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ção; e também daquelas outras, não tão dade pública monopolizada pelo Esta-
raras, em que a sanção se efetiva na do-legislador. Já a definição da norma
própria sentença, sem necessidade - concreta, é dizer, a identificação da
nem, aliás, possibilidade - de repor-se norma individualizada que se formou,
em movimento, para atuá-la, o meca- concretamente, pela incidência da nor-
nismo judicial. " 3 ma abstrata (momento 2), bem como a
Bem se vê, do excerto referido, que sua execução, ou seja, a sua transfor-
o interesse científico e prático do estu- mação efetiva em fatos ou comporta-
do do tema relacionado com o conceito mentos (momento 3), são atividades
de sentença condenatória e o de sen- que não demandam, necessariamente,
tença puramente declaratória, e as res- o concurso ou a intervenção estatal.
pectivas distinções, reside, justamente, As atividades dos momentos 2 e 3
na delimitação da eficácia de cada uma, desenvolvem-se, em geral, de modo
notadamente no âmbito da sua eficácia espontâneo, voluntário e sem formali-
executiva. Condenação, mera declara- dades. Assim, nas mais simples condu-
ção e força executiva constituem, por- tas do dia-a-dia, como as de comprar
tanto, temas imbricados, e nesta pers- um jornal ou tomar um táxi, há inci-
pectiva é que aqui serão versados. dência de normas abstratas em supor-
tes fáticos, nascem normas jurídicas
2 NATUREZA E CONTEÚDO DOS concretas, os seus destinatários identi-
TÍTULOS EXECUTIVOS ficam o seu conteúdo e os elementos
das relações jurídicas que a partir de-
A eficácia executiva dos julgados las são estabelecidas (sujeitos ativos,
pressupõe compreensão a respeito da sujeitos passivos, prestações) e, final-
natureza e do conteúdo do título exe- mente, há cumprimento dos seus enun-
cutivo, que é a "base" de toda e qual- ciados, mediante condutas e comporta-
quer execução, segundo dispõe o arti- mentos com eles compatíveis.
go 583 do CPC. O princípio da nulla Em certos casos, o momento 2, em-
executio sine titulo integra a dinâmica bora ocorra voluntariamente (isto é,
da concretização do ordenamento jurí- sem intervenção estatal), se dá de modo
dico. Realmente, o fenômeno da atua- formal. É assim, por exemplo, quando
ção das normas no plano social com- se ajusta contrato em forma escrita, na
porta três momentos bem distintos: pri- presença de testemunhas ou perante um
meiro, o da formulação abstrata dos tabelião, ou quando se emite um título
preceitos normativos; segundo, o da de crédito. O que se faz, nessas situa-
definição da norma para o caso concre- ções, é formalizar documentalmente o
to; e terceiro, o da execução da norma conteúdo de determinada norma jurídi-
individualizada. A formulação abstrata ca concreta, identificando os elemen-
dos preceitos normativos, ou seja, a cri- tos da relação de direito exsurgente, o
ação das normas (momento 1) é ativi- sujeito ativo, o sujeito passivo e a pres-
3 Ibidem, p. 80.
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tação, com o seu objeto, seu prazo e rar o dano". Ocorrido o fato, a incidên-
suas condições. Quando a formalização cia do preceito normativo abstrato é au-
documental tiver natureza constitutiva tomática, de modo que, independente-
da obrigação - que é o que geralmente mente da vontade dos envolvidos, surge
ocorre nos casos acima enfocados - ha- norma jurídica concreta, estabelecendo
verá contemporaneidade entre incidên- relação obrigacional de reparação dos
cia da norma abstrata e identificação prejuízos. A identificação de tal norma
da norma concreta que daí nasce. Ca- supõe imputação da culpa, com conse-
sos há em que a lei autoriza a identifi- qüente posicionamento dos envolvidos
cação da norma concreta mediante pro- nos pólos ativo e passivo da relação obri-
cedimento administrativo. É o que se gacional, e apuração dos danos e do seu
dá, por exemplo, nos procedimentos montante, que é a prestação devida. Nem
fiscais de lançamento de tributo e sua sempre ~averá entre os interessados con-
inscrição em dívida ativa. E há casos senso a respeito de todos esses pontos.
em que os interessados estão autoriza- Nem sempre haverá, portanto, esponta-
dos a delegar a terceiro, também parti- neidade de identificação da norma indi-
cular, o encargo de identificar os con- vidualizada. Estabelecendo-se contro-
tornos da norma individualizada. É o vérsia a respeito de qualquer dos aspec-
que ocorre quando determinada contro- tos assinalados, estará instalada crise de
vérsia é submetida a juízo arbitral. Tam- identificação da norma, a demandar, para
bém nessas hipóteses o momento 3 é, a sua solução, intervenção estatal. Me-
em regra, espontâneo: os destinatários diante atividade cognitiva, o Poder Ju-
da norma concretizada (formalizada no diciário definirá, por sentença, o conteú-
contrato ou no título de crédito, ou na do da norma concretizada, indicando os
certidão de dívida ativa ou na sentença elementos da relação jurídica dela de-
arbitral), dão-lhe o devido cumprimen- corrente, seus sujeitos e sua prestação.
to, adotando a conduta adequada à sa- Definida a norma concreta, a atividade
tisfação da prestação devida. jurisdicional poderá ser mais uma vez
No entanto, a identificação da norma convocada se o seu cumprimento sofrer
concreta ou a sua execução, ou ambas, percalço, seja pela inércia do obrigado,
quando não desenvolvidas voluntaria- seja por su~ resistência, seja pelo aten-
mente, demandam concurso estatal, o dimento insatisfatório da prestação. Nas-
que se dá pela atuação do Estado-juiz, ce, aí, a pretensão à execução forçada.
mediante exercício da sua função juris- O certo é que, para alcançar o mo-
dicional. Tomemos um exemplo. O cho- mento 3, o da execução, pressupõe-se
que entre dois automóveis, com danos superado o momento 2: executa-se a
recíprocos, é suporte fático para a inci- norma concreta já definida em seus
dência da norma estabelecida no artigo contornos. Isso vale tanto para a exe-
159 do Código Civil: "aquele que, por cução espontânea, quanto para a força-
ação ou omissão voluntária, negligência, da. Há, porém, um importante pressu-
ou imprudência, violar direito ou causar posto a distinguir uma da outra. Aque-
prejuízo a outrem, fica obrigado a repa- la, a execução espontânea, pode ocor-
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4 Sobre título executivo misto, ZAVASCKI, Teori Albino. Título Executivo e Liquidação.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 64, onde também discorremos sobre o ternário
abordado no presente estudo.
5 LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de Execução. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1968. p. 16.
6 MOREIRA. Reflexões ... p. 76.
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ás, que Camelutti via a sentença conde- cumprir sponte sua, título executivo para
natória: uma sentença de dupla declara- o autor vitorioso." 11 Poder-se-ia referir
ção, a declaração de certeza do que foi e outros exemplos, como o das sentenças
do que devia ser.? Calamandrei, a sua homologatórias de conciliação ou de
vez, descreveu a sentença condenatória transação, que, em nosso sistema, cons-
como a decisão "mediante la cualla au- tituem título executivo, inclusive, se for
toridad judicial individualizará el con- o caso, em favor do réu, e que têm por
creto precepto jurídico nacido de la nor- conteúdo, às vezes, direitos que sequer
ma, establecerá la certeza acerca de cuál foram objeto da demanda. Em tais situ-
ha sido y cuál habría debido ser el com- ações certamente não há juízo sobre ilí-
portamento dei obligado y determinará, cito ou sua sanção. Não é a aplicação da
como consecuencia, los médios prácti- sanção a um ilícito, portanto, a nota ca-
cos aptos para restablecer en concreto racterística da executividade dessa es-
la observância dei derecho violado."x pécie de sentença.
Todavia, conforme anotou o próprio Calamandrei busca superar tais ob-
Calamandrei, "nem todas as sentenças jeções sustentando que a característica
condenatórias pressupõem ato ilícito", da sentença condenatória não está na
assim como "nem todas as sentenças que aplicação ou na declaração da sanção.
certificam o ilícito são sentenças conde- "Somente há condenação", diz ele,
natórias."9 Ratificando tal objeção, Bar- "quando, por força da sentença, o vín-
bosa Moreira cita como exemplo de sen- culo obrigacional é substituído por um
tença condenatória, mas "sem correspon- vínculo de sujeição. A transformação da
dência com atos ou comportamentos an- obrigação em sujeição, esta me parece
tijurídicos", a da "condenação do litigan- ser verdadeiramente a função específi-
te vencido ao pagamento das custas pro- ca da condenação". E acrescenta:
cessuais e dos honorários de advogado "pode-se dizer que a função da senten-
do vencedor, nos sistemas que prevêem ça de condenação é a de constituir aque-
como corolário do mero fato do sucum- le estado de sujeição, por força do qual
bimento."10 Cita, outrossim, as "hipóte- o condenado é posto à mercê dos ór-
ses em que se permite ao juiz proferir, gãos executivos e submetido a supor-
antes de vencida a obrigação, sentença tar passiv~mente a execução forçada
idónea para constituir, se o réu não a como um mal inevitável." 12
13 BOBBIO, Norberto. Teoria general de derecho. Tradução Jorge Guerrero R .. 2·ed. Santa
Fe de Bogota, Colombia: Temis, 1992. p. 125.
14 TELLES JÚNIOR, Goffredo. Direito Quântico. São Paulo: Max Limound. p. 263.
15 DINIZ, Maria Helena Diniz. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 1995. p. 341.
16 TELLES JÚNIOR. Direito Quântico. p. 263.
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sanción jurídica, como ejecución forza- proferida, tem por objeto, segundo o
da de la conducta mandada en el pre- artigo 4° do CPC, a declaração "da exis-
cepto [ ... ],o como ejecución forzada de
tência ou inexistência de relação jurí-
una conduta sucedánea de reparación o
compensación, o como retribución de dica" ou "da autenticidade ou falsida-
una infracción consumada ya irremedi- de de documento". Segundo os padrões
able - pena - constituye un elemento tradicionais, não compõe seu objeto o
esencial de la norma jurídica. 17 juízo a respeito da violação da norma
individualizada ou da sanção corres-
É equívoco, portanto, afirmar que a pondente. A declaração de certeza, nes-
sentença condenatória, ou outra senten- tas ações, refere-se, como ensinava
ça qualquer, é constitutiva da sanção ou Calamandrei, ao preceito primário ("no
do estado de sujeição aos atos de execu- transgredido todavia, pero incierto") e
ção forçada. Não é esta, conseqüente- não ao mandado sancionatório. 18
mente, a justificação para a força exe- Nesse pressuposto, identificada a
cutiva dessa espécie de sentença. Sua relação entre o objeto da ação puramen-
executividade decorre, isto sim, da cir- te declaratória e a norma primária
cunstância de se tratar de sentença, que (enunciado endonormativo ), conclui-se
traz identificação completa de uma nor- que nela não se faz juízo sobre a san-
majurídica individualizada, que, por sua ção (enunciado da perinorma), do que
vez, tem em si, conforme se viu, a força somente se poderia cogitar caso já ti-
de autorizar a pretensão à tutela jurisdi- vesse havido violação. Por isso tnesmo,
cional. Se há "identificação completa" aliás, a doutrina clássica a respeito das
da norma individualizada é porque a fase lides que fazem surgir interesse de mera
cognitiva está integralmente atendida, de declaração assinala o caráter preventi-
modo que a tutela jurisdicional autori- vo da correspondente tutela jurisdicio-
zada para a situação é a executiva. nal. Não são lides de dano, mas de pro-
Ocorre que tais virtudes e caracte- babilidade de dano, dizia Carnelutti, 19
rísticas não são exclusivas da sentença e têm origem, não no descumprimento
condenatória, podendo ser encontradas da obrigação, mas sim na dúvida ares-
em outros provimentos jurisdicionais, peito da existência da relação jurídica,
inclusive em certas sentenças declara- ou do seu modo de ser ou, quem sabe,
tórias. Veja-se. do conteúdo da prestação ou da sanção
que, no futuro, poderá ser exigida. Evi-
4SENTENÇASDECLARATÓRIAS dencia-se, assim, que, em regra, na sen-
tença puramente declaratória há enun-
A ação puramente declaratória, e, ciados de certeza sobre um ou mais de
portanto, a sentença que nela vier a ser um dos elementos da norma jurídica
17 RECASENS SICHES, Luis. Estudios de filosofia del derecho. Barcelona: Bosch 1936. p.
128. No mesmo sentido: DINIZ. Compêndio ... p. 341.
18 CALAMANDREI. lnstituciones ... p. 152 e 168.
19 CARNELUTII. Derecho y Proceso. p. 67.
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concreta, mas não sobre o seu todo (en- tência da relação jurídica, mas também
donorma e perinorma), nem, especial- da exigibilidade da prestação devida,
mente, sobre a existência de uma pres- não há como negar-lhe, categoricamen-
tação exigível. te, eficácia executiva. Conforme assi-
Assim entendida tal espécie de sen- nalado anteriormente, ao legislador or-
tença, faz sentido afirmar, na linha do dinário não é dado negar executivida-
pensamento clássico, que elas não cons- de a norma jurídica concreta, certifica-
tituem títulos executivos, e se acrescen- da por sentença, se nela estiverem pre-
ta- também sob influência desses mes- sentes todos os elementos identificado-
mos padrões -, que apenas as senten- res da obrigação (sujeitos, prestação,
ças condenatórias, que trazem identifi- liquidez, exigibilidade), pois isso repre-
cação completa da norma individuali- sentaria atentado ao direito constituci-
zada, podem servir de base à execução. onal à tutela executiva, que é inerente
O Código de Processo Civil de 1939 e complemento necessário do direito de
refletia justamente essa doutrina, quan- ação. Tutela jurisdicional que se limi-
do dispunha, no seu artigo 290, que "na tasse à cognição, sem as medidas com-
ação declaratória, a sentença que ,pas- plementares necessárias para ajustar os
sar em julgado valerá como preceito, fatos ao direito declarado na sentença,
mas a execução do que houver sido de- seria tutela incompleta. E, se a norma
clarado somente poderá promover-se jurídica individualizada está definida,
em virtude de sentença condenatória". de modo completo, por sentença, não
Ocorre que o Código de 1973, no há razão alguma, lógica ou jurídica,
parágrafo único do artigo 4°, trouxe dis- para submetê-la, antes da execução, a
positivo inovador: "é admissível a ação um segundo juízo de certificação, até
declaratória ainda que tenha ocorrido a porque a nova sentença não poderia
violação do direito". Ao assim estabe- chegar a resultado diferente do da an-
lecer, dá ensejo a que a sentença, ago- terior, sob pena de comprometimento
ra, possa fazer juízo, não apenas sobre da garantia da coisa julgada, assegura-
o preceito da endonorma (mandato pri- da constitucionalmente. Instaurar a cog-
mário não transgredido), mas também nição sem oferecer às partes e princi-
sobre o da perinorma (mandato sancio- palmente ao juiz outra alternativa de
natório), permitindo, nesse último caso, resultado que não um já prefixado, re-
juízo de definição inclusive a respeito presentaria atividade meramente buro-
da exigibilidade da prestação devida. crática e desnecessária, que poderia re-
Sentença de tal conteúdo representa, ceber qualquer outro qualificativo, me-
sem dúvida, um comprometimento do nos o de jurisdicional. Portanto, repeti-
padrão clássico de tutela puramente de- mos: não há como negar executividade
claratória (como tutela tipicamente pre- à sentença que contenha definição com-
ventiva), circunstância que não pode ser pleta de norma jurídica individualiza-
desconsiderada pelo intérprete. da, com as características acima assi-
Ora, se tal sentença traz definição de naladas. Talvez tenha sido esta a razão
certeza a respeito, não apenas da exis- pela qual o legislador de 1973, que in-
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vo, já que não ocorreu eficácia alguma ção do negócio jurídico. Não é menos
("não se terá adquirido o direito, a que certo, todavia, que, enquanto pendente
ela visa", diz o Código Civil, art. 118). 20 o termo, não há inadimplemento da
Não há direito subjetivo e nem é certo obrigação e a prestação é, portanto, ine-
que ele vá nascer. Inimaginável supor xigível. Em suma: não ocorreu viola-
que a sentença que decide relação jurí- ção do direito, nem há como saber, nes-
dica sujeita a condição suspensiva pos- se momento, se ela efetivamente ocor-
sa conter imposição de sanção: não hou- rerá, já que não se pode descartar a hi-
ve violação nem é certo que irá haver, pótese de que, na ocorrência do termo,
até porque a obrigação nem mesmo haja execução espontânea da obrigação
existe e sequer é possível saber se ela pelo devedor. Não será cabível, portan-
algum dia existirá. A sentença que as- to, nas circunstâncias, pleitear judici-
sim dispusesse seria condicional e, por- almente a imposição de sanção. Sendo
tanto, nula. Ora, desconsiderada a pre- assim, e -utilizando linguagem Carne-
tensão do autor em haver a aplicação luttiana, é de se supor que as lides even-
da sanção, o interesse de agir - e, por- tualmente exsurgentes antes da oconên-
tanto, a conespondente sentença·-:. só cia do termo não serão lides de dano,
pode dizer respeito, nessas ações, à ne- mas lides de perigo, ou seja, de "pro-
cessidade de eliminar eventuais incer- babilidade de dano". 21 Só podem ser
tezas sobre a relação jurídica, ou seja, lides que surgem pela contestação da
a sentença de procedência só pode ter existência da relação jurídica, ou do seu
natureza declaratória. modo de ser, ou, quem sabe, do con-
No que respeita à relação jurídica teúdo da sanção que poderá vir a ser
sujeita a termo (inicial), o problema não exigida em caso de futuro - mas ainda
é muito diferente. É sabido que, nessa incerto- inadimplemento da prestação.
espécie de relação, o direito subjetivo Conseqüentemente, o interesse de agir
existe mesmo antes do advento do ter- estará limitado a obter, por sentença, um
mo, pois, ao contrário do que se passa acertamento preventivo sobre a existên-
com a condição suspensiva, ele nasce cia ou o conteúdo da relação jurídica, 22
com a prática do ato ou com a celebra- ou, como diria Calamandrei, "a elimi-
20 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições Direito Civil. Rio de janeiro: Forense. v.2. p.
82; DINIZ, Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
v.2. p. 132.
21 CARNELUTII. Derecho y Proceso. v. 1. p. 67.
22 São raros os precedentes jurisprudenciais sobre sentença que julga relação jurídica sujeita a
condição ou a termo. Especificamente sobre relação jurídica a termo, registram-se os casos de
demandas promovidas contra administradoras de consórcio, que, com base em cláusula contra-
tual, entendiam indevida a incidência de correção monetária sobre o valor das prestações a serem
restituídas aos consorciados desistentes. A jurisprudência que se firmou no STJ foi no sentido de
que, embora a restituição fosse devida tão somente depois de trinta dias do encerramento do plano
(obrigação a termo, portanto), já detinha o consorciado, antes desse prazo, interesse de agir, con-
siderada a manifesta e antecipada resistência da administradora em reconhecer o direito à referida
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correção. Sobre a natureza da pretensão que, nessas circunstâncias poderia ser judicialmente de-
duzida, não houve, contudo, harmonia de entendimento. Há precedentes no sentido de que se trata
de "sentença condenatória a termo" (Resp 53.193-4, 3a Turma, Min. Eduardo Ribeiro. DJ de
31.10.94), mas, em nosso entender, mais precisos são os julgados segundo os quais o consorciado
pode é promover "ação para ver declarado seu direito à atualização de seu crédito" (Resp 56.316,
Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 07.08.95). Aliás, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
onde essas questões tiveram origem, admitindo a existência de interesse de agir do consorciado,
deixou evidenciado, em acórdão de lavra do Des. Araken de Assis, a natureza preventiva (e, por-
tanto, não condenatória) da tutela que, nestes casos, é conferida ao demandante (Apelação Cível
593.016.413, 5a Câmara Cível. Revista Jurídica 191:57).
23 CALAMANDREI. Instituciones ... p. 152.
24 CARNELUTTI. Derecho y Proceso. v. I. p. 355.
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25 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Sentença e Coisa Julgada. 2. ed. Porto Alegre: Fabris,
1988.p.l13.
26 STF, RE 99.339, 1a Turma, Min. Sydney Sanches, RTJ 114:693; STJ, Resp 18.000, 4a
Turma, Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 07.06.93.
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