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ARTIGO ORIGINAL

Nível de atividade física e exercício físico em pacientes com


diabetes mellitus
Camila Kümmel Duarte1, Jussara Carnevale de Almeida2, Aline Juliana Schneider Merker3, Fabiane de Oliveira Brauer3,
Ticiana da Costa Rodrigues4
1
Nutricionista; Pós-graduanda em Ciências Médicas (Endocrinologia), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil
2
Doutora em Ciências Médicas (Endocrinologia), UFRGS; Professora Adjunta do Departamento de Medicina Interna, UFRGS; Professora Orientadora do Programa de
Pós-graduação em Ciências Médicas (Endocrinologia), UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
3
Nutricionistas e/ou Professoras de Educação Física; Colaboradoras do Serviço de Endocrinologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS, Brasil
4
Pós-Doutora, University of Colorado; Médica Contratada, HCPA; Professora Orientadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas (Endocrinologia), UFRGS,
Porto Alegre, RS, Brasil

Resumo
Objetivo: Comparar nível de atividade física (NAF) e cuidados relacionados ao exercício físico
(EF) em pacientes com diabetes mellitus (DM). Métodos: Pacientes com DM ambulatoriais (adul-
tos e usuários de insulina) foram avaliados conforme NAF (questionário internacional; atividades
moderadas, intensas e caminhadas realizadas em uma semana típica), questionados sobre prática
formal de EF, autocuidado e episódios de hipoglicemia relacionados ao EF e motivos para não pra-
ticá-lo. Resultados: Foram avaliados 225 pacientes: 107 (47,6%) com diabetes mellitus tipo 2 (DM2)
e 118 (52,4%) com diabetes mellitus tipo 1 (DM1), sendo maior o número de pacientes com DM2
classificados como pouco ativos [33 (30,7%) vs. 12 (10,3%)] e menor a proporção dos muito ativos
[9 (8,7%) vs. 29 (25%)], quando comparados com pacientes com DM1. Não praticantes de
EF (n = 140) o faziam por motivos diferentes: pacientes com DM2 por “desconforto”, “restrição
médica” e “não gostarem”; pacientes com DM1 por “falta de tempo”, “preguiça” e “hipoglicemia”.
Apenas 85 pacientes praticavam EF regularmente, independente do NAF, e 38,8% realizavam au-
tocuidados como alimentação, alongamento, monitoramento da glicemia capilar. Pacientes com
DM2 [5 (14,3%)] relataram menos episódios de hipoglicemia relacionada ao EF do que aqueles
com DM1 [17 (34%)]. Conclusão: Pacientes com DM2 possuem NAF e comportamento relaciona-
do à prática de EF diferentes de pacientes com DM1.
Unitermos: Diabetes mellitus; hipoglicemia; autocuidado; exercício.
©2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

Summary
Physical activity level and exercise in patients with diabetes mellitus
Objective: To compare physical activity level (PAL) and care related to exercise in patients with
diabetes mellitus (DM). Methods: DM outpatients (adult, insulin-user patients) were assessed for
PAL (international questionnaire; moderate- and high-level activities, as well as walking, over a
Trabalho realizado no Serviço de
Endocrinologia do Hospital typical week) and questioned about formal exercise practice, self-care, and hypoglycemic episodes
de Clínicas de Porto Alegre, related to exercise or reasons for not exercising. Results: Two hundred twenty-five patients were
Porto Alegre, RS, Brasil
assessed: 107 (47.6%) had type 2 diabetes mellitus (DM2) and 118 (52.4%) had type 1 diabetes
mellitus (DM1), with a larger percentage of patients with DM2 being classified as poorly active [33
Artigo recebido: 12/07/2011
(30.7%) versus 12 (10.3%)] and a lower percentage being classified as highly active [9 (8.7%) versus
Aceito para publicação: 27/12/2011 29 (25%)], compared with patients having DM1. Patients who do not exercise (n = 140) gave differ-
ent reasons for not doing so: patients with DM2 claimed that they “felt uncomfortable”, “presented
medical restrictions”, and “did not like it”; DM1 patients claimed that they “had no time to exercise”,
“were lazy”, and “had hypoglycemic episodes”. Only 85 patients exercised regularly, regardless of
Correspondência para: the PAL, and 38.8% performed self-care, such as eating, stretching, and capillary glucose monitor-
Camila Kümmel Duarte ing. Patients with DM2 [5 (14.3%)] reported a lower number of hypoglycemic episodes related to
Rua Ramiro Barcelos, 2350, Prédio
12 - 4º andar
exercise than those with DM1 [17 (34%)]. Conclusion: Patients with DM2 have different PAL and
CEP: 90035-003 behavior related to exercise than those seen in DM1 patients.
Porto Alegre – RS, Brasil
camila.kummel@gmail.com Keywords: Diabetes mellitus; hypoglycemia; self-care; exercise.
©2012 Elsevier Editora Ltda. All rights reserved.
Conflito de interesse: Não há.

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Camila Kümmel Duarte et al. Nível de atividade física e exercício físico em pacientes com diabetes mellitus

Introdução iniciado com a mesma somente após cinco anos do diag- referência de 4,8-6,0%), colesterol total e triacilgliceróis Resultados
O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome que constitui nóstico de DM10. Foram incluídos apenas pacientes com séricos por método enzimático-colorimétrico (Modular P; Foram avaliados 225 pacientes com DM, sendo 107 pa-
um problema de saúde pública, devido à elevada prevalên- idade superior a 18 anos e que faziam uso regular de in- Roche Diagnostics, Basel, Suíça), colesterol HDL por mé- cientes com DM1 (47,6%) e 118 com DM2 (52,4%). As
cia, morbimortalidade e custos do tratamento1. Estima-se sulina. Os pacientes elegíveis, após assinatura do termo todo homogêneo direto (autoanalisador, ADVIA 1650) e características demográficas, clínicas, antropométricas,
que em 2030 haverá um acréscimo de 42% no número de de consentimento livre e esclarecido, responderam ao colesterol LDL estimado pela fórmula de Friedewald’s (co- de estilo de vida e laboratoriais dos pacientes de acordo
indivíduos com DM no mundo1. No Brasil, a prevalência questionário internacional de avaliação de NAF e a per- lesterol LDL = colesterol total - colesterol HDL - triacilgli- com o tipo de DM (DM1 vs. DM2) estão descritas na Ta-
total do DM é de 7,6% e destes, 46% desconhecem ter o guntas sobre autocuidado e relato de hipoglicemia no EF. ceróis/5), quando valores de triacilgliceróis < 400 mg/dL14. bela 1. Diferenças em relação a idade, IMC, estatura, anos
diagnóstico2. A prática de pelo menos 150 minutos sema- Características clínicas, antropométricas e laboratoriais As dosagens foram realizadas no Serviço de Patologia Clí- de estudo, proporção de brancos, consumo de bebidas al-
nais de atividade física (AF) com intensidade moderada é foram coletadas do prontuário do paciente referente à nica do HCPA. coólicas (vinho e cerveja), glicemia de jejum, valores de
recomendada aos pacientes com DM3. Em revisão siste- consulta com médico assistente concomitante à aplica- HDL-colesterol e triacilgliceróis foram observadas entre
mática seguida de metanálise publicada recentemente, foi ção do questionário. O presente protocolo foi aprovado Análise estatística pacientes com DM tipo 2 e pacientes com DM tipo 1.
verificado que 150 minutos de exercício físico (EF) aeró- pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital de Clínicas A simetria das variáveis foi testada por Kolmogorov Sessenta e cinco pacientes (55,1%) com DM2 e 58 pa-
bico por pelo menos 12 semanas reduzem a hemoglobina de Porto Alegre (HCPA). Smirnov. Os resultados estão expressos como média ± DP, cientes (54,2%) com DM1 relataram ter acompanhamen-
glicada em 0,5% (IC 95% -0,79; -0,23%) em pacientes com mediana (intervalo interquartil) ou como número de pa- to com nutricionista, sem diferença entre os dois grupos
DM4. Entretanto, uma limitação à prática de EF é o maior Procedimentos cientes com a característica analisada de cada grupo (%) (p = 0,865).
número de episódios de hipoglicemia reportados5. Portan- Para avaliação do NAF foi utilizado o Questionário Inter- conforme o tipo de variável (contínua ou categórica) e sua
to, recomendações referentes ao consumo alimentar, auto- nacional de Atividade Física (IPAQ), em sua versão longa, simetria. Para a comparação entre os dois grupos de pa- NAF e prática regular de EF
monitorização e ajuste na dose de insulina devem ser feitas com 27 questões autoaplicáveis em cinco seções: AF rea- cientes (DM1 vs. DM2) foram utilizados testes t de Stu- O NAF, definido a partir do questionário IPAQ, que con-
de maneira individualizada e sempre consideradas quando lizadas no trabalho, AF como meio de transporte, AF em dent, U de Mann-Whitney, Qui-quadrado ou Exato de sidera frequência e duração de caminhadas, realização de
o EF for prescrito ou indicado ao paciente com DM6. casa (como tarefas domésticas e cuidados com a família), Fisher, conforme indicado. atividades moderadas e vigorosas em uma semana típica,
Em levantamento telefônico (estudo VIGITEL), nas AF de lazer (recreação, esportes, EF) e tempo gasto sen- Modelo de regressão logística múltipla foi construído foi avaliado, e a distribuição dos pacientes de acordo com
26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, a prevalên- tado (em um dia de semana e um dia de final de semana para avaliar a possível associação entre cada aspecto de a classificação proposta está apresentada na Figura 1. Uma
cia autorrelatada de inatividade nos períodos de lazer em típico). Os pacientes foram classificados em sedentários, autocuidado relacionado ao EF (monitoramento da gli- maior proporção de pouco ativos e uma menor proporção
54.369 brasileiros foi de 60%7. Essa elevada prevalência de pouco ativos e muito ativos, a partir da estimativa de gasto cemia capilar, alimentação e ajuste da dose de insulina) de muito ativos foram observadas no grupo dos pacien-
sedentarismo não é diferente em indivíduos com glicemia energético diário segundo unidades metabólicas11. A prá- e relato de hipoglicemias (variável dependente). Foram tes com DM2 em relação ao grupo de pacientes com DM1
alterada ou diabetes8, apesar do maior risco de mortalida- tica regular de EF (frequência, tipo de atividade e tempo considerados estatisticamente significativos valores de (p <  0,001). Ao comparar a classificação do NAF com o
de cardiovascular em pacientes com DM tipo 2 quando de realização) também foi questionada. Entre os pacientes p < 0,05 (SPSS 16.0; SPSS Inc. Chicago, IL). relato de EF, observou-se que seis dos 51 pacientes (11,8%)
comparados à população em geral9. que relataram praticar EF, objetivando avaliar o conheci-
Desse modo, o conhecimento do NAF dos pacientes mento referente à recomendação do autocuidado relacio- Tabela 1 – Características demográficas, clínicas, antropométricas, de estilo de vida e laboratoriais dos pacientes de acordo com o tipo
com DM, na prática clínica, possibilitaria a elaboração nada ao EF12, foi feita uma pergunta aberta sobre a reali- de diabetes (n = 225)
de estratégias para incentivo da prática de EF, bem como zação de algum tipo de cuidado específico (antes, durante   Pacientes com DM1 Pacientes com DM2 p
orientação mais direcionada às medidas de autocuidado ou após cada EF). Questões sobre alterar ou não a dose
para redução de episódios de hipoglicemia. Adicional- n 107 118 –
de insulina, realização de lanche antes ou após o exercício
mente, acredita-se que pacientes com DM1 e DM2 pos- físico e sintomas possivelmente relacionados com hipo- Homens 51,0 (47,7%) 43,0 (36,4%) 0,0881
suem características e necessidades distintas relacionadas glicemia também foram feitas. Para os pacientes que re- Idade (anos) 37 ± 11 62 ± 11 < 0,0012
à prática de AF. O objetivo do presente trabalho foi com- lataram não realizar EFs, os motivos para a não realização Brancos 95,0 (88,8%) 90,0 (76,3%) 0,0131
parar o NAF e os cuidados relacionados à prática de EF foram questionados. Duração do DM (anos) 17 ± 9 17 ± 9 0,5222
entre pacientes com DM1 e DM2. As medidas antropométricas utilizadas para a avalia-
IMC (kg/m ) 2
24,8 ± 4,0 30,2 ± 5,3 < 0,0012
ção do estado nutricional foram aferição do peso (balan-
Métodos ça antropométrica Filizola®) e altura (estadiômetro fixo) Estatura (cm) 166,0 ± 9,4 159,9 ± 15,9 0,0012
Delineamento do estudo e pacientes com roupas leves e sem sapatos. Para classificação do es- Escolaridade (anos) 10 ± 3 6±4 < 0,0012
Estudo transversal de pacientes com DM1 e DM2 aten- tado nutricional foi utilizado o índice de massa corporal Tabagismo atual 13,0 (12,1%) 13,0 (11%) 0,5811
didos consecutivamente no Ambulatório de Diabetes do [(IMC) = peso (kg) / altura (m)²] segundo os critérios es- Consumo de bebida alcoólica 29,0 (27,1%) 17,0 (14,5%) 0,0201
Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Por- tabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)13. Número de drinques por semana 1,0 (0,5-2,0) 1,0 (0,5-1,6) 0,6293
to Alegre (HCPA) no período de julho de 2008 a agosto Etnia (brancos e não brancos), escolaridade (anos de estudo)
Glicemia de jejum (mg/dL) 205 ± 105 163 ± 65 < 0,0012
de 2009. Para o diagnóstico de DM1 foram utilizados os e tabagismo atual foram autorreferidos. O relato de consu-
seguintes critérios da Organização Mundial de Saúde, de mo de bebida alcoólica foi feito a partir do número de doses HbA1C (%) 9,2 ± 2,2 9,2 ± 1,9 0,9112
maneira resumida: diagnóstico de DM antes dos 30 anos (14 g de etanol) por dia, semana ou mês e dividido em do- Colesterol total (mg/dL) 183 ± 41 175 ± 45 0,2082
e necessidade de uso de insulina no primeiro ano de diag- ses semanais. Colesterol HDL (mg/dL) 60 ± 16 48 ± 16 < 0,0012
nóstico e/ou presença de cetoacidose diabética ou tendên- Para a avaliação laboratorial foram utilizados os exa- Colesterol LDL (mg/dL) 102 ± 33 94 ± 39 0,1182
cia à cetose. O diagnóstico de DM2 foi estabelecido da mes disponíveis no prontuário dos pacientes: glicemia
Triacilgliceróis (mg/dL) 81 (58-117) 143 (105-117) < 0,0013
seguinte maneira: pacientes que tivessem mais de 30 anos plasmática (método enzimático colorimétrico), HbA1c
Dados apresentados como média ± DP, mediana (intervalo interquartil) ou número de casos para total de pacientes de cada grupo (%).
de idade no início do DM, sem episódios precedentes de (cromatografia líquida de alta precisão, aparelho Tosoh 2.2 HbA1C, hemoglobina glicada (valores de referência = 4,8 - 6,0%); 1Qui-quadrado; 2teste t de Student; 3teste U de Mann-Whitney.
cetoacidose, e aqueles usuários de insulina que tivessem Plus Hb A1c; Tosoh Corporation, Tokio Japão; valores de

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Introdução iniciado com a mesma somente após cinco anos do diag- referência de 4,8-6,0%), colesterol total e triacilgliceróis Resultados
O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome que constitui nóstico de DM10. Foram incluídos apenas pacientes com séricos por método enzimático-colorimétrico (Modular P; Foram avaliados 225 pacientes com DM, sendo 107 pa-
um problema de saúde pública, devido à elevada prevalên- idade superior a 18 anos e que faziam uso regular de in- Roche Diagnostics, Basel, Suíça), colesterol HDL por mé- cientes com DM1 (47,6%) e 118 com DM2 (52,4%). As
cia, morbimortalidade e custos do tratamento1. Estima-se sulina. Os pacientes elegíveis, após assinatura do termo todo homogêneo direto (autoanalisador, ADVIA 1650) e características demográficas, clínicas, antropométricas,
que em 2030 haverá um acréscimo de 42% no número de de consentimento livre e esclarecido, responderam ao colesterol LDL estimado pela fórmula de Friedewald’s (co- de estilo de vida e laboratoriais dos pacientes de acordo
indivíduos com DM no mundo1. No Brasil, a prevalência questionário internacional de avaliação de NAF e a per- lesterol LDL = colesterol total - colesterol HDL - triacilgli- com o tipo de DM (DM1 vs. DM2) estão descritas na Ta-
total do DM é de 7,6% e destes, 46% desconhecem ter o guntas sobre autocuidado e relato de hipoglicemia no EF. ceróis/5), quando valores de triacilgliceróis < 400 mg/dL14. bela 1. Diferenças em relação a idade, IMC, estatura, anos
diagnóstico2. A prática de pelo menos 150 minutos sema- Características clínicas, antropométricas e laboratoriais As dosagens foram realizadas no Serviço de Patologia Clí- de estudo, proporção de brancos, consumo de bebidas al-
nais de atividade física (AF) com intensidade moderada é foram coletadas do prontuário do paciente referente à nica do HCPA. coólicas (vinho e cerveja), glicemia de jejum, valores de
recomendada aos pacientes com DM3. Em revisão siste- consulta com médico assistente concomitante à aplica- HDL-colesterol e triacilgliceróis foram observadas entre
mática seguida de metanálise publicada recentemente, foi ção do questionário. O presente protocolo foi aprovado Análise estatística pacientes com DM tipo 2 e pacientes com DM tipo 1.
verificado que 150 minutos de exercício físico (EF) aeró- pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital de Clínicas A simetria das variáveis foi testada por Kolmogorov Sessenta e cinco pacientes (55,1%) com DM2 e 58 pa-
bico por pelo menos 12 semanas reduzem a hemoglobina de Porto Alegre (HCPA). Smirnov. Os resultados estão expressos como média ± DP, cientes (54,2%) com DM1 relataram ter acompanhamen-
glicada em 0,5% (IC 95% -0,79; -0,23%) em pacientes com mediana (intervalo interquartil) ou como número de pa- to com nutricionista, sem diferença entre os dois grupos
DM4. Entretanto, uma limitação à prática de EF é o maior Procedimentos cientes com a característica analisada de cada grupo (%) (p = 0,865).
número de episódios de hipoglicemia reportados5. Portan- Para avaliação do NAF foi utilizado o Questionário Inter- conforme o tipo de variável (contínua ou categórica) e sua
to, recomendações referentes ao consumo alimentar, auto- nacional de Atividade Física (IPAQ), em sua versão longa, simetria. Para a comparação entre os dois grupos de pa- NAF e prática regular de EF
monitorização e ajuste na dose de insulina devem ser feitas com 27 questões autoaplicáveis em cinco seções: AF rea- cientes (DM1 vs. DM2) foram utilizados testes t de Stu- O NAF, definido a partir do questionário IPAQ, que con-
de maneira individualizada e sempre consideradas quando lizadas no trabalho, AF como meio de transporte, AF em dent, U de Mann-Whitney, Qui-quadrado ou Exato de sidera frequência e duração de caminhadas, realização de
o EF for prescrito ou indicado ao paciente com DM6. casa (como tarefas domésticas e cuidados com a família), Fisher, conforme indicado. atividades moderadas e vigorosas em uma semana típica,
Em levantamento telefônico (estudo VIGITEL), nas AF de lazer (recreação, esportes, EF) e tempo gasto sen- Modelo de regressão logística múltipla foi construído foi avaliado, e a distribuição dos pacientes de acordo com
26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, a prevalên- tado (em um dia de semana e um dia de final de semana para avaliar a possível associação entre cada aspecto de a classificação proposta está apresentada na Figura 1. Uma
cia autorrelatada de inatividade nos períodos de lazer em típico). Os pacientes foram classificados em sedentários, autocuidado relacionado ao EF (monitoramento da gli- maior proporção de pouco ativos e uma menor proporção
54.369 brasileiros foi de 60%7. Essa elevada prevalência de pouco ativos e muito ativos, a partir da estimativa de gasto cemia capilar, alimentação e ajuste da dose de insulina) de muito ativos foram observadas no grupo dos pacien-
sedentarismo não é diferente em indivíduos com glicemia energético diário segundo unidades metabólicas11. A prá- e relato de hipoglicemias (variável dependente). Foram tes com DM2 em relação ao grupo de pacientes com DM1
alterada ou diabetes8, apesar do maior risco de mortalida- tica regular de EF (frequência, tipo de atividade e tempo considerados estatisticamente significativos valores de (p <  0,001). Ao comparar a classificação do NAF com o
de cardiovascular em pacientes com DM tipo 2 quando de realização) também foi questionada. Entre os pacientes p < 0,05 (SPSS 16.0; SPSS Inc. Chicago, IL). relato de EF, observou-se que seis dos 51 pacientes (11,8%)
comparados à população em geral9. que relataram praticar EF, objetivando avaliar o conheci-
Desse modo, o conhecimento do NAF dos pacientes mento referente à recomendação do autocuidado relacio- Tabela 1 – Características demográficas, clínicas, antropométricas, de estilo de vida e laboratoriais dos pacientes de acordo com o tipo
com DM, na prática clínica, possibilitaria a elaboração nada ao EF12, foi feita uma pergunta aberta sobre a reali- de diabetes (n = 225)
de estratégias para incentivo da prática de EF, bem como zação de algum tipo de cuidado específico (antes, durante   Pacientes com DM1 Pacientes com DM2 p
orientação mais direcionada às medidas de autocuidado ou após cada EF). Questões sobre alterar ou não a dose
para redução de episódios de hipoglicemia. Adicional- n 107 118 –
de insulina, realização de lanche antes ou após o exercício
mente, acredita-se que pacientes com DM1 e DM2 pos- físico e sintomas possivelmente relacionados com hipo- Homens 51,0 (47,7%) 43,0 (36,4%) 0,0881
suem características e necessidades distintas relacionadas glicemia também foram feitas. Para os pacientes que re- Idade (anos) 37 ± 11 62 ± 11 < 0,0012
à prática de AF. O objetivo do presente trabalho foi com- lataram não realizar EFs, os motivos para a não realização Brancos 95,0 (88,8%) 90,0 (76,3%) 0,0131
parar o NAF e os cuidados relacionados à prática de EF foram questionados. Duração do DM (anos) 17 ± 9 17 ± 9 0,5222
entre pacientes com DM1 e DM2. As medidas antropométricas utilizadas para a avalia-
IMC (kg/m ) 2
24,8 ± 4,0 30,2 ± 5,3 < 0,0012
ção do estado nutricional foram aferição do peso (balan-
Métodos ça antropométrica Filizola®) e altura (estadiômetro fixo) Estatura (cm) 166,0 ± 9,4 159,9 ± 15,9 0,0012
Delineamento do estudo e pacientes com roupas leves e sem sapatos. Para classificação do es- Escolaridade (anos) 10 ± 3 6±4 < 0,0012
Estudo transversal de pacientes com DM1 e DM2 aten- tado nutricional foi utilizado o índice de massa corporal Tabagismo atual 13,0 (12,1%) 13,0 (11%) 0,5811
didos consecutivamente no Ambulatório de Diabetes do [(IMC) = peso (kg) / altura (m)²] segundo os critérios es- Consumo de bebida alcoólica 29,0 (27,1%) 17,0 (14,5%) 0,0201
Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Por- tabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)13. Número de drinques por semana 1,0 (0,5-2,0) 1,0 (0,5-1,6) 0,6293
to Alegre (HCPA) no período de julho de 2008 a agosto Etnia (brancos e não brancos), escolaridade (anos de estudo)
Glicemia de jejum (mg/dL) 205 ± 105 163 ± 65 < 0,0012
de 2009. Para o diagnóstico de DM1 foram utilizados os e tabagismo atual foram autorreferidos. O relato de consu-
seguintes critérios da Organização Mundial de Saúde, de mo de bebida alcoólica foi feito a partir do número de doses HbA1C (%) 9,2 ± 2,2 9,2 ± 1,9 0,9112
maneira resumida: diagnóstico de DM antes dos 30 anos (14 g de etanol) por dia, semana ou mês e dividido em do- Colesterol total (mg/dL) 183 ± 41 175 ± 45 0,2082
e necessidade de uso de insulina no primeiro ano de diag- ses semanais. Colesterol HDL (mg/dL) 60 ± 16 48 ± 16 < 0,0012
nóstico e/ou presença de cetoacidose diabética ou tendên- Para a avaliação laboratorial foram utilizados os exa- Colesterol LDL (mg/dL) 102 ± 33 94 ± 39 0,1182
cia à cetose. O diagnóstico de DM2 foi estabelecido da mes disponíveis no prontuário dos pacientes: glicemia
Triacilgliceróis (mg/dL) 81 (58-117) 143 (105-117) < 0,0013
seguinte maneira: pacientes que tivessem mais de 30 anos plasmática (método enzimático colorimétrico), HbA1c
Dados apresentados como média ± DP, mediana (intervalo interquartil) ou número de casos para total de pacientes de cada grupo (%).
de idade no início do DM, sem episódios precedentes de (cromatografia líquida de alta precisão, aparelho Tosoh 2.2 HbA1C, hemoglobina glicada (valores de referência = 4,8 - 6,0%); 1Qui-quadrado; 2teste t de Student; 3teste U de Mann-Whitney.
cetoacidose, e aqueles usuários de insulina que tivessem Plus Hb A1c; Tosoh Corporation, Tokio Japão; valores de

216 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 217
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classificados como pouco ativos pelo IPAQ relataram pra- Praticantes regulares de EF e os cuidados específicos Tabela 2 – Características da prática de EF e de autocuidado dos pacientes que relataram praticar EF regularmente (n = 85)
ticar EF regularmente, e 18 dos 40 pacientes (45%) classi- relacionados à prática de EF
  DM tipo 1 DM tipo 2 p
ficados como muito ativos relataram não realizar EF regu- Do total de 225 pacientes com DM, apenas 85 (37,1%) re-
larmente (p < 0,001). n 50 35 –
lataram praticar regularmente EF, independente da clas-
sificação do NAF obtido pelo IPAQ. A Tabela 2 mostra EF regular 50 (46,7%) 35 (29,7%) 0,0081
as características de tempo e tipo de EF e cuidados rela- Tempo de EF (minutos/semana) 199 ± 142 171 ± 105 0,3352
64,7%
60,6%
cionados a essa prática nos pacientes praticantes de EF EF aeróbico 45 (90%) 35 (100%) 0,1561
regular. Uma menor proporção de pacientes com DM2
Proporção de pacientes (%)

Cuidado antes, durante ou após EF 19 (38%) 14 (40%) 0,8521


(29,7%) relatou praticar EF regularmente quando com- Lanche associado ao EF 30 (60%) 32 (91,4%) 0,1501
*
parada com o grupo de pacientes com DM1 (46,7%);
30,7% Ajuste da dose de insulina 7 (14%) 2 (6%) 0,2211
25% p = 0,008. Apenas cinco pacientes com DM1 relataram
praticar exercícios de força, sendo que um deles relatou a Monitoramento glicemia capilar 7 (14%) 0 (0%) 0,038¹
*
10,3% prática concomitante de EF aeróbicos. Hipoglicemia relacionada ao EF 17 (34%) 5 (14,3%) 0,0411
8,7%
Entre os 85 pacientes que relataram EF regulares, 33 Dados apresentados como média ± DP, mediana (intervalo interquartil) ou número de casos para total de pacientes de cada grupo (%);
EF, exercício físico; 1Qui-quadrado; 2teste t de Student.
(38,8%) reportaram algum cuidado para realizá-los: “ali-
Pouco ativos Ativos Muito ativos
mentação” foi citada por 40% deles, seguida pelo “alonga-
Figura 1 – Distribuição dos pacientes com DM1 (em cinza mento”, realizado por 27,3% dos pacientes, “alongamento Tabela 3 – Modelo de regressão logística com variável dependente de “relato de episódios de hipoglicemia no EF” (n = 85)
escuro no gráfico; n = 107) e DM2 (em cinza claro no gráfico; n associado ao aquecimento” (9%), “monitoramento da
Variável RC IC 95% p
= 118) de acordo com os níveis de atividade física (IPAQ 2009); glicemia capilar” (9%) e “monitoramento da glicemia as-
*p < 0,001 (teste Qui-quadrado). Não modificar a dose de insulina no EF (bruto) 2,58 0,625-10,634 0,190
sociado à alimentação” (9%). Apenas dois pacientes (6%)
realizavam “monitoramento da glicemia capilar associado Não modificar a dose de insulina no EF ajustada 1
1,94 0,428-8,836 0,389

Motivos relatados pelos pacientes para não praticar EF ao alongamento”. Os sintomas de hipoglicemia relatados Não modificar a dose de insulina no EF ajustada2 2,2 0,463-10,163 0,326
pelos pacientes foram “suor”, “tremor”, “confusão”, “deso-        
regularmente
Não realizar o lanche associado ao EF 1,36 0,436-4,240 0,596
Cento e quarenta pacientes relataram não praticar EF re- rientação”, “fraqueza” e “mal-estar”. A Tabela 2 mostra ou-
tros cuidados realizados para a prática de EF. Não realizar o lanche associado ao EF1 2,14 0,613-7,510 0,232
gularmente por motivos diferentes de acordo com o tipo
de DM. A Figura 2 apresenta a proporção de pacientes A Tabela 3 mostra os resultados da análise de regressão Não realizar o lanche associado ao EF 2
2,00 0,551-7,251 0,293
múltipla para os fatores associados à presença de hipo-        
conforme os motivos relatados para não praticar EF: os Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF 4,44 0,909-21,727 0,065
pacientes com DM2 afirmaram “por desconforto”, “por glicemias relacionadas ao EF. As variáveis independentes
foram escolhidas com base nos resultados das análises uni- Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF1 4,52 0,709-28,770 0,111
restrição médica” e “por não gostarem”, enquanto os pa-
cientes com DM1, “por falta de tempo”, “por preguiça” e variadas e por importância biológica previamente conhe- Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF 2
4,37 0,674-28,368 0,120
“por episódios de hipoglicemia” (p < 0,001). cida. Não foi encontrada associação entre as medidas de 1
Modelo 1, ajuste para tipo de DM, IMC, tempo de EF por semana, tipo de EF (aeróbico ou resistência); 2modelo 2, ajuste para as variáveis do modelo
1 + duas outras medidas de autocuidado relacionadas ao EF.
autocuidado para a prática de EF e hipoglicemias relacio-
nadas ao EF.
eram mais velhos, tinham maior IMC e menor grau de regular de EF em pacientes com DM no Brasil é bastante
Desânimo
4,8% Discussão escolaridade em relação aos pacientes com DM1. Adicio- distinta, variando de 23% até 57%16,17. Porém, o NAF nos
17,5% *
Pacientes com DM2 possuem diferentes NAF e de com- nalmente, a classificação do NAF pelo instrumento utili- estudos encontrados8,10,16,18 foi classificado a partir de dife-
26,5% *
Desconforto
5,3% portamento relacionados à prática de EF em comparação zado (o IPAQ) considera também as atividades realizadas rentes instrumentos de avaliação, o que limita compara-
25,3% aos pacientes com DM1: maior proporção de indivíduos no trabalho e lazer como contribuintes da AF. Indivíduos ções mais precisas. De qualquer forma, a prática regular
Falta de tempo
43,9% * pouco ativos, menor proporção de muito ativos e de pra- com DM1 são mais jovens e, portanto, mais ativos nas ati- de EF, como um dos componentes do tratamento para o
Custos ticantes regulares de EF e menor relato de hipoglicemias vidades de trabalho e lazer. controle do DM12, não é comumente adotada pela maio-
2%
relacionadas ao EF. Os motivos para não praticar EF regu- Vale ressaltar que a avaliação dos motivos para pacien- ria da população com a doença. Em estudo de interven-
1,2%
Desconhecimento
5,3% lar também são distintos entre os dois grupos. Entretanto, tes com diabetes não praticarem EF e os questionamentos ção para a prática regular de EF orientada por professor
16,9% * independente do tipo de DM, apenas um terço dos pacien- sobre os conhecimentos para o autocuidado relacionado à de educação física, em uma pequena amostra de pacientes
Não gosta
8,8%
tes relatou praticar regularmente EF e, destes, apenas 33 realização de EF são pouco descritos na literatura. Apenas com DM (80% com DM2), observou-se uma adesão de
16,9% * (38,8%) adotavam algum tipo de cuidado especial, sendo dois estudos transversais descrevem os motivos para a não 65%, em razão, principalmente, do apoio familiar, assim
Restrição médica
7%
que somente 10% deles ajustam a dose de insulina. realização de EF relatados por pacientes com DM210,15. Do como a orientação especializada e retorno dos resultados
1,2%
Hipoglicemia
8,8% * Observamos que pacientes com DM2 praticam menos total de 225 pacientes estudados no presente trabalho, 62% obtidos (controle HbA1c) aos pacientes após os períodos
7,2% EF, quando comparados aos com DM1. Entretanto, não relataram não praticar EF regularmente. As razões mais de prática de EF15.
Outros
encontramos na literatura estudos que comparassem o frequentes foram “falta de tempo”, “desconforto” e “restri- Um estudo recente avaliou o efeito dos exercícios aeró-
0 10 20 30 40 50 NAF e os diferentes tipos de diabetes, em especial com a ção médica” e são semelhantes às encontradas por outros bicos e de resistência em pacientes com DM219. A combi-
utilização do IPAQ. Tal fato dificulta uma adequada com- autores10,15. nação de exercícios de força e aeróbicos, intercalados em
Figura 2 – Proporção de relato dos motivos para não praticar
exercícios físicos. Pacientes com DM2 (em cinza claro no gráfico; paração dos resultados encontrados no presente trabalho. Um terço dos 225 pacientes avaliados no presente diferentes dias da semana, mostrou uma redução maior
n = 83) vs. DM1 (em cinza escuro no gráfico; n = 57);*p < 0,001 Nossos resultados podem ser explicados em parte pelas trabalho relatou praticar EF regularmente, independente nos níveis de HbA1c e no uso de medicação hipoglice-
(teste Qui-quadrado). características de nossa população. Pacientes com DM2 da classificação do NAF diário. A prevalência de prática miante [RC = 2,9 (IC 95% = 1,2-7,0)] quando comparado

218 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 219
Camila Kümmel Duarte et al. Nível de atividade física e exercício físico em pacientes com diabetes mellitus

classificados como pouco ativos pelo IPAQ relataram pra- Praticantes regulares de EF e os cuidados específicos Tabela 2 – Características da prática de EF e de autocuidado dos pacientes que relataram praticar EF regularmente (n = 85)
ticar EF regularmente, e 18 dos 40 pacientes (45%) classi- relacionados à prática de EF
  DM tipo 1 DM tipo 2 p
ficados como muito ativos relataram não realizar EF regu- Do total de 225 pacientes com DM, apenas 85 (37,1%) re-
larmente (p < 0,001). n 50 35 –
lataram praticar regularmente EF, independente da clas-
sificação do NAF obtido pelo IPAQ. A Tabela 2 mostra EF regular 50 (46,7%) 35 (29,7%) 0,0081
as características de tempo e tipo de EF e cuidados rela- Tempo de EF (minutos/semana) 199 ± 142 171 ± 105 0,3352
64,7%
60,6%
cionados a essa prática nos pacientes praticantes de EF EF aeróbico 45 (90%) 35 (100%) 0,1561
regular. Uma menor proporção de pacientes com DM2
Proporção de pacientes (%)

Cuidado antes, durante ou após EF 19 (38%) 14 (40%) 0,8521


(29,7%) relatou praticar EF regularmente quando com- Lanche associado ao EF 30 (60%) 32 (91,4%) 0,1501
*
parada com o grupo de pacientes com DM1 (46,7%);
30,7% Ajuste da dose de insulina 7 (14%) 2 (6%) 0,2211
25% p = 0,008. Apenas cinco pacientes com DM1 relataram
praticar exercícios de força, sendo que um deles relatou a Monitoramento glicemia capilar 7 (14%) 0 (0%) 0,038¹
*
10,3% prática concomitante de EF aeróbicos. Hipoglicemia relacionada ao EF 17 (34%) 5 (14,3%) 0,0411
8,7%
Entre os 85 pacientes que relataram EF regulares, 33 Dados apresentados como média ± DP, mediana (intervalo interquartil) ou número de casos para total de pacientes de cada grupo (%);
EF, exercício físico; 1Qui-quadrado; 2teste t de Student.
(38,8%) reportaram algum cuidado para realizá-los: “ali-
Pouco ativos Ativos Muito ativos
mentação” foi citada por 40% deles, seguida pelo “alonga-
Figura 1 – Distribuição dos pacientes com DM1 (em cinza mento”, realizado por 27,3% dos pacientes, “alongamento Tabela 3 – Modelo de regressão logística com variável dependente de “relato de episódios de hipoglicemia no EF” (n = 85)
escuro no gráfico; n = 107) e DM2 (em cinza claro no gráfico; n associado ao aquecimento” (9%), “monitoramento da
Variável RC IC 95% p
= 118) de acordo com os níveis de atividade física (IPAQ 2009); glicemia capilar” (9%) e “monitoramento da glicemia as-
*p < 0,001 (teste Qui-quadrado). Não modificar a dose de insulina no EF (bruto) 2,58 0,625-10,634 0,190
sociado à alimentação” (9%). Apenas dois pacientes (6%)
realizavam “monitoramento da glicemia capilar associado Não modificar a dose de insulina no EF ajustada 1
1,94 0,428-8,836 0,389

Motivos relatados pelos pacientes para não praticar EF ao alongamento”. Os sintomas de hipoglicemia relatados Não modificar a dose de insulina no EF ajustada2 2,2 0,463-10,163 0,326
pelos pacientes foram “suor”, “tremor”, “confusão”, “deso-        
regularmente
Não realizar o lanche associado ao EF 1,36 0,436-4,240 0,596
Cento e quarenta pacientes relataram não praticar EF re- rientação”, “fraqueza” e “mal-estar”. A Tabela 2 mostra ou-
tros cuidados realizados para a prática de EF. Não realizar o lanche associado ao EF1 2,14 0,613-7,510 0,232
gularmente por motivos diferentes de acordo com o tipo
de DM. A Figura 2 apresenta a proporção de pacientes A Tabela 3 mostra os resultados da análise de regressão Não realizar o lanche associado ao EF 2
2,00 0,551-7,251 0,293
múltipla para os fatores associados à presença de hipo-        
conforme os motivos relatados para não praticar EF: os Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF 4,44 0,909-21,727 0,065
pacientes com DM2 afirmaram “por desconforto”, “por glicemias relacionadas ao EF. As variáveis independentes
foram escolhidas com base nos resultados das análises uni- Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF1 4,52 0,709-28,770 0,111
restrição médica” e “por não gostarem”, enquanto os pa-
cientes com DM1, “por falta de tempo”, “por preguiça” e variadas e por importância biológica previamente conhe- Não monitorar glicemia capilar antes, durante ou após EF 2
4,37 0,674-28,368 0,120
“por episódios de hipoglicemia” (p < 0,001). cida. Não foi encontrada associação entre as medidas de 1
Modelo 1, ajuste para tipo de DM, IMC, tempo de EF por semana, tipo de EF (aeróbico ou resistência); 2modelo 2, ajuste para as variáveis do modelo
1 + duas outras medidas de autocuidado relacionadas ao EF.
autocuidado para a prática de EF e hipoglicemias relacio-
nadas ao EF.
eram mais velhos, tinham maior IMC e menor grau de regular de EF em pacientes com DM no Brasil é bastante
Desânimo
4,8% Discussão escolaridade em relação aos pacientes com DM1. Adicio- distinta, variando de 23% até 57%16,17. Porém, o NAF nos
17,5% *
Pacientes com DM2 possuem diferentes NAF e de com- nalmente, a classificação do NAF pelo instrumento utili- estudos encontrados8,10,16,18 foi classificado a partir de dife-
26,5% *
Desconforto
5,3% portamento relacionados à prática de EF em comparação zado (o IPAQ) considera também as atividades realizadas rentes instrumentos de avaliação, o que limita compara-
25,3% aos pacientes com DM1: maior proporção de indivíduos no trabalho e lazer como contribuintes da AF. Indivíduos ções mais precisas. De qualquer forma, a prática regular
Falta de tempo
43,9% * pouco ativos, menor proporção de muito ativos e de pra- com DM1 são mais jovens e, portanto, mais ativos nas ati- de EF, como um dos componentes do tratamento para o
Custos ticantes regulares de EF e menor relato de hipoglicemias vidades de trabalho e lazer. controle do DM12, não é comumente adotada pela maio-
2%
relacionadas ao EF. Os motivos para não praticar EF regu- Vale ressaltar que a avaliação dos motivos para pacien- ria da população com a doença. Em estudo de interven-
1,2%
Desconhecimento
5,3% lar também são distintos entre os dois grupos. Entretanto, tes com diabetes não praticarem EF e os questionamentos ção para a prática regular de EF orientada por professor
16,9% * independente do tipo de DM, apenas um terço dos pacien- sobre os conhecimentos para o autocuidado relacionado à de educação física, em uma pequena amostra de pacientes
Não gosta
8,8%
tes relatou praticar regularmente EF e, destes, apenas 33 realização de EF são pouco descritos na literatura. Apenas com DM (80% com DM2), observou-se uma adesão de
16,9% * (38,8%) adotavam algum tipo de cuidado especial, sendo dois estudos transversais descrevem os motivos para a não 65%, em razão, principalmente, do apoio familiar, assim
Restrição médica
7%
que somente 10% deles ajustam a dose de insulina. realização de EF relatados por pacientes com DM210,15. Do como a orientação especializada e retorno dos resultados
1,2%
Hipoglicemia
8,8% * Observamos que pacientes com DM2 praticam menos total de 225 pacientes estudados no presente trabalho, 62% obtidos (controle HbA1c) aos pacientes após os períodos
7,2% EF, quando comparados aos com DM1. Entretanto, não relataram não praticar EF regularmente. As razões mais de prática de EF15.
Outros
encontramos na literatura estudos que comparassem o frequentes foram “falta de tempo”, “desconforto” e “restri- Um estudo recente avaliou o efeito dos exercícios aeró-
0 10 20 30 40 50 NAF e os diferentes tipos de diabetes, em especial com a ção médica” e são semelhantes às encontradas por outros bicos e de resistência em pacientes com DM219. A combi-
utilização do IPAQ. Tal fato dificulta uma adequada com- autores10,15. nação de exercícios de força e aeróbicos, intercalados em
Figura 2 – Proporção de relato dos motivos para não praticar
exercícios físicos. Pacientes com DM2 (em cinza claro no gráfico; paração dos resultados encontrados no presente trabalho. Um terço dos 225 pacientes avaliados no presente diferentes dias da semana, mostrou uma redução maior
n = 83) vs. DM1 (em cinza escuro no gráfico; n = 57);*p < 0,001 Nossos resultados podem ser explicados em parte pelas trabalho relatou praticar EF regularmente, independente nos níveis de HbA1c e no uso de medicação hipoglice-
(teste Qui-quadrado). características de nossa população. Pacientes com DM2 da classificação do NAF diário. A prevalência de prática miante [RC = 2,9 (IC 95% = 1,2-7,0)] quando comparado

218 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 219
Camila Kümmel Duarte et al. Nível de atividade física e exercício físico em pacientes com diabetes mellitus

ao grupo controle [RC = 1,5 (IC 95% = 0,6-3,8)]20. Em re- Uma vez que pacientes com diabetes possuem dife- 18. Almeida JC, Zelmanovitz T, Vaz JS, Stemburgo T, Perassolo MS, Gross JL et al. 22. Michels MJ, Coral MHC, Sakae TM, Damas TB, Furlanetto LM. Questio-
Sources of protein and Polyunsaturated fat acids of the diet and microalbumi- nário de atividades de autocuidado com o diabetes: tradução, adaptação
cente metanálise de ensaios clínicos randomizados com rentes NAF e de comportamento relacionados à prática nuria in type 2 diabetes. J Am Coll Nutr. 2008;27(5):528-37. e avaliação das propriedades psicométricas. Arq Bras Endocrinol Metab.
pacientes com DM2 foi ainda demonstrada uma melhora de EF, a individualização deles com a utilização de um 19. Church TS, Blair SN, Cocreham S, Johannsen N, Johnson W, Kramer K et al. 2010;54(7):644-51.
Effects of aerobic and resistance training on hemoglobin A1c levels in patients 23. Boule NG, Haddad E, Kenny GP, Wells GA, Sigal RJ. Effects of exercise on
no controle glicêmico medido por HbA1c nos pacientes instrumento como o IPAQ permitiria o reconhecimento with type 2 diabetes. JAMA. 2010;304(20):2253-62. glycemic control and body mass in type 2 Diabetes Mellitus A Meta-analysis of
que praticavam EF de resistência [-0,57 (-1,14 a -0,01); do seu NAF, assim como a sensibilização e educação da 20. Lemozy-Cadroy S, Crognier S, Goudry P, Cahauchard MC, Chale JP, Controlled Clinical Trials. JAMA. 2001;286(10):1218-27.
Tauber JP et al. Intensified treatement of type 1 diabetes: prospective evalua- 24. Denadai RC, Vitolo MR,  Macedo AS,  Teixeira L, Damaso AR, Fisberg M.
p  <  0,001], aeróbico [-0,73 (-1,06 a -0,40); p  <  0,001] importância da AF aos pouco ativos e manejo adequado tion at one year of therapeutic patient education programme. Diabetes Metab Efeitos do exercício moderado e da orientação nutricional sobre a composição
ou uma combinação de ambos [-0,51 (-0,79 a -0,23); para a prática regular aos pacientes ativos. Quando o EF (Paris). 2002;28(2):287-94. nutricional de adolescentes obesos avaliados por densitometria óssea (DEXA).
21. Sämann A, Mühlhauser I, Bender R, Kloos C, Müller UA. Glycaemic control Rev Paul Educ Fís. 1998;12(2):210-8.
p < 0,001] por mais de 150 minutos semanais4. Apenas o é considerado, é preciso avaliar o tipo, duração, intensi- and severe hypoglycaemia following training in flexible, intensive insulin the- 25. Carvalho T, Nóbrega ACL, Lazzoli JK, Magni JRT, Rezende L, Drummond FA
incentivo para a prática de AF não mostrou tanto bene- dade e objetivo proposto, a fim de obter o melhor resul- rapy to enable dietary freedom in people with type 1 diabetes: a prospective et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
implementation study. Diabetologia. 2005;48(10):1965-70. sobre atividade física e saúde. Rev Bras Med Esporte. 1996;2(1):79-81.
fício [-0,58 (-0,74 a -0,43); p < 0,001]; entretanto, quan- tado com menores taxas de hipoglicemia. Devemos ainda
do associado a recomendações dietéticas [-0,16 (-0,50 a ressaltar que pacientes com DM1 e DM2 possuem neces-
0,18); p  <  0,001]4, observou-se uma redução adicional sidades distintas, que devem ser consideradas quando a
nos níveis de HbA1c. AF é estimulada como parte do tratamento do diabetes.
Dos 85 pacientes que relataram praticar regularmente A automonitorização da glicemia capilar deve ser sempre
EF, 39% relataram adotar algum tipo de cuidado especial. estimulada, especialmente no paciente que realiza EF e
Ao serem questionados especificamente sobre realizar lan- utiliza insulina. 
che associado à prática de EF, 76,5% responderam “sim”, Ensaios clínicos randomizados para avaliar o efeito de
mostrando um desconhecimento da realização do lanche intervenções educativas para o aumento do NAF e da rea-
como um cuidado especial para a prática de EF por parte lização de medidas de autocuidado no EF são necessários
de muitos pacientes. Estudos de casos prospectivos suge- para fortalecer os achados do presente trabalho.
rem que a prevenção de hipoglicemia (avaliada pelos valo-
res de HbA1c, episódios de hipoglicemia severa ou valores
Referências
de glicemia capilar) pode ser feita a partir da educação para 1. Rainor J. Diabetes 2001. Vital Statistics. Alexandria: American Diabetes Asso-
o autocuidado de pacientes com DM120,21. De fato, nossos ciation; 2001. pp. 43-74.
2. MalerbiI DA, Franco LJ. Multicenter study of the prevalence of diabetes mel-
resultados sugerem que a automonitoração da glicemia litus and impaired glucose tolerance in the urban Brazilian population aged
capilar pode ser o fator mais importante na prevenção de 30-69 years. The Brazilian Cooperative Group on the Study of Diabetes Preva-
lence. Diabetes Care. 1992;15(Suppl 1):1509-16.
hipoglicemias associadas ao EF. 3. Wadén J, Tikkanen H, Forsblom C, Fagerudd J, Pettersson-Fernholm K, Lakka
Recentemente, um questionário de avaliação de auto- T et al. Leisure time physical activity is associated with poor glycemic control in
Type 1 diabetic women: the FinnDiane study. Diabetes Care. 2005;28(4):777-82.
cuidado em pacientes com diabetes foi validado no Bra- 4. Umpierre D, Ribeiro PA, Kramer CK, Leitão CB, Zucatti AT, Azevedo MJ et
sil22. Não ajustar a dose de insulina pode estar associado al. Physical activity advice only or structured exercise training and association
with HbA1c levels in type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. J
com maior frequência de episódios de hipoglicemia nos Am Med Assoc. 2011;305(17):1790-9.
pacientes praticantes de EF regulares. Entretanto, no pre- 5. Kortoglou GI. Insulin therapy and exercise. Diabetes Res Clin Pract. 2011;
93S:73-7.
sente trabalho, o ajuste de insulina ou a realização de lan- 6. American Diabetes Association. American Diabetes Association: standards of
che não preveniu a ocorrência de hipoglicemias. medical care in diabetes (position statement). Diabetes Care. 2011; 34(Suppl 1):
S11-S61.
Nesse contexto, uma menor proporção de pacientes 7. Schmidt MI, Duncan BB, Hoffmann JF, Moura L, Malta DC, Carvalho RMSV.
com DM2 (14,3%) relataram episódios de hipoglicemia re- Prevalence of diabetes and hypertension based on selfreported morbidity sur-
vey, Brazil, 2006. Rev Saúde Pública 2009;43(Supl 2):1-8.
lacionados à prática de EF, quando comparados a pacien- 8. Schaan BD, Harzheim E, Gus I. Perfil de risco cardíaco no diabetes mellitus e
tes com DM1 (34%). As causas para a hipoglicemia em pa- na glicemia de jejum alterada. Rev Saúde Pública. 2004;38(4):529-36.
9. The Emerging Risk Factors Collaboration. Diabetes mellitus, fasting glucose,
cientes com DM2 podem estar relacionadas a um histórico and risk of cause-specific death. N Engl J Med. 2011;364(9):829-41.
prévio de hipoglicemias, uso de tratamento agressivo com 10. Paiva DCP, Bersusa AAS, Escuder MML. Avaliação da assistência ao paciente
com diabetes e/ou hipertensão pelo Programa Saúde da Família do Município
insulina, sono, insuficiência renal e pode ser mais comum de Francisco Morato, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006;22(2):377-85.
no início da prática regular de EF23. 11. Guidelines for Data Processing and Analysis of the International Physical Ac-
tivity Questionnaire. Available from: http://www.ipaq.ki.se/scoring.pdf.
Deve-se levar em conta que apenas metade dos pacien- 12. Standards of medical care in diabetes-2008. Diabetes Care. 2008;31(Suppl 1):
tes avaliados no presente trabalho relatou ter acompanha- S12-54.
13. World Health Organization. Global Database on Body Mass Index. World
mento com nutricionista; destes, apenas 60% relataram Heart Organization; 2006. BMI classification. Disponível em: http://www.who.
seguir a dieta prescrita, e a maioria deles recebeu orienta- int/bmi/index.jsp?introPage=intro_3.html.
14. Friedewald WT, Levy RI, Fredrickson DS. Estimation of the concentration of
ção geral para a prática de EF por médico ou nutricionista. low-density lipoprotein cholesterolin plasma, without use of the preparative
Desse modo, a inserção de um profissional de educação ultracentrifuge. Clin Chem. 1972;18(6):499-502.
15. Fechio JJ, Malerbi FEK. Adesão a um programa de atividade física em adultos
física na equipe de saúde permitiria uma prescrição in- portadores de diabetes. Arq Bras Endocrinol Metab. 2004;48(2):267-75.
dividualizada do EF, que seria planejado de acordo com 16. Franchia KMB,  Monteiro LZ,  Medeiros AIA, Almeida SB, Pinheiro MHNP,
Montenegro RM  et al. Estudo comparativo do conhecimento e prática de ati-
a necessidade, meta, capacidade e história clínica do pa- vidade física de idosos diabéticos tipo 2 e não diabéticos. Rev Bras Geriatr
ciente, potencializando ainda mais os benefícios do EF24,25, Gerontol. 2008;11(3):327-39.
17. Ferreira CLRA, Ferreira MG. Características epidemiológicas de pacientes
aumentando a aderência e reduzindo complicações decor- diabéticos da rede pública de saúde: análise a partir do sistema Hiper Dia. Arq
rentes de má prática. Bras Endocrinol Metab. 2009;53(1):80-6.

220 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 Rev Assoc Med Bras 2012; 58(2):215-221 221
Camila Kümmel Duarte et al. Nível de atividade física e exercício físico em pacientes com diabetes mellitus

ao grupo controle [RC = 1,5 (IC 95% = 0,6-3,8)]20. Em re- Uma vez que pacientes com diabetes possuem dife- 18. Almeida JC, Zelmanovitz T, Vaz JS, Stemburgo T, Perassolo MS, Gross JL et al. 22. Michels MJ, Coral MHC, Sakae TM, Damas TB, Furlanetto LM. Questio-
Sources of protein and Polyunsaturated fat acids of the diet and microalbumi- nário de atividades de autocuidado com o diabetes: tradução, adaptação
cente metanálise de ensaios clínicos randomizados com rentes NAF e de comportamento relacionados à prática nuria in type 2 diabetes. J Am Coll Nutr. 2008;27(5):528-37. e avaliação das propriedades psicométricas. Arq Bras Endocrinol Metab.
pacientes com DM2 foi ainda demonstrada uma melhora de EF, a individualização deles com a utilização de um 19. Church TS, Blair SN, Cocreham S, Johannsen N, Johnson W, Kramer K et al. 2010;54(7):644-51.
Effects of aerobic and resistance training on hemoglobin A1c levels in patients 23. Boule NG, Haddad E, Kenny GP, Wells GA, Sigal RJ. Effects of exercise on
no controle glicêmico medido por HbA1c nos pacientes instrumento como o IPAQ permitiria o reconhecimento with type 2 diabetes. JAMA. 2010;304(20):2253-62. glycemic control and body mass in type 2 Diabetes Mellitus A Meta-analysis of
que praticavam EF de resistência [-0,57 (-1,14 a -0,01); do seu NAF, assim como a sensibilização e educação da 20. Lemozy-Cadroy S, Crognier S, Goudry P, Cahauchard MC, Chale JP, Controlled Clinical Trials. JAMA. 2001;286(10):1218-27.
Tauber JP et al. Intensified treatement of type 1 diabetes: prospective evalua- 24. Denadai RC, Vitolo MR,  Macedo AS,  Teixeira L, Damaso AR, Fisberg M.
p  <  0,001], aeróbico [-0,73 (-1,06 a -0,40); p  <  0,001] importância da AF aos pouco ativos e manejo adequado tion at one year of therapeutic patient education programme. Diabetes Metab Efeitos do exercício moderado e da orientação nutricional sobre a composição
ou uma combinação de ambos [-0,51 (-0,79 a -0,23); para a prática regular aos pacientes ativos. Quando o EF (Paris). 2002;28(2):287-94. nutricional de adolescentes obesos avaliados por densitometria óssea (DEXA).
21. Sämann A, Mühlhauser I, Bender R, Kloos C, Müller UA. Glycaemic control Rev Paul Educ Fís. 1998;12(2):210-8.
p < 0,001] por mais de 150 minutos semanais4. Apenas o é considerado, é preciso avaliar o tipo, duração, intensi- and severe hypoglycaemia following training in flexible, intensive insulin the- 25. Carvalho T, Nóbrega ACL, Lazzoli JK, Magni JRT, Rezende L, Drummond FA
incentivo para a prática de AF não mostrou tanto bene- dade e objetivo proposto, a fim de obter o melhor resul- rapy to enable dietary freedom in people with type 1 diabetes: a prospective et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
implementation study. Diabetologia. 2005;48(10):1965-70. sobre atividade física e saúde. Rev Bras Med Esporte. 1996;2(1):79-81.
fício [-0,58 (-0,74 a -0,43); p < 0,001]; entretanto, quan- tado com menores taxas de hipoglicemia. Devemos ainda
do associado a recomendações dietéticas [-0,16 (-0,50 a ressaltar que pacientes com DM1 e DM2 possuem neces-
0,18); p  <  0,001]4, observou-se uma redução adicional sidades distintas, que devem ser consideradas quando a
nos níveis de HbA1c. AF é estimulada como parte do tratamento do diabetes.
Dos 85 pacientes que relataram praticar regularmente A automonitorização da glicemia capilar deve ser sempre
EF, 39% relataram adotar algum tipo de cuidado especial. estimulada, especialmente no paciente que realiza EF e
Ao serem questionados especificamente sobre realizar lan- utiliza insulina. 
che associado à prática de EF, 76,5% responderam “sim”, Ensaios clínicos randomizados para avaliar o efeito de
mostrando um desconhecimento da realização do lanche intervenções educativas para o aumento do NAF e da rea-
como um cuidado especial para a prática de EF por parte lização de medidas de autocuidado no EF são necessários
de muitos pacientes. Estudos de casos prospectivos suge- para fortalecer os achados do presente trabalho.
rem que a prevenção de hipoglicemia (avaliada pelos valo-
res de HbA1c, episódios de hipoglicemia severa ou valores
Referências
de glicemia capilar) pode ser feita a partir da educação para 1. Rainor J. Diabetes 2001. Vital Statistics. Alexandria: American Diabetes Asso-
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resultados sugerem que a automonitoração da glicemia litus and impaired glucose tolerance in the urban Brazilian population aged
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lence. Diabetes Care. 1992;15(Suppl 1):1509-16.
hipoglicemias associadas ao EF. 3. Wadén J, Tikkanen H, Forsblom C, Fagerudd J, Pettersson-Fernholm K, Lakka
Recentemente, um questionário de avaliação de auto- T et al. Leisure time physical activity is associated with poor glycemic control in
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cuidado em pacientes com diabetes foi validado no Bra- 4. Umpierre D, Ribeiro PA, Kramer CK, Leitão CB, Zucatti AT, Azevedo MJ et
sil22. Não ajustar a dose de insulina pode estar associado al. Physical activity advice only or structured exercise training and association
with HbA1c levels in type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. J
com maior frequência de episódios de hipoglicemia nos Am Med Assoc. 2011;305(17):1790-9.
pacientes praticantes de EF regulares. Entretanto, no pre- 5. Kortoglou GI. Insulin therapy and exercise. Diabetes Res Clin Pract. 2011;
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che não preveniu a ocorrência de hipoglicemias. medical care in diabetes (position statement). Diabetes Care. 2011; 34(Suppl 1):
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Nesse contexto, uma menor proporção de pacientes 7. Schmidt MI, Duncan BB, Hoffmann JF, Moura L, Malta DC, Carvalho RMSV.
com DM2 (14,3%) relataram episódios de hipoglicemia re- Prevalence of diabetes and hypertension based on selfreported morbidity sur-
vey, Brazil, 2006. Rev Saúde Pública 2009;43(Supl 2):1-8.
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no início da prática regular de EF23. 11. Guidelines for Data Processing and Analysis of the International Physical Ac-
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Deve-se levar em conta que apenas metade dos pacien- 12. Standards of medical care in diabetes-2008. Diabetes Care. 2008;31(Suppl 1):
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seguir a dieta prescrita, e a maioria deles recebeu orienta- int/bmi/index.jsp?introPage=intro_3.html.
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Desse modo, a inserção de um profissional de educação ultracentrifuge. Clin Chem. 1972;18(6):499-502.
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ciente, potencializando ainda mais os benefícios do EF24,25, Gerontol. 2008;11(3):327-39.
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