Sou a dobra de mim sobre mim mesmo A roda vai abrir
Nesse afã de ganhar de quem me ganha Quando eu cair Tento andar no meu passo e vou a esmo Por um fio Tento pegar meu pulso e ele me apanha Eita, sombra rival que me acompanha Camará, Camará, Camará... Artimanha de encosto malfazejo Meu corpo erradio arrebatado Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá Debulho na boca da moenda Meu mestre rei foi Salomão, camará! Mas não ponho fim nessa Contenda Com meu coração esconjurado Dei (dou) um talho em meu próprio sentimento Pra que o mundo fulgure na clareira Camará, Camará, Camará... Que esse nervo me aviva o sofrimento (Ê menino, quem foi teu mestre? Que esse olho é motivo de cegueira Ê menino, quem foi teu mestre? Ê, presença difusa desordeira Meu mestre foi Salomão) Giro de furacão sem epicentro Maculelê não me mate o homem Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá Ele é meu irmão, não me mate o homem Vazei no peito esse intrujão, camará! Maculelê não me mate o homem Ele é cristão, não me mate o homem E vem pernada aí Maculelê não me mate o homem Vem não, foi desvario Ele é meu amigo, não me mate o homem E vem navalha aí Maculelê não me mate o homem Vem não, foi calafrio A roda vai abrir Quando eu cair Maculelê não me mate... No vazio
Camará, Camará, Camará...
Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda Mas não ponho fim nessa contenda Com meu coração esconjurado
Camará, Camará, Camará...
Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente Entro no meu juízo e destrambelho Entro no meu caminho e passo rente Eita, angústia que vai minando a gente Capoeira contra Pedro-Botelho
Serpentei, botei pressão, varei o ar
Caí no meio do desvão, camará!
E vem pernada aí Vem não, foi desvario E vem navalha aí Vem não, foi calafrio