Você está na página 1de 19

CAPÍTULO 13

Biomateriais em Artroplastia de Quadril:


Propriedades, Estrutura e Composição
Luiz Sérgio Marcelino Gomes
- Mestre e Doutor em Ortopedia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da U.S.P.
- Chefe do Serviço de Cirurgia e Reabilitação Ortopédico-Traumatológica de Batatais (SECROT-SP)
- Chefe do Grupo de Quadril do Hospital e Maternidade Celso Pierro – PUC-Campinas (SP)

I. INTRODUÇÃO
II. BIOMATERIAIS UTILIZADOS EM SUBSTITUIÇÕES ARTICULARES PROTÉTICAS
A. Propriedades Mecânicas
1. Conceitos Gerais 2. Propriedades Mecânicas e Modelo Protético
3. Avaliação Experimental dos Esforços Periprotéticos.
B. Estrutura e Composição
1. Materiais Metálicos : a) Aço Inoxidável b) Ligas de Cromo-Cobalto c) Ligas de Titânio
d) Tântalo e outros materiais Metálicos
2. Materiais Poliméricos: a) Polietileno de Peso Molecular Ultra-alto b) Polimetacrilato de
Metila (PMMA)
3. Materiais Cerâmicos
4. Compósitos
C. Propriedades Tribológicas dos Implantes Protéticos
II. RESPOSTA ORGÂNICA AOS BIOMATERIAIS

I. INTRODUÇÃO
tar os esforços oriundos da contração muscular, de
Considera-se como Biomaterial toda substância forças inerciais, do suporte de carga estática e cíclica e
(à exceção de drogas) ou combinação de substâncias, ainda resistir ao desgaste das diversas interfaces,
de origem sintética ou natural, que durante um período assim como não devem provocar reações adversas ao
3-5
de tempo indeterminado é empregada como um todo, organismo . Porém não há até o momento um
ou parte integrante de um sistema para tratamento, material que atenda, simultaneamente, a todas as
ampliação ou substituição de quaisquer tecidos, órgãos exigências mecânicas, metalúrgicas, funcionais e
1
ou funções corporais . De uma forma mais ampla, biológicas necessárias para um implante protético
2
como a sugerida por Park , os biomateriais podem ser perfeito.
entendidos como tudo aquilo que de modo contínuo ou Cada biomaterial apresenta uma combinação
intermitente, entra em contato com fluidos corpóreos, de propriedades particulares, determinadas por sua
mesmo que esteja localizado fora do organismo. estrutura, composição e processamento, benéficas em
Quanto à sua interação com os tecidos adja- algumas situações, porém com possíveis limitações em
centes, podemos distinguir os materiais biotoleráveis outras condições específicas. Estas limitações torna-
como os que provocam uma reação orgânica de ram-se patentes com a realização da artroplastia em
encapsulamento fibroso, onde pode se notar a pacientes mais jovens, nos quais as situações de maior
presença de numerosos macrófagos e células solicitação funcional e maior tempo em serviço dos
fagocitárias, que dominam o quadro histológico; os implantes são requeridas.
bioinertes que têm uma interação biológica mínima A evolução tecnológica, desde a década de 60,
com os tecidos adjacentes e assim a presença do permitiu a introdução de novos materiais e modelos
encapsulamento fibroso é, muitas vezes, bastante protéticos, que aliados aos refinamentos da técnica
reduzida; os materiais bioativos que interagem cirúrgica buscavam maior longevidade da reconstrução
ativamente com o organismo incorporando-se aos articular protética. Embora grandes progressos tenham
tecidos adjacentes sem a formação de membrana de sido observados, como os conceitos de fixação bioló-
interface, através de verdadeiras ligações químicas; e gica e de superfícies articulares alternativas, muitas
os materiais bioabsorvíveis ou reabsorvíveis que, após inovações, longe de representar avanços, resultaram
um tempo variável em serviço, são degradados, em falhas precoces e resultados desalentadores. Tais
solubilizados ou fagocitados pelo organismo. insucessos foram ocasionados, em grande parte, pela
Especificamente na área ortopédica, os não compreensão da cinemática e da biomecânica
biomateriais foram responsáveis pelo grande avanço na articular, assim como pelo restrito conhecimento dos
cirurgia reconstrutora das articulações. Se considerar- mecanismos de falhas in vivo dos implantes e de suas
mos a substituição articular protética do quadril, os implicações na concepção e utilização racional de
implantes utilizados neste procedimento devem supor- novos modelos protéticos e biomateriais.
II. BIOMATERIAIS UTILIZADOS EM
SUBSTITUIÇÕES ARTICULARES PROTÉTICAS

A utilização de novos biomateriais permitiu a


introdução de novos conceitos e designs em subs-
tituições articulares protéticas, procurando adequar as
propriedades dos materiais às solicitações in vivo. Os
biomateriais mais frequentemente utilizados em recons-
truções osteoarticulares podem ser agrupados em:
metálicos, poliméricos, cerâmicos e compósitos.
A opção por um determinado tipo de material é
Fig.13.1- Alterações na estrutura de um corpo (A) quando
feita de acordo com sua resistência à corrosão e bio- submetido à força de compressão (B), de tração (C) e cisalhamento
compatibilidade, propriedades mecânicas e metalúr- (D). As forças normais (tração e compressão) são máximas em
gicas assim como pelo comportamento do material planos ortogonais (esforços principais), enquanto a força cortante é
durante o processamento e uso, custo e disponibili- nula nestes planos, e máxima em um plano situado a 45º dos
esforços principais (E). T:tração, C:compressão e Ci: Cisalhamento
dade. De grande importância são as propriedades me-
cânicas, representadas principalmente pela resistência
Para um corpo submetido a uma força normal,
(Tensão de Escoamento, Tensão Máxima, Tensão de
o quociente entre a deformação em direção per-
Ruptura), ductilidade, rigidez, tenacidade, dureza,
6 pendicular à deformação longitudinal é chamado
fluência e fadiga . Embora estes termos da ciência dos
Coeficiente de Poisson que pode, para diferentes
materiais sejam de uso diário dos engenheiros, sua
materiais, apresentar valores entre 0 (material
aplicação cada vez mais freqüente no design e na
totalmente compressível) e 0.5 (material não com-
avaliação de falhas dos implantes, resultou na neces-
pressível, que apresenta volume constante durante a
sidade de compreensão de alguns conceitos mecâ-
deformação). Valores maiores que 0.5 implicam na
nicos básicos por parte dos médicos e outros profis- 8
expansão de volume durante a deformação .
sionais que se dedicam a esta área do conhecimento.
Para se comparar corpos de diferentes áreas
de secção, introduz-se a grandeza Tensão (δ) como
A. PROPRIEDADES MECÂNICAS
sendo a força aplicada (F) por unidade de área (A), ou
A1. Conceitos Gerais seja, δ= F/A. A tensão (δ) é dada em Pascal (Pa=
2 3
1N/m ), ou seus múltiplos, kPa (kilo Pascal: 10 Pa),
As forças externas, que agem sobre os 6
MPa (Mega Pascal:10 Pa) ou GPa (Giga Pascal:
implantes e tecidos adjacentes, podem ser aplicadas 9
10 Pa).
perpendicularmente à estrutura (forças normais) Um erro comum é a tradução de tension da
ocasionando seu alongamento (força de tração) ou sua língua inglesa por tensão, quando o correto seria
compactação (força de compressão). Essas duas tração. O termo tensão (equivalente a Stress na língua
forças tendem a alterar o volume do corpo, enquanto a Inglesa e representado por δ) se refere à força aplicada
força que age tangencialmente à superfície (força de em uma determinada área.
cisalhamento ou força cortante) tende a alterar sua As propriedades mecânicas dos materiais
forma. Observe-se que quando um determinado esforço podem ser entendidas a partir do diagrama tensão-
é aplicado a um corpo, os três componentes estão deformação como o observado na figura 13.2, que
presentes simultaneamente e, em qualquer ponto deste apresenta em abscissa a deformação relativa ε sofrida
corpo, a tração e compressão são máximas em planos por um material (hipotético) quando submetido a uma
perpendiculares ou ortogonais (esforços principais). determinada tensão δ. Do ponto de origem do gráfico
No mesmo ponto, a força cortante ou de cisalhamento é (0) até o ponto A existe proporcionalidade entre a
nula na direção dos esforços principais e máxima em tensão e a deformação relativa, de modo que ao
º
um plano situado a 45 destes planos ortogonais retirarmos a força aplicada o corpo retorna ao seu
(Fig.13.1A-E). estado inicial indicando uma deformação reversível, na
À alteração de volume gerada pelo movimento qual os átomos constituintes do material mantêm sua
molecular em resposta às forças normais (tração e posição relativa (deformação elástica). Nesta região,
compressão) e pelo deslizamento molecular que altera chamada região elástica, a proporcionalidade entre
a forma (cisalhamento), chamamos de deformação. tensão e deformação, permite a aplicação da equação
A deformação (ε ou strain) é o deslocamento relativo de da reta e assim teremos δ = K. ε, ou seja, a tensão é
um ponto no material, por unidade de comprimento, proporcional à deformação. Conhecida como Lei de
e pode ser expressa em partes por milhão (micro- Hooke, K representa uma constante de proporcio-
deformação, microstrain ou µε), ou valores percentuais, nalidade denominada Módulo de Elasticidade (E) ou
em que ε = Δℓ/ℓ .100 , onde ℓ é o comprimento inicial Módulo de Young.Atente que K=E=δ/ε, ou seja, o mó-
do corpo e Δℓ sua variação após a aplicação do dulo de elasticidade é numericamente igual ao
6,7
esforço . quociente entre a tensão aplicada e a deformação
resultante e assim, quanto menos um material se estruturas biológicas tem um comportamento ortotró-
6
deforma quando submetido a uma determinada tensão pico ou isotrópico transversal .
na zona elástica, maior será seu módulo de elasti- Os materiais metálicos geralmente apre-
cidade. O ângulo Ө representa o grau de inclinação sentam módulo de elasticidade constante mediante a
da reta na zona elástica e assim a sua tangente será aplicação de tensões crescentes. Contudo muitos
numericamente igual ao Módulo de Elasticidade, ou materiais podem apresentar uma relação não linear
seja TgӨ = E=δ/ε. com a tensão, como os materiais biológicos (tendões e
ligamentos) que se tornam mais rígidos à medida que
são progressivamente deformados.
Na zona elástica, a área sob a curva corres-
ponde numericamente à energia absorvida pelo mate-
rial durante o carregamento, e é chamada Resiliência.
Desta forma, para materiais submetidos à mesma
deformação, quanto maior seu módulo de elasticidade
(maior inclinação da reta ou o ângulo Ө), maior será a
energia absorvida pelo material. A relação entre
Módulo de Elasticidade e energia absorvida pelo
material é importante, pois influencia a transmissão dos
6
esforços até os tecidos adjacentes ao implante .
Para implantes de mesmo design, aquele
constituído por um material de maior módulo de
elasticidade será mais resiliente e assim irá restringir a
Fig. 13.2. Diagrama Tensão/Deformação. A zona elástica se magnitude das tensões transmitidas ao osso adjacente.
estende da origem (0) ao ponto A. Nesta região a energia absorvida
pelo material, chamada resiliência, é numericamente igual a área Este fenômeno de diminuição dos esforços transmitidos
da região sob esta curva. No ponto B o material se deforma ao tecido ósseo, como a decorrente da presença de um
permanentemente (região de escoamento), onde se inicia a zona implante, denomina-se blindagem (stress shielding na
plástica. O ponto C representa a tensão e deformação máximas língua inglesa), e assim pode resultar na reabsorção
suportadas pelo material, enquanto o ponto D representa o ponto
óssea adaptativa.
de ruptura do material. A tenacidade representa a energia
absorvida pelo material desde a origem até a ruptura e é Ainda na Figura 13.2 observamos que a partir
numericamente igual à área sob toda a extensão da curva.. do ponto A, se a tensão é removida, o material não
retorna ao seu estado original, indicando assim que
É possível fazer um paralelo entre módulo de houve deformação definitiva (ou plástica), resultado de
elasticidade e rigidez do material, observando, porém um deslocamento permanente dos átomos que
7
que este último conceito é definido em relação à constituem o material . O ponto B delimita, portanto, a
deformação absoluta frente a uma força F e, portanto região na qual o material sofre deformação permanente
varia com o design do material. Considerada esta e é chamado de ponto de escoamento. A tensão
observação podemos dizer que, para corpos de mesma associada a este ponto, chamada tensão de escoa-
geometria, quanto mais rígido o material (menor mento,representa a capacidade do material resistir à
deformação), maior será seu módulo de elasticidade. deformação permanente. Observe que nesta região o
Observe que o módulo de elasticidade não interfere na material sofre uma grande deformação sem acréscimo
resistência à ruptura do material, e assim o baixo significativo da tensão. Contudo nos Biomateriais não
módulo de elasticidade de um material pode coexistir ocorre um escoamento típico sendo necessário definir-
com uma elevada tensão de ruptura (ex. titânio) ou o se um limite convencional de escoamento como, por
inverso, como o aço inoxidável. exemplo, a tensão necessária para provocar uma defor-
O valor do módulo de elasticidade pode variar mação permanente de 0.2 por cento. A figura 13.3 nos
dentro de um mesmo material em função de sua apresenta um desenho da curva tensão-deformação
estrutura, como nos materiais Anisotrópicos em que aproximada para os principais biomateriais utilizados
as propriedades são diferentes em todas as direções, em cirurgia ortopédica (materiais cerâmicos, metálicos,
em qualquer ponto. Porém alguns materiais podem compósitos e poliméricos). Observe a diferença de
apresentar simetria em relação a planos ortogonais e, comportamento mecânico entre os diferentes materiais.
de acordo com o número de planos necessários para o De volta à figura 13.2, após o escoamento (B),
estabelecimento desta simetria podem-se reconhecer observa-se um aumento progressivo da resistência do
os materiais ortotrópicos ou ainda transversalmente material (por encruamento), até que a tensão atinja um
isotrópicos. Este artifício é bastante conveniente, pois ponto máximo (ponto C) chamado limite de resis-
permite matematicamente uma diminuição no número tência, após o que a ruptura pode ocorrer sem aumen-
de constantes independentes em simulações mecâ- to expressivo da tensão (limite de ruptura). A tensão
nicas por elementos finitos, uma vez que a maioria das associada a este ponto é chamada de tensão de
ruptura (ponto D).
Fig. 13.4. Diagrama Tensão/Deformação. O material frágil (1)
Fig. 13.3. Diagrama Tensão/Deformação esquemático compa- não apresenta deformação plástica significativa e apresenta
rando o comportamento mecânico aproximado dos diferentes baixa tenacidade ou resistência ao impacto. O material dúctil (2)
biomateriais utilizados em cirurgia ortopédica (materiais cerâ- se deforma plasticamente antes de se romper e, principalmente
micos, metálicos, compósitos e poliméricos). nos metais, apresenta maior tenacidade.

Observe que no material em questão, no ponto B


(escoamento), pequena variação da tensão provoca que se altera com a velocidade de aplicação do
grande deformação do material, característica esta dos esforço.
materiais dúcteis (ex. biomateriais metálicos, polietile- Esta característica se deve ao fato que estes
no). A ductilidade se refere, portanto à deformação materiais não se comportam como uma mola simples,
plástica total até o ponto de ruptura. A energia total mas sim continuam a se deformar mesmo quando
absorvida pelo material até sua ruptura é chamada de submetidos à tensão constante (Fig.13.5 A1 e A2).
tenacidade. Representada pela área sob a curva do Esta deformação plástica e progressiva dos
diagrama tensão-deformação até a tensão de ruptura, materiais em condições de tensão constante é
indica a energia necessária para romper o material. De denominada fluência (creep ou cold-flow na língua
modo mais simples e prático podemos entender a inglesa). O entendimento desta propriedade é
tenacidade como a capacidade do material em resistir importante, por exemplo, para se avaliar o desgaste do
ao impacto. polietileno em substituições articulares protéticas.
Por outro lado, materiais que sofrem ruptura,
sem deformação prévia significativa, são chamados de
materiais frágeis (como os materiais cerâmicos e o
cimento ósseo). Os materiais podem ser, portanto
tenazes (dúcteis quando se refere aos metais) ou
frágeis ou ainda alguma combinação dos dois, depen-
dendo da deformação que podem suportar previamente
à ruptura (Fig.13.4).
Algumas resinas, como o cimento ósseo,
quando aquecidas podem alterar seu comportamento
frágil para um comportamento mais tenaz, passando a
apresentar uma região plástica definida, desde que
Fig. 13.5. Em relação ao material elástico (A-1), o material
ultrapassada uma determinada temperatura crítica
viscoelástico continua a se deformar mesmo sem aumento da
chamada Temperatura de Transição Vítrea (Tgs). tensão (A-2). Para estes materiais, ao se remover a tensão, parte
A dureza é uma propriedade que indica a da energia é perdida (histerese- B).
resistência do material à penetração. Os materiais de
maior dureza são mais difíceis de serem riscados e Quando calculamos o desgaste da superfície
mantém por tempo mais longo o polimento que lhes é articular protética através de medidas radiográficas, na
aplicado, sendo por isto mais frequentemente indica- verdade estamos considerando não só o desgaste real
dos para o uso em superfícies articulares (cromo- do polietileno assim como sua deformação por fluência
cobalto, materiais cerâmicos). (maior no primeiro ano após a artroplastia).
Materiais biológicos (como o tecido ósteo- A fluência é grandemente influenciada pela
ligamentar) e alguns biomateriais (polietileno e cimento temperatura de modo que o cimento acrílico, por
acrílico) têm suas propriedades mecânicas governadas exemplo, pode fluir em meio líquido à temperatura de
pela sua característica viscoelástica, que lhes 37ºC. Os metais, por sua vez somente apresentam
conferem uma curva tensão-deformação particular, e fluência importante a elevadas temperaturas.
A viscoelasticidade origina também a está submetido (ambiente mecânico) como também de
propriedade de Relaxação de Tensão que se refere à suas propriedades geométricas (modelo protético).
diminuição do esforço necessário para manter um Como exemplo, o ambiente mecânico a que está
determinado estado de deformação em um corpo. A sujeita uma haste femoral, promove deformações de
curva tensão-deformação de materiais visco-elásticos translação (linear), como também origina esforços
evidencia que ao se remover a tensão nem toda a angulares e torcionais e, portanto deformações
energia que foi aplicada ao corpo é recuperada. Esta transversais. A força que origina o movimento ao redor
perda de energia quando da remoção da tensão é de um centro de rotação é denominada Momento, e
denominada histerese (Fig.13.5B). atua através do braço de momento que é determinado
O diagrama tensão-deformação avalia o pela distância perpendicular do ponto onde a força é
comportamento mecânico de um material quando aplicada, até o centro de rotação.
submetido ao carregamento estático, condição esta que Desta forma o carregamento da haste gera um
difere do carregamento funcional cíclico em que a momento fletor que ocasiona tensões de tração na
resistência do material é freqüentemente muito menor. superfície convexa e tensões compressivas na
Esta propriedade, de grande interesse para os superfície côncava. A resistência de um corpo ao
implantes protéticos, em que ocorre a diminuição na momento fletor pode ser avaliada numericamente pela
carga máxima possível sob aplicação cíclica é equação Rf = E . I onde E representa o Módulo de
denominada fadiga, e é atribuída ao fato do material Elasticidade e I o Momento de Inércia que,
não ser um sólido idealmente homogêneo. conceitualmente, é uma medida de como o material
A fadiga pode ser entendida a partir do está distribuído na seção transversa de um corpo, em
o
Diagrama S-N (Tensão/N ciclos ou diagrama de relação à força aplicada.
Whöler) que relaciona a tensão com o número de ciclos Seja uma haste femoral como a representada
aplicados, em escala logarítmica (Fig.13.6). Neste na figura 13.7. Observe que sua resistência ao momen-
diagrama a tensão abaixo da qual o material não se to fletor será diferente nas duas circunstâncias de car-
rompe por fadiga é chamada de limite de resistência à regamento apresentadas (Fig.13.7A e B).
fadiga. Implantes submetidos a tensões cíclicas abaixo
deste valor podem suportar um número infinitos de
ciclos.

Fig.13.6. Diagrama S-N típico para ligas de titânio, molibdênio e


metais ferrosos em geral.. Observe que para elevadas tensões (δ)
Fig.13.7. (A) o momento de inércia no plano frontal é maior que
um pequeno número de ciclos (N) é suportado pelo material.
no plano sagital (B), uma vez que tem relação cúbica com a altura
Para tensões menores um maior número de ciclos é possível, até
em áreas de seção retangulares. h= altura, b= base, I= momento
que, para uma tensão crítica (tensão de fadiga- δf) define-se o
de inércia.
limite de fadiga como a tensão abaixo da qual o material suporta
um numero infinito de ciclos. Para uma estrutura de área de seção
transversa retangular o momento de inércia é dado por
3
I = base . altura /12. Note-se que a altura tem uma
A2. Propriedades Mecânicas e Modelo relação cúbica com o momento de inércia e assim na
Protético situação A (flexão no plano frontal) o momento de
inércia é maior e associado à maior resistência à flexão
Se por um lado a composição e estrutura de que na situação B (plano sagital). Portanto a região de
um material determinam suas propriedades mecânicas um implante com menor momento inércia (I) está
e podem habilitá-lo para a utilização como implante sujeita a maiores deformações. Para hastes cilíndricas,
4
protético, é preciso considerar que a rigidez de um e portanto área de seção transversa circular, I = π.r /4,
implante depende não somente dos esforços a que onde r representa o raio do círculo.
O carregamento fisiológico impõe ainda um
momento torsional na haste, que resulta em tensões de
cisalhamento em toda a área de seção transversa do
implante. A resistência de um corpo ao momento de
torção pode ser avaliada pelo Momento Polar de
Inércia (J, Fig.13.8).
Para uma haste cilíndrica o momento polar de
4
Inércia será J = π.r /2 e assim uma haste cujo raio é o
dobro de outra do mesmo material, terá um momento
de Inércia 16 vezes maior. Caso as hastes tenham o
mesmo comprimento, a mais grossa será 16 vezes
mais resistente à torção que a haste mais fina.

Fig.13.9.(A):Haste femoral submetida à análise laboratorial.


Observa-se a fratura na altura na transição dos 2/3 proximais com
1/3 distal. (B): Plano de fratura coincidente com a marcação de
identificação. (C): Aspecto geral da fratura apresentando um intenso
amassamento (seta). (D): Estrias de fadiga observadas em MEV. (E):
Micro trinca cuja origem coincide com a alteração micro-estrutural
devida à marcação a laser. A marcação a laser impôs transformação
da microestrutura austenítica em alta temperatura, ocasionando a
concentração de tensões neste local.

Na prática frequentemente se utiliza o método de von


Mises que descreve o estado de tensões em um ponto
com um único valor (tensão equivalente ou tensão de
von Mises), cuja magnitude pode indicar a possibilidade
de escoamento, quando comparado aos valores de
9
testes simples de tração uniaxial .
Fig. 13.8. (A): momento de inércia, (B):momento polar de inércia.
(C e D): distribuição das tensões de cisalhamento em corpos de A3. Avaliação Experimental dos Esforços
área de seção transversa circular quando submetido ao momento
torsor.
Periprotéticos

A longevidade da reconstrução protética está


O conceito clássico de Tensão se fundamenta na
associada à sobrevivência dos implantes e suas
condição em que o esforço é aplicado em uma ampla
interfaces. Durante a substituição articular protética, o
área da estrutura (e não em um ponto localizado), e que
osso é transformado em um compósito constituído por
a área de seção transversa seja constante em toda a
metal, osso e eventualmente por cimento acrílico,
estrutura, de modo que a distribuição das tensões seja
materiais estes que do ponto de vista mecânico
uniforme. Caso a área de seção transversa seja
apresentam propriedades bastante distintas. A
perturbada pela presença de orifícios, trincas, sulcos,
diferença de rigidez e ductilidade destes materiais faz
riscos, ou ainda o esforço seja aplicado sobre uma área
com que a micromovimentação entre as diferentes
restrita da estrutura, a distribuição da tensão não será
interfaces seja inevitável uma vez que o carregamento
uniforme, concentrando-se no local onde a descon-
irá ocasionar deformações diferentes em cada um
tinuidade esteja presente, ou na região ao redor do
destes elementos. A alteração do padrão de transmis-
ponto de aplicação da força. Esta situação caracteriza o
são de carga promove a remodelação óssea, já reco-
fenômeno de concentração de tensões, e explica o 10
nhecida por Wolff , que descreveu a adaptação
fato de que uma estrutura, ainda que submetida a
funcional do osso às solicitações mecânicas. A intromis-
tensões em níveis abaixo da resistência à fratura, na
são de um elemento com maior rigidez no interior do
condição de área de seção uniforme, possa falhar de
osso pode causar a blindagem (stress shielding), e
modo inesperado. Este efeito tem grande importância
assim ocasionar a remodelação óssea adaptativa.
no tecido ósseo e nos implantes osteoarticulares uma
Desta forma a estabilidade e sobrevivência dos
vez que detalhes do design e do acabamento da
implantes irão depender, em grande parte, da
superfície podem determinar o aparecimento de regiões
resistência destes materiais e como os esforços serão
em que a concentração de tensões seja responsável
transferidos da haste ao manto de cimento e/ou ao
pela falência da estrutura.
tecido ósseo adjacente. A avaliação da mudança do
A avaliação das tensões em uma determinada
padrão de carregamento ósseo, estabilidade e
estrutura (ossos ou implantes) é bastante complexa,
comportamento dos implantes protéticos e suas
pois envolve o conhecimento dos esforços principais e
interfaces pode ser feito por diferentes métodos.
de cisalhamento em um determinado ponto.
Diagrama de Corpo Livre: As forças que atuam em entre si através de nós que estarão sujeitos a
uma determinada articulação podem ser represen- aplicação de forças (Fig 13.10 A e B).
tadas matematicamente pela força resultante (R), cuja
intensidade pode ser calculada indiretamente através
dos diagramas de corpo livre, em que se isola mate-
maticamente uma articulação e a avaliamos como se
estivesse em condições de equilíbrio estático. Nesta
condição a somatória dos momentos que estão atuan-
do deve ser igual a zero e assim podemos calcular a
magnitude das forças envolvidas. No exemplo da
articulação do quadril quando avaliada no plano frontal
em condições de apoio monopodal, as forças atuantes
são a força peso que considera a massa acima do
centro de rotação do quadril, (Fp, de módulo cerca de
5/6 do peso corporal) a qual impõe um momento
adutor ao quadril mediante um braço de momento dp.
Este momento (Mp) deve ser contra-balanceado pelo
momento abdutor (Ma) gerado pela força abdutora
(Fa) atuando através do braço de momento da. Em
condições de equilíbrio os momentos são iguais e,
nestas condições, a força abdutora deve ser aproxi-
11
madamente 2.5 vezes o peso corporal (Fig. 13.9). Fig 13.10. (A,B e C) Modelagem computacional por elementos
finitos do fêmur proximal (comparado à radiografia no plano
frontal). Cortesia DallaCosta D. U.F. Santa Catarina.( D,E,F):
Modelagem de bandeja tibial mostrando a região de concentração
de tensões (seta), que promoviam a ruptura deste dispositivo
metálico em artroplastia total de joelho.

Uma vez definida a rigidez do material na


direção avaliada, o programa soluciona automática-
mente um grande numero de equações que governam
o deslocamento nodal no modelo, a partir do que se
podem calcular as tensões e deformações associadas.
Estas informações podem ser utilizadas, por exemplo,
para a predição do remodelamento ósseo, falha nas
interfaces, trincas no manto de cimento e falha
mecânica do implante (Fig 13.10C-F).
Fig 13.9 Diagrama de corpo livre para o quadril, no plano frontal, em
condições de apoio monopodal. Ver descrição detalhada no texto. Nas Simulações Mecânicas são realizados implantes
experimentais em ossos sintéticos (plásticos) ou
Durante a artroplastia a relação entre os braços de cadavéricos que são submetidos ao carregamento
momento pode ser alterada. Caso ocorra diminuição cíclico em máquinas de ensaios mecânicos. Objetivam
do braço de momento abdutor (offset femoral), o avaliar deformações e calcular tensões nas diferentes
equilíbrio irá requerer maior força da musculatura regiões do osso e implante assim como nas interfaces,
abdutora e assim aumentar a resultante e a força de através de sensores mecânicos de resistência elétrica
contato articular, predispondo, desta forma, ao maior (strain gauges).
desgaste dos componentes articulares protéticos. A migração e micromovimentação também
Embora os valores obtidos pelo diagrama de corpo podem ser avaliadas através de extensômetros já
livre sejam aproximados e desconsiderem algumas acoplados diretamente à maquina de ensaios
variáveis inerciais, seu valor é muito próximo do obtido mecânicos, ou ainda através de sensores mecânicos
por métodos clínicos por telemetria que utiliza tipo LVDTs ( Linear Variable Differential Transformer),
implantes instrumentados com sensores específicos, que não utilizam sensores mecânicos de resistência
e, portanto de utilização restrita .
3 elétrica, mas sim se baseiam no efeito de indução
metálica cuja excitação é feita por corrente alternada.
Elemento Finito: Utiliza-se de uma técnica computa- Embora sejam bastante precisos (décimos de
dorizada de análise de tensões em que, a partir da micrômetros), os LVDTs são bem mais onerosos que
definição geométrica (design do implante), o modelo é os dispositivos que se utilizam de sensores mecânicos
12
dividido em várias seções (elementos), conectadas de resistência elétrica (Fig 13.11 A-F) .
orientação.Contudo, o fato de grãos adjacentes apre-
sentarem orientação cristalina distinta, resulta na
formação de uma zona de transição entre eles,
chamada contorno de grão, onde existe o empaco-
tamento de átomos com energia mais elevada que
em seu interior. O tamanho dos grãos tem grande
influência nas propriedades dos metais e pode ser
alterado por vários processos químicos e
metalúrgicos. Com raras exceções, podemos dizer
que maiores grãos implicam em menor resistência à
tração e à fadiga da liga metálica. Algumas
propriedades mecânicas das principais ligas
metálicas comparadas ao osso cortical e esponjoso
são mostradas na Tabela 13.1.
A composição química e a presença de
inclusões podem alterar não só as propriedades
Fig.13.11. Simulação mecânica em ossos sintéticos (A) de
mecânicas como a resistência à corrosão e assim a
Artroplastia de quadril (B) , avaliada em máquina de testes
materiais (C) quanto as tensões no manto de cimento e na biocompatibilidade das ligas metálicas. A resistência
superfície do modelo através de extensômetros (D) e LVDTs (E). à corrosão depende em grande parte da presença de
Detalhe do sensor mecânico de resistência elétrica (F)12 uma camada natural de óxido estável e bem aderente
ao substrato, chamada camada de passivação, que
Um tipo especial de ensaio é feito através de protege a superfície do implante da ação dos fluidos
simuladores articulares, com o objetivo de se avaliar o biológicos adjacentes. Durante o processo de
desgaste dos componentes protéticos, mediante a fabricação, os implantes são ainda submetidos à
simulação dos movimentos articulares principais deposição adicional de óxidos em sua superfície. A
(Fig.13.12). Estes simuladores substituíram testes camada de passivação pode ser removida por ação
mais simples como o pino em disco em protocolos biológica ou mecânica como a micro-movimentação
in vivo do implante (denominada fretagem, por
para estudos de desgaste.
contaminação do termo na língua inglesa fretting).
A composição da liga pode incluir elementos
que quando do rompimento desta camada, auxiliam
na formação de uma nova camada protetora (auto-
passivação). O teor adequado de Cromo, Níquel e
Molibdênio, aumenta a resistência à corrosão,
enquanto o Manganês e o Nitrogênio dão estabilida-
de à estrutura austenítica do aço Inox, e o Enxofre e
Selênio facilitam o processo de fabricação (usinabili-
dade). A presença de maior teor de carbono pode
aumentar a dureza e resistência do material em
Fig.13.12. Desenho esquemático de um simulador de quadril
desenvolvido no Laboratório de Engenharia Biomecânica da prejuízo da ductilidade e, em caso de precipitação de
Universidade Federal de Santa Catarina. Cortesia Engenheira carbonetos, pode predispor à sensitização (ou
Daniela Águida Bento, M.Sc. corrosão intergranular). Os materiais metálicos mais
utilizados como implantes protéticos são as ligas de
B. ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DOS Aço Inoxidável, ligas a base de Cobalto, Titânio e
BIOMATERIAIS suas ligas, e o Tântalo.

B1. Materiais Metálicos


Os metais e algumas ligas metálicas são
materiais adequados à utilização como implantes
protéticos graças à sua resistência ao carregamento
cíclico e grande ductilidade. As propriedades como
biocompatibilidade, resistência à corrosão, resistência
mecânica e ao desgaste são, contudo bastante de-
pendentes da estrutura, composição e processa-
mento da liga, do design protético e do ambiente
mecânico a que o implante está sujeito. Estrutural-
mente são materiais cristalinos, em que cada cristal
individual, denominado grão, contém no seu interior
átomos arranjados segundo um único modelo e
a) Aço Inoxidável: assim o par tribológico com o polietileno ou com a
As ligas de aço inoxidável (metais ferrosos), própria liga metálica (articulação metal-metal).
introduzidas para uso como implantes ortopédicos Apresentam como desvantagem a grande
(Grupo III ou série austenítica – 316), sofreram dificuldade para serem usinados. Sua elevada rigidez
adequações em sua composição para melhor e portanto maior resiliência pode produzir grande
desempenho em meio biológico. Utiliza-se baixo teor remodelação óssea adaptativa por blindagem, de
de carbono (316L: L referente à Low carbon) uma vez conseqüências mais observadas em implantes não
que os átomos de carbono podem segregar-se dos cimentados.
cristais reagindo com o cromo formando assim preci-
pitados de carboneto de cromo, que se acumulam c) Ligas de Titânio:
nos contornos de grãos. Este fato resulta na dimi- Os grandes atrativos das ligas de titânio como
nuição da concentração de cromo nesta região implante protético, são sua alta resistência e seu baixo
predispondo à corrosão intergranular, que pode módulo de elasticidade (E= 110 GPa) que resultam em
promover a falha dramática do metal quando exposto flexibilidade 2 vezes maior e resistência à fadiga no
ao meio corrosivo. mínimo 30% maior que as ligas de aço Inox. A grande
No sentido de diminuir as inclusões que afinidade do titânio pelo oxigênio permite a auto-
podem predispor à falência mecânica por fadiga, o passivação e assim grande resistência à corrosão.
processamento de fusão à vácuo deu origem ao aço Contudo altos teores de oxigênio, como constituinte da
316LVM (Low carbon, Vacuum Melting). Esta liga liga, comprometem a resistência à fadiga e sua
apresenta maior resistência à fadiga por produzir um ductilidade tornando-a mais frágil.
material com menor teor e menor tamanho de Estas características habilitam as ligas de
inclusões. Alterações em sua constituição objetivando titânio (Ti-6Al-4V, ou Ti-6Al-7Nb) para utilização em
maior resistência à corrosão resultaram em norma- implantes destinados a fixação biológica (não
lizações específicas para sua composição química cimentados). Eventualmente em uma determinada
principalmente no que diz respeito à relação entre os região do implante se aplicam superfícies micro-
teores de Cromo e Molibdênio (ISO 5832-1 ou ASTM porosas constituídas por titânio comercialmente puro
F138-92), no maior conteúdo de Nitrogênio e Nióbio (ASTM F67) com o objetivo de facilitar o processo de
(ISO 5832-9 ou ASTM 1586-95) ou menor conteúdo osteointegração.
de Níquel (F2229). Embora as ligas de aço Inox Sua utilização como hastes cimentadas está
tenham sido bastante utilizadas como implantes associada a um elevado grau de corrosão, pelo baixo
protéticos até uma década atrás nos EUA, e ainda o teor de oxigênio na interface haste/cimento, o que
são na Europa e no Brasil, a ocorrência de diferentes ocasiona uma pilha de aeração diferencial, e
13
processos corrosivos, e a introdução de novas ligas consequentemente a corrosão em frestas .
metálicas não ferrosas, limitaram seu uso como Novas ligas e novos processamentos estão
implante permanente. O baixo custo de produção, as sendo recentemente introduzidos, como o caso das
propriedades mecânicas e a resistência à corrosão Ligas de Titânio β que apresentam módulo de
galvânica, contudo habilitam certas ligas (ASTM elasticidade ainda mais baixo (cerca de 80 GPa) como
F138-92, F1586-95) para utilização como implantes a liga Ti-13Nb-13Zr.
osteoarticulares. O papel de novas ligas de Inox com Uma grande desvantagem das ligas de titânio
diferentes teores de nitrogênio, nióbio e Níquel na é sua baixa resistência ao desgaste, inviabilizando sua
confecção de implantes protéticos, como as descritas utilização como superfície articular. Mesmo a
acima, ainda não está determinado. micromovimentação em caso de instabilidade do
implante é suficiente para ocasionar desgaste por
b) Ligas de Cromo-Cobalto: fretagem (fretting) e assim produzir e depositar óxido
Nas ligas de Cromo-Cobalto (ASTM F75, F90, de titânio que ao impregnar os tecidos adjacentes
F562, F563 e outras) o maior teor de Cromo promove denomina-se metalose. Esta baixa resistência ao
maior resistência à corrosão, e o Molibdênio produz desgaste tem levado alguns cirurgiões a proscreverem
grãos mais finos. Diferentemente das ligas de aço sua utilização como implantes cimentados, nas
Inox, sua microestrutura permite maior concentração situações em que um ambiente pobre em oxigênio
de carbono cujos carbonetos resultantes encontram-se pode ocasionar uma pilha de aeração diferencial
13
dispersos no interior dos grãos e em seus contornos, e (corrosão em frestas ou crevice corrosion) .
assim sua precipitação pode resulta em maior Novos processamentos do titânio como a
resistência e maior dureza da liga. Desta forma estas expansão a vácuo, pode produzir uma estrutura
ligas são caracterizadas por elevada resistência metálica com grande porosidade que se assemelha ao
mecânica e à corrosão, o que as credenciam para o osso esponjoso (Fig.13.13) e por isto denominada
uso em implantes protéticos. Sua elevada dureza metal trabecular (termo descrito inicialmente em
8
permite seu uso como superfície articular constituindo relação ao tântalo – ver seção abaixo) .
Ao contrário do tântalo, de utilização clínica já passivação quando do aquecimento controlado, é feita
estabelecida, o metal trabecular de titânio ainda está pela formação de óxido de zircônio que é altamente
restrito à produção experimental. resistente ao desgaste e à corrosão.

B2. Materiais Poliméricos

a. Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular


(PEUAPM).
Na artroplastia de quadril, este polímero surgiu
como superfície articular protética em substituição ao
politetrafluoretileno ou fluon (Teflon®) o qual, inicial-
mente utilizado por apresentar baixo coeficiente de
atrito, mostrou-se muito pouco resistente ao desgaste.
Esta característica se manifestou por inúmeras e preco-
ces lesões osteolíticas, resultado da reação orgânica ao
14
grande número de partículas produzidas . Por outro
lado o polietileno constituído por longas cadeias carbô-
nicas saturadas de ultra alto peso molecular
Fig. 13.13. Aspecto trabecular do titânio expandido a vácuo.
(PEUAPM), quando comparado ao flúon, apresenta
Cortesia Dr Carlos S. Lambert. Departamento de Física da
Universidade Estadual de Campinas –Unicamp, SP maior resistência ao desgaste (cerca de 1000 vezes). É
preciso diferenciar o PEUAPM utilizado como super-
fície articular (PM maior que 1 milhão) do polietileno de
d) Tântalo e outros Materiais Metálicos. alta densidade (PEAD - PM entre 50 a 100 mil daltons),
O tântalo processado de maneira a constituir
por vezes erroneamente usados como sinônimos, uma
uma estrutura trabecular (por isto denominado metal
vez que este último apresenta menor resistência ao
trabecular) semelhante à observada na figura 13.13,
impacto, ou seja, menor tenacidade, assim como menor
vem ganhando utilização crescente devido ao seu
resistência à fadiga e, portanto inapropriado para o uso
módulo de elasticidade que se situa entre o do osso
biológico em superfícies protéticas.
esponjoso e do osso cortical (1-16 GPa). Sua bio-
Este polímero termoplástico é obtido pela poli-
compatibilidade manifesta através do crescimento
merização do etileno, que resulta na formação de um
osteoblástico, que chega a preencher 40-50% das
pó com partículas entre 100 e 200 m, sendo que cada
cavidades porosas em cerca de 4 semanas, habilita
partícula é formada por esferas menores que 1 m, ou
sua aplicação em inúmeras circunstâncias osteo-
seja, partículas submicrômicas (Fig.13.14). Estas esfe-
articulares em que se necessita de preenchimento
ras têm a mesma dimensão e morfologia dos debris
ósseo. Mais freqüentemente é utilizado em cirurgias
detectados nos tecidos como resultado do desgaste do
reconstrutoras do quadril e joelho e notadamente em
polietileno.
deficiências acetabulares em artroplastia de revisão de
quadril.
O processamento deste metal trabecular en-
volve a produção de um esqueleto poroso de carbono
(cerca de 75-80% de poros em volume) sobre o qual é
depositado o tântalo comercialmente puro. O elevado
coeficiente de atrito sobre a superfície do implante de
tântalo agrega estabilidade inicial e melhor fixação
mecânica ao osso adjacente. Seu uso em revisão
acetabular, muito embora os resultados iniciais sejam
adequados, necessita maior tempo de seguimento,
uma vez que é conhecida a deterioração dos resulta-
dos com os métodos usuais, quando avaliados com
mais de 10 anos de acompanhamento. É também
motivo de preocupação a indicação de cimentação do
inserto de polietileno, uma vez que o baixo módulo de Fig.13.14. Obtenção do polietileno (PE) a partir da
elasticidade do tântalo pode gerar maior deformação polimerização do etileno.
do manto de cimento, que é muito sensível às defor-
A partir deste pó de polietileno o processo de
mações. O elevado custo constitui também limitação
conformação em uma estrutura sólida, seja na forma de
adicional de sua utilização.
tarugos (por extrusão), placas (por moldagem) ou até
Cabe mencionar ainda outras ligas que
mesmo no implante diretamente (moldagem por com-
utilizam Zircônio (Zr-Nb) e apresentam propriedades
pressão), é chamado de fusão ou consolidação.
mecânicas muito próximas às ligas de titânio. Sua
Mesmo com toda a técnica atual de processamento, a Embora este monômero (MMA) possa sofrer
consolidação pode ser difícil devido ao seu elevado PM, autopolimerização, o processo é muito lento, produz
o que pode ocasionar a fusão incompleta ou defeitos de substancial elevação da temperatura e grande com-
consolidação. Estes defeitos agem como concentrado- tração volumétrica (ao redor de 27%) devido à dife-
res de tensões enfraquecendo assim o PE, o que pre- rença de densidade entre monômero e polímero. As
dispõe ao aparecimento de trincas que ao se propa- formulações comerciais atuais, pouco modificadas
garem podem causar sua delaminação e falência em desde a década de 60, constam basicamente de um
serviço. Os defeitos de fusão são mais comuns no pré-polimerizado (pó) que misturado ao monômero
processo de moldagem em placas e menos freqüentes (líquido) resulta na polimerização em poucos minutos,
na extrusão e na moldagem por compressão. na dependência de sua composição química. A
Do ponto de vista estrutural o PE apresenta utilização do pré-polimerizado reduz a quantidade de
uma morfologia semicristalina e, portanto duas fases monômero necessária à polimerização e assim diminui
distintas (Fig.13.15). A fase cristalina esta constituída a contração para cerca de 7%, além de auxiliar na
por cadeias dobradas que estão dispersas ao acaso em dissipação do calor produzido. Este processo
uma fase amorfa constituída por cadeias não ramifica- acelerado de polimerização necessita da atuação de
das de polietileno. iniciadores de reação acrescentados ao pó (Peróxido
Assim como as propriedades mecânicas, o de dibenzoilo) e ao líquido (N, N Dimetil paratoluidina).
percentual de região cristalina depende fundamental- A presença de estabilizadores (Hidro-quinona ou Ácido
mente do PM e do processamento para a obtenção do Ascórbico) adicionados ao monômero é necessária
pó (polimerização, consolidação e esterilização), porém para que não haja auto-polimerização durante o
o grau cirúrgico utilizado apresenta cristalinidade período de armazenamento e transporte. Para uma
frequentemente na faixa entre 58-75 por cento. Após o adequada visualização radiográfica do manto de
processo de consolidação, dependendo da técnica cimento, acrescenta-se ao pó substâncias radiopacas
empregada, a cristalinidade flutua entre 50-55 por como o Sulfato de Bário ou o Óxido de Zircônio
cento. Consideradas estas variações pode-se dizer, (Fig.13.16).
contudo que o PE é um material dúctil, tenaz e que
apresenta uma grande fluência.

Fig.13.16 Obtenção do cimento acrílico (PMMA) a partir do


Fig.13.15. Estrutura semi-cristalina do polietileno. As ligações metacrilato de metila na presença de aditivos. A formulação
cruzadas obtidas por irradiação gama ocorrem na fase amorfa
dos cimentos disponíveis comercialmente é bastante variada
que apresenta maior mobilidade das cadeias carbônicas. e assim nem todos os cimentos de PMMA são iguais.

O aumento da resistência ao desgaste do


polietileno tem sido obtido pela elevação do seu peso O processo químico da polimerização se inicia
molecular, decorrente da formação de ligações pela mistura do monômero (líquido) ao pré-polimerizado
cruzadas (cross-linking) entre as cadeias, resultantes (pó), ocasião em que a decomposição do peróxido de
da formação de radicais livres produzidos, mais dibenzoilo pela N,N dimetil paratoluidina produz radicais
freqüentemente, por irradiação Gama .
15 (benzoílos), que atacam a insaturação carbônica do
metacrilato de metila, gerando assim radicais livres na
b) Polimetacrilato de Metila (PMMA) molécula do monômero. A ligação entre átomos de
O cimento ósseo (PMMA), utilizado desde há carbonos de moléculas adjacentes, por meio dos
cerca de 50 anos com o objetivo de acoplar implantes radicais livres, promove a formação de longas cadeias
artroplásticos ao tecido ósseo adjacente, é uma resina cujos pesos moleculares variam entre 250 mil a
acrílica resultante da polimerização do metacrilato de 800.000 daltons. Com o progresso da polimerização as
14. cadeias crescem e originam um material duro de
metila (MMA)
22
características vítreas o que dificulta a difusão suas excelentes propriedades tribólogicas oriundas de
subseqüente do monômero e a propagação da cadeia. sua elevada dureza (Dureza Vickers >2000 HV), baixo
Assim o processo de polimerização apresenta ângulo de contato (maior molhamento – Ver seção de
uma fase inicial de contração de volume (ao redor de propriedades tribológicas).
7%), seguida por uma fase de expansão térmica pelo A zircônia (ZrO2) introduzida como opção de
aumento da temperatura (cerca de 80ºC) e finalmente superfície articular com o polietileno na década de 80, é
uma fase de contração volumétrica e térmica um composto cerâmico que pode se apresentar sob
16
ocasionada pelo resfriamento . diferentes fases de acordo com a temperatura. Por este
Do ponto de vista mecânico o PMMA é um motivo, estabilizadores de fase devem ser adicionados
23
sólido com característica viscoelástica, de baixa rigidez durante a fabricação . Ainda que apresente maior
(E= 2.3 GPa, comparado ao Eosso cortical:16 GPa, ECr-Co: resistência mecânica que a alumina, a possibilidade de
250 GPa). Porém quando comparado a outros transformação de fase limita sua produção a fornos
polímeros (como por exemplo, o polietileno) apresenta específicos e impede sua esterilização em vapor úmido
grande rigidez e baixa ductilidade, e, portanto um (autoclave), uma vez que nestas condições a incidência
17
comportamento frágil . Estas propriedades devem ser de fratura de cabeças cerâmicas podem se aproximar
consideradas perante sua utilização em artroplastias de 9 por cento. A adição de zircônia estabilizada em
que requer uma atuação como transmissor de esforços ítria ao substrato de alumina tem obtido excelentes
18,19.
do implante aos tecidos adjacentes resultados quanto a sua resistência à fratura em
22
Com características viscoelásticas o cimento cabeças femorais protéticas .
pode fluir, e assim permitir a migração de implantes, A Hidroxiapatita inclui um grupo de cerâmicas
muito embora a fluência no manto de cimento seja de policristalinas de fosfato de cálcio, com estrutura
pequena magnitude frente ao que se observa em semelhante à apatita óssea, seja de origem mineral
20
situações clinicas . Em artroplastias experimentais in (fosfato de cálcio tribásico) ou sintética (fosfato
vitro o cimento ósseo esta sujeito a tensões muito tricálcico).Tem função predominantemente osteocon-
próximas do seu limite de resistência quando em dutiva e por isto na sua forma granular ou maciça é
carregamento cíclico, circunstância em que a fluência, usado em enxertia óssea de defeitos ósseos
após um período de aumento rápido, tende a cavitários. Sua resistência à fadiga é baixa e, portanto
12,16
permanecer constante nos ciclos subseqüentes . não adequada à ambientes de grande solicitação
Saliente-se, contudo que a resistência mecânica do mecânica.
cimento é dependente de vários fatores como o peso Muito embora, a biocerâmica de hidroxiapatita
molecular, proporção e constituição do monômero, e fosfato tricálcico maciça tenha sua comercialização
características e concentração dos aditivos, tempe- liberada, consideramos que seu uso como substituto
ratura, métodos de esterilização e técnica de manejo. ósseo, sob a forma de enxerto estrutural, em defeitos
Desta forma a utilização do cimento ósseo requer uma segmentares deva ser avaliado clinicamente em
técnica adequada e racional dentro dos preceitos seguimentos mais tardios, antes de sua incorporação
recomendados pelo fabricante, assim como do rotineira à prática médica (Fig.13.17).
conhecimento dos fatores que possam alterar seu
18,21.
comportamento mecânico

B3. Materiais Cerâmicos

Os biomateriais cerâmicos se referem a um


grupo de materiais quimicamente compostos pela
ligação iônica de um ou mais íons metálicos com um
íon não metálico, frequentemente o oxigênio. Sua
estrutura molecular é bastante variável podendo se
apresentar sob a forma policristalina ou amorfa. A
potente ligação iônica confere aos materiais cerâmicos
grande estabilidade, elevado ponto de fusão, grande
dureza e resistência às alterações químicas sendo,
portanto inerte nos fluidos biológicos uma vez que
Fig.13.17. Radiografia de pelve no plano frontal (A) e fêmur
liberam quantidade desprezível de produtos de esquerdo no plano sagital (B) de uma paciente com 38 anos em que
degradação. Representam uma variada classe de se observa extensa perda óssea femoral e acetabular. Foi feita a cor-
biomateriais cujos principais representantes são a reção com enxerto femoral maciço de biocerâmica no acetábulo (C –
alumina (Al2O3), zircônia (ZrO2),e a hidroxiapatita superior) e no fêmur proximal (C-inferior e D). Dezoito meses após o
ato cirúrgico observa-se o posicionamento adequado dos implantes,
(Ca10(PO4)6(OH)2, e uma nuvem de calo ósseo adjacente à porção medial e posterior da
A utilização da alumina cerâmica (Al2O3) há transição entre o enxerto e o osso femoral (E e F – setas), sem contu-
cerca de 30 anos como superfície articular confirmam do observarmos o fechamento da fenda entre os dois elementos.
A hidroxiapatita pode ser utilizada também
como um pré-revestimento em implantes permanentes
ou até temporários, no sentido de agregar ao efeito
osteocondutor uma real ligação química entre esta
camada e o substrato ósseo adjacente favorecendo
assim a osteointegração.

B4. Compósitos

Referem-se à combinação de materiais de


modo que as propriedades mecânicas resultantes
sejam superiores a dos componentes isoladamente.
Frequentemente agregam um elemento constituído por
fibras a um elemento matricial, como as fibras de Fig.13.18. (A): O coeficiente de atrito é uma grandeza adimensional,
carbono adicionadas a uma matriz polimérica. Sob este resultado da relação entre a força de atrito e força normal. (B):
prisma o osso é per se um material compósito que Superfície de cabeça metálica polida e aparentemente lisa a olho nu
apresenta fibras colágenas imersas em uma matriz apresenta (C): à microsocopia, irregularidades ou asperezas em sua
superfície cujo (D): perfil pode ser determinado e mensurado (em
inorgânica.
Ra- rugosidade media) por aparelhos como o rugosímetro.Fonte
Várias tentativas de aumentar a tenacidade do Gomes LSM25
cimento ósseo foram feitas através da produção de um Mesmo em implantes polidos e aparentemente
compósito que incorporava outros elementos como a lisos, o atrito pode ocorrer pelas irregularidades
fibra de carbono, polietileno, titânio, grafite e aço entre superficiais (rugosidade) em nível microscópico, cujo
outras substâncias. Contudo, a biocompatibilidade e perfil pode ser avaliado por aparelhos como o
complicações do processamento destes materiais 25
rugosímetro (Fig.13.18B,C e D).
comprometeram a implementação do processo de Diferentemente das propriedades mecânicas
manufatura. como o módulo de elasticidade e tenacidade, o coefi-
Dentre os compósitos utilizados em cirurgia ciente de atrito não é uma propriedade do material e,
ortopédica, destacam-se a polissulfona, a fibra de assim pode ter diferentes valores em função do par
carbono (ambos por sua importância histórica), os tribológico (Fig. 13.19A), da configuração de contato
compósitos cerâmicos e o poliéter-éter-cetona (ou (Fig. 13.19B) e do ambiente e regime de lubrificação
PEEK), este de utilização mais ampla. Nova superfície 26
(Fig.13.19C) .
articular a base PEEK tem sido testada experimen- Os biomateriais constituintes do par tribológico,
talmente e clinicamente, porém os resultados em longo o design e a tecnologia de fabricação influenciam
prazo devem ser aguardados. grandemente na intensidade do atrito, uma vez que sua
origem está ligada à deformação na superfície de
C. PROPRIEDADES TRIBOLÓGICAS DOS contato entre os materiais, e pela adesão entre os
IMPLANTES PROTÉTICOS. átomos e moléculas das superfícies opostas. Assim, a
rugosidade e a deformação das superfícies em contato
impõem certa restrição ao movimento.
O termo tribologia se refere à ciência que
estuda a interação de superfícies em movimento
relativo e, portanto considera suas determinantes
principais que são o atrito, a lubrificação e o desgaste.

Atrito: O conceito de atrito diz respeito à obstrução


(atrito estático) ou à restrição (atrito cinético) ao movi-
mento relativo entre as superfícies de corpos em
contato, quando sujeitos a uma força externa. A força
de atrito é gerada pela deformação na superfície de
contato entre os materiais, e pela adesão entre os
átomos e moléculas das superfícies opostas. Age
tangencialmente à superfície e seu módulo independe
da área de contato aparente entre os corpos, porem é
24
função direta do valor da força normal .
Desta forma define-se coeficiente de atrito (µ),
Fig.13.19. Fatores que interferem no coeficiente de atrito. (A) Os
como a relação entre a força de atrito (Fa) e a força biomateriais que constituem o par tribológico, (B) e sua confi-
normal (Fn), que por este fato é uma grandeza guração de contato, (C) assim como o ambiente adjacente e o re-
adimensional (Fig.13.18A). gime de lubrificação (Fonte Gomes, LSM25 Modificado de Mischler 26)
É evidente que quanto maior a dureza dos Na superfície articular natural do quadril, a
materiais que compõe o par tribológico, mais fácil a grande congruência articular, distribui as tensões em
manutenção do polimento e mais difícil riscar a cabeça, uma área extensa, dentro de uma cavidade estanque e
restringindo assim as asperezas de superfície. Por este preenchida pelo líquido sinovial, permitindo assim que
motivo as superfícies mais duras (Cerâmica/Cerâmica, a flutuação de pressão do liquido, neste compar-
Metal/ Metal e Cerâmica/Metal) apresentam melhor timento, contrabalance os esforços externos. Desta
27-29
desempenho tribológico . Outro mecanismo de atrito forma a pressão hidrostática do filme fluido separa as
dependente do par tribológico ocorre pela adesão duas superfícies e impede o seu contato direto durante
(ligações químicas) entre as superfícies protéticas, em o carregamento, através da manutenção de uma fenda
muito semelhante ao mecanismo de fusão a frio. (clearance) articular (Fig.13.20A).
O atrito gerado pela força de atração entre as Este mecanismo hidrostático é auxiliado pelo aumento
moléculas das superfícies opostas, chamadas forças da velocidade de deslocamento entre as superfícies
de adesão, ocorre em regiões de contatos localizados, (efeito hidrodinâmico, Fig.13.20B) e, durante o
como alterações de esfericidade da cabeça ou carregamento pelo aumento de volume de liquido na
imperfeições decorrentes da usinagem. Desta forma, articulação, oriundo da expulsão de substâncias
as ligações químicas entre as moléculas de superfícies adsorvidas na cartilagem (Wheeping) que, por este
opostas, podem se opor ao início do movimento (atrito motivo, não depende de movimento entre as
estático), e assim o movimento ulterior só será possível superfícies, mas sim da carga aplicada.
pela ruptura destas ligações, resultando na remoção de Durante a movimentação, a lubrificação é
material da superfície articular. Este mecanismo ocorre dependente da velocidade entre as superfícies
mais intensamente quanto maior for a força de atração articulares que origina a lubrificação hidrodinâmica .
entre as superfícies e é bastante evidente na articula- Quanto maior a velocidade relativa (que chega a atingir
ção metal/metal durante o período inicial de atividade 40 mm/s) mais se aumenta a pressão do fluido que
(run-in), pela intensidade da atração decorrente da mantém as superfícies afastadas e garantindo um
-3.
ligação metálica. Com a perda progressiva de material coeficiente de atrito da ordem de 10 Caso uma
ocorre o polimento nas zonas de contato e assim o espessura adequada do filme não seja possível, em
atrito adesivo diminui com o tempo em serviço do algumas circunstâncias a pressão do filme pode ser
implante. O atrito que ocorre entre os pares tribológicos capaz de deformar as irregularidades das superfícies,
mais utilizados pode ser observado na Tabela 2. dificultando o contato direto, e originando assim um
26
Como resultado do atrito entre as superfícies, o regime de lubrificação chamado elastohidro-dinamico.
movimento irá gerar um torque (de atrito) na interface Por outro lado no caso de baixa velocidade entre as
entre o componente acetabular e o osso, que é tanto superfícies, o menor volume fluido permite que
maior quanto maior o diâmetro da cabeça, porém em esforços de alta magnitude (cerca de 8 vezes o peso
módulo sempre muito inferior ao torque experimental corporal) tendam a promover o contato direto entre as
necessário para soltar o componente. Desta forma, superfícies articulares, aumentando assim o atrito.
embora o atrito tenha grande contribuição no desgaste Nesta circunstância é importante a presença de
articular, seu papel para a soltura dos implantes parece moléculas de tribonectinas, que se ligam às superfícies
não ser tão significativo. opostas atuando como um sabão e diminuindo portanto
o atrito. Este mecanismo de lubrificação é chamado de
Tabela 2. Coeficiente de Atrito (µ) para Diferen- marginal, de contorno ou de superfície (Fig.14.20C).
tes Pares Tribológicos e Articulação Sinovial.

Par Tribológico Coeficiente de Atrito (µ)

Metal/Metal* 0.40
Art. Sinovial s/ Lubrificação 0.20
Metal/PE Convencional 0.10
Cerâmica/Metal 0.05
Fig.13.20. Regimes de lubrificação da articulação sinovial. (A) O
Cerâmica/Cerâmica** 0.04 regime hidrostático ocorre durante o suporte de carga sem
Art. Sinovial c/ Lubrificação 0.005- 0.02 movimento significativo, enquanto o hidrodinâmico (B) aumenta
com a velocidade entre as superfícies. (C) Quando o carregamento
*Liga de Cromo-Cobalto. PE: Polietileno tende a aproximar as superfícies articulares, as tribonectinas tem um
** Alumina (Al2O3)
papel importante na lubrificação marginal ou de superfície.
Lubrificação: Para que o atrito seja diminuído é impor-
tante que não haja contato direto entre as superfícies Quando substituímos a articulação natural pela
articulares durante o movimento e o suporte de carga, articulação protética, devemos reconhecer algumas
papel este que pode ser exercido pela interposição de desvantagens principalmente no que diz respeito à
um filme líquido. lubrificação. Primeiramente a fenda articular
(clearance) deve ser o suficiente para permitir a Desgaste: A conseqüência inevitável do movimento
formação de um filme fluido que impeça o contato entre duas superfícies opostas é a remoção de material
direto entre as superfícies, e assim possa proporcionar devido à ação mecânica (desgaste), que pode gerar
25
uma lubrificação hidrodinâmica . milhares de partículas nos tecidos adjacentes a cada
5
Neste caso a espessura do filme fluido deve ciclo de marcha .
ser maior que a rugosidade das superfícies. Contudo, Na articulação protética o desgaste é
quando a espessura do filme é menor que a altura da determinado por diferentes mecanismos, em função do
rugosidade e o contato direto é inevitável, a presença atrito, da lubrificação e do meio adjacente.
das tribonectinas adsorvidas pelas superfícies protéti-
cas pode diminuir o atrito, pela baixa resistência destas
proteínas ao cisalhamento
Entre as superfícies protéticas o regime de
lubrificação pode ser hidrodinâmico, marginal ou misto
(intermediário entre os 2 regimes citados), na depen-
dência da espessura do filme fluido. Esta espessura,
que depende não só das propriedades dos biomateriais
constituintes do par tribológico, mas também de seu
design e tecnologia de fabricação, pode ser expressa
em função da viscosidade do liquido, da velocidade
relativa entre as superfícies e de sua rugosidade.
O simples fato de umedecer a superfície protética
pode diminuir o atrito, e assim materiais que permitam
um maior molhamento (medido pelo ângulo de contato)
de sua superfície têm melhor desempenho tribológico,
como a cerâmica, pois a maior dispersão do liquido
28,29
promove melhor lubrificação (Fig.13.21A,B) . Fig.13.22. Regimes de lubrificação de superfícies articulares
protéticas. (A) Materiais mais rígidos não se deformam com o
carregamento, permitindo o contato polar, e assim que se man-
tenha uma fenda articular adequada (setas brancas) à lubrificação
hidrodinâmica. (B): Materiais mais dúcteis e elásticos (como o
polietileno) permitem a deformação que ocasiona um contato
equatorial, sem fenda articular. (Fonte Gomes, LSM25 Modificado de
Mischler26 )

O mecanismo mais freqüente de desgaste é a


abrasão, em que as asperezas superficiais funcionam
como uma lixa ao contato com o elemento oposto. A
abrasão, ocasionada pela rugosidade das superfícies
Fig.13.21. A propriedade do líquido se distribuir sobre a superfície de do par tribológico, pode ser agravada pela presença de
um material, chamada de molhamento, é medida pelo ângulo de
contato (A). Quanto menor o ângulo de contato, melhor a contaminantes no interior da articulação como
distribuição do líquido na superfície e, portanto melhor a fragmentos metálicos, ósseos ou de cimento ósseo
lubrificação. (B) Dentre os materiais utilizados em superfícies (chamados de terceiro corpo), que irão promover
protéticas, a cerâmica apresenta o menor ângulo de contato. maiores danos à superfície articular e assim ocasionar
um desgaste rápido e progressivo. Este mecanismo
Para que a espessura de um filme fluido seja
(abrasão por terceiro corpo) é constatado em explantes
mantida é necessária uma dimensão de fenda articular
pela presença de ranhuras e riscos na superfície
adequada para garantir um equilíbrio entre o contato 25
articular protética (Fig.13.23A e B) .
polar e equatorial, que em condições ideais promove
A abrasão é grandemente influenciada pelos
um regime hidrodinâmico de lubrificação. Nos casos
biomateriais constituintes do par tribológico, uma vez
em que se utiliza o Polietileno, ainda que uma fenda
que materiais mais duros, e com menor ductilidade
articular adequada seja obtida inicialmente, a
mostram-se mais resistentes à abrasão por apresen-
possibilidade de deformação do polímero tende a
tarem menor desgaste e maior resistência ao dano
produzir um contato equatorial (Fig.13.22A,B), de maior
superficial, como a articulação cerâmica/ cerâmica.
atrito, e assim o principal regime de lubrificação passa
No desgaste por adesão as ligações entre as
a ser o marginal ou de superfície. Materiais mais
superfícies opostas em pontos localizados, são rompi-
rígidos como as ligas de cromo-cobalto e a cerâmica
das pela ação mecânica do movimento, gerando
deformam-se muito pouco e permitem a manutenção
fragmentos que são transferidos para a superfície
da fenda articular e o contato polar, favorecendo o
oposta ou diretamente liberados para o interior da
regime de lubrificação hidrodinâmico ou misto.
articulação.
Observe que para um mesmo desgaste linear,
o desgaste volumétrico de uma cabeça de 32 mm é
cerca de 2 vezes maior que o da cabeça de
31
22 milímetros . Assim, pelo maior número de
partículas geradas, dá-se preferência ao desgaste
volumétrico como parâmetro a ser comparado com
o desfecho clínico das artroplastias totais. Desta forma
há que se considerar a relação risco/benefício para a
prática mais recente de se utilizar cabeças protéticas
de maior diâmetro, com o objetivo de aumentar a
estabilidade e diminuir a possibilidade de impacto com
Fig. 13.23. (A) Explante de cabeça femoral protética mostrando
inúmeros sulcos e riscos oriundos da abrasão por terceiro corpo, com
a borda acetabular protética.
profundas repercussões sobre a (B) estrutura do componente Vários ensaios experimentais em simuladores
acetabular de polietileno que apresenta sinais de falência de quadril demonstram um desgaste volumétrico muito
catastrófica. Fonte Gomes, LSM25. próximo do obtido em condições clínicas para o par
tribológico Metal/PE. Contudo uma vez que o número
Neste mecanismo, a intensidade da força de
de ciclos anuais pode apresentar grande variabilidade
ligação entre átomos e moléculas das superfícies
entre diferentes pacientes, em avaliações experimen-
opostas tem grande influência, e pode ser uma
tais o parâmetro de desgaste anual é substituído por
importante fonte de partículas, como na articulação
milhão de ciclos.
metal/metal, quando a alta ductilidade promove maior
adesão. A medida que o material é progressivamente
removido dos pontos de maior contato, o conseqüente
Tabela 3. Relação entre o Desgaste Linear (0.1 mm/
auto-polimento da superfície diminui a intensidade do
ano) e o Desgaste Volumétrico em Função do Diâme-
desgaste adesivo.
tro da Cabeça de Cromo-Cobalto em Polietileno
A movimentação e o carregamento cíclicos
Convencional.
entre as superfícies articulares podem iniciar a fadiga
do material através de microtrincas que ao se
propagarem promovem a delaminação de fragmentos
para o interior do espaço articular. Este desgaste por
Diâmetro Cefálico Desgaste Volumétrico
fadiga gera, portanto partículas maiores que podem
atuar como terceiro corpo ou mesmo ocasionar 22 mm 38 mm3
bloqueio articular. O polietileno é particularmente
28 mm 60 mm3
susceptível a este mecanismo quando da sua
oxidação, uma vez que a conseqüente alteração de 32 mm 80 mm3
suas propriedades mecânicas diminui sua resistência à
30
fadiga .
O desgaste pode ocorrer ainda por fenômenos
triboquímicos conseqüentes a reações químicas entre o
meio adjacente às superfícies em contato. Na A Tabela 4 compara o desgaste volumétrico
articulação Metal/Metal a remoção e formação experimental de diferentes pares tribológicos utilizados
alternadas da camada de óxido sobre as superfícies em reconstruções protéticas do quadril.
articulares (camada de passivação), liberam partículas Observe que em relação ao par Cro-Co/PE
no interior da articulação resultantes do desgaste convencional, o polietileno altamente irradiado reduz,
27,28,29
oxidativo ou triboquímico. em cerca de 90% o desgaste volumétrico, enquanto o
As partículas ou debris formados pelos polietileno tri-irradiado, reduz o desgaste para níveis
diferentes mecanismos de desgaste podem, por semelhantes aos da articulação Metal/Metal, e o par
mecanismos mecânicos e /ou biológicos, levar à soltura Cerâmica/Metal e Cerâmica/Cerâmica não apresentam
e destruição óssea progressiva e assim não só diferenças significativas entre si, em relação ao
32
comprometer a longevidade da artroplastia, como desgaste volumétrico experimental.
dificultar os procedimentos reconstrutivos futuros. É importante ressaltar, que para um mesmo
O impacto do desgaste na gênese da osteólise e/ desgaste volumétrico, o número de partículas
ou soltura é dependente não só do número de dependerá também de seu tamanho, e assim as
partículas como também de sua morfologia, partículas nanométricas resultantes do desgaste da
5
dimensões, atividade biológica e citotoxicidade . articulação M/M são em numero muito superior (em até
Embora cabeças protéticas de maior diâmetro 500 vezes) às partículas pouco menores que 1
possam apresentar o mesmo desgaste linear, o des- micrômetro, resultantes do desgaste da articulação
33
gaste volumétrico e, portanto o número de partículas é Metal/PE .
4,31
também significativamente maior (Tabela 3).
Tabela 4. Desgaste Volumétrico em Milímetros Cúbicos Na dependência das características e toxici-
3
(mm ) de Diferentes Pares Tribológicos por Milhão de dade das partículas, ocorre a liberação de quimocinas
Ciclos (mc), em Simuladores de Quadril. (M-CSF e MCP-1) que recrutam células inflamatórias,
prostaglandinas (principalmente E2) e citocinas (Inter-
Par Tribológico Desgaste (mm3/mc) leucina 1β e 6, fator de necrose tumoral α entre outros)
que podem não só determinar a necrose dos macro-
fagos, como também iniciar a atividade osteoclástica,
Cr/Co- PE Convencional 35
ou ainda levar à hapoptose do osteoblasto, com
Cerâmica- PE Convencional 25 conseqüente necrose e osteólise. A disseminação de
Cr/Co- PE X Linked 5 partículas ocorre também através do chamado espaço
Cerâmica- PE X Linked 3 articular efetivo, tendo como meio de transporte o fluido
articular e assim as partículas podem alcançar o tecido
Cr/Co- Cr/Co 1.6 ósseo adjacente, a interface cimento-osso e a interface
Cr/Co- PE X3 1.3 34 35
cimento metal . Aspenberg e van der Vis postularam
Cerâmica- Cr/Co <0.1 que a flutuação da pressão do liquido articular dentro do
espaço articular efetivo ocasionada pelo carregamento
Cerâmica- Cerâmica <0.1 cíclico, pode desencadear a reabsorção óssea pelo
mecanismo da hapoptose do osteócito, processo este
Cr/Co = Liga de Cromo-Cobalto PE X3= Polietileno triir- muito semelhante às erosões ósseas de vértebras
radiado. Valores aproximados, para cabeças de 28 mm em condi- ocasionadas por um aneurisma contíguo.
ções semelhantes de ensaio.

II. Resposta Orgânica aos Biomateriais


Os Biomateriais podem ocasionar efeitos locais
(tecidos adjacentes), remotos (órgãos a distância) ou
sistêmicos, na dependência do tipo, quantidade,
tamanho e toxicidade das partículas e substâncias
liberadas, de sua resistência à corrosão e da resposta
orgânica aos seus produtos
O organismo é bastante tolerante aos
biomateriais, sobretudo em condições de estabilidade
do implante. O PMMA enquanto um manto íntegro ao
redor do implante promove uma interface com o osso
sem a interposição de membrana e sem sinais de
reação inflamatória (osteointegração do cimento). A
reação às partículas oriundas do desgaste do
Fig 13.24. Desenho esquemático do processo de reação orgânica às
polietileno, quando menor que 0.9mm/ano, pode
partículas de biomateriais. As partículas (pt) absorvidas pela
permitir uma sobrevivência da reconstrução protética pseudo cápsula (pc) sofrem a ação de macrófagos (M) recrutados
em até 90% aos 10 anos de seguimento. Esta a partir de células progenitoras (P) pela ação de quimocinas (MCP:
tolerância às partículas ocorre porque, algumas monocyte chemoattractant proteins , M-CSF: Macrophage colony
semanas após a artroplastia, forma-se uma stimulating factor).
pseudocápsula constituída na sua porção mais O titânio é bem tolerado pelo organismo exceto
superficial por tecido fibroso onde se nota a presença em condições de instabilidade protética ou de contato
de alguns macrófagos. direto com outros metais, ocasião em que sua baixa
Em condições habituais, as partículas resistência ao desgaste leva a produção de um grande
formadas pelo desgaste são absorvidas pela pseudo- aumento do número de partículas de óxido de titânio
cápsula e em seu interior são fagocitadas pelos (TiO2)
macrófagos. A fagocitose de partículas maiores requer .Estas partículas ao se depositarem nos tecidos
a fusão de vários macrófagos (células gigantes adjacentes produzem uma coloração escura
multinucleadas) que resulta em verdadeiros denominada metalose e intensa atividade inflamatória
granulomas de corpo estranho. Outro destino das que resulta em soltura do implante e/ou intensa
partículas é o espaço perivascular linfático a partir do osteólise (Fig.13.25).
qual as partículas alcançam os vasos linfáticos, Partículas metálicas sobretudo os íons cromo,
linfonodos regionais e, eventualmente os órgãos do cobalto e níquel podem agir como haptenos e eliciar
sistema reticulo-endotelial, constituindo assim um uma reação de hipersensibilidade tipo IV em indivíduos
mecanismo de limpeza, porém de disseminação das 33
previamente sensibilizados .
partículas (Fig.13.24).
Bibliografia e Referências Bibliográficas

1. Williams, D.F.: Definitions in Biocompatibility.


Amsterdam: Elsevier, CRC Press, Vol.l , 1987.

2. Park, J. B. “Biomaterials, Introduction” Plenum Press,


New York, 1979.

3. Bergmann G,Graichen F, Rohlman A. Hip joint forces


during walking and standing-measured in a patient with
bilateral prostheses. J Biomech. 1993; 26:969-90

4. Sochard DH. Relationship of Acetabular Wear to


Osteolysis and Loosening in Total Hip Arthroplasty. Clin
Orthop Rel Res.1999; 363:135-150

5. Buchhorn GH,Willert HG. Wear and Osteolyses. In:


Bone cements and cemeting technique,Springer-Verlag
Berlin Heidelberg: 163-182,2001

6. Cowin SC. Mechanics of Materials. 2:15-42. In: Bone


Mechanics. CRC Press Boca Raton, Florida, 1989.
Fig.13.25 (A) Radiografia pré-operatória mostrando intenso
desgaste na porção superior do componente acetabular. (B e C): 7.Van Vlack LH. Características exigidas nos materiais
Intensa metalose nos tecidos adjacentes ao implante. (D):Explantes usados em engenharia 1:1-17. In: Princípios de Ciências
dos Materiais. Ed. Edgard Blucher, São Paulo, 1970.
mostrando a destruição do componente acetabular (seta).
8.Popov EP. Tensão e Cargas Axiais 3:57-85. In:
Introdução à Mecânica dos Sólidos. Ed. Edgard Blucher,
São Paulo, 1978.
A toxicidade do Cobalto e Cromo tem sido
motivo de preocupação, sobretudo em articulações 9. Ozkaya N, Nordin M. Multiaxial Deformations and
metal/metal,onde uma grande quantidade destes íons Stress Analysis. 8:153-194. In Fundamentals of
Biomechanics. Equilibrium, Motion and Deformition.2nd
é liberada e pode ser detectada no sangue (entre 5 a 10
Ed.1999 Springer, NY.
vezes a concentração pré-operatória) e na urina em
36
pacientes submetidos a este procedimento . 10. Wolff J: Das Gesetz der Transformation der Knochen.
Ainda para a articulação metal-metal tem sido Berlin Hirschwald, 1982.
descrita uma reação de hipersensibilidade, do tipo IV ou 11. Ramamurti C. In Finker R, editor: Orthopaedics in
tardia, mediada por linfócitos tipo T, fazendo com que o primary care, Baltimore,1979, Wiliams & Wilkins.
quadro histológico das falhas em relação aos outros
12. Gomes LSM, Griza S, Cervieri A, Strohaecker T.
biomateriais, mude de um infiltrado macrofágico para Different designs of polished, collarless tapered stems
um quadro histológico linfocitário, que pode se influence the in vitro behaviour of cemented femoral hip
estender, através do espaço articular efetivo, para os implants. 2009; 10th EFFORT: Congress of the European
tecidos periarticulares, e também à distância, através Federation of National Associations of Orthopaedics and
Traumatology, 3-6 Junho, Viena, Austria. Disponível em:
da corrente vascular e linfática. http://www.efort.org/cdrom2009/PosterContent.asp?pid=P
Esta reação linfocitária pode ocasionar na 345 (20 ag.2009)
membrana sinovial, um quadro de sinovite proliferativa
13. Willert HG, Broback LG, Buckhorn GH. et. al. Crevice
descamante que está freqüentemente associado à dor corrosion of cemented titanium alloy stems in total hip
de origem desconhecida nas superfícies protéticas replacements. Clin Orthop Rel Res. 1996;333:51-75.
metal/metal. Por outro lado, o infiltrado linfocitário pode
14. Charnley J (1979) Low friction arthroplasty of the
se alojar no interior do tecido ósseo e predispor à
hip:theory and practice. Springer, Berlin Heidelberg
soltura e mesmo à osteólise. A ocorrência de infiltrado New York Tokyo
nas partes moles periarticulares está associada à
formação de granulomas e dos chamados pseudo- 15. Faris PM, Ritter MA, Pierce AL, Davies KE, Faris GW.
37 Polyethylene sterilization and production affects wear in
linfomas . total hip arthroplasties. Clin Orthop Rel Res 2006; 453:
Embora vários estudos epidemiológicos não 305-308.
demonstrassem incidência aumentada de neoplasia ou
38 16. Griza S. Estudo comparativo da influência dos ân-
outras lesões em órgãos do sistema reticulo-endotelial
gulos protéticos nos padrões de transmissão de carga e
, e malformações fetais em pacientes submetidos ao estabilidade in vitro de hastes femorais cimentadas, cô-
implante de articulações metal/ metal, alguns cirurgiões nicas e polidas. Tese de Doutoramento. Programa de
preferem contra-indicá-la em pacientes com insuficiên- pós-graduação em engenharia de minas,metalúrgica e
materiais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
cia renal e mulheres em fase reprodutiva. 2006.
Partículas cerâmicas, por sua estabilidade química
(baixa reatividade), e, portanto grande resistência à 17. James SP, Jasty M, Davies JP. Fractographic inves-
tigation of PMMA bone cement focusing on the relation-
corrosão, são muito bem toleradas pelo organismo. ship between porosity reduction and increased fatigue
life. J Biomed Mater Res 26: 651-662, 1992 Tribology of alternative bearings. Clin Orthop Rel Res
2006; 453: 25-34.
18. Havelin L I, Espehaug B, Vollset S E, Engesaeter L
B. The effect of the type of cement on early revision of 29. Konttinen YT, Zhao D, Beklen A et al. The
Charnley total hip prostheses. A review of eight thousand microenviroment around total hip replacement
five hundred and seventy-nine primary arthroplasties from prostheses. Clin Orthop Rel Res 2005; 430: 28-38.
the Norwegian Arthroplasty Register. J Bone Joint Surg
Am. 1995; (77): 1543-1550. 30. Kurtz SM, Hozack WJ, Purtill JJ et al. Significance of
In vivo degradation for polyethylene in total hip
19. Jasty M, Maloney WJ, Bragdon CR, O’Connor DO, arthroplasty. Clin Orthop Rel Res 2006; 453: 47-57.
Haire T, Harris WH.: The initiation of failure in
cemented femoral components of hip arthroplasties. J 31. Tipper JL, Ingham E, Hailey JL, et al. Quantitative
Bone Joint Surg 1991;73-B:551-558 analysis of polyethylene wear debris, wear rate and head
damage in retrieved Charnley hip prostheses. J Mater Sci
20. Verdonschot N, Huiskes R. Acrylic cement creeps but Mater Med. 2000; 11: 117-124.
does not allow much subsidence of femoral stems. J Bone
Joint Surg [Br]. 1997; 79:665–669 32. 19.Dumbleton JH, D’Antonio JA, Manley MT, Capello
WN, Wang A. The Basis for a Second-generation Highly
21. Verdonschot N, Huiskes R. Cement Debonding Cross-linked UHMWPE. Clin Orthop 453:265-271, 2006.
process of Total Hip Arthroplasty Stems. Clin Orthop
Rel Res 1997; 336: 297-307 33. Willert HG, Buchhorn GH, Fayyazi A, et al. Metal-on-
metal bearings and hypersensitivity in patients with
22. Willman G. Bioceramics: State-of-the-art and future artificial hip joints. A clinical and histomorphological study.
Options. Berichte Deutsche Keramische Gesselschaft J bone Joint Surg 87(A):28-36, 2005
2002; 79:27-31
34. Schmalzried TP, Jasty M, Harris WH. Periprosthetic
23. Allain J, Le Mouel S, Goutallier D et al. Poor eight- bone loss in total hip arthroplasty: polyethylene wear
year survival of cemented zirconia-polyethylene total hip debris and the concept of effective joint space. J Bone
replacements. J Bone Joint Surg. 1999;81B:835-842. Joint Surg Am 1992;74:849-863

24. Walker PS, Bullough PG. The effects of friction and 35. Aspenberg P, Van der Vis HM. Fluid Pressure may
wear in artificial joints. Orthop Clin North Am 1973; 4: 275- Cause periprosthetic osteolysis- particles are not the
293. only thing. Acta Orthop Scand.1998;69:1-4

25. Gomes LSM. Tribologia de Superfícies Articulares 36. MacDonald SJ. Metal-on-Metal Total Hip Arthroplasty.
Protéticas. In: Artroplastia Total do Quadril. Clinica The Concerns. Clin Orthop Rel Res.2004;429: 86-93.
Ortopédica da SBOT, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
2009:25-40
37. Zustin J, Amling M, Krause M et al. Intraosseous
26. Mischler D. Tribology and Implants. Cours Biomateriaux lymphocytic infiltrates after hip resurfacing
2006. Disponível em: http://ltp2.epfl.ch/ Cours/Biomat/ arthroplasty .A histopathological study on 181
BioMat-03.pdf. retrieved femoral remnants. Virchows Arch. 2009;
454:581-588
27. Campbell P, Shen FW, McKellop R. Biologic and
Tribologic Considerations of Alternative Bearing 38. Visuri T, Pukkala E, Paavolainen P, Pulkinnen P,
Surfaces. Clin Orthop 418:98-108,2004. Riska EB: Cancer risk after metal on metal and
polyethylene on metal total hip arthroplasty. Clin
28. Fisher J, Jin Z, Tipper J, Stone M, Ingham E. Orthop Rel Res. 1996;329(Suppl):S280-S289.

Você também pode gostar