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Contenda

Guinga e Thiago Amud

Sou a dobra de mim sobre mim mesmo A roda vai abrir


Nesse afã de ganhar de quem me ganha Quando eu cair
Tento andar no meu passo e vou a esmo Por um fio
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha Camará, Camará, Camará...
Artimanha de encosto malfazejo
Meu corpo erradio arrebatado
Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá Debulho na boca da moenda
Meu mestre rei foi Salomão, camará! Mas não ponho fim nessa Contenda
Com meu coração esconjurado
Dei (dou) um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira Camará, Camará, Camará...
Que esse nervo me aviva o sofrimento (Ê menino, quem foi teu mestre?
Que esse olho é motivo de cegueira Ê menino, quem foi teu mestre?
Ê, presença difusa desordeira Meu mestre foi Salomão)
Giro de furacão sem epicentro
Maculelê não me mate o homem
Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá Ele é meu irmão, não me mate o homem
Vazei no peito esse intrujão, camará! Maculelê não me mate o homem
Ele é cristão, não me mate o homem
E vem pernada aí Maculelê não me mate o homem
Vem não, foi desvario Ele é meu amigo, não me mate o homem
E vem navalha aí Maculelê não me mate o homem
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair Maculelê não me mate...
No vazio

Camará, Camará, Camará...

Meu sangue arredio, arrevesado


Arranco e derramo em oferenda
Mas não ponho fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado

Camará, Camará, Camará...

Sei de um rosto escondido no espelho


Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro-Botelho

Serpentei, botei pressão, varei o ar


Caí no meio do desvão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio

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