Vandenplas-Holper (2000). Desenvolvimento Psicológico na Idade Adulta e Durante a Velhice. Porto: Edições Asa.
1.Definição e objecto de estudo
Desde os anos setenta do século XX que Paul Baltes e uma rede de
investigadores se envolveu na formulação dos princípios teóricos que orientam o estudo do desenvolvimento psicológico ao longo de toda a vida e na realização de investigações nessa área.
A 1ª definição proposta por Baltes e Goulet em 1970, afirma que a
“Psicologia do Desenvolvimento ao Longo de Toda a Vida”, (como a denomina a autora do capítulo que aqui resumimos, Vandenplas-Holper) ou, como Paul Baltes a passou a designar, a Psicologia do Ciclo de Vida ( Life Span Psychology, no original inglês), interessa-se pela descrição e explicação das mudanças ontogenéticas ligadas à idade, do nascimento até à morte. ONTOGÉNESE designa o desenvolvimento geral- físico e mental- do indivíduo, desde o óvulo fecundado até à morte. Opõe-se a Filogénese que se refere ao desenvolvimento da espécie.
A 2ªa definição ,proposta em 1980, alarga os objectivos e o domínio de
aplicação, afirmando que a Psicologia do Ciclo de Vida visa a “ descrição, explicação e optimização dos processos de desenvolvimento ao longo de toda a vida, da concepção até à morte.” Uma 3ª definição em 1987 define, ainda mais explicitamente, a Psicologia do Ciclo de Vida, ou Psicologia do Desenvolvimento ao longo de Toda a Vida, como o estudo da constância e da mudança que se manifestam na conduta humana ao longo da ontogénese, da concepção até à morte. Ela elabora princípios gerais sobre -A natureza do desenvolvimento, -Sobre as diferenças interindividuais, -Sobre as semelhanças entre as pessoas e -Também sobre as condições que regem a plasticidade interindividual.”
2. Perspectiva do desenvolvimento humano
2.1 Tipos de Influências Baltes, Reese e Lipsitt (1980) – apresentam um modelo interactivo e multicausal do desenvolvimento humano, constituído por processos contínuos e descontínuos, que implica ganhos mas também perdas que a pessoa tenta compensar, em que três tipos de influências interagem constantemente, são elas:
1. As influências ontogenéticas normativas ligadas à
idade, que são constituídas por determinantes biológicos e ambientais fortemente ligados à idade cronológica. 2. As influências normativas ligadas à história, que são constituídas pelos determinantes biológicos e ambientais associados ao contexto histórico em que evoluem as diferentes coortes, isto é, os grupos de pessoas nascidas num determinado momento da história. Estas influências são normativas, tais como as ontogenéticas, na medida em que se aplicam de maneira idêntica à maior parte das pessoas consideradas. 3. Os acontecimentos significativos da vida, de natureza não normativa, são constituídos pelos determinantes biológicos e ambientais que afectam as pessoas sem que haja qualquer homogeneidade interindividual ou, noutros termos, sem que haja qualquer regularidade em função da idade ou em função da evolução histórica. Estes acontecimentos ( ou “crises”) evidenciam que cada pessoa é única e reage de um modo singular.
2.2 Ideias Directoras
1ª. O desenvolvimento ontogenético é um processo que se estende sobre toda a duração do ciclo de vida ( life span ou life cycle, no original inglês).
2ª. O desenvolvimento é multidimensional e multidireccional.
3ª. O desenvolvimento é constituído pelo conjunto de mudanças
que se operam nas capacidades adaptativas do organismo - quer no sentido positivo, quer negativo. A interacção dinâmica entre ganhos e perdas é, portanto, um processo adaptativo geral constituído pelos processos da optimização selectiva e da compensação, que constituem um elemento essencial do designado “ envelhecimento feliz” ou, como é designado por Paul Baltes e outros investigadores e é normalmente designado, “ envelhecimento bem-sucedido” ( successful aging, no original inglês). 4ª. O desenvolvimento é caracterizado pela plasticidade. As pessoas demonstram uma grande variabilidade intra-individual ao longo da vida.
5ª. O desenvolvimento ontogenético está inserido em diferentes
contextos, ligados à idade, aos factores sócio-históricos e aos acontecimentos significativos da vida. Sexo (género), estatuto socioeconómico e etnia são outros factores externos que modelam as diferenças interindividuais que se manifestam ao longo da vida. Associada a esta ideia orientadora a está uma perspectiva dialéctica do desenvolvimento humano que considera que a pessoa desempenha um papel activo no seu próprio desenvolvimento, interage com ele, é agente ou produtora do seu próprio desenvolvimento.
6ª. Para ser fecundo o estudo do desenvolvimento humano tem de
se realizar numa perspectiva interdisciplinar, com a colaboração de biólogos, historiadores e sociólogos, entre outros especialistas.