
que o conforto do ninho. Dessa forma, ele decidiu abdicar da
proteção da casa que o prendia e arriscar seu primeiro bater
de asas. Começou a treinar suas asas e aos poucos foi as -
cendendo ao céu.

No entanto, assim que ele se deparava com a imensi dão da


montanha diante dele, o temor passava a tomar conta de todo
seu corpo e ele não conseguia voar. Olhava para baixo e
percebia um assustador abismo que o conduziria inevitavel -
mente ao chão e a morte caso se aventurasse nos voos. O
passarinho teve bas tante medo de enfrentar aquele incomen-
surável vazio, um espaço que parecia nada conter, ape nas a
possibilidade de uma queda que o levaria a morte.

Um pássaro mais antigo veio em sua assistência e disse:


“Para conseguir voar e conquistar a liberdade do voo é ne-
cessário enfrentar o abismo e se deixar cair. Depois, você
deve abrir as asas e voar. Só assim você poderá aproveitar o
céu, como todos de sua espécie um dia farão, e você só pode
fazer isso sozinho”.

O passarinho finalmente tomou coragem e deixou-se cair no


abismo. Ele foi caindo, caindo… mas não conseguia abrir
suas asas e voar, pois ficou paralisado pelo medo. O pássaro
mais velho o acompanhou e gritou: “Abra as asas e voe”. O

301
passarinho estava quase chegando ao chão. Iria morrer caso
não se libertasse do medo e não abrisse suas asas. Quando
o chão estava quase chegando, ele sentiu a morte che -
gando… abriu suas asas e, finalmente, deu um mag nífico voo
rasante…

Bateu suas asas e, de forma sublime, voou a grandes altitu -


des. Agora possuía a liberdade de ir onde qui sesse, de voar
para qualquer lugar, além de uma visão panorâmica do alto.
Tinha toda a infinidade do céu para existir.

Os seres humanos são como os pássaros. Muitos ficam pre-


sos a proteção e ao conforto do ninho, o que equi vale a fica-
rem aprisionados em seus desejos, apegos, conforto, di-
nheiro, crenças, etc. Num certo momento, de tanto sofrerem a
estagnação do ninho, eles sentem que precisam se libertar e
passam a observar o céu, que representa a ascensão e li -
bertação espiritual. Mas para atingir esse propósi to, eles pre-
cisam vencer seus medos mais básicos, superar suas dúvi -
das, soltar todo o passado que os prendem e deixar-se cair
no abismo vazio, que aqui representa o desconhecido e a
morte do ego nesse “nada”. Mas esse vazio não é ausência
de tudo, mas sim um espaço livre de qualquer obstáculo e
que lhe dará liberdade para recomeçar em outro nível, além
de uma visão privilegiada do mundo visto “do alto”, onde ele
atinge o desprendimento das prisões do mundo objetivo. Ele
então deve fazer como o passarinho, deixar-se cair no abismo
e sentir que vai morrer quando cair no chão, caso não abra
suas asas e voe. O chão aqui representa as referências de
certo e errado, bom ou mau, sucesso ou fracasso, alto e
baixo, tudo o que lhe dá uma noção de estar bem ou e star
mal. Mas se não existe o alto e o baixo, para onde podemos
cair? Se não existir o bom e o mau, só uma entrega sincera a
Deus com fé, não há mais chão para o matar. Assim, ao che -
gar no momento de uma aparente morte, esse é o momento
em que ele renasce, se liberta, e pode viver no “céu” de sua
consciência desperta.

302
IMAGEM E ESSÊNCIA

Aquele que precisa provar o seu valor a alguém, tal vez não
confie tanto em si mesmo.
Aquele que precisa gritar para ser ouvido, talvez não esteja
ouvindo a si mesm o.
Aquele que precisa se autoafirmar para ser reconhe cido,
talvez ele mesmo não se reconheça.
Aquele que sente necessidade de convencer alguém de sua
crença ou opinião, talvez ele mesmo não es teja convencido
sobre isso.
Aquele que sente necessidade de mostrar a todos que você é
superior, talvez se sinta inferiorizado diante do outro.
Aquele que sente necessidade de se apoiar em algo, talvez
não sinta nenhum apoio dentro de si mesmo.
Aquele que sente necessidade de demonstrar sua in depen-
dência, talvez seja mais dependente do que supõe.
Aquele que sente necessidade de transmitir uma ima gem,
pode sentir falta desse mesmo conteúdo, ou dessa essência
dentro de si mesmo.
Quem tenta provar algo, não está certo desse algo;
Quem tenta parecer, pode não ser o que tenta de todas as
formas transmitir.
Cada aspecto de nossa vida que tentamos provar, de monstrar
ou fazer parecer diante de outros,
Pode representar uma carência dentro de nós.
Não se preocupe em parecer algo; preocupe-se em ser.
Viva com a verdade do ser que você é,
Assim toda a sua vida será mais verdadeira e feliz.

303
O CAMINHO DOS SÁBIOS

O homem medíocre é cheio de certezas… O sábio duvida


sempre de suas crenças.
O homem medíocre quer ser maior que o mundo… O sábio
quer servir o mundo deixando sua obra.
O homem medíocre é cheio de si mesmo… O sábio é vazio
de si mesmo e por isso se abre para a vida.
O homem medíocre é escravo dos seus desejos… O sábio
nada deseja para si e por isso, está feliz sem pre.
O homem medíocre quer sempre mais e mais e mesmo com
muito, nunca está satisfeito… O sábio agradece o que tem e
faz do pouco que tem, o suficiente.
O homem medíocre acha que tem muitos direitos… O sábio
prioriza seus deveres.
O homem medíocre dá mais atenção ao individual… O sábio
vê primeiro o coletivo do qual é parte integrante.
O homem medíocre ri dos outros, mas está sempre de mau
humor… O sábio ri de si mesmo e está sem pre de bom hu-
mor.
O homem medíocre nunca admite seus erros e im perfei-
ções… O sábio reconhece seus enganos e por isso aprende
com suas falhas.
O homem medíocre quer sempre ser melhor que os outros…
O sábio busca apenas melhorar a si mesmo.
O homem medíocre quer tudo mudar… O sábio deixa tudo
fluir.
O homem medíocre sente ódio, mágoa, quer se vingar, quer
punições, julga e condena… O sábio sente com paixão, não
guarda ressentimentos, não pede vingança, não se sente
atingido, por isso não precisa perdoar, tenta compreender e
se colocar no lugar do outro.
O homem medíocre busca o poder no exterior… O sábio
encontra seu poder no interior.
O homem medíocre fala muito e não escuta nem a si
mesmo… O sábio fala pouco e sabe escutar as pes soas e a
vida.
O homem medíocre quer sempre levar vantagem e no final,
acaba perdendo… O sábio tira proveito apenas de seu próprio
esforço e no final, consegue avançar.
O homem medíocre vive de aparências e formas… O sábio
procura ver a essência por trás das aparências.

304
O homem medíocre está sempre lutando contra o mundo, e
por isso se destrói… O sábio não luta, não resiste, se harmo -
niza com tudo, e por isso, está sem pre em paz.
Deixe de lado a mediocridade.
Busque sempre, sem hesitação…
O caminho dos sábios.

305
PREOCUPAÇÕES

Quando estiver seguindo pela estrada da vida.


Procura evitar toda preocupação…
Preocupação é ocupar-se antes da hora, é pré-ocupar-se.
É se concentrar ou se deter em algo que ainda não ocorreu.
As preocupações te prendem no passado ou no fu turo.
Estamos aqui e ali, perdidos no tempo ou no espaço, mas
nunca no momento presente.
Não duvide da máxima:
Se algo ainda não deu errado, não há motivo para pre ocupa-
ção; e se algo já deu errado, nada há mais o que se preocu -
par.
Ansiedade, inquietação, cansaço ou agitação mental: a preo -
cupação é fonte dos mais variados problemas,
Desde insônia até dores de cabeça, assim como doenças e
depressão.
Acorda para a verdade… A preocupação só te gera tensão,
E a tensão quase sempre te deixa paralisado e in consciente
de si mesmo.
Atenta para o fato de que nenhuma preocupação re solve um
problema,
Pois a própria preocupação já é um problema.
O que resolve é a ação… e não a pré-ocupação.
Antecipamos um sofrimento que pode nunca aconte cer, e
criamos um sofrimento até então inexistente.
Enquanto nos preocupamos, o tempo passa, a vida segue, as
coisas acontecem, e nossa vida pára.
Pior é quando nos preocupamos em não nos preocu par, ou
quando sofremos por não querer sofrer.
A pessoa preocupada já vive no próprio sofrimento que de -
seja a todo custo evitar.
Você pode acreditar que tem mil motivos para suas p reocu-
pações, mas toda preocupação é vã e sem sentido.
A mente preocupada viaja em diversos pensamentos de pe-
rigo… Cria situações, agita emoções, erra nas decisões e não
enxerga soluções.
A pessoa preocupada tenta controlar as variáveis mais impro -
váveis para que tudo saia como ela es pera.
No fundo, ela quer ter o domínio daquilo que é im possível de
se controlar.
Se você ainda não aprendeu que na vida nada se con trola,
então permanecerá como a eterna vítima das preocupações.

306
A mente sempre pode inventar mais e mais preocupações,
mesmo que sem base na realidade,
Todas criações baseadas em supostos riscos de cada as -
pecto da sua vida.
Quem se preocupa, não precisa de motivo, basta sua própria
insegurança, medo e falsa expectativa.
Nada na vida humana é certo, tudo é imprevisível. Por isso,
quem se preocupa está iludido pela falsa certeza de um ca -
minho ideal que se supõe direto e linear.
A pessoa preocupada sempre entrega sua vida na mão das
probabilidades.
Para ela, qualquer coisa pode dar errado, porta nto, sempre há
algo a se evitar.
E de evitação em evitação, vamos perdendo nossa vida e
morrendo dentro dos possíveis perigos da existência.
Mas o maior perigo de todos já está ocorrendo: pas sar pela
vida com medo da própria vida, perdendo a nós mesmos
num sem-número de formulações pessimistas.
Não se preocupe… Não se deixe afundar no mar revolto das
preocupações.
Viva de acordo com o acontecimento, e não de acordo com o
que pode acontecer.
Você pode se ocupar, mas não perca sua vida
se preocupando.

307
O PÁSSARO NA GAIOLA

Era uma vez um passarinho que viveu 6 meses numa gaiola.


Esse pássaro estava ansioso em retomar a sua liberdade.
Certo dia, seu dono abriu a gaiola e, num momento de des -
cuido, o pássaro conseguiu escapar. Ele queria mui to a liber-
dade e a conseguiu.

Havia outro pássaro que permaneceu quase 2 anos numa


gaiola. Esse pássaro também queria fugir e voltar a ser livre,
mas como já estava um pouco acos tumado à prisão, não
tinha tanta disposição em es capar quanto o outro páss aro.

Havia também um terceiro pássaro que estava apri sionado


numa gaiola. Ao contrário dos outros dois pás saros, ele es -
tava preso há 10 anos. Seu dono abria a gaiola frequente -
mente, mas o pássaro não fugia. Ele estava tão acostumado
com a vida da pris ão que nem lembrava mais de como era a
liberdade. Como viveu a vida inteira no cativeiro, mesmo com
a porta totalmente aberta por muito tempo diante dele, não
era capaz de fugir, pois já não tinha consciência de que es -
tava preso. Para ele, todo o cosmos era aquela gaiola.

O mesmo ocorre com os seres humanos. Estamos há tanto


tempo e tão acostumados a viver presos, que esquecemos da
liberdade verdadeira. Não mais bus camos nos libertar do
cativeiro do mundo e do corpo físico, pois não sabemos que
estamos presos; estamos há tanto tempo aprisionados, que
nem sequer vemos ou sentimos mais o cárcere. Para nós, a
prisão é algo natural e nada há além dela.

É necessário que o ser humano se liberte dos condi ciona-


mentos do mundo, das crenças limitantes e dos des ejos que
cerceiam a liberdade de nossa alma. Somente quando supe-
rarmos os nossos limites e os limites do mundo é que pode-
remos lembrar da infinita liberdade espiritual a que todos os
seres podem ter acesso.

308
SER E ESTAR

Um homem tinha uma história de vida muito sofrida. Foi mal-


tratado pelo pai, abusado pelo tio, sua mãe o aban donou, e
desde bem jovem ele já começara a trabalhar como marce -
neiro. O serviço era duro e muito desgas tante. Por conta de
todos estes acontecimentos, ele sentia uma tristeza que
quase sempre o acompanhava.

Certo dia, o homem já não aguentava mais essa tris teza que
persistia em seus sentimentos e não lhe dava trégua. Foi
então passear na cidade onde morava. Sentou num banco, e
nele estava um senhor.

De repente, o s enhor puxou conversa com ele e iniciou-se um


diálogo leve. O homem, que continuava sentindo a tristeza
recorrente, sentiu que podia se abrir com o senhor, e disse:

– Na verdade, sou uma pessoa triste, disse ele.


O senhor, que parecia ser um homem sábio e vivido, disse:

– Não, você não é uma pessoa triste…

O homem surpreendeu-se com essa afirmação.


“Como ele poderia saber o que sou e o que não sou?
Ele nem me conhece”, pensou. O senhor então conti nuou a
falar:

– Eu também não sou um senhor… Sim, é is so mesmo, e


também não sou um professor, como eu havia te falado
agora. E você não é um marceneiro e também não é um
jovem…

O homem estava cada vez mais confuso. O senhor disse:

– Preste atenção… Eu não sou um senhor, eu ESTOU se -


nhor. Você não é um marceneiro, você está marceneiro. Você
não é jovem, você está jovem, da mesma forma que eu não
sou um professor, nem um pai, nem sou deste país, nem
nada disso. Eu estou essas coisas, eu não sou essas coisas.

O homem agora começava a compreender. O senhor co nti-


nuou:

309
– Ninguém é alguma coisa, todos nós estamos. A vida hu -
mana é apenas uma passagem, um processo. Nós incorpo -
ramos determinadas posições sociais, papéis, funções e
modos de estar no mundo. Tudo na vida é um estado, ou
seja, é sempre “estar alguma coisa” e nunca “ser alguma
coisa”. Portanto, você jamais pode admitir que é uma pessoa
triste, você apenas está triste momentaneamente, mas isso
um dia, mais cedo ou mais tarde, vai passar, assim como tudo
passa… e você verá como você apenas “estava algo”, e não
“era algo”.

O homem ouvia atentamente. O senhor concluiu:

– Tudo que existe nesse mundo é da natureza dos estados,


nunca da natureza do ser. O único que não é da ordem do
estar é Deus. Deus é da ordem do ser, pois ele é eterna -
mente. Ele é o ser que nunca deixará de ser. Deus não co-
nhece estados, ele simplesmente é. Quando nós, seres hu -
manos, compreendermos a diferença entre estar e ser, que
nada é, e que tudo está, entenderemos que vamos vivendo
diversos estados até chegar ao ser essencial que somos no
infinito, pois em última instância, somos como Deus, que não
está, mas simplesmente é…

310
NINGUÉM NOS AFETA

Um homem procurou um sábio e lhe fez uma pergunta.

– Mestre, o que fazer com uma pessoa que nos coloca pra
baixo?

– Nada… Disse o mestre.

– Nada? Perguntou o homem. – Então devemos permitir que


a outra pessoa nos coloque para baixo?

– Não, pois ninguém nunca te coloca pra baixo. Você é que


se sente pra baixo.

O homem ficou admirado com a resposta. O mestre conti -


nuou.

– Ninguém nos coloca pra baixo, nós é que nos sentimos pra
baixo ou inferiorizados.

Ninguém nos humilha, nós é que nos sentimos hu milhados.

Ninguém nos persegue, nós é que nos sentimos perseguidos.

Ninguém nos ofende, nós é que nos sentimos ofendi dos.

Ninguém nos expõe, nós é que nos sentimos expos tos.

Ninguém tem o poder de nos fazer mal, nós é que ficamos


mal com o que os outros fazem.

Seja tão flexível a ponto de dobrar diante do mal que alguém


te fez, e tão firme a ponto de continuar bem ass entado na
terra.

O sábio não se deixa abalar por nada, pois ele sabe que nin -
guém pode verdadeiramente afeta-lo. Ele é sereno na tem -
pestade e sereno na bonança. Ninguém tem qualquer poder
sobre você se você não quiser dar esse poder a alguém.

311
PENSAMENTOS OBSESSIVOS

Miguel havia sido traído pela esposa com aquele que era seu
melhor amigo. Pegou os dois juntos na cama, e não conse -
guia esquecer essa traição. Ele lutava contra esses pensa -
mentos, mas parecia que, quando mais ele lutava contra,
mais os pensamentos invadiam sua mente e o atormentavam.

Ele resolveu procurar um sábio que talvez pudesse ajuda -lo a


evitar esses pensamentos, que já o estavam deixando pertur-
bado. Contou toda a história ao sábio e este lhe disse:

– Está bem, vamos fazer então uma experiência para te aju-


dar a se libertar desses pensamentos. Você deve, a partir de
agora, não pensar mais na cor azul. Não importa o que
aconteça, não pense de jeito nenhum na cor azul.

Miguel achou estranha essa experiência, mas a pri meira coisa


que fez foi pensar exatamente na cor azul. Tentou não pensar
no azul, mas a própria tentativa de evitar o pensamento na
cor azul já o fazia ter que pensar no azul para depois recusar
esse pensamento. O sábio perguntou a Miguel se ele havia
conseguido não pensar no azul. Miguel Respondeu:

– Senhor, só de tentar negar o pensamento no azul já me faz


ter que pensar no azul para nega-lo, de modo que eu acabei
somente pensando na cor azul.

O sábio disse:

– Claro, pois quando tentamos evitar um pensamento sobre


algo, precisamos sempre pensar esse algo para depois retira -
lo de nossa mente. Isso significa que a própria força mental
que fazemos para recusar um pensamento acaba por nos
envolver com o próprio pensamento. Opor-se a qualquer
pensamento, ao contrário de afasta-lo, faz com que ele fique
ainda mais presente em nossa mente. Portanto, a forma cor-
reta de agir não é a tentativa de afastar o pensamento, mas
permitir que ele venha, flua sem intervenções, se esgote e vá
embora naturalmente. Isso se faz retirando todo o valor emo-
cional deste pensamento, ou seja, esvaziando o significado
de dor e nervosismo que ele contém. Em outras palavras, ao
invés de lutar contra, o correto é não se importar com aquilo,

312
não valorizar, não dar poder a ele. Faça isso, e você verá
como nenhum pensamento poderá se tornar recorrente e que
a partir deste momento, você passará a controlar melhor o
seu conteúdo mental e não o contrário.

313
O SILÊNCIO INTERIOR

Um homem vai até uma praia onde um sábio costumava


passar as tardes observando a imensidão do mar.

O homem fez várias perguntas, mas o mestre sempre res -


pondia com outras perguntas, ou com enigmas.
Após várias tentativas, o homem perguntou:

– Mestre, por que o senhor raramente responde a uma per-


gunta objetivamente?

– Ouça… disse o mestre.

O homem tentou ouvir, mas nada podia escutar, ape nas o


barulho das ondas do mar.

– Ouvir o que mestre?

– O silêncio… respondeu o mestre.

– E é possível ouvir o silêncio? perguntou intrigado o homem.

O mestre respondeu:

– Sim meu jovem, e você precisa compreender o valor do


silêncio. No silêncio todas as respostas estão contidas. No
barulho e na confusão dificilmente se encontra a sabedoria,
mas na maioria das vezes, apenas dúvidas e incertezas.

– Como assim mestre? Perguntou o homem.

– Observe este grandioso oceano… – disse o mestre –


As pessoas são como esse mar. Quanto mais próximo da
superfície se encontram, mais barulho fazem. Quanto mais
profundas, menos confusão e agitação elas apres entam. A
grande maioria das pessoas está no nível da superfície, onde
se agitam e onde há balbúrdia, estresse, oscilação, oposição,
inquietação e confusão. Observe as ondas… Elas nascem no
oceano sem fim, crescem, começam a cair sobre si mesmas,
batem fortemente na areia e depois recuam para o oceano de
onde vieram.

314
O homem ouvia atentamente as palavras do sábio. Este con -
tinua:

– As ondas são a imagem perfeita do mundo físico, com seus


contrários que geram conflito entre as partes, que vem e vão,
que nascem e morrem, que sobem e descem, ou seja, onde
sempre há opostos, e, consequentemente, barulho, confusão,
e também impermanência. Já o silêncio é como a profundi -
dade desse mar, é o local de paz e tranquilidade onde não há
barulho, não há oposição, e onde podemos ver o fundo im -
perturbável de todas as coisas, e o mais importante: a sua
essência.

315
SOBRE A HUMILDADE

Humildade pode ser definida como um estado ou condição de


um ser humano, parte integrante de seu caráter e de suas
virtudes, que é o contrário do orgulho, da vaidade, da soberba
e da prepotência. A palavra humildade vem do latim húmus,
que significa “terra” ou “filhos da terra”.

Nesse sentido, o humilde seria aquele que admite a realidade


de suas limitações e, por esse motivo, vive mais tranquilo e
satisfeito com o que é, sem ficar desejando demonstrar algo
que não é ou possuir algo que não possui. O que faz a terra?
Coloca-se sempre abaixo de todos, em sua base de sustenta -
ção, e por isso mesmo, é a coisa mais grandiosa do mundo.

A humildade verdadeira nada tem a ver com submis são.


Humildade também não é um mero aspecto de nossa perso -
nalidade, não é um traço psíquico. É, antes de tudo, uma
forma de encarar a vida. Jesus se referiu aos humildes como
mendicantes do espírito, ou seja, aqueles que se submetem a
harmonia universal e as leis naturais a fim de receber as gra-
ças do infinito e do plano divino. Pessoas humildes valori zam
mais o ser e não o ter.

Uma pessoa humilde não se coloca acima dos outros. Ele


procura sempre aceitar suas imperfeições e limites. Sabe que
seu conhecimento não pode tudo abarcar e vive num estado
de simplicidade diante da vida. Humildade pressupõe uma
liberdade espiritual, pois o humilde não precisa gastar energia
para sustentar s uas máscaras e seu ego inflado. Aqui vale a
máxima “A pessoa mais livre é a que possui menos necessi -
dades”. O humilde admite apenas as necessidades reais e
não fica criando falsas necessidades. Sendo assim, natural -
mente é uma pessoa menos carente do que aquela que fica
criando muitas expectativas sobre a vida.

O humilde possui menos necessidade de demonstrar algo


para os outros e provar algo para si mesmo. Não veremos
uma pessoa humilde contando vantagem do que possui ou do
que é. A humildade sempre tem por base o respeito a outras
pessoas pelo que elas são, e não pelo nós acreditamos que
deve ser. O humilde não se percebe superior a ninguém, pois
reconhece que a vida humana ainda é muito limitada e en -

316
treve os grandes desafios que o progresso reserva ao s seres
humanos.

Pessoas arrogantes sempre enxergam o universo como muito


pequeno, sempre cabendo dentro do seu nível de conheci-
mento e vivência. O humilde considera que seu conhecimento
ainda é muito pequeno, tímido, rudimentar e aspira ao desen -
volvimento pessoal e espiritual. Os indivíduos soberbos não
são apenas aqueles que se colocam acima dos outros; para
que mantenham sua condição de superioridade, eles preci -
sam, isso sim, rebaixar outras pessoas, para que elas jamais
estejam acima do soberbo. Julgar-se superior não é suficiente
para o prepotente, é neces sário também depreciá-las, humi-
lhá-las, degradá-las, para que jamais elas possam interferir na
crença de sua superioridade. Caso o orgulhoso não procu -
rasse rebaixar os outros, logo sua suposta superioridade seria
posta em cheque, e isso seria um desastre na vida do arro -
gante. O humilde já não possui a neces sidade de exaltar ou
de rebaixar quem quer que seja, pois está mais ou menos
liberto do jogo das afirmações do ego dentro das relações
sociais.

Jesus disse: “Bem aventurados os humildes, pois deles é o


reino dos céus”. Não por acaso Jesus proferiu essas palavras.
Como sábio que era, Jesus tinha plena consciência que os
humildes estão muito mais próximos de Deus do que os arro -
gantes e egoístas. A humildade é uma precondição para a
liberdade espiritual. O ego sempre foi considerado, desde
épocas arcaicas o oriente místico, como a fonte de todos os
males do mundo. O ego deve ser transcendido, para que a
simplicidade, a tranquilidade e a naturalidade possam des -
pertar e se tornarem o caminho para a libertação espiritual.

Uma vida simples é uma vida feliz. Uma vida sofisticada sem-
pre vem regrada de compromissos, neces sidades, peso,
complexidade, confusão e, sem dúvida, frustração e sofri -
mento. A felicidade tem como matéria-prima a humildade. Se
uma pessoa aspira a felicidade, não pode jamais aceitar o
orgulho e o egoísmo em seu coração. Como disse Confúcio:
“A humildade é a única base sólida de todas as vi rtudes”.

317
A FÁBULA DO PINTINHO E DO OVO

Uma galinha morava numa linda fazenda, junto com os pinti -


nhos. Um dos seus filhos, o pintinho mais novo, era muito
confiante, gostava de provocar seus irmãos, desafiava os
outros animais e era meio desajuizado.

Certo dia, sua mãe, a galinha pôs vários ovos. Depois reuniu
todos os pintinhos e disse:

– Vocês não devem mexer nesses ovos, pois deles vão nas -
cer lindos pintinhos, como vocês. Deixem que eles choquem e
com o tempo, eles vão nascer.

Passados vários dias, já estava chegando o tempo d o novo


nascimento. Os ovos já davam alguns sinais de que estavam
quase chocando, e próximos de nascer. O pintinho desajui -
zado também era bastante ansioso. Ele observava seus futu-
ros irmãos no ovo e pensou:

– Bom, talvez não seja preciso esperar que el es nasçam


sozinhos. Eu posso ir até os ovos e quebra-los. Assim eu os
ajudo a nascerem mais rápido.

O pintinho foi até os ovos e quebrou o primeiro. Ele acreditava


que estaria ajudando seus irmãos a nas cerem, mas para sua
surpresa, após quebrar o primeiro ovo, ele viu um feto de
pintinho morto lá dentro. A galinha ouvindo algo estranho foi
ver o que estava acontecendo, e descobriu o que ocorreu. Ela
brigou feio com o pintinho desajuizado e disse:

– Veja bem, tudo na vida tem um tempo próprio para acon te-
cer. Muitas vezes acreditamos que estamos ajudando o outro
a romper a sua casca, mas o estamos matando. Isso ocorre
porque, quando se rompe a casca de fora para dentro, o re -
sultado é a morte. Mas quando se rompe a casca de dentro
para fora, o resultado é um novo nascimento.

Nesse momento, um dos ovos começou a romper. A galinha e


todos os pintinhos foram ver. Com muito esforço, o ovo foi
quebrado de dentro para fora, e o resultado foi o nascimento.
O pintinho desajuizado olhou admirado e percebeu clara-

318
mente a verdade de que somente se pode quebrar a casca e
se nascer de dentro para fora.

Na vida humana ocorre o mesmo. Quando forçamos alguém a


romper seus limites de fora para dentro, quebrando a “casca”
de suas imperfeições, o resultado pode ser a morte dessa
pessoa, a morte interior por termos forçado alguém a ir além
do que era pos sível a ela. Mas quando a própria pessoa en-
contra força dentro de si e rompe seus limites, como o pin -
tinho rompe sua casca, o resultado é sempre um novo nasci -
mento.

319
AS CINCO REGRAS DA RAIVA

Vamos explicar cinco regras simples a respeito da raiva. Pro -


cure meditar nesses cinco aspectos para evitar que a raiva te
domine:

A primeira regra é bem simples e ela diz o seguinte: “a raiva


b loqueia teu raciocínio”. Isso significa que os momentos em
que explodimos de raiva são os piores para se tomar deci -
sões, posto que as fortes emoções restringem nossa razão e
nosso pensamento. Sempre que você fica com raiva e ex-
plode em intenso fervor emocional, você pode fazer escolhas
que depois farão você se arrepender, e que podem até te
prejudicar. Muitas vezes, tomados que estamos pela fúria,
escolhemos, dizemos ou fazemos coisas que depois, na tran -
quilidade, pensamos “se estivesse calmo, não faria aquilo”. A
trajetória de uma vida inteira pode ser modificada e destruída
em apenas alguns minutos de ira.

A segunda regra diz o seguinte: “Quem está nervoso muitas


vezes deseja que outros fiquem como ele”, ou seja, todos
aqueles que estão num estado de tens ão, nervosismo e que
vivem nas trevas da raiva e irritação compulsiva desejam que
outras pessoas compartilhem do mesmo sentimento e des -
controle. Quem está na escuridão quer que todos estejam na
escuridão, pois assim eles sentem que há muitas pessoas
como ele, e não se sente tão mal caso fossem os úni cos.
Apagar a luz dos outros é a melhor maneira de não enxergar
sua própria escuridão. Em outras palavras, quem está na
lama, quase sempre quer trazer os outros para a lama, pois
assim eles têm “companhia”. O raivoso deseja ter alguém
com quem com partilhar sua raiva, pois a raiva sozinha perde
seu “combustível”, e muito frequentemente se trans forma em
depressão. Toda raiva não compartilha com outros acaba
tornando o raivoso depressivo, com sentimentos de carência
e vazio.

A terceira regra é a seguinte: “Não dê poder a quem não tem”.


Quando você se deixa levar pelos berros e deixa a raiva te
dominar, você está dando poder àquela pessoa e permitindo
a ela te desestabilizar. Mas esse poder de desorganização
emocional é a própria pessoa que confere ao outro. No mo -
mento em que você pára de dar poder a quem não tem po der,

320
você não mais se envolve pelas ofensas e agres sões alheias
e passa a ser mais neutro e menos vulnerável.

A quarta regra diz algo muito importante: “A raiva prejudica a


nós mesmos, e não ao outro”. Há uma máxima de sabedoria
que diz o seguinte: “Ficar com raiva de outrem é o mesmo
que tomar veneno e es perar que o outro morra”. O maior
prejudicado com os acessos de raiva ou com a raiva pro lon-
gada somos nós mesmos. A ira pode gerar doenças emocio -
nais e até físicas, em casos extremos, pode instalar quadros
depressivos numa pessoa. A raiva contida é ainda mais pre -
judicial, pois vai aos poucos minando as nossas estruturas
psicológicas. Portanto, tua raiva não prejudica o outro, ela
afeta, em primeiro lugar, o próprio raivoso.

E por fim, a quinta regra também é simples, mas pode pare -


cer difícil de ser aplicada para algumas pessoas: “Não res-
ponda a uma ofensa, apenas silencie”. Quando, por exemplo,
algum parente está envolto pela ira e começa a agredir a
todos, a melhor resposta é o silêncio. Por que o silêncio? Pois
é apenas no silêncio que aquela pessoa conseguirá ouvir a si
mesma. Ela passará a ouvir seus próprios gritos, suas ofen -
sas, suas agressões e terá a chance de se perceber, se sentir
e se tocar do mal que está emanando. A quinta regra diz:
apenas silencie e deixe a pessoa ouvir a si mesma. No mo -
mento em que não correspondemos a raiva, a pessoa perde
sua energia, fica sozinha e passa a perceber a si mesma, e
assim, ela pode enxergar-se como é. Dessa forma, a chance
dela se ver e procurar se modificar é bem maior.

321
LUTAR POR MELHORES CONDIÇÕES NO MUNDO

Algumas pessoas vem me dizer que as doutrinas espiritualis -


tas levam as pessoas a um certo conformismo, pois ensinam
que tudo na vida são provas e que devemos enfrentar essas
provas com resignação, aceitando os desígnios divinos. Es -
sas pessoas alegam que essa postura é cômoda e que, ao
invés de aderir a essa aceitação, devemos lutar por melhores
condições no mundo.

Minha resposta a esse questionamento é muito sim ples. Em


primeiro lugar, existe nessa ideia uma certa prepotência.
Essas pessoas se acham capazes de fazer o mundo mudar
para melhor. Mas a primeira pergunta que se faz aqui é: O
que seria essa melhora? Não será essa apenas a melhora
que ela concebe no pensamento dela? É a melhora de fato,
ou é a melhora do que essa pessoa acredita que seja melhor?
Sabemos mesmo o que é melhor para o outro? Se não sabe -
mos nem mesmo o que é melhor para o outro, podemos re -
almente saber o que é melhor para uma coletividade, para um
país, para todo o mundo? Não… não podemos. Acreditamos
que sabemos o que é melhor, mas essa suposta melhora
nada mais é do que uma crença, uma suposição, um con-
ceito, algo que foi criado em nossa mente, mas que não ne -
cessariamente corresponde a verdade. Por outro lado, não
temos o poder de mudar qualquer coisa se a humanidade não
estiver realmente pronta para essa mudança.

O outro questionamento que se faz é: Se uma pessoa tiver


melhores condições de vida, ela se tornará uma pessoa me -
lhor e mais feliz? Vamos refletir sobre isso… Imaginemos que
começamos a lutar, por exemplo, por um sistema de saúde
melhor do que o atual. Vamos supor que consiga mos melho-
rar o SUS (Sistema Único de Saúde) e esse sistema de saúde
comece a dar um atendimento mais digno às pes soas.
Mesmo que isso ocorra, isso não significa necessariamente
que as pessoas estarão melhores. Observemos a vida de
pessoas que são ricas e têm acesso a um atendimento de
excelência, nos melhores hospitais do nosso país. Essas
pessoas continuam ficando doentes, continuam morrendo,
continuam tendo problemas pessoais, continuam infelizes,
insatisfeitas, vazias, cheias de angústia, medo, tri steza…
Continuam sendo egoístas, continuam vaidosas, con tinuam

322
se achando melhores do que as demais… Continuam jul -
gando seus semelhantes, continuam puxando a cadeira do
outro, continuam mesquinhas e apequenadas em suas atitu -
des.

Esse é o problema do s er humano atual. Há uma falsa


crença, enraizada em nossa cultura, de que melhores condi -
ções materiais podem automaticamente formar seres huma -
nos melhores e faze-los mais felizes, mas não podem. Um
palácio cheio de ouro e pedras preciosas não pode remover
nem um pingo da pobreza de espírito de uma pessoa… e por
isso, não pode faze-la melhor. Essas pessoas pobres de
espírito vivem acorrentadas ao seu egoísmo, ao seu orgulho,
as suas mesquinharias, a sua ignorância, etc. Elas estão
numa prisão e não sabem. Elas estão infelizes na cela em
que se encontram, e não adianta melhorar as condições da
cela, pois ainda assim elas estarão numa prisão e serão infe -
lizes de qualquer forma.

Melhorar as condições do mundo e torna-lo mais confortável


ao ser humano não fará com que ele se liberte das impurezas
de sua consciência, ao contrário, pode faze-lo ainda mais
arrogante. São justamente as provações da vida que o ele-
vam, que o fazem avançar e ser melhor. As pessoas apren-
dem e amadurecem muito mais pela falta do que por rece-
berem tudo pronto. Não adianta construir uma casa para a
pessoa; a pessoa é que precisa se esforçar para construir sua
própria casa. Como diz o filósofo Pitágoras, podemos apenas
ajudar uma pessoa a se levantar, mas jamais devemos car-
rega-la no colo. A pessoa precisa vivenciar sua própria escu -
ridão, pois só assim ela aprenderá a ir até a luz, ou acender
sua própria luz interior. Podemos até mesmo afirmar que,
muitas vezes “ajudar o outro” nada mais é do que adiar uma
experiência que o outro necessita para poder amadurecer e
se desenvolver.

Podemos observar claramente, em nossa experiência diária,


o quanto as pessoas fogem do enfrentamento das verdadei -
ras causas de suas aflições. Vamos supor que alguém veja
uma pessoa triste, encarando um árduo dilema de vida, algo
que a proporciona sofrimento. Essa pessoa chora em nossa
frente e diz que não sabe mais o que fazer. Qual é a primeira
reação do ser humano médio ao ouvir tais coisas? A primeira

323
coisa que se diz é: “Ah, que isso, não chora não” ou “Não fica
assim não”, ou ainda “Ah, não fica assim, vou te levar num
bar maravilhoso para bebermos e você deixar de lado essa
tristeza”. A maioria das pessoas age dessa forma: ao invés de
levar o outro ao enfrentamento das reais causas de seu so -
frimento, elas simplesmente orientam a pessoa a não pensar
mais nisso, ou não se deixar abater por isso, ou se restringem
a dizer “Isso vai passar”.

Por outro lado, poucos são aqueles que dizem “En frente
essas atribulações”, “Olhe para si mesmo e para a escuridão
do teu íntimo”, ou “reveja suas crenças, seu comportamento,
seus desejos, suas paixões e sua meta de vida” ou ainda
“Encare o problema de frente, suporte a dor, atravesse esse
vale de sofrimento com paz e serenidade”. Não… as pessoas
são desde o berço ensinadas a negar a dor, a esquecer os
conflitos, a buscar soluções superficiais, fáceis e cômodas
aos seus problemas. Mas com essa atitude, elas estão longe,
muito longe de resolver as verdadeiras causas do mal que
guardam em seu interior. Dentro da metáfora da prisão que já
mencionamos, a primeira atitude estimula a pessoa a esque -
cer que ela está numa prisão ou a se adaptar a prisão. A
segunda atitude já rompe com essa lógica e estimula o indiví-
duo a pelo menos começar a entrever, enfrentar, ou iniciar
sua libertação do cativeiro mental que se encontra.

Uma pessoa pode lutar o quanto quiser por igual dade, justiça
social; por uma política sem corrupção, por paz, por liberdade,
etc, mas isso não faz os espíritos evoluírem… As pessoas
evoluem pelas adversidades e não pelas facilidades. Elas
evoluem pela dor e não pelo conforto. Elas estão presas na
cela da ignorância… e fazer caridade é como dar água a elas
numa cela, dar comida, fazer carinho, etc… mas o verdadeiro
problema não é tocado, que é o fato dela estar presa dentro
de seu próprio orgulho, egoísmo e da ilusão que ela criou
para si mesma. Se essas coisas fossem realmente importan -
tes, todos os grandes mestres da humanidade a teriam reali -
zado. Por acaso Buda criou algum hospital gratuito para aten-
der os doentes na Índia? Jesus criou um mega res taurante
gratuito em Jerusalém? Ou será que Krishna propôs algum
projeto de lei e criou uma ONG? Nenhum deles fez isso, pois
eles sabem que esse não é o caminho da libertação. Com
essas considerações não queremos dizer que essas coisas

324
sejam totalmente dispensáveis e sem nenhum valor; elas
apenas estão ainda muito longe de tocar a real causa do
nosso sofrimento e tampouco ajudam na libertação dos seres
da prisão da roda de samsara (a roda dos nas cimentos e
mortes sucessivos).

Minha resposta a essa ideia é sempre a mesma: Se uma


pessoa acredita que deve lutar por melhores condições no
mundo, lute… Se ela acha que pode fazer alguma diferença
construindo um hospital, dando comida aos pobres, criando
uma ONG, formulando um projeto de lei em sua cidade, do-
ando dinheiro à instituições, etc… faça aquilo que você acre -
dita ser o certo. Nesse caso, o que mais vale é a pu reza de
nossa intenção, mesmo que não consigamos nosso intento. E
ninguém tem o direito de desmerecer seus objetivos, quando
eles vem do coração. No entanto, essa pessoa deve saber
que promovendo essas realizações ela não estará mexendo
na causa do nosso sofrimento, mas estará apenas como que
tirando um pouco da sujeira da cela de um pri sioneiro. Por
isso, dizemos que o objetivo das correntes místicas e espiri -
tualistas é libertar o ser humano… e não deixa -lo mais con-
fortável na cela suja, pequena e vazia em que ele se encon -
tra.

Não ajude uma pessoa adaptando-a a cela, tornando a cela


mais palatável, ou enfeitando as paredes da prisão. Aquele
que deseja realmente ajudar seu semelhante, deve auxilia-lo
a se libertar do cárcere que ele se encontra. Somente aju -
dando a pessoa a se libertar dessa cela é que a estamos
ajudando efetivamente. Não adianta melhorar as condições
da prisão… É preciso ajudar a pessoa a se libertar do pró prio
cárcere ilusório que ela criou para si.

325
O QUE É O SUCESSO?

As pessoas costumam ter uma visão muito equivocada sobre


o sucesso.

Sucesso não é ter os melhores cargos, os melhores salários,


ser reconhecido, ter status e boa reputação.

Sucesso é conseguir retirar a alegria de viver nas coisas sim -


ples da vida.

Sucesso é poder deitar no travesseiro a noite sem preocupa -


ções e com a consciência tranquila.

Sucesso é viver sem mágoas, sem travas, sem repres sões,


sem raiva e sem ressentimentos.

Sucesso é não ficar toda hora se cobrando, não ficar se exi -


gindo, não buscar uma perfeição inatingível, mas aceitar
nossos erros humanos.

Sucesso é olhar para si mesmo no espelho se aceitando e se


amando do jeito que você é.

Sucesso é não ficar querendo sempre mais do que se pode


usar, mas estar satisfeito com o que é nosso. É viver bem
com o que se tem.

Sucesso é não viver tenso, vazio, carrancudo, ansi oso, inqui-


eto, apreensivo, mas viver, isso sim, des pojado, natural, es -
pontâneo e livre.

Sucesso é não apenas fazer o que gosta, mas princi palmente


gostar do que faz.

Sucesso não é aprender a vencer sempre, mas prin cipal-


mente aprender a perder, a enfrentar a derrota, a frustração e
a depressão.

Sucesso é não ficar ruminando os fúteis infortúnios da vida,


mas ver sempre uma lição ou aprendizado na mais dura difi -
culdade, tratando a crise como oportunidade de transforma -
ção.

326
Sucesso é não ter de ficar manipulando outras pes soas com
jogos psicólogos, mas ter a coragem de dizer a verdade e
expor nossos sentimentos sem medo e sem culpa.

Sucesso é quando podemos ser quem somos, sem desejar


impressionar outros, sem projetar uma falsa imagem, sem
tentar causa sempre uma boa impres são, sem achar que o
outro tem que gostar de nós para que possamos nos amar.

Sucesso é um estado de espírito em que somos livres para


viver, desimpedidos para sentir e libertos para ser.

327
A MALEDICÊNCIA

Jamais fales mal de outra pessoa,


Nem em sua presença, e tampouco em sua ausência;
A maledicência sempre se vira contra o acusador.
Quando sua língua ferida ataca alguém,
O veneno pode regressar a ti.
Maldizendo outrem,
Abres espaço para que também o maldigam.
Quando falas mal dos outros,
As pessoas indagam a si mesmas:
“Acaso estaria ele também criticando a mim?”
Guarda para ti mesmo tuas impressões sobre as pessoas.
Não condenes aquilo que desconheces…
Por acaso contemplas todos os infortúnios,
Daqueles a quem destilas tuas calúnias?
Podes abranger a história completa de alguém,
Ou a dura e complexa educação a que foi submetido?
Consegues afirmar, com toda a convicção,
Que deste mesmo prato não comerás?
Tendes a certeza de que, em igual circunstância,
Não farias a mesma coisa?
Não desperdices tuas energias com outros…
Ressalta suas qualidades, e não seus defeitos.
Porém, sê sincero com os demais,
Mas não invadas um terreno subjetivo que desconheces.
Preocupa-te apenas com os teus defeitos e carências.
No final das contas, tua consciência será teu guia,
E também o teu único juiz.
Deixa que a vida se encarregue dos males dos outros.
Se alguém te feriu ou atormentou,
Ele já vive na tormenta.
Não penses que seu sofrimento
É maior que do teu detrator.
Por detrás de uma ação dirigida contra ti,
Podes encontrar alguém instável e infeliz.
Atente bem para uma coisa:
Todo cuidado para não ver nos outros,
Aspectos que não deseja admitir em ti mesmo.
Reconheça a tua sombra como sendo apenas tua,
Antes que ela s e exteriorize no próximo.
Cuida primeiro dos seus problemas;
Só assim poderás ajudar teus pares.

328
Purifica, antes de tudo, teu próprio interior,
Pois somente dessa forma serás feliz,
Sem a necessidade de rebaixar teu irmão.
Não queira sentir-se por cima,
Colocando os outros para baixo.
Não torça pela infelicidade alheia
A fim de não reconhecer,
O lamaçal escuro do teu íntimo.
Avança, mesmo que devagar, com tuas próprias pernas,
Sem invejar o sucesso alheio.
Cada passo dado é terreno seguro,
Na grande trajetória da tua existência.
Eleva-te, com coragem, a patamares superiores…
Assim estará liberto do orgulho que te degrada.

329
A FÁBULA DO MUNDO DAS VELAS

Era uma vez um mundo onde viviam muitas velas, mas quase
todas estavam apagadas .

Nesse mundo prevalecia a escuridão… Era um mundo som -


brio, onde tudo era incerto, ilusório, frio, onde predominava a
cegueira, a confusão e os conflitos.

A maioria das velas desse mundo estava apagada. Por esse


motivo, formava-se uma escuridão geral que as impedia de
enxergar as coisas. As velas acesas existiam, mas eram em
número muito reduzido. Cada vez que uma vela acesa apare -
cia, ela era disputada por todas as outras, muitas vezes com
agressões, desentendimentos, ofensas e caos.

Havia velas de todos os tipos, tamanhos e cores. As velas


apagadas desse mundo adoravam expor seus pavios e o
débil brilho de sua cera. Eram vidradas na beleza da cera
uma da outra; gostavam de admirar as formas do pavio e a
textura da cera. O pavio quase sempre era adornado, pintado
e embelezado. A cera era conservada a todo custo. Quanto
mais bela era a cera, mais valorizada socialmente era a vela e
mais admirada ela se tornava.

Certo dia, sem aviso prévio, as velas acesas foram embora


dali. Por isso, o mundo das velas ficou ainda mais obscuro e
confuso. Uma das velas resolveu então que deveria sair em
busca das velas acesas. A luz emanada pela chama era uma
necessidade para todas, pois sem luz o mundo cairia inevita-
velmente em mais e mais escuridão e isso geraria cegueira e
caos para todos. Pelo fato de viajar para bem longe em
busca de luz, essa vela foi chamada de “vela aventureira”.

Depois de viajar grandes distâncias, enfrentando muitos de -


safios e provações, a “vela aventureira” conseguiu chegar ao
“Desfiladeiro das velas acesas”. Encontrou-se com as velas
acesas e perguntou como ela poderia levar luminosidade ao
mundo das velas apagadas. Uma das velas acesas
disse: “Você precisa acender a chama de seu pavio e deixar
que ele seja consumido”.

330
A vela aventureira ficou transtornada com essa informação,
pois em seu mundo o pavio representava beleza, status, co -
nhecimento e a cera representava desejo, paixão, instinto,
sensações etc. De certa forma, todas as velas eram apega -
das ao seu pavio e a cera de seus corpos , por esse motivo,
deixar que tudo isso se transformasse em chamas era algo
quase inconcebível para ela. “Essa é a única forma de você
se transformar em luz” – enfatizou uma das velas acesas –
“Você precisa deixar que a chama vá consumindo seu pavio
até atingir a cera, que irá derretendo aos poucos”.

A vela aventureira, depois de muito meditar, decidiu que


aceitaria renunciar a tudo para poder se trans formar em luz.
Nesse momento, uma das velas inclinou-se sobre ela e colo-
cou sua chama em contato com seu pavio. Nesse momento a
vela aventureira sentiu uma dor imensa, pois a chama come -
çou a consumir seu pavio e foi aos poucos derretendo sua
cera. A dor não era tão somente física, mas muito mais emo-
cional e psicológica. Ao mesmo tempo em que sentia um a
agonia interior lancinante, sentiu também uma certa abertura
e libertação… Ela olhou em volta e percebeu que podia ver
tudo claramente… Para sua surpresa, ela agora era capaz de
enxergar o mundo e cada coisa existente tal como era. A
escuridão havia sido dissipada e ela via a verdade de cada
aspecto do mundo.

A vela aventureira agradeceu a todas as velas ace sas e vol-


tou para o mundo das velas apagadas. Lá chegando, contou
tudo o que havia acontecido consigo. Relatou as provações
de sua longa viagem, a descoberta sobre a chama e todas as
instruções adicionais que lhe foram transmitidas. Explicou
que, para que cada vela pudesse ter sua própria chama, era
imprescindível abrir mão do seu pavio e deixar sua cera der-
reter. Uma das velas ouviu tudo e disse:

“Você está louco? Jamais vou abrir mão do meu pa vio. É ele
quem me garante a sobrevivência aqui”. Outra vela esbrave -
jou: “Despojar-me da minha cera? Nem pensar… ela tem
belas formas”. Outra ainda reagiu “Nada disso é verdade. Se
queimarmos nossa vela, deixaremos de ser quem somos.
Além disso, essa mudança me dá muito medo”.

331
Depois de tanto insistir, pouquíssimas foram as velas apaga -
das que abdicaram de seu pavio e cera para permitir que a
chama da claridade brilhasse nelas. O mundo das velas apa -
gadas continuou na escuridão e no caos, pois quase ne -
nhuma delas aceitou desfazer-se de seu apego ao pavio e a
cera.

Enquanto isso, a vela aventureira, que foi buscar a luz entre


as velas acesas, vivia agora em permanente claridade. Ela
descobriu que, apesar de existirem velas de diferentes tipos,
cores e formas, a chama que brilhava em todas elas era sem -
pre a mesma. Agora ela não esbarrava mais em nada, enxer-
gava tudo plenamente e estava liberta da confusão e dos
conflitos. Com sua chama acesa, ela vivia na plenitude da paz
interior…

Para receber a luz divina e acende-la dentro de nós, elimi-


nando todo sofrimento e conquistando a paz, precisamos
deixar que seja consumido pelo fogo divino tudo aquilo que
nos prende a esse mundo: todo apego, toda vaidade, todo
orgulho, todo egoísmo, as crenças e as formas materiais.
Somente assim, a chama da verdade, da liberdade e da vida
universal poderá brilhar em nós e iluminar tudo a nossa
volta…

Esse é o único caminho da paz e da felicidade.

“Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo


quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14, 33)

332
TEMPO DE DESPERTAR

Era uma vez um homem muito simples, chamado João.

João nasceu e cresceu numa fazendinha pequena e pouco


produtiva no interior do Maranhão. Seus pais eram pobres, e
não podiam dar uma vida digna para seus 6 filhos. João, o
filho mais velho, amava cavalos.

O pai tinha apenas um pangaré, que João amava. Em sua


infância, João brincou muito com o pangaré, eram amigos
inseparáveis.

A infância de João foi bem simples, mas muito feliz. Não tinha
quase nada, mas sentia que os bosques, as árvores, a brisa,
as flores, e toda a extensão de terra inóspita em que vivia lhe
pertencia. Ficava horas correndo livremente pelos campos, ou
sozinho ou acompanhado pelo seu fiel amigo cavalo.

João, ainda na infância e também na adolescência, tinha


muitos sonhos. Sonhava em ter sua própria fazenda, criar
muitos cavalos e ter muitos outros amigos como seu pangaré
de estimação. Queria continuar vivendo livre e levando uma
vida simples, mesmo que com poucos recursos.

O tempo passou, e o pai de João acabou falecendo. João


estava agora com 20 anos. A família se encon trava num
dilema. O provedor havia lhes deixado e alguém precisava
assumir os negócios. Certo dia, um homem de terno apare-
cera em sua fazendinha, e lhe ofereceu um trabalho. Em
troca, João, como filho mais velho e agora responsável pelo
patrimônio familiar, venderia a fazenda. O homem de terno
explicou que se tratava de um negócio muito lucrativo , e que
João deveria apenas revender uma nova subs tância alucinó-
gena que era proibida pelo governo. João a princípio recusou,
não queria fazer nada ilegal. Sempre fora um homem honesto
e de valores cristãos.

Passados alguns meses, João e sua família perderam toda a


colheita com uma praga que devastou sua plantação. Haviam
perdido tudo. João sentiu muito medo e decidiu então que iria
procurar o homem de terno novamente. Mas faria isso apenas
por um tempo, para que pudesse se reerguer, e tão logo ga -

333
nhasse um pouco de dinheiro, voltaria a sua vida normal.
Após procurar o homem de terno e acertar tudo, voltou para
casa, deu boa noite a sua família e foi dormir…

Foi uma longa noite…

Amanheceu no dia seguinte. João abriu a cortina de sua casa


e percebeu que estava em outra casa. Estava numa residên-
cia bem grande, ampla e muito luxuosa.

Pensou consigo mesmo: Como posso dormir num local e


acordar em outro? João olhou-se no espelho e tomou um
grande susto. Estava com uma aparência de um homem de
70 anos de idade. Começou a sentir-se muito angustiado,
teve falta de ar e começou a transpirar. Por que isso estaria
acontecendo? Como pode alguém dormir aos 20 anos e
acordar aos 70 anos, sem que o tempo tenha passado? A
sensação que lhe dava é que havia dormido no paraíso e
acordado no inferno. Mas como? Como isso foi ocorrer? Por
que Deus me fez dormir na minha fazendinha aos 20 anos de
idade, e acordar numa mansão com 70 anos?

João jogou água no rosto e começou a acordar di reito… Aos


poucos foi se lembrando do acordo que fez com o homem de
terno aos 20 anos. Era um traficante de uma nova substância,
que João começou a revender e foi ganhando bastante di -
nheiro. Para expandir o negócio, João cooptou outros jovens
a venderem a substância. Alguns jovens se viciaram, outros
foram presos, outros foram assassinados por rivais, e muitas
famílias foram destruídas com isso. O tempo passou, o João
se tornou um homem muito rico e poderoso. Tinha medo de
perder o que já havia conquistado, e por isso fazia de tudo
para manter-se no mesmo padrão. Aos poucos os anos foram
passando, passando, passando… até que João chegou aos
70 anos, nesse momento em que “acordou” e se percebeu
nessa situação decadente. Estava solitário, deprimido, e sen -
tindo um vazio interior.

Lágrimas começaram a rolar de seus olhos. E a fazenda


grande, que tanto sonhava ter? E seu amigo pangaré, onde
estava? E a criação de cavalos, que era a coisa que ele mais
amava na vida? Em que momento seus sonhos foram joga-
dos fora? Em que momento ele deixou de sentir o gosto do

334
pão de cada manhã? Em que momento ele deixou de correr
pelos campos junto com seu amigo cavalo? Em que momento
ele renunciou a si mesmo, quem ele era de verdade, para
viver uma vida de ilusão, sem valores, sem virtudes e sem
princípios, apenas por dinheiro e estabilidade? Em que mo -
mento ele deixou de sentir a brisa, de beber água da cacho -
eira, de brincar com seus irmãos menores? Como ele sim -
plesmente foi dormir, numa noite de sua juventude, e acordou
sem ter nada vivido e aproveitado ao longo de 50 anos? Era
tão capaz, tinha tantos sonhos, tanta vitalidade. Tudo era
possível… Eu seria capaz de ter dado uma reviravolta em
minha vida sem precisar me render as quimeras e vícios do
mundo.

João acordou, e lembrou que estava com câncer. Ha via for-


mado metástase, e estava perto da morte. No dia anterior ele
havia recebido a notícia, e esse foi o motivo do súbito des -
pertar. Mas infelizmente agora era tarde. Perdera toda a sua
vida, e não podia mais voltar…

Ele então pediu que sua história fosse contada aqui, para que
ninguém cometa o mesmo erro que ele cometeu. Que erro é
esse? O maior erro do mundo, que é abandonar a si mesmo,
quem somos de verdade, nossos tesouro interior, em troca
das migalhas da ilusão…

335
O SENTIDO DA VIDA

Havia uma mãe que amava muito seu filho, e vivia repetindo
para todos que conhecia a mesma frase:

– Meu filho é a minha razão de viver. Eu o amo muito.

Certo dia, ela procurou um monge, pois desejava se tornar


uma pessoa melhor. O monge então perguntou a ela qual era
o significado de sua vida. A mulher tinha a resposta na ponta
da língua e, como sempre, disse:

– O sentido de minha vida é o meu filho. Por ele luto, acordo


todas as manhãs e sou o que sou.

O monge, ouvindo a resposta, indagou a moça:

– Me diga uma coisa. E se por acaso seu filho morrer, qual


será o sentido de sua vida?

A mulher ficou muda. Ainda não havia pensado nisso. Era tão
assustadora a ideia de perder seu filho que ela sequer cogi -
tava tal hipótese. O monge prosseguiu:

– Se você faz de algo ou de alguém a sua razão de viver, o


sentido ou significado de sua vida, no caso de você perder
isto, você perde todo o sentido de sua existência, sua razão
de viver. Ninguém pode fazer do outro seu motivo de vida,
pois caso isso nos seja tirado, nossa vida perde o sentido, e
tudo a nossa volta segue em ruínas, num profundo vazio
existencial. Você mesma deve ser o seu sustentáculo, e não
algo ou alguém externo a ti, por mais importante que isso
seja. O sentido da vida é a própria vida. Viva pela própria
vida, e não por outros.

336
O VELHO E O NOVO

Patrícia era uma moça que gostava muito de com prar de


tudo. Ela fazia compras sempre que podia. No entanto, Patrí-
cia tinha uma particularidade: ela não gostava de se desfazer
de nada que adquiria. Por esse motivo, armazenava todas as
suas coisas em casa.

Dez anos se passaram e Patrícia foi envelhecendo aos pou -


cos, mas ainda não deixara de lado sua mania de guardar
tudo o que adquiria. Sua casa, com quatro quartos, já conti -
nha dois quartos onde se amontoavam milhares de coisas
que a moça adquiriu ao longo do tempo. Ela se recusava a
jogar fora alguns destes itens. Patrícia sempre pensava que
um dia poderia precisar de algumas daquelas coisas, e por
isso tudo continuava devidamente guardado em sua casa.

Passados mais 10 anos, Patrícia agora já ocupava dois


quartos, a sala e metade da cozinha com todo seu afã pelo
armazenamento. Sua mãe sempre dizia que a filha precisava
se desfazer do que é velho, caso contrário, daqui a um tempo
não caberia mais nada dentro de sua casa. A filha sempre
rebatia alegando que um dia poderia precisar de algumas
coisas, e por isso não jogaria nada fora.

Mais 10 anos se passaram e Patrícia continuava a mesma, só


que agora quase toda a sua casa estava tomada de bug igan-
gas, cacarecos, caixas, tralhas e objetos dos mais variados
tipos. A moça já quase não conseguia andar em sua própria
casa, às vezes pisava em quinquilharias e não raro objetos
caiam em cima dela. Ninguém mais queria ir a sua casa e
Patrícia foi se is olando cada vez mais. Um dia aconteceu que
Patrícia sem querer tropeçou numa caixa. A moça caiu no
chão batendo a cabeça, não resistiu a uma pancada tão forte
e morreu ali mesmo, no chão, rodeada de milhares de obje-
tos.

Na vida humana, todas as pessoas precisam se desfazer do


velho para permitir que o novo entre em nos sas vidas, tanto
externamente quanto internamente. Decretar o fim de algo e
jogar fora é essencial para a renovação de nossa vida. Caso
contrário, ficaremos como a Patrícia, que vivia acu mulando
tudo e não tinha espaço para mais nada.

337
Perdeu sua liberdade e o novo não tinha mais espaço em sua
vida. Quem age dessa forma acaba ficando preso dentro de
seu próprio apego e acaba perdendo o precioso patrimônio da
sua liberdade.

Não fique acum ulando mais e mais coisas por apego, sejam
externas ou internas. Desfaça-se do velho para que o novo
possa entrar em sua vida. Da mesma forma, desfaça -se de
tudo… para que a essência da vida desperte em seu interior.

338
RÓTULO E EMBALAGEM

Um rapaz acaba de fazer várias compras do mercado da


esquina. Ele trouxe comidas e bebidas para uma comemora -
ção do reencontro com seu avô, que não via há 3 anos.
“Trouxe um vinho tinto maravilhoso para você vô”, disse o
rapaz. O senhor de idade pegou a caixa do vinho, agradeceu
e perguntou como ele estava indo no novo trabalho. O rapaz
respondeu:

– Estou indo bem vô, mas existem alguns problemas no tra -


balho. Colocaram uma mulher para o cargo de chefia e, você
sabe, mulher não foi feita para ser chefe…

O avô estava ouvindo, bastante interessado, o seu neto fa -


lando. O rapaz continuou:

– Recentemente colocaram também um homem de 55 anos


para trabalhar conosco. Respeito muito os idosos, mas acho
que um homem dessa idade já não tem o mesmo pique para
trabalhar que pessoas jovens. Além disso, uma colega minha
saiu da empresa porque seu desejo é se tornar policial, mas
acho isso complicado, pois as mulheres não têm a mesma du-
reza e coragem que os homens para enfrentar a criminalidade
nas ruas.

Após ouvir estas declarações, o avô pegou uma caixa de


vinho tinto e começou a toma-la, como se tivesse tomando o
próprio vinho e disse:

– Você tem razão, concordo com você.

Ao presenciar aquela cena inusitada, o rapaz achou que seu


avô estava ficando senil, e perguntou:

– Vô, o que está havendo? Por que você está pegando a


caixa do vinho e tomando como se estivesse to mando o vi-
nho?

O avô respondeu:

– Estou fazendo a mesma coisa que você, confun dindo o


rótulo de um conteúdo com o conteúdo em si. Ler ou experi-

339
mentar o rótulo do vinho não me fará sentir o sabor do vinho e
tampouco ter a mínima noção do seu conteúdo. Da mesma
forma, não se pode rotular uma pessoa pelo que ela aparenta
ser e crer estar desvendando quem ela é por dentro, suas
capacidades, seu caráter, s uas virtudes ou sua essência. Ao
longo de minha vida conheci mulheres mais corajosas que
homens; conheci velhos com mais energia que jovens e co -
nheci pessoas sem instrução mais sábias do que muitos pro -
fessores. Além disso, diga-se de passagem, quando você
compra um produto, a embalagem é a primeira coisa que
você descarta. Ou será que alguém fica guardando a embala-
gem por causa de sua beleza?

O rapaz ficou um pouco envergonhado com a fala do avô,


pois sentiu verdade em suas explicações. O avô completou:

– Não confunda jamais a embalagem com a substância ou a


natureza interna de algo ou alguém com suas formas exterio -
res.

340
ACEITAR A VIDA

Felicidade não é ter tudo o que desejamos e gosta mos.


Felicidade é viver na adversidade, na desordem, no caos, e
mesmo assim ser feliz.
Perfeição não é um modelo ideal de ser e estar no mundo.
Perfeição é encontrar a felicidade e o amor mesmo dentro da
imperfeição.
Coragem não é a ausência de medo.
Coragem é aceitar o temor e enfrentar cada situação mesmo
sob a influência do medo.
Paz não é inexistência da guerra ou a derrota sobre os con -
flitos.
Paz é o estado de tranquilidade interior mesmo di ante da
mais dura batalha.
Aprender não é adquirir mais e mais conhecimento e exp eri-
ência.
Aprender é despojar-se de todo o suposto saber e desobstruir
nossa consciência.
Equilíbrio não é estabilidade de condições fixas e garantidas.
Equilíbrio é caminhar mesmo sob o predomínio do caos e
resistir a mais vigorosa tempestade.
Fé não é acreditar que Deus vai nos favorecer e suprir nossas
vontades e necessidades.
Fé é a convicção íntima de que, mesmo na derrota, tudo é
regido pela harmonia e perfeição divina.
Viver não é passar a existência evitando o sofrimento e a
morte.
Viver é aceitar a morte, a dor, a falibilidade humana, a incer-
teza e ainda assim estar bem.
Quem vive bem aceita a vida, aceita as pessoas e aceita a si
mesmo tal como é.
Ninguém pode ser feliz buscando o primor, forçando uma
mudança, perseguindo condições impecáveis.
Viver implica em aceitar, acolher, permitir, entregar-se… Ser
espontâneo, soltar-se e admitir o real tal como ele é.
Aceitar a vida em sua inteireza e não lutar contra o mundo…
Esse é o caminho da paz e da felicidade.

341
EU ESTOU CERTO

Uma das coisas mais importantes para o ser humano é de-


monstrar que ele está certo.
O ser humano quer provar que ele tem razão; que ele sabe
mais; que ele é mais esperto.
Numa conversa comum, numa discussão teórica, ao ver tele-
visão, ler jornais, ou simplesmente pensar sobre uma ques-
tão.
O que desejamos é estar certos e demonstrar de alguma
forma que o outro está errado.
Nosso mundo gira em torno dos nossos pensamentos, das
nossas crenças, do nosso conhecimento.
Quando alguém diz que estamos errados, nos apres samos
em negar o erro e ansiamos declarar que: “Eu estou certo”.
Nossa insegurança se ativa, nos sentimos ameaçados, nos
sentimos rebaixados e isso provoca um sentimento de inferio-
ridade.
Uns sempre querendo estar com a razão, e os outros que -
rendo eles estarem com a razão. Uns tentando tomar do outro
o precioso ouro da razão. Um roubando do outro a sagrada
razão. Um digladiando contra o outro para obter a tão dese -
jada razão. Mas esse ouro nada mais é do que um ouro de
tolo.
Discussões teóricas intermináveis, com argumentos distorci-
dos, artifícios persuasivos, estratégias de convencimento:
forçamos o máximo para rebaixar o outro ao erro e nos sen -
tirmos por cima, verdadeiros donos da razão que almejamos
ser.
Acreditamos na ilusão de que existe uma razão a ser defen-
dida, e acreditamos, além disso, na ilusão de que somos os
donos dela.
Ninguém pode ser dono de algo que não pode pertencer a
ninguém, simplesmente por ser a razão uma criação humana.
Se num dado momento nos convencermos de que estamos
certos e que sabemos uma coisa, logo depois essa coisa já
mudou, e não sabemos mais tanto assim sobre ela quanto
imaginamos.
O conhecimento sobre algo depende da época, das circuns -
tâncias, do consenso e do nível de entendimento das pessoas
que o percebem. Depende tam bém do que eu quero acreditar
ou do que eu não quero acreditar.
Algumas pessoas veem algo e enxergam a verdade que o

342
outro vê; outros veem a mesma coisa e não conseguem ver o
que o outro percebe e nem enxergar a verdade que o outro
consegue captar.
Você pode explicar pormenorizadamente, em detalhes, por
horas e horas, e uma pessoa não compreender nada: entrar
por um ouvido e sair pelo outro; enquanto outros nem preci -
sam de qualquer explicação e já percebem rápida e profun-
damente.
Certo e errado são apenas posições momentâneas, e que
dependem dos observadores externos. Para uns estamos
certos, e para outros estamos errados.
Mas que confirmação queremos de ter razão ou não ter ra -
zão?
A maior confirmação que desejamos é o outro afirmar que
estamos certos, ou admitir nossa razão, ou se esquivar e
deixar de lado, confirmando, assim, a exatidão de nossa opi -
nião.
Mas a palavra do outro sobre nossa razão é a certeza da
razão?
Não, não pode ser. A confirmação do outro é apenas a visão
do outro, não é a razão em si.
E o que é uma opinião senão uma opinião? O que é uma
percepção, senão tão somente uma mera percepção?
Liberte-se do desejo de estar certo perante outros, e liberte -se
do medo de estar errado diante de alguém.
O outro não está mais certo que você, e você não está mais
errado do que outros. Você nunca obterá a certeza ou a in-
certeza de coisa alguma.
E caso alguém confirme sua certeza, o que fará você com
ela? Isso te fará feliz? Serás melhor? Serás grande?
A energia que colocamos em estar certos, isso sim, nos des-
gasta, nos rebaixa e nos degrada. Perdemos tempo e vitali -
dade tentando provar algo para nós mesmos, na ilusão do:
“Eu sei mais do que ele”.
A única forma de nos sentirmos melhor, não é tomando a
razão dos outros, mas sim nos libertando da necessidade de
ter razão. Libertando-nos do desejo de ter razão e do medo
de não ter razão.
Liberte-se do desejo pela razão, por estar certo, por saber
mais, e isso te fará mais tranquilo e feliz.

343
A PORTA DA VERDADE

Um homem era apaixonado por uma mulher há muitos anos,


mas ela não parecia corresponder. Há tem pos ele vinha espe-
rando por ela, guardando alguma esperança dela acordar e
perceber o quanto ele era um homem bom. A moça já havia
demonstrado algumas vezes que não o queria, mas ele ainda
mantinha uma chama acesa.

Seus amigos diziam que ele estava se enganando, e que para


o seu bem, largasse essa ilusão que o estava prejudicando e
fazendo sofrer. No entanto, apesar de sentir uma forte dor no
peito, ele admitia que tinha medo de encarar a verda de, pois
saber que não havia chance de uma união era por demais
doloroso para ele.

Certo dia, após chorar por horas a fio, o homem es tava muito
deprimido, e resolveu fazer uma oração a Deus pedindo uma
ajuda sobre seu caso.

Ele adormeceu e começou a sonhar… Sonhou que estava


numa sala ampla e toda branca. Olhou em volta e viu um anjo
ao lado de duas portas. Na porta da esquerda estava escrito
“Verdade” e na porta da direita estava escrito “Ilusão”. O anjo
olhou para o homem e disse:

– Escolha uma das portas e veja por si mesmo qual das duas
portas é a melhor.

O homem então escolheu primeiro a porta da verdade. Abriu


a maçaneta e começou a caminhar num local estranho. Su -
bitamente, sentiu uma dor muito forte, quase insuportável.
Caiu no chão e ficou se contorcendo de dor. Alguns minutos
depois, a dor foi diminuindo, diminuindo, até que após mais
um tempo, passou completamente. O homem agora sentia-se
bem e em paz.

Saiu pela porta da verdade e entrou agora na porta onde


estava escrito “Ilusão”. Adentrou na porta e saiu num local
aberto que parecia muito bonito, como nos filmes de ficção.
Subitamente, começou a sentir uma dor, não tão forte quanto
a dor da porta da verdade, mas uma dor que latejava e doía
mais profundamente. O homem pensou que, da mesma forma

344
que a dor da porta da verdade passou, a dor da porta da
ilusão também iria passar, mas não foi o que ocorreu. Passa -
ram-se minutos, horas, e um dia inteiro, e a dor permanecia
exatamente a mesma, com oscilações em maior ou menor
grau. Passou-se o equivalente a vários dias, e a dor conti-
nuou, não pas sava de jeito nenhum.

O homem resolveu então sair da porta da ilusão e foi falar


com o anjo. “Por favor anjo, me explique o que isso significa”
disse o homem. O anjo respondeu:

– É simples. Isso se aplica ao que está ocorrendo entre você


e essa moça. A porta da verdade é aquela onde todas as
pessoas encaram a verdade de frente, sem cultivar ilusões. A
dor da descoberta da verdade é muito forte e devastadora,
mas depois de um tempo passa… Mas a dor da porta da
ilusão é um pouco mais leve, mas não importa quanto tempo
passe, ela continua latejando dentro de nós e acaba sendo
muito, mas muito pior do que a porta da verdade. Encare a
verdade que essa moça não quer nada com você, e quando
você fizer isso, vai sofrer uma vez só, e depois vai passar…
ao contrário de continuar cultivando ilusões.

O homem compreendeu, e agradeceu ao anjo pelo ensina -


mento.

A verdade pode inicialmente doer muito, mas depois tudo


passa. No entanto, quem cultiva ilusões permanece com uma
dor que jamais passa, pelo simples motivo de que a própria
ilusão é a grande causa do sofrimento humano.

345
VIVER FUGINDO

Os seres humanos, de uma forma geral, vivem fugindo de


tudo.

Entram em relacionamentos de cabeça e ficam cheios de


cobranças e exigências do outro para fugir um pouco da ca -
rência.

Tornam-se verdadeiros viciados em trabalho para não sentir a


insegurança e a instabilidade da vida. Vivem fugindo da tris -
teza e da depressão comendo muito, fazendo sexo com vá -
rias pessoas, bebendo, fumando e se viciando em muitas
coisas.

Correm sempre para chegarem o mais rápido possível em


tudo o que é lugar apenas para não sentirem o momento
presente…

Não olharem para a natureza…


Não entrarem em contato consigo mesmos…
Vivem correndo para nunca chegarem a lugar nenhum…

Estamos sempre andando, em movimento, ansiosos, cansa -


dos, angustiados, desejando, buscando sempre algo que
parece que está fora, e não dentro de nós.

Se parássemos por um momento, talvez fôssemos capazes


de sentir a nós mesmos.

Seríamos capazes de sentir quem somos, sentir as coisas a


nossa volta, olhar para as pessoas, sentir o que se esconde
além do mundo, ouvir nossa voz interior, escutar um pouco a
nós mesmos, observar nos sos passos, nossa correria, nosso
barulho interno e externo…

Ver o vazio e encontrar um sentido.

Aquele que para, senta e olha para si mesmo, se en xerga, se


reconhece, se aceita e quando faz isso, não precisa mais
fugir…

Não passe a vida fugindo de si mesmo.

346
Olhe para você, escute a sua voz interior, entre em contato
com o espírito universal e eterno que você é.

347
FELICIDADE E PAZ

A maioria das pessoas acredita firmemente que para se ter


uma vida de paz e felicidade é necessário dinheiro, sucesso e
patrimônio, assim como se faz necessário reunir certas condi-
ções de beleza física, atividade sexual regular e satisfação
dos principais prazeres materiais.

No entanto, hoje em dia algumas pesquisas recentes em


neurociência vêm na contramão dessa crença popular, e
fazem esse questionamento em dois casos particulares. Estas
são pesquisas realizadas com dois indivíduos que levam uma
vida bastante simples, com poucos recursos e quase nenhum
dinheiro. Es tamos falando de Matthieu Ricard, monge budista
e de Dadi Janki, uma yoguini indiana.

Matthieu Ricard recebeu formação ocidental e é filho de um


renomado filósofo francês. Quando não é con vidado para
palestrar em diversos lugares do mundo, Matthieu vive no
monastério Shechen, no bairro tibetano Bouda, onde tem a
rotina típica de um monge budista. Ele não tem quase ne -
nhuma posse ou dinheiro, a não ser aquele que recebe como
rendimento de alguns dos seus livros. Mesmo assim, Ricard
doa boa parte do lucro para obras de cari dade. Sua vida é
extremamente s imples, ele quase nada possui, mas interior-
mente ele possui a plenitude e a felicidade sem medidas.

Muitas pessoas têm a ilusão de acreditar que a felici dade está


sempre ligada ao usufruto dos prazeres materiais, a condi -
ções externas estáveis e confortáveis, assim como a muito
dinheiro e patrimônio. Mas a vida de Matthieu Ricard prova
exatamente o contrário. Ele é feliz sem necessitar de quase
nada para viver. Mas como saber se Matthieu é mesmo feliz?
Quem faz essa afirmação sobre sua felicidade não é o autor
deste texto, mas sim os pesquisadores da Uni versidade de
Wisconsin, nos Estados Unidos, que fizeram um mapeamento
da atividade cerebral de Matthieu em meditação e descobri -
ram que o monge produz uma alta quantidade de ondas
gama, associadas à felicidade, que jamais foram vistas na
neurociência mundial. Esse fato sugere que Matthieu é pos -
sivelmente um dos homens ou o homem mais feliz do mundo.
Apesar disso, é um monge que vive num mosteiro em condi -
ções muito simples.

348
Outra personalidade espiritual que também se caracteriza não
apenas pela felicidade, como pela estabilidade e tranquilidade
mental é a yoguini Dadi Janki. Janki realizou uma série de
exames científicos para medir sua atividade cerebral. O Insti -
tuto de Pesquisa Médica e Científica da Universidade do
Texas constatou que Janki possui a “mente mais estável do
mundo”. Os cientistas verificaram, após vários testes de ma -
peamento cerebral, que as ondas mentais de Janki não se
alteram nem mesmo quando ela é submetida às condições
mais desesperadoras.

Os pesquisadores ficaram impressionados com a estabilidade


e paz mental que Dadi Janki apresentou nos testes. Eles
concluíram que sua paz interior era imperturbável e que nada
no mundo material poderia tirar a paz e tranquilidade da yo-
guini.

Este homem e essa mulher têm muitas coisas em comum,


mas a principal é que ambos levam uma vida muito simples e
são adeptos de práticas espirituais meditativas. Eles falam do
amor, da paz e da fraternidade entre os homens. Quase não
tem posses, não ocupam altos cargos em empresas, não são
pessoas de sucesso, nem celebridades que aparecem em ca -
pas de revistas de moda. Eles não são bonitos, não fizeram
cirurgias plásticas, não colocaram silicone, não veem televi -
são, não bebem, não fumam e nem tem vida sexual ativa. No
entanto, Matthieu foi considerado o homem mais feliz do
mundo, enquanto Dadi Janki foi considerada a mente mais
estável do mundo e provavelmente a pessoa que atingiu a
maior expressão da paz interior já conhecida na neu rociência.
Ambos ensinam que a felicidade não pode ser encontrada em
condições exteriores do mundo, e que o caminho da felici -
dade e da paz é, em geral, cuidar do espírito e não precisar
de quase nada para se viver.

349
UM ESPÍRITA NO UMBRAL

Um homem de 55 anos, es pírita, sofreu um acidente e morreu


de repente. Ele se viu saindo do corpo e chegando a um lugar
escuro, feio, tétrico, com energias muito negativas.

Assim que começou a caminhar por aquele vale sombrio, viu


três espíritos vestidos com capa preta caminha ndo em sua
direção. Assim que chegaram, o homem perguntou:

– Que lugar é esse?

– Aqui é o que vocês espíritas chamam de umbral – disse um


dos espíritos. O homem ficou chocado com aquela informa -
ção. Mal podia acreditar que estava no umbral. Considerou
que talvez estivesse ali para participar de alguma atividade
socorrista aos espíritos sofredores. O espírito negativo, que
lia seus pensamentos, respondeu que não. Ele estava ali
porque o umbral era a zona cósmica que mais guardava sin -
tonia com suas energias.

– Mas isso é impossível!!! – disse o espírita em desespero. –


Não posso estar no Umbral. Deve haver algum erro… Em
primeiro lugar eu sou espírita, faço parte dessa religião mara -
vilhosa que é considerada o consolador prometido por Jesus.
Realizo também projetos sociais de doação de sopa aos po -
bres. Ministro o passe magnético duas vezes por semana a
uma multidão de pessoas lá no centro. Também ajudo finan -
ceiramente instituições de caridade muito necessitadas, além
de dar palestras no centro para os iniciantes no Espiritismo.
Definitivamente há algo errado…

Não há nenhum erro – disse o espírito das sombras – Em seu


atual estágio de evolução, você tem que ficar aqui mesmo. É
verdade que você é espírita e faz parte desta doutrina conso -
ladora, mas intimamente você julgava pessoas de outras
religiões inferiores por não serem espíritas. Sim, você reali -
zava projetos sociais dando sopa aos pobres, mas em seus
pensamentos sentia-se o máximo praticando a caridade e
julgava que os pobres não eram tão evolu ídos por estarem
amargando a pobreza, quando na verdade muitos deles eram
mais puros que você. Sim, você ministrava o passe, mas
considerava que seu passe era mais “poderoso” e mais cura -

350
dor do que o passe de outros passistas. Sim, você ajudava
financeiramente instituições de caridade, mas dentro de ti
sempre dava o dinheiro esperando receber algo em troca e
sentindo-se alguém muito “caridoso”. E finalmente… Sim,
você dava palestras aos iniciantes na doutrina, mas acredi -
tava ter mais conhecimento que eles e se colocava numa
posição de destaque e vaidade intelectual. Tudo isso susci-
tando uma das maiores chagas da humanidade, o “orgulho” e
a “vaidade”.

O homem ficou impressionado com as revelações daquele


espírito. De fato, revendo suas atitudes e sua perspectiva,
intimamente havia quase sempre um sentimento de superiori -
dade, de orgulho em relação aos outros, diante de tudo o que
foi feito.

O espírita então olhou para dentro de si e começou a se arre -


pender de tudo aquilo, reconhecendo seu erro e sentindo-se
mais humilde. Nesse momento, ele sentiu uma luz brilhando
dentro dele e começou a se elevar. Ao perceber que estava
se elevando e deixando o umbral, avistou outros espíritos
ainda presos à condição umbralina e novamente lhe veio um
orgulho e uma sensação de superioridade em relação aos
mesmos. Após sentir isso, caiu novamente no umbral, e a
queda dessa vez foi ainda mais dolorosa. Um dos espíritos
trevosos disse:

– Você caiu novamente porque, no momento em que se ele -


vava, começou a sentir uma certa superioridade em relação
aos espíritos que aqui estavam, sus citando mais uma vez
uma condição de orgulho. Além disso, “A quem muito foi
dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito
mais será pedido.” (Lucas 12:48).

O homem ficou muito triste com tudo aquilo. Entrou dentro de


si mesmo e com toda a sinceridade pensou: Sim, é isso
mesmo. Eu fui uma pessoa arrogante por ser espírita e por
tudo o que eu fazia. Esse orgulho neutralizou todo o mérito de
minhas ações. Mas tudo bem, eu mereço estar aqui no um -
bral. Vou ficar por aqui mesmo, quem sabe eu aprendo al -
guma coisa. Não me importo mais comigo e entrego minha
vida a Deus… Como disse Jesus, “Que seja feita a von tade
de Deus e não a minha”.

351
O homem caiu no chão e apenas se entregou a Deus com fé.
Nesse momento, não tinha mais nenhum sentimento de au-
toimportância. Fechou os olhos e deixou tudo fluir…

Nesse momento, seu corpo começou a se tornar um corpo de


luz e, sem nem perceber, começou a se elevar novamente.
Assim que chegou a uma zona mais elevada, abriu os olhos
e, para sua surpresa, havia se libertado do umbral. Dessa
vez, nem percebeu que estava se elevando e se libertando.

Um dos espíritos trevosos estava esperando por ele nesse


plano mais elevado. Tirou a capa preta e uma luz maravilhosa
começou a brilhar. O espírita percebeu que esse espírito não
era negativo, mas um espírito de luz que o estava ajudando
desde o início. O espírito disse:

– Tua renúncia de ti mesmo no último momento te salvou do


umbral. Que tudo isso sirva de lição para você, meu filho.
Toda essa experiência que você pas sou serve para os mem -
bros de qualquer religião.
E não se esqueça jamais do que disse Jesus:

“Não saib a a tua mão esquerda o que faz a tua di -


reita.” (Mateus 6:3)

352
TUDO TEM UM FIM

Ninguém deve jamais perder de vista um princípio muito im -


portante da vida: tudo aquilo que temos, um dia vamos ne -
cessariamente perder.

Sim, muitas pessoas acreditam, ou querem acreditar que tudo


o que possuem é eterno, inclusive elas mes mas no sentido de
sua personalidade terrena, mas obviamente essa é uma ideia
falsa que nada mais é do que uma projeção de nosso desejo.

Sabemos inclusive que essa não é uma ideia popular e muito


aceita, inclusive temos consciência que este post não será
muito compartilhado justamente por isso. Mas não se pode
negar que tudo o que existe na vida humana tem sempre um
começo e um fim. Ganhamos algo e depois necessariamente
vamos perder esse algo. Isso ocorre porque todas as coisas
do universo são passageiras, e a única coisa imutável é a
própria mudança.

E qual o sentido prático disso em nossas vidas?

Devemos sempre ter consciência que tudo na vida tem um


prazo de validade, nada é eterno, tudo começa e termina,
tudo se manifesta e depois deixa de se manifestar, nascemos,
vivemos e morremos, para depois renascer e continuar nossa
caminhada rumo ao infinito.

Portanto, você pode até imaginar e desejar uma casa, mas


não se apegue a essa casa, pois um dia você vai perde -la;
você pode desejar um carro, mas não se apegue ao carro,
pois um dia você vai perde-lo; você pode desejar se casar,
mas nunca esqueça que o casamento um dia vai acabar, e
tudo isso pode acabar até mesmo antes do que você supõe.
Tudo no mundo um dia vai ter um fim. Não devemos cultivar
nenhum tipo de dependência de algo que o mundo nos ofe -
rece.

Mas então em que se apoiar? Apoie-se na única coisa real:


no ser espiritual que você é desde o princípio dos tempos até
a eternidade. Você nunca foi um ser humano, mas apenas um
espírito que temporariamente precisa de experiências no
mundo material para desenvolver e purificar seu espírito. O

353
espírito eterno e imortal que você é nunca será perdido. Po -
dem destruir todo o seu corpo, mas o espírito é pe rene…

Podem te atacar, te caluniar, destruir toda a sua vida, tirar


tudo o que você tem, mas o espírito que você é e a sua es -
sência jamais serão sequer tocados por tudo isso… O espírito
daquele que encontrou sua essência é totalmente inabalá-
vel… Ele não se deixa abater por coisa alguma. Então, ao
invés de passar a vida tentando conquistar apenas bens ter-
renos, busque a sua essência, pois ela é a única coisa que
você levará daqui para frente.

354
MEU INIMIGO

Atenção, você que se julga meu inimigo…

Eu não sou inimigo de ninguém. Para mim, eu não tenho


inimigos. Mas se você não gosta de mim e por isso quer me
prejudicar, considerando-se meu inimigo, tenho uma coisa a
lhe dizer.

Você não é meu inimigo de verdade. Preste atenção nisso,


pois seu maior inimigo é o seu desejo de me prejudicar para
poder se sentir melhor consigo mesmo. Seu maior inimigo é o
ódio que você carrega dentro de si quando vê o outro bem e
você mal.

Seu maior inimigo é seu sentimento de superiori dade que


vem de um complexo de inferioridade que você precisa com-
pensar tentando se ver melhor do que os outros. Sim, seu
maior inimigo está dentro de você mesmo, não sou eu, não
são outras pessoas, mas é você… É seu desejo por uma
posição de destaque, é sua vaidade, é sua mania de não
aceitar seus erros, é s ua eterna negativa de não aceitar sua
própria imperfeição.

Esse é o seu verdadeiro inimigo, não eu e não os ou tros.


Reflita, meu amigo, que não existe inimigo externo a você…
Mesmo que você pense no meu mal e queira me destruir, isso
não te fará meu inimigo… Pois aqueles que querem destruir
os outros só vão conseguir a sua própria destruição.

Não tenha inimigos… Não veja o mal externamente a você. O


único mal verdadeiro é aquele que reside oculto no coração
humano, na inveja, na arrogância, no desejo de poder, na ira
e na defesa de se autoconhecer.

Você aí, que pensa em me destruir, reflita por um instante…


Nada em tua vida vai valer a pena enquanto você conservar
essa raiva dentro de si e tomar o outro como inimigo… Você
pensa em destruir o outro, mas na verdade você está se au-
todestruindo.

Quando você coloca as dinamites da raiva, da mágoa e da


vingança para implodir o prédio alheio, na verdade isso aca-

355
bará implodindo seu próprio prédio. Preste bastante atenção,
pois o inimigo de verdade é o ego, é o desejo de viver as
aparências, é o orgulho, o egoísmo e a vaidade…

Por isso eu digo, meu amigo, que eu não tenho inimi gos…
Meus únicos inimigos estão dentro de mim. Esses sim, eu
preciso vencer…

356
SABEDORIA E IGNORÂNCIA

Prefira sempre a investigação ao invés da acomoda ção do


conhecimento.
Prefira sempre aprofundar-se num tema do que aceita-lo de
pronto.
Prefira sempre a pesquisa ao invés da adoção de uma ver -
dade pronta.
Prefira sempre o questionamento de uma ideia do que absor-
ver tudo sem inquirir.
Prefira sempre a dúvida ao invés da certeza.
Prefira sempre debater ideias, e não debater pes soas.
Prefira sempre a reflexão ao invés da dogmatização.
Prefira sempre observar atentamente do que sequer ver e
passar a acreditar que já se sabe.
Prefira sempre rever seu próprio conhecimento do que aceita -
lo como parte de sua identidade.
Prefira sempre ouvir os outros do que falar desmedidamente.
Prefira sempre aprender ao invés de ensinar.
Prefira sempre calar a voz do falatório da mente e adentrar na
voz do teu íntimo.
Prefira sempre o conhecimento simples que faz a síntese de
uma verdade do que exposições longas e complexas.
Prefira sempre ouvir o humilde; fuja o quanto puder daqueles
que ostentam presunçosamente tudo saber.
Prefira sempre a sabedoria; nunca se deixe levar pela aliena -
ção e pela ignorância.
Prefira sempre estar errado, aceitar e aprender, do que ficar
insistindo no erro por puro orgulho.
É sempre melhor admitir que há algo que não sabe mos que
ficar arrogando do nosso escasso conhecimento.

357
CONTRADIÇÃO HUMANA

Não queremos ver enchentes e alagamentos na cidade, mas


muitas vezes continuamos jogando lixo nas ruas.
Não queremos ver o desmatamento das florestas, mas muitas
vezes não conferimos se a madeira que compramos é legali-
zada.
Não queremos ver animais sendo torturados em tes tes cientí-
ficos, mas muitas vezes compramos shampoos e outros pro-
dutos que testam em animais.
Não queremos ver nossos rios poluídos, mas muitas vezes
não cuidam os de tratar o esgoto de onde moramos.
Não queremos ver a natureza suja com nosso lixo, mas mui -
tas vezes não o separamos para reciclagem.
Não queremos sofrer acidentes de trânsito, mas muitas vezes
não evitamos altas velocidades em nossos veículos.
Não queremos ver artistas de má qualidade, mas muitas
vezes não incentivamos os bons artistas comprando CDs
piratas.
Queremos que todos façam o correto, mas muitas vezes não
queremos nós mesmos fazer o correto.
Queremos que a sociedade melhore, mas muitos se recusam
a se tornar pessoas melhores.
Queremos honestidade para conosco, mas em muitos casos
não cuidamos de nossa própria honestidade.
Queremos paz, mas muitas vezes tiramos a paz de outras
pessoas, não perdoamos e não aceitamos.
Queremos amor, mas muitas vezes não damos o mesmo
amor que desejamos para nós.
Queremos viver no paraíso, mas não queremos abandonar
nossos demônios interiores.
E finalmente…. queremos ardentemente que o mundo mude,
mas não queremos nós mesmos mudar.
Se você muda, o mundo muda com você…
O mundo se torna melhor a partir do momento em que as
pessoas se tornam melhores.
Dê ao mundo tudo aquilo que você gostaria que o mundo te
desse, e assim, tudo vai melhorar.

358
HOJE EM DIA

Hoje em dia temos a tecnologia de veículos muito velozes que


percorrem imensas distâncias, mas parece que estamos cada
vez mais distantes uns dos outros.

Hoje em dia vivemos na era digital, onde podemos nos co-


nectar com muitas pessoas. No entanto, nunca fomos tão
solitários.

Hoje em dia temos muitas possibilidades de entretenimento


na TV e internet, mas vivemos numa contínua tristeza e me-
lancolia.

Hoje em dia nossas redes sociais digitais têm milha res de


conhecidos, mas temos a impressão de que nos faltam
aqueles amigos de verdade.

Hoje em dia temos um a variedade imensa de alimentos nos


supermercados, mas nunca ingerimos tantos alimentos tóxi -
cos.

Hoje em dia passeamos em shoppings consumindo milhares


de produtos numa multiplicidade de lojas, mas nunca senti -
mos que tanta coisa nos falta.

Hoje em dia somos bombardeados por uma infinidade de


informações midiáticas, mas nunca estivemos tão perdidos e
desorientados.

Hoje em dia existem milhares de medicamentos a nossa


disposição em cada farmácia, mas nunca estivemos tão do-
entes e debilitados.

Hoje em dia há uma intensa proliferação de cultos e novas


religiões, mas estamos a cada dia perdendo mais e mais a
nossa verdadeira fé .

Hoje em dia tivemos dezenas ou centenas de eleições demo -


cráticas como nunca na história, mas os políticos parecem
não nos representar.

359
Hoje em dia existe um sem -número de clubes, associações,
organizações e grupos humanos, mas nunca fomos tão ca -
rentes e vazios.

Hoje em dia existe uma vasta diversidade de ideologias, cor-


rentes, filosofias e modos de pensar, mas nunca es tivemos
tão incertos de tudo.

Hoje em dia contamos com aparelhos de alta tecno logia em


segurança, com abundância de radares, câmeras e alarmes,
mas nos sentimos cada vez mais inseguros em sociedade.

A modernidade pode ter nos trazido conforto, facili dades e


conveniências materiais, mas talvez tenhamos perdido o
essencial.

Vamos resgatar tudo aquilo que ficou perdido pelo caminho


materialista que trilhamos, os nossos valores mais funda-
mentais:

Nossa humanidade, a nossa alegria, a nossa naturali dade, a


nossa simplicidade, a nossa espontaneidade, a nossa ternura,
a nossa fé, o nosso amor e nossa paz de espírito. Sem o
essencial, a vida não faz sentido.

360
INÍCIO E FIM

Um bebe de 1 ano e meio parou de mamar no peito da mãe.


Ele achou que nunca mais iria se alimentar novamente e que
a comida havia chegado ao fim, até que sua mãe começou a
lhe dar uma papinha.

O bebe cresceu e se tornou um menino. Esse menino perdeu


sua bola e achou que nunca mais iria ter ou tra bola. Até que
seu pai apareceu com um presente, que era uma bola nova.

O menino cresceu e virou adolescente. Ele começou a namo -


rar, apaixonou-se e a moça terminou o namoro. Ele acreditou
que nunca mais iria se apaixonar e encontrar outra pessoa.
Mas após 2 anos encontrou uma moça, se apaixonou e fica-
ram juntos.

O adolescente virou agora um adulto. O homem viu sua em -


presa ir a falência e acreditou que nunca mais conseguiria
montar outra empresa. Após cinco anos de luta e esforço, ele
conseguiu juntar dinheiro e abriu outro neg ócio.

O homem agora estava bem velho. Estava prestes a morrer e


começou a acreditar que nunca mais viveria, que havia che-
gado o seu fim. Passado um tempo, ele finalmente faleceu…

Quando se deu conta, percebeu que estava se ele vando do


seu próprio corpo. Viu-se como um ser espiritual luminoso e
constatou que continuaria vivendo. Morreu para o plano físico,
mas renasceu para o plano espiritual. Descobriu que ele
mesmo não tinha um fim…

A existência universal é um constante morrer e re nascer.


Quando acreditamos que algo chegou ao seu fim, um novo
começo surge, num outro nível e dentro de uma nova etapa,
onde se abre uma nova pers pectiva de existência. Não acre-
dite na perpetuação eterna de algo, ou mesmo no fim, pois o
que chamamos de fim é sempre um novo começo…

361
O FALATÓRIO PESSOAL

Para ter mais tranquilidade em sua vida,


Aquieta o falatório desordenado de boca e mente.
Expresse-se com serenidade e paz, sem pressa e ansiedade.
Reflita sempre naquilo que se propõe a dizer.
Quem fala muito, cos tuma escutar bem pouco, e quem escuta
pouco, costuma falar muito.
Quem só fala e não escuta, perde a noção do real,
E passa a viver no mundo dos próprios pensamentos.
Já parou para pensar que o outro pode não estar interessado
em seu discurso aleatório?
Muitos ouvem apenas por educação, outros já se imaginam
bem longe do falador.
Para que ficar jogando conversa fora falando ameni dades de
forma impensada?
Não há qualquer ganho prático e pessoal na falação desme -
dida.
As palavras têm poder criador, elas geram energia quando
proferidas.
Por isso, não perca sua vitalidade falando mais do que deve-
ria.
Que prazer pode existir na fala descontínua e irrefle tida?
Falar sem pensar é apenas soltar palavras ao vento,
Que se perdem e se esvaem em sua própria ausência de
significado.
Exprimir-se sem ponderação é aderir ao impulso das emo-
ções,
Que afetam nossa reflexão e tornam nossas ideias supérfluas
e pueris.
Quem fala muito, costuma falar muito de si mesmo.
Comenta suas preferências, seus gostos, sua forma de ser e
agir: tudo gira ao seu redor.
O frívolo prazer de expressar seus pensamentos na mesma
hora que eles vêm,
Sem pensar, sem dosar, sem entender o sentido e a profun -
didade do que se diz,
É notadamente um gradual aniquilamento da substância
profunda de nossa vida.
Já tentou perceber se o outro está interessado em tua tagare -
lice?
Na maioria das vezes, quem fala muito não recebe a atenção
do outro.

362
E muitas vezes nem se importa com isso.
Para o falador compulsivo, o importante é atirar palavras ao
vento,
Mesmo que o tema não interesse aos demais.
Fala menos, reflete mais; siga tua vida com mais reflexão e
com menos vozearia.
Quem fala muito, medita pouco na essência do próprio pen-
samento.
Não permita que sua essência seja capturada pelo discurso
vazio que é proferido por ti.

363
NÃO CRITIQUE

Em vez de criticar os desonestos, seja você um sím bolo de


honestidade.
Em vez de criticar os mentirosos, cultive você mesmo a ver-
dade sempre.
Em vez de criticar os falsos, seja você mesmo uma pessoa
sincera.
Em vez de criticar os picaretas, seja você mesmo uma pessoa
que preza pela integridade.
Em vez de criticar os despudorados e indecorosos, seja você
mesmo casto e decente.
Em vez de criticar os impuros, seja você mesmo o maior
exemplo de pureza.
Em vez de criticar os que têm ódio, plante as boas sementes
do amor.
Em vez de criticar quem faz o mal, seja o modelo do bem que
você almeja.
Muitas pessoas criticam, atacam e desmerecem tudo aquilo
que não concordam.
A atitude do sábio, no entanto, é conservar uma conduta de
retidão e virtudes.
Quem leva uma existência correta, não precisa pas sar a vida
inteira criticando o incorreto.
Seus atos já demonstram, com naturalidade e clareza…
A mensagem do melhor ideal a ser seguido.

364
MUDANÇA EXTERNA E INTERNA

Não acredite que as condições externas devem mu dar para


somente depois você conseguir mudar. Você é quem deve
mudar para que tudo a sua volta se transforme.

Não acredite que a passagem do tempo vai trazer a mudança.


Você é quem deve mudar para não ficar preso ao tempo que
se passou.

Não acredite que o outro precisa mudar para você se sentir


melhor e tudo se transformar. Você é quem precisa mudar
para dar um bom exemplo ao outro e mostra-lo a importância
da reforma interior.

Não acredite que você deve mudar seus relaciona mentos


para que tudo se corrija e se encaixe. Você é quem deve
melhorar a si mesmo, e assim, seus relacionamentos vão dar
um salto de qualidade.

Não acredite que seu trabalho precisa mudar para você me -


lhorar de vida. Você é quem deve mudar sua forma de traba -
lhar, e como consequência, seu trabalho mudará e você vai
começar a reestruturar sua vida.

Não acredite que seu filho precisa mudar para a rela ção se
renovar. Você é quem precisa mudar a si mesmo(a), e so-
mente então seu filho vai sentir sua mudança e pode também
se transformar.

Não acredite que sua comunidade precisa mudar para você


se sentir melhor. Você é quem precisa mudar para melhorar a
vida em sua comunidade e sentir-se mais tranquilo onde você
mora.

Não acredite na ilusão de que o exterior pode mudar algo em


seu interior.

Toda mudança começa lá dentro, no fundo de você mesmo,


quando você toma a decisão de ser diferente e começa a
praticar.

365
Muda-te a ti mesmo… Transforma quem você é. Desapegue-
se do seu eu do passado. Assim, sua forma de ver o mundo,
assim como o mundo, também mudará.

366
A VAIDADE

Em tua passagem pelo mundo, não cultives jamais a vaidade.


A vaidade empobrece teu espírito com preocupações vãs
O vaidoso quer ser admirado pelos outros,
Ele valoriza mais a visão coletiva de si do que a sua própria.
A vaidade é apenas uma imagem que alguém quer transmitir
para ser apreciado e estimado.
Que forma fútil de se conquistar o amor!
O vaidoso vive pela imagem, e não pelo que guarda em seu
âmago.
Quer sempre fazer parecer, e dessa forma, ele se isenta de
simplesmente ser.
É o predomínio da imagem sobre a essência.
Em algum momento, terás que se perguntar:
Quero plantar imagens e colher decepções, ou quero plantar
a essência e colher realidades?
O vaidoso vê a vaidade em todos os vaidosos, mas nunca vê
a sua própria.
É mais fácil enxergar no outro do que em si mesmo.
Vaidade e amor próprio são frequentemente e erro neamente
confundidos,
Posto que o vaidoso quer sempre modificar algo em si,
E aquele que cultiva o amor próprio se aceita e se ama.
O vaidoso busca o progresso sem ter méritos,
O humilde entende que o progresso é um resultado natural do
mérito e do esforço.
O vaidoso quer estar sempre por cima, e despreza aqueles
que ele vê por baixo.
Aqueles que o ameaçam, por mérito próprio, ele procura
rebaixar e desdenhar.
O vaidoso quer ser apreciado e considerado, e se irrita
quando outros se vangloriam em seu lugar.
“Eu deveria ser exaltado, e não ele”, pensa ele.
A vaidade vive de rótulos, de formas, de imagens,
É como degustar a casca da banana e jogar o restante fora.
Quem vive de imagens, não vive de verdade;
Preocupa-se mais com a visão de outros sobre sua vida, do
que com sua vida em si mesma.
A roupagem dá boa impressão inicial, mas o que será mos -
trado com o tempo?
Pessoas vaidosas falam muito, mas ouvem pouco;
Interessam-se demasiado por suas experiências, mas pouco

367
valor dão as experiências alheias.
Mal sabe o vaidoso que o mesmo desprezo que ele tem pelos
outros, outros têm por ele e por sua vaidade.
Regozija-se em enaltecer seus feitos, mas é cego em reco-
nhecer os feitos de outrem.
Purifica tua mente e teu coração de toda a vaidade, pois a
imagem é tão efêmera quanto as ondulações de um rio.
Compreende que ninguém controla sua própria imagem, e
outros vão pensar o que quiserem de ti.
O povo é volúvel e paradoxal, cada hora pensa uma coisa.
Desista de cultivar tua imagem perante outros, o amor do
público só vem naturalmente de um coração puro.
Desapega-se, dessa forma, do desejo de conservar uma
imagem impecável.
Além de ser impossível de mante-la, gastarás toda a tua vida
perseguindo uma sombra,
Acende, portanto, uma luz, que ilumina e traz verdade a tua
vida.

368
OS TRÊS OBSESSORES

Um homem chegou a um centro espírita muito des confiado de


que estava com vários obsessores.

Ele contou sua história para o médium do centro. Revelou sua


crença de que os obsessores haviam convencido sua esposa
a terminar com ele. Revelou que os obsessores estavam
travando sua vida e que ele não conseguia mais seguir em
frente, pois estava sentindo muito medo. Revelou também
que não queria mudar, pois sua vida estava confortável do
jeito que estava, e que os obsessores estavam fazendo de
tudo para desestabiliza-lo.

O médium resolveu iniciar os trabalhos. Fechou os olhos e


ficou alguns minutos concentrado para fazer a desobsessão.
Depois abriu os olhos, olhou para o homem e disse:

– De fato, há três obsessores com você, mas eles são muito


poderosos e não posso tira-los.

O homem ficou com medo e pensou que estava arruinado,


pois se nem o médium conseguia tira-los, sua vida seria arra-
sada pelos espíritos negativos.

“Quem são esses obsessores?” perguntou o homem.

O médium respondeu:

– São três os seus obsessores:

– O primeiro obsessor é o apego. Sim, o apego que você tem


em relação a sua esposa. Ela já terminou com você e mesmo
assim você fica insistindo num casamento que já deu claros
sinais de término. O apego é um grande obsessor, um dos
maiores dos seres humanos.

– O segundo obsessor é o medo. Esse é um obsessor fortís -


simo, pois paralisa nossa vida e não nos deixa caminhar. É
outro grande obsessor do ser humano.

– O terceiro obsessor que está em você é a acomoda ção.


Sim, a acomodação vem da preguiça ou de uma fuga dos

369
problemas, e a acomodação nos faz estagnar, parar e até
mesmo morrer por dentro. Uma pes soa acomodada costuma
abdicar de suas forças para lutar e fica presa dentro do pró -
prio conformismo que criou.

– Esses são os seus três obsessores. Eles não são es píritos


e não havia nenhum desencarnado com você. Esses e outros
obsessores vivem no coração do ser humano, e somente ele
pode dissolve-los para sem pre. Se vier algum espírito som -
brio, ele só poderá agir em você ativando alguns desses ob-
sessores internos. Por isso que eu disse que nada posso
fazer para remove-los, pois somente você é capaz de gerar
essa transformação em ti mesmo.

Quais são seus maiores obsessores? Não importa quais


sejam. Você pode vence-los através da libertação e do des -
pertar espiritual.

370
CONSELHOS DE VIDA

Todos devem refletir nestes conselhos de vida.


Cuidado para não cometer os erros mais básicos:
Não mude, fique estagnado, e a derrota virá.
Seja egoísta, e será solitário.
Não perdoe, e ficará doente.
Preocupe-se, e viverá tenso.
Acumule bens e dinheiro, e desejará sempre mais.
Seja impulsivo, e errará com mais facilidade.
Viva nervoso, e não conseguirá tomar boas decisões.
Seja preguiçoso, e não sairá do lugar.
Crie expectativas, e se frustrará.
Deseje muito, e muito te faltará.
Viva no passado, e perderá o presente.
Seja medroso, e ficará paralisado.
Siga estes preceitos, e ficarás bem:
Pesquise, busque, e uma hora a resposta virá.
Seja humilde, e te sentirá leve.
Doe seus bens em excesso, e nada te faltará.
Liberte-se do supérfluo, e sua vida será mais profunda.
Seja solidário, e estará satisfeito.
Tenha compaixão, e será forte.
Tenha esperança, e nada poderá te abalar.
Tenha fé, e ela iluminará teu caminho.
Viva com simplicidade, e sentirá melhor a vida.
Seja você mesmo, e será feliz.

371
ONDE FOI QUE EU ERREI?

É bem curioso isso. As pessoas mergulham num mundo


materialista, consumista, ilusório, sem amor, sem vida, sem
contato com a natureza…

Os relacionamentos são superficiais, não há afeto, não há


reciprocidade, somente se usa o outro, se mente ao outro, se
tenta controlar o outro.

As pessoas valem mais pelas palavras que proferem, do que


pelas atitudes que têm; valem mais pela imagem que proje-
tam, do que pela sua essência, valem mais pelo que possuem
do que pelo que são. Preferem ouvir músicas altíssimas para
não ouvir a si mesmos e os anseios mais íntimos do seu co -
ração.

Depois de envolver-se intensamente nesse mundo materia-


lista e vazio, sentem-se insatisfeitas, ficam doentes, e vão se
entupir de remédios alopáticos e antidepressivos, que não
vão resolver o problema, mas apenas criar uma falsa sensa -
ção de saúde e uma ilusória sensação de alegria.

E depois de tudo isso, ainda querem ser felizes… Acham que


a felicidade será encontrada no próximo jogo de futebol de
domingo, no churrasco do fim de semana, nas novelas, em
reality shows e em outras futilidades efêmeras. Consolam -se
no mundo da mídia e do entretenimento acreditando que é
possível fugir do real…

E depois ainda perguntam: onde foi que eu errei?

A resposta é muito clara:

Você errou em valorizar as coisas banais, transitórias e vazias


ao invés daquilo que é real. Você errou em optar pela ilusão
consoladora ao invés da verdade impactan te. Você errou ao
tratar o ser humano como algo a ser manipulado, e não como
um parceiro evolutivo. Você errou em acreditar na arrogância
ao invés de acreditar na humildade. Você errou em bus car no
passageiro algo da ordem do eterno. Você errou em trocar o
amor pela ilusão.

372
Mas não se preocupe, ainda dá tempo de consertar tudo isso.

Como?

Escolha a verdade, e não a ilusão. Escolha o amor, e não a


indiferença. Escolha a humildade, e deixe de lado a soberba.
Escolha relacionamentos profundos e amorosos, e não meras
conveniências humanas. Es colha viver de acordo com sua
natureza, e não a renegando o tempo inteiro.

Escolha… finalmente… ser você mesmo e despertar a essên-


cia que sempre esteve presente em ti.

373
O QUE TE FAZ FELIZ?

Um mestre oriental estava reunido com um grupo de pessoas,


que vinham vê-lo a fim de receber um pouco de sua sabedo-
ria. O mestre sempre ouvia as perguntas das pessoas e pro -
curava responde-las de acordo com o nível de entendimento
de cada um.

Uma das pessoas virou-se para o mestre e perguntou:

– Mestre, o que é a felicidade?

– Antes de responder essa pergunta – disse o mestre


– vou fazer uma pergunta a todos. O que te faz feliz?

– Meus filhos são a minha felicidade, disse uma moça.

– Minha estabilidade financeira me dá tranquilidade, e conse -


quentemente, me faz feliz, disse um comerciante.

– Minha esposa, disse um homem que amava muito sua


mulher.

– Penso que serei feliz quando encontrar meu grande amor,


disse um jovem.

E cada uma das pessoas foi dizendo aquilo que a fazia feliz.

Por último, sobrou um senhor mais idoso, dos seus mais de


sessenta anos. O mestre perguntou:

– Só falta o senhor responder a pergunta. O que te faz feliz?

O senhor parou, pensou um pouco, olhou para o céu, e res -


pondeu:

– Nada…

Todos ficaram surpresos com a resposta, o homem comple -


tou.

– Nada me faz feliz. Não consigo encontrar alguma coisa que


me traga felicidade. Eu simplesmente sou feliz.

374
Todos olharam uns para os outros e se deu um silên cio no
ambiente. O mestre disse:

– Prestem atenção no que esse homem acabou de dizer, pois


dentre todos aqui, ele é o único que en controu a felicidade
verdadeira. Só há felicidade ou realização quando esse sen -
timento não está ligado a coisa alguma, não depende de nada
e não precisa de nada. Quando nossa felicidade está vincu -
lada a algo, ela será sempre incompleta e sujeita a terminar a
qualquer momento. Se você disser, meus filhos me fazem
feliz, ou sou feliz por este ou aquele motivo, caso você venha
a perder isto, sua felicidade se es gota, se perde, e você não
mais a terá. Mas quando nossa felicidade não depende de
coisa alguma, ela vem apenas de dentro de nós, sem ne -
nhuma explicação e causa. Essa é a felicidade mais pura e
real.

375
GRANDES CORPORAÇÕES

As indústrias farmacêuticas lucram com a doença. Quanto


mais enfermidades, maior o lucro.

Os grandes bancos lucram com a dívida. Quanto mais pes -


soas endividadas e desesperadas pagando juros, maior o
lucro.

As empresas de marketing lucram com a suscetibilidade.


Quanto mais pessoas sugestionáveis e aliena das, maior o
lucro.

As indústrias de cosméticos lucram com a insegu rança e a


baixa autoestima. Quanto mais pessoas inseguras e com
baixa autoes tima ansiando por beleza, maior o lucro.

As empresas de fast-food lucram com os transtornos alimen-


tares e com a carência. Quanto mais pessoas suprem suas
faltas e angústias com a comida, maior o lucro.

As indústrias da moda lucram com a solidão. Quanto mais


pessoas desejando ajuste e aceitação, m aior o lucro.

As empresas de bebida e cigarro lucram com a dependência


química. Quanto mais pessoas viciadas e intoxicadas, maior o
lucro.

É neste mundo que você quer viver?

Não se deixe seduzir pelas promessas daqueles que só visam


o lucro irrestrito.

Você não precisa de nada disso, você é perfeito do jeito que


é. Você é luz em desenvolvimento na Terra. Liberte -se de
suas carências e apegos e descubra a felicidade infinita que
existe latente em você. Libertar-se não é uma questão de
capacidade, mas de escolha.

376
ORGULHO NOS FAZ PERDER

Você entra num debate e percebe que seu opositor está


certo, mas por orgulho não dá o braço a torcer, e assim,
perde uma grande chance de aprender.

Você quer voltar a falar com seu amigo, com sua ex ou com
algum parente, mas por causa de uma briga, ambos ficam
esperando o outro tomar a iniciativa da reconciliação. Os dois
perdem um ao outro por conta do orgulho.

Uma pessoa simples e humilde descreve sua vida e suas


experiências, mas por você se sentir superior a el a, não lhe
dá ouvidos. O orgulho te faz perder uma grande chance de
ouvir bons ensinamentos de vida.

Quando alguém nos diz que estamos errados e por orgulho


nos recusamos a admitir o erro, perdemos uma grande opor-
tunidade de aprender com nossas falhas.

Quando uma pessoa faz um comentário sobre alguma atitude


incoerente nossa que precisa ser modificada, e não aceita-
mos nem refletir a respeito por puro orgulho, estamos per-
dendo uma boa ocasião para o autoconhecimento.

Uma pessoa que perde uma competição, e coloca a culpa em


algo externo por orgulho, está perdendo um bom momento
para avaliar seus próprios erros e melhora-los para competi-
ções futuras.

Um homem precisa realizar um trabalho que será apresen -


tado a várias pessoas, mas por orgulho de quere r parecer
bom, inteligente e capaz acaba se cobrando tanto em fazer
algo impecável que não consegue concluir o trabalho. O or-
gulho estagnou sua produtividade.

O orgulho entrava nossa vida, nos traz derrotas e perdas na


vida a todo instante.

Não permita que o orgulho te cerceie, te cegue, de iluda ou


faça você se perder.

377
Pare e pense: O que o orgulho já trouxe de positivo a sua
vida?

Quem se sente superior aos outros, cessa seu apren dizado e


se fecha para a vida.

Quantas vezes você já perdeu coisas que realmente valem a


pena pela passional soberba?

Não permita mais que sua vida seja devastada pelo orgulho.

A humildade é o melhor caminho para a felicidade e a paz.

378
NOSSA BARREIRA EMOCIONAL

Essa é a estória de um menino chamado Josué. Na infância,


era um garoto muito puro e caloroso. No entanto, Josué foi
agredido pelos meninos de sua es cola. Foi também maltra-
tado pelo seu padrasto. Sua mãe também batia nele e dei -
xava de castigo sem qualquer justificativa.

Na adolescência, Josué foi vítima de vários assaltos. Um dos


pivetes o cortou com caco de vidro. Josué também foi vítima
de várias injustiças, ofensas e agressões di versas.

Certo dia, já adulto, após mais um assalto, Josué já estava


cansado de ser vítima de tantas agressões e decidiu que teria
uma casa num local isolado, com um muro enorme o prote -
gendo. Construiu um muro alto e volumoso, para que nin -
guém pudesse trans passa-lo e assim agredi-lo. Estava agora
aliviado, pois imaginou que, com a existência do muro, estaria
mais protegido das maldades das pessoas.

Certo dia, assaltantes conseguiram pular o muro, fize ram


Josué de refém e o agrediram fisicamente. No dia seguinte,
Josué estava muito revoltado com tantas injustiças e, com
raiva de todos, resolveu que se mudaria para um local isolado
e construiria um muro ainda maior.

E assim fez: mudou-se para o alto de uma montanha, conse-


guiu erguer uma casa simples, mas com muros ainda maiores
e mais firmes. Josué agora estava dis tante do vilarejo. Ele
pensou “Pronto, agora aqui estarei protegido e ninguém po-
derá me agredir ou fazer qualquer mal”. No entanto, em de -
corrência da altura do muro, Josué não conseguia ver coisa
alguma fora de sua casa. A montanha que Josué cons truíra
sua residência tinha uma vista privilegiada, com árvores enor-
mes, animais, muitas flores, um rio correndo e várias espécies
de pássaros. Mas Josué perdera toda a vista das belezas
naturais por conta da altura do muro.

Aconteceu que seus amigos não vinham mais visita -lo, pois
além de terem que escalar a montanha para vê-lo, ele agora
se encontrava muito distante da cidade. Josué estava isolado
de tudo, distante e por isso começou a sentir-se muito sozi-
nho.

379
Certo dia, Josué foi caminhar pela floresta e se depa rou com
um lobo. Encarou o animal e foi saindo devagar, mas o lobo o
acompanhou e começou a persegui-lo. Josué correu muito e
conseguiu alcançar os muros da casa, entrando e salvando -
se do lobo. Muito assustado, Josué decidiu que não mais
sairia dos muros de sua residência, pois assim estaria pro-
tegido de tudo e todos, e jamais seria ferido ou agredido
novamente.

O tempo passou… Há anos Josué vivia dentro da casa, no


alto da montanha, rodeado por um enorme muro e protegido
dos males da humanidade. Mas ao mesmo tempo, estava
isolado de tudo e de todos, muito solitário, em sua residência.
Um ano se passou, e Josué sentia-se muito sozinho, muito
afastado da vida. Não fazia mais quase nada, a não ser culti -
var em sua pequena horta. Certo dia, já não tinha mais von -
tade de fazer nada e caiu em profunda depressão.

Josué acordou um dia diferente e optou em mudar totalmente.


Decidiu que derrubaria aquele muro imenso, largaria a casa
no alto da montanha e retornaria para o vilarejo. Depois que
retornou, seus amigos o receberam com muito amor e aco-
lhimento. Josué então finalmente se abriu novamente para a
vida e definiu que nunca mais iria se fechar novamente ten-
tando se proteger das maldades do mundo.

Muitas pessoas agem tal como Josué. São agredidas, mago -


adas, ofendidas, s ofrem diversos tipos de maus -tratos e, por
isso, constroem um muro emocional imenso e se isolam.
Assim acabam se tornando pes soas frias e solitárias. É pre-
ciso entender que toda defesa emocional visando nossa
proteção cria um isolamento, um afastamento, uma separa-
ção que nos faz deixar de viver e deixar de sentir a existência.
Quanto mais tentamos nos proteger emocionalmente de tudo,
criando barreiras emocionais diversas, mais solitários ficamos
e mais infelizes nos tornamos.

Não construa muros emocionais para se proteger do mal.


Primeiro porque você jamais conseguirá se res guardar de
todo o mal no mundo. Segundo porque, fazendo isso, você se
afasta de tudo e, mesmo sem reparar, você deixa de viver…

380
A ANSIEDADE

A ansiedade é um dos principais males do nosso tempo.

Provavelmente esse sentimento se intensificou na moderni -


dade, quando o ser humano deixou de lado o contato com a
natureza e passou a desejar ganhar mais rápido, resolver
tudo de uma vez, experimentar tudo a todo momento e viver
nesse ritmo acelerado onde a pressa é o pivô de tudo.

Quando se pergunta a alguém como ela está, muitas vezes


ouvimos essa resposta “Estou na correria”. A vida moderna
parece ter se tornado bastante avessa a calma, a tranquili -
dade e a paz. Muitas pessoas bus cam a paz em suas vidas,
mas não deixam de viver sempre com pressa, sempre cor-
rendo, lutando sem pre contra o relógio, num ritmo alucinante
e turbulento. Mal elas sabem que se tivessem mais calma, se
olhassem para as coisas com mais tranquilidade, se não
perdessem tanto tempo com futilidades como televisão, ba -
res, cerveja, shoppings, consumismo, jogar conversa fora,
etc, e se dedicassem ao que realmente importa, elas não
precisariam ter tanta pressa, não sentiriam tanta ansiedade,
não seria tão infelizes e insatisfeitas. Elas veriam mais sentido
em suas vidas e teriam a paz que tanto buscam nos luga res
mais errados possíveis.

Tudo isso promove e alimenta um mal humano cha mado


ansiedade. Uma forma de amenizar a ansiedade e o deses -
pero é a pessoa refletir e meditar profundamente em desco-
brir uma coisa simples: o que eu quero na vida? O que eu
espero daqui para frente? Qual meu maior objetivo? Estou
correndo tanto com qual motivo? Estou indo para onde, fazer
o que? Na primeira hipótese, a aflição, a ansiedad e e o de-
sespero nos vem quando sentimos que precisamos fazer algo
e esse algo não chega… Numa segunda hipótese, esses
sentimentos nos vem quando desejamos fugir de algo que
existe em nosso presente.

Por isso é essencial descobrir para onde estamos indo, qual


nosso objetivo, o que nos aguarda mais pra frente? Em outras
palavras, a pessoa precisa des cobrir por que está correndo
tanto e para onde essa correria vai leva-la. Na maior parte
dos casos, a correria, a pressa, a ansiedade não nos leva a

381
lugar nenhum. Muitas vezes nos leva a uma cama de hospital,
outras vezes nos leva a total insatisfação; outras ve zes nos
leva a depressão e ao suicídio, e em outras ocasiões apro -
funda nossos desespero, nossa carência e nosso vazio.

De outra forma, a pessoa precisa refletir, olhar para si mesma


e tentar descobrir o que ela está querendo evitar. Estou ten -
tando fugir de que? Quero me livrar de qual sentimento?
Acredito que no futuro esse sentimento vai sumir? Não quero
olhar para qual aspecto dentro de mim mesmo? Quero resol-
ver alguma emoção a todo custo: que emoção é essa que
tanto me faz correr, que tanto me dá agonia e que tanto me
faz querer chegar logo a um estado futuro onde ela não
exista? Em outras palavras, do que eu fujo dentro de mim
mesmo?

Nesse sentido, a ansiedade nada mais é do que uma neces -


sidade de sair de si mesmo e buscar um estado ideal sem os
sofrimentos do presente… É necessário tentar descobrir es -
sas duas coisas e quando se des cobrir, procure entender que
quanto mais ansioso você ficar, mais isso vai atrasar seu
caminho…

Isso ocorre por um motivo muito simples: quanto mais dese -


jamos sair do presente e viver numa condição ideal de futuro,
mais deixamos de construir no presente as bases daquilo que
seria nosso futuro… e dessa forma, não saímos do lugar.

Hoje em dia o ser humano não ouve mais o vento passando


pelas folhas, não observa mais o fluir de um rio, não contem -
pla o voo de um pássaro, não senta sob uma árvore, não
permite que a brisa refresque seu rosto. Ao contrário, o ser
humano está sempre lutando contra a natureza e contra sua
própria natureza. A pressa nada mais é do que uma luta
constante contra o momento presente, que é justamente onde
você vive sua vida. Ninguém vive a vida no futuro, mas sim no
presente. Quem vive com pressa, não vive o presente, não
sente a si mesmo, está sempre fugindo, sempre evitando,
sempre tenso, sempre forçando alguma coisa, ao invés de
deixar tudo fluir. Por isso, quem vive na pressa pela expec -
tativa de algo que vai acontecer simplesmente não vive, e
depois reclama que perdeu a sua vida.

382
É muito importante que guardemos momentos sem fazer
absolutamente nada. Um tempo de ócio é es sencial para uma
higiene mental e emocional. Entre em teu quarto, feche a
porta e diga que não quer ser incomodado por ninguém. De-
pois, fique sentado pensando, apenas consigo mesmo. Fique
assim pelo tempo que quiser. Não veja o tempo passar… Não
se preocupe com o que pode estar acontecendo no mundo lá
fora. Deixe de lado todas as preocupações e não deseje sa -
ber o que pode acontecer depois. Apenas fique quieto, con-
sigo mesmo, num momento de total tranquilidade, sentindo o
momento presente. Fique nessa condição sem esperar abso -
lutamente nada, apenas fique parado e deixe tudo fluir. Da
mesma forma que o corpo precisa descansar, nossa mente e
emoções também precisam de um momento de descanso, de
tranquilidade, sem qualquer expectativa, onde nada acontece,
nada existe… nada tira nosso estado de quietude. Faça isso
sem pensar em nenhum resultado, apenas deixe estar…

383
COMO ENCONTRAR A NOSSA ESSÊNCIA?

Muitas pessoas têm essa dúvida: como faço para me encon -


trar com minha essência, ou o que fazer para encontrar a
Deus? Essa é a grande pergunta da vida. Esse é o desafio
máximo da existência humana. É a nossa missão, o nosso
propósito na Terra. Todos os seres precisam descobrir a si
mesmos e esse encontro com seu interior é o que os conduz
a sua essência.

Nossa essência nada mais é do que a presença de Deus em


cada um. É aquilo que é real e verdadeiro. É o estado interior
onde existe a paz total, a alegria total, o amor total e a liber -
dade total. Não existe nada que seja real que esteja desvin -
culado de sua essência. A essência é tudo… É a vida, é o
cosmos, é a origem de todas as coisas. Só podemos s er
realizados, plenos e integrais quando nos harmonizamos com
a essência da vida, a fonte sagrada de tudo. A essência é, tão
somente, a absoluta e imaculada pureza, infinitamente mais
pura do que a água mais cristalina que brota da fonte mais
profunda. Mas como encontrar nossa essência e viver de
forma plena e livre?

O primeiro ponto a ser compreendido fala justamente sobre a


liberdade. Nossa essência é totalmente livre de tudo. Ela é a
liberdade em seu sentido mais pleno e total. O ser humano
atrelado ao mundo ainda não conhece essa liberdade. Ele
julga que ser livre é viajar; é ter dinheiro para gastar; é correr
na natureza; é não ter problemas para resolver. Mas a verda -
deira liberdade, a liberdade espiritual de nossa essência está
infinitamente distante destas coisas. Assim como Jesus disse
que “Meu reino não é deste mundo”, é também verdade que a
liberdade real e plena não faz parte deste mundo. O ser hu -
mano ainda não possui a capacidade de compreende -la e
muito menos de vive-la. Em alguns momentos de sua exis-
tência, as pessoas podem se sentir mais livres, mais plenas,
mais harmonizadas com a vida. Nesse momento, é possível
se ter um pequeno vislumbre do que é a liberdade espiritual.
Mas mesmo esse diminuto fragmento perceptivo ainda está
muito, muito distante da real experiência da verdadeira liber-
dade.

384
O segundo ponto nos diz que, apesar do ser humano não ter
ainda capacidade de encontrar a plena liberdade nesse
mundo, ele pode dar alguns passos em sua direção. Esta
aproximação já é suficiente para infundi-lo de uma sensação
de liberdade tão grande que desperta dentro dele uma paz e
uma felicidade impossível de serem descritas em palavras. É
certo que a paz e a felicidade só existem quando somos
livres, absolutamente livres de tudo. Ninguém pode imag inar
um homem preso a uma cela sendo feliz e tendo paz, a não
ser que essa paz e essa felicidade sejam um efeito de uma
liberdade espiritual. Só existe alegria pura e total quando
somos livres. A liberdade interior é uma condição sine qua
non para a felicidade e a paz.

O terceiro ponto nos informa que somente podemos encontrar


a nossa essência, e assim sermos felizes e encontrarmos a
paz em nossa vida quando não dependermos de nada ex-
terno para alimentar nossa alegria de viver. Converso com
muitas pessoas que não conseguem ser felizes sem possuir
algo ou sem ter alguém ao seu lado. Muitas pessoas creem
que necessitam de um parceiro, de filhos, de dinheiro, de
posses, de amigos, de estabilidade material para serem livres
e felizes. Essas pessoas acreditam firmemente que quando
encontrarem um amor ou quando forem estáveis financeira -
mente, elas poderão, finalmente, encontrar a paz e a felici -
dade. No entanto, a pergunta que se faz aqui é: caso você um
dia perca a estabilidade financeira e perca o seu amor, vo cê
continuará sendo feliz? A resposta é óbvia. As pessoas ad -
mitem que não, que elas só conseguem ter paz e felicidade
com algo ou alguém ao seu lado. Então, a pergunta funda -
mental é: se você somente consegue ser feliz com estas
coisas, será que essa felicidade está mesmo em você? A
resposta é não. A felicidade e a paz só são verdadeiras, au -
tênticas, puras e inabaláveis quando não puderem ser perdi -
das, e só serão intocadas quando a pessoa não depender de
algo ou de alguém para ser feliz. Uma coisa que po de ser
perdida é algo que, intrinsecamente, não faz parte de nós.
Portanto, a dependência de condições externas para nossa
paz ou felicidade cria uma felicidade apenas ilusória. Nem
sequer podemos chamar isso de felicidade; é preferível de -
nominar de uma s atisfação momentânea, uma alegria apenas
passageira, que um dia inevitavelmente terá fim, porque não é

385
real. E tudo aquilo que chega ao seu fim é ilusório e não pode
despertar em nós a liberdade interior.

O quarto ponto confirma o primeiro e acrescenta um a refle-


xão. A felicidade, a paz e a liberdade, que são atributos de
nossa essência, só existem na esfera do ser, e jamais na
esfera do ter. A dimensão do ter é tudo aquilo que existe ao
nosso redor, mas que não faz parte de nosso interior. As
pessoas com as quais nos relacionamos fazem parte do do-
mínio do ter, assim como nossas posses, nosso dinheiro,
nosso conhecimento e nossa percepção de nós mesmos. Na
esfera do ter, tudo passa, nada é para sempre, tudo um dia
acaba, tudo é ilusório, é perecível, é profano, é apenas uma
forma externa sem significado real. Por isso, se uma pessoa
apoia a sua felicidade no ter, ela não pode jamais ser feliz
pelo ser. O ser é real, é total, é imperecível. O ter é limitado, é
irreal, é passageiro, é apenas uma miragem que um dia terá
seu desfecho. Aquele que assenta sua felicidade em sua rua
e seus amigos, assim como em seu hobby ou em suas via -
gens, um dia vai perder essa felicidade. Ou podemos dizer:
essa pessoa nunca foi feliz de verdade, apenas tinha a sen -
sação de satis fação do momento, que lhe dava a impressão
distorcida de felicidade. Uma pessoa que apoia seu ser no
seu parceiro, no seu casamento e nos seus filhos, e acredita
ser feliz com eles, está se enganando profundamente. Ela
pode acreditar que é feliz e pode até brigar com aqueles que
dizem o contrário, mas se um dia essa pessoa perder seu
marido, perder seus filhos e perder essa estrutura de vida, ela
igualmente desmorona, ela decai, ela perece junto com as
coisas que lhe conferiam a falsa sensação de felicidade . É
como o pássaro que pousa num galho e se acostuma com
esse galho, esquecendo que pode voar. Caso o galho quebre,
o pássaro cai no chão. Mas caso o pássaro lembre que é um
pássaro e voe assim que o galho quebrar, ele retorna a sua
condição de liberdade de voar e o galho já não o faz cair.
Somos como pássaros que esquecemos que podemos voar.
Nos apoiamos em coisas transitórias que, quando desmoro -
nam, caímos juntos e, assim, sofremos quando há o choque
com o solo. Vivemos sustentados por alimentos emociona is
que um dia sempre acabam, e quando eles chegam ao fim, o
sofrimento é a conclusão inevitável.

386
O quinto e último ponto nos fala sobre o valor do desprendi -
mento para que haja liberdade. O sábio Nisargadatta Maharaj
dizia que, aqueles que desejam a liberdade, devem abrir mão
de tudo aquilo que os rouba a liberdade. Essa máxima é en -
contrada em várias tradições espirituais e foi proferida por
diversos mestres. A liberdade espiritual que nos conduz ao
encontro com nossa essência só pode ser conquistada
quando abandonamos todos os suportes, todos os apoios,
todas as condições passageiras, toda proteção externa. Tudo
aquilo que se encontra na esfera do ter deve ser retirado,
solto; deve ser renunciado. Precisamos largar todos os ali -
mentos emocionais que nos s ustentam, caso desejamos ser
verdadeiramente livres e felizes. A esfera do ser profundo,
claro e imperecível é a única real; mas tudo aquilo que temos,
que possuímos; tudo aquilo com o qual nos apegamos e
necessitamos para viver deve ser abandonado sem res tri-
ções. No entanto, as pessoas têm grande dificuldade de se -
guir esta orientação. Como diz a máxima: “Todos querem ir
para o céu, mas ninguém quer morrer”. O ser humano deseja
a felicidade, mas não quer abrir mão de nada para ser feliz.
Queremos correr livres pelos campos, mas não soltamos de
nossos costas a bagagem pesada que nos impede de seguir
em frente. É preciso desgrudar desse peso e voar. É preciso
retirar toda a carga acumulada e nos elevar ao céu, um lugar
onde existe apenas a paz e a felicidade. Podemos afirmar que
essa é a única forma de encontrar nossa essência: abando -
nando tudo o que está no caminho. É preciso ser feliz na
tempestade e na bonança; é preciso ter paz na perda e no
ganho; é imprescindível ser livre na vida e na morte. Caso
contrário, vamos pulando de sofrimento em sofrimento, até
que chega a depressão pelas perdas e decepções e, de tão
desgastados de tudo, desistimos de viver.

Cultive o ser e deixe o ter de lado. Se você deseja encontrar a


sua essência, o caminho é simples: liberte-se de tudo. Essa é
a única forma de se libertar em definitivo do sofrimento que
impede sua paz e sua felicidade.

387
É PRECISO ABRIR MÃO

Uma mulher procurou um monge e disse que não aguentava


mais sua vida. Ela estava saturada de tudo e queria se p urifi-
car interiormente. O monge virou-se para ela e disse:

– Já vou falar com você, mas antes segure minha bolsa aqui,
por favor.

A bolsa do monge era bem grande e pesada. A mulher ficou


revoltada e não entendeu o motivo disso. “Eu venho procurar
ajuda e ele me faz de empregada?” pensou. No entanto, re -
solveu fazer o que ele pediu. O monge disse:

– Agora vá até a cachoeira aqui ao lado e lave suas mãos,


mas sem soltar a bolsa.

A mulher, meio contrariada, caminhou até a cachoeira e ten -


tou lavar suas mãos. Entretanto, percebeu que não poderia
fazer isso, a não ser que soltasse a bolsa. Voltou ao mosteiro
e falou para o monge que não tinha como lavar as mãos se -
gurando a bolsa. O monge disse:

– Agora pegue esses papéis para mim.

A moça tentou pegar, mas por estar segurando a bolsa


grande, disse ao monge que não conseguiria pegar. O monge
disse:

– Claro… Você não consegue por um motivo muito simples:


nossas mãos precisam estar vazias para que possamos lava -
las. Mãos cheias de coisas não podem ser lavadas e tam-
pouco são capazes de pegar outras coisas; elas só podem
ficar com o que já estão carregando.

Por isso, aqueles que desejam se purificar e se renovar em


espírito, precisam soltar as coisas e permanecerem vazios de
tudo. Devem soltar as cargas e estar com as mãos abertas
para a vida, a fim de se limparem e de recepcionar a renova -
ção, o novo nascimento. Não adianta desejar que a renova -
ção ou a transformação chegue em sua vida se sua mão
continua agarrada a milhares de coisas e não solta as cargas
antigas, que você já conduz há muito tempo.

388
O ser humano quer tudo, mas não é capaz de abrir mão de
nada. Por isso, caso você esteja segurando um peso há muito
tempo, solte… Não tenha medo, solte… Solte tudo… Não
fique carregando coisas desnecessárias. Solte tudo e fique
vazio, sem nada… Na vida é essencial sempre abrir mão das
coisas. Abra mão do antigo; abra mão das cargas que você já
carrega há tempos; libere todo peso acumulado que te coloca
pra baixo. Somente quando nos esvaziamos completamente é
que conseguimos ser livres e renovar nosso ser. Da mesma
forma, somente quando soltamos tudo é que nos tornamos
livres para permitir que Deus entre em nossa vida e em nosso
ser.

389
APEGO E SOFRIMENTO

Sobre os nossos apegos terrenos, precisamos lembrar de


algo muito importante:

“Aquilo com o qual nos apegamos no mundo, será o nosso


sofrimento no plano espiritual.”

Essa máxima é muito importante de ser compreendida, pois


ela define nosso bem estar, nossa felicidade e nossa paz…
Ou define nossa dor, vazio e sofrimento após a morte.

Aquele que depende de uma coisa para viver, como por


exemplo, comida, compras, vícios, sexo, dinheiro, patrimônio,
etc… vai sofrer muito quando chegar ao plano espiritual e
perceber que essas coisas não existem lá… Não existe co-
mida no plano espiritual, pois o espírito não precisa se ali -
mentar…

Por isso, se você é dependente da comida, se tem apego a


ela, no plano espiritual você vai sofrer pela ausência de co -
mida. Vai desejar a comida e ela não estará lá… Quanto
maior o apego, maior será o seu sofrimento no plano espiri -
tual quando você descobrir que seu objeto de apego não está
presente.

No plano espiritual somos muito mais sensíveis do que no


plano material. Quando estamos na Terra, revestidos por um
invólucro composto de matéria grosseira, essa roupagem que
envolve o espírito de certa forma nos protege de quem so -
mos. Isso é positivo para o humano encarnado, pois lhe dá
mais tempo de realizar sua purificação interior e se libertar de
todas as suas imperfeições. No plano físico temos os desejos
relacionados ao corpo e seus prazeres. Mas na condição de
espíritos, fora da vida corpórea, aquele que não se libertou
dos seus desejos em vida, permanece com eles. O mais
grave é que os desejos que ficam na memóri a do espírito,
com os quais ele se apegou, se apresentam de forma bem
mais intensa e vívida.

O espírito que se acostumou em comer carne, adora carne,


está apegado à carne e não consegue se imaginar vivendo
sem comer carne, no plano espiritual vai sofrer m uito com a

390
ausência da carne. Ele vai desejar a carne, e não poderá se
alimentar de carne. Da mesma forma o espírito de um fu -
mante vai desejar o cigarro e não poderá mais sentir o prazer
do tabaco em seu organismo. O resultado dessa falta é ape -
nas um… sofrimento. O sofrimento pelos desejos não satis -
feitos, pelos apegos, pelas nossas dependências e vícios
humanos, são muito fortes. Muitos espíritos nessa condição
de ânsia pelos desejos materiais sentem-se tão carentes dos
seus objetos de apego que permanecem no plano material,
errático e perturbados, para poder usufrui-los.

É muito comum ver espíritos se ligando a encarnados, em


graves processos obsessivos, fumando junto com eles. Ou
espíritos alcoólatras que, quando desencarnam, não podem
mais beber e, assim, entram em “possessão” com os encar-
nados para beber junto com eles. Se o encarnado obsediado
por esses espíritos decide dar um ponto final e largar o vício,
esses espíritos podem assedia-lo intensamente, estimulando
sua necessidade pela álcool, provocando no encarnado a
sensação de carência, de desprovimento, de privação, e as -
sim, faze-lo voltar a beber. Nesse estado, o encarnado pode
ceder a esse apego e retornar o vício. Assim, os espíritos que
estão com ele continuarão bebendo junto com ele.

Obviamente não se trata de beber fisicamente, pois o espírito


não tem mais corpo. Trata-se de incorporar no encarnado e
compartilhar com ele da sensação da bebida, do prazer na
ingestão do álcool.

De vez em quando vejo algumas pessoas dizendo: “Sim, eu


sei que tenho esse apego, mas ainda não consigo larga -lo.
No futuro eu me desapego”. Esse pensamento é muito peri -
goso, pois o ser humano encarnado não sabe o momento de
sua morte. Ele pode morrer daqui a alguns segundos, como
pode morrer daqui a 80 anos. Pode acontecer de alguém
deixar para depois a libertação dos seus apegos e morrer
repentinamente, num acidente de carro, num ataque cardíaco
ou em outras condições. Quando isso acontece, não pratica -
mos o desapego e o sofrimento no plano espiritual será uma
realidade. O espírito que chega ao plano espiritual com todos
os seus apegos, não pode mais se libertar. Ou ele se liberta
aqui na matéria, ou não se liberta.

391
Estamos falando do sofrimento no plano espiritual, mas é
certo que o apego também gera sofrimento aqui mesmo, na
matéria. Uma pessoa muito apegada a sua casa, pode perder
essa casa ainda em vida e sofrer muito com isso. Uma pes -
soa muito apegada a seu dinheiro, pode viver uma crise fi -
nanceira e perder seu dinheiro e seus bens e também sofrer
muito com isso. Algumas pessoas muito apegadas podem até
mesmo pensar em suicídio, tal é seu grau de apego em rela -
ção àquilo que possuem. A depressão é muitas vezes o re -
sultado de apegos não satisfeitos muito arraigados dentro de
nós. Aquele que faz sua vida depender de uma coisa e depois
a perde, pode também perder sua vida quando seu apego
não existe mais. Todos precisam compreender que todo e
qualquer tipo de apego deve ser extirpado de nossa vida, por
um motivo muito simples: nenhum desses objetos de apego
existem no plano espiritual. O plano espiritual, que é o plano
real, não dispõe de qualquer coisa que necessitamos na
Terra. As necessidades do mundo são apenas do mundo…
elas não existem fora daqui. Por isso, quem se apega, sem -
pre sofre pela perda, seja na m atéria, seja no plano do espí-
rito.

Por outro lado, as pessoas não tem noção da liberdade espi -


ritual que conquistam quando se libertam dos seus apegos
terrenos. É uma liberdade impossível de se expressar em
palavras, de tão elevada, sublime e plena. Todo s aspiram à
liberdade, mas poucos são aqueles que aceitam abrir mão de
tudo o que nos aprisiona. Não é possível ser livre e viver com
apegos. O apego é o oposto da liberdade, assim como a
escuridão é o oposto da luz. Quem vive mergulhado em seus
apegos, vive e morre preso e infeliz. Aquele que, ao contrário,
se solta de tudo e vive apenas pelo espírito que é, esse é
livre, totalmente livre… e infinitamente feliz após a morte.

Portanto, o desapego do que existe no mundo não é apenas


uma questão de moral espiritual, de evolução da alma ou da
aspiração à transcendência. É principalmente a melhor forma
de evitar o sofrimento, de nos proteger da carência, de supe -
rar a dor da perda de algo que não podemos mais obter. E
acredite: essa dor do apego, no plano espiritual, é muito,
muito sofrida.

392
NÃO DÊ SEU PODER

A vida humana se define pelo ato de dar o nosso poder a algo


ou alguém.

As pessoas cedem seu poder a tudo aquilo que lhe é externo.

E dar o nosso poder é sempre retirar o poder que temos den -


tro de nós.

Muitas pessoas entregam seu poder aos filhos. Os filhos


estando tristes, ficamos tristes; se os filhos brigam conosco;
ficamos arrasados; se os filhos nos fazem mal, absorvemos
esse mal redobrado. Essas pessoas transferem seu poder
aos filhos e ficam subm etidas a ingratidão, ao destempero e
aos caprichos deles. Damos tanto poder aos filhos que,
quando eles saem de casa, muitos pais entram em depressão
e perdem o sentido do seu viver. O poder deve estar sempre
conosco, em nossa vida, naquilo que somos lá de ntro, em
nosso interior.

Muitas pessoas doam seu poder à mídia, à televisão e à pro -


paganda. São aqueles que se vestem como a moda lhes dita;
seguem os padrões de comportamento impostos, agem e
pensam somente como a maioria quer ou espera ou tentam
imitar celebridades desejando ser como eles. Cedemos nosso
poder a tudo isso. Por esse motivo, acaba nos faltando poder
para sermos nós mesmos; nos falta poder para seguirmos a
nossa consciência; nos falta poder para não permitir que
sejamos guiados tal como uma manada de gado é conduzida
pelo boiadeiro.

Muitas pessoas passam seu poder ao cônjuge ou compa -


nheiro. Vivem por eles, para eles e em função deles. Criam
um mundo particular somente dele e do cônjuge e passam a
depender desse alimento emocional para viver. Depois so-
frem imensamente quando eles nos deixam, quando eles nos
magoam ou quando eles morrem. Conferimos nosso poder ao
nosso parceiro e colocamos nossa vida nas mãos dele. Per-
demos nosso próprio poder e passamos a ser determinados
pelas decisões do outro. Algumas pessoas passam a vida
esperando pelo outro, tal é o poder que transferiram. Muitas

393
vezes damos tanto poder ao outro que sequer conseguimos
viver sem ele.

Muitas pessoas dão poder aqueles que nos ofendem. Os


agressores passam a controlar nosso humor e decidir quando
devemos ficar com raiva, como devemos reagir e facilmente
alteram nossas emoções. Basta que alguém nos ofenda para
que a pessoa reaja fortemente, agredindo de volta; basta que
a pessoa nos estapeie, para lhe golpear de volta. Que m cede
seu poder ao ofensor esgota seu próprio poder de não reagir,
de se manter calmo, de não permitir que o outro nos tire do
sério, de sermos nós os senhores de nossas emoções e de
nossas atitudes. Não permita que esse poder esteja sempre
nas mãos do outro. Não dê seu poder ao agressor.

Muitas pessoas dão poder aos bens materiais e ao dinheiro.


Uma perda financeira já é motivo para a tristeza, o desespero
e um mergulho em milhares de preocupações. Perdemos o
sono, a tranquilidade e a alegria de viver ap enas pela perda
de bens e dinheiro. Damos tanto poder ao dinheiro e as rique -
zas materiais que eles são capazes de destruir nossas vidas
quando os perdemos. Usurpamos tanto nosso poder pessoal
pelo dinheiro que ele passa a determinar tudo a nossa vida.
Quando ele chega, ficamos alegres; quando ele falta, ficamos
tristes. Os bens materiais passam a ter um poder maior do
que o nosso poder. Fazemos tudo girar ao redor deles, e
giramos junto. Tudo isso porque lhes cedemos um poder que
eles não merecem ter.

Muitas pessoas conferem um total poder a sua aparência


física. Essas pessoas acreditam que por serem belas, terem
corpos esbeltos e musculosos, podem conseguir muitas coi -
sas. Esses perdem seu poder interior dando mais atenção a
sua condição exterior. Quando essas pessoas envelhecem,
elas começam a se sentirem frustradas, carentes, insatisfeitas
e vazias. Por terem colocado tanto poder em seu corpo físico,
deixam de cultivar sua consciência e seu espírito. Dessa
forma, se perdem em futilidades e veem seu poder aos pou-
cos se esvaindo em exterioridades e superficialidades sem
sentido. As aparências passam a ter mais poder que a reali -
dade, tudo isso por lhe cedemos esse poder.

394
Muitas pessoas dão poder ao carro; outras dão poder ao
prazer sexual; outras dão poder ao status; outras dão poder a
crenças religiosas estéreis ou ao líder religioso oportunista;
mas tudo isso segue sempre uma regra básica da vida:
quanto mais poder damos a algo ou alguém, mais poder
perdemos dentro de nós. O poder que você deu ao outro o u a
alguma coisa é o poder que você perde em você mesmo. Dar
poder ao outro é ver o outro crescer, crescer e se tornar um
gigante poderoso, enquanto você se torna menor, pequeno,
sem energia e sem qualquer poder pessoal. Dar poder a algo
é ver esse algo tendo uma importância maior do que você
mesmo.

Pare de dar poder a tudo e todos. Procure entender que nada


tem um poder por si só, nós é que damos esse poder. Por
isso, resgate seu poder e fique com ele. Não permita que seu
poder se perca, se dilua ou se es gote em coisas banais. Não
dê valor ao que não tem valor; não veja a importância naquilo
que não importa. Fique você mesmo com seu poder. Não crie
fantasmas ou monstros poderosos em sua mente que depois,
mesmo sem possuírem existência real, voltarão para te es-
magar. Não dê jamais poder a quem não tem esse poder.
Aquele que não dá poder ao outro e mantém o próprio poder
em si mesmo, encontrando-o sempre em sua fonte interior,
liberta-se do sofrimento e não é atropelado pelas correntezas
ilusórias da vida.

395
NÃO DEIXE PARA AMANHÃ

Um homem estava frequentando uma igreja há alguns anos.


O padre dessa igreja sempre enfatizava em suas homilias a
importância de todo cristão praticar os ensinamentos de Je -
sus e não apenas ir à igreja aos domingos. “Cristo vive em
nossa vida quando seguimos seus ensinamentos e seu
exemplo, e não quando estamos entre as quatro paredes de
pedra da igreja” dizia o padre.

O homem, cristão fervoroso, decidiu então que começaria a


sua prática a partir de amanhã. Chegado o dia seguinte dia,
uma mulher o ofendeu no trânsito e ele a ofendeu de volta. O
homem pensou: “Não deveria tê-la ofendido. Isso não é cris -
tão. A partir de amanhã começarei a praticar os ensinamentos
de Jesus e não mais ofenderei e nem julgarei ninguém.

No dia seguinte o homem estava numa repartição pública e


um problema foi verificado em seus documentos. O homem
se irritou e começou a brigar com o funcionário. Saiu de lá
muito nervoso. Assim que se acalmou lembrou que, mais uma
vez, havia descumprido sua promessa de praticar os ensina-
mentos de Jesus. “Não importa! Amanhã sem falta eu come -
çarei a seguir o exemplo de Jesus”.

Passados alguns dias, seu filho anunciou que era homosse -


xual. O homem brigou com ele e não aceitou a orientação
sexual do filho. Depois se arrependeu de sua atitude e pen-
sou: “Mais uma vez não segui os princípios cristãos. Mas
amanhã sem qualquer falta eu iniciarei”.

O tempo foi passando e o homem estava sempre adiando seu


início na prática cristã. Passaram -se meses, anos e ele não
mudava. Continuava o mesmo homem irritado, preconceitu -
oso, intolerante, elitista e orgulhoso de sempre.

Certo dia, o homem estava atravessando a rua e não viu um


carro passando em alta velocidade. O choque foi inevitável e
ele faleceu ali mesmo.

Chegou ao plano espiritual e se viu numa região sombria, que


parecia ser uma zona do submundo para onde iam as almas
de pessoas impuras e arrogantes. Um anjo estava ali e foi

396
falar com ele. O homem reclamou dizendo que precisava de
mais tempo na Terra, pois queria seguir os ensinamentos de
Jesus e se livrar daquele local terrível. O anjo respondeu:

– Infelizmente, isso não será possível. O senhor ficou adiando


sua melhora pessoal e por isso, terá que ficar aqui. Você
estava sempre postergando para amanhã, amanhã e ama-
nhã. Mas um dia, o amanhã pode não chegar e não dar mais
tempo da pessoa se transformar. Por isso, as almas que
vivem no mundo não podem perder tempo. O tempo na Terra
é muito precioso e quem fica deixando sempre sua transfor-
mação para depois, pode s e perder seriamente no caminho.

O anjo concluiu dizendo:

“Isso serve para todos os seres humanos. Ninguém deve


deixar sua transformação para amanhã. Todos precisam
realizar sua mudança hoje. O amanhã não existe. Só existe o
agora, o momento presente. Só é possível a transformação
no momento atual. Aquele que deixa para amanhã pode ficar
bem frustrado, pois o amanhã… é preciso dizer… pode sim -
plesmente não chegar.”

397
UM HOMEM OFENDE UM SÁBIO

Um sábio hindu muito famoso estava ensinando a um grupo


de discípulos. Sem qualquer aviso, um homem aparece diante
de todos com um semblante de muita raiva. Ele aponta o
dedo para o sábio e diz em voz alta:

– Eu não gosto de você! Todos aqui te amam, mas eu te


odeio. Você é desprezível! Você é mentiroso! Além de ser
feio… você é burro! Pessoas como você apenas enganam as
outras. Quer parecer muito sábio, mas não passa de um igno -
rante! Você é um sonhador insignificante!

O homem lançou estes insultos contra o sábio e depois se


retirou.

Os discípulos ficaram chocados com o atrevimento do ho-


mem. O sábio viu o homem sair, olhou para os discípulos e
simplesmente disse:

– Então, como eu ia dizendo a respeito do Bhagavad Gitá…

Um dos discípulos interrompeu o sábio e perguntou:

– Mestre… Você não ouviu o que este homem falou? Ele te


ofendeu de várias formas. Você não ficou chateado quando
ele disse, por exemplo, que você era desprezível?

O sábio calmamente olhou para o discípulo e disse:

– Se eu quisesse ser grande, sim… eu teria me chateado com


o que ele falou. Mas como eu não tenho qualquer desejo de
ser grande, eu não me importo quando alguém diz que sou
pequeno ou desprezível.

O discípulo entendeu a resposta, mas ainda não estava sa -


tisfeito e perguntou:

– Mas mestre… ele também disse que você é burro!

– Sim… e dai? – respondeu o sábio – Se eu desejasse ser


inteligente ou parecer inteligente, sim… eu ficaria bravo com o
que ele disse. Mas como não tenho nenhum desejo de ser

398
..inteligente e tampouco quero parecer inteligente diante de
outras pessoas… eu simplesmente não ligo para isso.

O discípulo compreendeu a ideia transmitida pelo mestre. O


sábio continuou:

– Busquem compreender essa verdade… Esse homem veio


aqui e me chamou de feio, mas eu só ficaria ofendido, bravo
ou magoado se eu quisesse s er bonito. Mas como não tenho
nenhuma vontade, desejo ou expectativa de ser bonito, eu
não dou a mínima para aqueles que me chamam de feio ou
acham que sou feio. O mesmo ocorre com tudo na vida. Uma
pessoa só fica triste quando dizem que ela não é boa quan do
ela deseja ser boa; só fica ofendida quando lhe chamam de
ignorante quando ela quer muito ser ou parecer inteligente; só
fica irritada quando lhe chamam de chato, quando ela quer
muito ser ou parecer legal aos olhos dos outros. Quanto mais
alguém deseja ser ou parecer algo, mais sofre por não ser
esse algo ou por dizerem que ele não é.

No entanto, aquele que não se importa em ser bonito ou feio,


grande ou pequeno, bom ou mau, sábio ou ignorante, ou
qualquer outra coisa… esse não se ofende, não se entris tece,
não se deixa abater por nada. Entendam, ó discípulos, que
essa é uma das raízes do sofrimento humano: o desejo de ser
ou de parecer algo a alguém. Aquele que se liberta disso…
está pronto para viver em paz consigo mesmo para sempre.

399
UMA ALMA DE LUZ NA TERRA

Uma alma de muita luz veio ao mundo com uma única mis -
são: ajudar outras almas a se libertarem do sofrimento mile -
nar. Dessa forma, foi cruzando os quatros cantos da Terra e
observando uma grande quantidade de almas envolvidas em
dor e sofrimento.

Todas essas almas viviam numa espécie de cativeiro, numa


prisão ou numa cela fechada e lacrada por seus próprios
pensamentos. Essa cela era a representação de todas as
suas prisões mentais, psicológicas e emocionais. O cárcere
que as almas viviam nada mais era do que a expressão de
uma série de emoções, ideias arraigadas e imperfeições
humanas, como o apego, a culpa, a inveja, a raiva, a mágoa,
o perfeccionismo, as cobranças, o sentimento de posse, o
egoísmo, a soberba, a vaidade, dentre outras imperfeições
humanas.

As almas que viviam nessa cela se encontravam extrema -


mente carentes e vazias. Um dos comportamentos mais
frequentes era ficar mendigando pequenas porções de amor.
Muitas delas ansiavam por fama, elogios e reconhecimento.
Outra parte tinha muito medo de tudo, principalmente de sair
da cela. Apesar do cárcere que aprisionava essas almas ser a
causa de toda uma série de sofrimentos, raríssimas almas
abriam a porta da cela e se libertavam. Muitos ficavam com
medo do que iriam encontrar lá fora, pois era algo desconhe-
cido e inabitual. Por isso, optavam em permanecer nas celas,
sofrendo, desejando, se frustrando, acostumadas com sua
condição e apegadas aos detalhes e ao formato da cela.

Por viverem isoladas umas das outras, as alm as também


viviam quase sempre carentes e solitárias. Elas não conse -
guiam perceber que se isolavam em seu egoísmo e, por esse
motivo, acabavam reforçando a firmeza e a grossura de suas
grades. “Não importa o que existe lá fora. Não quero sair
porque aqui dentro pelo menos é tudo conhecido”, pensavam
as almas aprisionadas.

A alma de luz percebeu que existia toda uma diversidade de


almas que tentavam ajuda-las. Muitas delas saiam das celas
apenas para visitar outras celas, mas continuavam quase tão

400
presas como as outras. Essas almas desejavam ajudar. No
entanto, sua ajuda se resumia a adentrar nas celas e tentar
de alguma forma melhorar as condições do prisioneiro e da
prisão. As almas visitantes traziam água, comida e roupas.
Elas também limpavam as celas das outras almas, arruma-
vam tudo e tentavam até torna-la mais bonita. Algumas ador-
navam a cela com enfeites diversos, pintavam e a decoravam.
No entanto, apesar de todos os esforços dessas almas que
queriam ajudar, elas não resolviam o verdadeiro problema, ou
a real causa do mal. No final das contas as almas continua -
vam presas, solitárias, desejosas, carentes, frustradas, me -
drosas e vazias. Tudo isso por permanecerem presas.

A alma de luz visitou uma das celas e começou a conversar


com uma das almas, dizendo: Minha irmã, você não precisa
ficar presa nesse lugar. Há todo um mundo, um universo
infinito e eterno que se encontra fora da cela. Nesse lugar as
almas não estarão mais presas, mas serão totalmente livres
como os pássaros que voam no céu; serão alegres como as
flores que se abrem no campo e viverão em harmonia com
outras almas, tal como o movimento fluido dos peixes de um
cardume.

A alma ouviu estas explicações e resolveu sair da cela. Abriu


a porta e conseguiu se libertou da prisão que há milênios lhe
causava um grande sofrimento.

Conversando com a alma de luz após algum tempo, a alma


recém liberta perguntou sobre as dezenas de milhares de
almas que se esforçavam em melhorar as condições das
celas das almas prisioneiras. A alma de luz respondeu:

– Para ajudar alguém, não devemos tentar arrumar, limpar,


enfeitar ou de alguma forma melhorar as condições de uma
prisão. Afirmo-te que, para auxiliar, é preciso fazer algo sim -
ples… libertar o prisioneiro. Essa é a maior caridade que
podemos prestar as almas nesse mundo.

A alma de luz então concluiu seu ensinamento:

Não adianta melhorar as condições da cela. Apenas liberte -se


da prisão.

401
CAMINHO PARA A FELICIDADE

Um homem viaja para encontrar um grande sábio que vivia


nas montanhas. Assim que adentra ao pórtico da residência
do santo homem, já lhe faz um pedido:

– Senhor, percorri grandes distâncias para estar aqui. Quero


lhe pedir um auxílio numa questão importante. Desejo con -
quistar o cargo mais alto na repartição pública onde trabalho.

O sábio olha para o homem e pergunta:

– Está bem, mas antes me responda. Para que você quer


esse cargo?

– Ora senhor… – respondeu o homem – Para me tornar uma


pessoa com melhor reputação.

– E para que você quer uma reputação melhor? O homem


respondeu:

– Para me tornar um homem mais rico, com mais dinheiro.

– E para que você quer mais dinheiro? Tornou a perguntar o


sábio.

– Para ter mais conforto na vida senhor….

E para que você quer mais conforto? Insistiu o sábio.

– Para eu me sentir melhor comigo mesmo, me tornar alguém


mais satisfeito e ser amado pelos outros.

– E para que você se sentir melhor consigo mesmo, se tornar


mais satisfeito e ser amado?

– Ora senhor… Para que eu possa viver bem e ser feliz!

O sábio então deu uma pausa e logo depois perguntou:

– Agora me diga: o que te impede de ser feliz agora?


O homem ficou mudo… Não sabia o que responder. O sábio
concluiu:

402
– Aprenda isso meu filho. No fundo, o que as pessoas mais
querem é a felicidade. Mas enquanto perdemos um tempo
imenso na tentativa de conquistar isso e aquilo para sermos
felizes, jamais a felicidade virá. Isso ocorre por uma simples
razão. Não existe nenhum caminho para ser feliz. Qualquer
pessoa pode ser feliz aqui e agora, nesse exato momento. O
que impede, aqui e agora, a sua felicidade plena? Tudo isto
que você enumerou nada mais é do que um impedimento
para a sua felicidade, pois você acredita que só será feliz
após obter todas estas coisas. Mas não… a verdade é que só
podemos ser felizes aqui e agora, e quem não é feliz aqui e
agora, jamais será feliz no futuro.

O homem compreendeu a mensagem e agradeceu ao sábio.


Faça essa pergunta a ti mesmo: o que te impede de ser feliz
agora? Cargos, salários, reputação, fama, vida amorosa,
saúde, realizações? A resposta é: nada… Não há coisa a l-
guma que possa impedir sua felicidade no momento presente,
pois é certo que, quando existe a felicidade, ela só existe
agora. Não há qualquer caminho a ser percorrido para atingi -
la. Ou a felicidade existe aqui e agora, ou ela nunca vai exis -
tir.

Vamos refletir sobre isso: que te impede de ser feliz agora?

403
MENSAGENS SOBRE RELIGIÃO E FÉ

SER E ESSÊNCIA

Nesse momento…
Pare de se distrair com o exterior
E volte sua atenção para seu interior.
Deixe de lado a televisão, o trânsito, os problemas, as preo-
cupações, o estresse…
Largue todas as ilusões efêmeras desse mundo…
E fique sozinho… apenas consigo mesmo.
Nesse momento… pare…
Pare por um instante… pare tudo… Não faça mais nada…
E procure apenas sentir a si mesmo.
Sinta a tensão em seu corpo, sinta suas angústias, seu vazio,
sua tristeza, seu desespero, seu cansaço…
Sinta tudo e apenas deixe fluir…
Não bloqueie mais o sentimento, não interrompa o pensa -
mento, não resista ao que ocorre dentro de você…
Apenas deixe acontecer… e solte tudo.
Solte… deixe estar… deixe acontecer… e continue sentindo a
si mesmo.
Não prenda a corrente… deixe ela fluir livremente…
Não apresse nada… tudo segue no tempo devido…
Não tente controlar coisa alguma… Ninguém controla nada…
Não se preocupe em fazer ou não fazer… em ser ou não
ser… Não espere resultados…
Nesse momento… você com você mesmo… em seu interior…
você é livre…
Sim… livre de tudo… nada há que possa te fazer mal… nada
te afeta… nada te oprime… nada ha para perder…
Você está aqui e agora… não está longe… não está no pas -
sado nem no futuro… está aqui… presente em si mesmo.
O pensamento vem e vai… deixe-o ir e vir… deixe a roda da
vida continuar a girar… mas não se mova com ela… apenas
observe seu movimento… e sinta a liberdade do seu espí-
rito…
O espírito é puro… ele não pode ser maculado. Ele é paz…
nada pode abala-lo.

404
Nesse espaço interior… o além de dentro… a profundeza de
sua alma… é o seu lugar no cosmos…
Deixe ser o que é… não seja isso ou aquilo… seja apenas o
que é o ser… O ser ja é por si mes mo…
Entregue-se com toda a confiança ao ser que é… Coloque-se
com toda a fé nas mãos de Deus…
Quem está aqui… no além interior… não precisa de nada…
Vê com os olhos internos… escuta a voz interior… sabe com
a sabedoria da vida…
O ser é eterno… ele não tem tempo. O ser é infinito, ele não
tem fim… O ser é tudo… e ao mesmo tempo nada…
Em teu ser existe uma essência… não é possível sen tir a
essência… pois nós somos a essência… nós somos o ser
essencial… o ser que é… O ser que é apenas e simples-
mente o ser…
Ser… Ser…. Ser…. Aqui tudo é plenitude…

405
A ORAÇÃO DE DEUS

Um homem estava orando a Deus fervorosamente dizendo:

– Deus, escute o meu pedido. Faça com que o meu chefe, ó


Deus, me dê uma promoção, preciso ter um salário melhor.
Faça também com que minha esposa me dê mais atenção e
me trate bem. Faça com que meu filho, ó Deus, estude e
consiga aquela bolsa de estudos para a faculdade. Ajude -me
também na doença do meu pai, que já está bem velhinho e o
ajude a sobreviver meu Deus. Faça também, ó Deus, que eu
seja uma pessoa mais feliz.

Do outro lado do cosmos, Deus, o Senhor de tudo o que


existe, ouviu a oração do seu filho… Ele também está, nesse
mesmo momento, fazendo uma oração a este mesmo filho.
Deus diz:

– Meu filho, escute você este meu pedido. Ao invés de querer


sempre que Eu te escute, procure você escutar mais a Mim, a
natureza, as pessoas e a vida.

Ao invés de ficar sempre orando para que eu te dê tudo, en -


tenda que existem coisas que iriam mais te prejudicar do que
te beneficiar caso você as conseguisse. Entenda que cresce-
mos interiormente mais com a falta do que com as conquistas
mundanas, e que o mais importante não é o que se ganha,
mas o que se ganha interiormente quando há algo que se
perde exteriormente.

Quanto ao seu chefe, ó meu filho, procure não ser uma pes -
soa tão arrogante diante do seu chefe, e pare de ficar dispu -
tando com ele. Aprenda a lição da humildade, e assim, você
poderá conseguir coisas muito mais importantes em sua vida
do que tão somente uma promoção.

Quanto a sua esposa, ó meu filho, de nada adianta me pedir


que ela te trate bem se você não dá atenção a ela e a relega
a um segundo plano. Afinal, fui Eu mesmo que coloquei vocês
dois juntos para que, nessa convivência, um ajude o outro a
enxergar os seus próprios defeitos, e num auxílio mútuo de
amor incondicional, vocês possam crescer conjuntamente
como seres humanos.

406
Quanto ao seu menino, ó meu filho amado, não mime ele
como você vem fazendo. Pare de descontar nele a sua ca -
rência dando tudo o que ele lhe pede para receber o pouco do
carinho que ele lhe dá. Ao contrário, ensine-o o valor do es -
forço pessoal e pare de paparica-lo e de dar milhares de
benesses, pois as sim ele terá mais espaço para crescer por si
mesmo. Se eu que sou Deus não dou tudo o que vocês pe-
dem, para ajudar vocês a se desenvolverem, tampouco vo -
cês, seres humanos, devem dar tudo a seus filhos terrenos,
pelo mesmo motivo.

Quanto a seu pai, ó meu filho, entenda que ele já cumpriu sua
missão na Terra. Entenda que você precisa se desapegar
dele e permitir que ele possa partir ao plano espiritual e retor-
nar ao seu lar cósmico. A morte do seu pai é um exercício de
desapego que eu coloco diante de você, e que também aju -
dará em seu melhoramento espiritual.

Quanto a ser feliz, ó meu filho, por favor entenda de uma vez
por todas que nem mesmo eu, o Senhor de toda a Criação,
posso fazer isso por vocês, caso contrário, como vocês iriam
aprender e se melhorar se eu tudo lhes concedesse? En -
tenda, meu filho, que nada é por acas o, que tudo ocorre por
um propósito superior, e que não adianta me pedir coisas
que, caso eu lhes desse, iriam prejudicar vocês. Se há algo
que vocês não receberam, é porque é exatamente isso que
vocês precisam, nem mais nem menos. Não creia que vou te
proteger retirando-o das provas ou amenizando esta ou
aquela situação de sofrimento, pois muitas vezes você está
mais protegido passando pela provação do que se eu a evi -
tasse. Entenda, principalmente, que tudo na vida são provas
que visam aperfeiçoar e purificar o seu espírito.

Por outro lado, meu filho, entenda que a verdadeira felicidade


não depende de coisa alguma, e que para ser feliz é necessá-
rio ser feliz por si mesmo, sem que qualquer coisa possa te
tirar essa felicidade ou mesmo te dar essa felicidade. Reflita,
ó meu filho, nestas palavras e receba meu amor incondicio -
nal.

Esta é a minha oração para ti.

407
O QUE É ESPIRITUALIDADE?

Espiritualidade não é uma religião, não é uma dou trina, não é


o sacerdócio, não é uma crença e nem uma opinião.

Espiritualidade é um modo de vida, é um estado de espírito, é


uma abertura mental, é uma aspiração à transcendência.

Espiritualidade é sentir arder uma chama interior que ilumina


nosso caminho no caos e nas trevas que vivemos no mundo.

Espiritualidade é a confiança expressa nas palavras “Ainda


que eu ande pelo vale da sombra e da morte, nada temerei.”

Espiritualidade é entender que somos como crianças tomando


uma vacina, que machuca muito na hora, negamos, gritamos
e esperneamos, mas que depois imuniza nosso espírito.

Espiritualidade é ir além, é a consciência de que a vida não se


encerra na morte, de que é preciso haver continuidade dentro
da descontinuidade. De que tudo que começa, termina; tudo
que nasce, morre; tudo que vai, volta. De que para cada pro -
blema há uma solução, para cada lágrima derramada há sem-
pre um consolo e para cada perda há sempre um ganho.

Espiritualidade é reconhecer um propósito em todas as coi -


sas, e recusar a existência da sorte, do azar e do acaso. É ter
paciência e confiar que, um dia, o significado de tudo será
desvendado.

Espiritualidade é dar de si mesmo, é renunciar ao pequeno


para obter algo maior, é abdicar de nossas pequenas posses
para ganhar tudo o que sempre nos pertenceu. É fazer das
florestas do mundo nosso jardim, é fazer do céu o nosso teto,
é fazer dos mares e rios a nossa piscina, é fazer da Terra a
nossa casa. É cuidar do tudo, de cada ser e coisa, e não
apenas de nossos escassos bens terrenos.

Espiritualidade é ver por dentro, é não se deixar le var pelas


aparências, é reconhecer o essencial em cada mínimo as -
pecto da vida, é satisfazer-se com pouco para obter muito, é
rasgar o véu da ilusão e desejar entender o mistério da vida.

408
Espiritualidade é pedir pouco e agradecer muito. É dar muito
e nada pedir em troca. É fazer sem esperar retribuições. É
perdoar, é arrepender-se, é refazer, é renovar, é reaprender a
ver o mundo e a si mesmo.

Espiritualidade é fazer do seu professor o lírio do campo, as


árvores ao vento, a tempestade nebulosa, o orvalho numa
flor, a borboleta esvoaçando, o rio fluindo, os pássaros can -
tando. É aprender com a mais insignificante criatura.

Espiritualidade é deixar o humano morrer para o divino nas -


cer. É trazer o céu para a Terra. É viver na Terra o céu que
desejamos após a morte. É debruçar-se no inferno resga-
tando as almas perdidas e errantes. É ser uma luz no meio da
escuridão.

Espiritualidade é dormir quando se tem sono, é comer quando


se tem fome, é olhar a montanha e ver a montanha, é molhar
as mãos no rio e sentir o frescor das águas, é ver aquilo que
está ali, é não intelectualizar tudo, é sentir a essência das
coisas e mergulhar na essência da vida.

Espiritualidade é estender a mão aos que sofrem, é dar con -


forto aos que choram, é dar abrigo aos sem teto, é dar con -
selhos aqueles que se perderam, é esclarecer aqueles que
têm dúvidas, é dar de si mesmo em prol de todos, é fazer o
bem pelo bem, é morrer pela verdade para renascer na ple -
nitude.

Espiritualidade é dispensar as palavras e os discursos fúteis e


navegar nas paragens do silêncio interior. É aprender a ouvir
a vida, a ouvir a si mesmo, a diminuir a corrente dos pensa -
mentos, é tranquilizar o turbilhão das emoções, é fazer circu -
lar as energias, é deixar tudo fluir.

Espiritualidade é viver na simplicidade, natural idade e na


espontaneidade. É libertar-se de tudo o que é passageiro,
perecível, transitório. É mergulhar na vida sem medo, sem
travas, sem amarras, sem correntes, sem bloqueios. É viver,
e apenas viver, sentindo a vida como ela é. É não precisar de
nada, não depender de coisa alguma, não se deixar influen -
ciar pelas marés agitadas da confusão.

409
Espiritualidade é libertação, é humildade, é fé, é amor e é
esperança.

410
RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

Não fiquem adorando a personalidade de líderes religiosos,


adorem os ensinamentos que eles propagam.

Não fiquem se fanatizando por doutrinas e dogmas, sigam os


preceitos sagrados na prática diária.

Não fiquem repetindo rituais de forma fria e vazia, mas façam


de vossas vidas um ritual pelo bem e pela paz.

Não orem com fórmulas prontas e sempre pedindo coisas,


tenham a fé em Deus de que tudo sempre dá certo.

Não frequentem cultos barulhentos que mais parecem shows,


mas busquem o silêncio do seu interior.

Não entrem em longas e desgastantes discussões teóricas


sobre Deus, mas creia no Deus do seu íntimo e de sua cons -
ciência.

Não comprem milhares de livros por curiosidade ou apenas


para arrogar erudição, alguns minutos da boa meditação vale
mais do que a leitura de 100 obras espirituais teóricas.

Não fiquem decorando os textos sagrados apenas para re -


peti-los a outros, a experiência do sagrado transcende qual -
quer decoreba.

Não sigam apenas uma religião, mas vivam principalmente a


espiritualidade em vossas vidas.
Religião é conhecimento, espiritualidade é sabedoria.

Religião é dogma sobre o sagrado, espiritualidade é experi -


ência do sagrado.

Religião é crença, espiritualidade é ver diretamente.

Religião pode ser uma prisão, a espiritualidade te liberta e te


dá asas.

Religião é orar fria e mecanicamente, Espiritualidade é entre -


gar-se a Deus com fé.

411
Religião é ficar pedindo a Deus, Espiritualidade é agradecer.

Religião é como a lagarta, sempre presa a terra, espi rituali-


dade provoca a metamorfose na borboleta e faz você sair do
casulo.

Religião é culto do Deus externo, Espiritualidade é encontrar


Deus dentro de nós.

412
A PAZ ESPIRITUAL

Rogério era um homem muito preocupado com sua estabili -


dade material. Era empresário e seu maior objeti vo de vida
era ganhar muito dinheiro, ter uma conta bancária opulenta e
conquistar muitas posses, tudo isso para não ficar preocu -
pado com sua condição de vida. Rogério queria ter muitas
coisas para que nada lhe faltasse, e para que pudesse dar a
sua esposa e seus filhos toda a tranquilidade e estabili dade.
No fundo, Rogério queria ficar em paz consigo mesmo, e
sentia que só conseguiria essa paz se dedi casse sua vida a
busca de segurança financeira. Es tando resguardado do
ponto de vista material, ele acreditava que teria tranquilidade
e sossego no futuro. No entanto, Rogério vivia sempre preo-
cupado em ganhar mais e mais, para que o dinheiro e as
boas condições de sua vida nunca faltassem. Vivia estres -
sado e com medo de perder. Por esse motivo, não con seguia
ficar em paz…

Álvaro já era diferente de Rogério. Viveu boa parte de sua


vida trabalhando para outras pessoas. Tinha como profissão e
enfermagem e usava boa parte do seu tempo cuidando de
pessoas pobres e doentes numa organização social que ele
fundou no início da década de 80. Álvaro quase não juntava
dinheiro, pois tudo o que tinha era usado para ajudar a manter
essa organização. Passou boa parte de sua vida dando cui -
dado e assistência a pessoas que tinham os mais variados
problemas. No entanto, esse trabalho lhe dava muita satisfa-
ção interior. Álvaro era muito feliz em poder auxiliar seu pró -
ximo e considerava isso um compromisso espiritual. Mesmo
tendo pas sado por algumas graves crises financeiras ao
longo de sua vida, Álvaro sentia-se feliz com seu trabalho e
em paz consigo mesmo.

Rogério e Álvaro morreram no mesmo dia e chegaram juntos


ao plano espiritual. Um anjo acompanhava os dois e viu o que
aconteceu com cada um deles.

Rogério chegou ao plano espiritual e ninguém veio falar com


ele. Sentiu-se sozinho e preocupado com sua nova condição.
Como ele havia passado boa parte de sua vida preocupado e
estressado com dinheiro, com posses, com estabilidade fi-
nanceira… no plano espiritual as preocupações e o estresse

413
se mantiveram. O tempo foi passando e o espírito de Rogério
sentia-se inquieto, inseguro, estressado e solitário, pois havia
passado praticamente toda sua vida pensando apenas em si
mesmo e em sua estabilidade material, preocupado com
contas, com posses, com patrimônio, com segurança, com
rentabilidade, com aposentadoria etc. Rogério sentiu que, no
plano espiritual, não tinha paz. Sentiu que havia desperdiçado
boa parte de sua vida e que agora não tinha mais volta. Per-
cebeu que nada fez de bom e que não deu nenhuma contri -
buição significativa para a humanidade.

Álvaro chegou ao plano espiritual e foi recebido com muita


festa e júbilo pelos espíritos amigos. O clima era elevado,
excelso, sublime e pacífico. Muitos des ses espíritos eram
pessoas que Álvaro havia ajudado durante a sua vida e esta-
vam muito gratos pelo am paro que receberam. Álvaro fez
muitos amigos em sua existência terrena, justamente pela
disposição que tinha em fazer o bem ao próximo e também
pela justeza do seu caráter e pela retidão em suas atitu des.
Os anjos de luz disseram a Álvaro que ele havia cumprido sua
missão e que agora ele poderia des cansar em paz no plano
infinito. Álvaro estava com uma maravilhosa sensação de
missão cósmica cum prida e de ter aproveitado bem a sua
encarnação para um propósito s uperior. Não fez quase nada
pensando apenas em si mesmo e em seus interesses pesso -
ais e, por isso, conquistou um tesouro interior.

Rogério quis dominar o mundo para ter paz, mas percebeu


que, no fim das contas, nada possuía no âmbito espiritual…
Álvaro quis doar-se e sentiu que, por não desejar nada para si
mesmo, tinha paz profunda no pós -morte.

O anjo, observando a condição espiritual das duas almas, de


Rogério e de Álvaro, resolveu transmitir o mesmo ensina -
mento para ambos:

– Quanto mais trabalhamos pelo bem no mundo, mais paz


temos no plano espiritual. Não assente jamais a sua paz em
bases puramente mundanas. A paz do nosso espírito só pode
existir quando nasce de dentro de nós mesmos… sem qual -
quer posse e sem qualquer suporte externo.

414
DEUS E PERFEIÇÃO

Deus é perfeito, disso ninguém duvida. Todas as pes soas que


creem em Deus sabem que seria uma im possibilidade lógica
imaginar Deus sendo imperfeito. Se Deus fosse imperfeito,
simplesmente não poderia ser Deus. Deus e a perfeição são
duas ideias que se confundem e uma não poderia existir sem
a outra. Se algo é perfeito, está com Deus, e se imaginamos
algo como sendo Deus, esse algo só pode ser perfeito.

Se Deus é perfeito, Ele deve necessariamente ser eterno e


infinito. É certo que Deus, sendo a própria essência do cos -
mos, não pode ter qualquer tipo de limite. Se por um mo -
mento imaginamos apenas um limite para Deus, já não esta -
mos imaginando Deus, mas outra cois a. A perfeição deve ser
infinita e eterna, e sendo assim, não pode ter qualquer li mita-
ção. Deus, sendo perfeito, não pode aceitar, pela ló gica,
qualquer forma de limite. O divino portanto é perfeito e abso-
lutamente ilimitado, sem quaisquer fronteira, divisão ou de -
marcação. Nesse sentido, Deus é um, não pode ser dois, três
ou mais. Para ser Deus é necessário ser uma unidade, ape -
nas um, pois a unidade não admite divisões.

Diante desses fatos, que são lógicos em si mesmos, admi -


tindo que Deus é perfeito e por isso, ilimitado, precisamos
reconhecer também que Deus está em tudo. Essa ideia pode
surpreender algumas pessoas, mas reconhecemos que não
pode ser de outra maneira. Vamos entender isso… Se Deus é
perfeito e ilimitado, não pode ter qualquer limite. Se não tem
um limite, ele se estende a tudo, está em tudo, parti cipa de
tudo, faz tudo e principalmente… é tudo. Diz-se corretamente
que Deus é onisciente, onipotente e onipresente, ou seja,
tudo sabe, tudo pode e em tudo está presente. Isso não signi -
fica que Deus seja tudo, mas que Deus não pode estar au -
sente de qualquer coisa, posto que é ilimitado.

Aqui há uma diferença sutil, mas real: Deus está na rocha,


mas Ele não é apenas a rocha; Deus está na água, mas Ele
não é apenas a água; Deus está na planta, mas Ele não é
apenas a planta; Deus está no universo, mas ele não é ape -
nas o universo; e tam bém, Deus está no ser humano, mas ele
não se limita ao ser humano, Ele é algo mais, infinito, eterno,
supremo e absoluto. Portanto, se Deus é infinito, não tem

415
limites… Se não tem limites se estende a tudo e está em
tudo… Se está em tudo, está também dentro de nós. Vale
dizer que, não apenas Deus está dentro de nós como é evi -
dente dizer que nós e o divino somos um. Assim como o ga-
lho faz parte da árvore, nós estamos ligados a Deus. Mas ao
contrário do galho que pode ser quebrado ou cair por si
mesmo, nós estamos conectados a Deus de forma indissoci -
ável, posto que não há qualquer limite entre nós e Deus.

Dizem que Deus criou todas as coisas e isso nos pa rece


correto. Como já vimos, Deus é perfeito, e tam bém, é o eterno
criador de tudo. Se Deus é perfeito e criou todas as coisas: as
estrelas, os planetas, as nebulosas, os seres, o tempo, o
espaço, o movimento, etc, tudo o que foi criado também é
perfeito. Essa ideia pode igualmente parecer estranha a al -
guns. É possível perguntar: como pode tudo ser perfeito se
todas as coisas nos parecem desordenadas, caóticas e mui -
tas vezes sem sentido? Vamos pensar sobre isso por um
momento… Como já vimos, Deus só pode ser Deus se for
perfeito, quanto a isso não há dúvida. Todos admitem que
Deus é o criador de tudo, e isso também nos parece correto.

Mas se Deus é infinitamente perfeito, como seria possível que


o perfeito criasse o imperfeito? Será que a perfeição, sendo
perfeição, poderia gerar a imperfeição? O imperfeito só gera o
imperfeito, ass im como o perfeito só pode gerar o perfeito. Se
algo é perfeito, como pode do perfeito nascer aquilo que co -
nhecemos como imperfeição? Aliás, se não conhe cemos a
perfeição, como podemos saber o que é a imperfeição?

No momento em que paramos e refletirmos com calma nessa


questão, concluímos que a ideia “perfeição gera imperfeição”
é uma impossibilidade lógica, posto que a perfeição só pode
criar a perfeição. No caso da perfeição criar a imperfeição,
não seria pos sível admitir que a perfeição é mesmo perfei-
ção.. pois teria de haver algum tipo de falha ou limite que
produziu o que chamamos de imperfeito. Mas isso é impossí-
vel, pois o perfeito não tem erros, não tem limites, não pode
ter qualquer distorção. Perfeito é perfeito. Assim, só podemos
concluir que do perfeito só o perfeito pode surgir. Portanto, a
criação divina por inteira, em todos os seus aspectos, nada
mais é do que perfeição, tal como a perfeição divina que a
engendra.

416
Tendo em vista que tudo é perfeição, como acabamos de ver,
é preciso tam bém assumir que nada pode estar separado de
Deus, pois como já vimos Deus não pode ter qualquer limite.
Se Deus não tem limite, também é verdadeiro o axioma que
prega a existência de todas as coisas dentro de Deus e não
fora. Essa é outra ideia que pode causar espanto em muitos,
pois na ilusão de nossa mente, estamos “fora de Deus”. Acre -
ditamos que Deus é um ser cósmico que existe “fora do uni -
verso” e nós, aqui na matéria, es tamos muito distantes de
Deus, mas isso não é correto. A verdade é que tudo o que
existe, todas os seres e coisas do universo, como já disse-
mos, estão dentro de Deus e são parte Dele.

Algumas pessoas podem dizer “Mas eu não me sinto dentro


de Deus: eu sofro, eu fico triste, eu caio e me sinto só”. A
resposta a essa questão é simples: existe um processo cha-
mado de ilusão da separatividade. Temos a ilusão de estar
fora de Deus, mas em essência, nunca estivemos ausentes
do seio divino, estivemos, estamos e sempre estaremos den-
tro da vida universal, que é Deus. O que acontece é qu e so-
mos inconscientes de nós mesmos e de nossa natureza di -
vina e por isso não nos sentimos parte de Deus. Alguns po -
dem dizer que isso seria então uma sepa ração, um limite e
que Deus não pode ter um limite, e que por isso nós somos
imperfeitos. Isso tam bém não é verdadeiro. O limite que
existe entre nós e Deus é apenas criado por nós mesmos. Em
outras palavras, é o limite que julgamos existir que nos dá a
sensação da separação, mas não há nem nunca houve essa
divisão. Qual é o limite entre a areia e o mar? Qual é o limite
entre o céu e a terra? Qual o limite entre uma cor e outra cor
no arco íris? Não há qualquer limite em tudo, a não ser aque-
les que julgamos existir, que acreditamos estarem ali. Em
essência, todas as coisas estão interligadas e tudo fa z parte
de tudo. Quem procura o limite, jamais o encontrará, posto
que ele é apenas um produto da fragmentação de nossa
mente e de nossa inconsciência. Dessa forma, somos seres
inconscientes de Deus e da perfeição, e por esse motivo
vemos limites onde não existem. No entanto, em essência,
tudo é perfeição, inclusive nós mesmos.

Ja vimos que tudo é perfeição, que estamos dentro de Deus e


que nós mesmos somos perfeitos, embora cultivemos limites

417
que simplesmente não existem. Agora vamos afirmar que, se
tudo é perfeição, qual seria o motivo de nosso sofrimento? Se
tudo é Deus e Deus está em tudo, qual o motivo de nossas
mágoas, de nossas dores, de nossa solidão? Qual o motivo
de nossas preocupações conosco e com outras pessoas?
Se tudo é perfeição, verdade, harmonia, essência e Deus está
em tudo, por que devo me preocupar com uma pessoa que
me magoou? Por que devo sofrer pelo filho que me abando -
nou? Por que devo me preocupar com minha pobreza mate-
rial? Por que devo ter medo da morte? Será que Deus em sua
perfeição nos deixaria perdidos no cosmos? Deus nos largaria
jogados no universo a nossa própria sorte? Deus permitiria
uma situação que julgamos ruim se ela não fosse necessária
para a tomada de consciência de nossa perfeição interior? Se
tudo é perfeito, qual a causa do sofrimento? Se Deus está em
tudo, onde está o mal? Como diz o ditado “Se Deus é por nós,
quem será contra nós?”. Se estamos em Deus, o que pode
nos afetar? Se somos Deus, somos infinitos, envolvidos eter-
namente na essência cósmica universal.

Tudo é perfeição… tudo está absolutamente perfeito… Nada


está fora do lugar. Todas as coisas têm um propósito que
nossa inconsciência espiritual não consegue compreender.
Quem toma consciência dessas verdades e as aplica na vida,
se aproxima da cons ciência divina, e se liberta de qualquer
sofrimento.

418
A MELHOR RELIGIÃO

Um homem desejava entender a verdadeira religião. Procurou


um mestre e lhe fez várias perguntas.

– Mestre, procurei-te, pois desejo que me instruas sobre a


verdadeira religião.

– Sim. – disse o mestre. – O que desejas saber?

O homem, que aspirava ao verdadeiro conhecimento, fez as


seguintes perguntas:

– Mestre, qual o melhor ritual religioso?

– O melhor ritual é a caridade… Respondeu o mestre. Colo -


car-se no lugar do outro, ver Deus em nosso semelhante e
ajudar em seu soerguimento é, sem dúvida, o melhor ritual
que existe. Só a caridade liberta e edifica o ser humano.

– Qual o melhor templo?

– O melhor templo é a natureza… A natureza nos ensina a


todo momento. Nela nascemos, crescemos, nos provemos,
temos nossa existência e depois retornamos ao seio da Terra.
O sol e a lua brilham sem nada pedir em troca. A terra forma
seus pilares. O céu expressa o infinito e o movimento celeste
o ritmo contínuo da eternidade. Os rios e mares são o nosso
melhor batismo.

– Qual o melhor livro sagrado?

– O Melhor livro sagrado é a nossa consciência… Nela estão


inscritas as leis e os princípios sagrados da vida. Nossa cons-
ciência é nosso melhor guia e juiz. Ela registra cada ato bom
ou mal que praticamos. O código de conduta, a moral, as
revelações celestes e os axiomas de sabedoria, tudo isso
está em nossa consciência e nela encontra terreno fértil para
desabrochar.

– Qual o melhor dogma?

419
– O melhor dogma é o amor… Esta é a m ais verdadeira sa-
bedoria religiosa. É a maior verdade irrefutável das relações
humanas. “Ama teu próximo como a ti mesmo”. “Não faça
com os outros o que não gos taria que fizessem com você”. É
a lei áurea da justiça e da reciprocidade das relações entre
todos os seres.

– Qual a melhor oração?

– A melhor oração é o silêncio… É no silêncio que ouvimos a


vida e principalmente ouvimos a nós mesmos. Lançar pala -
vras ao vento, ainda mais com fórmulas repetidas, é dispen -
sável. O silêncio acalma a mente, abranda as paixões, ame-
niza as emoções descontroladas e tranquiliza o espírito. A
oração sagrada do silêncio nos permite ouvir o infinito, sen tir
o cosmos e receber a graça divina.

– E, finalmente, qual a melhor doutrina?

– A melhor doutrina é a esperança… A esperança daquele


que erra; daquele que é imperfeito; daquele que se queda
diante das dificuldades; daquele que sofre, e daquele que não
conhece o amanhã. A melhor doutrina nos concede a fé e a
esperança de seguir em frente, atravessar este mundo de
trevas, cruzar o vale de lágrimas da existência humana, na -
vegar pelas marés mais agitadas da vida e vislum brar a luz. A
melhor doutrina é sentir arder uma chama interior de fé, que
ilumina seu caminho, e te conduz a um porto seguro de per-
feição.

420
A RELIGIÃO MAIS VERDADEIRA

Há mais de cem anos atrás, havia um mestre oriental que


vivia peregrinando e levando sua mensagem a algumas par-
tes do mundo. Muitas pessoas o procuravam para as mais
diversas questões. Certo dia, uma pessoa foi ao seu en contro
e lhe disse:

– Mestre, escolhi seguir a religião hinduísta, o que o senhor


acha?

– Boa escolha, respondeu o mestre. O Hinduísmo é a religião


mais elevada.

Passadas algumas semanas, outra pessoa procura o mestre


e afirma algo parecido:

– Mestre, acredito que a religião cristã é a que mais nos apro -


xima de Deus. Estarei eu seguindo a religião correta?

– Sim, afirmou o mestre. A religião cristã é a que mais nos


aproxima de Deus.

Duas semanas depois, outra pessoa encontra o mes tre e lhe


faz, mais uma vez, uma afirmação semelhante:

– Mestre, resolvi seguir o budismo. Estarei trilhando um cami -


nho correto?

– Sem dúvida, disse o mestre. Continue neste caminho, pois


o budismo é a religião m ais verdadeira.

Um discípulo, que sempre acompanhava o mestre onde quer


que fosse, ficou bastante inquieto com as respos tas do mes-
tre. Pediu um tempo para falar-lhe em particular e disse:

– Mestre, não compreendo. Nas últimas semanas surgi ram


três pessoas falando de sua escolha religiosa, e para as três
o senhor deu respostas diferentes sobre a religião mais cor-
reta. Como isso é possível?

O mestre respondeu:

421
– As respostas que dei não se referem à religião mais verda -
deira, mas sim a melhor religião para aquela pes soa. Entenda
uma coisa: no mundo existe toda uma diversidade de religi-
ões, e a razão disso é que cada pessoa possui uma necessi -
dade religiosa distinta. Em outras palavras, existem diferentes
religiões para diferentes pessoas. Cada religião está adap-
tada a um determinado grupo humano; ess es indivíduos pre-
cisam de uma mensagem religiosa específica, enquanto
outros precisam de outro modelo de ensinamentos. Não se
espante quando dou respostas diversas a um e outro, pois
cada indivíduo tem uma demanda de fé, de ação no mundo, e
de conhecimento. Por esse motivo cada pessoa se sente
atraída por um segmento religioso determinado. Esta deno -
minação alimentará sua consciência dentro do nível em que
cada uma delas se encontre. Mas essencialmente todas po-
dem levar ao mesmo objetivo. Depende de como cada pes -
soa utiliza uma religião para o seu despertar espiritual.

422
O QUE CONTROLAMOS NESSA VIDA?

Não controlamos o que outras pessoas fazem. Não temos


poder para guiar seus destinos. Podemos ten tar orienta-las
até certo ponto, mas cada um só seguirá nossos conselhos se
for de sua vontade.

Não controlamos os governos. A política e as forças sociais


se movem numa marcha cujo controle não pertence a nin-
guém. Mesmo o mais poderoso tirano pode perder uma
guerra, pode ser deposto pelo seu próprio povo ou aristocra-
cia ou pode morrer a qualquer momento e tudo perder. Não
temos qualquer controle sobre o trânsito da história.

Não controlamos nossos filhos. Queremos acreditar que,


quando mais novos, somos capazes de dar bons rum os às
suas vidas. Mas na adolescência ou na idade adulta eles
podem se virar contra nós e fazer o oposto do que previmos.
Quando menos esperamos, eles saem de casa e vão viver
suas vidas. Cada ser é singular e não controlamos o destino
dos nossos filhos. Nossos filhos não nos pertencem e não os
controlamos.

Não controlamos nossos bens, nossas coisas e nosso patri -


mônio. Um incêndio pode destruir tudo; um roubo pode tirar
tudo o que pensamos ser nosso; uma crise financeira pode
nos obrigar a vender nos sas propriedades. Com o tempo tudo
se desgasta, quebra, enguiça, perece, sai de moda, perde a
validade, fica no passado. Não temos poder sobre qual quer
objeto deste mundo.

Engana-se aquele que crê controlar seu próprio corpo. O


organismo humano é depositário de doenças dos mais diver-
sos tipos. Por mais que se faça dietas mirabolantes, exercí-
cios, remédios e todo tipo de alimentação saudável, sempre é
possível se definhar numa doença. Alguns podem nos estu-
prar; outros podem nos agredir; outros ainda podem cortar
nossos membros; provocar-nos acidentes; muitos podem nos
matar, destruindo definitivamente nosso veículo físico. Pode -
mos tomar todas as medidas pos síveis de segurança, e
mesmo assim não há garantia final de proteção certa e per-
manente em relação ao nosso corpo.

423
Não controlamos também nossas emoções. Uma pes soa vem
e nos ofende. Sentimos raiva. Outra vem, nos dá amor e nos
abandona. Sentimos decepção, mágoa e tristeza. Um homem
mata nosso filho, nos sos pais ou alguém que amamos e caí-
mos na mais profunda depressão. Sentimos amor e ódio,
angústia e aflição, tristeza e alegria. Às vezes a carga
emocional é tão violenta que algumas pessoas preferem
reprimir fortemente seus sentimentos, mas essa au sência
pode gerar conflitos internos ainda piores. Muitos querem, se
esforçam ao máximo, mas não conseguem esquecer um ex-
namorado. Outros não querem sentir ódio de um desafeto,
mas o ódio sobressai e não passa. Portanto, podemos de vez
em quando amenizar sua força, mas nem mesmo nossas
emoções podemos controlar totalmente.

E nossa mente, controlamos? Não… Nem mesmo nossa


mente podemos controlar. Nossos pensamentos vão e vem
sem que nos demos conta. Pensamentos negativos invadem
e assaltam a mente de muitos, e por mais que tentemos evi -
tar, tão logo nos distraímos, os pensamentos retornam com
toda força. Um trauma não pode ser facilmente esquecido.
Ele sempre se faz presente em nossa mente, mesmo contra a
nossa vontade. Saímos à rua a noite, e sem intenção já ima -
ginamos cenas de violência, estupro, assaltos, sequestros.
Mesmo sem querer, olhamos as aparências e já julgamos
sem conhecer o conteúdo. Supomos as coisas sem nem
perceber. Acreditamos sem ver e vemos, sem acreditar. For-
mamos cenários ideais que são irrealísticos e não consegui-
mos evitar essas construções mentais de sonhos e fantasias.
Aquele que para e faz um esforço para nada pensar…
Quando menos espera, lá estão diversos pensamen tos che-
gando com a intensidade de uma correnteza mental cuja
potência é maior que nossa vontade consciente.

Você pode até acreditar que está controlando algo em algum


momento de sua vida. Mas esse controle é sempre relativo e
passageiro. Tomar consciência que não podemos controlar
nada nos dá um certo alívio e uma sensação de liberdade,
pois uma das maiores prisões que o ser humano se coloca é
a tentativa de controlar aquilo que não pode ser controlado.
Quando a pessoa entende que nada controla, ela se liberta,
fica menos preocupada, menos ansiosa e sente-se mais livre.

424
Então, fica a pergunta: afinal, o que controlamos nessa vida?
Não controlamos coisa alguma? Somos meras marionetes
das circunstâncias e até de nós mesmos?

A resposta a essa pergunta é simples… Só podemos contro -


lar aquilo que nos pertence de fato. Mas o que nos pertence?

Outras pessoas não nos pertencem… Os objetos do mundo


também não nos pertencem. Tampouco nos pertence os
acontecimentos políticos e sociais do mundo.

Nosso corpo físico também não nos pertence. Nossas emo -


ções também não nos pertencem. Nossa mente, algo tão
próximo e tão presente, tampouco é nossa de verdade.

O que é nosso então verdadeiramente?

A única coisa que temos de verdade, que é real, que é essen -


cial, que não muda, que está sempre presente, que é e será
nosso para sempre é o nosso espírito.

Nosso espírito, esse sim, é nosso, pois é nossa essência. É a


verdade do que somos. É aquilo que ninguém pode nos tirar.
É a realidade perene que nem o céu e nem a terra podem
fazer passar…

O espírito é nosso, ou melhor, somos o espírito. O espírito


nunca se perde… O espírito não tem começo nem fim, não
aumenta nem diminui, não pode ser destruído nem constru -
ído. O espírito simplesmente é o que é.

Quando você sentir que não tem controle sobre coisa alguma
nesse mundo. Quando tudo se transformar, tudo acabar, tudo
se perder e nada mais for seu, lembre-se que seu espírito
sempre estará consigo, pois você é espírito e o espírito é
você.

Não duvide disso: seremos o espírito para sempre…


Nisso você pode depositar sua fé.

425
FÉ EM DEUS

Numa palestra sobre os ensinamentos de Jesu s, o pales -


trante resolveu falar um pouco de fé em Deus.

Ele perguntou a multidão que o ouvia como cada pessoa


expressava sua fé em Deus.

“Eu tenho fé em Deus que meu filho vai vencer na vida”, disse
uma mãe.

“Eu tenho fé em Deus que minha esposa vai s e curar de uma


doença”, disse outro homem.

“Eu tenho fé em Deus que vou passar na faculdade, e Deus


vai me ajudar a passar”, disse um jovem.

“Eu tenho fé e Deus vai me trazer um bom marido para que


eu possa me casar”, disse uma jovem.

Cada pessoa foi descrevendo sua fé em Deus e como o di-


vino se manifestaria em sua vida na forma de bênçãos.

Um senhor de idade, bem velhinho, foi a última pes soa a se


pronunciar sobre sua fé em Deus. Todos o observaram e ele
disse:

“Eu não passei na faculdade, não consegui uma casa própria,


não me curei de uma doença que tenho há anos e perdi duas
esposas, ambas faleceram após 10 anos de casamento. Deus
seja louvado por eu não ter conseguido nenhuma destas
coisas, pois tenho fé que os planos de Deus são melhores do
que os meus planos e minhas vontades.”

O palestrante, após ouviu estas palavras do senhor, disse:

“Todos precisam entender que Deus não é nosso servo, ou


aquele que deve fazer todas as nossas von tades humanas,
como muitos acreditam. E digo a vocês que esse homem, ele
sim, demonstrou a verdadeira fé em Deus, pois a despeito de
todos os dis sabores de sua existência, ele agradece e louva a
Deus por tudo isso, pois sabe, e isso é verdade, que os pla -

426
nos de Deus são melhores do que os nossos planos huma -
nos.”

Sempre que você não ganhar algo de Deus, diga: “obrigado


meu Deus, pois seus planos são melhores do que os meus”.
Essa é a verdadeira fé.

427
UMA LUZ NA ESCURIDÃO

Havia um rapaz que possuía um dom especial. De vez em


quando ele conseguia se desprender do seu corpo físico e,
em espírito, visitar outros locais. Ele se deslocava com seu
corpo espiritual a distâncias consideráveis, utilizando apenas
a força do pensamento. No entanto, esse dom era utilizado de
uma forma positiva; assim que saía do corpo, ele percorria
locais onde as pessoas precisassem dele, e assim fazia o
bem.

Certo dia, ele visitou um local que muitos poderiam chamar de


“inferno”. Neste submundo encontravam -se espíritos errantes,
viciados, apegados, raivosos, perturbados e ignorantes. Havia
muita desgraça, fome, desespero, dor, sofrimento, conflitos e
medo. Tratava-se de uma zona inferior para onde eram atraí-
das muitas almas endividas com o plano divino.

Tudo era escuro, cálido, lamacento, asqueroso e feio.

Vez por outra ouviam -se gritos de terror e deses pero. A at-
mosfera era pesada, densa e hostil.

Era possível ver as almas presas a lama, correndo, caídas no


chão, sujas, maltrapilhas, sangrando, falando sozinhas ou
ofendendo umas as outras. Uma visão aterradora de um local
imerso em profundo sofrimento. Esse espaço interminável de
trevas representava todo o clima negativo que permeia o
nosso mundo.

O rapaz estava ali, mais uma vez, para tentar ajudar as almas
em intenso sofrimento. Ele caminhava pelo “vale da sombra e
da morte” e escolhia um e outro espírito que estivesse mais
apto a ser socorrido. Num certo momento, percebeu um ho -
mem diferente. Estava limpo, caminhando tranquilamente e
com olhar sereno.

O rapaz se aproximou deste homem que destoava do todo


aquele entorno de escuridão. Chamou-o e perguntou o que
fazia ali. O homem abriu sua camisa e, subitamente, uma luz
branca e dourada se irradiou pelo ambiente, obrigando todas
as almas próximas a fecharem os olhos por não suportarem

428
aquele forte clarão repentino. O homem se surpreendeu com
tamanha luminosidade e perguntou:

– Quem é você?

– Sou o Anjo Gabriel – disse o homem.

O rapaz se surpreendeu muito com a resposta. No entanto,


ele sabia que alguém com toda aquela iluminação espiritual
seria incapaz de mentir. O rapaz então disse:

– Senhor, vejo que estás aqui, neste vale sombrio de intensas


trevas. Mas aqui não é um lugar apropriado a um ser de tanta
luz e bondade. O senhor não deveria estar nas regiões ce-
lestes?

O anjo respondeu:

– Não… É exatamente aqui, neste local de erro, trevas e


destruição, onde mais precisam de mim. É justamente onde
há escuridão que um anjo deve levar a sua luz.

429
ENCONTRAR DEUS

As pessoas querem sempre buscar a Deus e a felici dade no


divino. Muitas vão a igreja, dirigem até a mesquita, andam ao
templo ou se encaminham a um lugar sagrado. Algumas
fazem peregrinações religiosas, de milhares de quilômetros,
para visitar santuários antigos. Há aqueles que viajam a ou-
tros países para encontrar um mestre, um guru, um yogue fa-
moso. Muitos acreditam que encontrarão Deus nas monta-
nhas do himalaia ou no misterioso rio Jordão. Outros após
anos ou décadas de práticas meditativas e exercícios espiri -
tuais.

Viram de cabeça para baixo em posições de yoga, recitam


mantras indianos, rodopiam em volta de si mesmos como os
dervixes sufis, fazem terços e novenas como os católicos,
acendem velas e incensos para seu anjo da guarda ou lou -
vam seu santo de devoção. Alguns fazem promessas e até
autoflagelação. Todos esses atos revelam uma atitude básica:
o ser humano acredita que precisa sair de onde está, do lugar
onde se encontra, para ir ao encontro de Deus.

Como as pessoas não encontram Deus onde estão, sentem


que Ele deve estar “em outro lugar”. Mas vamos pensar nisso
com calma. Boa parte das religiões do mundo concordam que
Deus se encontra dentro de nós mesmos. Então, a pergunta
que cabe é: para que deslocar-se de um lugar ao outro a fim
de encontrar Deus em algum lugar? Para que sair do mo -
mento presente para encontrar Deus apenas no futuro, em
algum dia daqui em diante que talvez Ele finalmente se ma -
nifeste em nossa vida?

Todos devem entender um princípio fundamental: aquele que


precisa ir a algum lugar encontrar o divino, aquele que precisa
percorrer um caminho espiritual qualquer, esse já deixa de
reconhecer que a essência da vida está em tudo e está pre -
sente aqui e agora. Não está no passado nem no futuro, está
aqui, nesse momento, presente em tudo e dentro de nós e de
todos. Quem precisa ir a algum lugar encontrar Deus supõe
que Deus possa estar em lugar diferente do que aqui. Mas
não… Deus está exatamente aqui, está agora, está sempre e
eternamente em ti.

430
A essência divina não poderia estar em outro lugar a não ser
em nosso interior. O fogo divino não poderia estar fora do
universo, mas sim no coração do cos mos, que nada mais é
do que o âmago de cada ser. Quem necessita se deslocar
fisicamente está apenas se atrasando. Aquele que crê que
“só encontrará Deus quando estiver com o guru”; ou “só en-
contrará Deus quando estiver na igreja”; ou “só encontrará
Deus nas montanhas do Himalaia”, esse já acabou de dar um
passo para estar mais distante de Deus.

Essa ideia é semelhante à estória do homem que percorreu o


mundo inteiro para encontrar seu talismã perdido, e após
chegar ao final do caminho, tendo procurado em todos os
lugares possíveis neste mundo, descobre que, esse tempo
todo, o talismã estava dentro de um colar, em volta de seu
próprio pescoço. O talismã sagrado estava com ele o tempo
todo, e ele sequer des confiou de sua presença, pois estava
muito ocupado procurando em todos os lugares algo que não
está em lugar nenhum.

Assim são os seres humanos: seguimos um caminho imenso,


percorremos milhares de quilômetros, peregrinamos pelos
quatro cantos do mundo, e ao final percebemos que o divino,
ou a essência da vida, sempre esteve conosco. Estávamos
procurando em milhões de lugares o que sempre esteve pre -
sente. Procuramos no exterior aquilo que sempre esteve no
mais profundo do nosso ser, esperando a hora de ser desco-
berto.

Dessa forma, se você deseja encontrar Deus, a felici dade su-


prema, a eternidade, o amor maior, etc, saiba que ninguém
precisa ir além desse momento, ir atrás de algo ou correr para
encontrar… A vida universal já está aqui, ela já é…

Tudo é divino e o divino está em tudo.

431
FÉ NA VIDA

Mesmo escondido no subsolo,


Por milênios incontáveis,
O carvão se torna diamante.
A flor lótus, que nasce na lama,
É o branco mais puro da natureza.
A banana, com sua casca,
Ao ser jogada no solo,
Aduba a terra infértil,
Trazendo a boa colheita.
A água que cai no rio,
Ao evaporar com o calor,
Volta à nuvem, e quando chove,
Retorna ao seio dos riachos.
Após uma escura madrugada,
Sempre ressurge o áureo alvorecer.
Após o enregelado frio do inverno,
O calor do verão compensa as nevascas.
A semente, esquecida embaixo da terra,
Faz brotar uma linda planta.
A pedra, que não serviu na construção,
Retorna a terra, e serve como seu sustentáculo.
Para que preocupar-te com a vida?
Preocupa-te se a Terra continuará a girar?
Se o sol vai brilhar?
Se o pássaro vai cantar?
Se o vento vai soprar?
A matemática perfeita da existência,
Nada deixa faltar, acabar ou extinguir.
A única coisa a fazer, é deixar fluir.
Não permita que nada o abale,
Tudo se encaixa com perfeição,
No eterno vai e vem da Criação.

432
INFERNO E PARAÍSO

Havia um homem que vivia no paraíso e era muito feliz.

Certo dia, ele visitou o inferno, e viu que lá muitas pessoas


eram tristes, deprimidas, vazias, rancoros as, etc.

Mas esse homem, apesar de estar no inferno, era feliz. A sua


felicidade não dependia de nada e ele se sentia livre.

Conforme ele foi caminhando no inferno, e foi olhando mais


atentamente, ele começou a ver ali não o inferno, mas o pa -
raíso.

Sim, era inacreditável. Ele estava no inferno, mas via o para -


íso no inferno.

As pessoas estavam brigando, se digladiando, com ódio e


sofrimento, choro e ranger de dentes. Mas ele, ao contrário,
estava no paraíso, por um motivo muito simples: ele era feliz
e sua felicidade não dependia de nada, não estava vinculada
a nada, não precisava de coisa alguma. Ele era livre interior-
mente, seu espírito era dotado de um maravilhoso despren-
dimento, e ele não ficava apegado ou encarcerado nem
mesmo no inferno.

Essa é a estória do homem que, mesmo no inferno, vivia no


paraíso… Essa é, com efeito, a estória de todos nós.

433
DEUS NOS AJUDA A EVOLUIR

Vejo algumas pessoas dizerem:

“Agradeço a Deus por ter me dado um emprego”

“Agradeço a Deus pela cura do meu filho”.

“Agradeço a Deus por essa dádiva”

Esse pensamento cria um precedente muito perigoso em


nossa vida e as pessoas quase não percebem isso.
Se alguém agradece a Deus quando ganha alguma coisa…
será que ela deveria também reclamar com Deus quando
perde algo?

Se Deus nos fez um bem nos ajudando a obter, ga nhar ou


conquistar alguma coisa que é do nosso agrado, será que
Deus nos fez um mal quando nos tira, nos faz perder, nos
deixa doentes ou nos faz perder alguém de nossa estima?

Não… Deus não nos dá algo porque gosta de nós, porque


nos concedeu algum desejo, ou porque ele é bom… Expur-
guem esse tipo de crença de suas mentes, pois ela prejudica
o real significado da roda de nossa existência.

Por que num dado momento ganhamos algo e no outro per-


demos? Por que Deus dá a uns e tira de outros? Deus tem
preferências por uns e não por outros? Deus concede a uns e
não a outros?

Não… A verdade é que Deus nos dá e nos tira dentro daquilo


que é necessário ao nosso adiantamento espiritual.

Quando uma pessoa perde o emprego, essa perda era a


melhor coisa que poderia lhe ocorrer para que se adiante
espiritualmente, para que evolua, para que amadureça, para
que desperte o espírito que é.

Quando Deus, ao contrário, nos concede um em prego, Ele


não está sendo bom conosco… Ele está nos dando aquilo
que precisamos também para nosso adiantamento espiritual,

434
para o progresso do nosso espírito, para nossa elevação
espiritual.

Se Deus permite a morte do nosso filho, é porque seu tempo


de vida na Terra se esgotou e ele cumpriu o que veio cumprir.
Se Deus curou nosso filho, é porque ele ainda precisa ficar
mais tempo na Terra, e não porque concedeu um desejo aos
pais. Se Deus autorizou o desencarne do nosso filho, isso
pode representar uma provação para os pais, pode re pre-
sentar uma provação para a criança, pode ser um meio de
nos abrir nos olhos, nos despertar do “sono de Maya”, a ilu -
são do mundo, e finalmente entendermos que a verdadeira
vida não é a vida humana, mas a vida do espírito.

Mas por que exatamente Deus autorizou a morte do meu


filho? Por que autorizou que eu perdesse minha casa? Por
que autorizou o fim do meu relacionamento? Por que autori-
zou essa doença? Essas são perguntas que não têm uma
resposta exata para a mente humana. Precisamos avançar
espiritualmente para apenas começar a entender certos pro -
pósitos divinos. É como a criança que não entende o motivo
de seu pai ter-lhe proibido certas coisas, como comer doces.
Quando a criança se torna um adulto, ele entende que, ape-
sar do doce ser muito gostoso, ser prazeroso, não seria bom
para nossa saúde, e por isso nos pais os tiraram. O mesmo
ocorre com o espírito e Deus. O espírito ainda primitivo, ani-
malizado, de consciência rudimentar e infantilizado, não com -
preende porque Deus os tira certas coisas, o faz perder certos
aspectos da vida que para ele são prazerosos (como o doce
era prazeroso para a criança). Mas futuramente, quando ele
amadurecer espiritualmente, começará a compreender o
propósito de tudo.

Tudo o que Deus faz é para nossa evolução… o bom e o mau


está na resistência às mudanças, na evitação da transforma -
ção. Quanto mais resistimos ao des pertar do nosso espírito,
mais sofremos… quanto mais aceitamos as lições do infinito
que são passadas pelas provações da vida, mais nos eleva -
mos. Sofremos quando bloqueamos o empurrão da vida ten -
tando nos abrir os olhos para o espírito que somos. Sofremos
quando negamos as lições e queremos fazer tudo do nosso
jeito. Brigamos e continuamos desejando alimentar nosso
ego, permanecer com as migalhas do mundo ao invés de

435
despertar nosso es pírito. Preferimos obstruir o curso da vida,
atravancar o fluir da corrente da evolução com medo de per-
der nossas pequenezas mundanas… E assim, so fremos.

Se Deus nos fez ganhar não é porque ele foi bondoso co -


nosco, pois se assim fosse, isso significa que ele foi mal a
quem Ele fez perder algo e isso seria absurdo. Deus jamais
poderia fazer algo para nos prejudicar, pois Ele é perfeito,
eterno, infinito. Deus não poderia jamais ser bom nem mau,
pois bem e mal s ão pontos de vista humanos. Deus está
infinitamente acima de noções como bondade e maldade. Na
verdade, tudo o que o cosmos infinito, eterno e perfeito realiza
nos faz avançar em espírito, que nos faz acordar para a vida
espiritual.

Se Deus, o cosmos, a vida, a realidade, a eternidade (não


importa como chamemos) autorizou o desencarne do nosso
filho; se autorizou a perda do seu emprego; se autorizou a
perda da sua casa; se autorizou que você ficasse doente, não
duvide disso: o propósito de tudo é sempre ajudar em nossa
evolução, é contribuir com nosso progresso espiritual… é nos
colocar diante da verdade da vida.

436
UM OBSESSOR NO CENTRO ESPÍRITA

Num centro espírita famoso e muito frequentado, senhor


Raimundo estava iniciando os trabalhos de desobsessão. Seu
Raimundo, como bom doutrinador espírita há mais de 30
anos, fez uma prece de abertura e pediu a Jesus que aju-
dasse a libertar todos os irmãos que viessem a sala de de -
sobsessão do sofrimento que atravessavam.

Raimundo viu o médium incorporar um espírito que dizia estar


no umbral, sofrendo muito por conta da raiva e mágoa que
sentia de um desafeto. Senhor
Raimundo iniciou então os procedimentos da desob sessão
clássica e disse que o espírito deveria perdoar o desafeto,
pois a lei do amor é a nossa salvação.

O espírito incorporado, com olhar penetrante, disse:

– E porque devo confiar em você?

– Ora meu irmãozinho – disse Seu Raimundo – Estamos aqui


num centro espírita, onde os ensinamentos de Jesus são
praticados. Nós aqui ajudamos todos os espíritos sofredores e
necessitados.

– E você também ajuda a si mesmo, ou só pensa em ajudar


os outros? Perguntou o espírito. Seu
Raimundo ficou surpreso com pergunta, mas como doutrina -
dor experiente sabia que não podia cair nas artimanhas dos
obsessores, e disse:

– Irmão… não estamos aqui para falar de mim. Você está no


umbral e precisa de ajuda. Você não quer sair do umbral?

– Sim, eu quero. – disse o obsessor – Eu só fico me pergun-


tando como existem tantas pessoas vivendo no nível ou no
estado umbralino e não percebem, mesmo estando encarna -
dos. Pois afinal, como o senhor mesmo ensina em suas pa-
lestras aqui no centro, o umbral é um estado de consciência e
não um lugar ou espaço físico. Alguns espíritos vivem no
umbral porque não conseguem se desprender da raiva e
mágoa que sentem de um desafeto. Mas o senhor, seu Rai -

437
mundo, perdoa todas as pessoas? Não sente também raiva e
mágoa de alguém?

Senhor Raimundo estava ficando irritado com o ob sessor.


Estava pensando numa resposta, mas o espírito completou:

– Não é verdade que o senhor também sente raiva e mágoa


da sua ex-esposa, que te traiu com um dos seus amigos há
aproximadamente 10 anos? Não é verdade que até hoje você
não consegue perdoa-los?

Senhor Raimundo ficou assustado com aquelas colocações.


“Como o espírito poderia saber disso?” pensou. Começou a
sentir raiva do obsessor, e não muito confiante, disse:

– Não vou entrar na sua cilada. Você como obsessor experi -


ente deve atacar as pessoas em seus pontos fracos. Por-
tanto, saiba que…

– Eu sou um obsessor, senhor Raimundo? – perguntou o


espírito interrompendo seu Raimundo.

– Eu me pergunto se todos nós não somos um pouco obses -


sores das pessoas que dizemos amar, mas que no fundo as
tentamos controlar e ganhar seu afeto a força. Não é verdade
que você tem sido quase um obsessor da sua filha adoles -
cente? Quantas vezes por dia você liga pra ela perguntando
onde ela está? Quantas vezes você proibiu os namoros dela?
Quantas vezes você tolheu a liberdade da sua menina por
conta dos próprios medos e incertezas que guarda em seu
íntimo? Você pode estar sendo um grande obsessor encar-
nado dela e nem perceber…

Seu Raimundo ficou atônito com aquelas revelações. Aquele


espírito parecia saber tudo a seu respeito, e estava ali desnu -
dando seus defeitos um a um. Seu Raimundo ainda não que -
ria dar o braço a torcer e ficou com mais raiva. Resolveu fazer
uma oração, dizendo:

– Senhor Jesus, peço que sua equipe conduza esse irmãozi -


nho perturbado a um local de tratamento no plano espiritual.
O espírito disse:

438
– Por que me chamas de irmãozinho, se nesse mo mento
você quer, na verdade, pular no meu pescoço? De que adi -
anta fazer uma oração a Jesus com toda essa raiva que
quase transborda de você? Não, Jesus não vai te atender
nesse momento… Você precisa, Seu Raimundo, parar de
fugir dos seus problemas e emoções, olhar para as impurezas
do seu ser, e parar de achar que é o outro sempre o sofredor
e você é o “salvador”. Na verdade, todos nós precisamos de
ajuda, todos somos sofredores em maior ou menor grau. E
orientar o outro a praticar aquilo que nós mesmos não reali -
zamos em nossa vida é, nada mais nada menos, do que hi -
pocrisia. É da hipocrisia que o ser humano precisa se liber -
tar… Ensinar aquilo que pratica, ou apenas praticar, sem
precisar orientar os outros a fazer aquilo que nós mesmos
não fazemos. Quando se vive a vida espiritual, nem precisa -
mos ficar ensinando-a a outros, nossos atos já demons tram
os princípios que desejamos transmitir…

Seu Raimundo sentiu uma imensa vontade de chorar e desa-


bou em prantos… O espírito incorporado veio falar com ele.
Colocou as mãos em seu ombro e disse:

– Calma meu irmão. Você precisava dessa terapia de choque


para poder enxergar a si mesmo e parar de ver os defeitos
apenas nos outros. Precisava também parar de se ver como o
“salvador” e os outros como “sofredores”, pois isso nada mais
é do que uma forma de orgulho e soberba; é uma forma de se
sentir superior e de ver os outros como inferiores. Chore,
coloque tudo isso que você sente para fora, faça u ma revisão
desses pontos que eu te apresentei, e a partir de agora você
poderá se tornar um verdadeiro ser humano, renovado, e
pronto para ajudar ao próximo, realizando a verdadeira cari -
dade… E dessa vez, sem hipocrisia.

Seu Raimundo, após alguns minutos de choro intenso, olhou


para o espírito e perguntou:

– Mas afinal... Quem é você?

O espírito olhou para seu Raimundo com todo o amor e cari -


nho e disse:

439
– Meu filho, você não pediu a Jesus, em sua prece de aber-
tura dos trabalhos, que libertasse os espíritos dessa sala do
sofrimento? Então meu filho, Jesus me pediu que viesse aqui
e mostrasse tudo isso a você, para que você pudesse ver a si
mesmo, saísse do “umbral” de sua mente, e se libertasse de
tudo aquilo que te causa sofrimento. Sou um enviado d e Je-
sus, e a partir de agora, você será um novo homem…

Seu Raimundo chorou ainda mais. Agradeceu imensamente a


Deus e a Jesus aquela sagrada lição de autoconhecimento…
Depois desse episódio, tornou-se uma pessoa muito melhor…

440
CAIR E LEVANTAR

Pior do que cair é não querer levantar


Pior do que a derrota, é desistir.
Pior do que não ver, é não querer enxergar.
Pior do que sofrer, é render-se ao sofrimento.
Pior do que se decepcionar, é viver com mágoa.
Pior do que perder, é não tentar melhorar.
Pior do que errar, é não aprender com o erro.
Pior do que algo chegar ao fim, é não querer recome çar.
Pior do que não dar certo, é achar que tudo deu errado.
O problema não é algo dar errado, não é sofrer, não é perder
Não é pecar, não é afundar…
O problema grave e real existe apenas quando al guém sofre
tudo isso e desiste de viver.
Não importa o que aconteceu, o quanto você se frus trou, o
quanto você sentiu dor…
Não importa quanto tempo você ficou no chão.
O que importa de verdade é você levantar
E continuar caminhando…
A vida não acaba quando você sofre,
Mas sim quando você se abandona, se entrega, se rende…
A vida acaba mesmo quando você desiste de conti nuar.

441
OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS

Nessa reflexão, vam os entender melhor a máxima que Jesus


proferiu. O mestre disse: “Os últimos serão os primeiros”.

De uma forma geral, essa frase tão simples significa que os


últimos sobre a Terra serão os primeiros no reino divino. Em
outras palavras, quando nosso poder humano começa a
declinar, quando começamos a perder e nos desapegar das
coisas do mundo, quando tudo o que conhecemos de humano
e mundano começa a decair, podemos fazer brotar dentro de
nós uma essência espiritual. Assim, quanto maior é a diminui -
ção da influência da presença e das muletas do mundo em
nossa vida, maior é o nascimento do divino dentro de nós.

As três tentações de Jesus mostraram essa verdade: O de -


mônio ofereceu a Jesus todos os reinos que exis tiam na
Terra, caso Jesus passasse a adorar o demônio. Essa é uma
grande verdade espiritual, um magno princípio da vida: aquele
que conquista o mundo inteiro acaba por perder a sua alma.
No entanto, como disse Jesus: “De que vale ao ser humano
conquistar o mundo se ele pode com isso perder a sua
alma?”. Aqueles que desejam conquistar o mundo inteiro
acabam por perder inevitavelmente a sua alma… Por outro
lado, aqueles que perdem o mundo inteiro, acabam por des -
cobrir sua essência dentro de si mesmos. Jesus estava cons -
ciente de que, caso aceitasse a oferta do demônio, isso lhe
defraudaria a alma; extrairia-lhe sua essência. As tentações
mostraram a Jesus que seria preciso abdicar de todo o poder
terreno para que ele pudesse elevar-se à eternidade.

Esse princípio estava perfeitamente retratado no e xemplo de


vida do mestre. Jesus não tinha nenhuma posse. Ele não
tinha carruagens, não tinha dinheiro, não tinha castelos, não
tinha servos e nem obtinha coisa alguma… Levava uma vida
extremamente sim ples, humilde, de servidão voluntária a
Deus e à obra divina… Por esse motivo, fez-se grande no
reino dos céus. Jesus se fez pequeno diante dos homens,
para com isso conquistar a si mesmo e elevar-se espiritu-
almente. Tudo o que lhe chegava de doação, ele dava aos
menos favorecidos. Disse ao jovem rico para doar toda a sua
fortuna aos pobres e o seguir, pois assim teria um tesouro no
reino dos céus. Disse que ninguém deveria acumular bens

442
terrenos, pois são perecíveis e logo terminam, mas ensinou
que todos devem aspirar aos bens imateriais, aos bens eter-
nos, pois esses sim, são nossos para sempre.

Como parte de sua missão a fim de expressar o reino de


Deus na Terra, Jesus ainda se deixou capturar pelos homens.
Ele permitiu que os romanos o agredissem, colocassem uma
coroa de espinhos sobre ele; aceitou ser chicoteado, carregou
uma cruz perante todos e depois foi crucificado nessa mesma
cruz que conduziu. Não amaldiçoou seus algozes, como
fazem as pessoas comuns, mas apenas disse “Pai, perdoa -
os, pois eles não sabem o que fazem”. Antes de tudo, o
mesmo povo que ele ensinou, curou e ajudou de várias for-
mas, foi o povo que gritou para que fosse crucificado no lugar
de Barrabás, o zelote malfeitor. Naquele momento, Jesus
permitiu ser colocado como alguém que se encontrava abaixo
de um ladrão, de um assassino, mesmo sendo inocente e
tendo apenas pregado o amor, a paz e a fraternidade.

Diante de tudo isso, fica claro que Jesus se colocou como o


menor no reino dos homens, e justamente por isso, transfor-
mou-se num espírito de muita grandeza no plano espiritual.
Jesus entregou-se para ser morto e crucificado em nome do
bem, da paz, do amor e de Deus, e por isso, renasceu no
eterno e no divino. Naquele momento ele foi o último no reino
dos homens, e dessa forma passou a ser o primeiro no reino
dos céus. “Os últimos serão os primeiros”.

O ser humano não segue os passos de Jesus. As pes soas


costumam entrar em desespero diante de qual quer perda
material. Elas sofrem, caem, se esperneiam pela decadência
de sua condição humana limitada e mal sabem que, a deca-
dência humana representa a emergência do espiritual em
nossa vida; a morte do humano suscita o nascimento do di -
vino que habita em nosso interior. Por isso Jesus deixou claro
no Sermão da Montanha que “Os humildes serão elevados”.
Aqueles que não se deixam capturar pelas influências do
mundo material, onde tudo é perecível, tudo é passageiro,
tudo é efêmero, tudo decai e tudo passa… Esses estão muito
mais próximos de alcançar aquilo que é eterno e imortal. O
problema do ser humano é seu excessivo apego ao mundo
transitório, e por isso ele sofre…

443
As pessoas preferem ficar com seu copinho de água quase
vazio do que larga-lo para poder mergulhar no oceano. Aqui o
medo do desconhecido é o que mais impede o ser humano de
ascender ao infinito, que é sua natureza verdad eira. Mas essa
é a grande provação da existência: soltar aquilo que é efê -
mero, aquilo que já “conhecemos”, aquilo que entendemos
como “seguro” e nos entregar ao desconhecido, confiando
que há algo que ainda desconhecemos.

Apesar de sentirmos nosso copinho de água quase vazio


como algo seguro, ele nada tem de seguro, pois a água pode
secar a qualquer momento; nossa casa pode ser destruída;
nossa vida pode ser ceifada; nosso dinheiro pode ser perdido;
nossa família pode morrer; nossos filhos podem nos aban do-
nar, podemos perder tudo e nada nos sobrar no mundo… E
isso um dia vai ocorrer e já ocorre com muitas pes soas. No
entanto, a grande maioria prefere se agarrar fortemente ao
que já foi e ficar sofrendo pelo que lhes falta… Ao invés de
largar todo o apego terreno, toda ilusão material e viver na
plenitude de Deus. A maioria das pessoas prefere continuar
na posição do último sobre a Terra do que aderir ao reino dos
céus, tão fixadas e iludidas que estão com as conquistas e
fantasias do mundo transitório.

Portanto, nada é seguro, estável e certo nesse mundo, ao


contrário. Por isso devemos deixar o mundo morrer dentro de
nós para que o infinito e a eternidade possa m nascer. Como
disse acertadamente o sábio Mooji “O mundo dos homens
precisa acab ar, para que todos possam aspirar àquilo que é
eterno”. Essa é a essência da humildade…

Essa é a essência da máxima “Os últimos serão os primei -


ros”.

444
CONTATO COM O ANJO

Uma dona de casa de 57 anos, chamada Maria da Concei -


ção, estava muito preocupada com a sua saúde. Ela era
obesa, diabética, e estava ficando cega de um dos olhos.
Também tinha problemas cardíacos, pressão alta e tonturas
horríveis. Estava carente e sentindo uma tristeza profunda.

Certo dia, estava bastante agitada e ansiosa. Sua pressão


havia subido muito. Ela então resolveu orar a Deus pedindo a
intervenção de um anjo do Senhor. Estava buscando uma
explicação para toda aquela doença e a razão de estar pas -
sando por todo esse sofrimento.

Maria, demonstrando forte inquietação, começou então a orar


em voz alta, declarando:

– Jesus, por favor, envie um anjo para me ajudar, eu não


aguento mais essa situação.

Logo que ela orou fervorosamente, um anjo relu zente foi a


sua presença. O ser angelical começou a estabelecer contato
com ela.

– Maria, há uma razão para tudo isto… a razão é…

Maria, no entanto, continuou rezando forte e em voz alta:

– Jesus, mande um anjo me ajudar, eu lhe suplico. Você é o


cordeiro de Deus, tudo pode. Eu não aguento mais essa dor,
essas noites em claro, essa obesidade. Estou triste por que
minhas filhas não vêm me visitar há quase um ano. Parece
que fiquei esquecida. Me ajuda Jesus…

O anjo, mais uma vez, tentou lhe transmitir paz e disse:

– Maria, fique calma, tudo tem um propósito… No seu caso,


você precisa…

E Maria continuou seu falatório…

– Jesus, te peço encarecidamente, ilumina minha vida, ilu -


mina meus passos, tira de mim esta doença, quero voltar a ter

445
saúde, quero que minhas filhas voltem a me ver, quero que
essas dores diminuam, me ajuda Jesus…

O anjo tentou novamente:

– Maria, me escute, fique tranquila, o seu problema pode ser


resolvido com…

– Jesus, me ajuda! – disse Maria. Tudo está escuro na minha


visão, me ajuda a melhorar, me ajuda a voltar a andar. Quero
que fique tudo em paz entre meus irmãos . Não quero mais
essas brigas, não quero mais essas confusões…

– Maria… disse o anjo.. Para resolver estes conflitos entre


irmãos, é preciso…

– Jesus! Por favor… me dê uma orientação! – disse Maria.


Sinto essa angústia, essa ansiedade, esse va zio. Minha vida
parece não fazer sentido. Não consigo mais sentir alegria em
nada, me ajuda Jesus, me ajudem anjos do senhor!

O anjo, percebendo que Maria não a ouvia, ficou ape nas


irradiando energias positivas. Nos meses seguintes o mesmo
quadro se repetiu, sem que o anjo tivesse sucesso no contato
com Maria.

Passados mais alguns meses, Maria perdeu 90% da visão,


sua pressão aumentou e finalmente ela faleceu num fulmi -
nante ataque cardíaco.

Ela se percebeu saindo do corpo e chegando ao plano espi -


ritual. Assim que chegou, foi recebida pelo mesmo anjo que
tentou ajuda-la. O anjo se apresentou, e ela, muito brava,
disse:

– Puxa vida! Pedi tanto em minhas orações para vo cês me


ajudarem, me darem uma orientação, e vocês nada fizeram!

O anjo, pacientemente, res pondeu:

– Maria, por diversas vezes eu me aproximei de ti tentando


lhe dar uma orientação, mas você estava tão agitada e tão
envolvida nos seus problemas que não me ouvia. Os seres

446
humanos precisam entender uma coisa: todo aquele que
deseja uma resposta do céu deve se colocar receptivo às
mensagens superiores, e desligar um pouco a mente e o
falatório desordenado dos pensamentos. Você poderia ter me
ouvido se estivesse mais tranquila, e se estivesse verdadei-
ramente aberta à comunicação conosco e ao co ntato com
você mesma. Mas sua excitação, sua turbulência interior lhe
impediu de ter clareza e de ouvir as mensagens do plano
divino. Algumas pes soas acreditam que Deus não responde
as suas súplicas, mas são as pessoas que não ouvem ou não
captam seus desígnios e sinais. A oração deve ser, antes de
tudo, um ato de ouvir a Deus e a nós mesmos, e não apenas
um ato de falar ou pedir.

447
A BENZEDEIRA E A MELHOR ORAÇÃO

Um homem tinha várias ambições em sua vida. Queria con-


seguir muitas coisas, e desejava encontrar uma forma efici -
ente de abrir seus caminhos. Resolveu procurar uma benze-
deira muita conhecida na região. Seu objetivo era descobrir a
prece mais eficiente que poderia ser dirigida a Deus.

O homem deslocou-se até o lugar que a benzedeira fazia as


suas rezas para ajudar as pessoas. Muitos a procuravam para
resolver os mais diversos problemas, desde vida afetiva e
profissional até doenças físicas e psíquicas. Existiam vários
relatos de curas ministradas por ela. Era uma senhora muito
simples, humilde e de muito bom coração, e procurava ajudar
a todos que recorressem a ela.

Tão logo chegou ao local de atendimento, entrou numa fila


grande e esperou ser atendido. Assim que sua vez chegou,
explicou resumidamente a benzedeira a sua situação e pediu
que ela lhe ensinasse a prece mais eficiente para se dar bem
na vida, assim como para abrir seus caminhos. A benzedeira
notou a grande ambição do rapaz e seu afã de encontrar
rapidamente uma fórmula religiosa que chamasse a atençã o
do plano divino. O rapaz perguntou a benzedeira:

– Minha boa senhora, já li muitos livros de oração e me con -


sultei com vários líderes religiosos, mas ainda não encontrei a
forma correta de orar e suplicar a Deus, para que Ele me
ouça. Por favor, oriente-me:

A senhora humilde pensou por um instante e perguntou:

– Em sua vida, quantas vezes você agradeceu o que já tinha,


ao invés de apenas pedir e suplicar pelo que você ainda não
possuía?

O rapaz ficou surpreso com a pergunta, e resolveu responder


a pergunta com toda a sinceridade:

– Nunca… Jamais, em toda a minha vida, eu agradeci a Deus


o que tenho e o que sou. Todas as vezes que orei, eu apenas
pedi.

448
A benzedeira olhou para o rapaz com ar de afeição e bon -
dade e disse:

– Então essa é a oração que transmito a você, e uma das


mais importantes: a sagrada oração do agradecimento. Toda
vez que receber uma graça divina, agradeça a Deus pela
dádiva recebida. E caso nada receba, agradeça de qualquer
forma pela oportunidade de desenvolvimento a partir da au-
sência das coisas. Você tem dois braços, duas pernas, en -
xerga bem, tem um emprego, uma namorada, e sua saúde é
boa. Há muitos motivos para agradecer a Deus. A maioria das
pessoas só pensa em pedir, pedir e pedir, mas esquecem de
valorizar as bençãos já recebidas. Quando uma pessoa dá
valor ao que já tem, mesmo que seja pouco, e agradece a
Deus, há satisfação, há alegria e há felicidade; uma felicidade
natural, e não um gozo efêmero de uma conquista mundana.
Portanto, use com fé a sagrada prece do agradecimento, e
sua vida vai melhorar sensivelmente.

449
OS FALSOS PROFETAS

Seguem nove orientações gerais que todas as pessoas preci-


sam conhecer para não caírem nas garras dos falsos profe -
tas, falsos mestres, falsos gurus ou falsos líderes religiosos.

A primeira orientação, que ninguém deve jamais perder de


vista, é o fato de que o único mestre a que devemos seguir
com toda nossa dedicação é o nosso mestre interior. O mes -
tre externo nada mais é do que um canal para a expressão do
seu mestre interno. O mestre externo funciona tal como um
espelho que visa refletir a sabedoria que já existe latente em
teu próprio interior.

A segunda orientação, e talvez a mais importante, é procurar


perceber se o mestre ou líder religioso coloca sua própria
personalidade em destaque. Os falsos profetas sempre colo-
cam seu ego acima da sabedoria da mensagem que propa-
gam. O mestre autêntico expõe sempre o ensinamento em
primeiro plano, e seu ego fica sempre em segundo plano, ou
quase não aparece. Os falsos mestres sempre desejam o
culto ao ego e à imagem de si mesmos.

A terceira orientação diz respeito a imposição de dogmas e ao


livre pensamento. Um falso mestre sempre dirá que você
deve aceitar as verdades que ele ensina de forma integral e
sem espaço para questionamento. Seu livre pensamento não
é respeitado, e você precisará adotar a fé cega, sem que
possa refletir sobre o dogma imposto. Pode ocorrer do falso
profeta ou falso líder religioso começar a boicotar, de forma
velada, o adepto m ais questionador, e assim ir isolando-o do
grupo. Cuidado com cultos, locais, religiões ou grupos espiri-
tuais que não abrem terreno ao livre pensar.

A quarta orientação diz respeito ao ensinamento e sua prá -


tica. Os falsos mestres sempre ensinam uma coisa, mas na
praticam fazem outra coisa. Seus atos não correspondem aos
seus ensinamentos. Eles pregam grandes verdades, mas
quase não as praticam. Um mestre autêntico ensina mais pelo
exemplo, pela sua história de vida, do que meramente por
palavras. Uma vida de pureza e virtudes é o melhor tratado de
sabedoria que uma pessoa pode “escrever” e deixar regis -
trado para as gerações futuras.

450
A quinta orientação aborda sobre o respeito ao livre arbítrio
do fiel ou seguidor. Um falso profeta, sempre que puder, d irá
ao fiel o que ele deve fazer em sua vida. Um mestre autêntico
apenas orienta e deixa o seguidor refletir e ele mesmo esco -
lher como agir. Os falsos profetas gostam muito de controlar
os seguidores, e uma das melhores formas para isso é sem -
pre dizer a eles o que fazer e como se comportar. Mas a es -
colha do seguidor deve sempre ser respei tada, pois o fiel é
quem deverá colher os frutos das boas ou más ações que
praticar. Embora possam receber orientações e recomenda -
ções, cabe apenas a própria pessoa decidir quais serão suas
ações no mundo.

A sexta orientação diz respeito à dependência e a indepen -


dência. Os falsos profetas desejam sempre que seus seguido-
res dependam dele. Nenhum mestre deve criar uma relação
de dependência entre ele e seu seguidor. O mestre verda-
deiro deseja que o fiel se torne independente do próprio mes -
tre, e num futuro breve possa guiar sozinho a sua vida e seu
caminho espiritual. Um motorista jamais aprenderia a dirigir se
o professor sempre guiasse o veículo. O mestre ajuda o d is-
cípulo para que futuramente o discípulo não mais precise de
ajuda. Apenas os falsos mestres querem manter seus discí-
pulos dependentes dele, pois essa é uma excelente forma de
dominação.

A sétima orientação versa sobre a ilusão da exclusi vidade de


um conhecimento. Os falsos profetas sem pre dirão aos se-
guidores que eles (os supostos mes tres) são os únicos de-
tentores de uma verdade, e que apenas eles ou a doutrina
que eles pregam podem conduzir os fiéis à verdade ou a
Deus. Desconfie sempre dos falsos profetas que afirmam
serem os únicos canais de um conhecimento, e que aquela
sabedoria é exclusividade de uma pessoa ou um grupo.

A oitava orientação fala sobre a responsabilidade e a culpabi -


lização. Os falsos profetas quase sempre colocam a culpa do
sofrimento do fiel em algo externo a ele, sejam demônios,
entidades, família, sociedade, etc. O mestre verdadeiro sem -
pre coloca a responsabilidade de tudo o que ocorre com o
seguidor nele mesmo. Em última instância, somos responsá -
veis pelo céu ou o inferno que vivemos, que nada mais é do

451
que uma criação nossa. É verdade que existem milhares de
influências neste mundo, mas a forma como nós encaramos
ou enfrentamos as adversidades depende de nós mesmos.
Portanto, tudo o que nos acontece tem a nossa participação
ativa, mesmo que não tenhamos consciência das causas.
Estas são as orientações gerais para não se deixar levar
pelos falsos profetas. Quem medita nestes pontos, dificil -
mente será enganado.

A nona orientação fala sobre o ganho externo ou interno.


Quando você estiver em dúvida se um guru, líder religioso,
mestre é bom ou não, preste atenção no discurso dele sobre
os ganhos exteriores ou os ganhos interiores. Claro que obter
algum ganho no mundo não é necessariamente ruim, mas
procure observar se o discurso dele e sua prática são volta-
das mais ao ganho mundano ou ao ganho interior. Se os
ensinamentos dele te direcionam mais a ganhar coisas exter-
namente, talvez a melhor coisa a fazer é deixa -lo de lado e
seguir outro caminho. Pois o objetivo da vida espiritual não é
o ganho exterior, as conquistas materiais, os sonhos que nos
tragam realizações mundanas. Mas se os ensinamentos dele
te direcionam a ganhos interiores, como felicidade, paz, amor,
harmonia, equilíbrio, humildade, desprendimento, bem estar,
etc, dê mais valor a ele e saiba que você pode segui -lo com
mais confiança.

452
PARA SER FELIZ

As pessoas não precisam de coisa alguma para serem feli -


zes.

Basta se harmonizar com a vida, os seres e as coisas.

No momento de despertar, agradeça a Deus o novo amanhe-


cer que surge com o sol dispersando a escuridão da madru-
gada.

É um novo dia que desponta, trazendo nova oportu nidade de


fazer tudo diferente, uma nova vida, um recomeço.

Sem pressa, tranquilo e em paz, dê bom dia às pessoas que


você ama.

Abençoe todas as pessoas que passam pelo seu ca minho.


Veja a vida em tudo. Considere que todos os seres são de
uma inteligência e sabedoria infinita.

Responda de forma amorosa a todos aqueles que te causa -


rem mal; reaja com paciência a todos os apres sados e ansio-
sos; não ignore as pessoas e aprenda a arte de ouvir o outro.

Não fale desordenadamente, vomitando as palavras.


Mas entre dentro de você e procure se entender melhor.

Visualize o bem em todas as coisas. Procure ver a pa z em


todo esse maravilhoso mundo de Deus.

Não responda ofensa com ofensa, mas ofereça uma flor para
aqueles que te agredirem.

Pense o bem daqueles que falam mal de ti. Não se envolva


em intrigas, fofocas ou maledicências. Não fale o que você
não sabe ou não viveu.

Duvide sempre das impressões que lhe vem à mente. Não


cultive certezas sobre nada. O sábio duvida, o ignorante é
cheio de certezas e cheio de si mesmo.

453
Não fique impondo suas verdades aos outros; não imponha
uma noção de certo e errado; não queira mudar ninguém;
aceite cada pessoa em sua forma de ser e aceite a vida como
ela é.

Observe cada coisa que existe no mundo como uma expres -


são do ser eterno. As coisas não são como percebemos, mas
como são. Cada ser e objeto tem um espírito em seu inte rior.
Procure ver a essência em tudo. Tudo é espírito, tudo é es -
sência.

Não se importe com o bom e o ruim. Nada é totalmente bom


nem totalmente ruim. Há muito de bom no ruim e muito de
ruim no bom. Bem e mal são medidas humanas e sempre são
relativas.

Tudo muda o tempo todo. Não queira que algo permaneça tal
como é. Um dia tudo se vai e nada será como antes. Siga
com o rio; siga com as correntes da vida. Quem pára no meio
do rio, é arrastado pelas águas.

Tudo que sobe desce e tudo que desce, pode dep ois subir.
Não olhe para outros com ar de superioridade. Se hoje estás
por cima, amanhã estarás por baixo. E se hoje você está por
baixo, amanhã poderá estar por cima. Mas o em cima e o
embaixo são apenas medidas humanas que não tem qualquer
realidade no plano espiritual. Se não existe em cima e em -
baixo, para onde podemos cair? Se não existe alto e baixo,
quem poderá subir?

Não fique buscando o sucesso. Sucesso além de pas sageiro,


é sempre relativo. O maior sucesso é viver em paz e ser feliz.
As pessoas trocam sua felicidade por qualquer dinheiro.

Entregamos nossa felicidade ao outro e depois re clamamos


que o outro não nos faz feliz ou tira nossa felicidade. Entre -
gamos nossa felicidade as coisas e as pessoas para que, se
algo der errado, tenhamos a quem culpar pela nossa infelici-
dade.

As pessoas dão sua vida aos outros e depois recla mam que
os outros jogaram sua vida fora. Não deixe de ser você

454
mesmo para se adaptar ao outro e não deixe de ouvir o que o
outro pensa de você.

Muitas vezes o outro é a voz do cosmos nos dizendo as ver-


dades que precisamos ouvir sobre nós mes mos.

Não culpe a ninguém pela sua desgraça. Cada um é respon -


sável pela sua vida e não há nada que o outro possa fazer
para nos derrubar. Cada um se queda sozinho.

Responda a ódio com amor; a agressão com ternura; a raiva


com tranquilidade; a mentira com a verdade; a escuridão com
a luz. Não brigue com ninguém. Não guerreie com o outro.
Não há vencedores e perdedores, jamais. O vencedor é quem
não luta para vencer. O vencedor é aquele que renunciou a
glória da vitória e se libertou do medo da derrota.

Não queira ser melhor do que ninguém. Não há su periores


nem inferiores. Todos os seres são filhos do cosmos, filhos da
vida, herdeiros do infinito… Ninguém está acima de ninguém
e ninguém está abaixo de quem quer que seja.

Não se apegue a nada e nem a ninguém. Quem só tem olhos


para uma coisa, perde a visão de todo o resto.

Aceite-se como você é. As pessoas não mudam, não se tor-


nam diferentes. Elas apenas aceitam quem são e, as sim, se
libertam de suas prisões emocionais e psíquicas. Deixe de
lado essa mania de querer acertar a todo custo, de querer ser
bem visto, de projetar uma imagem positiva. Quem vive de
imagem afunda na própria imagem. O homem nasceu, cons -
truiu uma imagem e ficou preso a ela. Liberte-se da imagem
de si mesmo. Transcenda a si mesmo, vá além de seu ego.
Não há outra forma de ser feliz.

Não tenha medo do vazio, da falta ou do nada. O va zio é


liberdade, é o espaço da criação e da renovação. É no vazio
que tudo começa, pois antes de algo ser alguma coisa, ela
era coisa alguma. Quem não é nada, pode ser tudo, e quem
acredita ser tudo, nada é.

No final das contas, nada sabemos, não nos conhe cemos.


Somos uma partícula, um grão de areia num infinito deserto.

455
Somos um pé de grama num campo verde sem fim… Mas
nascemos no infinito, vivemos no infinito e somos o próprio
infinito, o ilimitado. No infinito, nada nos falta, tudo se com -
pleta, tudo é para sempre…

456
O QUE É DEUS?

Um homem virou-se para um monge e perguntou:

– Venerável, o senhor passou boa parte de sua vida medi -


tando para encontrar Deus. Tendo em vista que Deus ainda é
incompreensível para a maioria das pes soas, qual a imagem
mais próxima de nós, seres humanos, a qual pode represen-
tar Deus?

O monge respondeu:

– Observe o sol. – disse o monge – Deus é muito parecido


com ele.

– Como assim senhor? Perguntou o homem.

– O sol brilha e irradia luz a tudo que está a sua volta. Ele não
depende da luz de ninguém, mas gera sua própria luz, seu
calor e sua energia.

Ele tudo dá e nada recebe. Sua luz não descansa, não se


esgota, é uma fonte infinita e eterna, e está perma nentemente
vibrando. Não se pode dar qualquer coisa a Ele, pois Ele é
quem tudo dá e não pede coisa alguma em troca, pois para
Ele é algo absolutamente natural emanar sua luz.

Todas as coisas que estejam sob seu raio de influên cia se


clarificam. O que antes estava oculto sob a es curidão, se
revela. Quando há penumbra, mesmo que seja a mais densa
e profunda obscuridade, ele não faz coisa alguma, mas ape -
nas lança sua luz, mesmo que apenas um pequeno raio, e
todas as trevas se dissipam imediatamente.

Ele é esférico, ou seja, brilha em todas as direções, e não faz


distinção entre um lado ou outro lado, entre o norte e o sul, o
leste ou o oeste, mas expande sua luminosidade em todos os
sentidos. Traduzindo em nível humano, ele brilha sob todas
as ideologias, todos os segmentos, todos os países, todas as
formas de fé, enfim, não importa a orientação do seu pensa-
mento, sua classe social, sua religião, seu partido político, sua
orientação sexual, etc, ele brilhará do mesmo jeito.

457
O sol dá a vida, e sem ele, a vida na Terra não existi ria. As-
sim é Deus, dá vida a tudo, e sem Ele, nenhuma vida sobrevi -
veria e sequer seria formada. Sentimos a sua presença em
forma de luz física, mas não podemos toca-lo. Deus também
é assim: não pode ser tocado, mas podemos senti -Lo por
meio de sua luz espiritual.

Aqueles que estão distantes dele, só o veem como uma es -


trela bem longínqua, e ficam na escuridão. Aqueles que estão
mais próximos a Ele, o veem como o sol, e são iluminados e
conseguem enxergar tudo a sua volta.

Mesmo que vastas e escuras nuvens estejam bloque ando sua


luz, Ele jamais deixa de brilhar.

Por mais longa e sofrida que seja a madrugada de nos sas


lágrimas, sofrimentos e derrotas, nunca deixa de amanhecer
no dia seguinte, e sempre o sol aparece dissipando toda a
escuridão.

Da mesma forma que ninguém se preocupa se o sol vai nas -


cer todos os dias, por que haveria alguém se preocupar se
Deus vai, um dia, iluminar a nossa vida?

458
A CHUVA DIVINA

Há uma lenda muito antiga que conta uma estória importante.


Deus, o Senhor supremo do universo, residia acima de imen -
sas nuvens. Ele enviava à Terra bênçãos celestes em forma
de chuva cósmica. De vez em quando caía um grande tempo -
ral e toda a humanidade se apressava em tentar receber a
água sagrada que caía do céu.

Nessa época, a terra era muito seca, e assim que cho via, o
solo sugava toda a água enviada por Deus. Por isso, as pes -
soas levavam copos para poder receber a água divina e
bebe-la.

O curioso é a forma como as pessoas recebiam a chuva de


Deus. Alguns levavam copos bem pequenininhos, onde quase
não cabia a água da chuva. Outros levavam copos um pou-
quinho maiores, e podiam beber melhor. Outros ainda leva-
vam copos grandes, bebiam a água e matavam sua sede.
Outros, no entanto, construíram grandes baldes, largas ba cias
para que em tempos de seca jamais faltasse a água celeste.

Aqueles que levavam apenas um minúsculo copinho diante


da chuva de Deus acabavam ficando com muita sede depois .
Os que traziam copos maiores ficavam com menos sede.
Aqueles que traziam bacias maiores conseguiam armazenar a
água, e não tinham mais sede, pois possuíam água à von-
tade.

Pessoas que levavam copos diminutos quase sempre recla -


mavam que Deus não lhes dava nada, que eles eram injusti -
çados e que o plano divino os havia es quecido. Os sábios
anciãos, cujas bacias eram enormes, alertavam essas pes -
soas de que Deus não os havia esquecido e que não existia
qualquer injustiça, mas que tudo dependia do tamanho do
copo que eles usavam para armazenar a água. Um copo
pequeno guardaria menos o líquido divino e um copo maior,
obviamente, recolheria uma maior quantidade das dádivas
divinas. Mas parece que poucos ouviam e compreendiam
esse princípio. O resultado era a sede de coisas materiais e
uma sensação de falta, de tris teza e de vazio.

459
Pare e reflita qual o tamanho do copo que você está utilizando
para receber a água divina. Não adianta reclamar da ausência
de sentido em sua vida, pois é necessário abrir-se por inteiro
para receber as dádivas divinas. Não é Deus que não está
presente, o seu copinho é que pode ser muito pequeno.

460
A ASCENSÃO CELESTIAL

Por toda a minha vida sempre quis elevar meu espírito a


Deus, mas não sabia como faze-lo.

Certo dia, sonhei que estava em um campo aberto imenso,


com muito verde e um céu bem azul. Olhei para o céu e vi
uma luz maravilhosa, que parecia algo divino, e quis subir aos
céus. Vindo de lugar nenhum, um anjo aparece em minha
frente e pergunta se eu quero me beneficiar daquela luz di -
vina. Eu respondi que sim.

De repente, aparece a minha frente um balão enorme, cheio


de coisas dentro. O anjo me diz que o balão é um veículo de
ascensão celeste.

Sem mais delongas, subi rapidamente no balão para ascen -


der ao reino celeste e encontrar aquela luz tão maravilhosa de
Deus. No entanto, por mais que eu enchesse o balão com ar,
ele não subia. O anjo, que me observava de longe, disse que
eu deveria retirar todo o peso do balão para alçar o voo su -
blime. “É mais importante soltar todo o peso acumulado para
ascender, do que encher o balão com ar quente”, disse o
anjo.

Então olhei para o chão do balão e vi muitos sacos, malas,


bolsas e pesos diversos. Então segurei um dos sacos e de
súbito apareceu em minha mente muitas mágoas do meu
antigo casamento. Aquele saco pesado representava toda a
carga das feridas, mágoas e ressentimentos da minha ex-
esposa. Peguei o saco e, em nome da minha liberdade, o
joguei fora do balão. Nesse momento, o balão saiu do chão,
mas ainda assim não estava subindo.

“Preciso me desfazer de outras cargas” pensei. Vi uma mala


no chão e quando a peguei me veio um forte sofrimento pela
morte do meu pai. Essa mala representava todo o peso que
eu estava carregando da dor por essa perda. Num ato de
desapego, joguei fora do balão esse sofrimento que ainda
carregava, e o balão subiu um pouco mais.

Mas ainda existiam muitas coisas para jogar. Comecei a lan-


çar fora todos os sacos. Joguei o saco do apego ao dinheiro;

461
depois joguei do apego aos filhos, depois soltei toda a carga
de preocupações. Uma que me doeu muito, foi jogar fora a
carga do perfeccionismo, de admitir meus erros e aceita-los,
soltando todo o desejo de ser perfeito e de passar uma ima -
gem impecável. Outro que me doeu muito foi jogar fora a
carga do medo e do desejo pelo conforto, de todo o como -
dismo que eu tinha.

Finalmente o balão começava a subir mais rápido e, quando


percebi, estava voando pelos céus e ascendendo. Senti uma
sensação de vazio pelas perdas de tudo o que soltei, mas
esse vazio logo foi preenchido pelo primeiro contato com
aquela luz divina que descia do céu e que, agora, eu come -
çara a ter contato.

Sacos, malas e outros pesos que criavam uma carga em


minha vida foram, um a um, jogados lá de cima, e cada vez
que eu jogava um deles, ascendia mais e mais e me via mais
próximo do reino celeste. Olhei então para os pesos e vi que
sobraram apenas quatro sacos. Segurei o primeiro e senti que
era a carga da vaidade, de toda a minha preocupação com as
aparências. Foi bastante sofrido me desfazer deste, mas
finalmente o joguei fora, soltando aquele peso. Pe guei o outro
saco e senti que era o do orgulho. Foi tão difícil quanto, mas
também o soltei. O terceiro era o do egoísmo. Soltei -o após
bastante tempo, e só aí percebi o quanto eu era orgulhoso,
vaidoso e egoísta… Não apenas eu, mas toda a raça hu-
mana.

Finalmente, a última coisa e a mais pesada, p or incrível que


pareça, eram as roupas que eu estava ves tindo. Sim, eu pre-
cisava também e principalmente tirar toda a minha roupagem.
Era necessário me despir completamente, ficar totalmente nu
e estar apenas comigo mesmo, sem coisa alguma. Essa rou -
pagem é o que chamamos de ego. Mas essa última soltura eu
não queria fazer de jeito nenhum, pois tudo o que eu era, toda
a imagem sobre mim mesmo e a minha personalidade, pare -
cia estar ali. Pensei em desistir da busca e retornar, pois
como poderia abrir mão de mim mesmo? Será que assim eu
não me tornaria nada? Como posso viver sem mim mesmo?
Mas dentro de mim pulsava uma forte aspiração pela liberta -
ção de tudo, como se um fogo divino ardesse dentro de mim
indicando o caminho.

462
Então, após um longo tempo e m uito sofrimento, finalmente
me despi por inteiro e joguei fora toda a minha roupa, sol -
tando o último peso que ainda me impedia de ascender. As -
sim que joguei a roupagem do ego, o balão ascendeu acima
das nuvens. Vi-me entrando no reino celeste e sendo rece-
bido por um coro angélico que cantava melodias celestiais e
também por uma luz maravilhosamente bela, calorosa, aco -
lhedora e divina. Eu havia finalmente encontrado a paz pro -
funda que tanto busquei.

463
O PLANO DAS TREVAS

Certa vez, o senhor das trevas chamou toda a hierarquia


infernal a fim de traçar os planos para implan tar o mal em
toda a humanidade. Outras reuniões como essa já haviam
ocorrido em tempos passados, mas agora, com o advento de
novos tempos, há necessidade de uma nova organização das
trevas para atualizar seus planos contra a humanidade.

Então, os demônios de alta patente se reuniram e, atenta -


mente, ouviram as instruções de seu chefe.

“Invoquei a presença de todos aqui com o objetivo de trans -


mitir as diretrizes gerais para os novos tempos, a fim de se
fazer do planeta Terra, na atualidade, um mundo cada vez
mais sofrido, onde o mal predomine finalmente.”

Cada um de vocês deve ouvir atentamente as instru ções que


serão passadas agora, pois delas depende todo o sucesso de
nosso trabalho.

“Para subjugar os seres humanos e fazer delas verdadeiros


escravos, os principais pontos que todos devem se esforçar
para implementar no mundo são os seguintes:

Em primeiro lugar, vamos estimular ao máximo nos seres


humanos o orgulho e o egoísmo. Esses dois pilares devem
ser a chave da submissão da humanidade. O orgulho, a so-
berba, a arrogância e a prepotência são os principais ingredi-
entes de nossas realizações, pois farão com que cada ser
humano se sinta melhor do que os outros; quanto mais existi-
rem pessoas que se acreditam superiores, mais essa falsa
percepção terá o poder de gerar divisões, disputas e conflitos.
A soberba e a arrogância fomentarão o preconceito, a discri -
minação e a luta pelos direitos de uns se sobressaindo diante
dos direitos de outros. Do orgulho brotará o sentimento de
egoísmo, que fará com que os seres humanos busquem as
coisas apenas para si mesmos, esquecendo que fazem parte
de uma coletividade e dela dependem. Estimulando o indivi -
dualismo ao invés do coletivismo; a competição ao invés da
cooperação. Vamos influenciá-los a acreditar que podem
levar uma vida totalmente isolada do restante, e mesmo as -
sim serem felizes. Faremos com que a busca de benefícios

464
apenas em proveito próprio seja o pivô de todas as relações
humanas, e como consequência, os seres humanos estarão
sempre brigando entre si por pequenas migalhas e farão de
tudo para passar por cima uns dos outros. Dessa forma, esta -
beleceremos a competitividade, a violência, as distinções de
classe social, dentre outras mazelas. Isso promoverá uma
grande distância entre as pessoas e produzirá indivíduos
solitários e carentes.”

“Muito bom senhor” respondeu um dos demônios. “Esse é


sempre um bom plano”.

“Sim, mas não é só isso” – respondeu o Senhor do Submundo


– “Há ainda mais ações a serem implantadas para nosso
sucesso total.”

“Em segundo lugar, vamos implantar nas mentes humanas o


pecado da vaidade. Vocês devem fazer com as pessoas se -
jam vaidosas a todo custo. Façam com que elas deem mais
atenção ao exterior do que ao interior. Se conseguirem isso,
elas verão apenas a imagem que se encontra na superfície e
serão cada vez menos capazes de enxergar além e ver aquilo
que jaz oculto no interior de cada um. Isso contribu irá para a
criação de pessoas mais voltadas às aparências do mundo e
menos capazes de enxergar as coisas como elas realmente
são. Vamos também confundir as pessoas e fazê-las acreditar
que vaidade e autoestima são a mesma coisa; assim uma
pessoa que cuida excessivam ente de sua aparência terá a
impressão que gosta de si mesma, que se ama, quando a
verdade é o contrário disso. Quanto mais uma pessoa é exa -
geradamente ligada a sua aparência, mais defeitos ela vê em
si mesma, menos ela se aceita e consequentemente, meno s
ela se ama. Vamos promover a indústria da moda, dos cos -
méticos e das revistas de beleza para que as mulheres se sin-
tam cada vez mais desajustadas e se voltem menos para as
coisas que interessam – como o amor, o conhecimento, a
paz, a sabedoria – e se voltem mais para o supérfluo e aquilo
que é passageiro.”

Os demônios ouviam com atenção e curiosos sobre as próxi -


mas instruções do mestre das trevas.

465
“Em terceiro lugar, vamos promover ações principalmente no
plano monetário, no mundo do dinheiro. Vamos estimular a
cobiça, o sentimento de posse, e divulgar a ideia de que o ser
humano mais realizado é aquele que possui mais sucesso
profissional, mais bens, mais dinheiro guardado. Vamos con -
fundir a mente das pessoas e fazê-las acreditar que o dinheiro
é tudo na vida, e que todo o resto é secundário. Levando uma
vida toda voltada à sobrevivência e à aquisição de bens mate-
riais, não sobrará tempo para a família, para o encontro con -
sigo mesmo, para leituras e para o conhecimento, para a
reflexão, a oração e a meditação. Vamos fazer do dinheiro o
píncaro da realização pessoal, assim não sobrará tempo para
o que realmente é importante. O dinheiro não deve ser ape -
nas um instrumento do viver, deve ser, isso sim, o fim da vida,
seu objetivo primordial, a meta derradeira de todos os seres
humanos. Quanto mais os seres humanos buscarem no di -
nheiro a realização, mais eles ficarão frustrados por não a
encontrarem; ficarão tristes, deprimidos, solitários, carentes e
vulneráveis. Fecharão os olhos para tudo e todos e se dedica-
rão, quase com exclusividade, ao sucesso do mundo da acu-
mulação de capital. Eles ganharão mais e mais dinheiro, mas
ainda assim não estarão satisfeitos, e vão buscar mais e
mais, e nem vão desconfiar que o dinheiro nunca poderá
preencher o espaço interior vazio do seu coração. Por outro
lado, vamos fazer as pessoas serem consumidoras por exce-
lência: toda a vida humana deve estar voltada ao consumo,
mesmo que os bens consumidos sejam desnecessários.
Faremos da compra algo ritualizado, que gera prazer e con-
tentamento pessoal, assim as pessoas vão buscar fora de si
algo que só poderia ser conquistado dentro. Vamos enganá -
los com a ideia de que o dinheiro pode com prar tudo. Preci-
samos agir no mundo de tal modo que, aqueles que não têm
dinheiro, vão sofrer pela sua ausência; e aqueles que têm
dinheiro, vão sofrer pela possibilidade de perdê -lo. Tanto um
como outro serão nossos escravos e não encontrarão a
verdadeira realização: a realização espiritual”.

Os demônios apreciaram muito a explanação, e estavam


sedentos de novas instruções.

“Além desses três aspectos” – continuou o senhor da escuri-


dão – “há outros dois que devemos investir com todas as
nossas forças, a ciência e a religião:

466
“Com relação à ciência, devemos tomar todas as me didas
para que ela se torne materialista, tecnicista e voltada apenas
aos interesses econômicos. A ciência precisa ser apenas
técnica, sem alma, e tudo que se faça nela deve responder a
interesses de grandes empresas; os cientistas devem estar
sempre subjugados a grupos econômicos, para que suas
ações não sejam livres e independentes. Isso ajudará a fazer
com que a pesquisa científica seja controlada por grupos
pequenos, que serão os detentores do direcionamento que
será dado a trajetória da ciência. Expurguem completamente
do campo científico qualquer debate sobre os limites éticos do
conhecimento e disseminem a ideia de que, para o conheci -
mento humano, não há barreiras éticas e humanas. Faremos
as pessoas dependerem completamente da tecnolo gia, a
ponto de fazer com que uma ruptura no sis tema seja a causa
de um colapso geral. Assim, cada vez mais as pessoas vão
acreditar que dependem da tecnologia e estão subordinadas
a ela. Por outro lado, façam de tudo para que a ciência se
torne dogmática, assim como a religião, e que haja uma
constante dis puta entre ambas, mesmo que em essência
tanto a ciência como a religião seja duas faces de uma
mesma moeda. Vamos estimular nos cientistas a preservação
conservadora dos conhecimentos: fazer ela mais dogmática e
menos investigativa, um verdadeiro depósito de certezas.
Façam com que os cientistas não percebam que o conheci-
mento científico sempre possui um prazo de validade. É pre -
ciso traçar com firmeza e de forma bastante definida os limi -
tes que separam a ciência da religião, e que essa linha limí-
trofe se torne praticamente intransponível, pois com essas
barreiras, os conflitos entre ambas vão desgastar, minar e
atrasar o desenvolvimento de uma e outra, fazendo com que
o ser humano precise escolher entre um a das duas e que sua
consciência fique dicotomizada, totalmente dividida e em per-
manente conflito. De toda forma, é importante tam bém des-
cartar completamente qualquer intercâmbio entre essas duas
formas de conhecimento, e rechaçar com veemência as no -
vas pesquisas que ajudem a aproximar uma da outra. Os
cientistas só devem acreditar naquilo que veem e acreditar
que nada exista fora da ciência. Além disso, façam de tudo
para deixar a consciência totalmente de fora da pesquisa
científica, e estimulem ao máximo os cientistas a buscarem
reduzir a realidade a um mero aglomerado de átomos inertes

467
e sem vida. Façamos principalmente a ciência acreditar no
acaso; acreditar que tudo surgiu do nada e para o nada retor-
nará; façamos os cientistas acreditarem que a vida não tem
um significado e que cada modelo científico é definitivo, e que
deve resistir ao máximo à prova do tempo, mesmo que exis -
tam muitas evidências em contrário.”

“O segundo aspecto é a religião. Desde o primórdio dos tem -


pos nós atuamos nas religiões, mas agora precisamos nos
manter firmes nessa empreitada, pois a religião, caso seja
transformada, tem o poder de mudar muitas coisas. A pri -
meira e principal ação a ser reforçada nas religiões é, como
vocês já sabem, estimular o fundamentalismo, o fanatismo e o
dogmatismo. Os fiéis de um credo, qualquer que seja ele,
devem acreditar piamente que apenas a sua religião é verda -
deira e que todas as outras são falsas. Façam com que eles
leiam os livros sagrados e os interpretem sempre ao pé da
letra; façam com que eles não percebam a sabedoria oculta
por detrás dos símbolos; deixe que eles acreditem que não há
um significado simbólico nos ensinamentos, e que há apenas
uma verdade literal, que deve ser conservada imutá vel a todo
custo. Tornem todos eles submetidos sempre a uma hierar-
quia sacerdotal, que deverá lançar as bases do que se deve
acreditar e do que não se deve acreditar. Assim, ninguém
poderá promover mudança numa religião, pois tudo emanará
da cúpula sacerdotal.”

“Façam também com que eles pensem que apenas alguns


líderes têm o contato com Deus e que apenas eles podem
servir de intermediários. Não permitam, em hipótese alguma,
que os seres humanos descubram que eles não precisam de
um intermediário entre o ser e o divino, e que a verdade pode
ser alcançada pelo amor, pela sabedoria, pela compaixão e
pela caridade. Procurem extirpar completamente dos cultos o
silêncio, a oração e a meditação. Façam os rituais e as reuni -
ões religiosas parecerem cada vez mais um show, com grita -
rias, barulho, orações repetidas e sem alma. Cuidem para que
os líderes religiosos sejam adorados, que seu ego seja cultu -
ado e que eles sejam encarados como semideuses na Terra.
A personalidade dos líderes deve prevalecer sobre o conhe -
cimento que eles propagam. Algo muito importante, e que não
pode faltar nas religiões: a ideia do medo e do pecado. Façam
com que as religiões amedrontem as pessoas, com noções

468
de céu e inferno, e influenciem -nas a acreditarem que, uma
vez no erro, não há redenção possível nem possibil idade de
corrigir suas faltas. Não permitam, de modo algum, que sur-
jam aqui e ali ideias de universalismo religioso, de ecume -
nismo e integração entre as várias crenças: as religiões de-
vem competir umas com as outras pelos seus fiéis, e estes
devem ser coagidos psicologicamente a permanecer toda a
vida pertencentes a uma mesma denominação, sem nenhum
questionamento. Façam com que o amor pareça uma coisa
piegas, sentimentalista e sonhadora; façam com que a com -
paixão seja confundida com fraqueza; que a humildade seja
considerada submissão; estimulem os adeptos a julgarem
outras pessoas em nome da fé, e a separarem totalmente a
teoria da prática, ou seja, a não incorporarem em suas vidas
os mais elevados princípios morais de sua religião. Além de
todas estas, há algumas ações menores, porém não menos
importantes: façam os fiéis acomodados e anestesiados di-
ante do mundo; façam os líderes religiosos controlar a vida
dos membros; façam os fiéis debaterem sempre os mesmos
temas e ficarem girando em círculos, sem saírem do lugar;
estimulem ideias do tipo: ‘nós’ contra ‘eles’; façam com que
eles se sintam pequenos e fracos diante do líder e da gran -
deza da religião; façam com que os membros se fechem mais
dentro de si mesmos e se alienem do meio; promovam uma
adoração desmedida da figura do mestre em detrimento do
estudo e da prática dos seus ensinamentos originais. Com
essas medidas, as religiões continuarão servindo aos nossos
propósitos.”

Os demônios, muito interessados, anotavam tudo e procura -


vam assimilar cada aspecto citado, para que seu trabalho
junto à humanidade fosse mais eficiente.

“Há agora alguns outros elementos em que devemos inves -


tir…” – disse o príncipe das sombras – “e eles são de extrema
importância na modernidade”.

“Quanto à televisão, vamos fazer com que ela sirva aos nos -
sos propósitos. Ao invés de ser um veículo de educação e
civilidade, faremos com que se torne um amontoado de pro -
pagandas bastante sedutoras. Mesmo que as pessoas não
precisem dos produtos anunciados, vamos criar ne las a ne-
cessidade de obtê-los, para pensarem que necessitam de

469
muitas coisas para serem felizes. Faremos com que seja
promovida a vaidade, a sexualidade desregrada, a cobiça, a
alienação, a soberba e a arrogância. Vamos promover uma
inversão de valores, e fazer com que as pessoas se atenham
ao superficial. Quanto mais elas se detiverem nas imagens
sedutoras da telinha, mais elas esquecerão de encontrar a
sabedoria dentro de si mesmas. Valorizem o mundo do en -
tretenimento; coloquem homens e mulheres sem roupa e
sensuais, para despertar os instintos mais primitivos; tratem
as mulheres como objetos na TV e nas revistas, e mostrem -
nas apenas como um corpo bonito, porém sem essência,
vazio por dentro. Façam uma imprensa tendenciosa, que não
represente as diferentes forças sociais, mas que apenas
preservem os interesses dos poderosos do mundo. Usem a
arma da informação para manipularem a vontade as mentes
das pessoas, e o melhor de tudo, façam com que elas pen -
sem que as opiniões são delas mesmas, que as ideias apre-
sentadas nasceram de seu pensamento, assim elas difi cil-
mente perceberão que estão sendo manipuladas. Elas irão
acreditar firmemente que as ideias surgiram em suas mentes,
e assim jamais vão questionar algo que, segundo creem, teria
sido gerido e processado pelo seu pensamento (mas que em
realidade não foi). Os homens jamais podem se defender de
algo que não conhecem e não percebem. Se eles não perce -
berem que estão sendo manipulados, não serão capazes de
resistir à nossa dominação. E não se es queçam: veiculem na
TV a todo momento cenas de violência, para que os atos
criminosos fiquem bem assentados no inconsciente coletivo,
pois dessa forma, a violência se tornará corriqueira, comum e
natural, pois, assim sendo, quase não será questio nada seri-
amente com ações concretas. Só mostrem o negativo pela
TV, ocultem ações positivas e humanis tas, para que as pes -
soas acreditem que o mundo é essencialmente mau e que
não há esperança de ser diferente.”

“Quanto à música, vamos retirar seu caráter de ele vação da


consciência humana, de contato com as emoções, do dina -
mismo imaginativo e criativo e de conscientização social. As
músicas devem, assim como a TV, estimular a alienação e a
degradação sexual. Em vez de conservar viva a tradição de
um povo, com sua identidade, ela deve, ao contrário, fazer o
ser humano esquecer suas origens. Um povo sem memória é
muito mais propenso a repetir os erros do passado, reedi -

470
tando antigas mazelas, sem aprender com elas. A música
atual deve ser cada vez mais barulhenta, po is assim o ser
humano se tornará incapaz de ouvir a natureza e a si
mesmo.”

“Quanto ao meio ambiente, façamos com que eles destruam a


natureza, para que, dessa forma, eles destruam a si mesmos.
Vamos nos empenhar para que o ser humano acredite ser o
senhor da natureza; vamos estimular ações de conquista, e
não de integração com o meio natural. O homem deve se
impor no meio ambiente, as ruas, as calçadas, o lixo, as ca -
sas, todas devem ser construídas de modo que re presentem
a sobreposição do homem diante da natureza, como se ele
fosse seu domador. Não deixem que eles percebam que são
parte da natureza, que são filhos da terra, e que a ela devem
a sua sobrevivência. Não permitam, em hipótese alguma, que
o ser humano encontre o elo que o une, de forma ind isso-
ciável, ao seu lar natural, pois se assim o fizer, ele terá mais
força, vitalidade e saúde. Estimulem ações do homem contra
seus irmãos menores, os animais, e façam -nos acreditar que
os animais só existem para servi-lo, e não para conviver com
ele. Façamos tam bém com que os homens se tornem cada
vez mais intoxicados. Ao invés de usarem produtos naturais,
que eles usem apenas produtos industrializados, modificados
quimicamente, pois um homem intoxicado é muito mais vulne-
rável a nossa dominação do que um homem de vida natural e
sadio. Estimulem a procura de remédios alopáticos que visem
apenas abafar os sintomas de uma doença, para que sua
causa permaneça desconhecida e não seja tratada. Tirem os
medicamentos naturais de seu alcance, para que eles viva m
menos de ações preventivas, e cada vez mais intoxicados
com químicas que acomodem sua consciência. Estimulem o
uso do álcool e das drogas, lícitas ou ilícitas: criem o hábito
de se recorrer aos entorpecentes ao menor sinal de sofri -
mento, pois assim eles estarão mais distantes da resolução
de seus conflitos internos. Façam com que os seres humanos
vivam uma verdadeira era da intoxicação, pois assim eles
estarão muito mais propensos a doenças, a transtornos
mentais e menos dedicados a causas humanitária s e de
transformação social e espiritual.”

“Para finalizar, devemos combater com força dois sentimentos


humanos: a fé e a esperança.”

471
“Para desmerecer a fé, devemos sempre associá-la as religi-
ões. Mesmo sendo a fé uma convicção íntima de uma reali -
dade transcendente, precisamos influenciar as pessoas de
que a fé é sinônimo de crença cega, de fanatismo e de con -
formismo com dogmas religiosos. Neguem a todo custo que a
fé seja o sentimento íntimo de uma realidade divina, um farol
que guia a um porto seguro, e preguem com toda a ênfase
que todas as formas de fé são idênticas, assim as pessoas
não poderão distinguir a fé genuína, que nasce de uma apro -
ximação do ser com o cosmos, e a fé fundamen talista, que
está subordinada a um conjunto de credos.”

“E finalmente, a esperança. Temos que trabalhar ao máximo


para apagar a palavra esperança dos corações humanos. As
pessoas precisam acreditar que não existe esperança de um
futuro melhor, que nada vai mudar, que tudo sempre foi do
jeito que é, e que qualquer coisa que se faça para transformar
a realidade atual é pura perda de tempo, pois não trará ne -
nhum resultado.”

Quando os demônios já começavam a deixar o local de reu -


nião, o chefe das trevas gritou-lhes:

“Não se esqueçam: tirem a esperança deles… e façam com


que acreditem que não são capazes de trans formar o mundo
através da transformação íntima.”

472
DEUS EM NOSSA VIDA

Se algo deu errado ou não saiu como você queria diga “Essa
foi a vontade de Deus”.

Nos momentos de dúvida e incerteza diga “Eu confio plena-


mente em Deus”.

Nas horas de duro sofrimento, quando você desco brir que


não tem controle sobre nada, diga “Eu entrego tudo nas mãos
de Deus”.

Quando quiser um guia para sua vida diga “Eu permito que
Deus dirija minha vida”.

Quando estiver desorientado, sem saber para onde ir, diga


“Deus é quem vai me mostrar o caminho”.

Quando sentir que tudo está contra você diga sim plesmente
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

Em momentos de total ausência de sentido, quando parece


que estamos mergulhados no vazio diga “Deus está pre -
sente”.

Quando você contemplar todas as obras da criação pense


que “Tudo é Deus e Deus está em tudo”.

Nos tempos em que tudo que é sólido e concreto em sua vida


pareça se dissolver, diga “Deus é o meu su porte e o meu
sustento”.

Quando quiser fazer o bem diga “Deus me usa como um


instrumento de Sua obra na Terra”.

Não se deixe enganar… Nada em nossa vida seria possível


sem Deus.

Deus está em nós e nós não somos nada sem Ele.

Sirva a Deus e não a Mamom;

Sirva ao mundo espiritual e não ao mundo material;

473
Sirva ao essencial e não a ilusão.

Esteja sempre com Deus, pois dessa forma…

Deus estará sempre contigo.

474
A FÉ

Fé é quando não vemos nada, mas enxergamos bem.

Fé é quando por fora nada faz sentido, mas interna mente


tudo faz sentido.

Fé é saber que tudo tem um tempo certo para acon tecer,


como nascer, crescer, envelhecer e morrer.

Fé é ter paciência e esperar o tempo de Deus, e não o nosso


tempo.

Fé é ter a certeza de que, da mesma forma que o sol nasce


todos os dias, Deus irá iluminar a madrugada de nossa vida a
cada manhã.

Fé é ter consciência do ciclo da natureza, onde tudo se re -


nova, tudo começa, termina e recomeça, tudo se encaixa,
tudo se harmoniza, tudo é perfeição.

Fé é quando tudo caiu em escuridão, não sabemos onde


estamos pisando, não sabemos para onde va mos, mas se-
guimos em frente mesmo assim.

Fé é quando a razão se esgota e precisamos ir além do inte -


lecto para compreender o desconhecido e o inde scritível.

Fé é acreditar em todas as obras de Deus, inclusive acreditar


em nós mesmos, que também somos obras de Deus.

Fé é saber que todo mal vem para o nosso bem; toda a igno -
rância se transforma em sabedoria e na mais escura treva
sempre brilha uma luz.

Fé é manter-se calmo dentro da tempestade; é bus car ordem


em meio ao caos; é encontrar sentido em meio a confusão; é
entender a morte como uma parte da vida.

Fé é agradecer a perda, agradecer o desprezo, agra decer o


sofrimento, agradecer o fim, agradecer a noite que nos faz
vislumbrar as estrelas no céu.

475
DEUS ESTÁ EM NOSSO PRÓXIMO

Deus se manifesta diante de nós através do nosso próximo. E


nos concede preciosas lições de desenvolvimento interior.

Quantas vezes Deus nos enviou um aprendizado que saiu da


boca de um desafeto mostrando claramente os pontos em
que devemos nos modificar.

Diversas vezes Deus falou através dos brutos e arro gantes,


que nos deixam vermelhos de cólera, para que possamos
identificar a extensão e a natureza de nossa raiva.

Em várias ocasiões Deus se disfarça daquele que machuca -


mos e nos arrependemos, para com isso aprendamos lições
importantes de respeito ao próximo.

Deus se transveste das crianças abandonadas, que com seus


olhares tímidos nos observam, para testar nosso acolhimento
e amor à humanidade.

Deus se faz presente no homem que nos deixa espe rando


muito tempo para testar nossa paciência e perseverança.

Deus fala através dos grosseiros e estúpidos, que nos abor-


dam com a marca de sua impolidez, e assim tes tam nosso
melindre e nos ajudam a desenvolver nossa humildade.

Deus está presente em cônjuge, companheiro ou namorado


que muito amamos, a fim de verificar se nas brigas comuns
do dia a dia vamos deixar prevalecer o amor ou a irritação.

Deus está presente no filho mimado e mandão, para ver se


vamos ceder à tentação de tudo lhe dar e resolver, ou se
vamos impor a disciplina necessária ao seu amadurecimento
e a sua independência futura.

Deus está presente no chefe rude e autoritário a que somos


obrigados a conviver, a fim de pôr à prova o mesmo autorita-
rismo e rudeza que cultivamos em nosso íntimo.

Deus está sempre presente naqueles que amamos, para


aprendermos a tornar esse amor incondicional, e naqueles

476
que odiamos, para aprendermos o dom de perdoar e ace itar o
outro.

Deus está em tudo, mas está principalmente naque les que


convivemos.

Estes vêm contribuir com nossa caminhada humana e nosso


aperfeiçoamento espiritual.

Ninguém pode amar a Deus e não amar o próximo.

O próximo não precisa estar com Deus, mas Deus, sem ne-
nhuma dúvida, está no próximo.

477
RESGATE DE SI MESMO

Existem algumas perguntas fundamentais que você deve se


fazer caso queira desvendar a si mesmo e encontrar sua
essência mais profunda. Essas perguntas são:

O que te faz levantar todas as manhãs?

O que você era quando ainda não haviam dito quem você
era?

Você passa a vida inteira no piloto automático, só reagindo


aos estímulos externos, buscando o prazer e suprindo suas
necessidades básicas, ou você olha pa ra si mesmo e tenta
desvendar sua natureza es sencial?

Se você perdesse tudo o que você tem, todos os bens, todas


as crenças, toda sua personalidade, incluindo todas as pes -
soas que você gosta, e nada mais te res tasse a não ser você
mesmo, o que sobraria de você?

Onde está aquela pessoa que contemplava o céu, que amava


sem medo, que olhava para a vida com inocência, que apre-
ciava o pão de cada manhã, que bebia água e apenas bebia
água?

Onde você estava quando se encontrava em total silêncio


comungando com o infinito há um tempo do qual resta apenas
um pequeno fragmento de memória?

Onde está sua inocência de olhar para algo e ver apenas


esse algo e mais nada?

Onde está a sua alegria de viver, aquela alegria que você


sentia que transbordava de dentro de você, como se fosse
uma chama sagrada que ardia em seu interior?

Onde está aquela pessoa livre, totalmente livre, que não tinha
medo de olhar para a infinidade do céu e sentir a eternidade a
cada momento?

478
Para onde você deseja ir em sua vida? Que cam inho você
quer seguir? No final desse caminho a sua es sência mais
profunda estará te esperando?

Onde está aquela pessoa que ficava refletindo por horas e


sentia como se estivesse em contato com o universo inteiro?

Qual seu grande objetivo de vida? O que você mais deseja? E


onde está você mesmo no meio do grande turbilhão da vida
humana?

Onde você estava quando o ser era mais importante do que o


ter?

Quem é você no mais íntimo e profundo de você mesmo?

479
A POBREZA

Alguns acreditam que ser pobre é viver destituído de bens,


serviços e necessidades fundamentais.
Quanto menos dinheiro se tem, mais pobre se é, pensam
alguns.
Mas pobreza não consiste na ausência de capital, de salário
ou de patrimônio.
A pobreza existe e se instala quando necessitamos de muitas
coisas para viver.
O pobre pode ser pobre por precisar de muito, por muito de -
sejar e por criar muitas dependências.
O rico pode igualmente ser pobre, pois mesmo tendo muito,
ainda quer mais e mais, e sente que tem pouco.
Se tens muito e sente que tens pouco, serás pobre.
Se possuis o necessário e sentes que tem muito, se rás rico.
Há muitos pobres mais ricos que os ricos.
E muitos ricos mais pobres que muitos pobres.
Pois a pobreza é desejar além do que a vida pode te dar.
A pobreza é um estado de espírito, e não a ausência de bens
e dinheiro.
É pobre todo aquele que, tendo muito, está sempre insatis-
feito.
E é rico aquele que, tendo pouco, está sempre satisfeito.
Quem considera pouco o suficiente vive sempre na infelici -
dade e insatisfação.
Quem considera o suficiente com satisfação, pode viver tran -
quilo e feliz.
Nada te satisfará se não estiveres satisfeito e em paz contigo
mesmo.
As satisfações e prazeres humanos duram bem pouco,
O júbilo espiritual e a paz interior podem durar uma eterni-
dade.
O rico que quer muito além do que possui, nada pos sui.
Vive mendigando mesmo dentro de um monumental palácio.
A maior riqueza é interior, é aquela que nada externo pode
acrescentar ou diminuir.
O maior tesouro é aquele que não pode s er destruído,
Aquele que está eternamente guardado no mais im penetrável
cofre do mundo: nosso coração.
De que nos adianta esmolar as migalhas deste mundo de
ilusão e transitoriedade?
Contenta-te com o que tens, sede feliz com o que já possuis,

480
Alegra-te com a gratuidade da vida, que nada cobra e nada
deixa faltar.
Quanto maior a tua ambição com o supérfluo, mais pobre
serás.
Quanto maior a tua felicidade com o necessário, mais rico
serás.
A maior riqueza é tudo aquilo que dinheiro nenhum no mundo
pode comprar
E que tu não venderias por coisa alguma.
Nossa família, nossos amigos, nossos amores, nossa paz,
nossas virtudes e nosso caminho espiritual.
Qualquer um pode ser tão rico quanto sua alegria espontânea
de viver
E tão pobre quanto sua carência, sua mágoa, e seus intermi-
náveis desejos materiais.
A solidão num imenso palácio pode ser maior do que a soli -
dão num pequeno casebre.
Atenta para a verdade: nunca teu vazio interior será preen -
chido por ganhos mundanos.
Preferes ser o mendigo de tudo o que você não possui?
Ou o rei de tudo o que ganhaste com trabalho duro e ho -
nesto?
Cultive a paz, a graça, a verdade e o amor,
Estes são os maiores tesouros que terás acesso.

481
PARA IR AO CÉU TEMOS QUE MORRER

“Todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer”


diz o ditado popular.

Essa frase parece bem simples, mas ela contém uma grande
verdade sobre a vida.

O ser humano, de uma forma geral, quer sempre viver no


melhor dos mundos:

Quer ser feliz, quer viver em condições muito favoráveis,

Mas não abre mão de nada para chegar nesse nível.

Como seria possível ir para o céu sem largar o humano que


somos?

Como é possível desejar ser um espírito imortal, mas não


querer largar o corpo físico que temos?

Para viver certas experiências é neces sário abandonar ou-


tras. Isso é verdade para a vida humana e também para a
vida cósmica.

Não é possível ser feliz sem nos renovar e deixar de lado tudo
aquilo que nos afunda.

Desejamos tudo ganhar, mas nada queremos perder.

Queremos viver eternamente, mas não abrimos mão nem


mesmo do nosso corpo físico atual.

Queremos ser felizes, mas não abrimos mão de tudo aquilo


que comprovadamente nos traz infelicidade.

Queremos ser livres, mas não deixamos de acumular milha-


res de coisas que nos prendem.

Queremos sinceridade, mas somos demasiadamente melin-


drosos.

482
Queremos leveza, mas não abrimos mão do peso das preo -
cupações, das obrigações, da nossa pesada bagagem de
apegos.

Queremos ser, mas não abrimos mão do ter que ilusoria-


mente dá suporte ao ser.

Queremos realizar, mas não queremos nos esforçar.

Assim é boa parte da humanidade.

Procure entender que grandes realizações exigem grandes


sacrifícios.

A lagarta que não abandona sua condição de ser ras tejante


jamais pode elevar-se ao céu em esplendorosos voos como
borboleta.

Se você quer viver eternamente, é preciso deixar de ser quem


é e se tornar uma essência que vive para sempre.

Se você quer se libertar dos sofrimentos do mundo, é neces -


sário transcender o mundo e tudo que nele gera sofrimento.

Se você quer entrar em contato com Deus, que é tudo de


mais elevado que existe, precisa soltar o apego a tudo que
existe de inferior, pequeno e transitório.

Não é possível viver com o ilimitado sem soltar os limites.

Não é possível viver na eternidade sem se prender a tempo-


ralidade e suas contingências.

Não é possível viver no ser essencial e buscar sempre ter, ter


e ter…

Se você quer uma vida real, pare de se iludir…

483
O QUE VAMOS LEVAR DESSA VIDA?

A maioria das pessoas não pensa naquilo que elas podem


levar dessa vida.

Por mais que você se esforce em manter a boa forma de seu


corpo, em se produzir com maquiagens da moda ou em tomar
milhares de suplementos para enrijecer os músculos, todo
esse trabalho terminará quando você morrer, pois você não
levará seu corpo depois da morte.

Aquele que trabalha muito para comprar o carro do ano, so -


fisticado, de última geração, deve saber que não poderá estar
com ele no além -túmulo.

Aquele que possui uma recheada conta bancária, com exce -


lentes investimentos, com boa rentabilidade, deve entender
que o dinheiro ficará aqui na Terra, e não tem qualquer va -
lor no plano espiritual.

Toda a fama humana, a reputação, o bom nome, a populari -


dade, tudo o que foi conquistado com uma ótima imagem
para os homens, pode não ter qualquer valor diante de Deus
e não nos sera útil após cruzarmos o limiar entre a vida e a
morte.

Você não pode levar sua casa, seu carro, seu di nheiro, suas
posses, seu patrimônio, nem qualquer coisa composta de
matéria perecível.

A matéria retorna a matéria. Como diz Eclesiastes (3, 20): “Do


pó viemos e para o pó retornaremos”. A terra vai absorver
nosso corpo e tudo o que um dia nos pertenceu. Todas as
coisas pelas quais lutamos, brigamos, exigimos, desejamos,
ansiamos… Tudo aquilo que nos deixou tristes ou deprimidos,
tudo isso ficará no mundo.

O que é do mundo, fica no mundo… O que é do corpo, fica no


corpo da terra, o que é material, se resolverá em seus com -
ponentes fundamentais. Tudo o que um dia possuímos será
dado.

484
Nem mesmo seus prazeres você poderá levar. As noites
impregnadas de sexo selvagem; o vinho de boa safra; as
festas com os amigos; nossos programas favoritos; nossa
comida predileta; todas as delícias e tentações desse mundo:
tudo isso ficará aqui e nada disso irá conosco ao outro lado
da vida.

Não levamos nem os prazeres e nem as dores desse mundo.


Tudo passa… e tudo será descartado na Terra, assim como a
casca da banana é solta na terra após ser consumida pelo
macaco.

Tampouco nossas emoções serão levadas. O que res tará é


apenas uma impressão, um apego, uma memória fugidia que
pode nos tornar presos ao mundo. Nosso ego se desvanes -
cerá. Nossas ideias serão des consideradas. Nosso conheci-
mento será substituído. Nossa percepção do real será dissol -
vida.

O que podemos levar então?

Você poderá levar tudo de bom que tenha feito a outras pes -
soas. Todo amor dado. Toda palavra amiga. Toda ajuda de -
sinteressada. Toda doação abnegada. Todo trabalho no bem
te trará paz espiritual profunda. Toda luz que você acendeu
no coração de outras pessoas. Toda fé que você teve ilumi -
nará seu espírito no pós -morte. Toda sabedoria disseminada.
Todas as experiências que geraram aprendizado de vida.
Toda harmonia, toda mão estendida, as ações que não espe -
ram nada em troca… toda paz transmitida. Tudo isso você
levará consigo após a sua morte.

Tudo aquilo que você deu na Terra, você terá em espírito.


Como dizem os mestres: “O que temos, deixamos. O que
somos, levamos”.

Não guie sua vida pelos valores materiais, que vão se dissol -
ver com a morte, perecer em meio ao caos da matéria ilusó-
ria. Guie sua vida pelos valores espirituais, pelos princípios
perenes… Aquelas verdades que não morrem, que não se
degradam, que serão do nosso espírito para sempre… por
toda a eternidade.

485
SEJA VERDADEIRO

Deus enxerga seu coração, não suas atitudes hipócri tas.


Deus observa seu pensamento sobre uma pessoa, e não o
que você diz a ela.
Deus entrevê sua verdadeira intenção egoísta, mesmo que
você se engane que está sendo altruísta.
Deus reconhece suas imperfeições, mesmo que você tente
acoberta-la de ti mesmo.
Deus vê a causa de sua angústia e de sua depressão, mesmo
que você não queira enxerga-la.
Deus conhece as mentiras que você conta até para ti, mesmo
quando a farsa é bem convincente aos outros.
Deus te conhece melhor do que você, mesmo quando você
procura fingir ser uma pessoa que não é.
Não adianta querer enganar a Deus ou aos outros.
A única pessoa que você está enganando, é você mesmo.
De que adianta parecer o que não é, mentir sobre algo ou
alguém,
Se no futuro, tudo será desvendado?
Seja sincero, honesto, transparente, cristalino, origi nal e au-
têntico agora mesmo…
Seja o que você é.
Ou você é o que é, ou não é nada…
É melhor ser o que se é, pois só você pode fazer isso.

486
VIDA SIMPLES

Viver com simplicidade é o caminho para ser feliz

Ser simples é sorrir diante as ondas do mar, é beber da água


do rio, é cantar com a chuva, é sujar-se na lama, é perder a
hora, é aceitar o mistério da vida.

Uma vida simples é uma vida espontânea, natural, onde dei-


xamos tudo fluir.

Na simplicidade nada nos preocupa, nada nos faz perder,


nada nos irrita, tudo segue em harmonia, tudo acontece de -
sembaraçadamente.

Ser simples é olhar o mundo e a natureza com os olhos das


crianças, com doçura, inocência e vitalidade.

O homem que vive de extravagâncias e intemperanças torna-


se um escravo do próprio peso que carrega para sustentar
seus excessos e seu orgulho.

Simplicidade é o instante que não cabe em mil pala vras.


Quem pode explicar a beleza do pôr do sol?

Os homens se debruçam sobre seus problemas em mil preo-


cupações; enquanto isso, as folhas caem, a relva cresce, o
vento sopra, o rio flui, o pássaro canta…

Quem consegue sentir a alegria de um simples momento? Da


visão da lua? Do estrondo do trovão? Da beleza do raio que
corta o céu? Ou numa nuvem cinza num dia chuvoso?

Ser simples é viver despojado de tudo o que nos prende, de


todos os fardos que carregamos. É desatar todos os nós.

Ser simples é contentar-se com a menor obra da criação e


dela retirar a alegria do momento.

Simplicidade é viver no presente sem desejar estar aqui ou


ali, no passado ou no futuro, com isso ou aquilo.

487
O homem superficial olha e não vê, faz e não sente; o homem
simples não vê, mas enxerga, não faz, mas sente.

O homem simples é feliz mesmo sem nada possuir; o homem


superficial mesmo tudo possuindo, não consegue ser feliz.

É na ausência de tudo que enxergamos melhor a nós mes -


mos e a vida; é com pouca ou nenhuma bagagem que cami -
nhamos mais rápido…

Ver a beleza no feio; ver a profundidade no vazio; ver a fé na


dúvida; ver a alegria na tristeza; entender sem que ninguém
precise explicar: assim é virtude da simplicidade.

O homem simples percebe o diferente, o novo, o belo mesmo


na mais repetitiva rotina; o homem superficial vê tudo igual,
chato e monótono, mesmo nas mais surpreendentes novida-
des.

Quem gosta de discursos rebuscados, de difícil com preensão


só expõe sua soberba.

Mas aqueles que conseguem esclarecer com simplicidade,


esses foram mais fundo no coração da vida.

A simplicidade aceita tudo como é, ao invés de sofrer pelo


que não é.

Simplicidade é liberdade, é desapego; é mergulhar de ca -


beça; é dizer não ao medo; é soltar o que está preso e aco -
lher a vida como ela é.

Seja simples… seja feliz… viva em paz… apenas viva…

488
O TEMPO DE DEUS

A plantinha começa existindo apenas como uma semente…


Cresce… e após um tempo, começa a dar seus frutos.
A Terra demora 365 dias para dar um volta ao redor do sol.
A gestação de uma criança dura nove meses e depois, um
novo ser vem ao mundo.
A Terra demorou bilhões de anos até estar pronta a abrigar a
vida.
O ser humano nasce, cresce, se reproduz e muitos anos
depois, morre de velhice,
Completando, assim, o ciclo de sua vida humana.
Há sempre um período, um tem po, uma duração para tudo
em nossa vida.
Como diz a Bíblia:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o
propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e
tempo de arrancar o que se plantou.”
Há uma máxima que diz: A natureza não dá saltos;
Tudo ocorre no momento que tem que ocorrer,
Dentro das condições que foram aos poucos sendo lapidadas
pela sabedoria do tempo.
Alguém puxaria uma plantinha do solo para ela cres cer mais
rápido?
Alguém quebra um ovo para que o pintinho nasça mais veloz?
Ninguém deve apressar o rio, ele simplesmente flui como tem
que ser.
Ninguém apressa uma criança a se tornar adulta. No tempo
certo, ela será…
Ninguém pode obrigar o sol a se pôr ao meio dia.
Ele volverá ao horizonte no tempo certo…
Colocamos um pé após o outro para poder caminhar,
Caso contrário… caímos no chão.
Da mesma forma que a natureza possui um tempo para cada
coisa,
Tudo em nossa vida tem um tempo para acontecer.
Querer apressar certas coisas, ou prolonga-las demasiada-
mente,
Pode causar algum dano, ou fazer com que nada aconteça.
Tenha paciência para colher os frutos maduros do tempo…
Cada coisa tem a sua hora; cada pessoa tem seu momento.
Deixe sua vida fluir no tempo do infinito; sem pressa, sem

489
ansiedade.
Somos luz em estado de formação; somos anjos em treina-
mento na Terra.
O ser humano nasceu, mas ainda não se completou.
Tudo se realiza no tempo que precisa.
Espere com paciência o tempo de Deus…
E não o seu tempo humano.

490
LIÇÃO DE VIDA

Um homem procura um grande sábio e lhe conta sua história.


Ele diz que existe um homem que inventou várias mentiras a
seu respeito.

Ele pergunta ao sábio o que deve ser feito com uma pessoa
que dá falso testemunho. O sábio responde:

– É simples: deve-se vencer a mentira com a verdade.

O homem ouve as palavras do sábio e resolve perguntar


outras coisas:

– E quando esse homem tem ódio de você?

O sábio responde:

– Deve-se vencer o ódio com amor.

O homem volta a perguntar.

– E quando essa mes ma pessoa age de forma injusta com


você?

O sábio responde:

– A mesma coisa: deve-se combater a injustiça com a justiça;


Deve-se combater a mentira com a verdade;
A única forma de combater o ódio é com amor;
É preciso combater a violência com a paz;
A raiva com a tranquilidade;
E finalmente… Deve-se neutralizar o mal com o bem.

O homem ouvia atentamente. O sábio completou:

– Não há outra forma de combater as mazelas do mundo.


Não adianta opor violência com mais violência, ou mentiras
com mais mentiras, ou ódio com mais ódio. O fogo só ali-
menta o fogo. É preciso dar amor àqueles que nos odeiam;
ser verdadeiros com aqueles que mentem a nosso respeito;
ser pacíficos com aqueles que nos são violentos, e seremos
muito mais felizes quando fizermos o bem àquel es que nos

491
fazem mal. Reflita sobre isso, pois esta é uma das mais sa -
gradas lições dos sábios e da vida.

492
DORMIR EM PAZ E SE ENVOLVER NA LUZ

Muitas pessoas reclamam de problemas relaciona dos ao


sono e ao sonhar. Diversos são os casos de pessoas que têm
uma atividade noturna muito conturbada, com sensações
ruins, medo, pesadelos, terror noturno, paralisia do sono e
outros entraves. Isso acontece porque durante o repouso do
corpo físico, nossos corpos espirituais s e desprendem, se
emancipam e podem ir a diversos lugares diferentes. Ge -
ralmente nossa consciência se desloca para lugares que
temos afinidade.

Muitas pessoas desconhecem isso, mas há um considerável


número de pessoas que se encaminham para as zonas do
submundo, um local de gradações cres centes de energias
negativas. Esse local é chamado de inferno pelos católicos e
de umbral pelos espíritas. A ideia de um submundo, um
mundo subterrâneo onde prevalece o mal, as paixões inferio-
res, os desejos da carne, o fogo ardente, que ficariam abaixo
da terra, é uma imagem comum a diversas tradições espiritu -
ais. Já abordamos esse tema em outros artigos, como no
texto “O que é o Umbral”. Aqueles que desejarem se aprofun -
dar podem encontrar esse artigo no blog de Hugo Lapa.

Dependendo do seu nível de consciência, a alma pode se


deslocar a zonas cósmicas que podem ser consideradas
paradisíacas, luminosas, onde prevalece o bem e a paz, ou
ela pode se deslocar as regiões inferiores do astral. Durante o
sono, a consciência se desloca e vai procurar aquilo que ela
deseja durante a sua vida. Alguns podem procurar seus pa -
rentes já falecidos. Outras pessoas podem buscar saciar seus
desejos sexuais. Outros podem ficar fugindo de pes soas ou
situações que têm medo. Outros ainda podem buscar diver-
são, ou até ficar repetindo traumas. Algumas pessoas são
atormentadas por espíritos negativos, pois buscam se envol -
ver com energias mais pesadas, e nessas zonas astrais en -
contram esses espíritos inferiores, o que pode gerar mui tos
pesadelos. Há também aqueles que realizam atividades cha -
madas de “socorristas” dentro do Espiritualismo. Esses pro -
vavelmente são em menor número, posto que a maior parte
da humanidade ainda está imersa no egoísmo e nas preocu -
pações com seus interesses pessoais e materiais imediatos.
As pessoas podem realizar tudo isso de forma consciente ou

493
inconsciente. A maior parte da humanidade não tem consci -
ência de suas ações durante o sono.

O que podemos fazer para que a projeção de nossa consci -


ência no plano espiritual possa ser útil e benéfica? E o que
pode ser feito para que desfrutemos de noites mais agradá -
veis e revitalizantes de sono? Há uma técnica muito simples,
que qualquer pessoa pode usar, que consiste em se fazer
uma oração ou uma mentalização aos espíritos de luz. Nessa
oração, a pessoa pode pedir que os espíritos de luz, os espíri -
tos mais puros e elevados, conduzam seu corpo espi ritual até
lugares ou zonas cósmicas onde ela possa ser útil, ajudando
encarnados ou desencarnados e participand o da obra dos
mestres espirituais da humanidade. Em outras palavras, é
possível pedirmos aos espíritos que levem nossa consciência
para regiões do astral onde podemos ajudar, prestar socorro,
irradiar energias positivas, e assim, nos envolver com o plano
da luz em trabalhos de auxílio ao planeta Terra e seus habi-
tantes. Dizem que a população de desencarnados do planeta
é bem maior do que a população de encarnados. Por isso, há
muito trabalho a ser feito tanto no plano físico quanto nos pla -
nos sutis.

Depois que você fizer essa oração ou mentalização, os espí-


ritos puros virão buscar seu corpo espiritual, sua consciência,
e mesmo sem conservar qualquer memória posterior dos
trabalhos, você prestará uma série de auxílios nos planos
invisíveis. O trabalho a ser realizado no plano espiritual du-
rante o sono é vasto, complexo e abrange milhares de as -
pectos que os encarnados desconhecem. Pode ser tanto
ajudar uma pessoa a não cometer suicídio, ou a sair das
drogas, quanto a ajudar os recém desencarnados a to marem
consciência de si e se acostumarem com a ideia de que mor-
reram. Caso você anseie em participar dos planos de Deus e
da espiritualidade superior em trabalhos no astral, e não ape -
nas a servir seu ego e seus interesses pessoais, antes de
dormir faça a mentalização que segue:

“Peço aos espíritos de luz, aos anjos e a hierarquia espiritual


do planeta Terra, que conduzam meu corpo astral para que
seja realizada a obra de Deus e da espiritualidade superior
em nosso mundo. Que os espíritos de luz possam u sar meu

494
corpo astral e minha consciência para o trabalho do plano
cósmico no planeta.”

A descrição acima é apenas um exemplo. Você não precisa


decora-la. Pode mentalizar ou orar com suas próprias pala -
vras.

Após essa oração ou mentalização, vá dormir. C aso seu de-


sejo seja puro e sincero, você será transportado pelos espíri-
tos de luz para realizar diversos trabalhos, mesmo que não se
recorde depois. Você será envolvido em luz e estará prote -
gido pela espiritualidade elevada. Sua consciência ficará
sempre num patamar mais elevado e seu sono será melhor.

A única exceção acontece quando, voluntariamente, a pessoa


opta em não acompanhar os espíritos de luz e decide fazer
outra coisa. Nesse caso, o espírito que não deseja se envol -
ver com a luz pode ir a zonas sombrias, ou escolher fazer
outras coisas. Por isso, de nada adianta orar com convicção
se em seu interior você deseja a obscuridade ao invés da luz.
Mas se não for esse o seu caso, seu sono será tranquilo,
revitalizante e útil ao planeta Terra e a obra de Deus no
mundo.

495
O RELIGIOSO FUNDAMENTALISTA

Há alguns séculos, havia um fazendeiro cristão, muito ligado


à religião, que interpretava de forma fundamentalista os pre -
ceitos de sua igreja. Ele era um fiel ortodoxo e gostava de
ficar sempre julgando outras pessoas. Era muito rígido em
sua maneira de ser e algumas vezes agredia verbalmente
pessoas com ideias diferentes dele. Insultava também aque -
les que ele considerava pecadores, como prostitutas, homos -
sexuais e negros. Em sua vis ão, a África era amaldiçoada.

Certo dia, caminhando por uma estrada, ele viu um grupo de


prostitutas viajando para chegar a uma cidade próxima.
Nesse momento, sentiu um ódio irracional em seu peito.
Agindo por impulso, dirigiu-se até a beira da estrada, catou
algumas pedras do chão e começou a arremessa -las nas
moças. Rapidamente elas perceberam a situação e começa-
ram a fugir. Não satisfeito, o homem correu atrás delas e
continuou atirando as pedras. Uma das pedras acertou no
joelho de uma das prostitutas e ela começou a sangrar. No
entanto, elas conseguiram se distanciar. O homem, já can -
sado, parou no caminho.

O homem pensou: “Bem feito! Dei uma lição nessas filhas do


demônio. Agora elas vão pensar duas vezes antes de voltar a
nossa cidade”.

Satisfeito com sua defesa da moral e da “família tradicional”, o


homem foi retornando pelo caminho. Queria chegar logo a
sua casa, pois já estava tarde e sua esposa já devia ter pre -
parado o jantar. Estava agora lembrando do momento da
pedrada no joelho da moça e regozijando-se de sua façanha.
Nesse momento, sem desconfiar, o homem bateu com o pé
numa das pedras atiradas por ele. Tropeçou, desequilibrou-se
e caiu fortemente no chão, batendo sua cabeça em outra
pedra atirada por ele que estava na estrada. O hom em come-
çou a sangrar, pois o impacto da pedra em sua cabeça foi
muito violento. Sentiu-se tonto e logo perdeu os sentidos,
desmaiando ali mesmo.

Nesse momento, ele começou a sonhar… Em seu so nho,


estava num campo florido muito belo, onde havia um anjo que

496
parecia estar esperando por ele. O ser angelical olhou amoro-
samente em seus olhos e disse apenas uma frase:

“Ficai sab endo, ò filho do mundo, que aquele que atira pedras
nos outros há de tropeçar nestas mesmas pedras no caminho
de volta.”

O homem acordou e estava em sua casa. Uma semana in-


teira havia se passado. Ele ficou em coma por todo esse
tempo e quase morreu. Sua esposa veio falar com ele, feliz
de ver que ele saíra do coma.

– Meu amor. – disse o homem – Faça um favor para mim.


Peça na cidade que seja feito um quadro com uma frase.

A esposa achou o pedido estranho, mas disse que sim, que


faria o quadro. Ela então perguntou que frase ele gostaria de
gravar. O homem respondeu:

“Ficai sab endo, ò filho do mundo, que aquele que atira pedras
nos outros há de tropeçar nestas mesmas pedras no caminho
de volta.”

497
DEUS E OS INTERESSES MUNDANOS

Antes de ir dormir, um homem fez uma oração a Deus pe -


dindo que sua vida melhorasse. Depois ele se deitou e foi
dormir. Assim que adormeceu, sentiu que sua alma estava
começando a flutuar. Sentiu-se rapidamente deslocado a uma
zona cósmica que ficava além das fronteiras do nosso mundo.
Viu do alto as estrelas e o planeta abaixo. Um anjo de luz
estava ao seu lado, olhou para ele e disse:

– Vou te mostrar algo muito importante sobre o pedido que


você acabou de fazer. Siga-me.

O homem e o anjo foram descendo na Terra e avistaram um


grupo imenso de pessoas. Todas essas pessoas estavam
fazendo orações, frequentando templos, fazendo cursos,
usando técnicas e realizando várias atividades. O anjo de luz
disse:

– Esse grupo de pessoas que você pode ver está buscando a


Deus em orações, templos e de outros modos apenas para
amenizar sua dor. Eles desejam que Deus faça cessar a dor
que eles estão sentindo. Assim que a dor melhora, eles es -
quecem de Deus.

O homem viu aquela cena e pôde sentir que essas pessoas


não estavam realmente buscando a Deus, mas apenas o
alívio da dor.

O anjo conduziu o homem a outro lugar, onde uma boa quan -


tidade de almas se agrupava. O anjo disse:

– Este conglomerado de pessoas busca a Deus apenas para


obter ganhos materiais. Eles oram a Deus, vão a igrejas,
frequentam cursos e realizam técnicas apenas para melhora -
rem de vida. Seja por um emprego, seja por mais conforto,
seja para obter coisas do mundo, dentre outros.

Semelhante ao primeiro grupo, o homem pôde sentir que


todas aquelas pessoas buscavam apenas as coisas do
mundo. Deus era apenas um caminho, ou um meio para obter
ganhos mundanos.

498
Depois o anjo de luz conduziu o homem a presenciar o funci-
onamento de outros grupos humanos. Um dos grupos era de
pessoas que buscavam a Deus apenas para fugir das dificul -
dades da vida e viver dentro de um mundo ideal religioso.
Outro grupo buscava Deus nas igrejas apenas como uma
válvula de escape, para fazer uma catarse e liberar as ten -
sões do dia a dia. Em outro lugar, um grupo buscava Deus
apenas para obter uma cura física. Havia também um grupo
de pessoas que buscava Deus nas igrejas e templos apenas
pela interação social com outros membros, por motivo de
carência e vazio.

O homem viu todos aqueles grupos e se surpreendeu com a


quantidade de pessoas que diziam buscar Deus e a vida
espiritual, mas que no fundo queriam apenas coisas para si.
Não queriam viver com Deus.

O anjo conduziu o homem ao último grupo. Esse era bem


pequeno, composto de uma quantidade ínfima de pessoas. O
homem perguntou ao anjo que grupo era esse tão reduzido. O
anjo respondeu:

– Esse grupo tão restrito é composto de pessoas que buscam


a Deus apenas por amor a Deus. Eles não possuem nenhum
interesse oculto, nenhuma expectativa de ganho pessoal e
não desejam nada para si mesmos. Eles perseguem o ideal
religioso puro do encontro direto com o divino sem qualquer
benefício humano.

O anjo olhou para o homem e concluiu:

– Leve isso para a sua vida. Ninguém deve buscar a Deus


apenas quando seu calo aperta, quando a ferida dói, quando
deseja alguma coisa ou quando nossos interesses pessoais
estão em jogo. Aquele que faz isso não está buscando a
Deus, está tentando enganar a Deus, mas está apenas ilu-
dindo a si mesmo. Devemos buscar a Deus, o cosmos, a
eternidade ou a fonte universal da forma mais pura e des -
prendida possível, sem qualquer expectativa de ganho.
Aquele que busca a Deus com intenção pura, vive os don s
mais sagrados que uma pessoa pode ter acesso… A felici -
dade e a paz. E essas duas coisas… não duvide, só existem
em Deus.

499
A LUZ DO ESPÍRITO

O discípulo procurou seu mestre e disse que não aguentava


mais viver essa vida. Perguntou então o que ele poderia fazer
para encontrar Deus. O mestre olhou para ele e respondeu:

– Preste atenção na metáfora que vou lhe passar. O ser hu -


mano é como uma lâmpada que se encontra eternamente
acesa. No entanto, apesar de estar sempre acesa, essa lâm -
pada encontra-se muito suja. Ela está com tanta sujeira que o
brilho da lâmpada praticamente não consegue se expressar.
A luz está lá, sempre acesa e brilhando, mas essa luminosi -
dade permanece oculta, escondida e recolhida por conta da
sujeira que está envolvendo a lâmpada. E você, meu caro, é
como essa lâmpada. Em decorrência da imensa sujeira que
prevalece em boa parte da humanidade, muitas pessoas não
acreditam na existência do espírito. No entanto, ele existe,
apesar de estar bloqueado pelas nossas impurezas.

O discípulo achou essa explicação interessante e perguntou o


que poderia ser feito diante disso. O mestre respondeu:

– A resposta é simples. As pessoas precisam lavar essa lâm -


pada. Elas precisam limpar a sujeira, purificar-se de todas as
poluições e mazelas do seu ser. As impurezas da lâmpada
impedem o brilho da luz do espírito. Para que a o espírito
emane sua luz, purifique-se de toda a sujeira.

– E o que é essa sujeira? – Perguntou o discípulo.

– Essa sujeira – respondeu o mestre – nada mais é do que o


orgulho, o egoísmo e a vaidade. Essa sujeira é a ilusão do
conhecimento. Essa sujeira é acreditar que sabemos alguma
coisa e que esse suposto conhecimento é absoluto. Essa
sujeira é nosso lixo emocional: nossa raiva, nossa ambição,
nossas ansiedades, nossas mágoas, n osso ódio, nossos
instintos primitivos e animalescos, nosso anseio pelo prazer e
nossos apegos a pessoas e coisas.

Portanto, purifique-se de toda essa sujeira; limpe-se comple-


tamente. Lave-se internamente de todos esses males que
residem dentro de ti. As sim, você não precisa fazer o espírito
brilhar. Ele já brilha por si mesmo, pois essa é a sua natureza.

500
Você deve apenas se purificar e aguardar que a chama do
espírito brote naturalmente da fonte do nosso interior. E essa
fonte… é a essência da vida, é o infinito, é Deus.

501
O ESSENCIAL E O SUPÉRFLUO

Um grupo de amigos composto de sete pessoas fez uma


viagem para um local muito bonito, com muita natureza. Eles
montaram um acampamento no meio de uma floresta com
lindas árvores. Próximo ao local havia um rio, uma cachoeira,
assim como muitos pássaros cantantes, uma mata virgem e
pequenos animais, como esquilos e macaquinhos. O lugar era
paradisíaco, tranquilo e cheio de vida.

Todos estavam muito felizes, aproveitando ao máximo a


natureza, suas belezas, o ar puro, o som da cachoeira e o
canto dos pássaros. Tudo corria bem até que, num dado
momento, um dos amigos virou-se para todos e disse que a
montagem da barraca não estava adequada ao uso. Ela de -
veria ser um pouco maior, para que sobrasse mais espaço
para colocar outros objetos dentro dela. Outro amigo disse
que a barraca estava na posição correta, pois se ela fosse
mais aberta, eles correriam o risco de rasga-la. Ambos come-
çaram a discordar e iniciou-se uma briga. A briga se estendeu
por um tempo, outras pessoas entraram na discussão, mas
depois ela se encerrou.

Após apartada a briga, um clima bem desagradável ficou


pairando no ar. Uma toalha foi colocada no chão para o início
do piquenique. Um dos amigos disse ao seu companheiro
encarregado da alimentação que ele havia trazido pouca
comida, pois a quantidade trazida não seria suficiente para
todos. O amigo retrucou dizendo que a comida era sim sufici -
ente, mas que eles trouxeram alimentos que ele não gostava.
Outro rapaz afirmou que a toalha estava um pouco suja e que
deveria ser lavada. O outro se ofendeu com essa observação
e iniciou-se outra discussão. Depois disso, outras discussões
por detalhes na organização do acampamento foram criadas,
como a melhor maneira de posicionar as barracas, qual a
melhor forma de servir o piquenique, para onde ir em busca
de comida na floresta, etc. Logo todos os sete amigos esta -
vam discutindo acaloradamente e até ofendendo -se uns aos
outros. Cada um deles queria que a organização do acampa-
mento seguisse o seu padrão, o seu jeito, e a partir disso,
vários desentendimentos foram surgindo.

502
Após três dias de disputas, discórdia, fortes discussões, al -
gumas ofensas e até agressões físicas, todos decidiram que
seria melhor ir embora e voltarem para casa. O acampamento
naquela linda floresta, com toda a natureza, os animais, os
pássaros, a água corrente, o silêncio e a tranquilidade na
companhia de amigos, tudo isso acabou indo por água
abaixo. Todos retornaram às suas casas insatisfeitos e com
raiva uns dos outros.

A vida humana é muito semelhante ao que aconteceu nesse


acampamento. A natureza nos oferece tudo aquilo que preci -
samos: todos os recursos, toda a beleza, todo o silêncio e
pode suprir todas as nossas necessidades. Mas algumas
pessoas iniciam contendas por meros detalhes, apenas por-
que desejam que tudo seja feito de acordo com seu modo de
ser, seus valores, suas crenças: como um reflexo de si
mesmo e de seu orgulho. Isso gera discussões, brigas e dis -
putas, que acabam aumentando e gerando confusões que
promovem desunião entre as pessoas. Ao invés de todos
estarem sentindo a paz da natureza, bebendo da água limpa
do rio, brincando com os animais e experimentando o contato
com a vida em sua mais pura expressão, estamos nos atendo
a detalhes e coisas sem nenhum valor, que geram disputas e
passa a destruir nossas relações e nossas vidas.

Em algum momento de nossa vida, precisamos nos pergun -


tar: Será que fazer tudo do nosso jeito, colocando nosso ego
à frente de tudo, é o mais importante? O que pode ser mais
importante para o ser humano do que viver em harmonia com
a natureza, a vida e o cosmos? O que é mais importante do
que a paz, o amor e a felicidade? Nada é mais valoroso e
sagrado do que isso. No entanto, muitas pessoas colocam
seu orgulho e seu egoísmo à frente, e por esse motivo, tudo
começa a desmoronar. Perdemos o essencial para nos con -
centrar no supérfluo: em pequenos aspectos que não têm
qualquer valor. Por esse motivo, é necessário inverter tudo
isso: precisamos buscar o essencial em primeiro lugar e dei-
xar as coisas sem valor de lado, para que possamos viver
bem, felizes e em paz na vida universal.

503
EM BUSCA DA LUZ

Era uma vez um bichinho da luz muito curioso. Ele queria


viver plenamente e ser feliz. No entanto, ele tinha o mesmo
instinto dos seus companheiros de espécie: queria ser ilumi -
nado rapidamente e por isso buscava a luz de várias lâmpa -
das onde quer que elas estivessem.

No entanto, ele começou a observar um comportamento


padrão em quase todos os membros de s ua espécie. O bichi-
nho da luz sempre via seus companheiros indo em direção à
luz de uma lâmpada de forma cega e impensada. Eles dispa -
ravam em direção à luz e, assim, esbarravam fortemente no
vidro da lâmpada. Muitos faziam isso num espaço de tempo
bem longo.

Ele começou então a perceber que a morte era o destino


inevitável daqueles que agiam assim. Eles corriam em direção
à luz, batiam com a cabeça na lâmpada e, dessa forma, co -
meçavam aos poucos a sentirem -se mal. Muitos acabavam
morrendo nesse choque e, claro, não conseguiam alcançar a
luz.

O bichinho da luz então decidiu que não seguiria esse padrão.


Ele não correria tão apressadamente ao encontro da luz, mas
decidiu que permaneceria no meio do caminho, aproveitando
os raios de luz, mas ao mesmo tempo sem correr precipitado
em sua direção. Caso ele seguisse impaciente e ávido bus -
cando a luz, o resultado seria o mesmo de seus irmãos: bate -
ria no vidro e a morte acabaria sendo seu destino inexorável.
Ele entendeu que essa conduta não era positiva, pois a busca
pela luz de forma ansiosa, irrefletida e fanática poderia levar
qualquer um dos seus irmãos à dor e à morte.

O mesmo ocorre com o ser humano. Muitas pessoas querem


encontrar logo a luz divina. Por isso, se jogam em religiões
dogmáticas que pregam estar toda a verdade contida em
seus ensinamentos. As pessoas querem encontrar Deus de
forma ansiosa e apressada e fazem isso para fugir das afli -
ções e dos sofrimentos humanos. Por isso, atiram -se em
doutrinas fundamentalistas que as fanatizam, que alegam
conhecer a verdade e que não há outra verdade fora do seu
culto.

504
O resultado é o mesmo dos bichinhos da luz. Eles correm em
direção a luz, mas não encontram a luz. Esses fiéis fanatiza -
dos acabam se deparando com a dura realidade da descons -
trução de suas crenças limitadas. Eles se chocam com a
realidade da vida e depois sofrem por não encontrarem a luz
que estavam buscando. Assim, eles acabam definhando, tal
como os bichinhos da luz ao redor da lâmpada. Essas pes -
soas perdem suas vidas fugindo da dúvida, da incerteza e
desejando chegar logo a luz. Assim acabam cultivando ilu -
sões religiosas, acreditando em falsos líderes e não resistindo
ao impacto com a dureza da realidade.

505
SOBRE AS DATAS DO FIM DO MUNDO

Amigos, de vez em quando vemos uma ou outra notícia sobre


fim do mundo. Datas e mais datas são apresentadas pelas
pessoas como o dia derradeiro em que o mundo terá seu fim.
Várias datas já foram colocadas e provavelmente outras datas
ainda virão, mas nenhuma delas é verdadeira e vamos expli-
car o porquê.

Sobre essa questão do fim do mundo, do final dos tempos, do


apocalipse, etc, é preciso esclarecer uma coisa… Não existe
fim do mundo como as pessoas entendem. Não existe um dia
ou um período determinado no qual o planeta Te rra vai sim-
plesmente acabar, deixar de existir. Isso ocorre por um motivo
muito simples. Nada, absolutamente nada em todo o universo
termina, acaba ou chega a um fim, mas tudo, sem exceção…
tudo se transforma. Aquele que observa as manifestações da
natureza pode contemplar esse modus operandi do mundo
natural, que é exatamente o mesmo para tudo o que existe.
Nada nunca termina, tudo sempre se transforma; assim como
nada começa, mas o que chamamos de começo é sempre
uma continuidade transformada daquilo que consideramos o
“fim” de algo. Dessa forma, não há início e nem fim… há
sempre transformações sucessivas.

Essa lei natural abrange também a existência dos mundos.


Um mundo jamais acaba, ele apenas se transforma. Nosso
mundo já passou por muitas transformações, mas ele nunca
acabou e nem nunca vai acabar. Os antigos conheciam essa
verdade e a tratavam como uma realidade incontestável. O
mundo segue em ciclos, sejam eles maiores ou menores.
Nesses ciclos há sempre contrações e expansões, há confli -
tos e apaziguamentos, há destruições e reconstruções, há
sempre o fim de algo e o início de outra coisa, mas esse fim e
início nada mais são do que uma transformação. Há o aban -
dono do modo antigo e há a adesão ao novo. Há o ponto de
mutação e há depois o ponto de estabilidade e ambos se
harmonizam e se completam. Toda ordem natural segue essa
lei de transformações regidas pelos ciclos. Quando o dia
termina vem a noite e quando a noite chega ao seu auge, um
novo dia nasce. O mundo não terminou ao final de um dia,
mas apenas nasceu um novo período. O mesmo ocorre na

506
passagens das estações, do ano, dos séculos, dos milênios e
das eras.

Cada tempo passado assinala uma fase que é deixada para


trás, consolidando o fim “daquele mundo” e anunciando o
início do “próximo mundo”. O mundo tal como era antiga-
mente já se foi, já não existe mais. O mundo que conhecía -
mos da década de 50, por exemplo, já não existe mais. Hoje
esse dia esse mundo morreu para dar lugar a um novo
mundo, que nasceu e agora está em voga. Por mais que no s
esforcemos, nunca mais o mundo será como era na década
de 50. Por mais nostálgica que for uma pessoa, ela jamais
conseguirá viver novamente da mesma forma que vivia nos
anos 50. Isso ocorre simplesmente porque o mundo dos anos
50 já não existe mais, já m orreu, já pereceu e deu lugar a um
outro mundo. Mas até mesmo esse mundo que vivemos
agora está morrendo e renascendo a cada momento, e isso
demonstra que nada é permanente… nem no mundo e nem
em nossas vidas. Tudo sempre está em movimento, em
transformação, em revisão e em nascimentos e mortes su-
cessivos, assim como nós mesmos. Por isso, não podemos
falar em “fim do mundo”, mas sim no fim do mundo como
existia antes ou como o concebemos no passado. A cada
momento morre um mundo e nasce um outro mundo. A cada
ano morre uma primavera e nasce um verão, e assim vai
trascorrendo eternamente.

A pergunta que cabe aqui é: mas será que um dia nosso


planeta não será destruído completamente? A resposta é:
sim, um dia, o “corpo físico” do nosso planeta será destruído ,
assim como nosso próprio corpo físico um dia retornará a
terra e se resolverá em seus componentes fundamentais. Mas
o que acontece com nosso corpo físico quando morremos é o
mesmo que ocorre com o corpo físico da Terra quando ela
perecer. Quando nosso corpo morrer, nosso espírito vai se
libertar e passará a existir em outra dimensão. Agora pode -
mos afirmar que o mesmo processo ocorrerá com o planeta
Terra: quando o corpo físico da Terra, nosso planeta físico,
perecer, a alma da Terra se libertará deste corpo de matéria
planetário e a alma da Terra passará a existir em outra di -
mensão. O planeta físico e material será destruído, mas a
alma da Terra, o espírito planetário, esse continuará a existir
em outro plano. É assim com os seres humanos e com os

507
mundo; é assim também no nível macro tal como no nível
micro.

Por isso, quando falamos de fim do mundo, estamos sempre


falando de uma transformação, de uma passagem de um
estado a outro de existência. É uma pena que muitas pessoas
ainda cultivem a ideia de um fim definitivo para nosso mundo
e fiquem propagando tais equívocos. Nenhuma data estará
correta, posto que ninguém sabe exatamente quando se dará
uma transformação em nível planetário. As pessoas nem
deveriam se preocupar com essas questões, até porque
quando chegar o momento de partirmos deste plano ou até de
deixarmos a Terra, isso será feito e nada poderá ser feito para
mudar isso tentando nos salvar fisicamente.

A ideia da “salvação” de que fala a bíblia e outros textos sa -


grados e mestres espirituais não é a salvação do corpo, mas
a salvação da alma. É a alma que deve ser salva no “final dos
tempos”, e esse “final dos tempos” é agora mesmo, pois ele é
o momento em que vamos fazer a transição para uma nova
consciência, aderindo a uma nova era de paz e fraternidade.
A verdadeira salvação é a tomada de consciência do espírito
que somos. Quem despertar para isso, não provará mais a
morte e tampouco precisará se preocupar com o fim do
mundo.

508
MEDO DA MORTE

Um mestre estava reunido com um grupo de discípulos.


Nesse momento, chega um homem e pergunta:

– Mestre, por que as pessoas têm medo da morte?

O mestre olha para o homem e responde:

– A resposta é simples: o medo da morte nada mais é do que


o medo da vida. As pessoas têm medo da morte po rque tem
receio de não viverem suas vidas.

– Como assim mestre? – Perguntou o homem.

O mestre responde:

– Sim, preste atenção… Aqueles que passam a vida com


medo de não viverem suas vidas sempre temem a morte. Por
outro lado, aqueles que tiveram uma vida plena, em que con-
seguiram realizar tudo o que gostariam, esses não temem
perder suas vidas, pois suas vidas já foram vividas da forma
como tinha que ser.

Imagine um homem que desde o início da sua vida foi sempre


ele mesmo. Ele não vestiu máscaras, não fugiu de si mesmo
e da vida; não perdeu oportunidades; não evitou suas emo -
ções; seguiu sempre em frente, sem ficar preso ao passado e
viver apenas de sonhos, mas experimentando o real como ele
é. Viveu os amores que gostaria e entregou-se a vida. Mesmo
muitas coisas dando errado, viveu sempre aquilo que buscou.
Teve uma vida completa e viveu intensamente suas possibili -
dades, ou seja, aquilo que ele era dentro de si mesmo. Esse
homem atinge a terceira idade com a sensação de ter expe -
rimentado tudo aquilo que poderia; ele viveu plenamente a si
mesmo e as experiências do mundo.

Ao lançar o olhar sobre o passado e ao sentir seu presente,


esse homem sente-se satisfeito com tudo o que vivenciou.
Por esse motivo, ele não teme a morte; não tem mais medo
de morrer pelo simples fato de que ele viveu plenamente a
sua vida; viveu o que precisava viver.

509
Por isso dissemos que o medo da morte é o medo da vida.
Quem passa sua existência com medo da viver, acaba não
vivendo. Por não viver plenamente, fica com medo de mo rrer.
O medo de morrer vem do medo de não ter experimentado
sua vida da melhor forma possível. Nesse caso, há uma sen -
sação que algo está faltando, que ele ainda precisa fazer
algumas coisas, que ele ainda não realizou o que gostaria.
Ele então passa a tem er uma morte que venha a ceifar uma
existência que ele não conseguiu aproveitar, mas que ainda
deseja viver.

Muitas pessoas perdem suas vidas em casamentos já fracas -


sados; em profissões que detestam apenas para ganhar
dinheiro; deixam as oportunidades es corregarem entre seus
dedos; perdem pessoas importantes por uma questão de
orgulho puro; perdem suas vidas quando começam a viver
apenas em função do outro; perdem excelentes chances de
serem felizes pelo simples medo de se arriscarem e algo dar
errado. Essas pessoas que passam toda uma existência com
medo de viver sempre terão dentro de si mesmas um irreme -
diável medo da morte. E a única cura para o medo da morte é
a vivência de sua própria vida.

O homem apreciou a resposta. O mestre concluiu:

– Aqueles que vivem suas vidas, não temem a morte. Dessa


forma, dizemos que o medo da morte é o medo da vida. O
medo de morrer vem do medo de viver. O homem que vive
temendo mergulhar na vida, é como se já estivesse morto. Ele
não vive… ele apenas existe. Por isso, nunca devemos per-
der a oportunidade de viver e nem permitir que o medo se
instale dentro de nós e bloqueie nossa entrega diante da vida.
Assim, aquele que vive bem a sua vida nunca mais temerá a
morte. Por não temer a morte, viverá plenamente e será mais
feliz.

510
PEDINDO AJUDA A DEUS

As religiões ensinam que devemos pedir ajuda a Deus e que,


se tivermos fé, Deus virá em nosso auxílio.

A espiritualidade já nos ensina algo diferente. Podemos pedir


a Deus uma ajuda, uma benção, um milagre, mas Deus nã o
vai resolver nada por nós. Como diz o ditado popular: “A única
coisa que cai do céu é chuva e meteoro.” O que Deus pode
fazer por nós? Embora a maioria das pessoas não queira
admitir… Deus vai apenas nos ajudar para que nós mesmos
possamos nos ajudar.

Deus nos ajuda a que nós mesmos nos ajudemos. Deus cria
as condições para que possamos olhar dentro de nós e en -
contrar a solução. Deus não faz por nós… Se Deus, os anjos,
os bons espíritos, etc, nos dessem a solução, que mérito
teríamos? Podemos resolver as equações de matemática
para um aluno, ou vamos ensina-lo a que ele mesmo possa
chegar a um resultado?

Deus faz com que nós mesmos façamos aquilo que somente
nós podemos fazer. A inteligência infinita nos proporciona os
meios que para nós mesmos possamos chegar a uma solu-
ção, a um milagre, a uma cura, a um insight, etc.

Por isso, quando você pedir ajuda a Deus, peça assim:

“Deus, me ajude a que eu mesmo possa me ajudar.”


Essa é a melhor ajuda que Deus pode te dar e essa é a me -
lhor coisa que você mesmo pode realizar por ti.

511
MERECIMENTO E ENTREGA

Tenha certeza disso:

Nada do que nos acontece é por acaso.

Tudo o que nos chega, de bom e de ruim, é porque a pessoa


precisa ou merece.

Não há nada em todo o universo que aconteça com uma


pessoa que ela não mereça.

O próprio universo seria destruído caso algo saísse do lugar.


Tudo, absolutamente tudo o que ocorre em sua vida é porque
você merece que isso ocorra com você. Não necessariamente
porque você seja uma pessoa ruim, mas porque você precis a
dessas experiências para sua elevação espiritual e sua liber -
tação.

Se algum dia você não merecer mais algo de ruim que chega
até você, pode ter certeza que essa negatividade vai embora.
Mas enquanto ela ainda está com você… ela é necessária e
vai te ajudar em seu progresso espiritual.

Não se esqueça, como se diz no Novo Testamento: “O amor


cobre uma multidão de pecados”.

Quem ama adquire o merecimento e não precisa mais ficar


preso ao vale de lágrimas da existência humana sofrendo,
errando, nascendo e morrendo em centenas de vidas.

Se algum forte karma chega até você, aceite essa provação…


Entregue tudo a Deus e diga “Deus, entrego a Ti minha vida.
Aceito essas experiências, pois sei que elas vem para me
transformar, para elevar e purificar meu espírito”.

Quem entrega tudo a Deus, confia na sabedoria infinita do


cosmos, não reage, não se revolta, e apenas vive aquilo de
forma indiferente e sem preocupações, vai aos poucos alte -
rando seu karma. É nesse ponto que a transformação do
nosso ser se inicia.

512
Mesmo que você perca tudo, entregue a Deus… Deixe que a
inteligência infinita do plano divino guia sua vida. Nada se faz
sem Deus. O cosmos é ordenado e harmonioso. Tudo tem um
plano perfeito. Basta que você se sintonize com esse propó -
sito divino e permita que as coisas fluam em sua vida. Esse é
o momento onde o ponto de mutação se inicia…

513
QUAL O TAMANHO DO SEU MUNDO?

Para o vírus, o universo inteiro se resume apenas a uma


microscópica célula. Ele não consegue ver ou enxergar nada
além daquela célula. Por isso, para ele, o todo é a célula.

O mesmo ocorre com a bactéria. Todo o universo se resume


apenas a um tecido de um outro organismo. Para a bactéria,
não há nada que esteja fora daqueles tecidos. Sua percepção
do real é microscópica e enxerga apenas seu meio ambiente
imediato.

Para o vegetal nada existe além da terra, da chuva, do seu


meio e da luz do sol que o banha quase todos os dias.

Para o peixe de água doce, o universo inteiro é o rio onde ele


nada e faz a sua existência. De acordo com a percepção do
peixe, só existe a vida na água. Ele não consegue conceber
algo fora da água e nem conhece coisa alguma além do rio
onde vive. O universo inteiro é o rio e também a água onde
ele nada, se alimenta e convive com outros peixes.

Para a formiga que vive debaixo da terra, toda a existência


nada mais é do que caminhos e trilhas do subsolo. Para a
minhoca ocorre o mesmo. A terra em que ela percorre se
alimentando e fazendo caminhos subterrâneos é todo o uni -
verso. Nada existe além do subsolo e o todo, para a minhoca,
é a terra.

A onça crê que só existe a floresta, os rios e a terra. Todo o


universo se resume a floresta e aos animais que lá vivem. As
árvores e as plantas fazem parte do seu cenário de vida. Mas
nada há além da floresta e do que nela contém.

O mesmo ocorre com o gato que vive num apartamento; com


o cachorro que mora numa casa e passeia na vizinhança;
assim também é com todos os animais. Eles vivem para seu
ambiente imediato. Seu ecossistema é, para eles, tu do o que
existe. Em sua visão, nada há depois, simplesmente porque
eles não enxergam além das fronteiras conhecidas.

Da mesma forma que o vírus, a bactéria, a árvore e os ani -


mais, o ser humano acredita que o universo é apenas aquilo

514
que ele capta da vida humana. Ele crê que o todo se resume
a sua família, seu trabalho, o trânsito, o dinheiro, as viagens,
o conhecimento, sua personalidade, etc.

Aqui podemos indagar: qual o tamanho do seu mundo? Essa


é uma pergunta que todos deveriam se fazer. A maioria acre-
dita que enxerga tudo, sabe tudo, que suas crenças e seu
mundo é o mais correto e mais verdadeiro.

O homem já pode entrever alguma coisa fora do seu planeta,


mas ele ainda crê que é o senhor da criação e que nada
existe além dele. O ser humano é semelhante ao vírus que
supõe ser a célula o centro do universo. Para o vírus, ele
próprio é o senhor da criação, pois domina a célula que é tudo
o que existe.

Para o ser humano, ele domina o planeta e já vê fora do pla -


neta; ele se crê, pois, o senhor da criação. No entanto, seria
mais correto dizer que ele é o senhor de sua própria criação,
mas talvez nem isso seja verdade, posto que a ilusão que ele
criou do seu mundo é irreal e um dia vai se dissolver.
O mundo é como sua célula e nada existe além do alcan ce de
sua visão. Não será nosso mundo tão ínfimo diante do todo
quanto é ínfima a célula para a percepção humana?

O ser humano considera os limites de sua percepção como


reais e acredita que, se ele não capta, é porque não existe.
Vive aprisionado ao seu próprio egocentrismo e prepotência.
Todo ser é egocêntrico em relação aos limites de sua percep -
ção que ele crê ser total e universal. Ao invés de buscar ir
além, o ser humano prefere tentar controlar e se prender ao
que já conhece, pois assim sente-se mais seguro diante do
imenso abismo de incertezas da existência universal.

Da mesma forma que o vírus nem desconfia que há algo além


da célula, o ser humano tampouco suspeita o que pode existir
além de sua percepção. Como diz o ditado: “Para o martelo,
todas as coisas são pregos”. Para o ser humano, todas as
coisas são apenas o que ele percebe. Mas nossa percepção
pode ser tão pequena, tão diminuta quanto a percepção do
vírus é diante da célula. O planeta pode ser tão pequeno
quanto uma célula, ou um átomo, diante do todo, do infinito.

515
O que há depois das fronteiras conhecidas? Podemos ser
nada além do que uma poeira cósmica, tão insignificantes
quanto um vírus ou uma bactéria, mas acreditamos que de -
temos todo o poder dentro dos rígidos limites do nosso parco
conhecimento.

Não pare onde você está; não creia que o universo se limita a
sua percepção; pare de viver no seu mísero mundinho; não
acredite na ideia do “Se eu não vejo, não existe”. Há todo um
infinito além, esperando para ser explorado. Não se detenha
no seu ínfimo canteirinho. Continue seguindo para desvendar,
passo a passo, a escada infinita da existência universal.

516
PARA QUE PEDIR ALGO A DEUS?

A maioria das pessoas ora a Deus pedindo alguma coisa.


Suas orações sempre s e focam naquilo que elas desejam
obter da vida. Cada pessoa que ora a Deus tem um desejo e
sua prece se direciona quase sempre a pedir que Deus sa -
tisfaça as nossas vontades individuais. No entanto, quando
paramos para analisar a natureza de Deus, observam os o
quanto o ato de orar apenas pedindo é algo fútil e sem sen -
tido. Para entender esse ponto, vejamos o que todos concor-
dam a respeito do Criador.

Deus é, para todos os efeitos, onisciente, onipresente e oni -


potente. Isso significa que Deus tudo sabe, tudo vê, tudo
alcança, tudo pode e em tudo está presente. Não há qualquer
espaço no universo, por menor que seja, que Deus não esteja
presente; não há qualquer coisa que Deus não saiba; não há
qualquer acontecimento que Deus não possa mudar ou que já
não o tenha guiado; não há, tampouco, qualquer coisa que
Deus não tenha conhecimento. Assim, Deus sabe de tudo,
pode tudo e está presente em tudo. Se Deus é infinito, eterno
e perfeito, Ele também é onipresente, onisciente e onipotente.
Quanto a isso não há qualquer dúvida. Se Deus não tivesse
esses atributos, Ele simplesmente não poderia ser Deus; não
seria a causa suprema de tudo, mas seria um mero efeito da
Criação.

Diante desses fatos incontestes, é possível afirmar que Deus


sabe tudo a nosso respeito. Des de o nascimento até a nossa
morte: todos os fatos, todos os nossos pensamentos, enfim,
tudo o que existe a nosso respeito Deus é 100% ciente. Deus
conhece tudo, até mesmo aquilo que desejamos ocultar de
nós mesmos. Ele sabe não apenas tudo sobre nós, mas tudo
sobre tudo, já que o Criador é onisciente.

Nesse âmbito, podemos fazer uma simples pergunta: se Deus


é onisciente e tem o conhecimento infinito sobre absoluta -
mente tudo em todos os níveis, por que é necessário pedir
algo a Deus? Deus, em sua infinita sabedoria, já sabe, muito
antes de nós, tudo aquilo que precisamos. Deus sabe tudo o
que precisamos e tudo aquilo que merecemos receber. Ele
sabe o que é melhor para nós infinitamente mais do que nós
mesmos. Ele sabe de todas as nossas necessidades, sabe

517
tudo o que nós podemos receber e tudo o que pode nos pro -
porcionar os melhores frutos espirituais. Ele sabe tudo o que
pode trazer paz e felicidade verdadeira em nossas vidas e na
vida do nosso espírito.

Se é assim, para que pedir algo a Deus? É possível que


exista algo que Deus não saiba? Não, não é possível. Se
Deus é onisciente, onipresente e onipotente, Ele sabe tudo a
nosso respeito e sabe até mesmo o que vamos pedir. É pos -
sível pedir que Deus veja algo sobre nós que Ele pode não
estar vendo? Também não é possível. Se Ele é onipresente,
já está vendo tudo, absolutamente tudo, e não há nada que
Ele não possa enxergar a nosso respeito. Não há qualquer
possibilidade de Deus deixar de ver algo, deixar de saber
algo, deixar de reconhecer alguma necessidade nossa. Deus
já nos dá tudo o que precisamos, pois Ele já sabe tudo. Se
Deus não visse algo a nosso respeito, Ele não seria Deus.
Esse Deus que precisa ser informado sobre os assuntos
humanos e suas necessidades seria um Deus muito fraco,
muito limitado. Ele não seria onisciente, nem onipotente e
nem onipresente. Não seria perfeito , eterno e infinito. Que
Deus seria esse senão um falso Deus, um Deus imaginário
que foi criado pela mente humana? Seria um Deus ilusório
criado como uma necessidade humana para aliviar nosso
sofrimento.

Diante de todas essas reflexões, qual o sentido das súplicas a


Deus? Qual o sentido de pedir coisas? Será que, em nossa
ingenuidade, acreditamos mesmo que Deus não saiba algo, e
que nós saibamos mais do que Deus aquilo que nós me smos
precisamos receber? É como se disséssemos: Deus, eu pre -
ciso disse, você não viu o que eu preciso? Ou então: Deus,
olha eu aqui sofrendo. Você ainda não viu que eu estou so -
frendo? Ou ainda: Deus, olhe pelo meu filho. Você não perce -
beu, Deus, que meu filho precisa de ajuda? Todas essas
súplicas desconsideram a natureza real e infinita de Deus. Se
Deus ainda não nos curou, não nos libertou do sofrimento,
não nos deu uma casa, não nos fez ganhar dinheiro, é porque
precisamos justamente da falta para nos elevar espiritual-
mente.

Dessa forma, Deus sempre… sempre nos dá aquilo que nós


precisamos. Mas nós desejamos instruir a Deus sobre aquilo

518
que é melhor para nós. Nós desejamos declamar nossas
pequenas verdades dizendo: “Deus, olhe meu sofrimento, eu
preciso de cura, eu preciso de alívio, eu preciso de dinheiro,
eu preciso da solução do problema do meu filho”. Orando
dessa forma, estamos negando a onisciência de Deus; esta -
mos negando a onipotência de Deus; estamos negando a
onipresença de Deus. O Eterno já sabe que estamos so-
frendo, já sabe que estamos doentes; já sabe que nosso filho
está imerso nas drogas. É preciso entender que Deus não
nos dá aquilo que desejamos, Ele nos dá aquilo que precisa -
mos, que necessitamos de fato para a nossa evolução espiri -
tual. Da mesma forma que um pai não dá o doce que seu filho
pede, mas lhe dá legumes e verduras. De igual maneira,
Deus… a consciência infinita e eterna, não nos dá aquilo que
gera prazer, conforto e estabilidade de nível humano e mun -
dano. Deus, que tudo sabe e tudo vê, sempre, sem exceção,
nos concede aquilo que é mais importante para o nosso de -
senvolvimento espiritual.

Portanto, pedir algo a Deus não tem sentido, não tem utili -
dade, é algo infantil e sem propósito. Jesus nos deixou o
melhor exemplo do que deve ser feito em situações extremas.
Ele orou a Deus e disse:

“Pai, que seja feita a Tua vontade, e não a minha”. Vamos, a


partir de agora, seguir este sagrado ensinamento do Cristo.

519
MENSAGENS SOBRE BEM E CARIDADE

A JOIA DA CARIDADE

Alberto era um homem muito bondoso. Estava andando pela


rua, quando viu um mendigo passando fome. Alberto então
sentiu seu coração se aquecer de compaixão pelo ser hu -
mano que estava ali, a sua frente, em estado de completa
necessidade e decidiu lhe dar uma joia que ganhara de seu
falecido pai, que valia muito dinheiro.

O mendigo ficou muito tocado pela atitude daquele homem e


pensou: “Este homem nem me conhece e me deu uma joia de
extremo valor sentimental”.

Quando o mendigo foi numa joalheria trocar a joia por di-


nheiro, soube que o dono da joalheria tinha uma doença
muito grave, e não tinha dinheiro para pagar a cirurgia e o
tratamento médico. O mendigo compadeceu-se do homem e,
num ato de desapego, deu a joia ao joalheiro, que em troca
lhe deu comida por duas semanas.

O joalheiro pegou a joia e sentiu muita compaixão, pureza e


desapego. Após um tempo fez exames de saúde e percebeu
que havia se curado completamente da doença. Decidiu
então dar a joia a alguém necessitado.

Cada pessoa que recebia a joia se sentia tocada com aquela


atitude de pureza e benevolência, e sentia -se inspirada a
fazer o mesmo a outra pessoa: a doar aquela joia que parecia
ter se tornado um símbolo de fé e desapego.

Muitas pessoas receberam e doaram a joia. Certo dia, Al-


berto, o dono original da joia, estava andando pela rua e foi
atropelado por um carro. Muitas pessoas foram socorre -lo.
Um homem em particular percebeu a dor de Alberto e sentiu
compaixão por ele. Colocou a mão no bolso, tirou algo e dei-
xou em sua m ão. Alberto fez um esforço e ficou muito sur-
preso ao contemplar, na palma de sua mão, a joia de seu pai
que há mais de 1 ano havia dado a um mendigo na rua. “Isso

520
te ajudará a pagar todo o serviço médico após o acidente”,
disse o estranho. Após tanto tem po, a joia dada havia agora
retornado a ele mesmo, justamente na hora em que mais
precisava. Alberto começou a chorar e pensou:

“Como são perfeitos os planos de Deus”.

No momento em que doamos algo, com o necessário des -


prendimento, criamos uma corrente de bem e luz que benefi-
cia a outras pessoas. No entanto, após um tempo, essa ação
acaba sempre retornando a nós das mais variadas formas.
Ninguém deve ter medo de dar ou doar-se ao próximo, pois
nossos esforços sempre tocam as pessoas e criam um
mundo melhor que beneficia a todos, inclusive a nós mesmos.

521
A CHAMA SAGRADA

Os anjos, arcanjos e querubins mais elevados na es cala


angélica estavam começando a ficar preocupa dos com a
situação trágica do nosso mundo.

A humanidade passava por muitas guerras, fome, doenças,


sofrimento, desespero e vazio espiritual. Foi então que decidi -
ram recrutar anjos iniciantes para dar conta de realizar todo o
trabalho do plano divino na Terra. Mas antes de estrear
suas tarefas nas plêiades angélicas do bem, os anjos nas -
centes deveriam passar por uma prova a fim de demonstra -
rem suas capacidades. Analogamente aos estudos humanos,
uma espécie de prova final para poder cursar a série se -
guinte.

Um dos anjos iniciantes deveria então atravessar uma prova-


ção, uma iniciação ao reino angélico, que o faria galgar ao
status de Anjo do Senhor. Ele estava ansioso por se tornar
logo um anjo e começar sua jornada no bem, mas antes pre -
cisava provar a sua glória e sabedoria. Após o início da pro -
vação, vários arcanjos, serafins e querubins se reuniram e
invocaram o gênio do fogo, que trazia a chama sagrada para
o aspirante a anjo. Os anjos pediram ao aspirante que colo -
casse suas mãos em forma de concha e esti vesse pronto
para receber o fogo divino.

Nesse momento, o Gênio do fogo concedeu uma parcela do


fogo sagrado ao aspirante, sem que a chama do gênio se
apagasse. O gênio foi embora e os anjos disseram: “Esta
chama representa a luz da sabedoria, que ilumina as trevas e
dá alento a vida espiritual das almas. Agora vá seguindo o teu
caminho e faça o uso desta chama sagrada, desta luz divina
como você achar melhor”.

O aspirante a anjo viu uma estrada se abrindo a sua frente e


foi seguindo por um caminho bastante es curo. Esse caminho
representava boa parte da atmosfera espiritual do nosso
mundo; um clima es curo, pesado e hostil. Mesmo percorrendo
esse caminho de trevas, ele sentia-se bem e orientado, pois
enxergava tudo a sua volta com clareza e lucidez graças a
chama que carregava em suas mãos. Foi então percorrendo
por estradas e vales, e no caminho começaram a aparecer

522
várias pessoas necessitadas, carentes e em sofrimento, lhe
pedindo um pouco da luz da chama. Conforme as pessoas
iam passando e pedindo luz, ele ia dando um pouquinho da
chama sagrada a cada alma carente. Foi prosseguindo e mais
e mais pessoas vinham a ele e pediam um pouco da chama
em suas mãos.

No entanto, o anjo observou que, após algum tempo, quanto


mais dava o fogo sagrado que iluminava seu caminho, mais a
chama ia diminuindo de tamanho. O anjo aspirante deu mais
algumas porções de luz e agora caminhava apenas com uma
pequena faísca, e quase não podia ver o caminho. As trevas
começavam a tomar conta de tudo, e ele sentiu um certo
temor. Então iniciou-se um diálogo interno “Devo dar a última
faísca de luz que ainda possuo? Não seria melhor guardar
essa porção luminosa para que eu também não mergulhe
nessa escuridão aterradora?”. Com a possibilidade de perder
sua última partícula do fogo, que o aquecia e iluminava nas
densas trevas que percorria, ele começou a cogitar ficar com
a faísca, mas ainda estava em dúvida.

Este dilema foi sufocando o aspirante conforme ele seguia


sua jornada. De repente, surgiu uma velha senhora a sua
frente, e lhe pediu a luz que sobrara. O anjo titubeou, refletiu,
lembrou-se dos ensinamentos espirituais, e num ato de sacri-
fício e desapego, deu sua última parcela do fogo, o último
ponto luminoso que restara. Ficou então em escuridão total.

Eis que, dentro de si mesmo, começou a brilhar uma chama,


a mesma chama sagrada que havia recebido do gênio do
fogo na presença dos anjos. Sentiu uma espécie de calor sutil
em seu peito, e notou que o fogo, que antes estava em sua
mão, começara a nas cer de dentro dele; seu próprio interior
era agora a fonte da chama sagrada. Nesse momento, tudo a
sua volta começou a ficar maravilhosamente iluminado e
aquecido.

Percebeu então que, ao seu redor, estava rodeado de um


coro repleto de centenas de anjos que acompanhavam todos
os seus passos, do início ao fim desta jornada. O aspirante
entendeu que os anjos jamais o abandonaram, mas estiveram
ali o tempo todo, zelando por ele e observando suas reações

523
diante do desafio imposto. O Anjo do Senhor proferiu as se -
guintes palavras:

– Venceste a prova do egoísmo e entregaste tudo o que lhe


restava da chama sagrada da sabedoria para quem lhe pediu,
mesmo tendo a impressão que ficaria sem ela. Se o egoísmo
tivesse vencido, cairias neste vale escuro e ficarias sem luz,
tal é o estado de boa parte da humanidade. Confiaste em
Deus e provaste a ti mesmo que quem se entrega completa-
mente no caminho do bem, jamais fica desassistido e sem
luz. A chama sagrada, que antes era exterior a ti, agora arde
em teu próprio interior, pois demonstraste a superação diante
do egoísmo que impera em quase toda a humanidade. Ob-
serve que todos nós, anjos, arcanjos e todas as hostes celes -
tiais, possuímos uma chama sagrada em nosso coração. Da
mesma forma que uma vela, ao acender outra vela, não perde
a sua chama, também os seres humanos e os anjos, qua ndo
transmitimos nossa luz, não a perdemos, ao contrário – a luz
só se expande. Vamos acendendo a luz de cada pessoa com
eles. Quanto mais damos sabedoria e amor, mais eles se
intensificam. A sabedoria e o amor são diferentes das coisas
materiais. Quando damos um objeto a alguém, ficamos sem
ele. Mas quando doamos amor e sabedoria, não os perde -
mos. Agora possuis algo que nenhum ladrão pode roubar;
que ninguém pode destruir; que as correntezas do tempo não
degradam. Podem levar tudo de ti, até mesmo tua vida física,
mas a sabedoria e o amor, jamais pode ser perdida. Cuida
apenas, como disse Jesus, em não dar pérolas aos porcos.
Mas distribua tua luz entre todos, sempre dentro de capaci -
dade individual de cada pessoa em acolhê -la. Agora final-
mente és um anjo na Terra.

524
SEMEANDO O BEM

Há alguns anos conheci uma pessoa chamada Valé ria. Essa


moça realmente me surpreendeu pela sua alegria de viver,
seu sorriso contagiante, sua energia e pelo caráter quase
imperturbável de suas emoções. Valéria estava sempre de
bom humor. Mesmo nas piores fases de sua vida ela conse -
guia manter uma rara equanimidade, difícil de encontrar nos
seres humanos.

Certa vez resolvi perguntar a Valéria qual era o se gredo de


tanta alegria e disposição, e sua resposta me surpreendeu,
ela disse: “Meu querido, sempre que alguma circunstância
desagradável, hostil, penosa ou desfavorável me acomete, eu
procuro abençoar aquela situação e envio amor a ela”.

Esse comportamento de Valéria muito me surpreendeu, pois


nunca tinha ouvido falar de alguém que “abençoasse” um
acontecimento ruim. Ela exemplificou para que eu pudesse
entender melhor: “Quando algo negativo me acontece, eu sei
que isso tem um propósito, e por isso eu mentalizo a situação
e envio energias boas e positivas para ela. Quando fui demi-
tida, eu enviei amor e paz a essa situação; quando fui traída,
eu enviei o bem e o amor a essa pessoa; quando eu fiquei
sozinha, eu enviei bem, amor paz e tranquilidade a isso, e
sempre me sentia bem e em paz”.

Valéria me explicou como fazia: “Vejo uma luz branca ao


redor de todo aquele contexto ou daquela pessoa, e isso me
faz sentir muito melhor. Eu passo a irradiar amor e agradeci -
mento pelo mal que chega até mim, e aí está o mais impor-
tante, pois quando eu vibro o bem para uma situação ruim,
ela passa a ser boa, e consequentemente, eu me sinto muito
melhor”.

Houve uma ocasião em que Valéria foi roubada e agredida


por um ladrão na rua. O ladrão roubou boa parte do seu salá -
rio. Ela ficou triste com isso, mas chegou em casa e com eçou
a vibrar positivamente ao agressor. Mentalizou que as bên -
çãos de Deus des ciam sobre ele e que o homem se arrepen-
dia do que fez. Valéria também usou a frase de Jesus, que
dizia “Pai, perdoa-o, pois ele não sabe o que faz”. Logo após
irradiar o bem ao ladrão, Valéria se sentia tranquila, despreo-

525
cupada, sem raiva e com quase nenhuma tristeza mais. Ela
repetia esse procedimento algumas vezes e depois de um
tempo ficou se sentindo bem melhor.

Para mim, qualquer pessoa que fosse roubada e agredida po r


um ladrão ficaria triste, com raiva, irradiando ódio ao ladrão,
mas Valéria fazia justamente o contrário. Em vez de pensar o
mal e com isso alimentar o mal, ela pensava o bem àquela
pessoa e isso parecia neutralizar todo o mal e as emoções
ruins.

Ela me dizia “Isso é algo que qualquer pessoa pode fazer. O


que é do outro, deixe com ele… Você não precisa ficar com o
mal que não lhe pertence. Por isso, irradie o bem mesmo a
quem te fez muito mal. O resultado disso é o bem que nas -
cerá de dentro de ti, te libertando-te de todo o mal”.

Depois de um tempo de convivência, comecei a imi tar esse


método da Valéria. Abençoava o mal que me faziam, abenço -
ava as situações ruins, e via tudo ficar bem, harmonizado e
tranquilo. O resultado foi um sentimento de bem es tar e sere-
nidade que há muitos anos eu não sentia. Por isso, comecei a
fazer isso sempre, e hoje ensino as pessoas a realizar esse
ato tão simples que me foi transmitido, que é não aceitar o
mal dentro de mim e mandar o bem a pes soa ou situação que
te fez sentir mal. Isso anula tudo de negativo em nós e só fica
o bem em nosso interior. Mesmo que o outro queira meu mal
e pense em me destruir, a única coisa que ofereço a ele é o
envio de energias e emoções benéficas e elevadas.

Tente realizar isso em sua vida, e você verá como um lindo e


sublime despertar do bem nascerá de dentro de você.

“Envie o bem a qualquer mal que te sobrevenha. O bem que


você emana e distribui é o mal que você anula”.

“Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem.”


(Lucas 23, 34)

526
O TRABALHO NO BEM

Havia um templo que era reverenciado como um dos locais


onde a vida espiritual era praticada em sua forma mais ele -
vada. Era um templo bem grande onde havia muita paz e
energias positivas. Só de entrar no local as pessoas já se
sentiam tranquilas e alegres.

Certo dia, um dos mestres do templo reuniu seus discípulos e


disse que transmitiria uma sabedoria secreta para aquele que
conseguisse realizar o maior feito espiritual. Cada um dos
discípulos foram então demonstrando aquilo q ue, para eles,
era algo muito sagrado.

O primeiro discípulo iniciou a entoação do mantra OM.

O segundo discípulo proferiu os ensinamentos mais sábios


dos livros sagrados.

O terceiro começou a meditar e conseguiu parar por alguns


segundos as batidas do s eu coração, demons trando incrível
autocontrole.

Um após o outro, os discípulos foram demonstrando suas


realizações.

Ao final, sobrou apenas um discípulo, que sempre ficava


deslocado da turma. Todos observaram qual seria o grande
feito espiritual que, por último, ele resolveria fazer.

O discípulo, no entanto, despediu-se de todos, e foi saindo do


templo. Um dos discípulos, antes que saísse, perguntou:

– Espere. Onde você está indo? Não fará o feito mais espiri -
tual que o mestre pediu?

O discípulo respondeu:

– Sim, estou deixando este elevado templo para, a partir de


agora, viver entre os homens mais pobres e ignorantes. Pois
é entre eles que poderei realizar o que, para mim, é o maior
feito espiritual, que é levar um pouco de sabedoria ao mundo.

527
O mestre, ouvindo o discípulo, disse:

– Este foi verdadeiramente o maior feito espiritual realizado


hoje: a renúncia de si mesmo em benefício da humanidade.

528
AS SETE PEDRAS PRECIOSAS

Um sábio estava bem velho e sentiu que iria morrer em breve.


Por isso, chamou seu discípulo e disse que lhe daria o seu
maior patrimônio, que consistia em sete diamantes muito
raros e muito valiosos no mundo. O discípulo ficou radiante,
pois se tornaria um homem muito rico.

O sábio então pegou sete pedras e entregou todas ao seu


discípulo. O discípulo observou as pedras e viu que se trata -
vam de pedras comuns e não de diamantes. O sábio disse:

– Preste atenção no que vou te dizer, pois essas pe dras que


te entregarei são muito mais valiosas do que diamantes, pois
os diamantes te concedem bens terrenos, que são passagei -
ros, mas as sete pedras preciosas da sabedoria não podem
jamais perecer ou morrer.

A primeira pedra preciosa é a coragem. Sem coragem, você


nada conseguirá fazer neste mundo. A coragem é o motor de
todas as realizações, até mesmo da realização espiritual. A
coragem impede que o ser humano fique estagnado e preso,
pois ela sempre nos permite ir além sem medo. O medo nos
paralisa e nada é conquistado.

A segunda pedra preciosa é o respeito. O mesmo respeito


que você deseja que outras pessoas tenham com você, tem
também para com elas. O respeito é pré-requisito fundamen-
tal para o bem viver; é a base de qualquer tipo de relaciona -
mento e convivência entre as pessoas. Respeite para ser
respeitado. Mesmo que o outro não te respeite, respeite -o
mesmo assim.

A terceira pedra preciosa é a compaixão. Não acre dite na-


queles que afirmam ser a compaixão uma virtude dos fracos.
Todo ser compassivo é forte por natureza, pois a compaixão
nos permite colocar-se no lugar do outro, deixando momenta-
neamente nossa visão limitada, e entrando no mundo de al -
guém. A compaixão nos propicia dar de nós mesmos, sem
que percamos aquilo que demos. Quem dá amor, aumenta
seu amor, quem transmite paz, aumenta sua paz. Compaixão
é desprendimento e força interior.

529
A quarta pedra preciosa é a fé. Aqui não falo de fé cega, de
obediência subserviente, de submissão por medo de guiar a
própria vida. Fé é entregar-se ao poder superior com absoluta
confiança de que a vida tem um sentido, de que tudo tem um
propósito, de que todas as coisas são harmonia e ordem
cósmica, de que um ser superior, com vários nomes, jamais
nos abandonaria. Fé é certeza naquilo que não se pode ver
nem tocar, mas que sentimos como uma chama de vida den-
tro de nós que serve como farol mesmo na mais aterrorizante
escuridão.

A quinta pedra preciosa é a equanimidade. Equani midade é o


equilíbrio diante das oscilações e contrariedades da vida. É a
tranquilidade na tempestade e na bonança. É ser jogado pra
lá e para cá pelo movimento incessante da vida e não se
abalar com isso. Quem atinge a equanimidade não teme mais
nada, pois está sereno nos bons e maus momentos. Não se
deixa seduzir pela aparente estabilidade de cada instante, e
não se verga ao caos que se instala. Ser equânime é cultivar
uma força e uma fé inabalável em qualquer situação.

A sexta pedra preciosa é a humildade. Ser humilde é ter


consciência de que sabemos muito pouco, que ainda temos
muito a aprender e que não somos melhores do que ninguém.
Humilde é aquele que venceu seu orgulho, sua vaidade e seu
egoísmo. É aquele que não despreza os outros e que sabe
que a roda do mundo gira, e se hoje estamos por cima, ama -
nhã podemos estar por baixo e vice versa. Humildade é a
consciência dos nossos limites; é a aceitação e a resignação
diante da realidade da vida. Ser humilde é ser simples… É
olhar a vida com respeito e deixar que tudo siga sem tentar
barrar o fluxo incessante da existência.

E finalmente, a sétima pedra preciosa. A sétima não poderia


ser outra senão o amor. É muito difícil de definir o amor, pois
é mais algo que nós sentimos do que algo que podemos
explicar. O amor é a união de todas as anteriores, de modo
que, aqueles que têm amor, têm todas as outras pedras pre -
ciosas. O amor deve ser incondicional, senão não é amor. O
amor é puro e claro, não tem preferências, não tem gosto,
não visa vantagens, não se queda, não tem interesses nem
limites. O amor é o objetivo da vida. Amor não é sentimenta -

530
lismo barato, não é chororô. Amor é liberdade, ternura, ajuda,
tranquilidade, fraternidade e bem.

Cuide bem dessas sete pedras, pois elas não se es vaem com
o tempo e permanecerão com você por toda a eternidade…

531
FAZER O BEM

Praticar o bem não é fazer tudo pelo outro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos contrariar uma


pessoa e deixar que ele faça algo sozinha.

Para fazer o bem, algumas vezes precisamos deixar que a


pessoa caminhe por si mesma.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos sabe r dizer não


na hora certa, e não nos submetermos aos caprichos do ou -
tro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos deixar nossos


filhos errarem sozinhos, pois só pela dura experiência do erro
cometido é que virá o aprendizado e o amadurecimento.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos não res ponder


uma pergunta, mas estimular uma reflexão e deixar que o
outro chegue a resposta sozinho.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos mostrar a verdade


ao outro, por mais doloroso que seja para ela.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos dizer a pessoa


que ela está sendo invasiva e impor alguns limites.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos terminar uma


relação que já está desgastada e dissolver anti gas raízes de
apego ao outro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos elucidar compor-


tamentos inoportunos que o outro insiste em praticar.

Para fazer o bem, algumas vezes é necessário retirar rega -


lias, privilégios e confortos, para provocar um movimento que
levará a pessoa sair do comodismo.

Fazer o bem é dar com amor, mas o amor também pressupõe


retirar algo para que a pessoa aprenda a conquistar sozinha.

532
A REAL NECESSIDADE

Um cristão estava desejoso por iniciar um trabalho no bem, a


fim de provar seu valor e vivenciar a plenitude da máxima
“Ama teu próximo como a ti mesmo”. Por isso, decidiu que iria
começar praticando uma boa ação.

Estava caminhando tranquilamente na rua quando olhou para


uma velhinha que estava na faixa de pedestres olhando para
o outro lado. Prontamente o cristão se apressou em ir n a
direção da senhora, pegar-lhe o braço e ajuda-la a atravessar
a rua. Foi caminhando com a senhora no sinal fechado e a
deixou sã e salva do outro lado da rua.

Assim que soltou seu braço, o cristão foi se despedir da velhi -


nha e estava esperando um “muito obrigado” pela ajuda. No
entanto, a velhinha olhou para o jovem e disse:

– Meu querido, eu não queria atravessar a rua, ape nas parei


próximo a faixa e olhei para o outro lado, tentando ler um
cartaz.

O cristão ficou envergonhado. Mas a senhora diss e:

– Meu filho, não se preocupe. Você tem vontade de ajudar o


próximo e isso é muito bom. Porém, a partir de hoje, sempre
que você for se mobilizar para o auxílio do seu próximo, pro -
cure, antes de qualquer coisa, compreender o que o outro
precisa realmente, e não aquilo que você julga ser o melhor
para ele. Muitas vezes, o que nós acreditamos que o outro
precisa, não é o que ele necessita de fato. Não importa se é
parente, amigo ou desconhecido, o olhar atento diante da real
necessidade dos nossos semelhantes é imprescindível para
aqueles que desejam ajudar.

533
O VAZIO INTERIOR

Era uma vez uma mulher que havia perdido muitas coisas em
sua vida. Ela perdera praticamente tudo o que possuía no
passado, inclusive pessoas, situações, sonhos, etc. O sen ti-
mento destas perdas era algo que a assolava a todo mo -
mento. Tudo isso fez surgir uma espécie de buraco em seu
peito, um vazio interior que parecia não ceder por nada.

Os anos passaram… e ela foi tentando cuidar de sua vida. No


entanto, o vazio em seu interior ainda permanecia dentro
dela. Por esse motivo, ela começou a tomar algumas atitudes
numa tentativa de se sentir melhor. Ela fazia de tudo para
conquistar muitas coisas, e esse comportamento visava pre -
encher o vazio que ainda existia dentro dela. Quanto mais ela
sentia esse vazio em momentos de desespero, mais ela ten -
tava obter muitas coisas, ganhar o máximo possível, ter mi -
lhares de bens, relacionar-se com muitas pessoas, criar so-
nhos e ilusões diversas.

No entanto, ela começou a sentir algo inusitado. Por mais que


ela se esforçasse para adquirir muitas coisas visando com -
pensar as perdas do passado, o vazio que existia dentro dela
não desaparecia, mas continuava como sempre esteve. Ela
adquiria mais e mais, e o buraco interior parecia não s er pre-
enchido por nada. Por mais que tentasse abafar o sentimento
de perda com ganhos diversos e com a obtenção de per-
tences, isso não parecia funcionar. A sensação de posse até
a fazia sentir bem por um tempo, mas logo o vazio retornava
com a mesma intensidade.

A moça então entendeu uma lição muito importante da vida.


O vazio que temos dentro de nós, que pode vir ou não de
perdas passadas, jamais será resolvido por ganhos posterio -
res. E isso ocorre por um motivo muito simples: o vazio não
vem da perda de algo, e tampouco o preenchimento vem do
ganho. O vazio que sentimos só pode ser sanado com a re -
tomada do nosso ser verdadeiro, nosso eu real, nossa essên -
cia mais profunda. É necessário ser o que somos no mais
profundo e íntimo de nós mesmos, pois somente com o des -
pertar daquilo que somos de verdade é que viveremos sem a
presença do vazio interior.

534
Esse vazio nada mais é do que a falta de nós mesmos, a falta
do nosso ser interior.

535
A CARIDADE

A caridade é parte da natureza das coisas.


Tudo o que existe vive dando de si.
As flores exalam seu perfume…
E nada pedem em troca.
O sol brilha e aquece os planetas…
E nada lhe podemos dar.
As árvores oferecem suas frutas,
Para o consumo de animais e homens.
A terra faz brotar a grama,
Que serve de alimento.
As nuvens regam a terra de água,
Impedindo que ela seque.
O universo é uma cadeia perpétua,
Um mecanismo ordenado de dar e receber.
Há uma verdade essencial,
Que não pode ser esquecida:
Quem dá, cresce;
Quem retém, perece.
Aprenda isso cedo, e viverás bem.
Aqueles que dão suas sobras, têm seu mérito redu zido.
Aqueles que dão de si mesmos
Esses são realmente virtuosos.
Observe um homem em posse de dois pães,
Que vê alguém passando fome,
Dá um pão e fica com outro.
Que mérito ele possui?
Observe outro homem faminto que tem somente um pão,
Ele o reparte com outro faminto,
Que mérito ele tem?
Este último, sim, praticou a verdadeira caridade.
Quem tem pouco, e dá muito, é caridoso,
Quem tem muito e dá pouco, nada fez de digno.
Atente bem para isso:
Caridade, antes de dar algo,
É doar-se ao próximo, é dar de si mesmo.
Não reclame solicitando dádivas divinas,
Faça o que Deus e a natureza fazem,
Dê a outros, sem nada esperar em troca.
Assim estarás em harmonia com o ritmo da exis tência.
Tome a iniciativa e dê mesmo que nada possuas.
Acaso pensas que Deus te deixa faltar algo?

536
A inteligência divina te tira, para que aprendas a dar.
Não precisas dar algo que se tem,
Dê, antes de tudo, o que se é.
Mais do que provisões e coisas
Muitos precisam de amor e sabedoria.
Não te sacrifiques no ato de dar,
Se sentes a caridade como um exímio esforço,
Não ofertas com amor, e nenhum mérito conquistas.
Quem dá com amor, não sente qualquer sacrifício,
E tampouco qualquer perda.
Ninguém é tão pobre que não possa dar algo.
Não fique com medo das vacas magras,
Quem muito dá, muito receberá.
Quem pouco dá, pouco receberá.
Quem quer tudo para si, jamais estará satisfeito.
Viverá procurando nas posses,
O que elas não podem oferecer.
Quem faz uma oferta esperando receber seu quinhão,
Deu para si mesmo, e não ao outro.
A caridade só é completa,
Quando é incondicional, sem qualquer expectativa.
Não faça como o orgulhoso que ostenta suas coisas,
E as perde, todas, após a morte.
Se a morte traz a perda forçada de nossas posses,
Antecipa-te a morte, e dê o que tens em vida.
Sê caridoso enquanto tens as coisas,
Não espere a vida lhe retirar o que não necessitas,
A vida nos faz perder o que temos,
Para nos ensinar o valor da caridade.
Não reclames que outros roubam teus bens,
Deixai, isso sim, de ter bens em excesso.
Se tu acumulas o supérfluo sem qualquer necessidade,
Não precisa do que já possui,
Mas de algo que tu mesmo desconheces.

537
RESPEITO

Respeito é tratar o outro com a atenção que ele merece.


É considerar que ele é um ser humano e tem o direito de
guiar sua própria vida.
O outro tem livre arbítrio e devemos permitir que ele conduza
sua vida como melhor lhe aprouver.
Respeito é dar espaço para que o outro caminhe na direção
que ele quer, e não pela via que nós julgamos mais ade-
quado.
Respeitar é deixar a vida fluir, sem ficar interferindo na von -
tade do outro. Respeito é fazer ao outro exatamente aquilo
que esperamos que o outro faça conosco.
Respeito é se colocar no lugar do outro e tentar en xergar um
pouco a vida pela sua perspectiva.
Quem respeita não se sente superior a outras pes soas a
ponto de decidir o que elas devem fazer.
Respeitar é não invadir o espaço do outro, não cercear sua
liberdade, não lhe ditar regras que vão contra seus valores.
Respeitar é não impor, é não forçar, mas conceder liberdade
às escolhas pessoais.
Respeitar é não invadir aquilo que não nos pertence ou não
nos compete.
O respeito mútuo entre duas ou mais pessoas deixa a vida
mais leve, menos opressora.
Respeito é saber que todas as pessoas caem, todas erram,
todas fraquejam, todas tem limites, e por isso todos devemos
tratar com consideração e atenção cada pessoa dentro de
sua estrada.
Respeito é tratar com naturalidade as diferenças, sem nos
chocar com elas.
Respeito é reconhecer que todos somos diferentes e que é na
diferença onde reside o nosso desenvolvimento e amadure-
cimento.
Portanto, vamos entender regras simples e perenes da convi -
vência humana:
Respeite para ser respeitado…
Ame para ser amado…
Faça o bem para se sentir bem…
O bem traz o bem, o mal traz o mal…
Cada um no seu canto, sem tentar mudar, impor, obrigar,
constranger, decretar ou mover o outro e o mundo dentro da
nossa visão.

538
Quando cada pessoa pratica a semeadura do res peito, tudo
fica mais fluido, belo e tranquilo.
Respeito… é a pedra angular da sociedade humana e da
espiritualização da humanidade.

539
REFLEXÕES SOBRE A CARIDADE

Vamos expor alguns dos pontos mais importantes para se


compreender no que consiste a verdadeira caridade. Esse
guia serve para todos aqueles que desejam enveredar por
este caminho, ou que já realizam algum trabalho ou projeto
em benefício do seu próximo.

Em primeiro lugar, a caridade deve ser sempre de sinteres-


sada, sem se esperar coisa alguma em troca pelo trabalho
que se fez. Aqueles que fazem o bem e desejam com isso
obter algum tipo de compensação ou gratificação não estão
fazendo pelo outro, mas sim para si mesmos; estão fazendo
com seu olhar voltado apenas aos benefícios futu ros que vão
receber. Esse princípio inclui religiosos que usam a cari dade
para “comprar” quinhões no céu, ou para acumularem um
“bom karma”. Caridade deve ser sem pre totalmente desinte-
ressada.

Como diz a sabedoria judaica, a caridade deve ser, sempre


que possível, anônima, caso contrário, será apenas uma
forma de vaidade, de projeção do próprio ego ou de nossa
imagem pessoal. Esse caso exclui obviamente projetos em
que seja necessária a divulgação do nome dos envolvidos, ou
quando alguém precisa se responsabilizar pelo trabalho em -
preendido. Mas tirando algumas exceções, é preciso saber
que, aqueles que ficam divulgando a caridade podem estar
mais preocupados com uma propaganda em cima do seu
próprio nome apenas para impressionar os outros, sem esta-
rem tão preocupados com seus semelhantes.

Caridade não deve ser uma atividade que gera pra zer, pois se
gerar prazer, não é para o outro, mas para nós mesmos. Isso
significa que, se você faz algo porque gosta do trabalho, a
pessoa pode estar fazendo apenas porque gosta, e não pelo
trabalho em si. Não que a pessoa precisa desgostar do que
faz, mas, como dissemos, se é uma atividade que gera pra -
zer, é preciso refletir se estamos trabalhando pelo prazer de
realizar esse projeto, ou pelo bem estar do outro.

Não se deve fazer caridade apenas porque acredita mos ser


“o certo” a se fazer, pois se acreditamos, por exemplo, que
toda pessoa boa precisa fazer caridade, estamos fazendo

540
apenas por julgar o certo, e não por uma consciência verda -
deira, por um desejo nascido de dentro do nosso coração.

Qualquer sentimento de importância pessoal no ato da cari -


dade já tira qualquer valor da caridade. Aqueles que procuram
fazer o bem e se sentem melhores do que aqueles que não o
fazem, estão se deixando levar pelas seduções do ego, e
essa gratificação para o ego, que gera orgulho e vaidade, já é
algo contrário ao espírito de total desprendimento que deve
estar contido em todo ato de caridade.

Caridade exige sacrifício. Se uma pessoa não tira algo de si


mesma, e dá apenas o que está sobrando, ou o que não
precisa mais, isso não pode ser considerado caridade. É
como a história de Jesus e da pobre viúva, que lançou como
oferta apenas duas moedas. Jesus disse: “Em verdade vos
digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva; Porque
todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes
sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que
tinha” (Lucas 21:3-4). Ela deu mais porque tirou de tudo o que
tinha, enquanto que outros deram apenas o que lhes sobrava.
Quanto maior o sacrifício pes soal, maior o valor espiritual da
caridade.

Um ponto importante é o seguinte: a caridade deve ser em


todos os momentos, e não apenas em momentos específicos.
Quem marca hora para fazer caridade deveria saber que a
caridade só é autêntica quando está dentro de nós, em todas
as nossas ações, pensamentos e sentimentos. Ela não pre -
cisa ter hora e lugar para acontecer. Por outro lado, não pode
ser considerado caridade as pequenas gentilezas do dia a
dia, como abrir a porta para uma mulher, ou ajudar um idoso
a carregar as compras. Caridade é algo mais profundo do que
ser prestativo em momentos determinados.

Caridade não é ficar criticando tudo aquilo que não concor -


damos, mas sim fazer aquilo que temos como o melhor. Ao
invés de destruir o que julgamos negativo, vamos construir do
que julgamos positivo. Ao invés de atacar aquilo que nos
parece errado, vamos promover aquilo que nos parece o
correto. É melhor plantar as sementes da árvore do bem do
que tentar destruir a árvore que, para nós, não dá bons frutos.

541
Caridade não é fazer o que você julga ser o melhor ao outro.
Caridade é investigar ao máximo o que realmente é o essen-
cial ao próximo, e fazer o que é necessário. Muitas vezes
temos uma visão pessoal e fixa do que o outro precisa e na
maioria das vezes não temos a visão correta das necessida -
des reais do outro. Por outro lado, muitas vezes acreditamos
estar fazendo o certo, mas estamos mais atrapalhando a
pessoa do que a ajudando.

Não é caridade ajudar pessoas que gostamos. A caridade


verdadeira está em ajudar as pessoas que não gostamos.
Ajudar pessoas que gostamos nada mais é do que agir pelo
nosso amor ao outro, e que mérito há em se fazer o bem
aqueles que nos fazem bem? Há mérito, isso sim, em fazer o
bem aqueles que nos fazem mal. Aqui vemos um desprendi-
mento que pode ser considerado a essência de uma caridade
verdadeira.

Não acredite que sua ajuda é fundamental ao outro, pois o


que podemos fazer pelo outro é sempre muito pouco. So -
mente a própria pessoa pode fazer algo mais fundamental por
si mesma. Aqueles que acreditam que o outro não é capaz de
fazer, e por isso precisam de ajuda estão se enganando, e
também podem estar caindo num jogo do próprio ego que -
rendo se sentir superior. Por isso que se diz que a melhor
ajuda é ajudar a pessoa a se ajudar. Conseguimos fazer a
diferença quando tornamos a pessoa independente de nós e
de outros. Quanto mais autonomia conseguirmos dar a pes -
soa, mais próximos estaremos da verdadeira caridade. Aju-
damos a pessoa para que o mais rápido ela não mais precise
de ajuda. Por esse motivo, não faça caridade vendo o outro
como “coitadinho”, pois isso nada mais é do que outro artifício
do ego.

Não faça caridade acreditando que você está bem e o outro


está mal, e por isso você deve ajuda-lo. Muitas vezes quem
ajuda está pior do que quem é ajudado, e está apenas que -
rendo desviar o foco das adversidades de sua vida e preocu-
pando-se mais com os outros do que consigo mesmo. Quem
tenta de todas as formas ajudar os outros, e se coloca na
posição de “salvador”, muitas vezes pode estar fugindo da re -
solução dos seus próprios problemas usando uma falsa “cari -
dade” como subterfúgio.

542
Mas afinal de contas, quem faz caridade? Faz a verdadeira
caridade aqueles que não sabem exatamente porque a estão
fazendo, mas simplesmente fazem. Como disse Jesus: “Mas,
quando tu deres esmola, não saib a a tua mão esquerda o que
faz a tua direita” (Mateus 6, 3). Eles praticam algo que está
dentro deles mesmos, que sentem que devem fazer, ou que
tem essa certeza no fundo do seu coração. Faz a caridade
aquele que ajuda, mas nem sabe ou reconhece que ajudou.
Aquele que ajuda apenas por querer ver o outro bem, sem
esperar qualquer tipo de recompensa…

543
O BEM CURA

Quando uma pessoa ataca a outra, pode ser que ela tenha
sido tão atacada na vida, que a única atitude que conhece é o
ataque.

Quando uma pessoa resolve assassinar a outra, pode ser que


ela já tenha sido assassinada e morta dentro de si mesma, e
por isso queira matar outros.

Quando uma pessoa é indiferente a outros, pode ser que ela


tenha medo da indiferença, e por isso, ela resolva ser indife -
rente com outros para que outros não sejam indiferentes com
ela mesma.

Quando uma pessoa machuca a outra, ela pode se sen tir


muito machucada dentro de si, e por isso sente a necessi -
dade de machucar outros para que fiquem como ela.

Quando uma pessoa ofende a outra, ela pode ter sido muito
ofendida no passado, e por isso quer ofender para que não se
sinta ofendida.

O mal que alguém lança em nossa direção pode vir de muitas


experiências negativas, dores, ressentimentos, traumas e
feridas interiores.

Uma pessoa que pratica o mal pode ter o mal dentro de si


mesma, e por isso, quer fazer os outros sentirem esse mesmo
mal que ela própria já sente.

Isso é como um pedido de ajuda feito da forma errada.

As pessoas fazem a outros àquilo que elas experi mentaram e


continuam experimentando de si mes mas.

Essa pessoa que faz o mal precisa mais de ajuda do que de


agressões; precisa de compreensão e não de reclamação;
precisa de cuidado e não de ofensas; precisa de compaixão e
não de massacre.

544
Ela já está doente, e por isso, quer passar essa do ença a
outros. Ela já está ferida, e por isso, quer ferir. Ela está mal e
por isso, quer o mal dos que a rodeiam.

Não tenha raiva daqueles que praticam o mal. Antes de tudo,


tente compreender seus motivos, as causas de tudo, as ba -
talhas interiores que elas travam diariamente.

Se um dia você errar, gostaria de que alguém o perdoasse; se


um dia você cair, gostaria de ter alguém para te ajudar a le -
vantar; se um dia você perder, gos taria de ter alguém para te
consolar.

Vamos responder ao mal com o bem. O bem cura todas as


feridas e neutraliza o mal.

545
O AMOR TRANSFORMA

João quase sempre chegava em casa e era recebido por sua


esposa com mau humor. O homem regres sava cansado de
seu trabalho e sua mulher o tratava com irritação. Certo dia,
após a esposa brigar com ele aos berros, João disse: “Meu
amor, não me importa a sua irritação, o seu nervosismo. Eu te
amo e te aceito como você é. Você é muito importante para
mim e sou grato a Deus por ter enviado uma mulher tão ma -
ravilhosa na minha vida”. A esposa de João ficou atônita com
aquelas palavras, desculpou-se com ele e nunca mais o tra-
tou com irritação.

Sueli e Juliana eram madrasta e enteada. Sueli era uma pes -


soa neurótica com arrumação e sempre reclamava da falta de
ordem na casa. Juliana, que era adolescente, ficava em casa
e sofria com a neurose de Sueli. Por mais que Juliana arru-
masse suas coisas, Sueli sempre encontrava algo fora de
lugar e vinha reclamar. Juliana estava ficando muito nervosa
com essa situação e muitas brigas se iniciaram. Juliana viu
que essas confusões não levariam a lugar nenhum.

Certo dia, Sueli estava quase bufando de raiva com um copo


deixado sem querer por Juliana em cima da mesa. Sueli re -
clamou, gritou e Juliana, calma, disse: “Sueli, eu considero
você como uma mãe pra mim. Depois que minha mãe fale -
ceu, você procura cuidar de mim do seu jeito. Por isso, eu
quero dizer que te amo e quero seu bem”. Juliana abraçou
Sueli, que começou a chorar. O relacionamento de ambas co -
meçou a mudar a partir desse dia.

Paulo e Roberto trabalhavam na mesma empresa, mas não


se entendiam. Um Paulo vivia jogando trabalho a mais para
Roberto e reclamando dele ao chefe. As brigas viraram rotina
e estavam atrapalhando a produtividade da empresa. Roberto
já não sabia mais o que fazer com essa situação. Certo dia,
Paulo veio reclamar de um trabalho atras ado que Roberto
ainda não tinha entregado, embora ainda estivesse dentro do
prazo de entrega. Roberto virou-se para Paulo e disse:
“Paulo, você pode não perceber, mas eu o respeito muito
como profissional e apesar de tudo, acho você uma pessoa
boa. Eu gos to de você e sei que você tem um bom coração”.

546
Roberto abraçou Paulo, que ficou surpreso com sua reação.
Paulo agradeceu e nunca mais houve conflito entre ambos.

A melhor forma de quebrar a raiva, a irritação e o mau humor


de alguém que vem brigar e reclamar conosco, é responder
amorosamente, de forma tranquila e afetuosa. Mudamos
nossa sintonia e dissolvemos as emoções negativas, tanto
nossas quanto do outro. Quando alguém vier brigar com você,
te desrespeitar, tentar de tirar do sério, haja com carinho, com
amor e respeito. Mesmo que o outro insista em te agredir,
trate-o com amor e respeito. O amor des faz qualquer desa-
vença e cura nossas feridas.

547
PEDINDO AJUDA A JESUS

Uma mulher, chamada Cláudia, era muito religiosa e rica.


Decidiu ir a Igreja e começou a orar para Jesus.

“Senhor, me ajude nesse momento tão difícil. Essa doença


está dificultando a minha vida. Ajude-me Jesus”.

A mulher saiu da igreja, e logo na porta havia um mendigo


pedindo esmola. Ignorou o homem e foi até o estaciona-
mento.

Na porta do estacionamento, viu um cachorrinho, bem magro,


querendo um afago, ao lado de uma lanchonete. A mulher
espantou o cachorro dizendo:

“Passa! Sai fora!”

Entrando no estacionamento, um homem humilde disse:


“Senhora, lavei seu carro. Se quiser pode me dar um tro -
cado”. A mulher virou-se, pegou o carro, e foi embora, sem
dar nada ao homem.

Parou num sinal de trânsito. Um menino de rua veio lhe pedir


dinheiro, e disse que estava com fome. A mulher fechou o
vidro e arrancou com o carro.

Dirigindo pelas ruas da cidade, passa um cartaz com os dize -


res: “Precisamos de doações de sangue”. A mulher olhou o
cartaz e pensou “Até iria, mas dá muito trabalho doar san -
gue.”

Num outro sinal, um homem lhe entrega um panfleto que


dizia: “Precisamos de voluntários para cuidar de crianças num
abrigo”. A mulher leu o panfleto e pensou “Eu poderia ir, mas
é muito longe.”

Chegou em casa a noite, e foi para seu quarto. Seu marido a


abordou dizendo “Meu amor, liguei para o médico e ele d isse
que seu estado de saúde piorou, infelizmente.” A mulher ficou
muito abatida. Saiu de casa, chorando, e caminhou até um
parque próximo. Sentou no banco e orou a Jesus dizendo:

548
“Senhor, por que não me ajuda? Onde você está?”

De repente, uma luz se irradia do céu e uma voz suave, com


o rosto de Jesus, diz:

– Cláudia, hoje estive com você o dia inteiro, mas você não
me enxergou. Você estava tão cheia de si mesma e tão vol -
tada para seus problemas, que você não percebeu.

– Você esteve comigo Senhor? perguntou, surpresa.


Jesus respondeu:

– Sim. Estive no mendigo que te pediu esmola, no cachorro


que te pediu comida e carinho, no lavador de carros humilde,
que lhe pediu uns trocados. Estive também no menino de rua,
que te pediu dinheiro. Da mesma forma, eu estava presente
nas pessoas necessitadas de sangue, assim como nas crian-
ças do abrigo, que você julgou “muito longe”. Eu estava pre -
sente em todos aqueles que você tratou com indife rença e
nada fez para ajuda-los. Como você pode esperar minha
ajuda se você nada faz para ajudar a mim mesmo, presente
que estou em todos os meus filhos na Terra que sofrem, que
choram, ou que necessitam de amparo? Só podemos receber
ajuda quando ajudamos; só podemos requerer auxílio quando
auxiliamos; só podemos receber am or quando damos esse
mesmo amor. Ajude a mim e a todos os meus filhos no
mundo, sem esperar recom pensa”.

Claudia chorou, e a partir daquele dia, começou a ver o Cristo


em todos os humildes e necessitados.

“Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um


destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o
fizestes!” (Mateus 25, 40)

549
AMOR INCONDICIONAL

O amor verdadeiro, o único que existe, é o amor incondicio-


nal.
Amor incondicional é aquele que não depende de nenhuma
condição para existir.
Este é o amor dos santos, dos sábios, dos avatares, do Cristo
e de Deus.
É o amor de Deus e o amor que nos aproxima de Deus.
Quando o amor depende de condições externas, ele pode ser
tudo… menos amor.
Quem ama por alguma condição, verá seu suposto amor
acabar,
Pois todas as condições externas um dia perecerão…
Ninguém pode amar uma pessoa e querer que ela mude ou
que ela seja diferente do que ela é.
Pois se você quer que ela mude, já não ama a pessoa, pois a
pessoa é do jeito que é.
Se você acredita que ama uma pessoa, mas só a ama se ela
fizer o que você quer, isso não é amor, é egoísmo.
Só existe amor quando há aceitação plena do que a pessoa
é.
O amor verdadeiro, que é sempre incondicional,
Não se importa com forma, com condições, com situações
agradáveis ou desagradáveis.
O amor não cobra nada, não exige, não quer algo.
Quem cobra mudanças de alguém que crê amar, não ama a
pessoa em si,
Ama apenas a idealização criada de como a pessoa deve ser.
Se você quer que alguém corresponda ao seu desejo,
Você não ama a pessoa, você ama o seu desejo; você ama o
que existe de seu no outro.
Quando você ama e quer que o outro se encaixe em seus
padrões,
Você não ama o outro, você ama a si mesmo no outro.
Amor incondicional também não é sacrificar-se pelo outro e
sofrer, pois quem ama não sofre por não es perar nada do
amor.
Entenda que: quem ama, nada espera…
E por isso, não sofre esperando por recompensas que podem
não vir.
Quem ama, não quer possuir o outro, nem tirar sua liberdade,
Pois é na liberdade que o ser amado mais expressa quem ele

550
é.
E quem diz “Eu te amo, mas somente se você me amar.”
Esse já não ama, mas quer uma troca.
O amor não pode ser regulado por barganhas…
Pois esperar qualquer benefício pelo amor, não é amor, é
ganho pessoal,
É para o ego… e não para a alma.
Por outro lado, se você ama alguém e despreza a si mesmo.
Isso não é amor, é submissão.
Pois não se pode amar o outro e não gostar de si mesmo.
O amor incondicional quer ver sempre o outro feliz,
O amor ilusório quer que o outro nos faça felizes.
A paixão pode ou não dar certo,
O amor incondicional já deu certo desde sempre.
O amor recebe quando dá…
E dá quando recebe.
O amor apenas dá e nada espera receber.
Ele apenas sente e não pede explicação.
Ele apenas é… sem nenhuma preocupação.
O amor não é do ser humano, mas do espírito imortal.
Se um dia você tiver dúvida sobre como agir,
Não tenha receio, apenas ame…

551
DAR E RECEBER

Para receber o amor, dê o amor.


Para receber a paz, transmita paz.
Para receber a luz, seja luz.
Para receber o perdão, perdoe.
Para receber a riqueza interior, abra mão das rique zas ilusó-
rias.
Para receber o respeito, respeite.
Para receber o carinho, dê carinho.
Para receber o mérito, faça por merecer.
Faça ao outro aquilo que você es pera receber do outro.
Seja no mundo aquilo que você acredita que o mundo deve
ser.
Deixe a vida fluir através de você…
Deixe o universo se expressar por seu intermédio…
Permita que Deus ecoe dentro de você…

552
PREOCUPAÇÃO COM OS OUTROS

Um dos comportamentos mais comuns no ser humano é a


preocupação com os outros.

Há muitas mães que se preocupam com seus filhos. Há pais


com a mesma preocupação. Há o irmão que se preocupa com
a irmã. Há avós que se preocupam com seus netos. Há filho s
preocupados com seus pais. Há também pessoas que se
preocupam com seus amigos. Não sabemos se o outro está
seguindo um bom caminho e por isso nos preocupamos. Mui -
tas vezes nossos filhos entram em situações negati vas, que
vão prejudica-los imensamente, e nós sentimos que devemos
intervir, mas muitas vezes não podemos. Em outras ocasiões,
projetamos no outro nossos próprios carências e preocupa -
ções, e tolhemos sua vida com base em nossos medos e
incertezas.

É muito comum ver pais preocupados com os filhos que che-


gam tarde em casa, que usam drogas, que viajam, que se
relacionam com um grupo de pessoas que consideramos
“barra pesada”, que estão mal na escola, ou que atravessam
qualquer outro tipo de situação. Na visão dos pais, eles estão
trilhando um caminho que irá destruir suas vidas. Mas será
que isso é mesmo verdade?

Do ponto de vista da lei do karma e da reencarnação, ne -


nhuma dessas preocupações se justifica. Ninguém deveria se
preocupar com ninguém, por um motivo muito simples: cada
pessoa vive as experiências que precisa viver. Cada pessoa
está sintonizada, dentro das leis naturais, com as situações
que são as mais propícias de gerarem um aprendizado para
seu espírito. Não há ninguém nesse mundo que esteja vi -
vendo uma circunstância de vida que não precise viver, pelo
simples fato de que as almas encarnadas precisam experi -
mentar tudo aquilo que necessitam para seu aprendizado. As
pessoas que se preocupam precisam, em primeiro lugar, ter
fé em Deus, despertar a convicção íntima de que Deus está
em tudo e que tudo o que acontece é uma manifestação da
realidade divina. Ninguém deve se preocupar com o outro,
pelo simples fato de que, se o outro está imerso numa condi -
ção de vida, é exatamente dessa condição que ele necessita
para crescer e evoluir. Se é assim, para que se preocupar?

553
Aqueles que estudam o espiritualismo sabem o quanto é
comum ver espíritos de pessoas que acabaram de desencar-
nar super preocupados em deixar seus entes queridos aban -
donados ou “desprotegidos” aqui nesse mundo. A preocupa-
ção do espírito recém desencarnado com os familiares que
ficaram na Terra pode até mesmo leva-lo a se prender ao
mundo, tornando o que se denomina de “espírito preso a
Terra”, que fica vagando pela matéria tentando “salvar” seus
filhos, irmãos, pais, amigos, etc. Nesse caso, a preocupação
com eles é um forte objeto de apego, que pode prejudicar
imensamente tanto o espírito quanto o encarnado.

Uma mãe que desencarna e fica preocupada com o filho pode


se ligar a ele por laços obsessivos, e pode transmitir preocu-
pações, pensamentos negativos, tentar guiar e manipular
inconscientemente seu filho e até mesmo transmitir-lhe doen-
ças. Tudo isso pela “preocupação” em deixar o filho abando -
nado e des protegido aqui nesse mundo. O fato é que nin -
guém nunca está desprotegido; ninguém fica sozinho; nin -
guém fica nunca abandonado; ninguém está necessi tado ou
destruído no mundo material: os espíritos que aqui ficaram
vivem as experiências que precisam, que escolheram viver, e
que são necessárias ao seu adiantamento, além de viverem
aquilo que merecem viver com base na lei do karma.

As preocupações, além de não ajudarem, ainda po dem nos


fazer intervir no caminho que uma pessoa escolheu para si
mesma, e prejudica-la ainda mais. Por outro lado, ninguém
pode ajudar alguém que não quer ajuda. Por mais que tente -
mos, se a pessoa quiser continuar sofrendo, é isso que de-
verá ocorrer até que ela mesma decida se libertar de seu
cárcere. Muitas pessoas têm a ilusão de terem algum tipo de
poder sobre as outras. Elas acreditam que podem ajuda-las
de diversas formas, ou mesmo evitar certos conflitos e sofri -
mentos, mas isso é falso, e muitas vezes essa ideia vem de
um orgulho de nossa parte: primeiro por julgar que sabemos
melhor do que o outro o que é bom ou ruim para ele, segundo
porque julgamos ter um poder que não possuímos. É preciso
compreender, de uma vez por todas, que ninguém tem poder
de mudar a vida de ninguém. Só a própria pessoa tem esse
poder sobre si mesma.

554
Portanto, jamais se esqueça de que toda preocupa ção com o
outro é vã, sem sentido, vazia e desnecessária. Cada espírito
que vem ao mundo vive as experiências que precisa e me-
rece, sem qualquer desvio, e mesmo que haja algo que pos -
samos chamar de “des vio”, se a pessoa enveredou por esse
caminho, é porque ela assim quis, e se ela o escolheu, é
porque precisa das experiências que se encontram no final do
caminho escolhido. Não perca sua tranquilidade com milhares
de preocupações. Tenha fé em Deus e nas leis divinas. Preo -
cupação com o outro é falta de fé em Deus, é ausência de
entrega ao plano infinito e divino no qual tudo está inserido.
Ninguém fica des protegido nesse mundo, assim como nin-
guém está protegido de si mesmo e das experiências que são
necessárias para seu espírito. O que chamamos de des prote-
ção, abandono ou sofrimento são apenas fases de uma alma
que precisa passar pelo vale de lágrimas do mundo físico
para amadurecer e seguir em frente em sua preparação para
a vida eterna.

Liberte-se de todas as preocupações e viva em paz.

555
A ESTRADA DA VIDA

Certa vez eu tive um sonho muito revelador…

Sonhei que estava num vale lamacento meio escuro e de uma


extensão que os olhos eram incapazes de abarcar. Neste vale
eu vi atravessarem dezenas de milhares de almas, cada uma
delas caminhando por cima de uma lama de cor marrom -
escura. O local era meio lúgubre, obscuro, tétrico.

Comecei a caminhar por toda a sua extensão, por horas e


horas a fio. Vi as almas peregrinando pelo vale e cada uma
levando consigo alguma bagagem, uma espécie de sacola
com alguns dizeres. Vi pessoas carregando um saco escrito
“crenças”; outras estava escrito “carreira”; em outras se podia
ler “filhos” ou “esposa” ou “pais”; algumas continham a pala -
vra “comida”, “bebida” ou “vícios”; cada qual carregava um
saco, maior ou menor, onde continha a imagem de seus ape-
gos. Os sacos mais pesados que pude ver estavam escrito
“medos”; outros estava escrito “mágoas”; nos sacos maiores e
mais pesados estava es crito “orgulho”, “egoísmo” e vi vários
escrito “vaidade”. Tudo isso que es sas almas carregavam
lhes criava uma carga maior ou menor, com mais peso ou
menos peso.

O drama que elas viviam era ter que atravessar todo aquele
lodo com sacos ou bagagens tão pesadas, e conseguir seguir
em frente. Pude notar almas cruzando a lama que começa-
vam a afundar; outras, que carregavam sacos mais pesados,
submergiam ainda mais; havia algumas almas que, de tanto
fardo que levavam consigo, já não podiam sequer prosseguir,
e acabavam afundado até o pescoço, incapazes de se mover.
Mas mesmo essas almas que estavam no fundo da lama não
soltavam o saco pesado que conduziam pelo vale. Quanto
mais pesado era o saco, mais a alma afundava e mais presa
ficava.

Continuei caminhando e vi almas nas mais diversas situa -


ções. Vi também miríades de focos de luzes que desciam do
céu e se aproximavam das almas no fundo da lama, pedindo
que largas sem o saco, para que ficassem mais leves e pu -
dessem ser resgatadas. Muitas delas, mesmo presas até o
pescoço, se recusavam a soltar sua carga pesada. “Você

556
ficará presa até soltar seu peso” disse um foco de luz. “Não
quero soltar” disse a alma cujo saco estava escrito “orgu lho” e
que estava totalmente envolvida pela lama e incapaz de se
mexer. Mesmo estagnada e presa, elas se agarravam forte-
mente ao seu objeto de apego e ficavam lá, para das, afun-
dando.

Algumas almas tentaram construir casas, palácios e fixar


moradia definitiva. No momento em que terminavam suas
construções, sua residência começava a afundar, e elas pas -
savam a sofrer pelo sentimento de perda. Algumas eram
tomadas pela lama junto com suas criações. Outras ficavam
com medo de andar e afundar, mas, por incrível que pareça,
mesmo paradas elas afundavam lentamente. Quem não se-
guisse em frente, naufragava inevitavelmente no excruciante
lamaçal.

Caminhei mais e mais, por dias ou até semanas, e vi também


umas poucas almas que não levavam coisa alguma consigo.
Essas andavam bem mais rapidamente, deixavam as outras
para trás, e nessa condição, não afundavam. Observei outras
almas que levaram seus sacos por muito tempo, mas num
certo momento se cansaram de carregar tamanho peso e
soltaram tudo pelo caminho, conseguindo assim sair da lama
e avançar mais rapidamente. Pude perceber que essas almas
mais desprendidas começavam a chegar num local onde
existia mais luz, um espaço infinito, com grama verde, muitas
flores, pássaros cantando, uma brisa suave e impregnado de
muita paz e alegria.

Continuei andando e ouvi uma voz suave, nem mas culina


nem feminina, dizendo: “Este é o nos so mundo…”

Fiquei espantado com aquela revelação. “Por que seria o


nosso mundo?” perguntei.

O ser luminoso me respondeu:

“As almas que aqui caminham erráticas pelos firma mentos


efêmeros, movediços e oscilantes do mundo material, não
adquiriram a compreensão de que o mundo físico é instável e
sujeito a transformações constantes. A inexorável transforma -
ção do universo composto de matéria captura as almas que

557
nele se apegam e as prende até que elas decidam soltar toda
a carga ilusória acumulada.”

Isso parecia fazer todo o sentido. Perguntei aquele ser de luz


que lição se podia tirar de tudo aquilo, e ele respondeu:

– Em pouco tempo você vai acordar deste sonho, mas lem -


bre-se desse ensinamento: a vida é uma traves sia, não tente
montar acampamento nem conduzir cargas pesadas, pois
você se prenderá e sofrerá. Apenas cruze o vale do mundo,
todo ele. Não fixe, neste local transitório, a sua morada.

558
O CONSOLO ESPIRITUAL

Muitas pessoas pensam que o caminho espiritual deve ser


apenas consolador.
O espiritual deveria, nessa visão, servir apenas para dar
conforto, equilíbrio, proteção ou sustentação emocional.
No entanto, a verdade é que a espiritualidade deve promover
uma transformação íntima na pessoa.
Deve promover uma revisão de conceitos, uma quebra de
condicionamentos, um rompimento com crenças ou uma
soltura de apegos.
Muitos sonham com a paz espiritual, com as belezas do bem
maior, idealizam hostes celestiais que nos amparam.
A maioria quer apenas receber energias positivas, mas não
quer dá-las a outros e nem gera-las em si mesmas.
Se desejamos a luz, devemos acender a luz dentro de nós, e
não esperar que ela venha de fora.
Se desejamos a paz, devemos cultivar a paz interior, e não
esperar que seres espirituais nos insuflem com o sopro da
paz.
Se desejamos o bem, devemos ser a expressão e a personifi -
cação do bem, e não apenas pedir a Deus que tudo fique bem
em nossa vida.
Quem sonha apenas com seres de luz acaba ficando cego
diante de sua própria escuridão interior.
Mas é necessário encarar nossa obscuridade, para que ela se
dissipe, e se faça a luz.
Espiritualidade não é conseguir coisas do mundo, não é orar
para Deus resolver nossos problemas.
Espiritualidade é viver uma eclosão de energias que provo -
cam uma catarse que nos liberta e nos eleva.
Quem espera que Deus o acolha em seus braços e o tire das
provações, está vivendo uma ilusão espiritual.
O espiritual deve mexer profundamente dentro de nós, abrir
nossos olhos, ser a luz no meio das trevas que são esse
mundo.
O espiritual deve nos fazer ascender, e não nos aco modar;
deve nos fazer avançar e não parar; deve nos jogar no real e
não nos tirar dele.

559
MEU QUINTAL

Faça um buraco para outros caírem,


E cairás nele.
Construa uma barreira de pedra no caminho,
E ficarás impedido de passar.
Dê veneno a uma pessoa,
E o envenenado serás tu.
Bote fogo em outro, e te queimarás.
Coloque uma pedra no caminho,
E tropeçarás nela.
Fira outrem, e serás ferido.
Viva com ódio, e te odiarão.
Mergulhe na cobiça,
E tudo começará a te faltar.
Tome a iniciativa de ajudar,
E serás ajudado.
Peça algo para outrem,
E tu o receberás.
Prenda, e serás preso.
Solte, e te soltarás.
Quanto mais espalhas o amor,
Mais amor retorna a ti.
Pense no mal, e te sentirás mal.
Pense no bem, e te sentirás bem.
Do que plantares em teu quintal,
A colheita será abundante.

560
QUEM NOS AJUDA DE VERDADE?

Leonardo gostava muito de escrever poesia. Seus amigos e


familiares liam seus poemas e o elogiavam, dizendo que ele
poderia se transformar num grande poeta. No entanto, Leo-
nardo escrevia um ou outro poema, mas sentia que algo o
bloqueava. Certo dia, Leonardo expôs seus poemas numa
feira de poesia. Um grande poeta, muito reconhecido pelas
suas poesias, leu os poemas de Leonardo e teceu severas
críticas a eles. Disse que seus poemas eram pobres, não
tinha estilo e que eram bastante superficiais. Leo nardo ficou
arrasado com as críticas. Passou meses deprimido com o
ocorrido. Num dado momento ele pensou “Não vou me deixar
ab alar por essas críticas. Pelo contrário, agora vou escrever
ainda mais”. Leonardo então escreveu, escreveu e escre-
veu… Em 2 anos havia escrito 560 poemas e foi mais uma
vez apresentar seu trabalho numa feira de poetas. Ele expôs
seus escritos e foi muito elogiado por poetas experien tes.
Depois lançou vários livros de poesia, foi em vários progra -
mas de TV e se tornou um dos maiores poetas do seu país.
Depois de receber mais um prêmio de literatura, Leonardo
agradeceu a sua família, mas principalmente ao crítico que,
há anos atrás, havia lhe dado um parecer muito negativo
sobre sua obra, e graças a ele, havia se superado e hoje
estava ali. “Foi esse crítico que mais me ajudou, mesmo sem
intenção”. Concluiu Leonardo.

Sueli era contratada numa empresa grande, mas ga nhava


bem pouco. A m oça procurava fazer seu trabalho, mas não
tinha motivação. Seu chefe claramente não gostava dela, e
por isso, começou a persegui-la e reclamar de todo seu ser-
viço. O tempo foi passando e o chefe reclamava mais e mais
do trabalho de Sueli. A moça já não aguentava mais ser tão
massacrada pelo chefe. Certo dia, após uma briga homérica
entre ambos, Sueli decidiu pedir demissão e procurar outro
emprego. A moça passou um tempo bastante deprimida, sem
querer fazer nada, sentindo-se muito mal e vazia. Certo dia,
ela decidiu que não podia mais ficar paralisada pela depres -
são e começou a fazer vários cursos de especialização, gra -
ças a poupança que havia feito enquanto traba lhava na em -
presa. Estudou durante muito tempo várias obras de sua área
de especialização. Passados dois anos, ela retoma ao mer-
cado de trabalho e consegue um emprego bem melhor. Após

561
alguns anos de muito estudo e aperfeiçoamento, Sueli se
transforma numa profissional reconhecida e promissora em
sua área. Graças ao seu trabalho, ela consegue alavancar o
lucro da empresa. O dono da companhia resolve então dar
um aumento a ela. O dono se encontra com Sueli e pergunta
como ela conseguiu ascender tão rápido em sua carreira. Ela
responde que conseguiu graças ao ex-chefe, que a cobrava
muito e, por isso, algo dentro dela se transformou, e ela con -
seguiu se superar e se melhorar. “Quem mais me ajudou foi a
perseguição de meu ex-chefe. Isso me incentivou a melhorar.”
disse ela.

Roberto era um homem muito apegado as suas pos ses. Vivia


pelo dinheiro e não conseguia pensar em outra coisa. Tinha
uma casa grande e muitas joias, as quais eram seu maior
objeto de apego. Roberto não fazia mais nada na vida, a não
ser pensar em dinheiro e em acumular mais bens. Por conta
disso, era um homem infeliz, fútil, carente e vazio. Sua família
tentava alerta-lo a esse respeito, mas Roberto não aceitava
outras opiniões, pois era muito egocentrado. Certo dia, vários
bandidos armados invadiram sua residência e fizeram Ro-
berto de refém. Eles começaram a recolher todas as joias
valiosas que Roberto tanto estimava. Depois de pegarem
tudo, Roberto tentou reagir e levou uma coronhada na ca -
beça. Os bandidos não gostaram nem um pouco de serem
desafiados, e começaram a agredir Roberto até deixa -lo de-
sacordado e todo ensanguentado no chão. Os bandidos ainda
resolveram botar fogo em sua residência e nada sobrou. Ro -
berto foi ao hospital, ficou internado e esteve bem próximo da
morte. Nesse momento, percebeu o quanto dinheiro e pos ses
eram coisas sem importância e que o amor, a paz e a simpli-
cidade da vida eram, esses sim, os maiores bens que ele
deveria cultivar. Após algumas semanas internado, comprou
um lote de terra com o dinheiro que sobrou e passou a viver
como fazendeiro, algo que era seu sonho desde criança. A
transformação de Roberto era notória a todos que o conhe -
ciam. Tornou-se uma pessoa mais humana, mais amorosa e
desprendida, libertando-se dos apegos que tinha. Quando
perguntaram a Roberto como ele se tornara um homem me -
lhor, ele respondeu: “Pode parecer estranho, mas devo agra-
decer aos b andidos que me tiraram tudo, pois se não fosse
por eles, eu não teria me desprendido de tudo e hoje ainda

562
estaria preso, carente e infeliz. Graças à experiência que eles
me proporcionaram, eu me tornei uma pessoa muito melhor”.

Diante destes relatos, podemos nos questionar: Quem ajuda


de verdade uma pessoa? O que será ajudar alguém de fato?
As estórias acima deixam claro que o ato de ajudar muitas
vezes não vem de amigos, mas de inimigos; não vem do
ganhar, mas do perder; não vem do elogio, mas da crítica;
não vem daquele que quer te ajudar a construir, mas sim
daquele que deseja te destruir. Então, muitas vezes, quem
mais nos ajuda é aquele que nos faz mal, que tentou nos
prejudicar e que desejou um dia nos destruir.

É preciso agradecer a todos aqueles que nos fizeram mal,


pois graças a eles, temos a oportunidade de progredir, avan -
çar e nos melhorar espiritualmente.

563
A HISTÓRIA DE UMA VIDA

Era uma vez um jovem chamado Thiago. Ele estava dando


seus primeiros passos em sua vida adulta. Iniciou uma facul -
dade de medicina e seu sonho era atender e curar os doen -
tes. Conheceu uma moça da faculdade e a pediu em namoro.
A moça hesitou um pouco, pois desejava ter o máximo de
tempo livre para estudar m edicina, mas no final acabou acei-
tando.

O tempo passou e eles continuaram juntos. Veio a formatura


numa das melhores universidades de Medicina do país. No
dia da formatura, o jovem fez uma bela surpresa: anunciou no
microfone que estava para se casar e pediu a namorada em
casamento. Ela chorou muito… e disse “sim”. Quase seis
meses depois, eles organizaram uma luxuosa e muito bela
festa de casamento. Todos se emocionaram com o amor dos
dois… O rapaz fez uma homenagem à noiva com um poema
romântico e profundo. Todos dançaram, beberam e se diverti-
ram numa noite inesquecível.

O jovem, agora adulto, arranjou um emprego num dos melho -


res hospitais do país. Sua esposa queria trabalhar na área de
pesquisa, fez um concurso público e foi aprovada numa uni-
versidade pública. O casal sempre se deu muito bem, havia
muito amor e respeito entre ambos. Eram pessoas sociáveis e
queridas por todos.

Decidiram fazer uma viagem e passar alguns dias numa flo -


resta acampando. Foram de carro no alto de um desfiladeiro
apreciar uma maravilhosa paisagem. Beijaram-se vendo o pôr
do sol num lindo espetáculo da natureza. Anoiteceu e decidi -
ram regressar ao hotel. O rapaz ligou o carro e arrancou. No
entanto, num breve descuido, perdeu o controle do veículo e
o carro despencou pelo desfiladeiro, caindo e se chocando
contra o solo, matando ele e a esposa na mesma hora…

Eles morreram jovens e cheios de esperança no futuro. Todos


choraram por eles. Essa foi a história de Thiago…

Provavelmente a morte de Thiago surpreendeu aque les que


estão lendo esse conto, pois o ser hu mano deseja sempre
acreditar que a vida vai se continuar, se “completar” e que ela

564
deve ter um desfecho que faça sentido para nós. No entanto,
nada falta nessa história, pois casos como a de Thiago ocor-
rem todos os dias em todo o mundo. O ser humano é que
costuma esquecer de sua mortalidade e vai tocando sua vida
com a ilusão de uma perpetuação indefinida da existência.
Procuramos sempre negar a morte e preferimos acreditar que
ela não virá… Quando contamos a história de uma vida, é
sempre necessário lembrar que ligada a ela há sempre uma
morte e esta pode chegar mais cedo do que supomos.

A vida não obedece as nossas expectativas. Isso é muito


importante e ninguém deve esquecer que tudo pode acabar a
qualquer momento, não importa o quanto acreditemos que a
vida vai continuar, que o futuro tem muito a nos revelar, ou
que ainda temos bastante tempo para viver. Quando se pensa
na mortalidade, na natureza perecível da existência hu mana,
tudo que vivemos tem mais sentido e não deixamos para o
futuro o que devemos fazer agora.
A única certeza que temos é a morte, então, o ser humano
precisa estar sempre preparado para ela.

Por isso, nunca se esqueça: Quem não se pre para para a


morte, acaba perdendo a vida…

565
NADA PODEMOS POSSUIR

Há uma máxima da espiritualidade que diz assim:

“Nada podemos possuir, pois tudo nesse mundo é um em -


préstimo de Deus.”

Não podemos perder algo que nunca foi nosso de verdade.


Tudo nesse mundo são apenas empréstimos de Deus.

Só acreditamos que perdemos porque um dia supo mos ter


possuído algo, mas a verdade é que nada podemos possuir.
Tudo que existe nesse mundo é passageiro e nada mais é do
que uma ferramenta para nossa evolução espiritual.

Quem acredita possuir algo, sempre sofre pela falsa sensa-


ção de “perda”.

Quando não mais cultivarmos ideias de posse, de proprie -


dade, de pertencimento, de ter isso ou aquilo, de conquistar,
de ganhar, etc…

Aí não mais sofreremos com perdas ilusórias.

Você não perdeu seu carro… Você nunca possuiu seu carro.

Você não perdeu sua casa… A casa nunca foi sua de ver-
dade.

Você não perdeu seu filho… seu filho nunca foi seu.

Sempre foi um espírito livre e independente.

Ele pode ficar para realizar tarefas no plano físico, pode ir


embora para viver a vida espiritual.

Você só pensa que você perdeu porque um dia você acredi -


tou obter.

Quem quer muito ter algo, sofre mais quando desco bre que
esse algo nunca foi seu.

566
Quem acredita na ilusão da posse, sofre muito mais quando
descobre que a posse é somente uma ilusão.

Ninguém pode possuir coisa alguma. A posse é uma ilusão


em si mesma. É uma das maiores ilusões a que estamos
sujeitos.

Tudo nesse mundo é temporário, tudo é transitório, tudo que


tentamos agarrar escapa de nossas mãos.

Quem se agarra a alguma coisa, cria um abismo em baixo de


si.

Esse abismo é a falta de nós mesmos, pois quando nos agar-


ramos a algo, deixamos de nos pautar em nós mesmos. E o
resultado é o vazio do abismo.

Quanto mais contemplamos o abismo e evitamos encara-lo,


mais nos agarramos a algo ou alguém ten tando evitar a
queda.

Não acredite em posses externas. Ninguém pode obter nada


e nem tampouco perder nada.

Como disse Jung: “Quem olha pra fora, sonha; quem olha
para dentro desperta”.

Não creia na conquista de sonhos humanos, na conquista de


pessoas, nem mesmo na conquista de coisas.

É melhor viver acordado no presente, no eterno agora, do que


dormindo e sonhando com conquistas futuras.

Quem crê ilusoriamente ter conquistado algo, só acorda com


o impacto da perda.

A perda nada mais é do que a indicação de que nada pode -


mos possuir. É a vida nos mostrando que nada é nosso a não
ser nós mesmos.

Aquilo que pode ser objeto de ganhos e perdas, nunca foi e


nem nunca será nosso.

567
Mas aquilo que é nosso e nunca ganhamos; aquilo que vem
de dentro de nós e nasce do nosso espírito, isso jamais po -
derá ser perdido.

Há um axioma de Lavoisier que diz: “Nada se perde, nada se


cria, tudo se transforma”.

O que é perdido aqui, renasce ali.

O que vai embora num momento, surge de novo em outro


momento.

O que terminou numa forma, revive em outra forma.

Quem fica preso à forma, sofre pela perda.

Mas aqueles que se desligam das formas, sabem que nada


se destrói completamente.

Esses não desejam possuir algo ou alguém, e por isso, nunca


sofrem.

Tudo que morre numa forma, muda e passa a existir de outra


maneira.

Por isso, não há posse nem perda, há apenas trans formações


periódicas na grande alquimia do cosmos.

Desista de possuir a forma, ela nunca será sua.

Desista também de possuir a essência, pois a essência não


se possui… a essência se é.

O ser não precisa do ter para existir.

Mas se o ser se prende ao ter, ele morre junto com o ter.

Você não pode ter… Você pode apenas ser.

E ser não é somente ser.

Ter não é nada… Ser é tudo.

568
DISCIPLINA É LIBERDADE

Queria abordar nessa oportunidade um tema bastante mun -


dano, mas que também possui a sua contraparte espiritual
dentro do nosso crescimento interior. É necessário que todos
meditem na importância de se poupar dinheiro, de se ter uma
reserva financeira, de ter guardadinho lá a nossa poupança
para melhor enfrentar as épocas de crise que todos nós pas -
samos.

Antigamente o ser humano tinha a consciência do valor que


se deve dar ao hábito de se poupar dinheiro, de se ter uma
reserva financeira. No entanto, com o advento do século XX,
mais propriamente a partir dos anos 50, a atividade comercial
cresceu vertiginosamente em todo o mundo. Por esse motivo,
um pesado investimento foi empreendido em propagandas de
massa, a fim de atrair o público a consumir em maior quanti-
dade toda uma gama de produtos.

Essa conjuntura social teve como consequência induzir a


maior parte da população a quase sempre gastarem mais do
que o necessário. Muitas pessoas pobres ou de classe média,
que anseiam pelo consumismo dos mais ricos, tão logo con -
quistam um dinheirinho a mais, acabam entrando de cabeça
nesse mundo consumista, e por esse motivo, ficam lotadas de
dívidas. A dívida nada mais é do que uma forma de escravi -
zação moderna. A pessoa faz uma dívida e fica presa a um
sistema financeiro, uma empresa, e o mais comum, um
banco. O banco vai cobrando juros sobre juros dentro da
dívida inicial, e quando nos damos conta, já pagamos 2 ve -
zes, 3 vezes, 5 vezes, 10 vezes o valor da dívida inicial . Esse
sistema é injusto, claro, pois beneficia sempre aqueles que
mais têm em detrimento dos que menos têm. Muitos dos
grandes ricos do país fazem sua fortuna às custas tão so -
mente das dívidas de pessoas mais pobres. Muitas dessas
pessoas menos favorecidas trabalham diariamente, dando
seu sangue, suor e lágrimas, apenas para pagar o que de -
vem, e são obrigadas a dispor de um valor muito maior do
que deveriam. Alguns perdem sua vida somente pagando
dívida atrás de dívida, quando poderiam estar poupando seu
dinheiro e já ter conquistado uma certa segurança financeira.

569
O que provoca esse estado de coisas? Na quase totalidade
das vezes, é a ganância humana que gera as dívidas. Vamos
ver exemplos disso. Uma pessoa que ganha, por exemplo,
3000 reais por mês. Es sa pessoa sente que está abaixo de
muitos na escala social. Ela fica a todo momento sendo bom -
bardeada na mídia pela influência de propagandas sedutoras
que acabam fazendo a sua cabeça e a convencendo de que,
para ela ser completa, ela precisa consumir mais e mais, pois
só assim ela estará satisfeita na vida. Obviamente essa é
uma das maiores mentiras do nosso tempo, mas a maioria
das pessoas acaba caindo nesse grave erro que destrói suas
vidas. Então o que ela faz? Ao invés de usar 1500 reais todo
mês para pagar suas contas, ela gasta 3000 reais por mês,
ou em contas, ou em consumos desnecessários a sua sobre -
vivência, como bebida alcoólica, lanches, roupas que não
precisa, etc. O resultado disso é que o dinheiro não sobra no
final do mês e essa pessoa fica dependente do seu emprego
e da empresa que trabalha, assim como fica bastante vulne -
rável a qualquer crise. Se ela perder o emprego, perde tudo.
Se ela tiver que pagar, por exemplo, uma cirurgia de 5000
reais, ela não terá de onde tirar. Nesse caso, uma dívida pode
começar e a escravizar por anos e anos a fio.

Para não cair nas garras das dívidas e não ser surpreendido
por épocas de crise, as pessoas devem fazer duas coisas. A
primeira é se libertar desse mundo consumista, onde a ga -
nância e a carência são os principais regentes do nosso com -
portamento. Desejamos ter cada vez mais coisas para não
nos sentirmos inferiores e para preencher um pouco do vazio
de nossa existência. A segunda atitude a ser tomada é sem -
pre poupar uma certa quantidade de dinheiro todo mês. Isso
nos dá segurança, liberdade e evita que sejamos presos
nessa teia complexa de dívidas.

Vamos dar alguns exemplos para que esse ponto fique me -


lhor compreendido. Se uma pessoa ganha 2000 reais por
mês, ela deve gastar apenas 1500 reais. Assi m, ela vai pou-
pando 500 reais todo mês e ao cabo de um ano, ela terá uma
reserva de 6000 reais. Se uma pessoa ganha 5000 reais, ele
deve gastar nas contas do mês apenas 3500 reais. Assim, ela
vai juntando 1500 todo mês, e ao cabo de um ano ela terá
uma reserva de 18.000 reais para protege-la de perder um
emprego, de momentos de crise ou de gastos inesperados,

570
como uma cirurgia, um acidente, etc. Se uma pessoa ganha
10.000 reais, ela deve guardar todo mês 3000 reais do seu
orçamento e só gastar 7000 reais. Ela não pode jamais gastar
os 10.000 reais em contas e consumos, caso contrário, ficará
vulnerável a qualquer mudança externa. Ao cabo de 1 ano,
ela terá uma reserva de 36.000 reais. Em 5 anos guardando
sempre o mesmo valor, ela terá uma reserva de 180.000
reais.

Isso lhe proporcionará uma sensação maravilhosa de liber-


dade e segurança, onde ela não depende de instituições
financeiras e esta livre de qualquer dívida. Pode até usar esse
dinheiro para fazer uma nova formação profissional, comprar
um sítio, abrir um novo negócio ou simplesmente deixar no
banco rendendo. A pessoa vai ficar 5 anos fazendo um es -
forço de poupar, mas ao final desses 5 anos, terá uma estabi -
lidade maior. Há uma máxima hindu, citada numa das músi -
cas da banda legião urbana, que diz: “Disciplina é liberdade”.
Essa máxima é muito ampla e abrange vários aspectos da
vida humana, mas dentro do contexto de contenção de gastos
ela significa que, aquele que consegue manter uma disciplina
de comedimento por um determinado período de sua vida,
conquista depois uma liberdade e uma segurança com o
dinheiro guardado que será sua recompensa. Ela vai abrir
mão de uma série de regalias consumistas vazias, mas de -
pois poderá experimentar uma tranquilidade que valerá todo o
esforço.

Para se ter tranquilidade e liberdade em nossa vida finan-


ceira, é preciso abnegação; é preciso deixar de lado esse
mundo consumista que nada nos acrescenta e simplesmente
aprender a poupar um pouco a cada mês. Assim, não sere -
mos mais vítimas dessa nova forma de escravização mo-
derna, pelas dívidas e pela prisão do nosso nome a institui -
ções financeiras.

Por isso, não se esqueça: “Disciplina é liberdade”. A renúncia


de hoje será a liberdade e a tranquilidade de amanhã. Aliás,
isso se dá com tudo em nossa vida. A renúncia d a vida hu-
mana é também a nossa liberdade e tranquilidade no plano
espiritual.

571
POR QUE AS PESSOAS SÃO ENGANADAS PELOS PICA-
RETAS?

É muito importante que todos tomem muito cuidado com os


picaretas que existem dentro do movimento Espiritualista.

Há uma grande proliferação de falsos profetas hoje em dia.


Isso não se restringe apenas ao Espiritismo e ao Espiritua -
lismo, mas abrange todas as religiões, correntes, tradições,
seitas e espaços holísticos. Há muitos aproveitadores, opor-
tunistas e pessoas que se valem da boa fé das pessoas para
auferir vantagens indevidas.

Infelizmente não podemos dizer o nome destas pessoas que


atuam aqui no Brasil, pois isso poderia gerar vários processos
na justiça. Por isso, todos precisam ter discernimento e não
aceitar tudo o que nos aparece. Muitas pessoas se desviam
do caminho espiritual levadas pelos falsos profetas, por falsos
terapeutas, por falsos médiuns, por charlatães que enrique -
cem às custas daqueles que acreditam em tudo, ou melhor,
que querem acreditar. É muito importante que as pessoas
duvidem dos “espiritualistas”, dos médiuns, daqueles que
escrevem psicografias feijão com arroz do tipo “novelas da
Globo”. É preciso sempre ter o pé atrás.

Mas por que tantas pessoas são enganadas pelos picaretas?


Essa resposta está dentro de cada um de nós, em nossa
atitude insistente de querer tudo fácil, tudo pronto, tudo dentro
da chamada “lei do menor esforço”. Muitas pessoas são en -
ganadas pelos picaretas não apenas por culpa desses opor -
tunistas, mas principalmente porque essas pessoas optaram
em seguir a via mais fácil, mais cômoda. Vamos dar um
exemplo para a melhor compreensão desse ponto. Imagine
uma pessoa que acredita numa falsa cigana leitora de cartas.
Ela busca esse adivinho porque é o caminho mais confortável
para descobrir sobre si mesma. Ao invés de fazer um esforço
para se autoconhecer, para analisar a si mesmo, entrar dentro
de si e superar suas angústias, ela procura alguém que lhe
dará todas as respostas prontas e que, principalmente, al -
guém que lhe dirá o que ela quer ouvir. Assim, ela não preci-
sará fazer uma terapia mais profunda para se descobrir, ela
não precisará buscar as respostas dentro de si, ela não preci -
sará fazer uma análise minuciosa de seu comportamento, de

572
suas tendências; ela não precisará adentrar em seu inconsci-
ente e ver o que ela não quer ver… ela precisará apenas ir na
vidente e descobrir as respostas. Assim é, sem dúvida, muito
mais fácil, porque, afinal de contas, entrar dentro de si e ver
as causas de nossas angústias é algo que dói muito.

Vejamos outro exemplo. Por que tantas pessoas buscam


romances tipo “novelas da globo” e assim acabam caindo nas
garras dos falsos médiuns de psicografia? Porque essa pes -
soa quer uma leitura mais simples, menos reflexiva, mais
agradável, algo que ela não precise pensar muito. Ela procura
uma obra que não exija um senso crítico mais apurado, que
não seja muito profunda e que toque apenas questões super-
ficiais. Ela deseja uma literatura mais rasa porque pensar e
refletir sobre as questões mais profundas dá muito trabalho.
Pensar chega até a doer para algumas pessoas. Rever nos -
sas crenças nos deixa inseguros. Pensar sobre as questões
essenciais da vida nos dá medo. Olhar para a vida e admitir o
mistério nos faz sentir um certo vazio, afinal de contas, o ser
humano acredita que sabe ou deveria saber tudo. Quando
descobrimos que sabemos muito pouco, ou quase nada,
constatamos o quanto ainda precisamos peregrinar por um
muito longo e árduo caminho. Essa caminhada é penosa e
cansativa, então a maioria prefere acreditar que já sabe tudo
e que não se faz necessária a revisão profunda de suas cren -
ças. Com esta atitude, o que acontece? A pessoa facilmente
cai em ciladas de livros falsos que dizem apenas o que a
pessoa quer ouvir. Romances superficiais que não tocam as
grandes questões da existência. Obras que ao invés de rever
certas crenças, vem a reforça-las, para que o leitor se sinta
seguro dentro da insegurança básica da existência material.
São livros que criam ilusões dentro de ilusões e ao invés de
nos colocar diante da verdade, apenas nos fazem decair
ainda mais em ilusões que só aumentarão nosso sofrimento.
Assim, as pessoas caem nas enganações e nas mentiras dos
charlatães. No fundo, elas não são enganadas, elas apenas
buscam alguém que as ajude a enganar e mentir para si
mesmas.

Por outro lado, por que tantas pessoas buscam os falsos


terapeutas? A resposta é a mesma… Porque esses profissio -
nais oferecem métodos de tratamento com fórmulas prontas,
com respostas fáceis, com um caminho que pouco exige d a

573
pessoa. Eles passam uma técnica de cura em que a pessoa
não precisa rever a sua vida; ela não necessita mudar certas
atitudes; ela não terá que entrar dentro de si mesma e fazer
uma catarse mais profunda… Basta apenas seguir a fórmula
pronta, fazer um sinal, usar um adereço, defumar o ambiente,
proferir algumas supostas “palavras de poder”, ou precisará
apenas ficar parada e esperar que o terapeuta haja sobre ela,
sem que ela precise fazer coisa alguma. Não afirmamos aqui
que nenhuma destas coisas possa ter um efeito, mas ne-
nhuma delas vai transformar a nossa vida e resolver os nos -
sos problemas.

Por isso dissemos com convicção: não existe caminho mais


fácil para a solução dos nossos problemas. Enquanto as
pessoas continuarem buscando o método “feijão co m arroz”,
a comodidade da técnica oferecida por um picareta, nada
será mudado: a pessoa continuará a mesma e pode até pio -
rar.

Quanto mais o ser humano amadurece, mais ele percebe que


na vida nada se consegue sem esforço e sem dedicação. É
preciso mergulhar em nosso interior, encarar frente a frente
nossos demônios e exorciza-los um a um. E isso… sinto di-
zer… Só a própria pessoa pode realizar, ninguém mais pode.
Claro que o terapeuta sério vai te indicar o caminho; o verda -
deiro mestre vai te ajudar a olhar para dentro de si; o xamã
honesto vai descer ao inferno com você no auxílio da cura de
suas mazelas, o sensitivo correto vai ajudar a equilibrar as
suas energias. No entanto, no fim das contas, é você mesmo
e mais ninguém, que pode resolver-se a si mesm o. Aqueles
que continuarem buscando facilidades na resolução das im -
purezas do seu ser vão continuar sendo enganados pelos
picaretas, pelos falsos profetas e pelos falsos terapeutas… E
pior: vão continuar sofrendo, angustiados, doentes e bloquea -
dos quando já podiam ter se curado e se transformado.

Por isso, não acreditem no caminho mais fácil. Não optem


pela via do comodismo. Não creiam em fórmulas prontas,
cursos ou workshops de fim de semana miraculosos que
prometem cura, prosperidade e outras benesses mundanas.
Acreditem em Deus e em sua própria capacidade de superar
todos os seus limites. Uma coisa é certa: a doença foi criada

574
por nós e consequentemente a cura também está tão so -
mente dentro de nós mesmos.

575
O MAL QUE TE FIZERAM

Marília era uma pessoa muito infeliz e frustrada. Tinha um


filho que se chamava Bernardo. Muitas vezes Marília se irri -
tava com uma série de situações e descontava no filho. Por
muitas vezes o menino sofreu com as agressões da mãe.
Desde os sete anos de idade, apanhou muito em várias oca -
siões. Acabou se tornando uma pessoa revoltada. Bernardo
cresceu e teve filhos. Por conta das surras que levava, ficou
deprimido e não conseguiu realizar o que desejava em sua
vida. Assim, seguiu o mesmo caminho de sua mãe e come-
çou a agredir os próprios filhos. Batia neles sem dó e seguiu
esse padrão até a sua morte. As mesmas agressões que ele
sofreu de sua mãe ele impunha aos seus próprios filhos.

Bianca era uma menina doce e delicada, que apresentava


dificuldades escolares. Ela estudava, estudava, mas não
conseguia obter a média suficiente para passar de ano. Uma
das professoras da escola não gostava da menina e começou
a persegui-la. Sempre que Bianca apresentava um bloqueio
na aprendizagem, a professora ficava com má vontade e
expunha a menina diante de toda a classe. Algumas vezes a
professora dizia, na frente da menina, que todos deveriam
estudar para não ficar como a Bianca. Foram muitas perse -
guições e humilhações. Bianca cresceu e se tornou uma
pessoa deprimida e melancólica, que não acreditava em si
mesma. Estudou e conseguiu se tornar uma professora da
rede pública. Percebeu que existiam alguns alunos que eram
tal como ela foi sua infância. Ao invés de ajuda -los, ela come-
çou a persegui-los e a expor cada um deles, da mesma forma
que sua professora da escola fazia. Bianca tinha aversão do
que ela foi em sua idade escolar. Por esse motivo, ao ver um
dos alunos semelhantes a ela, tinha a mesma atitude da pro -
fessora que a colocava pra baixo. Bianca foi maltratada em
sua infância e acabou seguindo o mesmo comportamento
com alguns de seus alunos.

Guilherme era um menino tímido e meio desajeitado. Os co -


legas da escola viviam fazendo bullyng nele, dando vários
apelidos, chamando-o de torto, esquisito e burro. Guilherme
cresceu ouvindo essas ofensas e sofrendo um terrível bullyng
de seus colegas, que o faziam de bode expiatório e não pou -
pavam o garoto. Cresceu e se tornou um empresário de su -

576
cesso, porém uma pessoa cheia de feridas de uma infância
marcada pelo bullyng. Tornou-se um homem arrogante e
revoltado. Por isso, muitas vezes tratava mal seus emprega -
dos: não pagava direito seus salários, exigia muito deles,
brigava, ameaçava, praticava assédio moral, etc. Guilherme
fazia um verdadeiro bullyng em seus funcionários, o mesmo
que ele havia sofrido em sua época de escola.

Esses casos nos mostram um padrão muito comum que


algumas pessoas adotam em suas vidas. Temos alguém que
foi gravemente ferido, humilhado, agredido e enganado du -
rante uma parte de s ua vida. Em outro momento, essa pessoa
acaba reproduzindo esse mesmo comportamento. Podemos
dizer que esses indivíduos foram maltratados e depois aca -
bam se tornando exatamente como quem os maltratou. Eles
foram molestados, atormentados e depois cuidam de molestar
e atormentar outras pessoas.

Por isso alertamos a todos: não se transforme no mal que


fizeram a você. Ou, como diz a máxima, “Não se torne jamais
aquilo que te feriu”. Cuide de aprender com as más experiên-
cias, com os sofrimentos e procure não repetir esse mesmo
padrão com outras pessoas. Não é porque te maltrataram,
que você também tem que maltratar; não é porque te humi -
lharam, que você também deve humilhar os outros; não é
porque te bateram e te enganaram, que você deve fazer o
mesmo.

Faça uma reflexão profunda e procure descobrir se você não


acabou se transformando no mal que alguém impôs a
você. Pessoas que foram agredidas, podem começar a agre-
dir; pessoas que foram destratadas, podem começar a des -
tratar; pessoas que receberam uma educação fria podem se
tornar pessoas frias; pessoas que foram rejeitadas podem
querer rejeitar outros; qualquer mal que alguém te fez, você
pode desejar fazer a outrem, mas não faça isso. É muito
importante que todos possam seguir algumas orientações na
vida: quando alguém te fizer mal, não se torne tal como o mal
que te fizeram. Aprenda com essa experiência e faça dife -
rente. Torne-se aquilo que você gostaria que tivessem feito
com você.

577
PUREZA DE INTENÇÃO

Quando eu era mais novo, lembro-me perfeitamente dos


conselhos que me dava o meu avô. Ele sempre me aconse -
lhava a jamais gritar com outras pessoas. Levantar a voz para
o outro, segundo ele, era sempre algo errado. Não importa o
que tenha acontecido, não importa o que o outro faça… Em
sua visão, jamais devem os berrar com outras pessoas. Os
gritos são atitudes de pessoas ignorantes e descontroladas.
Cresci e acabei absorvendo essa ideia: “Quem grita com os
outros será castigado por Deus”, dizia ele.

Certo dia estava eu viajando de avião. Estava sentado tran -


quilamente em minha poltrona lendo um livro. Num dado
momento, um dos passageiros começou a ter uma crise de
ansiedade após uma turbulência no voo. As aeromoças foram
socorrê-lo, tentaram acalma-lo de várias formas, mas nada
parecia funcionar. O passageiro continuava nervoso e bas -
tante transtornado. Aquela situação estava deixando outros
passageiros também nervosos e agitados. Nesse momento,
senti que algo precisava ser feito e tinha que ser rápido. En -
tão me aproximei do passageiro ansioso, toquei em seus
ombros e gritei: CALMAAAAAAA!!!

Ele levou um choque… Parou e ficou me observando atônito.


Ficou claro pra mim que ele não esperava aquela reação de
ninguém. Ele achava que todos iriam fazer carinho nele e
pedir com tranquilidade para que ele se acalmasse. Quando
ele percebeu alguém gritando, levou um susto e subitamente
a crise passou. Outros passageiros foram se acalmando e o
voo pôde seguir normalmente.

Após esse episódio, lembrei-me das palavras do meu avô


dizendo que ninguém jamais poderia gritar com outras pes-
soas, pois gritar era algo errado em qualquer circunstância.
Fiquei com receio de ser castigado por Deus após esse meu
comportamento. No entanto, quando me aproximei e gritei
com o passageiro, minha intenção era a melhor possível. Eu
queria apenas que a pessoa se acalmasse e que sua crise de
ansiedade não contaminasse outros passageiros, prejudi -
cando a todos.

578
Como Deus poderia me castigar por isso, se eu fiz o que fiz
com uma intenção pura? Nesse momento de minha reflexão,
ficou bem claro em minha mente que não faz tanta diferença
a atitude de uma pessoa, sua ação, seu comportamento, mas
sim a intenção pela qual aquele ato é realizado. Se nossa
intenção é pura, mesmo uma atitude reprovável aos olhos da
sociedade pode se transformar em algo positivo. O contrário
também é verdadeiro: falar calma e serenamente com uma
pessoa não implica uma intenção pura. Já presenciei discur-
sos mansos e impassíveis eivados de duras ofensas e de um
sentimento de ódio profundo pelo outro.

No final das contas, a ação não é tão importante. O que conta


de verdade para Deus é a intenção na qual você realiza
aquele ato. Tudo que praticamos de positivo é movido pela
nossa intenção e não pelas nossas ações manifestas. Dessa
forma, eu aprendi esta grande lição: Deus não olh a o que
você faz… Deus observa, isso sim, a pureza de intenção com
a qual uma atitude é realizada. Uma pessoa que realiza feitos
maravilhosos com a intenção de ser recompensado por Deus
depois está afundando em sua vaidade.

Em muitos casos, nossa intenção não é pura, e por isso,


desejamos demonstrar que nosso comportamento é puro,
quando na realidade nossa intenção é obscura. É como o
homem que dá comida aos pobres esperando recompensa
divina; como a médica que trata seus pacientes preocupada
com seu salário e não com a pessoa; como o bombeiro que
vai salvar uma pessoa desejando aparecer na televisão sendo
ovacionado pelo seu grande feito, ou ainda como a mãe que
se sacrifica pelo seu filho esperando que ele não a abandone
quando a velhice chegar. Em todos esses casos, nossas
belas atitudes camuflam o caráter interesseiro de nossa in -
tenção.

Por esse motivo, sempre que tiver dúvida sobre a forma cor-
reta de proceder, não preste tanta atenção nos seus atos.
Faça um mergulho em seu interior e procure desvendar a
natureza mais fundamental de sua intenção. É na intenção
onde reside o real valor de nossa postura diante da vida.

579
CARIDADE VERDADEIRA

Caridade não é ajudar nosso filho, nossos pai, nossa mãe,


nosso irmão ou algum outro parente.

Não há quase nenhum mérito em ajudar aqueles que gosta-


mos, que amamos e que são nossos parentes.

Caridade faz aquele que ajuda pessoas que lhe são desco -
nhecidas e que nada podem lhe dar em troca.

Uma caridade ainda maior é feita por aqueles que ajudam


uma pessoa que não gostam. Esse é um ato muito mais cari-
doso do que ajudar apenas desconhecidos.

Uma caridade ainda maior é praticada por aqueles que aju -


dam uma pessoa que lhes fez mal ou muito mal. Ajudar quem
nos prejudicou, essa sim, é a verdadeira caridade.
Jesus disse: Amai os vossos inimigos. O mestre disse isso se
referindo a esse princípio.

Ajuda de verdade aquele que ajuda quem nada pode lhe dar,
quem não gostamos e mais ainda… quem nos fez mal. A
caridade verdadeira é feita por pessoas que doam, ajudam ou
prestam auxílio àqueles que nos maltrataram, que nos perse -
guiram, que nos prejudicaram, que nos ofenderam ou que nos
querem mal.

Querer bem àqueles que nos querem mal, ajudar aquele que
nos destratou, auxiliar quem tenta nos destruir… essa é a
verdadeira caridade.

Como disse Jesus:

“Amai os vossos inimigos; fazei o b em aos que vos odeiam e


orai pelos que vos perseguem e caluniam. – Porque, se so-
mente amardes os que vos amam que recompensa tereis
disso? Não fazem assim tamb ém os pub licanos? – Se unica-
mente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais
do que outros?”

580
NÃO ALIMENTE O MAL

É melhor ser magoado do que magoar…


É melhor ser ofendido do que ofender…
É melhor ser agredido do que agredir…
É melhor sofrer do que fazer o outro sofrer.
Mas quando somos atacados, agredidos, maltratados, mago-
ados
E respondemos de forma amorosa, tranquila, indiferente e
livre…
Não somos afetados e não ficamos com nada dentro de nós.
A mágoa vem e não fica
O sofrimento aparece e não faz moradia
A agressão passa, m as não fica…
O karma é transmutado e nos tornamos livres.
Mas se devolvemos ódio com ódio
Se atingimos com agressões aqueles que nos agridem
Se fazemos sofrer aqueles que nos impingiram sofrimento
Alimentamos o ódio, fazemos ele crescer e ele continua vivo .
Damos mais e mais combustível a ele e não permitimos que o
mal se enfraqueça e morra de fome.
Devolver na mesma moeda apenas fortalece o mal em nós.
Retribuir o mal com o mal empobrece nosso espírito.
Por isso, não faça o outro sofrer… Deixe que o sofrim ento
venha e passe por você, sem reações similares.
Apenas reaja de forma amorosa…
E o mal em você será purificado
Transformando-se em bem estar, paz, felicidade e liberdade
espiritual.

581
OS FRUTOS DO BEM

Quando vivemos nossa vida de forma plena e feliz… não


ficamos nos preocupando em como o outro escolheu viver a
vida dele.

Aquele que é feliz consigo mesmo, não fica se metendo na


vida do outro, não fica querendo interferir em como o outro vai
viver.

Aquele que se aceita como é… tenderá també m a aceitar o


outro da forma que ele é ou que ele quer ser.

Mas aquele que não gosta de si mesmo, que rejeita a si


mesmo, que tem aversão a certos aspectos de seu compor-
tamento, vai desgostar do outro, vai rejeitar o outro, terá aver-
são do comportamento do outro.

Quem está satisfeito consigo mesmo… não tentará moldar o


outro naquilo que ele acredita ser o correto.

Quem não está satisfeito consigo mesmo, vai sempre tentar


modificar o outro; alterar o comportamento do outro, ditar
regras ao outro, colocar-se acima do outro, achar que o outro
tem algo errado.

Aquele que vive bem, quer ver o outro bem. Aquele que vive
em paz, quer que o outro viva em paz; aquele que vive feliz,
aspira a felicidade de todos.

Desejamos para todos aquilo que existe de mais s ublime


dentro de nós.

Quem tem uma escuridão dentro de si, anseia que o outro


experimente essa mesma escuridão.

Quem tem Deus dentro de si, quer que todos vivam plena -
mente com Deus dentro de todos.

A felicidade possui o impulso da expansão. Ela quer se es-


palhar para todos. Mas a infelicidade também quer ser espa -
lhada.

582
Se um dia você tiver dúvidas se está bem ou está mal, entre
dentro de si e procure descobrir qual sentimento você deseja
ao outro.

Se você deseja o bem para todos, você está bem. Se de seja


apenas o mal, você está mal.

O mal que você deseja, é o mesmo mal que existe em seu


interior e que te destrói. É exatamente o mesmo mal que
surgirá em toda a sua vida. É o mal que você viverá e atrairá.
É o mesmo mal que te assombrará até ser resolvido e trans-
formado.

Aprenda a máxima: Só podemos dar ao outro aquilo que


temos dentro de nós

Fique primeiro de bem contigo mesmo, pois somente assim


seu bem poderá transbordar ao mundo.

A macieira não pode dar banana; a bananeira não pode dar


limão. A rosa não esparge o aroma do lírio. Da mesma forma,
o homem mau pode oferecer apenas o mau que tem em si. O
homem de bem pode oferecer os frutos do bem que vem de
sua alegria, de sua paz, de sua felicidade, de sua liberdade.

583
MENSAGENS SOBRE AS LEIS
NATURAIS DA VIDA

PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DA VIDA

Vejamos alguns dos mais importantes princípios espirituais da


vida:

O primeiro princípio espiritual da vida nos revela que tudo o


que existe faz parte de Deus, está dentro de Deus, vive com
Deus e principalmente é Deus. Todas as coisas possuem
uma natureza divina que reside latente dentro de si mesmas.
Do ser mais inferior ao mais superior, da bactéria ao sol, da
molécula ao anjo, dentro de toda a escada da evolução
universal, tudo faz parte da perfeição divina. Estamos ainda
inconscientes dessa divindade que carregamos nos recôndi -
tos mais profundos de nós mesmos, mas essa essência
existe, ela está lá, esperando a hora de se manifestar em toda
a sua pureza e plenitude. Saber que a perfeição reside latente
em nosso ser é um alento que devemos levar para sempre.

O segundo princípio nos informa que tudo faz parte de tudo.


Temos o todo dentro de nós mesmos, somos formados pelo
mesmo material cósmico das estrelas, das galáxias, dos uni -
versos visíveis e invisíveis. Toda a composição universal está
presente em nós. Somos um todo em miniatura. Somos uma
partícula de todo o universo e temos todo o universo dentro
de nós. O espírito que somos é infinito e eterno.

O terceiro princípio espiritual da vida nos mostra que todas as


coisas tem um propósito, uma finalidade, um ideal mais pro-
fundo a ser alcançado que nem sempre percebemos em
nossa limitada visão. Qualquer sofrimento, qualquer situação
difícil, dores, provações, tudo isso tem um sentido mais pro-
fundo que ainda somos incapazes de compreender mais
profundamente. Despertar a consciência de que tudo na vida
tem um sentido, um significado divino, um propósito superior
nos assegura uma vida de fé, de confiança total nos planos
de Deus. Uma criança não entende porque faz certas coisas,
como se alimentar, se vestir, tomar remédios, etc. Mas

584
quando crescer e se tornar adulta, entenderá tudo o que seus
pais fizeram com ela. Assim também são os planos de Deus
para seus filhos humanos, onde tudo sempre tem um sentido,
e nada ocorre por acaso.

O quarto princípio da vida nos faz compreender que tudo está


interligado. Não estamos separados uns dos outros. Há um fio
da vida, um tecido cósmico que une todos os seres do uni -
verso, formando uma unidade inquebrantável. É como se
todos os seres do universo fossem como pedras preciosas
num infinito colar divino. Todas as pedras do colar, que é o
espírito de cada ser, está ligado a todas as outras pedras
preciosas por um fio inconsútil. Esse fio passa pelo centro
eterno e espiritual de cada um de nós e nos conecta a tudo e
todos igualmente. Não há um só ser ou coisa em todo o cos -
mos que esteja separado de tudo e não esteja ligado a todos
por esse colar divino. Esse princípio nos leva a uma conside-
ração muito verdadeira. Se eu não estou separado de você,
não posso te agredir, pois estarei agredindo a mim mesmo;
não posso te ofender, pois estarei ofendendo a todos; não
posso te matar, pois estarei matando a mim mesmo e tam -
bém um plano maior da Criação. Vivemos numa infinita multi-
plicidade cujo elo é uma unidade essencial.

O quinto princípio fala da verdade das transforma ções do


cosmos. Tudo no universo muda, se trans forma, se move e
vibra. Nada está parado, estagnado ou preso. Tudo corre,
tudo flui, todas as coisas existem numa torrente de vibrações
que nunca se esgota. Por esse motivo, ninguém deve parali -
sar ou imobilizar sua vida, pois a corrente sempre nos leva
querendo ou não. Devemos sempre acompanhar o eterno fluir
da existência e seguir em frente, m esmo diante do maior
sofrimento. Quem para, perece. Quem flui com a corrente
cósmica, vive e renasce.

O sexto princípio nos fala da consciência de que tudo está em


seu devido lugar; tudo é sagrado e em tudo existe uma or -
dem, mesmo na aparente desordem. Os gregos chamavam
esse princípio de “cosmos”, a harmonia universal, a ordem da
vida. Não há coisa alguma que esteja fora do seu lugar. To -
dos os seres e coisas estão exata e matematicamente onde
deveriam estar. Havendo outro lugar melhor para você em
todo o universo, a inteligência divina trata de retira-lo de onde

585
você estiver e coloca-lo neste outro local. Você vive a vida
que tem que viver; você faz o que tem que fazer; o que te
acontece é exatamente o que você precisa e merece dentro
de tudo o que você criou ao longo da eternidade. Portanto,
não acredite que as coisas estão erradas para você, pois tudo
está exatamente como deveria estar. Não existem erros, tudo
está absolutamente correto e perfeito.

O sétimo princípio fala sobre as aparências que re vestem as


essências. Cada ser e coisa que existe no cosmos possui
uma aparência que esconde a sua essência real, aquilo que
ela é de verdade. As aparências encobrem o mundo real, a
verdade que reside em tudo. Nossos sentidos nos enganam.
Eles criam formas, imagens, sonhos, quimeras e dissimula-
ções. A mente nos ludibria criando exterioridades e expres-
sões diversas. O ser humano vê a aparência e acredita que
ela seja a realidade, mas não é. É preciso ver além das apa -
rências, e buscar a essência mais profunda de todas as coi-
sas. Somente indo além do véu, da túnica, do manto ilusório
da existência é que poderemos ver as coisas como realmente
são. Não somos uma aparência humana num mundo de apa -
rências, somos uma essência infinita que reside no seio do
infinito.

586
O OUTRO LADO DA VIDA

Um discípulo procurou seu mestre e perguntou:

– Mestre, como posso saber se existe mesmo vida após a


morte?

O Mestre olhou para ele e respondeu:

– Encontre-me novamente após o sol se pôr.

O discípulo, meio contrariado, esperou algumas horas, ansi-


oso pela resposta.

Logo que o sol se pôs, o discípulo voltou à presença do mes -


tre. Assim que o discípulo apareceu, o mestre afirmou:

– Você percebeu o que houve? O sol morreu…

O discípulo ficou sem entender nada. Julgou que se tratava


de uma brincadeira do mestre.

– Como assim mestre? Perguntou o discípulo. O sol não mor-


reu, ele apenas se pôs no horizonte.

O mestre disse:

– Exatamente. O mesmo ocorre com todos nós após a morte.


Se confiássemos apenas em nossa visão física, nos pareceria
que o sol deixou de existir atrás da montanha. Mas no ins -
tante em que ele “morreu” no horizonte para nós, ele nasceu
do outro lado do mundo, e se tornou visível para outras pes -
soas. O mesmo princípio rege a nossa alma. Após a morte do
corpo, nossa alma parece desaparecer aos nossos olhos,
mas ela nasce no plano espiritual. A chama do espírito não se
apaga, ela apenas passa a brilhar no outro lado da vida.

587
A PARÁBOLA DO DESERTO E DO MUNDO

Uma das parábolas mais significativas sobre a condição hu-


mana neste mundo é chamada parábola ou alegoria do de -
serto. O deserto possui um simbolismo vasto e muito impor-
tante, mas em linhas gerais ele representa o local desprovido
de vida, de água, onde tudo é hostil, onde há carênci a de
recursos naturais, onde há muito calor e muita sede.

O deserto é o local das provações, das situações -limite, da


exacerbação dos sentidos e do vazio. O lugar onde nossa
natureza material e instintiva fala mais alto do que nossa
natureza mental ou es piritual. Pelo mesmo motivo, é conside-
rado o espaço da provação e de pos terior purificação do
espírito humano. Jesus passou 40 dias e 40 noites do de -
serto. Segundo o relato bíblico, ele teria passado esse tempo
no deserto para sofrer determinadas provações, e assim, se
purificar e as cender espiritualmente.

Assim, a parábola diz que haviam pessoas muito in teligentes


e sábias que viviam num país de exuberante beleza e abun-
dância de recursos naturais. As pessoas viviam muito bem,
eram muito felizes e nada lhas faltava. Elas experimentavam
uma plena harmonia com o meio natural, com as plantas e
com os animais da criação. Num dado momento, essas pes -
soas sentiram certo tédio nesse local, pois nada ocorria de
diferente ali. Decidiram então que iriam viajar para conhecer
novos lugares. Juntaram bas tante comida e água para os
próximas semanas e meses em suas bagagens e partiram.
Começaram a conhecer muitos lugares, percorreram terras
próximas e depois adentraram em terras muito distantes do
seu país de origem.

Penetraram num local deserto, que eles nunca ha viam visto


antes. Era um lugar ermo, de temperatura muito elevada de
dia e muito frio durante a noite. Foram caminhando por esse
local desconhecido e começaram a sentir muita sede. Bebe -
ram toda a água que tinham trazido e após algum tempo, a
sede voltou e ficou muito forte.

Eles encontraram um abrigo embaixo de uma rocha.


Havia uma pequena quantidade de água, porém im pura, que
eles passaram a beber para sobreviver.

588
Conforme o tempo foi passando, eles ficaram magros, pois a
alimentação era escassa, e precisaram se alimentar de pe -
quenos animais, insetos e a beber a água impura dessa fonte.
O tempo passou em anos e depois décadas. Essas pessoas
foram obrigadas a ficar muito tempo nesse deserto, e p or
isso, esqueceram de seu local de origem, um país rico, prós -
pero, com muitos recursos naturais, muito verde, muitos ani -
mais, flores e pessoas felizes.

Depois de certo período, perderam os últimos res quícios de


memória. Passaram a acreditar que só existia aquela região
vazia e que a vida e sua realidade se resumia apenas àquele
seco, severo e inós pito deserto. Muitos tentaram se movi-
mentar e procurar melhores condições, mas como no deserto
o espaço é muito semelhante, tudo é muito parecido, eles
acabavam andando em círculos e quase sempre retornavam
ao ponto de partida.

Qual o significado deste conto? O país rico e de natu reza


exuberante é o plano divino, que é a origem de todos os se -
res. Num dado momento, os seres sentiram o tédio da repeti-
ção e por isso desejaram explorar outras regiões cósmicas,
para conhecer algo que fosse diferente e variado. Com essa
escolha, foram criando zonas cósmicas diversas e assim
começaram a se afastar cada vez mais do plano divino. Che -
garam a uma região do cosm os onde tudo faltava, era es -
casso, vazio e hostil, que é o nosso mundo, simboli zado na
parábola como o deserto. A sede provocada pelo deserto
representa a ânsia dos desejos e nossa necessidade de sa -
tisfazer os prazeres do mundo. O calor representa a exa cer-
bação dos sentidos que a experiência no mundo provoca e o
frio da noite representa a frustração e a depressão que sem -
pre vem em decorrência dessa não satisfação daquilo que
desejamos.

Já a falta de memória no deserto representa o afas tamento de


Deus e o esquecimento do espírito de sua origem divina, ou o
rompimento de sua ligação com sua essência. Os seres pas -
sam a acreditar que só existe aquele deserto, pois não con -
seguem mais sair de lá e ficam presos. Com a perda de me -
mória, não conseguem imaginar outro lugar melhor e creem
que toda a vida está ali, naquele deserto. O mesmo ocorre em

589
nosso mundo: com a perda de nossa percepção espiritual,
passamos a crer que só existe o nosso mundo e que não há
outras dimensões e realidades em todo o cosmos.

O fato do espaço no deserto ser muito parecido num local e


em outro local representa nossa dificuldade de aprender
coisas novas, por conta de nossa mes mice de crenças, com -
portamentos e atitudes, causado por um bloqueio autoimposto
em nossa consciência. Quando se tenta caminhar, vemos
tudo igual, pois em nossa consciência tudo é basicamente
igual. Por isso, cometemos os mesmos erros, não apren -
demos com eles, e assim se diz que andamos em círculos.
Para escapar do deserto e dessa vida de total ausência, é
necessário seguir em frente sem caminhar em círculos. Isso
implica abrir nossa consciência e seguir firme em nosso pro-
pósito espiritual. Quem caminha num firme propósito, apren -
dendo e seguindo em frente, sem apego, consegue final -
mente sair do deserto.

590
PRINCIPAIS PERGUNTAS SOBRE A VIDA APÓS A
MORTE

Nessa oportunidade vamos responder algumas das perguntas


mais comuns feitas sobre a vida após a morte.

Para onde a alma vai após o desencarne?

Isso depende do nível de consciência de sua alma. Pessoas


mais apegadas à matéria, presas a paixões materiais, fixadas
nos limites do mundo e de sua própria personalidade, muito
ligadas aos prazeres materiais, geralmente ficam presas
dentro do nível da crosta terrestre. O mesmo ocorre com
pessoas mesquinhas, avarentas, egoístas, arrogantes, raivo -
sas, ressentidas, ansiosas, angustiadas, carentes, ga nancio-
sas, etc. Pessoas que manifestam sentimentos primitivos,
animalizados, costumam permanecer nos níveis inferiores, e
tentam experimentar novamente seus apegos terrestres.
Pessoas desprendidas, puras, sinceras, de bom coração,
compassivas, humildes, tranquilas, amorosas, ao contrário,
podem se elevar para os níveis superiores, e lá permanecer
um período maior. A noção de um lugar ou espaço físico é
imprecisa, inexistente, e só faz sentido para nossa mente
presa aos aspectos do mundo. No plano espiritual não existe
espaço, há apenas estados de cons ciência ou planos do ser.

Existem incontáveis níveis de consciência em todo o cosmos,


e cada pessoa é atraída para o estado de ser que mais tem
afinidade. Da mesma forma que um alcoólatra é atraído para
um bar onde pode beber; um adolescente baladeiro é atraído
para uma boate; um homem de ciência é atraído para um
laboratório; um artista para um mus eu ou locais onde possa
apreciar obras de arte; assim também cada alma é atraída
para as esferas que guardam correspondên cia com suas
vibrações, desejos, aspirações e afinidades. Pessoas que são
afeitas à escuridão, após a morte voluntariamente se deslo -
cam para a escuridão. Pessoas que são da luz naturalmente
são atraídas para a claridade, a transparência e a energia ele -
vada da luz. Cada pessoa pode descobrir para onde vai após
a morte, basta entender onde estão seus desejos, suas afini -
dades, seus gostos, etc. Aqueles que desejam ir para a luz
devem, a partir de agora, fazer de toda a sua vida e seus atos
um testemunho da luz.

591
O espírito sente saudade dos seus parentes encarnados,
como pai, mãe, filho, irmão, etc?

Sim, os espíritos sentem saudade de seus afetos e anseiam


pelo momento de reencontra-los. No entanto, os espíritos
primitivos e apegados sentem que dependem de outras pes -
soas e sofrem com sua ausência. Os espíritos mais elevados,
apesar de sentirem saudade, não se torturam com a separa-
ção momentânea, pois eles cultivam o amor incondicional. O
amor incondicional sabe esperar, não existe posse, não ne -
cessita da presença física para se estabelecer. Um ser que
ama de verdade pode esperar 1000 anos pelo ser amado e
não sofrer com isso. Os espíritos mais primitivos, apegados e
vazios, por seu lado, não passam alguns dias longe do seu
afeto sem sofrer e se torturar pela sua ausência. O amor de
verdade quer o outro por perto, mas não necessita do outro,
não precisa do outro para poder existir, poder estar bem,
poder ser feliz. Como diz Paulo de Tarso: “O amor tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (Coríntios 1,13). O amor
apegado (se é que podemos chamar de amor), sente-se in-
completo com o afas tamento do outro. Ele anseia pelo outro
para que possa se sentir preenchido. O apego a pessoas é
frequentemente um motivo de prisão do espírito ao mundo. O
espírito aspira sua libertação, mas quando ele está depen -
dente de alguém, essa libertação não ocorre, e a alma pode
até mesmo se tornar um obsessor daquele que acredita amar.

O que significa sonhar com um parente falecido?

Os sonhos muitas vezes são lembranças das ativida des da


alma quando esta se desprende do corpo du rante o sono.
Sonhar com pessoas falecidas pode sinalizar um encontro
espiritual de ambos. Nesse caso, é importante prestar aten -
ção em como a alma se apresenta. Se a alma aparece triste,
com semblante fechado, com raiva, ou com outras caracterís -
ticas hostis ou negativas, isso pode significar que ela não
realizou de forma favorável a transição, ainda tem apegos
materiais e pode estar encarcerada a esses sentimentos
grosseiros. Ao contrário, se a alma se apresenta bem, feliz,
pacífica, com boas vibrações, sorridente, envolvida em luz ou
vestida com uma roupagem branca, es se pode ser um retrato
do seu estado espiritual e de sua capacidade de libertação do

592
plano terreno. Quanto maior for a nossa libertação da matéria
e das pessoas melhor estaremos no plano espiritual. O con -
trário também é verdadeiro: quanto mais presos e a pegados
estivermos a coisas, nomes, formas e pessoas, mais difícil e
sofrida será nossa passagem. É como um viajante que gostou
muito de uma cidade e não deseja mais sair de lá… Quanto
maior for seu apego a esse local, mais sofrida será sua par-
tida e mais dolorosa a sua estadia longe. Por isso, pessoas
muito ligadas ao mundo tendem a ser infelizes no plano espi -
ritual e podem permanecer em zonas inferiores.

Há pessoas que ficam desejando sonhar toda noite com seus


entes queridos já desencarnados. Devemos advertir que isso
não é algo que ninguém deva almejar. Sonhar sempre com
um desencarnado pode ser um sinal de que esse espírito está
preso à Terra e ligado a nós, talvez como um obsessor espi -
ritual. É muito comum sonharmos uma ou duas vezes com
pessoas que passaram recentemente pela transição. Isso é
natural e aceitável, pois muitos espíritos desejam despedir-se
das pessoas que amam e usam a via dos sonhos para esse
encontro. Uma última visita em sonho ocorre com várias pes -
soas e é algo normal, humano e saudável. Muitas vezes o
encarnado não tem consciência de que se encontrou com o
desencarnado. No entanto, sonhar repetidas vezes com nos -
sos entes queridos é um indicativo claro de apego dos dois
lados, e pode assinalar um processo obses sivo já estabele-
cido. Os sonhos não devem ser utilizados como forma de
alimentar nossos apegos aos entes queridos falecidos.

Como saber se uma pessoa desencarnada está bem ou


mal no plano espiritual?

Para responder essa pergunta é preciso esclarecer que não


existe “estar bem” ou “estar mal” no plano espiritual. O estado
positivo ou negativo nos planos imateriais é um reflexo da
natureza de uma alma e do seu estado de elevação e liberta -
ção. No plano físico a ideia de estar bem ou estar mal faz
sentido. Reconhecemos que estar bem é estar devidamente
servido em quesitos básicos de sobrevivência, como ter esta -
bilidade material, dinheiro, conforto, fazer o que gosta, ter
saúde física e mental, ter nossas neces sidades supridas e
estar satisfeito com a vida que se leva. Todas essas são con-
dições físicas que nos sus tentam materialmente, nos dão

593
conforto e estabilidade para vivermos nossa vida. No entanto,
no plano incorpóreo, não existem condições externas que dão
suporte ao espírito. Ao atravessar o limiar da vida e da morte,
a alma perde todos os alicerces externos e passa a ser exa -
tamente aquilo que ela é. Sua natureza interna aparece com
toda a clareza e ela passa a manifestar aquilo que estava
oculto. No plano físico existem muitas formas de uma pessoa
dissimular s eu interior. Um homem arrogante pode fingir ser
humilde; um homem egoísta pode fingir ser muito caridoso e
doar grandes somas em dinheiro para instituições; um homem
pode fingir honestidade e ser ladrão e mentiroso; pode tam -
bém fingir felicidade diante de todos, mas sentir-se profunda-
mente infeliz. Podemos enganar outras pessoas quando
estamos no mundo, mas jamais podemos mascarar qualquer
coisa e ludibriar alguém após a morte. No plano espi ritual
ninguém pode dissimular nada: as almas ma nifestam com
total limpidez aquilo que são. Por isso, a pergunta que se faz
sobre a alma estar bem ou mal no plano espiritual não faz
sentido. O espírito se encontrará bem se ele for bom, e se
encontrará mal se ele for mau. Ele será luz se existir luz em
si, e será escuridão caso seu interior seja obscuro. Ele estará
bem se for uma alma pura, e estará em sofrimento se for uma
alma atormentada. A alma expressará exatamente aquilo que
ela é e o que plantou em suas múltiplas existências terrenas.
Após a morte, a alma não pode jamais sentir-se bem se não
tem esse bem dentro de si. Nos termos da Psicologia, pode -
mos dizer que o inconsciente e o consciente passam a ser um
só, não havendo mais divisão entre ambos. Por esse motivo,
ao chegarem no plano espiritual e sentirem exatamente como
são, as almas anseiam pela reencarnação para que possam
se purificar e aprender. Esse inclusive é um estímulo muito
importante para que a alma manifeste seu intento de retornar
e refazer sua vida, para que possa se depurar e elimi nar
todas as impurezas do seu ser. Diante dessas explicações,
aqueles que desejam saber como está seu ente querido ou
amigo após a morte, basta que se lembrem de como ele foi
em vida, que tipo de pes soa ele era e qual o grau de pureza,
simplicidade e desprendimento de sua alma.

O espírito vem nos visitar com frequência, ou ele fica no


plano espiritual?

594
Visitas espirituais podem ocorrer algumas vezes, quando as
almas possuem um laço amoroso mais estreito. No entanto,
os espíritos têm tarefas a desempenhar no plano espiritual.
Ao contrário do que muitos pensam, eles não vivem em fun -
ção dos encarnados e nem da vida na matéria. Eles possuem
suas próprias atribuições espirituais, algumas das quais che -
gam a ser incompreensíveis para nós. Por isso, eles não
podem ficar vindo nos visitar a todo momento. Os encarnados
estão na mesma condição: eles não devem ficar pensando a
todo momento nos desencarnados, pois necessitam prosse -
guir suas vidas normalmente. Aqueles que perdem um tempo
precioso de sua existência pensando nos que partiram, além
de estarem prejudicando o espírito, estão prejudicando a si
mesmos, pois deixam de viver suas vidas. A sabedoria da
Bíblia nos diz que cada coisa tem seu tempo. Há o tempo de
semear e o tempo de colher. Haverá também o tempo do
reencontro com nossos entes queridos, logo após o desen -
carne. Mas enquanto isso não acontece, devemos viver na
Terra e colher o aprendizado de suas experiências. A pes soa
que fica pensando mais no falecido do que em sua própria
vida, acaba não vivendo nem com o espírito e nem vivendo
sua vida. Assim, perde sua encarnação e pode ter que refazer
certas provas numa vida futura.

Nossos parentes falecidos, quando se tornam espíritos,


podem voltar e nos ajudar nas situações difíceis da vida?

Sim, isso pode ocorrer algumas vezes, quando a eles é ou-


torgada a missão de se tornarem nossos guias espirituais.
Alguns deles, quando mais puros em es pírito, podem ficar
próximos, nos auxiliando, nos instruindo, nos dando força e
alento. No entanto, eles não podem interferir em nossa vida e
em nossas es colhas. Podem apenas, de vez em quando, nos
transmitir um sopro revigorante, nos doar vitalidade, nos inspi-
rar coragem e nos insuflar pensamentos positivos. Mas não
podem jamais decidir por nós, nos proteger de tudo ou “facili-
tar” as coisas. Eles devem permitir que experimentemos as
provas que são necessárias ao nosso despertar espiritual.

Podemos orar pelas pessoas que amamos que já desen-


carnaram?

595
Já mencionamos esse tópico no texto “Assistência após a
morte”. Sim, podemos orar pelos falecidos, principalmente
quando eles acabaram de desencarnar. Logo após a morte, o
espírito pode ainda se encontrar perturbado, desorientado,
sem saber o que fazer e como assimilar o novo e grandioso
mundo pós -morte que se abre. Ness e momento, uma oração
realizada com amor e desprendimento pode ser um tônico e
uma luz que o guiará na escuridão, além de lhe dar a sensa -
ção de não estar sozinho. No entanto, conforme vão se pas -
sando as semanas, os meses e mesmo os anos, a oração
repetida acaba não sendo uma boa escolha. Ficar orando o
tempo todo pode representar uma atitude de apego ao de -
sencarnado.

Certa vez uma mãe me disse que ficava orando todos os dias,
por 5 meses seguidos, pela sua filha que de sencarnou. Eu
perguntei a ela como estava sendo essa oração. Ela me con-
fidenciou que sentia muito a falta da filha, que não admitia sua
morte e que a oração era uma forma dela se sentir mais pró-
xima da alma da menina. Esse caso mostra como a mãe es -
tava, na verdade, orando para satisfazer uma neces sidade
sua e não da filha. Na medida em que ela orava diariamente,
ela buscava diminuir a distância que a separava da alma da
filha. Na verdade, a oração tinha como motor nada mais nada
menos do que um puro apego de sua parte. Isso não é sau -
dável nem para o encarnado e tampouco para o desencar-
nado. Por isso dizemos que a oração deve ser sempre des -
prendida, sem apego, sem posse, e não deve ser re petida,
insistente e apegada, mas sempre desprendida. A oração é
mais eficaz logo após o desencarne do espírito, mas nas
semanas e meses após o desencarne, ela se torna inexpres -
siva e apenas um efeito do nosso apego.

É verdade que chorar muito a morte de um falecido pode


prejudica-lo e atrapalhar sua ida ao plano espiritual?

Algumas pessoas afirmam que não devemos chorar a morte


de nossos entes queridos e amigos, pois se assim fizermos,
estaremos os atrapalhando e prejudicando durante sua tran-
sição e também quando estiverem no plano espiritual. Essa
ideia, apesar de ser bastante difundida e tom ada como ver-
dade por muitos, não é exatamente verdadeira. O choro, por
si só, não tem o poder de fazer algum mal ao espírito recém-

596
desencarnado. O pranto derramado após a passagem de
pessoas que muito amamos é natural e não deve ser evitado
ou reprimido. Se uma pessoa fica contendo seu choro, esse
sentimento fica preso dentro dela, e isso sim pode prejudicar
não apenas o encarnado como o desencarnado. Isso ocorre
porque um sentimento reprimido em nosso peito vai gerar
muito mais sofrimento a longo prazo, o que fará com que a
pessoa fique pensando no espírito por mais tempo e proje -
tando no desencarnado esses sentimentos desarmônicos de
tristeza, pesar, angústia, etc. Mas o choro intenso, logo após
a morte, nos ajuda a descarregar toda a emoção, e nos dá
uma sensação de alívio e libertação. É muito importante cho -
rar e botar tudo pra fora, pois aquele que fica guardando suas
dores dentro de si só aumentará seu sofrimento, e nesse caso
sim, poderá prejudicar a si mesmo e o recém desencarnado.
Portanto, chore… Não tenha receio de chorar e colocar toda a
carga para fora. Não é o choro em si que prejudica os de -
sencarnados, mas o apego com clamores de retorno. Ficar
pensando fixamente no espírito, desejando que ele retorne,
torcendo para ele fique conosco e reapareça. A não aceitação
da morte e a revolta pelo desencarne. Isso sim pode preju-
dica-lo. Mas o ato de chorar, quando representa uma catarse,
ou seja, uma liberação das emoções retidas, não deve ser
evitado. Quando a pessoa chora tudo que tem que chorar,
seu emocional se alivia e fica muito mais fácil de superar esse
momento difícil e não ficar irradiando energias pesadas ao
espírito. No entanto, há algo que devemos prestar atenção.
Quando o choro se perpetua pelos meses seguintes e passa
a ocorrer com frequência, esse pode ser um choro de apego e
não um choro de descarga emocional. No caso de ser um
choro de apego, ele pode sim prejudicar o espírito, se não é
um espírito elevado. Um choro excessivo e prolongado pode
ser um sinal de forte apego. O choro de descarga pode durar
até um mês, no máximo dois meses. Mais do que isso já
passa a ser um choro de apego ou um choro de dependência
emocional. A pessoa que apresenta esse sintoma pode bus -
car um tratamento espiritual ou mesmo uma psicoterapia.

597
ENSINAMENTOS DE VIDA

Qual a maior realização? O encontro consigo mesmo.


Qual a melhor forma de aprender? Com os próprios erros.
Qual a melhor orientação de certo e errado? A cons ciência.
Qual a maior virtude? A humildade.
Qual a melhor forma de tratar o outro? Deixando-o livre para
escolher sua própria vida e suas respectivas consequências.
Qual o sentido da vida? A própria vida.
Qual o maior inimigo? O ego (o egoísmo, o orgulho e a vai -
dade).
Qual a melhor conduta? Amar a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a ti mesmo.
Qual a maior mentira? Acreditar no transitório e na ilusão e
mesmo assim ser feliz.
Qual o maior erro? Abandonar a si mesmo em prol do mundo.
Qual o melhor relacionamento? Aquele que é recíproco.
Qual o melhor caminho? Aquele que te faz melhor.
Qual o melhor momento? O presente.
Qual a melhor forma de sentir a vida? A simplicidade.
Qual o maior atraso de vida? Enganar a si mesmo.
Qual a maior liberdade? Necessitar do mínimo para viver.
Qual o maior desafio? Aprender a amar incondicionalmente
Qual a melhor forma de viver em sociedade? O res peito às
diferenças.
Qual a melhor forma de evoluir espiritualmente? A renúncia
de si mesmo.
Qual o maior patrimônio? A paz interior.

598
SEU LUGAR NO COSMOS

A terra não sai voando pelos ares.


O céu não cai sobre nossas cabeças.
Os oceanos simplesmente não evaporam e desaparecem.
O sol jamais deixa de brilhar.
A Terra não bate na lua, a lua não esbarra no sol e o sol não
colide com a Terra.
O homem ama a mulher e a mulher ama o homem: ambos se
complementam.
A mãe cuida de seus filhos; o pai os protege e ambos lhes
dão a devida educação e formação.
Assim como a natureza, o corpo humano é um mecanismo
inteligente, harmônico e perfeito.
Mesmo a doença serve para indicar uma desarmonia no
organismo.
A dor, que todos querem evitar, mostra o local exato onde se
encontra o problema a ser tratado.
Os seres nascem, crescem, se reproduzem, envelhecem e
morrem, dando espaço a uma nova geração que traz a reno -
vação, num ciclo perpétuo de evolução.
A Terra nos oferece o alimento que precisamos, as ervas
medicinais que curam nossas doenças, a água que bebemos,
o abrigo necessário a nossa proteção e as belezas naturais…
que são sinais ou pistas da perfeição divina.
Os seres vivem em todos os lugares: sobre a terra, nas
águas, no ar, no subsolo. Desde a microscópica bactéria até a
imensa galáxia. Do infinitamente pequeno ao infinitamente
grande.
Todas as coisas estão em seus devidos lugares. Nada há em
todo o cosmos que esteja proscrito, abolido, expu lso, elimi-
nado ou deslocado.
Tudo está em harmonia com tudo e todas as coisas possuem
uma função. Nada fica de fora e nada é des perdiçado. Nada
está errado, tudo está como deveria estar.
Cada ser e coisa está exatamente no tempo e no es paço que
necessita estar, contribuindo para a manutenção do movi-
mento, do equilíbrio e da harmonia universal.
Não duvide que você também está no lugar que pre cisa e
merece estar, dentro do seu nível de consciência.
A inteligência universal te colocou no melhor lugar po ssível de
todo o infinito. Nesse ponto cósmico você tem todas as opor-
tunidades e liberdade de viver, desenvolver-se e despertar

599
para a sua essência.
Se todas as coisas estão dentro de sua ordem natural, por
que você estaria fora de lugar?
Tudo é harmonia, tudo é perfeição. O todo ajuda o um e o um
ajuda o todo.
Até mesmo a escuridão ajuda a realçar a luz; a noite ajuda a
reconhecer o dia; o que seria o alto sem o baixo?
Viva com graça e fé dentro do seu lugar no cosmos. Nesse
lugar existe tudo o que você precisa para a purificação do seu
espírito. Valorize e agradeça seu espaço sagrado e bem
aventurado na vida. Ele é ordem, harmonia, simetria, equilí-
brio, concórdia, paz e perfeição. E, sem nenhuma dúvida…
você também o é.

600
AH SE EU SOUBESSE

Quando chegamos ao plano espiritual, a maioria dos espíritos


pensa algo muito parecido:

– Ah se eu soubesse…

Se eu soubesse que a vida real não era na matéria… se eu


soubesse que a realidade não é de sofrimento, mas de paz e
liberdade… s e eu soubesse que nada que existia na matéria
é permanente, que lá é tudo passageiro, eu não teria brigado
no trânsito, batido nos meus filhos, me apegado a tantas
coisas efêmeras…

Ah se eu soubesse…. teria ajudado muito mais gente, teria


me enriquecido com amor e luz, teria deixado de lado esses
problemas pequenininhos, teria feito caridade aos necessita -
dos, teria deixado o amor fluir, teria me atirado no bem sem
nenhuma preocupação, teria sido mais humilde, teria vivido
em paz…

Ah se eu soubesse… teria passado mais tempo com aqueles


que amo, teria me preocupado menos, teria tido mais paciên -
cia, teria me soltado mais, me des prendido mais, teria vivido
mais livre, de forma mais espontânea, mais natural, teria visto
o lado bom de tudo, teria valorizado as coisas simples da
vida.

Ah se eu soubesse… se soubesse que a vida na Terra vai e


vem, que tudo se esvai, que nada é permanente, que não
existe algo fixo, imutável. Se eu soubesse que tudo começa e
termina, que os relacionamentos começam e terminam, que a
dor lateja e depois vem o alívio.

Ah se eu soubesse… se soubesse que os arrogantes sobem,


ficam no topo e caem por si mesmos; caem pelo seu próprio
castelo de cartas da ilusão que criaram. Se eu soubesse que
os ricos podem se tornar pobres de espírito, e que os pobres
podem ser muito ricos de espírito. Se soubesse que as dife -
renças sociais se extinguem, que na morte todos somos filhos
do universo, que a fome é saciada, que a sede é aliviada, que
a violência só traz mais violência, que os injusti çados são

601
compensados, que os perdidos sempre se encontram, e
quem está demasiadamente seguro de si acaba se perdendo.

Ah se eu soubesse… que a vida espiritual é a vida real, que


as mágoas corroem o espirito, que a cobiça gera insatisfação,
que a lisonja só cria humilhação, que a preguiça gera estag-
nação. Se eu soubesse que o medo é sempre maior do que a
mente engendrou eu teria me arriscado mais, teria ousado,
teria tido a coragem de ser o que eu sou, teria retirado essa
máscara que encobria minha verdade, teria desatado o com -
promisso com o logro, com a burla, teria assu mido minha
integridade sem divisões, sem fragmentos.

Ah se eu soubesse… não teria cortejado o sucesso, não teria


me atirado ao poço fundo, vazio e solitário da avidez, não
teria me enganado de que, ao atingir o topo, a descida é o
único caminho. Se eu soubesse que o mundo é uma doce
miragem eu rejeitaria a pueril busca pela sensualidade. Larga-
ria com afinco os prazeres e vícios da juventude. Se sou -
besse que tudo muda e nada se encerra, teria posto de lado
as moléstias da nostalgia.

Ah se eu soubesse, teria menos pressa, olharia mais para a


vida, veria mais o nascer do dia, comeria com calma o pão de
cada manhã, teria plantado uma árvore, corrido no jardim,
deitado no chão e rolado na grama. Teria mergulhado e me
perdido no tempo, solto em reflexões sobre os mistérios da
vida. Teria me desimpedido de autocobranças, teria me acei -
tado como sou e aceitado o milagre da vida como ele é.

Ah se eu soubesse… que o mar espiritual é infinito de b en-


çãos, não teria digladiado por um copo de água ao lado do
grandioso oceano da plenitude. Teria deixado todas as quime-
ras de lado, e vivido mais a vida, a existência, o cosmos, a
liberdade, o eterno presente e a eterna aurora.

Ah se eu soubesse… teria renunciado aos hábitos arraigados,


as discussões estéreis, a especulação teórica. Se eu sou -
besse, teria permanecido mais na natureza, observando os
pássaros, molhando as mãos no rio, sentindo o vento, me
aquecendo ao sol da manhã, sujado as mãos na lama e sen-
tido o fres cor da chuva. Se eu soubesse que sou um ser em

602
desenvolvimento na essência inesgotável e eterna da vida,
teria sido infinitamente mais livre e feliz.

603
OS SINAIS DA VIDA

Um homem, chamado Paulo, fez uma oração e pediu uma


resposta a Deus. Ele queria se decidir sobre três questões
que estavam se impondo em sua vida.

Tinha muitas dúvidas sobre que caminho seguir. Então, em


sua oração, ele tentou se comunicar com Deus e disse:

“Senhor, me mostre que o caminho que devo seguir. A pri-


meira questão é: devo iniciar uma faculdade ou devo trabalhar
para me sustentar? A segunda ques tão é: devo terminar meu
namoro para me dedicar seriamente ao meu trabalho atua? A
terceira questão é: devo perdoar a minha irmã que me negou
ajuda quando mais necessitei, ou devo continuar evitando -a
para que aprenda uma lição? Deus, por favor, peço que me
dê uma luz.”

Paulo permaneceu mais alguns minutos em oração, apagou a


vela e foi dormir. No dia seguinte, acordou atrasado para o
trabalho e saiu rapidamente de casa.

Pegou o ônibus e sentou numa cadeira. Assim que levantou


para descer do ônibus, ouviu duas moças conversando, e
uma delas disse: “Hoje em dia a formação profissional é muito
importante, por isso todos precisam ter um diploma para subir
na vida”.

O homem ouviu aquilo, mas não deu importância.

Chegou ao trabalho e começou a realizar as tarefas diárias.


Na hora do almoço, Paulo encontrou com um amigo e con -
versou um tempo com ele. Contou que estava um pouco
estressado e cansado. O amigo disse “Sabe o que eu acho
Paulo? Acho que você está precisando de uma namorada,
para relaxar e curtir um pouco”. Paulo também não deu aten-
ção ao amigo e voltou para a repartição.

Saiu do trabalho e chegou em casa. Ligou a tele visão e viu


que estava passando um filme. Na história, um rapaz pede
ajuda para sua mãe, mas ela se nega a auxilia -lo, e afirma
que ele precisa aprender a se virar sozinho, pois na vida nem
sempre há alguém para nos socorrer nos momentos difíceis.

604
Paulo ouviu essa fala, ficou mais um tempo vendo TV e logo
depois se recolheu para dormir. Ele resolveu fazer outra ora -
ção e dessa vez ser mais enfático e pedir uma resposta a
Deus. Enquanto estava em oração, sentiu-se mais leve e
subitamente ouviu uma voz que dizia:

“Paulo, pare e relembre o que ocorreu no dia de hoje. Seus


três questionamentos foram respondidos, mas você estava
tão ávido por uma resposta pronta e tão mergulhado na
pressa do dia a dia que foi incapaz de absorver as mensa -
gens do infinito. Aprenda a ouvir e perceber a linguagem da
existência, ela emite cons tantemente sinais que guiam os
seres apontando o melhor caminho. O universo sempre fala
conosco de muitas formas, mas nem sempre as pessoas
estão dispostas a ouvi-lo, e isso ocorre por que a maioria está
excessivamente mergulhada em seus problemas e confusões.
Cabe a cada pessoa estar atenta a esses sinais e compreen -
der o sagrado diálogo que a vida tem para conosco.

605
A MENSAGEM ETERNA DO MAR

Certo dia, o céu, em toda a sua majestosa imponência, fez


um pergunta para o mar:

– Mar, eu sou o céu eterno e infinito. Eu não tenho início e


nem fim. Tudo o que existe em mim dura para sempre. O
espaço infinito que eu sou contém todas as coisas. Minha
mensagem é semelhante a mensagem de Deus.

– Mas e tu, ó grande oceano? Que mensagem eterna você


passa aos homens mortais sobre as coisas divi nas? Conte-
me, por favor, qual é a sabedoria que você transmite a huma -
nidade que jamais é consumida pela força da temporalidade.

O mar respondeu:

– Ó grandioso céu, em minha natureza, eu também transmito


uma mensagem divina, mas que nem sem pre é apreciada
pelos homens, cegos que estão para os sinais da natureza.

– Então eu te lanço um desafio… – disse o céu – Peço que


você me diga sete mensagens eternas que tu transmites à
humanidade.

– Está bem. – disse o mar.

A primeira mensagem é transmitida por meio das ondas e das


marés. Tudo em mim vai e vem. As ondas oscilam, assim
como tudo no mundo material oscila. Isso serve de lição para
os homens, pois uma hora alguns estão por cima e outra hora
estão por baixo. Todas as coisas mudam de estado perpetua -
mente. Assim como eu estou sempre oscilando, o mundo
material também está sempre oscilando… e o grande objetivo
da vida humana é encontrar paz e felicidade dentro das
constantes flutuações e instabilidades da existência.

A segunda mensagem é sobre as aparências que tra zem


confusão e o interior que é sempre tranquilo e sereno. Ob -
serve as minhas águas: elas são agitadas na superfície, mas
calmas em sua profundidade. Isso ocorre com tudo na vida:
quando nos ligamos na superfície, nas aparências, no exte -
rior, tudo se torna confuso, turbulento, errático, dissimulado.

606
Mas quando buscamos enxergar o interior, tudo se harmo-
niza, tudo se acalma, tudo se revela tal como é, sem confusão
e sem o acobertamento da verdade.

O céu ouvia atentamente a eterna mensagem do mar.


O grande oceano continua:

A terceira mensagem fala sobre o início e o fim de cada coisa.


Minhas ondas sempre crescem, atingem um pico e depois
decaem quebrando-se em si mesmas. Isso acontece com as
ondas e com tudo na vida. Todos os seres nascem, crescem,
envelhecem e morrem, num eterno ciclo da vida universal.
Tudo começa e termina, assim como as ondas do mar.

A quarta mensagem fala sobre o perpétuo movimento. Re-


pare que eu, o oceano, estou sempre em movimento, não
paro nunca. Estou sempre remexendo, vibrando e me modifi-
cando a todo momento, mas ao mesmo tempo eu permaneço
sempre como eu sou. Na vida humana ocorre o mesmo:
aquele que fica sempre igual, que não aceita as mudanças,
que não permite o movimento, esse sucumbe diante das
transformações. É preciso continuar em movimento para
manter acesa a chama da vida. Quem para, começa a morrer.

A quinta mensagem transmite a sabedoria da leveza na vida.


Observe que tudo o que é leve se sustenta em minhas águas,
mas aquilo que é pesado, acaba por afundar. Ocorre o
mesmo no mundo humano: aqueles que são indivíduos pesa -
dos, grosseiros, selvagens, brutos, rudes, ríspidos, etc, aca-
bam por sem pre afundar na vida, naufragam pelo próprio
peso que carregam. Ao passo que os espíritos leves, sutis,
suaves e livres fluem com mais facilidade pelas águas da vida
e encontram o amor e a paz. Quem cultiva a leveza, está
sempre bem, mas aqueles que insistem em sustentar o peso
das preocupações, esses soçobram no oceano da existência.

A sexta mensagem entendem aqueles que observam a mim e


todos os rios. Mesmo recebendo em meu ser boa parte dos
rios do mundo, eu permaneço sempre com o mesmo tam a-
nho. Eu não me engrandeço apenas pela convergência dos
rios sobre mim. Permaneço sempre com igual tamanho, não
busco me tornar maior ou mais poderoso. Essa é a eterna
lição de humildade que os seres humanos deveriam apren der.

607
Muitos homens ganham e passam a ter muitas coisas, e logo
sentem-se maiores diante de outros. Quem faz isso, acaba
perdendo sua vida no orgulho e na vaidade.

O céu estava impressionado com as revelações da mensa -


gem do mar. O oceano então concluiu:

A sétima e última mensagem eterna que posso transmitir a


humanidade é sobre a natureza de Deus. Bilhões e bilhões de
ondas nascem através de mim, mantém uma vida e depois
retornam novamente ao meu ser. Isso indica uma multiplici -
dade dentro de uma unidade. A essência da vida é múltipl a
em manifestação, mas forma uma só unidade fundamental.
As ondas que nascem de mim depois sempre acabam vol -
tando. O mesmo ocorre com Deus. Infinitos seres nascem,
vivem, morrem e depois retornam ao infinito reservatório da
vida, que é Deus. Tudo procede de Deus e para Deus tudo
retorna. Ele é a fonte de toda a vida, e para onde tudo deverá
um dia regres sar. É o alfa e o ômega de toda a vida universal.

O céu ficou muito feliz com essas revelações e agradeceu ao


oceano pelas mensagens sagradas que ele a todo momento
transmite a humanidade.

608
PARTÍCULA DE DEUS

Um cientista muito famoso anunciou na mídia que havia en -


contrado a chamada “Partícula de Deus”, que era o ponto
inicial de toda a criação divina, a origem primordial e a essên -
cia de toda a vida universal.

Muitas pessoas ficaram curiosas para saber como era a partí-


cula de Deus. “Se é a essência da vida, deveria ser algo
muito especial e revelar todos os segredos do cosmos”, pen -
saram alguns.

O cientista montou então uma cabine na rua para mostrar a


todos a partícula de Deus. Nessa cabine, segundo ele, havia
um aparelho super sofisticado que permitia a visão da partí-
cula de Deus num super microscópio. Uma grande multidão
se aglomerou na porta esperando ver a tal partícula. Muitos
religiosos, cientistas, artistas e todo tipo de gente estava inte -
ressada em conhece-la.

Uma a uma, as pessoas foram entrando. No entanto, todos


que entraram e saíram após verem a partícula de Deus fica -
ram muito espantados com a revelação. O que esta ria ali,
naquela cabine, de tão incrível?

Seu José, muito religioso, estava ansioso para ver a partícula


de Deus. Esperou quase 2 hora na fila, e finalmente conse -
guiu entrar na cabine. Assim que cruzou a porta, viu um es -
pelho com sua própria imagem refletida, e uma placa em cima
do espelho com a frase:

“Você é a partícula de Deus, o alfa e ômega da cria ção. Você


é deus vivendo uma experiência humana. Uma chama divina
arde eternamente em seu interior. Deus, em sua perfeição,
fez a melhor coisa que poderia existir: você.”

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme


a nossa semelhança.” (Gênesis 1:26)

“Vós sois deuses” (Salmo 82, 6)

“Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Vós


sois deuses?” (João 10, 34)

609
O PRISMA ESPIRITUAL

Algumas pessoas acham difícil de aceitar a violência, a perda


dos entes queridos, o sofrimento, as doenças , as guerras, as
misérias e outros flagelos que assis timos diariamente em
nosso mundo. Isso é compreensível do ponto de vista hu-
mano, mas do ponto de vista espiritual, tudo isso é perfeita-
mente natural, e está de acordo com as leis cósmicas da
existência.

O ser humano costuma definir tudo em termos de certo e


errado, bom ou mau, positivo ou negativo, normal e anormal,
e o faz sempre de acordo com s eu ponto de vista. Mas o que
todos precisam entender é que o ponto de vista humano, o
qual enxergamos tudo nesse mundo, é algo extremamente
limitado, impreciso e imperfeito. Nada sabemos sobre a ver-
dade, vemos tudo sob uma ótica muito, muito pequena, nossa
visão é sempre distorcida, embaçada e nos mostra apenas as
aparências das coisas. No plano espiritual, tudo é muito mais
próximo da realidade, as almas conseguem ter uma visão
mais global, mais panorâmica; conseguem enxergar tudo sob
o prisma do infinito. É como comparar a visão de um pássaro
voando a visão de uma lagarta presa ao solo. O pássaro pode
vislumbrar todas as coisas numa amplitude muito maior. A
lagarta vê o solo e tão somente seu ambiente imediato. Não
há para o espírito as limitações e distorções do mundo hu-
mano. Ele vê tudo com olhos libertos da matéria, e assim
pode formar juízos mais claros sobre sua condição.

É discurso corrente em nosso mundo que atraves samos uma


época de caos, destruição e sofrimento. Todas as coisas do
mundo que conhecemos parecem estar desabando. Sentimos
que não temos mais controle sobre o que nos ocorre e tam -
pouco poder de mudar algo. Assim, do ponto de vista hu -
mano, é certo que o mundo está aos poucos desmo ronando,
seus pilares estão indo ao chão, tudo parece caótico e desor-
denado. Mas sob o prisma espiritual, o mundo está decaindo
para que outro mundo possa nascer. Trata-se de uma fase de
queda, des truição, para o posterior nascimento de algo novo,
um mundo renascido e renovado. O que para nós é algo
muito ruim, para o espiritual é uma coisa natu ral e positiva,
pois está ocorrendo uma renovação, uma troca do velho pelo
novo. Por outro lado, para o ser humano tudo parece eterno

610
enquanto está acontecendo; mas sob o prisma espiritual, não
existe tempo, há apenas a eternidade. Dessa forma, tudo
passa e nada há que possa prende-lo na sucessão temporal
do mundo.

Ocorre o mesmo com nossa ideia sobre a violência urbana. A


maioria das pessoas reclama da violência e pede respostas
dos governos. Do ponto de vis ta humano, o governo pode dar
um fim na violência. Mas sob o prisma espiritual, a violência
nada mais é do que o resultado da lei de causa e efeito, ou lei
do karma. Enquanto o ser humano chora e sofre pela violên -
cia no mundo, as almas que encarnam para experimentar
situações de violência comemoram sua vinda, ficam anima -
das com a possibilidade dessa experiência, pois para elas é
uma oportunidade de limparem seu karma, transmutarem
suas mazelas espirituais, purificarem seu ser através das
provas impostas. O que é uma tragédia do ponto de vista
humano… é um acontecimento sublime para o espírito, pois
representa uma chance de subir um mais um degrau da
imensa escada da imortalidade.

Isso ocorre com tudo em nossa vida. A perda, por exemplo,


também faz parte desse processo. O ser humano pode sentir
que está perdendo um emprego; sentir que está perdendo um
filho, sentir que perde uma parte de seu corpo, sentir que
perdeu uma fase de nossa vida (com o envelhecimento), pode
entender que perdeu um casamento, seu dinheiro, ou que
teve qualquer outro tipo de perda. Para a personali dade hu-
mana, a perda é sempre algo terrível, motivo de prantos e
desespero. Mas para a alma imortal a perda nada mais é do
que o encontro com algo mais profundo. Para a personalidade
humana, a perda representa um retrocesso, um passo para
trás; para o espírito, a perda é um sublime encontro consigo
mesmo. O ser humano se apoia naquilo que julga possuir e
assim sente-se confortável e estável. Já o espírito, sente que
precisa deixar de lado tudo aquilo que parece ser uma sus -
tentação nesse mundo e apoiar-se apenas em si mesmo, em
sua essência eterna e infinita. Isso significa que, para a per -
sonalidade, a perda é má; para o espírito, a perda é uma
celeste libertação.

O mesmo ocorre com o sofrimento. Para o ser humano, o


sofrimento é algo a ser evitado ao máximo. Para o espírito, o

611
sofrimento é a chave para a mudança de rumo; é o momento
de rever suas posições; é a possibilidade de abrir sua consci -
ência, de entender melhor a vida e a si mesmo; é um portal
sagrado de libertação espiritual. Do ponto de vista humano, o
sofrimento e a perda são as piores coisas que ele pode en -
frentar; mas sob o prisma da consciência espiritual, o sofri -
mento e a perda são as melhores opções para seu amadure -
cimento e desprendimento. Para o humano, o sofrimento
rebaixa… Para o espírito, o sofrimento eleva.

O mesmo ocorre com a solidão. Para a personalidade, a


solidão é péssima, pois nos afasta das pessoas e nos senti -
mos incompletos. Para o espírito, a solidão é maravilhosa,
pois é a oportunidade do encontro consigo mesmo. Quando
estamos sozinhos, isolados, podemos mais facilmente mer-
gulhar em nós mes mos, conhecer e sentir nosso interior. A
solidão nos ajuda a sentir o infinito e a eternidade. O vazio
segue o mesmo rumo: o ser humano sente-se vazio e crê que
nada faz sentido. Para o espírito, o vazio interior é o chamado
para o espaço da criação de algo novo mais sutil, e dessa vez
sem as prisões e apegos materiais. Ninguém cria nada no
espaço cheio… É somente no vazio que algo pode ser criado,
que o novo pode emergir. Ninguém produz uma pintura numa
tela já pintada, mas qualquer um pode criar uma pintura numa
tela em branco. Antes de algo existir, é necessário que nada
ali exista. Assim, o vazio é o espaço sagrado da renovação
para o espírito, mas para o ser humano, é uma ausência
daquilo que ele estava acostumado.

Não se deixe enganar pelo limitado ponto de vista humano,


pela diminuta percepção da personalidade transitória. Para o
espírito, tudo está sempre caminhando como deveria, de
forma natural e harmoniosa, dentro da perfeição divina.

612
UM HOMEM MAU NO CÉU

Um anjo estava recebendo as almas que acabavam de mor-


rer. Uma fila foi formada e aos poucos foram separando
aqueles que iriam para os planos elevados e aqueles que
iriam as zonas inferiores.

Um homem, que estava na fila reservada aqueles que deve -


riam descer as zonas inferiores ficou revoltado e gritou: IN -
JUSTIÇA!

Todos ouviram o grito e prestaram atenção ao homem. O anjo


também olhou para ele. O homem pros seguiu:

– Isso nada mais é do que uma grande injustiça! Por que


apenas os “escolhidos” podem ir a zonas celes tes, e nós, os
marginalizados, vamos para zonas inferiores? Somente por
causa dos nossos erros na Terra Deus deixou de nos amar?
Desafio os anjos de Deus a darem um tratamento igual a
todos os seus filhos, aqueles que fizeram o bem e também
aqueles que fizeram o mal! Onde está o perdão divino?

O anjo foi na direção do homem e disse:

– Meu filho, já que você está questionando isso, permitirei


então que você vá aos planos celestes, você quer?

– Sim, respondeu o homem.

O anjo então deu a mão ao homem e o conduziu a um plano


elevado do cosmos infinito, para onde vão as almas bondo -
sas, caridosas, compassivas e humildes.
Assim que chegou lá, o anjo desapareceu. O homem pensou:
“Puxa, consegui vir a um local melhor, sem que eu precise
ficar sofrendo, que bom!”

Começou a caminhar pelo local. Sentiu uma energia muito


calma, tranquila, pacífica. Ele estava acostumado com agita-
ções, barulho, confusões, etc, e por isso começou a sentir um
pouco de saudade dos bares, das boates e casas noturnas
onde frequentava.

613
Continuou caminhando, e viu um homem tocando uma melo -
dia belíssima, bem calma. Começou a ouvir um pouco da
música, mas rapidamente achou aquela melodia muito chata
e monótona. Saiu de lá e continuou caminhando.

Logo depois, viu um senhor ensinando filosofia a um grupo de


almas. Parou para ouvir os ensinamentos: o mestre falava de
amor, caridade, meditação, paz, e outros princípios sagrados
da vida. O homem ficou muito entediado com aquela con -
versa, não concordava com quase nada do que era dito, sen-
tiu uma certa ansiedade e saiu de lá rapidamente.

Continuou caminhando, mas dessa vez estava sen tindo-se


mal com toda aquela atmosfera benéfica.

Viu a sua volta que se irradiavam pelo espaço correntes de


luz branca, e todas as almas que passavam por lá eram
transpassadas por aquela vibração divina. Assim que teve
contato com essas correntes de pura bondade e harmoni a,
sentiu-se ainda pior do que antes. Não estava acostumado
com energias boas, elevadas, pacíficas. Começou a sentir-se
muito angustiado com tudo aquilo. Chegou num ponto em que
não estava mais aguentando aquelas vibrações luminosas,
aquela paz e bondade. Chegou ao seu limite e resolveu então
clamar pelo anjo dizendo: “Ser angélico, por favor, estou me
sentindo péssimo aqui. Suplico-te, leve-me para outro lugar!”

O anjo apareceu e o conduziu a uma zona inferior. Mostrou


ao homem que lá havia sexualidade desregrada, prazeres,
barulho, energias densas, pessoas tomando as coisas das
outras, confusão, agitação, etc.

O homem olhou para o anjo e disse:

– Obrigado!

O anjo disse:

– O local onde vivemos e nos sentimos atraídos, tanto na vida


física quanto na vida espiritual, tem total relação com nossos
desejos, afinidades e nosso modo de ser. As almas vão para
onde seus desejos, crenças e afinidades as guiem. Cada qual
está no lugar que tem que estar, de acordo com a lei das

614
afinidades e vibrações. Não há qualquer discriminação nem
injustiça na perfeição do plano divino.

615
O QUE VOCÊ QUER?

Quer ser uma pessoa melhor? Siga o exemplo dos sábios e


mestres. Estude seus ensinamentos. Imite seu comporta -
mento e sua vida. Seja um aprendiz da vida. Não seja pe-
dante. Ouça a natureza e a si mesmo. Não se venda. Tenha
fé. Não perca nunca a esperança…

Quer estabilidade material? Trabalhe. Seja útil aos demais.


Não fique exigindo da vida. Não crie necessidades ilusórias.
Não creia que o dinheiro vai resolver a sua vida. Saiba usar o
poder em benefício dos demais. Não acredite em estabilidade
exterior. Acredite, isso sim, na estabilidade interior…

Quer se curar? Encare a si mesmo. Torne-se uma pessoa


melhor. Não acredite em soluções fáceis. Cuide de si mesmo
e cultive a tranquilidade. Deixe suas emoções fluírem. Não
fique remoendo conflitos sem importância…

Quer viver em paz? Não tire a paz de ninguém. Não brigue


com outros. Não critique. Não fique se detendo nos erros
alheios. Não desperdice energia com o supérfluo. Não acre -
dite que conquistas mundanas trarão tesouros interiores.
Respeite os demais…

Quer ser amado? Ame em primeiro lugar. Seja pres tativo.


Sirva sua comunidade. Seja leal, honesto e caridoso. Vise o
coletivo e não o individual. Queira o bem da comunidade. Dê
a si mesmo sem nada esperar em troca…

Quer ser equilibrado? Agradeça o bom e o mau que te che -


gam. Seja feliz na saúde e na doença. Não fique remoendo
pequenas contrariedades. Não acredite em sorte, azar ou
acaso. Não crie dependências de nada nem de ninguém.
Cultive o silêncio interior. Reflita, medite e deixe estar…

Quer ser feliz? Não procure agradar a todos. Não queira


muitas coisas. Não ligue para as críticas. Não se bloqueie.
Não crie expectativas. Não siga os passos de outros. Siga
sua orientação interior. Seja você mesmo. Busque a felicidade
no eterno e não no transitório. Deixe a vida fluir através de
você. Não sofra por antecipação. Não sofra pelo que você

616
não tem, mas retire alegria do que você tem. Louve a vida e a
simplicidade do momento presente…

E, finalmente, aprenda a grande lição: Preocupe -se menos


com o querer, e mais com o ser…

617
A VIDA PASSA

Há mais de 100 anos, um sábio estava ensinando a uma


multidão quando um homem fez a seguinte pergunta:

– Mestre, o que é a vida?

O sábio olhou para ele e respondeu:

“Vida é aquilo que passa enquanto estamos presos ao pas -


sado… aos nossos apegos, nossos traumas e nos sas lem-
branças tristes.

Vida é aquilo que passa quando estamos preocupados com o


futuro… Preocupados com o que pode acontecer e com o que
devemos fazer no momento vindouro.

Vida é aquilo que passa quando estamos preocupa dos em


ganhar dinheiro, em comprar uma casa, em não perder di -
nheiro, em adquirir mais bens, em acumular mais e mais ou
em ser uma pessoa de “sucesso”.

Vida é aquilo que passa quando estamos pensando no que


nossos filhos estão fazendo, onde eles estão, com quem
estão e que horas vão voltar para casa.

Vida é aquilo que passa quando estamos sonhando com o


que não temos, com o que nos falta, com o que desejamos e
não possuímos.

Vida é aquilo que passa quando você está magoado com


alguém, sentindo raiva, ressentimento e dese jando que o
outro fique mal por você também estar mal.

Vida é aquilo que passa quando estamos sempre insatisfei -


tos, reclamando, carrancudos, fechados e infelizes, ao invés
de aceitar a vida e as pessoas como elas são.

Vida é aquilo que passa quando você faz de tudo para conse -
guir a felicidade e não a conquista… e o que você precisava
não era buscar a felicidade, mas sim plesmente ser feliz.

618
Vida é aquilo que passa quando você fica perdendo tempo
preocupado com a vida do outro, querendo viver a vida do
outro, e não cuida de sua própria vida.”

A multidão ouviu atentamente o sábio. Este completou:

“Não deixe sua vida ficar passando enquanto tudo isso acon -
tece. A vida é apenas viver, sem estar no passado ou no
futuro, sem ficar se preocupando sempre com os outros, sem
ficar frustrado com o que perdemos ou não temos, sem ficar
preso a qualquer sentimento negativo. Por isso, independente
de qualquer coisa, seja feliz. Viver o agora, o momento pre -
sente, é o mais importante… Senão sua vida passa, você a
perde… e tudo se esvai de repente e termina, sem que você
se dê conta.”

619
A VERDADE EXISTE?

A única certeza que temos é que nesse mundo ne nhuma


certeza podemos ter. Mas essa já é uma certeza… Assim
como também é certo que a única coisa que não muda é o
fato de que todas as coisas sempre mudam…. e isso já é algo
permanente. Dizem que o sábio começa a adquirir sabedoria
quando ele percebe que nada sabe.

Sócrates foi considerado pelo Templo de Delphos como o


homem mais sábio do mundo. Mas o próprio Sócrates acre -
ditava que nada sabia. Então ele deduziu que aquele que
acreditava saber algo não era sábio de verdade, mas aquele
que sabia que na verdade nada sabia, esse sim era um sábio.
Isso nos mostra que saber que nada se sabe é quando se ini -
cia a sabedoria… a sabedoria começa quando en tendemos
plenamente que nada sabemos… ou melhor dizendo, que não
há nada que possamos saber.

O Templo de Delphos nos dá outra lição de sabedo ria. Havia


uma inscrição no portal do templo que dizia assim: “Te ad-
virto, quem quer que sejas, oh tu, que deseja sondas os mis-
térios da natureza. Como esperas encontrar outras excelên -
cias se ignoras as excelências de tua própria casa? Em ti está
guardado o tesouro dos tesouros. Oh homem… Conhece-te a
ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

Mas então se não podemos encontrar qualquer verdade…


não existe uma verdade? Vamos analisar isso com calma…
Se afirmamos que a verdade simples mente não existe, ou
dissermos que não existe, em hipótese alguma, uma verdade,
observe que já estamos declarando a maior verdade que
existe: a verdade de que não existe uma verdade. Mas a
verdade da inexistência da verdade também é, paradoxal -
mente, uma verdade. Assim, mesmo aquele que afirma não
existir uma verdade já está proclamando uma verdade.

Logo, não é possível fugir da verdade, nem mesmo quando


tentamos negar qualquer verdade. Mas o que é a verdade? A
verdade, como já vimos, não pode ser encontrada nesse
mundo, mas talvez possa ser encontrada além do mundo,
além do tempo, além do espaço, além da causalidade, além
do ritmo e da vibração, naquilo que alguns místicos chamam

620
de consciência cósmica, que existe na eternidade, no infinito,
no sem fronteiras, no que não tem início e nem sequer terá
fim.

621
EU SOU UNIVERSAL

As pessoas não precisam obter nada para serem perfeitas,


pois essa perfeição já faz parte delas, e já é de sua natureza.
Por essa razão, tome consciência de que:
Você não precisa aprender tudo, pois você já é tudo.
Você não tem uma vida, você é a vida.
Você não vive no infinito, você é o infinito.
Você não vive dentro da eternidade, você é a eterni dade,
você é eterno.
Você não possui a sabedoria, você é a própria sabe doria.
Você não tem inteligência, você é a inteligência uni versal.
Você não tem um espírito, você é es pírito.
Você não tem uma essência dentro de si, você é a essência
da vida.
Você não vive dentro de Deus, você é Deus em ma nifesta-
ção…
Você não tem uma luz, você é luz em desenvolvi mento na
Terra.
Você não está dentro do universo, você é universal.
Você não precisa de nada, pois você já é tudo dentro da infi -
nita e eterna essência da vida.

622
NOSSO JARDIM INTERIOR

Era uma vez um menino de 10 anos que morava numa casa


com um belo jardim. No entanto, com o passar do tempo, o
menino começou a cultivar o hábito de jogar tudo que é tipo
de lixo, descarte e sobras de alimento em seu quintal. Ele
consumia seu leite de caixinha, e logo jogava a caixinha no
quintal.

Com o passar do tempo, o lixo foi acumulando, acumulando e


isso foi atraindo para a residência todo tipo de moscas, bara-
tas, ratos e outros insetos.

O lixo também começou a exalar um odor fétido que empes -


teava todo ar e invadia a casa e as redondezas, fazendo as
pessoas se afastarem da propriedade. Ratos, baratas e mos -
cas começaram então a penetrar no interior da casa gerando
muitos infortúnios e contragostos.

Do outro lado da cidade, havia outra casa com quin tal onde
morava outro menino de 10 anos. Ao contrário do primeiro,
esse outro garoto não jogava seu lixo no quintal. Ao invés
disso, semeava e plantava flores de diversos tipos. Com o
tempo, todos viram florescer um jardim muito bem cuidado,
com muito verde e beleza estonteante. O jardim exalava um
perfume de flores que fazia as pessoas pararem em frente à
residência e s entirem o agradável aroma que impregnava
todo o ar. Ao contrário do outro menino, o jardim verde e
colorido atraía beija-flores, borboletas, canários e outros tipos
de pássaros, muito belos e cantantes. Nessa casa todos es -
tavam mais felizes, tranquilos e leves.

A mãe do menino que cultivava o belo jardim florido sempre


lhe dizia:

– Meu filho, se você quer atrair os pássaros, as borboletas e


um aroma suave e perfumado para sua casa, não pode ja -
mais traze-los à força. Você deve simplesmente cuidar do seu
jardim, fazer brotar nele o verde da beleza, da alegria e da
paz. Assim, naturalmente, eles virão a você, sem qualquer
esforço de tua parte.

623
Essa estória tem muito a ver com a nossa vida interior. Muitas
pessoas reclamam das pessoas indesejáveis que chegam às
suas vidas e das situações negativas que as acometem:
pessoas que nos fazem mal e situações que nos oprimem e
nos fazem sofrer. É preciso entender que não adianta deixar
lixo no quintal de sua vida e esperar que não cheire mal. Não
adianta acumular todo tipo de podridão em nosso jardim
interior e esperar que as borboletas, os pás saros e um suave
perfume venham ao seu encontro.

Comece a cultivar o bem em seu interior… Deixe-o puro, leve


e pacífico; plante as sementes da pureza, da leveza, da har-
monia e da alegria. Passe a regar e adubar as flores da vir -
tude, do amor e da paz. Assim, da mesma forma que os pás -
saros, as borboletas e o perfume vêm naturalmente a um
jardim puro e verde… A beleza, a leveza, a harmonia e a
alegria virão natural e espontaneamente ao seu encontro.

624
LEI DA AFINIDADE

Uma das leis mais importantes do universo é a lei da afini -


dade ou sintonia.

Essa verdade foi expressa no esoterismo na frase “Seme -


lhante atrai semelhante”.

Buscamos as pessoas, os lugares e as atividades que corres -


pondem a nossas afinidades, desejos, vibrações e aspira-
ções.

Cada pessoa está no local que se sente atraída, sinto nizada e


satisfeita. Ninguém nos envia para um ou outro local, mas
cada alma naturalmente vai para o lugar que sente afinidade.

Se quiser conhecer a si mesmo, pergunte-se quais são suas


afinidades e com que você se sintoniza.

Quando sentimos afinidade por uma pessoa, há alguma coisa


em nós que é semelhante a algo que existe nessa pessoa. Há
uma ressonância de modos de ser, personalidade e vibração.

Por outro lado, quando uma pessoa sente repulsa pela outra,
uma antipatia gratuita, uma ojeriza pelo comportamento e
personalidade, pode haver algo semelhante em você.

Aqueles que buscam o negativo, possuem algo dentro de si


que se sente atraído pelo negativo.

Nesse âmbito, não existe o certo e o errado, o bom e o mau,


existe apenas aquilo que uma pessoa atrai ou repele dentro
de suas afinidades.

Não acredite ser necessariamente mau ou errado aquilo que


não está de acordo com sua sintonia.

Aquele que assiste programas sensacionalistas na TV que só


promovem a violência, deve se perguntar porque a violência o
atrai. Talvez essa mesma violência esteja de alguma forma
presente dentro dele.

625
Uma mulher que só se relaciona com homens cafajestes, que
a maltratam, deve refletir no motivo de se sentir atraída por
esse tipo de homem. O que ela está buscando nesse modelo
masculino?

Não culpe um grupo de jovens por terem levado seu filho às


drogas, mas antes se pergunte porque ele sentiu afinidade
com esse grupo e permitiu que o levassem as drogas. Que
recompensa ele estava bus cando?

Se você gosta de estilos musicais pesados, com letras ba -


nais, de sexualidade exacerbada, essa é a sua vi bração, ao
menos em algum nível do seu ser.

Mas se você gosta de musicas mais tranquilas, com letras


edificantes, de sonoridade profunda, com ins trumentos mais
refinados, há algo em você que busca ou já está em confor-
midade com essa vibração.

É como um rádio: quem com sua vibração só sintoniza fre-


quências AM, recebe o som todo distorcido; e quem sintoniza
com FM, já recebe o som mais puro e claro.

Renascemos nos abismos infernais mais profundos, ou nos


mais elevados paraísos celestiais graças aos nossos desejos
que criam as afinidades e sintonias.

Cada ser gera uma vibração, que se encontra em res sonância


com aquilo que atrai ou repele. E tudo o que atraímos ou
repelimos gera emoções e cria experiências de vida que tra-
zem lições e amadurecimento espiritual.

Não adianta proibir uma pessoa de encontrar-se com o objeto


de sua afinidade, pois cada um precisa experimentar tudo o
que existe de positivo e negativo em sua sintonia e vibração,
pois é assim que evoluímos.

Para mudar seu destino, mude sua sintonia; para mudar sua
sintonia, encontre suas afinidades; para mudar suas afinida -
des, reconheça seus mais profundos desejos e aspirações,
inclusive aqueles que você quer ocultar de si mesmo.

626
Não reprima sua vibração, apenas mude sua afinidade, como
se muda de sintonia AM para FM na rádio.

Sintonize com o amor, a paz e bem, e você expressará o


amor, a paz e o bem em sua vida.

627
A ETERNA AURORA

Ao longo de tua existência física,


Busca apenas o que é essencial.
O movimento da vida, o vai e vem contínuo;
Distrai os sentidos e burla a mente.
Coloca a tua consciência numa região além,
Que não pode ser tocada pelas correntezas da ilusão.
Lembra-te que só os desapegados conquistam o real,
E permita que a vida flua livremente em ti.
Aproxima um objeto ante teu olhar,
E logo ele bloqueará tua visão.
Mas também não olhes com ansiedade para o sol,
Pois teus olhos ficarão escurecidos!
Onde antes construías edifícios,
Nada há além de uma passagem…
Que vos conduzirá de um ponto a outro do teu caminhar.
O destino é tecido pela livre escolha,
Mas onde se planta maçã, não colherás outra fruta.
Cada aspecto da vida é um portal aberto,
Para um manancial infinito de liberdade e completude;
A consciência deve se abrir e o coração deve estar em paz.
Não creias no homem vaidoso e egoísta,
Ele deseja algo que a vida nunca o dará.
O arrogante se nutre do vácuo,
E persegue as bolhas que se formam e estouram em suas
mãos.
Sê humilde, diante da imensidão insondável da exis tência,
A natureza sempre terá algo a lhe ocultar e revelar.
Pára e contempla as coisas simples,
É na simplicidade onde Deus é sentido,
E no silêncio ele se faz presente.
O homem que se embrenha na pressa e na luta,
Vai encontrar apenas estresse e conflitos.
Procura ter o mínimo de necessidades,
Não te incrementes com o supérfluo.
Seja você mesmo, somente você,
E a alegria virá com naturalidade.
O sábio aprende com todas as coisas,
Por mais insignificantes que possam parecer.
O pequeno tem a sua grandeza,
E o simples uma profundidade que só o sábio enxerga.
Jamais forces uma atitude que não é tua,

628
Nem te identifiques com uma máscara;
A vida se encarrega se desnudar,
O que um dia alguém dissimulou.
Não cultives preocupações…
Preocupar-te gera tensões que criam inconsciência.
Concentra-te na tua vida, não te compares a outros.
Cada pessoa conhece o céu e o inferno de ser o que é.
Ninguém menospreza a rosa vermelha,
Em detrimento da rosa branca.
Cada flor é bela da sua forma,
Com sua cor e seu perfume.
Não te deixes ludibriar pela aparente estabilidade h umana,
Só Deus conhece os recônditos mais escuros da alma hu-
mana.
Por detrás da capa do sucesso,
Pode estar oculta uma escuridão interior.
O amor incondicional é o porto seguro,
Dentro das marés turbulentas,
Desse oceano de miragens mundanas.
Molha as mãos na água, sinta a brisa,
Ouça o canto dos pássaros e rola na grama.
A inocência nos aproxima de Deus.
Não fiques vendo o mal em tudo,
Atenta apenas para as sombras do teu íntimo.
Não há ninguém tão bom que não precise dos demais,
E ninguém tão ruim que não possa ser útil.
Não tentes controlar o mundo,
Nem faça outros a sua imagem e semelhança.
Quem quer conquistar as coisas,
Acaba sendo conquistado por elas.
Jamais esqueças: todo fim é sempre um novo começo…
E cada dia pode ser um novo amanhecer de nossa existência:
O primeiro dia do resto de nossas vidas.
Mas não deixes jamais de cultivar a esperança.
Sem esperança, morremos em vida.
Ser feliz não é uma meta, mas uma escolha.
Continues a grande jornada da vida com fé.
E por maior que sejam os sofrimentos e as tormentas,
Eles nada representam, diante da Eterna Aurora…
Que a todos aguarda.

629
METAMORFOSES DA VIDA

Duas lagartas estavam rastejando no chão. Uma de las era


um pouco mais jovem enquanto a outra era um pouco mais
velha. Estavam em um dia frio de inverno com uma leve ne-
blina. A lagarta mais velha virou-se para a mais jovem e per-
guntou:

– Estava pensando. Será que um dia nós, lagartas, podere -


mos voar?

A outra lagarta, mais jovem, fica um pouco inquieta com a


pergunta e diz.

– Claro que não! Nós, lagartas, somos seres rastejantes.


Vivemos nos arrastando pela terra e essa é a nossa reali -
dade.

A lagarta mais velha pensou por um momento e disse:

– Mas será que um dia, quem sabe, não poderemos deixar


essa condição limitada aqui no solo e nos to rnarmos mais
livres? – Especulou.

– Te afirmo que não! – disse, confiante, a lagarta mais jovem.


– Nossa vida é esta aqui mesmo, neste estado larval. Cami -
nhar pela terra, subir em algumas árvores, alimentar-se de
pequenas folhas de plantas, e viver dentro dos limites de
nossa espécie. Essa é a nossa realidade. Você precisa abrir
os olhos e aceitar a realidade das coisas, ao invés de ficar
matutando nestes sonhos de liberdade, independência e
leveza. Isso nada mais é do que uma expressão do seu de -
sejo.

A lagarta mais velha ficou um pouco envergonhada de ter


soltado tanto sua imaginação. Mas ao mesmo tempo pensou
como seria bom ao menos poder sonhar com uma condição
melhor no futuro. Então, mesmo temendo a iminente incom -
preensão de sua companheira, arriscou-se e disse:

– Mas pense bem. Mesmo que nós estejamos submetidos e


presos sempre em terra firme, ou subindo e descendo de
plantas e limitados em nossa percepção, talvez existam

630
membros de nossa espécie que, futuramente, possam estar
num estado mais livre. Não sei se você sabe, mas há algu-
mas histórias de lagartas que passaram por uma espécie de
transformação…

– Sim, eu já ouvi algumas destas histórias – disse a lagarta


mais jovem – mas não passam de mentiras para enganar os
incautos. Querem que acreditemos em fantasias de asas,
leveza, vôo, visão panorâmica, mais rapidez, e outras ilusões.
Se existem mesmo essas lagartas de asas, onde elas esta -
riam?

A lagarta mais velha ficou em dúvida. Isso parecia ser ver-


dade. Jamais havia visto uma lagarta de asas, voando. No
entanto, retrucou:

– Mas veja só. Talvez, pela nossa própria condição de seres


rastejantes, estejamos tão presos e acostumados a olhar
apenas para o solo, ou para o próximo passo, que sequer
prestamos atenção ao céu, ou contemplamos o alto, para
que, talvez, algum dia pudés semos vislumbrar a liberdade e a
rapidez de uma suposta lagarta voadora. Não se esqueça
que, daqui de baixo, não conseguimos enxergar direito as
coisas que ocorrem no céu.

A lagarta mais jovem começou a pensar nes sa possibilidade,


mas logo rechaçou seus pensamentos e disse:

– Não! Se isso fosse mesmo possível, nós já saberíamos. Já


teríamos visto essas lagartas voadoras!

A lagarta mais velha refletiu e, com toda sinceridade, questio -


nou:

– Ou será que o nosso orgulho, e nossa presunção de tudo


saber, não nos impede de admitir que podem haver outras
formas de vida mais desprendidas? Não se esqueça que há
muitas minhocas que não acreditam na vida acima do solo,
creem apenas na vida dentro da terra.

– De jeito nenhum! Estou apenas falando de nossa realidade


observável, de nossa vida, de nossa reali dade. Não há ne-

631
nhuma prova de que isso seja verdadeiro. Aceite-se tal como
é, e será mais feliz. – disse a lagarta mais jovem.

As duas lagartas encerraram o diálogo, e depois desse dia


não se falaram mais.

Passado algum tempo, a lagarta mais velha sentiu algo de


diferente. Subiu num local mais alto e formou um casulo.
Dentro do casulo, sentiu uma forte transformação, e logo que
rompeu a casca, saiu como uma linda e colorida borboleta.
Voando por sobre seu antigo lar pôde avistar, lá em baixo, sua
amiga mais jovem, a lagarta que, um dia, havia duvidado da
liberdade e da leveza. A borboleta planou bem próximo de
sua antiga amiga, mas a lagarta não pôde vê-la. Ela então
pensou:

– Ah, se ela soubesse…

632
COMO É O NOSSO MUNDO

Uma coisa é certa: Ninguém deve se apegar a esse mundo…

Vivemos num estado ou condição inferior de exis tência. Sa-


bemos que em todo o cosmos existem muitos planos e di-
mensões diferentes. Os seres humanos do planeta Terra
vivem num mundo que é ainda muito primitivo, onde os ins -
tintos são predominantemente grosseiros, onde existem emo-
ções inferiores, como raiva, mágoa, culpa, ódio, desespero,
carência, etc. Neste mundo em que vivemos, existem muitos
erros, muitas dúvidas, muita confusão…

Aqui neste mundo existe miséria, doença, vazio e morte. Tudo


aqui é instável e passageiro. Em outras palavras, vivemos
num mundo de desordem e caos. Tudo é incerto, inseguro,
inconstante, com oscilações permanentes. São como ondas
que vem e vão, onde numa hora podem nos levar à direita e
outra hora nos levam à esquerda. As pessoas desejam cons-
truir aqui sua morada definitiva, mas essa morada que elas
creem ser permanente poderá ser destruída a qualquer mo-
mento, muito antes até do que elas imaginam.

Uma pessoa que hoje se arroga de ter muito di nheiro, ama-


nhã pode perder tudo. Ela pode mesmo viver algumas déca -
das bem rica, mas de repente, seu corpo de matéria retorna à
matéria, sua alma se desprenderá do corpo e ela perderá
todo o dinheiro que possui… e tudo o que ela tem será dado a
outras pessoas.

O mundo em que estamos encarnados é um local ainda muito


nebuloso. Aqui a verdade ainda não nos é revelada direta -
mente. Vemos tudo com uma lente ainda muito empoeirada,
muito distorcida. É como se estivéssemos no escuro, mergu -
lhados numa obscuridade que afeta nossa consciência e não
nos permite enxergar as coisas como elas são. Por outro
lado, esse mundo exerce uma grande influência s obre nós.
Aqui tudo é pesado, difícil, árduo, arrastado, penoso, dolorido,
confuso e nebuloso. Nos mundos mais adiantados, a matéria
não exerce tanta força sobre nós. Temos mais liberdade de
ser e agir. Mas nesse mundo físico a matéria nos pesa muito
e nossos olhos espirituais ainda estão fechados. Somos ce -
gos para tudo, mas acreditamos que enxergamos muito bem.

633
Aqui os relacionamentos sempre são baseados na dúvida, na
distorção, na posse e em jogos psicológi cos. Aquele que
acredita nos outros é visto como bobo, otário e ingênuo. Aqui
quando as pessoas acreditam nas outras, criam expectativas
e depois se frustram por não terem suas expectativas atendi -
das. Assim, o mundo material nos impele a buscar apenas os
prazeres carnais, a ter a posse das pessoas e a muitas vezes
trata-las como objetos que devem nos servir. Tudo isso é fruto
de um egoísmo que se desenvolveu no ser humano ainda
animalizado, ainda preso aos ditames da carne e da matéria
densa.

Esse mundo é como uma penitenciária. Tudo aqui acaba


sendo uma prisão para os seres que o habitam. Vivemos
aprisionados às necessidades físicas de alimentação, des -
canso, abrigo e segurança. Nos mundos mais elevados, não
há qualquer necessidade corporal, visto que os seres não têm
um corpo reves tido de matéria. Ainda existem pessoas que
acreditam serem livres. Essa ideia pode ser comparada ao
presidiário que acredita ser livre porque pode cami nhar por
qualquer local de sua cela. Ele se acredita livre pois consegue
ser livre dentro da cela, ou seja, dentro de limites muito res -
tritos. Assim são os seres humanos deste mundo. Creem em
sua liberdade, mas não desconfiam que essa liberdade é
extremamente reduzida. Os seres dos planos de consciência
mais sutis são apenas espírito, são almas livres e indepen -
dentes e não tem as necessidades grosseiras que existem
aqui.

No entanto, todos devem saber que esse mundo não é real.


Ele é uma ilusão, uma miragem, um sonho que os seres vi -
vem e passam a acreditar que esse sonho é real. É como
uma pessoa que vivia brincando num parque, parou para
descansar, sentou-se sob uma árvore e comeu um fruto que
dava muito sono. Começou então a dormir e a sonhar que
estava em outro lugar. Ele ia aos poucos criando uma reali -
dade paralela à vida real. Num certo momento, o sonho de -
morava muito e a pessoa não acordava. A pessoa começou a
acreditar que as imagens oníricas eram reais e esse sonho
começou a se transformar aos poucos num pesadelo. Sim,
esse mundo em que vivemos é algo parecido com isso…
Acreditamos tão fortemente que tudo aqui é a realidade defi-

634
nitiva que tudo começou a se tornar um pesadelo. Como
acreditamos que só temos o que existe aqui, com poucos
recursos, num mundo limitado, que nos oprime, começamos a
brigar pelas migalhas dessas imagens oníricas, sem descon -
fiar que em breve vamos acordar desse pesadelo e que nada
disso terá nos servido. Tentar fixar aqui nossa morada é o
mesmo que estar sonhando e não querer acordar do sonho,
desejar viver numa realidade criada pela nossa mente dese -
jante.

Por isso dissemos que ninguém deve se apegar a esse


mundo. Apegar-se a esse mundo seria o mesmo que cami-
nhar por uma natureza deslumbrante, cheia de recursos, com
água à vontade e muitos animais. De repente, viajamos ao
deserto e nos perdemos nessas regiões áridas e secas. O
tempo vai passando e vamos perdendo nossa memória. Fi -
camos tanto tempo no deserto que esquecemos das regiões
de natureza abundante que existem em outras paragens e
acreditamos que o deserto é o único lugar que existe. (Veja a
parábola “O Deserto e o Mundo” nesta obra)

Da mesma forma que o homem que caiu num sonho profundo


não vive nos seus sonhos, e assim como o homem no deserto
não possui apenas o deserto para viver, nós também não
somos daqui, mas apenas estamos aqui temporariamente.

Nós não somos do planeta Terra… Nosso lar é o cos mos


infinito. Vamos acordar desse pesadelo e viver a verdade,
voltar a viver no cosmos infinito, repleto de amor, paz e har-
monia.

635
O PODER

Uma das coisas mais difíceis da vida é lidar com o poder.


Muitos dizem que o poder corrompe, o poder degrada.
Mas o poder apenas mostra como cada pessoa é.
As pessoas não mudam quando ganham poder,
Elas apenas têm espaço de manifestar quem sempre foram.
Todo poder mundano é passageiro, efêmero e ilusó rio.
O verdadeiro poder é apenas um: o poder sobre si mesmo.
O único poder que você pode ter na vida é o de con trolar a si
mesmo.
Mas quando você concede esse poder a pessoas ou coisas,
Esse poder conferido passa a te controlar, e até, por vezes, a
te subjugar.
Entenda que o outro só tem o poder que a ele é doado.
Quando isso ocorre, a pessoa que recebeu seu poder passa a
ter domínio sobre ti.
Mas tudo isso é sugestão, é ilusão, posto que você acreditou
no poder externo,
E acreditando no poder que vem do exterior, deu seu poder
ao outro e perdeu o seu.
Pegue seu poder de volta, retome aquilo que lhe pertence,
Assim, o poder do outro sobre ti se anula, se perde, se esvai.
Mesmo quando dominam seu corpo, sua mente pode perma -
necer intacta a qualquer influência.
Quem adquire poder externo, nunca está satisfeito,
É necessário sempre mais e mais para se suprir.
O poder externo é apenas um sonho, um devaneio passa-
geiro.
Pois o único poder real é aquele que habita dentro de ti.
Ninguém tem poder de impedir uma tempestade,
Mas sim de resistir bravamente quando chega a tormenta.
O maior poder do mundo não é o de quebrar, rom per, impor
nossa força.
Mas sim de construir, unir, agregar e amar.
Uma ideia pode ter mais poder que mil exércitos.
O maior poder do ser humano não reside em sua personali-
dade,
Mas na disposição de superar a si mesmo, seus hábi tos ar-
raigados, seus limites, sua consciência.
Poder tem aquele que mesmo nas maiores adversidades,
continua caminhando.
Aquele que tem força, mas desiste de caminhar, não tem o

636
verdadeiro poder.
O poder está em perseverar, em enfrentar as tormentas, em
continuar seguindo em meio ao caos.
A flexibilidade e a adaptação às circunstâncias tam bém são
fontes de poder.
O poder de vencer os outros é ilusório;
O poder de vencer a si mesmo é real.
O grande poder está em resistir ao golpe, e não se abalar
com nada.
O que mais te tira o poder? Tudo aquilo que você acredita ser
definitivo, indiscutível e fechado.
A pessoa que crê num dogma imutável, perde seu poder de ir
além.
A pessoa que crê na infalibilidade de algo ou alguém, perde
seu poder ao menor sinal de falha.
A pessoa que coloca sua vida nas mãos de outro, perde
igualmente seu poder.
A pessoa que se sente vazia quando não faz algo, perde seu
poder ao fazer esse algo.
Aquilo que não te dá espaço para ir além, te tira o poder.
Qualquer crença de necessidade te tira o poder.
Quanto mais precisamos de algo, menos poder temos.
Quanto mais fragmentado ou dividido você estiver, menos
poder tem.
Quanto mais unido for dentro de si, mais poder terá.
O poder vem da união, e essa união também se faz reunindo
as partes divididas dentro de si.
Se um lado teu quer uma coisa e outro quer outra, você está
dividido.
Junte suas partes perdidas e esteja reunindo para ti mesmo.
Recupere seu poder, nada externo a ti deve ter mais poder do
que teu interior.
Somente resgatando seu poder, você será íntegro e forte.

637
MEDO DE FANTASMAS

Era uma vez um menino que morava sozinho com sua mãe.
Nessa casa havia um quarto que vivia trancado e ninguém
jamais entrara ali.

Certo dia, temendo que seu filho entrasse no apo sento e


fizesse alguma travessura, a mãe resolveu contar-lhe uma
história inusitada:

– “Filho, você jamais deve entrar naquele quarto.”

– “Por que mãe?” Retrucou o filho.

– “Por que há um fantasma trancado lá dentro. Se você abrir


a porta e entrar, o fantasma vai aparecer para você e te per-
seguir.”

O menino ficou aterrorizado com o alerta feito pela mãe. Con -


fiou nela e não se atreveu a abrir aquela porta.

Conforme o tempo ia passando, a imagem do fantasma preso


no quarto não saia da cabeça do menino. Passava noites
acordado com receio de que o fantasma escapasse e fosse
assustá-lo à noite. O menino estava cada vez mais amedron-
tado. Dormia e tinha pesadelos sendo perseguido pelo fan -
tasma. Chegou a passar noites em claro cogitando um possí-
vel ataque. Isso foi se repetindo durante os meses e anos
seguintes. Mesmo sem adentrar no quarto desconhecido, era
como se o fantasma já o estivesse perseguindo.

Um dia, já tendo atingido uma idade um pouco mai s avan-


çada, cansou de ficar naquela situação incô moda. Reuniu
toda sua coragem e decidiu que iria ver o fantasma no quarto.

– “É melhor ver logo como é esse fantasma, assim eu sei com


quem estou lidando.” Pensou.

Abriu a porta de seu quarto, caminhou pelo corredor e sentiu


um medo indescritível nesse momento. Finalmente, postou-se
diante do temido aposento. Colocou a mão na maçaneta e
abriu a porta. Não estava trancada! Quando a porta se abriu,

638
observou o quarto vazio, procurou tudo e não encontrou ne -
nhum sinal do fantasma que há tanto tempo o assus tava.

A partir desse dia, nunca mais teve pesadelos ou medo do


fantasma.

Encare seu medo de frente, pois quando você fizer isto, o


“fantasma” deixará de te perseguir.

639
O QUE É A VIDA?

Certa vez sonhei que estava caminhando por uma estrada de


terra batida. Estava contemplando a paisagem em volta, com
pássaros cantando, o mato dançando com a passagem do
vento e as nuvens no céu.

Olhei para a estrada e não via seu fim. Parecia ser um cami-
nho quase infinito. Observei que existiam outras pessoas ao
meu lado e todas elas começavam a cruzar um grande portal.
No topo do portal havia uma inscrição que fazia uma simples
indagação: “O que é a vida?”

Após cruzar o portal, as es tradas iam se dividindo, e cada


pessoa começava a percorrer a sua estrada individual. Cami-
nhando pela minha estrada, eu olhava para os lados e podia
observar outras pessoas peregrinando pelo seu caminho
individual.

Subitamente, aparece um monstro no meio da estrada. O


monstro era bem feio, forte e amedrontador. Ele começou a
caminhar na minha direção dando sinais de que iria me ata -
car. Olhei para os lados e percebi, surpreso, que havia um
monstro para cada pessoa e assim como o meu monstro, o
monstro dos outros também começavam a ataca-los.

Fui observando a reação de várias pessoas ao se de parar


com o monstro. Algumas saiam correndo, outras o atacavam
com ódio, outras ficavam paralisadas, outras desmaiavam, e
outras ainda ofendiam o monstro, que devolvia as ofensas e
partia para cima delas.

O monstro em minha estrada começou a me dar golpes, e na


medida do possível fui tentando desviar. Num certo momento,
o monstro me agarrou e disse que iria me consumir, e que em
breve eu estaria na barriga dele. Fiquei muito nervoso, mas
depois fui me acalmando e consegui refletir com calma. Foi
quando me veio a consciência de que tudo aquilo era apenas
um sonho, não podia ser real. Olhei para o céu e procurei me
libertar de tudo aquilo, fixando a consciência de que tudo
aquilo era um sonho e eu precisava despertar. O monstro,
pronto que estava para me morder, começou aos poucos a

640
desaparecer, ficando invisível. Segundos depois, ele sumiu, e
sobrou apenas a estrada e a paisagem.

Olhei para os lados, e as pessoas ainda estavam enfrentando


seus monstros. Cada um tinha um monstro específico. Depois
compreendi que o monstro nada mais era do que o nosso
inconsciente, nossos medos, nossas inseguranças, nosso
orgulho, nosso egoísmo, nossa vaidade, as dificuldades e
sofrimentos no caminho, e tudo aquilo que temos de negativo
dentro de nós que um dia acaba sempre nos consumindo,
assim como os apegos da vida material.

Percorri mais alguns quilômetros de estrada quando observei


outro portal gigante, mas dessa vez ele continha a resposta a
pergunta inicial “O que é a vida?”. A inscrição dizia:

“A vida humana é uma prova, nada mais. A forma como en -


frentamos nosso monstro é que vai demons trar o quanto
estamos preparados para viver no plano infinito. Quem con -
segue despertar dos sonhos do mundo pode finalmente se
elevar e viver na eternidade.”

Depois de ler essa inscrição, acordei do sonho…

641
PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Quem vive apenas no passado, acaba não vivendo.


Quem vive no presente, recebe um pres ente a cada sopro de
vida.
Passado, presente e futuro são uma e mesma coisa.
O passado e o futuro encontram sua existência apenas no
momento presente.
Quando pensamos no passado, estamos no presente, e
quando projetamos o futuro, estamos no presente.
Passado existe como apenas memória, e o futuro existe ape -
nas como expectativa.
Viver no presente não é esquecer-se do passado, não é so-
frer de amnésia escapista.
Viver no presente é desatar os nós do passado e dei xar a
vida fluir integralmente hoje.
Ninguém fica preso ao passado, mas sim as lembranças do
passado no presente.
O próprio nome já diz: o passado é aquilo que passa, e tudo
na vida passa…
Vivendo como uma estátua de sal voltada para o pas sado
deixamos de viver, nos paralisamos e morremos.
O presente cria o passado, pois tudo que é presente um dia
será passado.
E tudo o que é passado, um dia sempre foi o presente.
O presente é o único momento onde reside toda a criação e a
vida, o calor e o fluxo.
Quando o passado não passa, quem passa somos nós.
Viver no presente não é viver apenas o momento atual, o
imediato.
Viver no presente é existir no agora, no momento que flui, que
gera a vida: a fonte de tudo.
O idoso preso aos traumas da infância pode ainda ser um
menino.
O adulto apegado às seduções da juventude pode não ter
amadurecido.
A criança que deseja ser adulta perde sua infância no que ela
tem de essencial.
Não deixe para depois aquilo que deve ser feito agora, pois a
vida só existe no agora.
Quem deixa a vida passar, continua passando por uma vida
onde nada se passou.
O presente, sem passado nem futuro, não é outra coisa se -

642
não a eternidade.
Eternidade não é bilhões ou trilhões de anos.
Eternidade é viver no aqui e agora, num momento que sem-
pre flui, num estado de consciência atemporal.
Na atemporalidade da vida, estamos vivendo sem qualquer
apego ao que se foi, ou ao que será.
Sem a ansiedade pelo futuro, e sem o apego ao pas sado,
vivemos no único momento possível.
O momento presente é onde encontramos o real, onde en -
contramos a nós mesmos,
É onde vivemos sem sermos influenciados pelas correntezas
do tempo…
Tudo aquilo que é existe no presente, no eterno agora, na
vida eterna que é neste instante:
O presente.

643
INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO

Era uma vez uma cidade onde todos os seus habitantes só se


locomoviam de trem. O trem urbano atravessava boa parte da
região. Apesar de ser um trans porte lento, era bem eficiente e
todos sempre chegavam ao seu destino sem maiores contra-
riedades. Ao usarem o transporte coletivo, as pessoas con-
versavam, faziam amigos e eram solidárias umas com as
outras. O trem era como um ponto de encontro comunitário,
além de ser um meio de transporte bom e barato.

Certo dia, um homem chegou a cidade trazendo uma inova -


ção tecnológica. Ele trazia a invenção do automóvel. Muitas
pessoas ficavam admiradas com esse novo invento. O ven -
dedor dizia “Este é um meio de transporte onde ninguém
precisa depender dos trens. Você pode andar sozinho, para
onde quiser, sem dividir seu espaço com outras pessoas.”

O vendedor dos carros fez um discurso que impres sionou a


muitos. Em sua fala, ele sempre enfatizava a independência
que o automóvel trazia em relação ao coletividade. Algumas
pessoas julgaram que essa era uma atitude um pouco ego -
ísta, onde os interesses individuais eram colocados acima dos
interesses coletivos. Mesmo assim, quase todos adoraram a
ideia e muitos já foram comprando seu carro.

Os anos foram passando e mais pessoas foram ad quirindo


seus automóveis. As pessoas que andavam nos tren s obser-
vavam os motoristas nos carros, começaram a se comparar a
eles, e desejaram também ter o seu “transporte individual”.
Esse novo veículo conferia um certo status, pois destacava
algumas pessoas do coletivo, dando uma ideia de vanguarda,
distinção, elegância, sucesso, sofisticação e até superioridade
de uns sobre os outros.

Décadas foram passando e cada vez mais e mais pes soas


foram adquirindo seu carro. Começou então a ocorrer um
fenômeno curioso: foi o início dos engarrafamentos. Muitas
pessoas passaram a usar o transporte individual e, com isso,
as ruas da cidade começaram a ficar lotadas de automóveis.
O transporte coletivo foi diminuindo, até que quase acabou.
Todas as pessoas passaram a ter seu próprio carro e não
querer mais andar de trans porte comunitário. Com o passar

644
do tempo, os engarrafamentos viraram rotina e ninguém mais
passou a conseguir se locomover na cidade. Quanto mais as
pessoas pensavam em usar o transporte individual, mais as
ruas ficavam engarrafadas e cada vez mais ninguém conse-
guia se deslocar pela cidade.

Vendo a situação catastrófica, o homem chamou to das as


pessoas da cidade e fez um discurso enfático dizendo:

“Caros amigos, desde que começamos a pensar no individual


em detrimento do coletivo, as ruas ficaram lotadas de indiví-
duos disputando seu espaço, concorrendo pela locomoção na
cidade. Parece que nosso individualismo e egoísmo nos levou
a abandonar o coletivo e buscar algo melhor nos interesses
individuais. Da mesma forma que quando mais pes soas bus-
cam um automóvel e as ruas ficam lotadas e ninguém conse -
gue se deslocar, quando todos bus cam apenas seus próprios
interesses de forma egoís tica, o interesse de um vai anulando
o do outro e todos se anulam mutuamente. Quanto mais
transporte individual, menos pessoas conseguem andar. Da
mesma forma, quanto maior nosso egoísmo, mais bloqueada
e conflituosa fica nossa sociedade. Isso nada mais é do que
uma consequência do nosso egoísmo e individualismo.

Precisamos novamente valorizar o coletivo em detrimento do


individual, pois assim, voltamos a ser uma comunidade, uma
fraternidade, tudo flui melhor e seremos mais felizes.”

A população da cidade compreendeu a mensagem e todos


passaram a dar mais valor ao coletivo em detrimento dos
interesses puramente individuais.

645
AS APARÊNCIAS DO MUNDO

Se você ainda não percebeu isso,


Um dia você despertará para essa verdade.
Tudo nessa vida é apenas uma aparência, nada é real.
As aparências revestem o nosso mundo e lhe em prestam um
caráter ilusório.
E o mais grave é que as pessoas gostam de viver das apa-
rências.
Isso ocorre porque a maioria não aceita encarar a realidade.
A aparência é a fuga do enfrentamento dos proble mas que
podem nos levar a verdade.
Como muitos já descobriram, as pessoas preferem a mentira
confortável do que a verdade reveladora.
No entanto, você nunca pode se resolver enquanto não optar
em soltar o véu das aparências,
E começar a entrever a verdade sobre si mesmo e sobre o
mundo.
A verdade pode ser chocante, dolorosa, aguda, pene trante,
desagradável,
Mas não duvide disso:
A mentira que consola sempre dói muito mais a longo prazo
do que a verdade.
A verdade pode doer a princípio, mas ela possui um caráter
libertador.
“Conhecereis a verdade e ela vos libertará” disse Jesus.
Quais são as verdades em sua vida que você se recusa a
enxergar?
Duvide de tudo, pois estamos num mundo onde todos dissi-
mulam tudo o que podem.
Mas um dia, por mais que demore,
As mentiras sempre são descobertas, as aparências sempre
se quebram, a casca que encobria a verdade sempre se
rompe.
O que está subliminar sempre virá à tona, trazendo o real que
não desejamos ver.
O real sempre se impõe, justamente por ser o real.
Não adianta fechar os olhos, a vida o obrigará a abri -los, seja
pelo amor, seja pela dor.
Minta hoje, e amanhã você será descoberto.
Quem quer parecer diferente do que é sempre revela, em
alguns sinais, suas reais intenções.
Seja o mais autêntico possível, seja você mesmo, pois quem

646
é o que é, torna-se livre de tudo.
Quem não vive de mentiras é muito mais feliz, é mais espon-
tâneo, mais livre, mais tranquilo.
Uma mentira pode custar sua paz interior por toda a vida,
Mas a verdade pode te dar a paz que você sempre buscou.
Um dia as ilusões serão todas destruídas, por que então não
desfazer-se delas agora?
Toda ilusão tem um prazo de validade, que mais cedo ou
mais tarde revelará seu intento.
Ninguém precisa defender a verdade, ela se impõe por si
mesma.
Seria como defender o sol das nuvens de chuva. Por mais
densa que seja a nuvem, o sol sempre volta a brilhar.
Há uma essência por detrás de todas as aparências, assim
como há um autor por detrás de toda a obra.
A essência é sempre una e indivisível, embora infin dáveis
sejam suas formas de se manifestar.
É como um conjunto de lâmpadas de diferentes cores, for-
mas, tamanhos e intensidades.
Todas são diferentes e expressam a luz de maneiras diver-
sas,
Mas cada um delas está ligada a uma corrente elétrica que
vem de uma mesma fonte.
Da mesma forma, tudo no cosmos se expressa em diferentes
formas, mas há apenas uma essência divina.
Na verdade a essência da vida nunca esteve oculta, ela está
aberta para qualquer um que deseje aprecia-la.
Mas é preciso ter “olhos para ver e ouvidos para ouvir”.
Não se deixe enganar pelas ilusões do momento, pelas som-
bras que encobrem a essência.
Viva com a verdade, com a essência da vida, e tua liberdade
durará para sempre.

647
UM DIA VOCÊ VAI MORRER

Vou te contar uma coisa muito importante.


Preste bastante atenção no que vou lhe dizer.
Você pode ter se esquecido disso,
Mas um dia, inevitavelmente, você vai morrer…
Muitas pessoas vivem como se a morte nunca fosse chegar,
Como se sua vida fosse eterna, como se tudo a sua volta
fosse sempre permanecer intocado.
Mas não, um dia tudo vai embora e você vai morrer.
Um dia você perderá seu corpo físico e tudo de material que
você tem.
Um dia suas posses serão tragadas pela terra, seus animais
perecerão,
Sua casa cairá, seus móveis serão destruídos, seus familiares
vão embora,
Seus dogmas religiosos vão a falência, suas crenças o aban-
donarão,
Seu canteirinho não será mais seu: tudo o que um dia fez
parte de ti desaparecerá.
Assim vemos o quanto tudo é passageiro, tudo é fu gaz e
supérfluo nesse mundo.
Quando chegar o momento derradeiro, quando você se des -
pedir deste mundo,
Você vai se perguntar três coisas:
O que eu fiz de bom? O que posso levar daqui? Quem sou eu
lá no fundo?
Que respostas você daria? Fez algo de bom? Deixou uma
boa obra?
O que vai levar da vida humana que seja imperecível?
E quem é você lá no mais fundo e essencial de si mesmo?
Não viva como se nunca fosse morrer.
Aceite que a morte vem para todos, e que tudo o que você é
nesse mundo um dia acaba.
Aceite a morte como parte da vida, e não perca seu tempo
com futilidades.
Entenda que esse mundo é de aparências e um dia o véu
cairá.
Entenda que os sonhos, os desejos, os anseios huma nos, as
ilusões, as lutas desse mundo,
A correria, a pressa, a tensão, as disputas, tudo isso perde o
sentido.
Lutamos tanto para tudo um dia se esgotar.

648
Para que tudo isso? Vale a pena o desespero de querer tudo
para si?
Quem vive apenas por si mesmo, sofre muito na hora da
morte e depois dela.
O sofrimento se instala quando conferimos um valor de per-
manência a algo que nunca foi real.
Mas lembre-se: quanto menos buscamos o ilusório e mais
bem fizemos no mundo,
Mais paz teremos no plano espiritual.
Por outro lado, quanto mais você busca tudo somente para si
mesmo, mais você morre a cada dia.
Quem vive pelo bem, pelo amor, pela paz, por Deus, esse
morre bem para o humano,
E renasce no eterno que foi, é e sempre será…

649
NOSSOS APEGOS

Um homem chegou para um guru espiritual e perguntou:

– Mestre, por que Deus nos tira as pessoas e coisas que


amamos?

– Por causa do nosso apego as pessoas e coisas. – respon-


deu o guru. – O apego nos prejudica muito… e por isso, Deus
nos solta dos nossos apegos para que possamos nos tornar
mais livres.

– Pode explicar um pouco melhor mestre?

– Claro… – respondeu o guru. – Imagine que você tem um


filho que passa o dia inteiro em casa, sem sair, sem fazer
mais nada, apenas brincando com um ursinho de pelúcia. O
menino se recusa a brincar com outros brinquedos… Recusa-
se a sair, a fazer amizades e fica apenas em sua casa, em
seu mundinho particular, viciado em seu ursinho, quase sem
vida fora do seu brinquedo favorito.

- Agora me diga, o que um pai sensato faria neste caso? O


pai pode conversar com o filho, mostrar a ele a rua, outros
meninos, outras coisas para fazer e toda a liberdade que ele
terá caso largue seu ursinho e saia de casa. Caso o menino
ainda assim se recuse a largar seu ursinho e continue vivendo
apenas em sua simbiose com o ursinho, não resta outra alter-
nativa… É preciso que o pai tire o ursinho do filho para que o
menino passe a sair, interagir com outras crian ças e final-
mente retomar a sua liberdade.

- O mesmo Deus faz com os seres humanos. Os seres huma-


nos são como esse menino, apegado que está ao seu brin -
quedo e vivendo em simbiose com ele, privado de sua liber-
dade espiritual e vivendo num mundo de ilusões por conta de
seus apegos. Dessa forma, Deus nos mostra toda a liberdade
espiritual que temos caso abandonemos nossos apegos
terrestres. Ele nos mostra as maravilhas que a vida na eterni -
dade pode nos conceder, com suas infinitas possibilidades,
numa felicidade indescritível. Mas como na maioria das vezes
os seres humanos se recusam a seguir o caminho espiritual
no rumo da liberdade cósmica, Deus nos faz perder nossos

650
objetos de apegos, vícios ou dependências emocionais para
que possamos, finalmente, nos tornar livres, desim pedidos,
desprendidos de tudo, sem depositar nossa carga afetiva em
apenas uma pessoa ou em uma coisa.

Quando Deus nos tira dos nossos apegos, nos torna mos mais
livres para pensar, viver, amar e despertar para o infinito que
somos em essência.

651
O VALOR DO VAZIO

Para receber algo novo, esvazie-se do antigo.


Para pegar algo diferente, suas mãos precisam estar livres.
Para conhecer alguém novo, é necessário não estar preso a
relacionamentos passados.
Para receber pessoas em sua casa, é preciso que sua porta
não esteja congestionada.
Para caminhar livremente, retire tudo que é velho de tua es -
trada.
Para conhecer mais e melhor, esvazie sua mente de todas as
ideias e crenças obsoletas.
Para expressar livremente o amor, abdique de todas as má-
goas, ciúmes, ressentimentos e culpas passadas.
Solte tudo o que você possui, libere sua consciência de todos
os resíduos antigos, esvazie-se de qualquer roupagem pas-
sada.
O diferente, o novo, o inabitual, o inesperado só surgem
quando nos libertamos do que já passou.
Abra mão do que já se foi, do que teve sua época mas está
defasado, pois só assim a renovação virá.
A flauta só toca no espaço vazio, o rio só flui sem barragens e
destroços, um caminho só pode ser percorrido quando o
encontramos vazio de obstáculos.
Esvazie-se do supérfluo para dar lugar ao essencial.
O vazio é o espaço da receptividade e da criação. Não se
pode criar onde algo já existe.
É necessário desconstruir o antigo, abrir espaço ao vazio e
depois construir o novo.
Não deseje sempre abarrotar sua vida com milhares de coi -
sas.
Pois isso pode ser uma tentativa de evitar o vazio.
Ninguém pode preencher seu vazio sem antes aceita -lo den-
tro de si.
Mas é no vazio onde tudo se faz, se cria e se desen volve.
Aceite o vazio sem medo… acolha a ausência sem apego.
É no vazio que encontramos a verdadeira liberdade;
É no vazio que enxergamos melhor a vida e a nós mesmos.
E quando nada mais te sobrar; quando você abrir mão de
tudo, se desprender de tudo,
E tua vida cair num profundo e pleno vazio,
Entregue-se com fé, pois aí estará tudo… aí estará Deus.

652
VERDADES ETERNAS

Meu objetivo na vida sempre foi conseguir ser melhor que o


outro.
Mas hoje entendo que devemos ser melhores para o outro.
Já tentei, por longos e longos anos, conseguir o intento de
dominar o mundo.
Hoje me volto apenas para o domínio de minhas imperfeições
e para a libertação das impurezas do meu ser.
Já lutei e me destruí tentando vencer o outro.
Hoje mudei minha consciência e só penso em vencer a mim
mesmo.
No passado eu queria sempre ser forte diante dos outros.
Hoje quero apenas ser forte dentro de mim mesmo, resistindo
a mais dura turbulência.
Não desejo mais ganhar externamente as maravilhas do
mundo.
Agora somente desejo ganhar internamente as joias da bem
aventurança.
Antes eu desejava ter muitas coisas no mundo.
Hoje me importo apenas em ser o que sou.
Antigamente eu queria desbravar o mundo e conhecer os
segredos do universo.
Hoje só penso em conhecer a mim mesmo e desvendar os
mistérios do meu íntimo.
Agora minha meta não é mais chegar em primeiro lugar.
Mas ser o primeiro a estender a mão para ajudar o outro a
chegar.
Pensava que o mais importante da vida era o encontro com o
outro.
Hoje sei que é muito mais importante o encontro consigo
mesmo.
Antes eu perseguia as joias e riquezas do mundo, cujo valor
um dia sempre se esvaziava.
Hoje busco apenas conquistar uma eterna riqueza interior,
cuja alegria nunca se esgota.
Já caminhei por longas distâncias perseguindo cegamente o
sucesso.
Hoje descobri que o maior sucesso é ser feliz e sentir-se bem
consigo mesmo.
Houve um tempo em que eu queria transformar o mundo e
molda-lo à minha imagem.
Mas descobri que só posso transformar a mim mesmo e ex-

653
tinguir a autoimagem falsa que criei em minha mente.
Lutei muito contra a corrente visando parecer capaz e pode -
roso.
Hoje amadureci… E procuro apenas aceitar e me harmonizar
com a corrente para chegar ao outro lado da margem e assim
viver em paz.
Quanto mais próximo uma pessoa estiver destas verdade s
Tanto menos vazia ela estará e maior será sua tranquilidade e
sua plenitude.

654
LEI DA ATRAÇÃO

A chamada lei da atração é sem dúvida um dos maiores fe -


nômenos do universo holístico e espiritual dos últimos tem -
pos. Há um s em-número de cursos, workshops, palestras,
treinamentos e orientações sobre como se usar devidamente
a lei da atração e como fazer o universo nos dar aquilo que
desejamos. Não vamos perder tempo explicando o que é a lei
da atração pois é algo que a maioria das pessoas já têm co-
nhecimento. Nessa oportunidade vamos explicar alguns pon -
tos relacionados à lei da atração e demonstrar como essa
técnica tem sido usada de modo materialista e contrário a
nossa evolução.

O primeiro ponto da teoria sobre a lei da atração é, como já


mencionamos, seu caráter materialista e mundano. Aqueles
que observarem atentamente os cursos e treinamentos mi -
nistrados nessa área poderão facilmente perceber toda a
ênfase dada à conquista de coisas materiais do mundo e a
realização pes soal por meio de ganhos mundanos. O objetivo
da lei da atração nesse enfoque não é a paz, a felicidade, a
alegria, a harmonia, o respeito, a reciprocidade, a liberdade, a
equanimidade, etc. Os defensores da teoria da lei da atração
sempre nos dizem que com ela podemos conquistar cada vez
mais e mais coisas no mundo. A meta é conquistar o emprego
dos sonhos, é ganhar dinheiro, é adquirir uma casa, é com -
prar o carro do ano, é conquistar estabilidade financeira,
enfim, a finalidade da lei da atração é a aquis ição de todos os
benefícios que o mundo pode nos proporcionar, nos gerando
prazer, conforto e riquezas materiais. Desse ponto de vista, a
chamada lei da atração não é uma doutrina espiritualista, mas
sim materialista. Ela ensina uma pessoa a aquisição de b ens
mundanos, a aprender a ganhar, a ter, a conquistar, a acu -
mular, a juntar dinheiro, a aproveitar a vida e seus prazeres.
Se formos comparar esses objetivos com os objetivos de
pessoas abertamente materialistas, veremos que não há
muita diferença.

O segundo ponto é que a lei da atração não exige apenas se


criar mentalmente uma coisa, ou se querer, ou desejar, ou
sintonizar com algo, mas é preciso que muito trabalho seja
empreendido antes que a realização nos chegue. Nada nesse
mundo cai do céu. Tudo o que existe vem através do esforço.

655
Se uma pessoa quer uma casa, ela deve trabalhar para con -
seguir a sua casa. Não adianta acreditar que sem nenhum
dinheiro no bolso a casa dos nossos sonhos vai aparecer
milagrosamente. Sim, é verdade que para se receber al go é
importante se criar mentalmente e vibrar naquela mesma
frequência, pois assim atraímos aquilo que guarde correspon -
dência com nossa vibração. Mas o trabalho, o esforço, o suor,
a superação de limites, também fazem parte dessa criação.
Não basta apenas criar no nível mental. É preciso também
criar no nível emocional e material. Dessa forma, uma boa
dose de prática é essencial para a concretização de algo.

Outro ponto é que alguns dos defensores da lei da atração


não possuem tudo o que desejam em sua vi da. Alguns não
têm sequer o básico. Muitos estão desempregados e pas -
sando por dificuldades. Muitos ainda são pessoas deprimidas,
insatisfeitas e que não tem paz. Já vi vários casos como esse.
Conheci recentemente um palestrante da lei da atração que
estava vivendo muitas dificuldades em sua vida, inclusive
materiais e estava com depressão e tomando medicamentos.
Se a lei da atração funcionasse mesmo da forma infalível
como ele prega, não haveria qualquer contratempo em sua
vida; bastaria apenas criar mentalmente seu desejo para que
logo após ele se realizasse. Todos os problemas do mundo
estariam resolvidos, mas obviamente não é assim que funci -
ona.

Muitas pessoas que praticam a lei da atração não obtém


sucesso. Os defensores da lei da atração explicam que nesse
caso a pessoa não está realizando as técnicas corretamente,
mas isso não é verdade em todos os casos. A verdade é que,
na maioria das vezes, nem sempre aquilo que queremos e
desejamos é o melhor para nós. Um bom exemplo é a criança
que deseja um doce. O doce é algo positivo para a criança?
Do ponto de vista da criança que ainda não compreende
sobre as toxinas dos alimentos, o doce é algo maravilhoso e é
a melhor coisa que ela poderia receber naquele momento. No
entanto, a ingestão de açúcar pode criar uma série de pro-
blemas futuros para ela, como diabetes e outras doenças. Por
isso, nem sempre aquilo que desejamos é o melhor para nós.
Na maioria das vezes aquilo que desejamos pode nos preju -
dicar muito futuramente.

656
O ser humano deseja sempre aquilo que lhe gera prazer,
conforto e estabilidade. Ele confunde o bom com o bem. Nem
sempre o que ele julga bom, é o que lhe faz bem verdadeira -
mente. Já dissemos isso em outras oportunidades, mas
nunca é demais repetir. Perder pode ser mais proveitoso para
o seu crescimento pessoal do que ganhar. Sentir dor pode
ensina-o muito mais do que ter prazer. A derrota pode muitas
vezes nos ensinar virtudes de extremo valor, como a humil -
dade, que em ocasiões futuras salvam nossas vidas. Por isso,
o que queremos, o que o ser humano deseja não é necessa-
riamente aquilo que ele precisa. Quando oramos a Deus é
preciso pedir o que precisamos e não o que desejamos. Da
mesma forma que os pais prejudicam uma criança quando a
mimam e fazem todas as suas vontades, transformando -a
num adulto imaturo e dependente, Deus estaria nos prejudi -
cando caso sempre nos concedesse aquilo que desejamos.
Isso é muito simples de se verificar. Muitos dos melhores
seres humanos foram aqueles que enfrentaram grandes
provações na vida e as venceram. É preciso questionar: é
melhor viver uma vida de luxo exterior ou uma vida de dificul -
dades com o consequente despertar das virtudes interiores?
Para o nosso espírito, as provas difíceis trazem muito mais
frutos para nossa felicidade do que as facilidades e comodi-
dades desse mundo.

É importante mencionar também que nosso espírito possui


um arquivo imenso e profundo de uma história multimilenar.
Ninguém que vive nesse planeta atualmente começou agora
a sua evolução. Todos os espíritos encarnados possuem
dezenas de milhares de anos de história em sua alma. Ao
longo dos milênios acumulamos uma intensa carga de emo -
ções e atitudes. Quando uma pessoa criar em sua mente um
desejo, ela faz isso num espaço extremamente curto de
tempo. O que conta para a realização do seu desejo é uma
criação mental de alguns dias, ou a imensa trajetória de sua
alma ao longo dos milênios? Obviamente nosso karma mile -
nar vai influenciar muito mais os acontecimentos atuais do
que tão somente nosso pensamento focado e nossa sintonia
por alguns dias. Imagine que uma pessoa ficou vibrando
numa faixa y durante centenas de anos. Num dado momento,
ela passa a vibrar na faixa z. O que terá mais influência em
seu futuro? A faixa y ou a faixa z? Nada se modifica de um
dia pro outro. Não existe mágica em nossa trajetória. É pre-

657
ciso caminhar passo a passo para chegar ao nosso objetivo.
Se a pessoa está andando devagar há 5 horas e percebe que
está atrasada, o fato de andar o dobro da velocidade só com -
pensará às 5 horas perdidas após 2 horas e m eia de cami-
nhada. Não adianta querer que tudo seja diferente de uma
hora para outra em nossa vida se estamos há anos, séculos
ou milênios pensando, sentindo e fazendo coisas iguais. A
semente não se torna árvore em 1 dia, assim como a criança
não se torna adulta em 1 ano. Da mesma forma, tudo precisa
de tempo, esforço e uma longa caminhada para frutificar. E
quando digo isso não estou me referindo apenas a ganhos no
mundo, mas sim ao nosso crescimento interior.

Os defensores da lei da atração sempre enfatizam que nós


podemos criar com nosso pensamento todas as nossas reali -
zações. No entanto, é preciso esclarecer que aquele que cria
não é o ser humano preso e limitado a este mundo. Aquele
que cria não é outro senão o espírito. Esse ponto é impor -
tante. Primeiro, o espírito cria a vida humana e todos os seus
acontecimentos antes de vir ao mundo. Ele programa sua
existência de acordo com seu karma individual. O espírito
escolhe as provas que são necessárias para seu adianta -
mento e sua elevação. O ser humano nesse mundo nada
mais é do que um epifenômeno do espírito. Ele é apenas uma
sombra, um conjunto de supostas verdades e memórias, um
efeito de experiências passageiras. Sua personalidade é
limitada. Por isso, essa persona cheia de limites não poderia
escolher seu próprio destino. Tanto é assim que a maioria das
coisas que ocorrem em nossas vidas não está sob o nosso
controle. Controlamos muito pouco o que nos vai acontecer.
Aqueles que desejarem mais informações sobre isso podem
se reportar ao texto “O que controlamos nessa vida” no blog
de Hugo Lapa.

É importante compreender que o ser humano é um efeito e


não a causa de tudo. O ser humano é como o quadro pintado
pelo pintor. O pintor é o espírito, o quadro é o ser humano.
Pode o quadro pintar a si mesmo? Não, apenas o pintor pode
criar uma bela obra. Assim, por debaixo da camada mais
superficial de nossa personalidade, há camadas mais profun -
das do nosso ser que, essas sim, estão mais próximas da
causa de tudo o que nos ocorre. Um bom exemplo é o in -
consciente humano. O ser humano na maioria das vezes age

658
sob o impulso dos seus conteúdos inconscientes. O inconsci -
ente, seus desejos reprimidos, suas culpas, suas mágoas,
seus traumas, e todo o material inconsciente acumulado
define suas ações e reações muito m ais do que ele imagina.
Terá mesmo a personalidade todo esse protagonismo que lhe
é atribuído pelos defensores da lei da atração? Há profundi -
dades em nosso ser que nossa mente desconhece e que
sequer pode ter o mínimo fragmento de consciência. É essa
instância mais profunda do ser que cria o cenário de nossa
existência, muito mais do que nossa personalidade fútil e
superficial. A personalidade morre ao final de cada existência,
mas o espírito sobrevive. Quem cria então, a personalidade
ou o espírito? Todos devem compreender que quem cria é o
espírito… e se alguém conseguiu criar e realizar algo, isso
não tem como objetivo satisfazer nossos vãos desejos, mas
realização tem como finalidade ajudar de alguma forma em
nosso adiantamento espiritual. Por isso que se diz que quem
cria de verdade é nosso ser mais profundo, e não nossa per-
sonalidade passageira, pois a persona nada mais é do que
uma máscara, um reflexo, uma imagem, que nada mais é do
que uma criação desse ser essencial chamado de espírito.

A maior parte das doutrinas espirituais se baseia nos ensina -


mentos originais dos mestres, como Jesus, Buda, Krishna,
Lao Tsé e outros. É certo que nenhum desses mestres ensi -
nou a humanidade a possuir, mas sim, pelo contrário, ensinou
a despossuir, a soltar nossos apegos às coisas e às pessoas
e a viver num estado de consciência de liberdade, paz e
felicidade. Jesus, por exemplo, disse: “Não ajunteis tesouros
na terra”. Disse também que não podemos servir a Deus e ao
dinheiro, mas que devemos escolher um dos dois, pois ou se
serve um ou o outro. Deixou claro ao jovem rico que ele pre -
cisava vender tudo o que tinha e dar todo o dinheiro aos po -
bres, pois somente assim ele poderia encontrar o reino dos
céus. Jesus também afirmou que “qualquer de vós, que não
renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”. Em
várias passagens Jesus ensinou claramente sob re o despos-
suir, sob re o valor do desapego para se chegar ao Reino de
Deus. Nas clássicas tentações de Jesus, o diab o o ofereceu
todos os reinos do mundo caso Jesus passasse a adorar o
Senhor das Trevas. Jesus recusou e viveu sua vida sem nada
possuir. Ou será que Jesus tinha um casa? Tinha um palácio?
Tinha ouro, pedras preciosas? Tinha carruagens, cavalos e

659
muitas terras? Não… ele nada possuía. Muitos não sab e m,
mas Buda era um príncipe que ab andonou todas as riquezas
de seu palácio para viver uma vida de renúncia, e assim pôde
atingir a iluminação espiritual. Krishna tamb ém ensinou em
vários momentos a sab edoria do desapego e da renúncia. O
que ocorre hoje em muitos movimentos religiosos, esotéricos
e espiritualistas é uma inversão desses princípios ensinados
pelos mestres. Isso se torna mais claro e patente ainda na lei
da atração, na teologia da prosperidade das igrejas evangéli -
cas, na riqueza e opulência que vive o Vaticano, e em outras
manifestações religiosas e espirituais que pregam o valor das
posses para se atingir a felicidade. Jesus não disse “Vamos
acumular b ens terrenos”. Ele disse: “Não acumuleis b ens
terrenos”. Para mais informações sob re esse ponto, todos
podem b uscar o texto “Mestres espirituais e b ens materiais”
no b log de Hugo Lapa.

O que o espiritualismo ensina não é a felicidade que vem com


o possuir, com o ter, com o conquistar, mas sim a felicidade
mesmo sem nada possuir. É importante ser feliz mesmo
tendo pouco ou nada. Aquele que consegue viver em paz
mesmo sem ter coisa alguma é alguém que encontrou a ver-
dadeira paz. Para entender melhor esse ponto, todos podem
se reportar ao texto “Felicidade e paz” no blog de Hugo Lapa.

660
POR QUE OS MAUS SE DÃO BEM NA VIDA?

De vez em quando vemos as pessoas fazerem a seguinte


indagação:

Por que muitas pessoas boas, que ajudam os outros, estão


mal, sofrendo, e ficam com suas vidas bloqueadas? E por que
outras pessoas egoístas, orgulhosas, que prejudicam os
outros, estão bem, ganham dinheiro, tudo em suas vidas dá
certo e elas conseguem o que desejam?

Em primeiro lugar devemos dizer que não há como saber se


essas pessoas estão mesmo bem e felizes. Alguns desses
indivíduos egoístas, arrogantes, rancorosos, intolerantes etc,
podem ter boas condições financeiras, família, uma vida con -
fortável e ter poucos problemas, mas nada disso garante
alegria e paz. A felicidade não se encontra em nenhuma
destas coisas, mas num desprendimento interior, numa liber-
dade de ser e numa consciência que independem de qualquer
aspecto da vida humana. Por isso, nada nos faz acreditar que
essas pessoas são felizes. Talvez essa felicidade seja apenas
uma aparência. Aliás quase tudo na vida humana é feito de
imagens, de miragens e de ilusões. A imagem de felicidade e
bem estar que muitas pessoas projetam a outras não é exce -
ção.

Em segundo lugar, é preciso verificar se as pessoas que


julgamos “boas” são tal como nós pensamos. O ser humano
cria em sua mente um modelo de bondade, de santidade, de
solidariedade que está baseado em suas crenças pessoais.
Pessoas boas podem ser boas apenas na aparência, mas por
dentro guardarem uma escuridão interior. Elas fingem ser
bondosas a fim de ganhar alguma coisa com isso, nem que
seja reconhecimento que vem alimentar seu ego. Por outro
lado, muitas pessoas que são supostamente boas, caso ti -
vessem poder, usariam mal esse poder adquirido. Vemos
todos os dias situações parecidas com essa. Pessoas que
pareciam ser boas apenas por não lhes ter sido dada a opor-
tunidade de se mostrarem tal como são. Como diz a máxima:
“Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela.” É certo que
muitos oprimidos anseiam em se tornar opressores. Ao invés
de lutarem contra as injustiças, sonham em um dia terem as
mesmas condições de seus algozes e ser como eles. Por-

661
tanto, é preciso tomar cuidado com rótulos de bondade. Da
mesma forma que não devemos fazer um julgamento de uma
pessoa como sendo alguém mau e perverso, não devemos
também julgar uma pessoa como sendo boa antes de co-
nhece-la mais a fundo.

O terceiro ponto dessa resposta, e o mais importante, é en -


tender que as pessoas realmente boas e puras estão mais
adiantadas no caminho espiritual, e por esse motivo, estão
aptas a enfrentar provas mais duras. Para entender esse
ponto, vamos recorrer a um exemplo. Vamos imaginar um
aluno da primeira série fazendo uma prova. Vamos imaginar
também um aluno da sétima série fazendo uma prova. Cada
um desses alunos realiza um exame que foi preparado de
acordo com os conhecimentos do aluno dentro da série onde
ele está. Alguém imagina o aluno da primeira série sendo
obrigado a resolver as questões de uma prova da sétima
série? Claro que não. O aluno da primeira série deverá fazer
uma prova adaptada aos padrões da ensino da série em que
se encontra.

O mesmo ocorre com as almas que vem a esse mundo. Cada


alma possui um certo nível de amadurecimento espiritual. Os
espíritos se encontram em certa fase de seu desenvolvi -
mento. Uns são mais adiantados e outros são mais atra sados.
As almas mais adiantadas devem obviamente realizar provas
mais difíceis porque já estão aptas a serem bem sucedidas.
As almas mais atrasadas, por outro lado, não estão prepara -
das para provações mais complexas, mais duras, mais pesa -
das, que exijam muito delas, pois se isso ocorrer, elas facil-
mente vão sucumbir a essas adversidades. Não se pode
exigir algo de quem não tem. É necessário dar as provações
mais difíceis aos espíritos mais avançados e provas mais
simples aos espíritos igualmente mais sim ples. No futuro, as
almas menos adiantadas vão avançar em evolução, e nesse
momento, estarão preparadas para as provas mais árduas,
mais penosas, que exijam mais de si mesmos. Como diz a
máxima: “Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melho -
res soldados”.

Por isso, ninguém deve se surpreender quando pessoas sem


caráter, primitivas e grosseiras se dão bem na vida. Na reali -
dade, esses espíritos ainda não podem ser submetidos aos

662
testes mais rigorosos, caso contrário, ficarão revoltados, per-
didos e podem desistir. É preciso que as almas primitivas vão
recebendo as lições espirituais mais lentamente, aos poucos,
dentro do nível que eles são capazes de assimilar. Assim,
eles vão sendo preparados de forma branda para depois
serem introduzidos nas provações de nível mais alto. Por
outro lado, aqueles que sofrem provações mais severas de -
vem agradecer essa oportunidade, pois Deus já sabe que
essas almas são mais adiantadas e estão preparadas para
desafios maiores.

Respondendo então a pergunta inicial, os espíritos atrasados


não se dão bem na vida. Eles apenas se encontram incapa -
citados de superar provas mais duras. Por isso, essas provas
são adiadas até que eles estejam preparados.

663
A VIDA SEMPITERNA

Um homem resolveu procurar um s ábio, pois estava se sen-


tindo mal, vazio e desanimado de tudo após a morte de seus
pais.

Conversou com o sábio e contou seu caso. Disse que não


aguentava mais sofrer pela perda dos seus pais. O sábio
disse:

– Perda? Mas que perda? Todos nós somos espírito, não


somos esse corpo composto de matéria. A matéria perece, se
degrada e se destrói. Mas o espírito é sempiterno… ele não
se degrada, não perece e não pode jamais morrer. Seus pais
não morreram. Eles apenas perderam o corpo físico. Nada
pode matar o espírito. Ninguém perde ninguém, o espírito não
pode ser perdido. O espírito é indestrutível. Ele é o que é para
sempre…

O homem disse:

– Eu tenho conhecimento disso mestre. Mas ainda sofro com


a morte dos meus pais.

– Tem certeza que você sofre? – Disse o sábio. – Você é


espírito e o espírito não pode jamais sofrer. Quem sofre é o
ser humano, é a mente, é o corpo. Mas o espírito não pode
jamais passar por qualquer sofrimento. Nada pode afetar o
espírito. Ele não se abala com coisa alguma. O espírito é
intocável pelo sofrimento, pela dor, pela perda, pelas tormen -
tas do mundo. Podem destruir seu corpo, mas o espírito não
será tocado. Podem tirar tudo de ti, mas o espírito não será
influenciado. Podem te impingir as mais duras torturas, mas o
espírito jamais será minimamente afetado por isso. Nosso ser
real não conhece o sofrimento, o erro e tampouco a morte.

O homem pensou por um momento e disse:

– Eu entendo mestre, mas eu me sinto esgotado com tudo


isso. Sinto-me mal e desanimado.

– Tem certeza que iss o acontece com você? – respondeu o


mestre – medite comigo. Se você é espírito, da mesma forma

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que eu e todas as pessoas, você não pode estar esgotado. O
espírito é a fonte infinita de tudo. Ele tudo contem e dele tudo
provém. Nada falta em nosso espírito. Ele é uma energia
primordial que nunca se esgota. O espírito não possui ne -
nhuma carência, nenhuma falta, e por isso, jamais pode se
sentir esgotado, carente ou exaurido. Ele é a fonte de tudo o
que existe. O espírito também não pode ficar mal. Ele é pura
claridade, puro amor, pura sabedoria, pura plenitude, pura
perfeição. Sua natureza é a harmonia e a paz. Jamais o espí-
rito pode ficar mal. Quem fica mal é a sua mente limitada e
suas emoções. O espírito jamais pode ser infimamente tocado
por isso. Assim que você se libertar do seu lado humano e
mundano, do seu ego e suas emoções, nunca mais poderá
ficar mal. O espírito está além da dualidade do que chama -
mos de bem e mal. Para o espírito, não há bem e não há mal,
tudo é perfeição.

Algo dentro do homem estava conseguindo assimilar aquele


ensinamento. Mesmo assim, ele disse:

– Estou começando a compreender mestre. Mas ainda assim


não sei se é certo termos que passar por tudo isso se, em
realidade, nós somos espírito.

– Você está passando por tudo isso mes mo? – questionou o


mestre – você tem certeza disso? A única realidade é o espí-
rito. Todo o resto é ilusão. É como um filme que você está
vendo. Você se identifica com o personagem e sofre como ele
sofre. Vê uma cena triste e pode sentir a tristeza. No fil me é
como se você estivesse passando pelo que o personagem
passa. Mas quando o filme termina, você volta a si mesmo e o
personagem já não faz diferença. O mesmo ocorre conosco.
Assim como um filme, nada do que ocorre em sua vida está
de fato ocorrendo. Toda essa realidade do mundo é apenas
um enredo passageiro do longa metragem da vida, que vai
terminar após a última cena do filme, que é a morte. Depois, o
espírito reassume a si mesmo e o filme da vida humana
acaba. Você não está experimentando nada disso, assim
como o personagem do filme que faz você chorar e se emoci -
onar não é você. Você se identifica com o mundo, mas não é
o mundo. Você se identifica com seu lado humano, mas não é
humano. Você é espírito… eterno, imortal e inabalável.

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– Está certo mestre. Vejo então quanto tempo perdi em minha
vida sem entender que sou espírito.

– Não… respondeu o mestre. – Você não perdeu tempo ne-


nhum, pelo simples motivo de que o espírito não tem tempo.
Como você, sendo espírito, poderia então perder tempo? O
espírito não se encontra no tempo, está além do tempo… Ele
vive na eternidade. Também está além do espaço, pois ele
vive no infinito. Não há qualquer tempo perdido, pois o espí-
rito não vive na temporalidade, ele vive na eternidade, na
perenidade do ser. Como se pode perder algo que não existe,
como o tempo? Se o tempo não existe para o espírito, ele não
pode ser perdido… A eternidade é a morada definitiva do
espírito, e é onde ele viveu, vive e viverá para sempre. O
presente sem limites, a duração sem fronteiras… O espírito é
a essência de uma vida sempiterna…

O homem agradeceu ao mestre por ter recebido aquelas


verdades. O mestre concluiu:

– Você não recebeu nada. Você já possui todas essas verda -


des dentro de você. O espírito é pura verdade, é onisciente,
ele já sabe tudo. Nada pode ficar oculto dele. Você apenas
esqueceu que é espírito.

O mestre concluiu dizendo:

– Eu estou apenas ajudando você a se lembrar àquilo que


você já sabe e sempre soube…

Agora é só você passar a viver o espírito que você é…

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NOSSO RITMO DE EVOLUÇÃO

De vez em quando vejo algumas pessoas questionando:

Por que as pessoas que prejudicam as outras não colhem os


frutos de suas ações? Por que elas não colhem mais rapida -
mente os resultados dos próprios atos? Não deveria a lei de
causa e efeito agir mais rapidamente?

Diante dessa indagação podemos responder que tudo na


natureza e no cosmos possui um tempo certo para acontecer.
Tudo é um processo, tudo ocorre na hora certa e não se pode
acelerar alguma coisa, é preciso deixa-la ocorrer natural-
mente. Como diz a máxima: “Não apresse o rio, ele corre
sozinho”. Vamos dar um exemplo para que todos possam
melhor compreender essa máxima dentro da vida do espírito.

Imagine se todas as vezes que uma pessoa considerada “má”


prejudicasse alguém ela recebesse prontamente o retorno de
suas ações. Vamos supor que um bandido assaltasse uma
pessoa. Logo depois desse assalto, ele fosse rapidamente
assaltado por outro bandido e perdesse seu roubo. Ele não
teria sequer tempo de experimentar o que é ser um bandido,
pois rapidamente a lei de causa e efeito se abateria sobre ele.
Nesse caso ele não teria a liberdade de ser o que deseja ser,
pois a cada ato de maldade praticado haveria uma resposta
coercitiva de uma reação a suas ações. O nome desse pro-
cesso é karma instantâneo.

O karma instantâneo é a lei de causa e efeito sendo aplicada


de forma acelerada, num espaço bastante curto de tempo.
Uma pessoa agride e a outra a agride de volta; uma pessoa
nos ofende e também a ofendemos; uma pessoa pratica
algum mal contra alguém e logo recebe o retorno de sua
ação. Esses são alguns exemplos do chamado “karma ins -
tantâneo”. Em algumas situações, o karma instantâneo é
aplicado, mas não em todas. Caso o karma instantâneo fosse
uma regra universal, ele inviabilizaria nossa livre escolha de
fazer aquilo que acreditamos ser o correto dentro do nosso
grau de consciência e evolução espiritual.

Vamos dar outro exemplo para que esse ponto fique mais
claro a todos. Vamos imaginar que um assassino mate uma

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pessoa e logo depois do crime ele inevitavelmente já fosse
morto por alguém. A lei de causa e efeito nesse caso agiria de
forma rápida e certeira. Mais uma vez isso não permitiria que
existissem assassinos no mundo e tampouco permitiria que
um assassino experimentass e como é ser um assassino.
Mais uma vez sua livre escolha de exercer aquilo que ele
sente ser correto, dentro do seu nível de evolução, seria ve-
dada por Deus. Nesse caso, constatamos que o livre arbítrio
simplesmente não poderia existir. A cada tentativa de uma
alma expressar aquilo que ela é, a lei de causa e efeito pron -
tamente interromperia sua liberdade de ação, a liberdade dela
manifestar o próprio nível de evolução em que se encontra.

Podemos ir mais longe e afirmar que, caso o karma instantâ -


neo fosse uma lei universal, isso inviabilizaria a própria vida
humana deste mundo. Imagine se em nosso mundo o karma
instantâneo começasse a ser implementado. As pessoas não
poderiam mais mentir, não poderiam mais trair, não poderiam
mais cometer erros de nenhuma forma, posto que a cada
erro, o karma já recairia velozmente sobre todos. Uma pessoa
apegada à matéria rapidamente perderia seus bens e di-
nheiro; uma pessoa mentirosa rapidamente seria desmentida
e exposta; um homem opressor rapidamente se tornaria o
oprimido, e assim sequer daria tempo para os espíritos vive -
rem as experiências necessárias ao seu aperfeiçoamento.

Tudo no cosmos infinito funciona dentro de um ritmo definido.


Não se pode apressar a planta a crescer; não se pode apres -
sar o rio a fluir; não se apressa o sol a nascer, pois cada coisa
tem o seu tempo certo de acontecer. Quem quiser mais in -
formações sobre esse princípio pode se reportar a mensagem
“O Tempo de Deus” no blog de Hugo Lapa. Assim também
são os espíritos nesse mundo. Não se pode apressar um
espírito inferior a se tornar um espírito superior: ele tem seu
próprio ritmo, seu próprio momento de crescer e desabrochar.
Um assassino não vai deixar de ser assassino de uma hora
para outra; um homem mentiroso não deixará de sê -lo em
pouco tempo; um aluno mediano não se tornará um expert em
alguns dias; tudo ocorre aos poucos, no ritmo de cada um.
Tentar apressar o crescimento de alguém pode provocar sua
queda, sua destruição.

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Dessa forma, a velocidade na aplicação da lei de causa e
efeito não daria a oportunidade das pessoas serem o que
querem ser, dentro do nível espiritual em que estão nos de -
graus espirituais da eternidade. Por isso, Deus sempre nos
permite ser aquilo que desejamos ser, com base na lei do
livre arbítrio. E para ser o que desejamos ser se faz necessá-
rio um tempo certo para se viver aquelas experiências, e esse
tempo varia de pessoa para pessoa, de alma para alma. Por
esse motivo, é necessário que o mal possa ser mal e aos
poucos, dentro do seu próprio ritmo, ele pode ir aprendendo
que esse caminho não é o melhor, e assim, pelo seu próprio
aprimoramento interior, ele vá abandonando a maldade por si
mesmo, dentro do seu ritmo, e não por uma opressão cós -
mica de causas e efeitos imediatos.

Não se pode punir um gato que pula sobre a mesa de jantar


para pegar um peixe delicioso que alguém esqueceu ali. Essa
é a sua natureza, seu instinto e é assim que ele vai agir. De
igual maneira, não se pode tentar apressar a transformação
de uma alma muito imperfeita, ela tem seu próprio ritmo de
evolução e ninguém, nem mesmo Deus, pode obriga -la a
pular etapas.

Algumas pessoas podem argumentar que o mal praticado


deve sim ser severamente reprimido e que as pessoas preci -
sam receber rapidamente o retorno de suas ações. Diante
dessa afirmação, eu faço uma pergunta: Você gostaria de
receber prontamente todo o retorno do seu karma acumu -
lado? Gostaria de sofrer todas as dores que você já provocou
em outros? Gostaria de receber, a cada erro cometido, todas
as consequências desse erro? Todos nós não erramos, não
somos imperfeitos, já não magoamos e prejudicamos outras
pessoas? “Que atire a primeira pedra…” como disse Jesus.

Da mesma forma que você quer ter um tempo para aprender


e deseja seguir sua evolução no seu ritmo, os espíritos bas -
tante inferiorizados também possuem esse direito. Estamos
ainda no Jardim de Infância de nossa evolução espiritual, e
nesse estágio, o aprendizado deve ser bem simples e bem
lento, para que haja tempo de ser assimilado por almas ainda
tão infantilizadas e imaturas espiritualmente.

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