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Relato de preparação para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata

Guilherme Raicoski

Comentário iniciais

Prezados, é uma satisfação apresentar ao pessoal da Comunidade Instituto Rio


Branco alguns comentários sobre minha preparação que, felizmente, deu frutos no
concurso de 2013.
Sempre acreditei que os relatos de preparação dos aprovados são um meio
complementar muito relevante para dar algum norte aos aspirantes à carreira diplomática.
Como se sabe, o CACD é um concurso que apresenta desafios muito peculiares, como a
dispersão de conhecimentos, a impossibilidade de condensar o conteúdo como um todo
em apostilas gerais e a dificuldade de acesso a informações e a materiais fora do eixo
Rio-São Paulo-Brasília.
Acredito que esses desafios demandam do candidato uma postura diferente
daquela comum nos demais concursos. Em muitos processos seletivos para outros
cargos da burocracia estatal, a informação e o conteúdo são geralmente acessíveis e com
alguma facilidade, comprados em dinheiro. O mesmo não ocorre no CACD. Enquanto os
certames em geral possibilitam - em verdade, exigem - uma postura autocentrada e
individualista na preparação, o CACD demanda uma postura cooperativa. Não deixa de
ser sintomático que, em um concurso que visa à obtenção de cargo em instituição que
preza os valores de solidariedade e interdependência, a preparação é otimizada quando o
candidato crê na efetividade desses mesmos valores.
Assim, os debates na comunidade do Instituto Rio Branco no Facebook, as trocas
de artigos e de fichamentos e este diálogo indireto realizado por meio dos relatos de
preparação de candidatos aprovados são manifestações necessárias desse espírito
cooperativo, que serve a superar certas assimetrias e desafios que se impõem,
sobretudo, aos candidatos fora dos grandes centros. Por essa razão, acho por bem
começar este relato com um apelo àqueles que forem bem sucedidos nos próximos
concursos para que mantenham essa tradição de confeccionar seus próprios relatos.
Essa é uma tradição que vem desde muito antes de eu sequer cogitar a carreira
diplomática como opção, e de cujas fontes eu me servi para dar os passos iniciais na
minha preparação. Então, acho legal sempre ter isso em mente: dar um pouco de volta à
comunidade de aspirantes à carreira diplomática, de modo a facilitar um pouco esse
percurso tão difícil para aqueles que, enfim, serão nossos futuros colegas.
Acho também relevante enfatizar a insuficiência e a parcialidade inerentes a este
relato. Certamente não se trata de um “guia da aprovação” ou de um “mapa do caminho”,
mas uma perspectiva individual e bastante específica sobre o concurso e a preparação.
Cada candidato segue um percurso muito peculiar, e mesmo relatos completos,
abrangentes e brilhantes como o do Bruno Rezende, primeiro colocado no CACD de
2011, são apenas uma visão possível do concurso. Daí, novamente, a importância de
vários relatos, pois o confronto e a comparação dessas múltiplas parcialidades é que
permitem ao candidato definir individualmente o seu planejamento, ao invés de
meramente seguir um relato único como uma espécie de manual com uma estrutura
obrigatória de planejamento ou um guia de bibliografias supostamente indispensáveis.
Assim, neste relato, proponho apenas uma sugestão como efetivamente fundamental:
submeter o que eu estou escrevendo aqui a um diálogo com suas próprias experiências
de preparação, com outros relatos e com o conhecimento de colegas e de professores,
rejeitando o que não se coadunar com sua visão própria sobre o CACD e eventualmente
encontrando alguma utilidade em um ou outro ponto. Aliás, haja vista a assumida
parcialidade deste relato, desde já peço desculpas pela extensão. Infelizmente, tendo à
prolixidade, e o texto acabou ficou mais longo do que eu gostaria.
Por fim, um comentário sobre o relato em si. Vou evitar tratar de questões
pessoais, financeiras e motivacionais. Sei que são questões-chave para a preparação e,
talvez, as principais fontes de angústia de muita gente. Faço isso porque sei que minha
trajetória foi muito específica, e também porque, enfim, certamente ser uma voz
inspiradora não é a minha praia. Prefiro me focar em esmiuçar a estratégia de estudo que
segui no último ano e meio de preparação, em certos princípios que adotei para organizar
meus estudos e meu planejamento, compartilhar algumas bibliografias e estratégias de
seleção bibliográfica que me foram úteis, além de expor minhas impressões a respeito de
forma.
Espero que os comentários a seguir lhes sejam úteis e que, de alguma maneira,
contribuam para o êxito em seus projetos!

Guilherme Raicoski
Dezembro de 2013
Impressões gerais sobre estratégias de planejamento de estudos

Diante do vasto conteúdo cobrado no concurso, da segmentação desse


conhecimento em diversas áreas do conhecimento e das diferenças de cada prova e de
cada fase do concurso, sempre achei importante ter um planejamento específico de
estudos. Em cerca de três anos e meio de preparação, devo ter tentado dezenas deles,
alguns sendo descartados após uns poucos dias, outros durando mais. Essa experiência
de tentativa e erro (e erro, e erro, e mais erro) serviu para encontrar certas estratégias
que me serviram continuamente desde o fim da 4a fase de 2012, quando fiquei por volta
da 70a colocação ao final do concurso.
Sei que muitos candidatos não seguem nenhum método, mas, para mim, as fases
de estudo aleatório sempre foram muito improdutivas e fontes de ansiedade, pois a falta
de método me dava a impressão de conteúdo infinito e de pouco ou nenhum avanço no
estudo diário.
A seguir, compartilharei quais foram os métodos que melhor funcionaram para mim
e, ao fim, apresentarei a grade de programação que segui desde meados de 2012, na
qual os princípios a seguir são implementados na prática:

1) O edital e as provas anteriores são as referências fundamentais

Parece algo óbvio, mas não é. No meu primeiro ano e meio de preparação, não
seria exagero afirmar que não olhei nenhuma vez o edital e que evitei o guia de estudos
com as melhores respostas da 2a e 3a fase até passar no TPS pela primeira vez. Isso é
algo comum para muitos candidatos, e acredito que seja derivado da grande dependência
que temos dos cursinhos, sobretudo no início da preparação, e da compreensível
preocupação com o TPS em detrimento das demais fases. O grandes nortes de estudo
acabam sendo dois: os cadernos com anotações das aulas e as dicas bibliográficas mais
disseminadas. Ao invés de atentarmos ao que é efetivamente cobrado, sinto que
acabamos viciando a nossa preparação com o retorno frequente a um punhado de obras
e a anotações de aula.
Para mim, foi vantajoso orientar meus estudos a partir do que consta no edital,
estudando cada ponto e partindo para o próximo depois de esgotar o anterior. Cabe,
claro, a exceção para algumas matérias:
- o edital de Português certamente não basta para orientar os estudos, embora não
possa ser ignorado. Nesse caso, o ideal é seguir o manual (ou manuais) de sua
preferência. Durante toda a preparação, usei exclusivamente o manual de Celso Cunha e
Lindsey Cintra1, buscando eventualmente complementações na Internet.
- deve-se considerar que os pontos do edital em PI, Geografia e Economia devem
ser complementados pela questões mais atuais do contexto internacional e brasileiro.
- o edital de Direito dá uma falsa aparência de equilíbrio entre Direito Interno e
Direito Internacional Público, mas é claro pela dinâmica histórica do concurso que direito
interno, apesar de ter alguma relevância no TPS, tem peso muito inferior a DIP na 3a

1  Nova Gramática do Português Contemporâneo.


fase. Na divisão de tempo de estudo, deve-se levar em conta que, dos 865 pontos em
jogo no concurso, cerca de 3 pontos envolverão Direito Interno e mais de 100 envolverão
DIP. Embora Direito Interno tenha tido papel relevante na 3a Fase de 2013 - vide as
questões 3 e 4 da prova -, o aprofundamento nos estudos de DIP mantém-se muito mais
relevante que o de Direito Interno.

2) Estudo por temas e tópicos, não por obras

Estudar por temas, para mim, sempre foi mais produtivo do que estudar por obras ,
por quatro razões.
Em primeiro lugar, é muito raro que uma obra específica inclua todas as variáveis e
visões possíveis a respeito de um determinado tema. E, claro, não são raras as obras
muito ruins e/ou imprecisas.
Em segundo lugar, as diferentes extensões e complexidades das obras fazem com
que a ênfase nas matérias seja desequilibrada. É bastante comum, sobretudo no início da
preparação, que o estudo se concentre em obras consagradas, fato que acaba gerando
uma ênfase excessiva em temas de História do Brasil e questões históricas de Política
Internacional em detrimento dos demais conteúdos, sobretudo línguas. De saída, passa-
se, talvez, duas semanas em um fichamento completo feito a mão do História da Política
Exterior do Brasil, de Amado Cervo e Clodoalbo Bueno, seguida de mais duas semanas
de fichamento da História do Brasil de Boris Fausto, e mais um bom tempo lendo “Os
Donos do Poder” do Raymundo Faoro do início ao fim. Essa é a descrição dos meus
primeiros momentos de preparação: mais de um mês de História do Brasil, e sequer um
minuto para as demais matérias. Isso certamente prejudica o equilíbrio na preparação e o
desempenho nas provas. Ao deixar de estudar uma disciplina por semanas ou uma
matéria por meses, nos desacostumamos com a linguagem específica dessa disciplina e
esquecemos tópicos que já deveriam estar consolidados. Assim, não acredito que o
método de estudo mais eficaz envolva a leitura/fichamento de uma lista de bibliografias
em sequência linear, mas sim subordine as leituras aos temas e matérias em foco em
determinado momento do programa de estudos.
Em terceiro lugar, não sei quanto a vocês, mas eu acho muito cansativo ler obras
densas sem parar, retomando-as dia a dia. Pensem, por exemplo, em Formação
Econômica do Brasil, de Celso Furtado. É uma obra cansativa, com linguagem densa, e
que, na minha opinião, só deve ser lida após se dominar conceitos básicos de micro e de
macroeconomia. O desempenho do estudo do final da obra, para mim, fatalmente era
muito inferior que no início. E, note-se, a segunda metade de Formação Econômica do
Brasil é muito mais relevante que a primeira para o CACD. Lembro também, por exemplo,
de detalhes das primeiras páginas de Era das Revoluções do Eric Hobsbawn, como a
altura de soldados da Pomerânia, mas não de detalhes da Era Napoleônica descritos na
mesma obra. Para mim, rodízio de obras e de temas renova o interesse e adia o cansaço.
Por fim, o estudo por temas permite um ataque multidimensional ao tema. Ao invés
de estudar, por exemplo, ininterruptamente a chamada “bíblia vermelha” 2 e me dedicar en
passant às 10 páginas que a obra dedica à política externa de Eurico Gaspar Dutra,
achava mais produtivo estudar a PEB de Dutra em uma rodada de estudos específica, em
que passaria pela “bíblia”, pela obra Sessenta Anos de Política Externa, por artigos
retirados do site Scielo, por textos clássicos na coleção História Geral da Civilização
Brasileira, melhores respostas dos Guias de Estudos para perguntas que trataram do
tema etc. Pode-se comparar informações entre uma obra e outra com a memória de
leitura fresca, e se produzir um fichamento consolidado que condense todo esse conjunto
2  História da Política Exterior do Brasil,
de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno.
de informações, saturando o estudo de um tema em curto tempo ao invés de dispersá-lo
ao longo da preparação.

3) Prioridade ao estudo permanente de idiomas

As mudanças que ocorrem no concurso tendem a ser mais ou menos como


ocorrem a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e as reformas
estruturais no Brasil: ao invés de mudanças radicais em um só lance, elas ocorrem
paulatinamente, de maneira orgânica no decorrer dos anos. Talvez a mudança mais
sensível nos últimos anos tenha sido o retorno das vagas oferecidas aos patamares
históricos de 30 por ano, e isso tem efeitos no desempenho no concurso. O principal
efeito da redução de 100 vagas para 30 vagas foi o aumento da importância relativa do
estudo de idiomas. Explico:
Se vocês notarem as notas dos candidatos que ficaram nos 50 ou 60 primeiros
lugares desde 2011, percebe-se uma certa homogeneidade nas notas em certas matérias,
como História do Brasil, Política Internacional, Geografia e, mais notadamente em 2013,
Economia e Direito. As bandas entre as quais as notas flutuam tendem a ser não muito
grandes, como por volta de 70-75 em História do Brasil e PI, por exemplo. As flutuações
mais radicais ocorrem justamente nas matérias em que estão envolvidos os
conhecimentos linguísticos: Segunda Fase, Inglês, Espanhol e Francês. Na minha
opinião, o que realmente tem sido o fator diferencial entre uma excelente colocação e a
aprovação tem sido o desempenho em línguas.
De acordo com essa percepção, que notei após o desempenho pífio em 2012 que
tive em Inglês e Espanhol e o abaixo da média na Segunda Fase e em Francês, decidi
enfatizar o estudo de línguas no decorrer da preparação. E para melhorar o desempenho
em idiomas, parece-me fundamental uma revisita constante, de preferência semanal, a
todas as línguas. Mais à frente neste relato, na grade do meu plano de estudos, podem
notar que, enquanto o estudo da maioria das matérias era quinzenal, o de idiomas era
semanal. Isso porque, sem tal estímulo, perdemos as habilidades linguísticas e não temos
o domínio e, sobretudo, a fluidez para escrever sobre temas complexos e sob pressão em
francês, espanhol, inglês ou português culto.
Nesse contexto, não basta um bom conhecimento de cada língua, mas um domínio
suficiente para completar as atividades propostas nas provas de 3a e 4a fase no exíguo
tempo disponível. E isso exige prática.
Então, creio que, mais do que em quaisquer outras matérias, o estudo de idiomas
para o CACD deve ser planejado, frequente e não ser deixado para a véspera. Em um
contexto de 30 vagas - que não se sabe ainda por quanto tempo permanecerá o
paradigma -, desempenhos insuficientes em idiomas são o principal obstáculo à
aprovação.
Não custa enfatizar, pois essa foi, talvez, minha principal conclusão após minha
não aprovação no CACD 2012: o bom desempenho em idiomas é o principal diferencial
para alcançar a aprovação, pois o desempenho em línguas entre os candidatos de alto
nível é irregular e muito menos homogêneo do que nas demais matérias. Há, assim,
maior espaço para obter ganhos marginais que incrementem o desempenho total.

4) Treino de todas as habilidades exigidas no concurso, sobretudo a escrita

Sei que esse é um conselho difícil de seguir para quem não conseguiu passar pelo
TPS. Contudo, como as demais fases se dão em curto espaço de tempo, é muito difícil
desenvolver as habilidades de escrita e de organização de conteúdo apenas após a
aprovação na 1a fase. Mais do que “vomitar” conteúdo nas provas discursivas, parece ser
mais relevante saber organizar esse conteúdo em um texto objetivo, coerente e
organizado, com uma tese clara e argumentos específicos. Mais à frente, apresentarei
como exemplo a minha resposta à questão 1 da prova de História do Brasil deste ano, em
que, acredito, consegui fazer tal organização com algum êxito.
Assim, creio que seja importante dividir o estudo a partir do que será necessário
para a aprovação no CACD. Na minha sistematização, seriam elas:

- leitura e fichamento de conteúdos;


- leitura e desenvolvimento de habilidades em idiomas;
- resolução de questões objetivas estilo CESPE/TPS;
- produção de textos de 2a fase
- produção de textos de 3a fase
- produção de textos de 4a fase

Acredito ter sido relevante para a melhora no meu desempenho revisitar essas
habilidades sistematicamente em um determinado período de tempo, conforme,
novamente, está exposto na minha grade de estudos. Esse estudo integral, creio, pode
ser eficiente inclusive para aqueles que ainda não passaram no TPS, porque a escrita de
questões é instrumento importante para instrumentalizar de maneira ativa conteúdos
adormecidos em nossa mente, com os quais, não raro, tivemos contato tão somente por
meio de uma atividade de leitura passiva.
Não creio, contudo, que a produção de textos de 3a fase deva fazer parte da rotina
daqueles que estão iniciando a preparação para o CACD, pois simplesmente não há
conteúdo disponível para trabalhar a forma de expressar esse conteúdo. Nesse caso de
início de preparação, acho que não há muita vantagem em fazer exercícios discursivos de
3a fase antes de se completar uma “volta” completa por todos os conteúdos do edital.

5) Efetuar um rodízio frequente de disciplinas

Como já adiantei no ponto “2”, acho muito cansativo ler uma obra específica ou
estudar apenas uma matérias durantes horas, dias e semanas a fio. O rodízio de
disciplinas me pareceu importante para manter o interesse em meio à miríade de
conteúdos e evitar a atrofia de conhecimentos de outras matérias.
Grade de planejamento de estudos

Tendo em mente os princípios acima, que defini como orientadores do meu


planejamento de estudos, cheguei à grade de estudos presente na próxima página. Essa
grade corresponde a um regime de dedicação exclusiva ao concurso, com cerca de 8
horas diárias de estudos cronometradas. Para uma leitura mais clara do que ela significa,
segue uma breve explicação abaixo:

- O tempo de estudo era sempre cronometrado. Isso significa pausar o cronômetro


quando fizesse uma pausa, um lanche ou atendesse o telefone, por exemplo. Assim, 5
horas “líquidas” de estudo duravam 7 ou 8 horas corridas, contando essas pausas;

- Dividi o meu tempo de estudos em três grandes “blocos”: (i) leituras e fichamentos; (ii)
exercícios TPS; (iii) exercícios discursivos. Ao concluir cada bloquinho desses em cada
matéria, marcava o quadrado correspondente com um “X”;

- A dinâmica era a seguinte: dedicava-me durante 3 a 5 horas (dependendo da matéria) a


leituras e fichamentos, de acordo com o ponto em que estivesse no edital. Em seguida,
fazia exercícios estilo TPS (caso a matéria anterior fosse História Mundial, Direito,
Economia, Português ou Inglês) por cerca de 1 hora. Depois, selecionava aleatoriamente
uma questão de alguma prova de 3a ou 4a fase de anos anteriores e a fazia sem
consulta, buscando fazer as questões de menor extensão em até 1 hora e as de maior
extensão em até 1h15. Feito isso, passava à matéria seguinte e repetia essa dinâmica.
Ou seja: leitura HB ► exercício 3a fase HB ► leitura História Geral ► exercícios TPS
História Geral ►leitura PI ► exercício 3a fase PI ► Leitura Direito ► Exercícios TPS
Direito ► Exercício 3a fase Direito ► etc.

- Um exemplo para ficar mais claro: em uma segunda-feira, começaria por leituras e
fichamentos de textos associados ao tema da vez no edital (por exemplo, 1.1 A
configuração territorial da América Portuguesa. 1.2 O Tratado de Madri e Alexandre de
Gusmão) durante 5 horas cronometradas. Após isso, partia direto para um exercício
discursivo, digamos, a questão 3 da prova de 2007. Sempre dava preferência a fazer uma
questão que tratasse de tema distinto ao que trabalhei na leitura e fichamento. Após fazer
a prova, comparava com a questão selecionada do Guia de Estudos e via quais foram
minhas falhas e onde o desempenho foi bom. Terminado esse ciclo, estudaria 2 horas de
História Mundial e faria 1 hora de exercícios TPS d História Mundial. Depois, 5 horas de
PI, 1 hora de exercício discursivo, e assim por diante. A minha expectativa era sempre
completar um grande ciclo em um período de 10 a 14 dias, após o qual eu voltaria à
primeira matéria: História do Brasil.

- Não custa enfatizar, pois sei que é confuso:


-Estudo 5 horas de História do Brasil. Terminado, marco um X;
- Não estudo TPS de HB, e passo direto para um exercício de 3a fase de História
do Brasil. Terminado, marco um X;
- Estudo 2 horas de História Mundial. Terminado, marco um X;
- Faço uma hora de exercícios CESPE colhidos no site questões de concursos
sobre História Mundia. Terminado, marco um X
- Estudo 5 horas de Política Internacional. Terminado, marco um X;
- Não faço exercícios TPS de PI, e passo direto para exercício discursivo de PI.
Terminado, marco X;
- E assim por diante.

- GT, presente na tabela “exercícios discursivos”, refere-se a atividades de meu grupo de


estudos. Semanalmente, selecionávamos quatro temas presentes no edital do concurso,
e cada um fazia um fichamento sobre o tema, que então circulávamos entre nós.

- Notem que eu não fazia exercícios TPS de História do Brasil, PI ou Geografia. A razão é
a escassez de oferta de exercícios desse tipo na Internet. Há muito poucas questões de
História do Brasil em outros concursos, as questões de PI versam pesadamente sobre
atualidades, o que fazia das questões antigas pouco relevantes para a minha preparação,
e as questões de Geografia estilo TPS são horrorosas, ano a ano, e são mais uma fonte
de desinformação que de estudo. Então, após leituras de HB, PI ou Geografia, partia
direto para o exercício discursivo. Por isso as linhas tracejadas nos bloquinhos
correspondentes a exercícios TPS dessas matérias na grade de estudos.

- Nesse esquema, há uma exceção, como já comentei anteriormente, para línguas.


Buscava estudar ao menos 1h00 de Inglês, de Francês e de Espanhol semanalmente,
além de fazer alguns exercícios, seja de provas anteriores, seja passados por
professores. O famoso esquema de “ler notícias em língua estrangeira diariamente” nunca
deu certo para mim. Eu não tinha a disciplina para tanto, não sentia grande avanço ao
fazer meras leituras de notícias e, enfim, tomava muito tempo em um cronograma
bastante apertado. Ao final de duas semanas de estudo, portanto, enquanto a maioria dos
bloquinhos teria apenas dois “X” (na primeira ou na segunda semana do ciclo de estudos),
línguas sempre teriam dois “X” (em toda semana do ciclo de estudos)

- Um último comentário: esse é o planejamento de estudos que segui até 2 semanas


antes do TPS. Após isso, a dinâmica de estudos mudou, e foi bastante aleatória.

Na página a seguir, consta a tabela, com marcações correspondentes aos estudos


de um ciclo feito entre 10 e 23 de junho. Se tiverem dúvidas em relação à tabela, não
hesitem em me perguntar.
- Ciclo: 1 tópico de leitura -> 1 tópico de exercícios objetivos -> 1 tópico de discursivos -> 1 tópico de leitura -> 1 tópico de exercícios objetivos -> 1
tópico de discursivos ->...
- Leituras e atividades de idiomas, além de atividades do grupo de estudos, feitas semanalmente; todo o resto, quinzenalmente
- Tempo máximo do ciclo: 14 dias (início segunda de manhã da semana 1, final no domingo à noite da semana 2).

Matérias

Matérias 10-16/06 17-23/06 24-30/06 20/04-05/05 01-07/07 08-14/07 15-21/07 22-28/07


Leitura HB X
(5 horas HB,
PI e 2a fase; HM X
2 horas PI X
Geografia e Direito X
HM; 1h00
hora Geografia X
idiomas; 3 Economia X
horas o
restante) Português X
2a fase X
Inglês X X
Francês X X
Espanhol X X

Exercícios HB ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- -----------------


TPS
(fazer HM X
apenas HM, PI ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- -----------------
Direito, Direito X
Economia,
Português e Geografia ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- ----------------- -----------------
Inglês). 2 Economia X
horas de
exercícios Português X
em
português e Inglês X X
em inglês;
demais, 1
hora
Exercícios GT X X
discursivos
(1-2 horas, HB X
exceto GT, PI X
que pode Direito X
chegar a 4h,
idioma,s em Geografia X
média 3h, e Economia X
2a fase 6h)
Inglês X X
Francês X X
Espanhol X X
2a fase X

Aulas Armstrong X X
Vivian Muller X X

-----------------
Conteúdo: Bibliografia e seleção bibliográfica

Não há como fazer uma lista bibliográfica fechada, principalmente em matérias


baseadas pesadamente em atualidades, como Política Internacional. Nestas, a
bibliografia é dispersa, e penso que, mais que seguir uma lista fixa de obras obrigatórias,
é mais vantajoso elaborar estratégias de seleção bibliográfica. A seguir, escrevi uma lista
de obras que acredito terem sido relevantes para a minha formação, mas que nem de
longe esgotam tudo que estudei.
O esgotamento de conteúdo em algumas obras não é possível e, creio, nem
desejável. Acredito que a preparação para o CACD passa por duas fases. A primeira
delas é uma fase de homogeneização, ou seja, o processo de conhecer ao menos os
fundamentos de todo o conteúdo cobrado no concurso e de nivelamento com os,
digamos, 300 candidatos mais competitivos do concurso. Nessa fase, concordo que
existem algumas obras básicas cuja leitura é importante para alcançar o quanto antes o
patamar de homogeneidade de preparação com candidatos competitivos. A segunda fase
é a de diferenciação, que no meu caso envolveu o aprofundamento e a busca do domínio
dos conteúdos fundamentais, a ênfase em leituras diferenciadas e na busca de um “quê”
a mais. Essa parte é mais dependente da estratégia de seleção bibliográfica e da prática
da escrita, que vai além das obras mais conhecidas e passa pela autonomia do candidato
em buscar sua diferenciação.
Como disse, a lista de obras a seguir e as estratégias de seleção bibliográfica não
chegam perto de contemplar a totalidade do que estudei, mesmo porque há uma série de
artigos, capítulos, cadernos e aulas que li, bons e ruins, dos quais não me lembro após 3
anos e meio de preparação. Mas acredito que o importante é ajudar vocês a trilharem
seus próprios caminhos, então, segue minha contribuição, assumidamente parcial e
incompleta.

Parêntesis: Fichar as leituras ou apenas ler?

Um rápido comentário em relação a fichamentos. Eu aderi a eles tardiamente,


mas acredito terem sido importantes para a melhora no meu desempenho. Uma das mais
notáveis habilidades do nosso cérebro é a de esquecer, e a fixação de detalhes e de
argumentos em estudos de conteúdos volumosos é, para mim, desafiadora pela via
passiva da mera leitura. Uma postura ativa, elaborando fichamentos, incrementou a minha
fixação de conhecimentos. Ainda, há outras duas vantagens: em meio às provas, o
fichamento é o meio por excelência de revisão, pois existe uma impossibilidade física de
revisar todos os livros, artigos e capítulos estudados; e, também, os fichamentos servem
como moeda de barganha com outros candidatos, possibilitando a cooperação para obter
mais trabalhos e agregar à sua biblioteca. Então, embora saiba que muitos candidatos e
professores prefiram a mera leitura para cobrir mais conteúdo no mesmo espaço de
tempo, as três vantagens citadas - fixação, fonte de revisão, moeda de barganha - me
convenceram a adotar o fichamento.
Desde já adianto que meu fichamento era por temas, não por obras. Então, eu
tinha um arquivo, digamos 'Era Vargas”, ou “Desarmamento e não proliferação”,
nomeados de acordo com os temas previstos no edital, em que eu fichava os diversos
livros e artigos que lia. Na hora da revisão, eu tinha um arquivo consolidado sobre o tema
com diversas perspectivas diferentes, e conseguia revisar, em poucas semanas, quase
todo o conteúdo.
História do Brasil

Em termos de aulas, apesar de conhecer parcialmente o trabalho de outros


professores, acho difícil alguém que conheça a prova de História do Brasil e o CACD tão
bem quanto o João Daniel, do Curso Clio. Tive seguidas experiências de aula com ele em
cursos telepresenciais e online, do início da preparação à maratona de 3a fase. Acredito
que a aula dele dá excelentes subsídios em termos de conteúdo e de forma, ambos
pilares interdependentes para as provas, e recomendo fortemente para aqueles dispostos
a investir em aulas de cursinho. Um dos fatores que me possibilitou fazer aulas no Clio,
além da excelência do professor em questão, foi o fato de ter obtido bolsas de 75% no
concurso de bolsas que o Clio faz duas vezes por ano. Sempre busquei caprichar nessas
provas para ter acesso a professores como o João Daniel, então, acredito que ficar de
olho nos editais do Bolsão e se dedicar às provas vale muito a pena.
Em termos de bibliografias, segue uma listagem que acho relevante. Reitero que
não li essas obras em uma lista sequencial, mas a elas recorria na medida em que
tivessem informações concernentes ao tema que estudava no momento. Por isso, não
raro meus estudos de História do Brasil eram feitos na Biblioteca Pública do Paraná, ou lá
antes passava para colher 2 ou 3 livros que tivessem ao menos um capítulo sobre o tema
que estudaria em casa.

- Manual do Candidato FUNAG de História do Brasil: o mais recente manual foi elaborado
pelo João Daniel, e é, de longe, na minha opinião, o melhor manual do candidato lançado
na história do concurso, e o único que realmente serve ao seu propósito: ser um texto-
base de referência para o CACD. A obra tem o equilíbrio necessário entre cinco
perspectivas cobradas no concurso (Política Externa, Política, Economia, Sociedade e
Cultura), com a ênfase necessária na Política Externa (grosso modo, 3/4 do conteúdo
cobrado no CACD), riqueza de detalhes, estilo elegante e agradável de ler. Tive a
oportunidade de ler quase toda a obra, mesmo ela tendo sido lançada durante o CACD
2013, e lamentei não ter tido em mãos uma ferramenta tão boa no início da preparação.
Se estivesse no início da preparação, ou recomeçando os estudos com vistas a 2014,
usaria esse manual como texto-base, usando-o como a primeira referência no estudo de
determinado tema antes de partir para outras leituras. Está disponível para download
gratuito no site da FUNAG.

- Manual do Candidato FUNAG de História do Brasil antigo: o manual de 2001, de autoria


de Flávio de Campos, tem bons momentos, mas peca por ser bastante incompleto. Não o
usei como fonte de leitura e de fichamento, mas sim como fonte de referência
bibliográfica. Em cada capítulo do livro, estão discriminadas obras clássicas usadas na
elaboração no manual. Quando ia estudar qualquer tema previsto no edital, antes
consultava as bibliografias citadas no manual para então buscá-las em uma biblioteca ou
na internet. Muitas das obras abaixo, além de outras, foram encontradas justamente pelo
recurso a essa obra, e é uma boa estratégia de seleção bibliográfica

- História da Política Exterior do Brasil (Amado Cervo e Clodoalbo Bueno): embora não
mais seja mais fonte direta de questões, como o foi até 5 anos atrás, permanece como
obra de cabeceira para os candidatos ao CACD. Consultei-a com frequência, diversas
vezes, e acredito que deve estar presente nos estudos temáticos até governo Figueiredo
(inclusive). A partir de Sarney, a obra não me agrada.

- Sessenta anos de política externa brasileira (coordenadores José Albuquerque, Ricardo


Seitenfus e Sérgio Henrique Nabuco de Castro): enquanto o HPEB serve como fonte de
dados e conhecimentos específicos, os diversos artigos dessa obra trazem teses
específicas e argumentos fundamentados. Gosto de todos os artigos do livro, e, embora
não contemplem todas as dimensões da PEB pós-1930, sempre retornei a esses artigos
quando estudava os temas que abordava.

- Volumes 1, 2 e 3 da Coleção “História do Brasil-Nação” da Fundação Marpfre: cada


volume conta com cinco artigos, tratando de política externa, política interna, economia,
sociedade e cultura. A maioria dos artigos é excelente, muitos deles elaborados por
corretores da banca de História do Brasil no CACD, e questões têm sido retiradas das
obras. Recomendo, sobretudo, os textos de política externa. Não recomendo, contudo, o
volume 4 da coleção: ele trata de um período muito vasto (1930-1964, ou seja, toda a Era
Vargas e toda a República Liberal), o que torna os artigos fatalmente menos
aprofundados.

- Coleções História Geral da Civilização Brasileira (organizada por Sérgio Buarque de


Hollanda e Boris Fausto): essas obras são clássicos que sempre senti um tanto
esquecidos pelos demais candidatos ao CACD. Claro que alguns textos dessas obras
contam com historiografias um tanto desatualizadas e alguns são simplesmente fracos,
mas no geral, para mim, foram fontes sensacionais para o meu processo de
“diferenciação”. Acredito ser válido, no estudo de um tema, colher algum dos livros da
coleção que tenha um artigo sobre o tema. São 25-30 páginas amareladas e empoeiradas
que podem fazer a diferença.

- Navegantes, bandeirantes e diplomatas, de Synesio Sampaio: a obra seminal para


estudo da formação das fronteiras brasileiras. Fundamental para o estudo das fronteiras.
A parte sobre navegantes não é abordada no concurso, então pode ser pulada.

- História do Brasil, de Boris Fausto: foi a primeira obra que li para o concurso. Li uma vez,
nunca mais voltei a ela, e sinto que não fez diferença. É um excelente texto geral, mas
devido à ênfase do concurso em política externa, acredito que o Manual Funag do João
Daniel e demais textos acima são mais relevantes.

- Obras temáticas: “Os Donos do Poder”, De Raymundo Faoro; “O Tempo Saquarema”,


de Ilmar Rohloff, “A Construção da Ordem/Teatro das Sombras”, de José Murilo de
Carvalho, “O Tempo de Capanema”, de Simon Schwartzman, Cidadania no Brasil”, de
José Murilo de Carvalho; “Soldados da Pátria”, de Frank McCann; “Ideias em movimento”,
de Angela Alonso: coloquei todos esses livros juntos porque são obras grandes, de
centenas de páginas, que tratam de temas específicos, com historiografias bem
específicas. Creio ter sido importante conhecê-las, mas não ter lido algumas
integralmente. Essas obras em geral defendem uma tese específica, e o livro se destina a
trazer dados e argumentos para subsidiar a defesa dessa tese. Então, eu não
recomendaria lê-la integralmente, mas ao menos entrar em contato, ler a parte
introdutória e a conclusão e algumas partes do desenvolvimento, de modo a conhecer e
instrumentalizar os argumentos disponíveis.

- Textos de Gerson Moura: os textos de Gerson Moura, em diversas obras, são sempre
fonte privilegiada para uma visão lúcida sobre a política externa brasileira.

- Internet: não há como subestimar a relevância da internet para buscar conteúdos. Há


sites, como o Scielo e do CPDOC da FGV, que trazem artigos específicos sobre temas do
concurso, que podem fazer parte do conjunto de obras em um estudo temático. No
Google, embora o que se encontra deva ser considerado com cautela, não raro encontrei
informações específicas e artigos valiosos, que ou esclareceram leituras anteriores ou
trouzeram novos dados. Devo às buscas na internet, por exemplo, o bom desempenho na
questão deste ano sobre o ISEB, pois eu tinha feito um fichamento consolidado sobre
think-tanks da República Liberal (ESG, ISEB, IBAD e IPES) com base em artigos achados
na internet, por ter visto a relevância dessas instituições para o desfecho de abril de 1964.
Então, quando estudar cada aspecto de um tema, sempre é bom buscar mais coisas na
internet, para além dos livros e das anotações de aula.

- Artigos e obras recentes dos membros da banca do concurso: em 2012, cobrou-se


questão de 3a fase que seria bem respondida com recurso a artigo de Francisco Doratioto
no volume 2 da coleção “História do Brasil-Nação”; em 2013, também houve questão de
3a fase que seria bem respondida com artigo científico de Antônio Carlos Lessa. Então,
tem sido importante, para evitar surpresas, conhecer as obras mais recentes dos
membros da banca de HB.

- Mais: pode-se buscar obras clássicas de História do Brasil na Internet e nas referências
bibliográficas dos dois manuais do candidato FUNAG. Na medida do que se julgar
necessário, há nesses meios referências de obras importantes para cada tema, que
podem ajudá-los a consolidar a homogeneização e buscar a diferenciação. Certamente eu
poderia ficar lembrando de todos os fragmentos de texto de HB que li, mas acredito que
não é esse o propósito, afinal, não existe um só caminho para o Itamaraty. Acho que
coloquei as obras gerais que foram mais importantes para mim, e a seleção bibliográfica
específica de vocês pode seguir essa estratégia internet-referências bibliográficas-
referência ao edital.

Política internacional

Tive aulas com os professores Paulo Afonso, do Clio, e Thomaz Napoleão, do


Curso Atlas. Cada um tem uma abordagem: enquanto o Paulo Afonso enfatiza aspectos
estruturais e históricos da PI, o Thomaz faz abordagens de fôlego sobre questões mais
atuais. Ambas são complementares e os dois professores são brilhantes para dizer o
mínimo, mas me identifiquei mais com o estilo do Thomaz.
Os meus estudos de Política Internacional foram provavelmente os mais
fragmentados, e feitos quase que exclusivamente pelo computador. Meu método era
pegar um tema e dissecar todas as possíveis dimensões desse tema.
Por exemplo, em estudos do ponto do edital “Política externa chinesa e relações
entre China e Brasil”. Eu dividia em dois fichamentos, uma para política externa chinesa,
outro para relações China-Brasil. Eu caçava informações sobre os princípios da política
externa chinesa no site do “MRE” chinês e da embaixada da China no Brasil, em artigos
buscados na internet, em anais de conferências sobre a China da FUNAG, entrava no site
do MDIC para levantes dados de comércio... Enfim, seria impossível discriminar todas as
minhas fontes de estudo de PI. Então, seguem as estratégias que orientavam a busca
dessas fontes:

- Busca de dados de comércio no site do MDIC, do Banco Mundial e da OMC;


- Busca, leitura e fichamento de fontes primárias, como tratados, memorandos de
entendimento, declarações presidenciais conjuntas, declarações de cúpula, temas
discutidos em de Estado;
- Buscar no site do MRE (na “sala de imprensa”) o que se discutiu sobre o tema
nos últimos 12-18 meses;
- Buscar no site da FUNAG obras específicas sobre o tema;
-Buscar em sites de jornais nacionais e estrangeiros sobre informações
atualíssimas, tendo as necessárias precauções de filtrar as informações permeadas por
parcialidades e partidarismos através do prisma da política externa brasileira.
- Assistir ao canal do MRE no Youtube.

As fontes acima serão fundamentalmente fontes de dados. Esses dados precisam


ser amarrados por teses e estruturas argumentativas, que deve necessariamente refletir a
visão da diplomacia brasileira. Então, é fundamental sempre ter em mente que os dados
levantados pelas fontes acima devem ser amarrados pelos princípios da política externa
brasileira. Não saberia indicar obras específicas para tanto. Compreendi tais princípios
aos poucos, com a leitura de discursos, de declarações à imprensa, de manifestos e de
artigos e obras de diplomatas, que acabam trazendo em seu bojo essa estruturação
argumentativa e axiológica.

Essas fontes de dados serviam para esclarecer os seguintes pontos:

a) Em temas sobre países e relações bilaterais/birregionais (grosso modo, pontos 2 a 15


do edital)
- Quais os princípios de política externa do país/região?
- Quais os objetivos de política externa do país/região?
- O que aconteceu de mais relevante nesse país/região nos últimos anos?
- Qual o histórico da relação do Brasil com esse país/região?
- Quais os princípios que regem a relação do Brasil com esse país/região?
- Quais os objetivos da relação do Brasil com esse país/região?
- O que aconteceu de mais relevante na relação do Brasil com esse país/região
nos últimos anos?

b) Em temas específicos (grosso modo, pontos 16 a 21 do edital)


- Perspectiva e desenvolvimento histórico do tema;
- Centralidade do tema na agenda internacional contemporânea;
- Relação desse tema com os princípios gerais da política externa brasileira (por
exemplo, desenvolvimento, não ingerência...);
- Princípios específicos da política externa brasileira nesse tema (por exemplo, em
mudança do clima: responsabilidades comuns porém diferenciadas, evitar a
ultraconcentração em medidas de mitigação, ...);
- Posicionamentos e medidas concretas do Brasil sobre o tema;
- O que aconteceu de mais relevante no tema nos últimos anos;
- Ações mais relevantes do Brasil no tema nos últimos anos;

História Mundial

Parece-me importante modular o estudo das matérias de acordo com o seu peso
relativo no concurso. Em suas diferentes fases, o concurso soma um total de 865 pontos
em jogo. Destes, apenas 10, cerca de 1% do total de pontos do concurso, trata
diretamente de História Mundial. De resto, História Mundial aparece como elemento
acessório em algumas questões de outras matérias.

Mesmo que a matéria tenha peso relativamente grande no TPS, após os primeiros
meses de preparação, sempre estudei História Mundial de modo muito coadjuvante,
esquecendo-a por meses e empreendendo uma revisão para o TPS a partir do momento
que saísse o edital.
No cronograma de estudos que incluí neste relato, História Mundial conta com um
peso relativamente grande, mas isso porque ele envolve um período imediatamente pré-
TPS. Entre agosto/2012 e maio/2013, não li uma linha de História Mundial. Naturalmente,
não digo que é esse o caminho que vocês devam seguir, afinal, como reiterei aqui alguma
vezes, este relato não é uma fórmula incontornável para passar no concurso. Mas, enfim,
foi essa minha abordagem de História Mundial, bastante marginal em relação às outras
matérias.
Em termos de aulas, não destaco nenhum professor em particular. O centro dos
meus estudos baseou-se em leituras.
Em História Mundial, diferentemente das demais matérias, jamais fichei nada,
justamente para economizar tempo diante do peso relativo pequeno da matéria e da sua
ultraconcentração em termos mais genéricos no TPS.

Seguem algumas obras:

- As Eras de Eric Hobsbawn: são históricas favoritas do concurso, mas não minhas. Li Era
das Revoluções integralmente e algumas partes de A Era do Capital e de Era dos
Extremos. São textos brilhantes, riquíssimos em informações. Muitas informações.
Informações demais. Talvez o recurso ao livro seja interessante para aprofundar alguns
temas mais ásperos do edital, mas, ao menos para mim, ler os Eras me parece algo
extremamento demorado e com elevados custos de oportunidade, considerando o peso
de HM no concurso.

- História da Civilização Ocidental vol.1, de Burns: livro direto ao ponto, trabalhando,


talvez, uns 70% do edital. Acho que é o melhor livro para começar e para revisitar a título
de revisão para o concurso, complementado pelas duas fontes abaixo.

- Novo Manual do candidato FUNAG História Mundial Contemporânea, de Paulo


Fagundes Visentini: Pessoalmente, acho um manual bastante bom! Foi a minha principal
fonte de estudos de revisão no período pré-TPS, juntamente com o História da Civilização
Ocidental do Burns. Recomendo a leitura.

- Wikipedia(sobretudo em língua inglesa): a Wikipedia em inglês é uma fonte espetacular


de estudos para História Geral. Quando estudava os temas de História Geral, sempre ia
ao Wikipedia em inglês ou em espanhol (para temas de história latino-americana por
exemplo) para aprofundar informações e buscar detalhes. Mesmo que vez ou outra tenha
alguma informação dissonante, é uma fonte protagonista, que, creio, não deve ser
descartada.

Geografia

Se há uma matéria em que aulas de cursinho foram centrais para a minha


preparação, foram as de Geografia. Tive aulas com os professores Thiago Rocha e - com
mais frequência - João Felipe, no Curso Clio Online e Telepresencial. O Thiago Rocha é
excelente, mas só tive aulas no início do curso. Meu percurso com o João Felipe foi mais
longo, e é difícil economizar elogios. As aulas são completas, muito organizadas, repletas
de dados e de dicas de bibliografia. Nesse caso, minhas anotações de aula do Thiago e
do João Felipe foram principais fontes bibliográficas e de revisão.
Já de saída alerto que o estudo que vocês farão em Geografia serve quase que
exclusivamente para a Terceira Fase. A prova de geografia no TPS é, ano após ano, uma
tragédia: imprevisível, mal elaborada, adentrando com grave imprecisão em outros
campos que não a geografia. É, sem dúvida, a pior prova da Primeira Fase, não por ser
difícil, mas por ser extremamente mal feita. Em termos de preparação para o TPS, eu
abandonei por completo o estudo de geografia, por ser simplesmente inútil diante da
baixa qualidade das questões de Primeira Fase.

No mais, seguem algumas dicas:

- Obras de Milton Santos: o importante para a prova de geografia, creio, não seja ler e
fichar as obras em sua inteireza, mas seus principais argumentos. Minha tática com Milton
Santos foi semelhante à que considero mais adequada para as “obras temáticas” de
História do Brasil: ler algumas páginas, folhear os textos, tentar captar a linguagem e os
argumentos usados. É importante conhecer e saber usar o jargão miltonsantês, baseado
em dualidades como “espaços fluidos e viscosos, luminosos e opacos”, além de “Região
Concentrada”, “meio natural, meio técnico, meio técnico-científico-informacional” e suas
subdivisões, definição de “espaço”, “rugosidades” etc. Li integralmente a obra “Brasil,
Território e Sociedade no início do século XXI”, alguns pedaços de “Por uma outra
globalização”, e foi isso. O recurso a anotações de aula e a guias de estudo foi mais
relevante para aprender os conceitos.

- Obras de Bertha Becker: jamais li nenhuma, mas a citei com desenvoltura em várias
provas. Não se pode exagerar a relevância dos estudos de Amazônia de Bertha Becker
para a prova, vez que a perspectiva dela é paradigma para a política de desenvolvimento
e de conservação do espaço amazônico desenvolvida e implementada pelo Poder Público
brasileiro.

- Geografia: pequena história crítica, de Antonio Robert Moraes: membro histórico da


banca de geografia e autor deste livro, que inclui basicamente tudo que é necessário
saber sobre história do pensamento geográfico.

- Demais obras: parece relevante conhecer ao menos a existência e sobre o que falam
certas obras centrais da geografia, com o fim de citá-las. Dou alguns exemplos:
- Antropogeografia e Geografia Política: Friedrich Ratzel
- O Espaço Urbano e Geografia Conceitos e Temas: Roberto Lobato Corrêa
- Leis da migração: Ernst Ravestein
- A teoria das fases de transição demográfica, de Warren Thompson
- Os conceitos de Geopolítica, tema cada vez mais central no concurso: buscar os
estudos de Alfred Mahan, Halford Mackinder, Friedrich Ratzel.

- Guias de estudo: os fichamentos das melhores questões de provas anteriores


selecionadas no guia de estudos foram boa maneira para ver os conceitos que sempre
aparecem e como esses conceitos fundamentais da geografia são usados no contexto de
uma questão.

- Internet: ferramenta muito importante para complementar as informações obtidas pelos


meios acima. Buscava autores, temas e conceitos na internet para comparar com as
anotações e aprofundá-las.

- Fontes primárias: por fontes primárias, me refiro a relatórios, levantamentos, estatísticas


e censos. Os sites do IBGE, da ONU e da burocracia nacional são fontes de diversas
informações, como por exemplo:

- Balanço Energético Nacional


- Censo 2010
- REGIC 2007
- Censo agropecuário 2006
- Plano Nacional de Logística e Transporte
- Plano Safra da Agricultura Familiar
- Relatório sobre a Situação da População Mundial da ONU
- Plano Amazônica Sustentável
- entre outros.
Em cada tema específico (energia, rodovias, meio ambiente) buscava documentos
no site da burocracia federal que se relacionassem ao tema. Buscas no google, do tipo
“Amazônia plano Ministério Meio Ambiente”, “hidroeletricidade brasil ibge”, muitas vezes
bastavam para encontrar muitos documentos e dados. Neste site, em particular, tem muita
coisa: http://downloads.ibge.gov.br/downloads_estatisticas.htm
Como há muita informação, deve-se selecioná-la, e os relatórios devem ser lidos
em sua parte substancial, porque costumam ser longos.

Economia

O conteúdo de Economia divide-se em quatro grandes partes: Microeconomia,


Macroeconomia, Economia Internacional e Formação Econômica do Brasil. Para cada
uma, adotei uma abordagem específica:

Microeconomia
Estudei quase que exclusivamente pelo livro do Mankiw. Em alguns pontos,
sobretudo Teoria do Consumidor, em que costumava patinar um pouco, recorri ao Pindick
e a buscas na Internet (estas, sobretudo, para esclarecer pontos específicos como efeito-
preço, efeito-renda e efeito-substituição, além de definições mais sofisticadas sobre Bens
de Giffen, por exemplo).
Atualmente, Microeconomia tem peso bastante reduzido no concurso. É bastante
representativo no contexto do TPS, mas pouquíssimo na Terceira Fase. Naturalmente,
isso pode mudar, e é fato que o bom desempenho em Microeconomia tem peso marginal
relvante no TPS, pois grande parte dos candidatos vai bastante mal. Não é algo a ser
ignorado, certamente, mas o estudo de Micro foi coadjuvante na minha rotina.

Macroeconomia
Baseei meus estudos basicamente nas seguintes fontes:

- Introdução à economia, do Mankiw: bom para os conceitos básicos e para a


compreensão das relações entre variáveis macroeconômicas. Deve ser ponderado,
contudo, que se trata de uma obra que tem como pano de fundo a economia dos Estados
Unidos, o que faz do estudo apenas de Mankiw insuficiente para a Macroeconomia do
CACD.
- Contabilidade Social - A Nova Referência das Contas Nacionais, de Carmen Feijó: o
pessoal costuma estudar os capítulos 3 e 5, baseados na antiga listagem de bibliografias
oferecida pelo CESPE, mas eu estudei os capítulos 1, 2, 5, 7 e início do 9, na medida em
que fossem relevantes para o tema que estudava no edital.

- Dados e documentos dos sites do IPEA, MDIC, e Banco Central: por meio da internet, é
possível ter acesso a documentos consolidados, a notas de imprensa e a estudos de
conjuntura demonstrando como andam as diversas variáveis macroeconômicas do Brasil
e suas relações, como câmbio, juros, déficit público, política fiscal, política monetária,
dados de comércio exterior, balanço de pagamentos etc. Vale muito a pena circular pelos
sites dessas três instituições, de modo a trazer para a prática brasileira os conceitos
fundamentais de Macroeconomia.

Em específico, recomendo os links abaixo, embora não apenas eles:

-Sala de imprensa do MDIC: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sala-


imprensa/busca-noticias.php

-Estatísticas de comércio exterior do MDIC:


http://www.desenvolvimento.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=566

-FAQ do Banco Central do Brasil: o BCB tem um FAQ específico acessível


diretamente pelo site do Banco Central. Não é desse FAQ que falo, mas de um outro que
acessava pelo google. Digitem no Google, sem aspas, “faq bcb pdf”, e surgirão diversos
resultados, com arquivos de .pdf tratando de diversos pontos do edital em linguagem
simples, direta e abrangente. Um link direto é este: http://migre.me/h8tYZ

-Carta de Conjuntura do IPEA: traz o panorama econômico momentâneo do Brasil


e do mundo em linguagem sem rodeios e em todas as variáveis:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?
option=com_alphacontent&view=alphacontent&Itemid=59

Economia internacional

- Mankiw: útil para os conceitos básicos e instrumentais


- Sites acima
- Relatórios da UNCTAD: http://unctad.org/en/Pages/Publications.aspx
- World Trade Reports na OMC: não lia esses relatório inteiramente. Lia o início, o fim, e
folheava o miolo e lia partes que julgava mais centrais para os fins do concurso:
http://www.wto.org/english/res_e/reser_e/wtr_e.htm

Formação econômica do Brasil

- Anotações do curso de FEB do professor Daniel Sousa, do Curso Clio: foram a base
fundamental dos meus estudos. Eu considerava esse caderno como um
“megafichamento”. Quando estudava os temas de FEB, começava estudando por essas
anotações e depois as complementava com estudos em outras fontes, achadas
fundamentalmente na internet.

- Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado: cai quase todo ano. É importante
conhecer essa obra intimamente a partir de sua parte IV.
- Artigos encontrados no google: quando queria aprofundar um tema específico,
simplismente jogava o tema no google e buscava algum artigo, dissertação de mestrado
ou algo do tipo. Digamos, funding loan, tema explicado de maneira superficial com
frequência. Escrevo no google, sem aspas, “funding loan pdf”, e aparece um belíssimo
artigo do Marcelo de Paiva Abreu (autor do Ordem e Progresso, que jamais li) sobre os
funding loans brasileiros: http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/view/142/77

Direito

Uma das principais fontes de estudo foram os cadernos de aula dos professores
Ricardo Victalino e Guilherme Bystronski. Extremamente organizados e detalhados, são
um excelente ponto de partida para o estudo tema a tema. Para Direito Interno, não usei
nada além das anotações das aulas do Victalino. Para DIP, além das aulas do Guilherme,
recomendo ainda:

- Manual de Direito Internacional de Valério Mazzuoli: não costuma figurar entre os


manuais indicados, mas foi o único manual geral que usei. Gosto muito, porque é
bastante completo em comparação às demais obras nacionais, é um trabalho de pesquisa
de fôlego, além de didático e agradável de ler. A obra, contudo, demanda cuidados. Trata-
se de uma obra claramente militante, defendendo posições minoritárias na doutrina, mas
que visam ao avanço de certos aspectos do Direito Internacional, como o status
diferenciado aos direitos humanos. Deve-se tomar cuidado com certos argumentos do
autor, como a ideia de que a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 é jus
cogens ou que tratados internacionais sobre direitos humanos equivalem à Constituição,
por não serem esses os entendimentos correntes.

- Fichamento dos Guias de Estudos: Direito é a prova em que as questões mais se


repetem. Assim, conhecendo os argumentos usados nas provas, você pode
instrumentalizá-los no contexto de suas provas que tenham questões parecidas ou iguais.
É também uma maneira de conhecer a linguagem e a forma apreciadas pela banca.

- Textos indicados no Curso de Aperfeiçoamento para Diplomatas do Instituto Rio Branco:


bela descoberta derivada das aulas do Clio. Alguns textos são doutrinariamente ousados
ao extremo, mas, no geral, costumam incluir temas previstos no edital de modo
aprofundado e, não raro, foram clara inspiração de questões da 3a fase:
http://www.institutoriobranco.mre.gov.br/pt-
br/curso_de_aperfeicoamento_de_diplomatas_-_cad.xml

- Sites do Mercosul, da OMC, da ONU, da União Europeia, do Conselho da Europa e da


OEA / Comissão Interamericana/ Corte Interamericana de DH: principal fontes para
estudo de estrututa institucional, histórico e funcionamentodessas instituições.

- Textos de tratados e de legislação: sempre acho que fontes primárias são melhores que
artigos sobre essas mesmas fontes primárias. Então, eu lia e anotava os principais pontos
dos tratados mais cobrados, como Convenções de Viena sobre Imunidades, Convenção
sobre Direito dos Tratados, Tratado de Roma, Estatuto do Estrangeiro, CF/88 etc.

- Artigos recentes dos membros da banca: é importante ver quais são os temas de
preferência dos membros da banca. Antenor Madruga, um dos membros da banca, é uma
das maiores autoridades do país em cooperação jurídica internacional, com uma série de
artigos publicados e encontrados facilmente na internet. Não deveria ser surpresa o peso
desse tema na 3a fase deste ano.

Português

Meus estudos de Português eram feitos fundamentalmente pelo Celso Cunha e


pela Internet. Após algum tempo, o meu estudo se baseou em um retorno frequente a
fichamentos dos temas que me causavam mais problemas (regras de uso de hífen,
diferenças entre adjunto adnominal e complemento nominal, decorar figuras de
linguagem, estrutura das palavras). Passei a estudar esses temas quinzenalmente, o que
os tornou menos áridos.
Mas acredito que, assim como em Inglês, a melhor maneira de estudar Português
é por exercícios. O site Questões de Concursos têm uma oferta imensa de provas, e
sempre vale a pena fazer e refazer as provas anteriores de português e, após isso,
efetuar um levantamento dos erros.

Línguas

A maneira mais eficiente de estudar línguas durante minha preparação foi fazer
exercícios estilo TPS (para inglês) e 3a/4a fase com frequência, seja orientado por
professores, seja individualmente.
Para exercícios TPS, não apenas de línguas, mas das demais matérias, a principal
fonte foi o site Questões de Concursos (que, aliás, foi também minha fonte privilegiada de
exercícios para as demais matérias em que fazia exercícios estilo TPS). Eu não gostava
de fazer as questões diretamente no site, mas de fazer o download de provas de
inglês/história mundial/português de diversos concursos e resolvê-las integralmente antes
de verificar gabaritos.
Para exercícios 3a fase, fazia questões de provas anteriores sozinho (comparando
depois com as melhores respostas), ou orientado por professores. Para inglês, gostava do
curso de exercícios de redação estilo 3a fase do Curso Clio, mas acredito que consegui
desmistificar a prova de maneira mais clara com as aulas do professor Rodrigo
Armstrong. Digo isso, sobretudo, por perceber a relevância de estratégias específicas de
resolução de prova e que, devido à natureza da prova e do tempo, o ideal é não
complexificar em excesso os argumentos, palavras e estrutura, com uso obsessivo de
palavras extravagantes decoradas na véspera. O importante é fluidez, objetividade,
coerência e qualidade da linguagem. Em francês, fui orientado online pelo excelente
professor Samir Hattabi. Em espanhol, disciplina da qual parti do zero, comecei com aulas
particulares em Curitiba com a professora Patricia Rodrigues, e segui com exercícios
online com a Nelly Gamboa para consolidar a redação.
Em relação a estudos, nunca funcionaram para mim estratégias de fazer leituras de
notícias diariamente, elaborar grandes listas de vocabulário e coisas do gênero. Meu
estudo de leituras era, basicamente, ler provas anteriores dos guias de estudo, revisar
exercícios que fiz sozinho ou com orientação de professores e consultar dicionários
quando necessário. Buscava, contudo, ler textos de outras matérias em inglês com
frequência, e, durante minhas rotinas de estudo, meu descanso era basicamente deitar na
cama e assistir CNN. Quando ouvia uma palavra interessante, buscava no dicionário, e
esperava, de repente, usá-la em algum exercício eventualmente. O que eu fazia e achava
particularmente útil era fazer uma lista de “correções e erros” das atividades com cada
professor. Escrevia o que tinha errado em determinado exercício de determinado idioma,
colocava a forma correta, a explicação para a incorreção e escrevia algumas frases
treinando a forma correta da palavra/expressão que errei.
Segunda Fase

A Segunda Fase sempre foi a fase que mais me assustou no concurso. Era um
temor que, acredito, foi alimentado pelo início da minha preparação para segunda fase em
cursinhos. Ter recebido zeros, descontos imensos de gramática, listagens de palavras
supostamente proibidas, foi algo que atentou contra a minha confiança e que,
sinceramente, não ajudou meu texto a evoluir.
Depois de fazer a Segunda Fase em 2012, percebi que o rigor na correção da
forma era muito menos idiossincrática do que me fora passado. Os descontos e a
exigência da banca me pareceu ser muito mais em termos de qualidade de conteúdo.
Então, havia duas barreiras a superar: em primeiro lugar, o conteúdo; em segundo lugar, a
excessiva cautela com a forma.
O curso com a professora Vivian Muller me ajudou a superar as duas deficiências -
embora não a insegurança, a herança maldita do início da minha preparação. Embora eu
saiba que muita gente tem desempenhos fantásticos sem preparação específica de fôlego
para a segunda fase, a melhor estratégia para superar minha insegurança com o
desempenho da segunda fase foi melhorar meu conteúdo. A Vivian repassou uma
profusão de bibliografias específicas, que busquei ler e fichar com grau de
prioridade/tempo de dedicação semelhante ao que dedicava a História do Brasil e Política
Internacional. Passei a acreditar que, ok, “só a gramática salva”, mas que só o conteúdo
aprova. Meu estudo envolveu, embora não somente, principalmente as seguintes obras:

- O Romantismo e a ideia de Nação no Brasil, de Bernardo Ricupero

- Literatura e sociedade, de Antonio Candido

- Dispersa demanda, de Luiz Costa Lima (primeiro capítulo)

- Ideias em movimento, de Angela Alonso

- Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda

- Redes de indignação e esperança, de Manuel Castells

- Os três tipos puros de dominação legítima, de Max Weber

- A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber

- Legitimidade e outras questões internacionais, de Gelson Fonseca Jr.

- Pesquisa na internet sobre os estudos de Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu

Busquei ler as obras indicadas pela Vivian e buscar outras, sendo estas
instrumentais para o meu processo de diferenciação, para que meu texto fosse, tanto
quanto possível, diferente em termos de conteúdo dos demais. Todo mundo cita Sérgio
Buarque, mas trabalhar Bauman, Weber ou Ilmar Rohloff é algo mais raro, e, acreditava,
poderia ser premiado pela banca conhecer e manejar o argumento desses autores.
Nos aspectos de forma, que trabalharei a seguir, as explicações da Vivian me
serviram em basicamente todas as demais provas, aprofundando a impressão que eu já
tinha de que a forma é tão ou mais vital que o conteúdo no CACD.
Forma: estratégias de resolução de prova

No CACD, creio que o conteúdo claramente se subordina à forma. Não interessa


saber apenas mostrar que você conhece o conteúdo, mas amarrá-lo em um texto
formalmente coerente. Ao meu ver, essa coerência formal envolve os seguintes aspectos:

- Não apenas jogar os conteúdos na questão, mas organizá-los em uma tese que será
explicitada no início da questão;

- Usar os argumentos de autoridade e as citações não como argumentos em si, mas


como suporte para os seus próprios argumentos. Como diz o amigo Pedro Piacesi,
também aprovado neste ano, o texto deve expressar a sua voz, e não tomar de
empréstimo a voz de terceiros.

- Amarrar o conteúdo com princípios, conceitos gerais, termos consagrados e jargões


(estes não na Segunda Fase!) típicos de cada matéria.

- Responder as questões de maneira equilibrada. Não raro, uma pergunta incluirá, na


verdade, dois, três ou quatro questionamentos. Se a questão de prova estiver
perguntando, em verdade, três elementos (por exemplo, a questão 2 de História do Brasil
de 2013), deve-se dedicar o mesmo espaço a cada um desses elementos.

- Planejar a estrutura antecipadamente. É impossível fazer rascunhos na Terceira Fase,


mas me parece essencial definir antecipadamente o que escrever, em um pequeno
esquema a ser feito em 5 minutos.

Para exemplificar mais ou menos como eu aplicava essas ideias acima em uma
questão, coloco como exemplo minha questão 1 na prova de História do Brasil deste ano.
Acho um bom exemplo porque acho que todos esses aspectos, acredito, estão presentes
na questão, e porque consegui nota máxima nela. Abaixo, consta o scanner da questão e,
a seguir, o modo como apliquei os pontos acima.

Questão 1: Disserte sobre as relações Brasil e Inglaterra no período de 1808 a 1831


https://www.security.cespe.unb.br/IRBR_13_DIPLOMACIA/Disc...

Prova Escrita - História do Brasil - Questão 1

1 de 61 28/11/13 11:33
https://www.security.cespe.unb.br/IRBR_13_DIPLOMACIA/Disc...

Prova Escrita - História do Brasil - Questão 1

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Prova Escrita - História do Brasil - Questão 1

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Em relação aos pontos que eu buscava seguir ao fazer uma questão desse tipo,
seguem os comentários:

- Não apenas jogar os conteúdos na questão, mas organizá-los em uma tese que será
explicitada no início da questão e Usar os argumentos de autoridade e as citações não
como argumentos em si, mas como suporte para os seus próprios argumentos.
Achei importante não apenas falar quais foram os aspectos das relações entre BR
e Inglaterra no período (tratados desiguais, negociação da independência, transmigração
da corte). Esses exemplos, para mim, deveriam servir a uma tese. O argumento que
busquei usar é que o que orientou as relações entre BR e ING foi uma subordinação
deliberada do interesse nacional por parte dos Bragança com o fim de manter a dinastia,
e que isso ensejou um paradoxo: sacrificou-se o interesse nacional para manter a Coroa,
mas as contradições geradas pela aceitação das relações com a ING em termos
pesadamente assimétricos foi a base para, justamente, desestabilizar a dinastia e levar as
elites nacionais a retirarem o apoio a D. Pedro I. Os argumentos e os exemplo que
apresento nos parágrafos sempre dialogavam com essa tese inicial, não estando soltos,
mas servindo de suporte a essa tese.

- Amarrar o conteúdo com princípios, conceitos gerais, termos consagrados e jargões


(estes não na Segunda Fase!) típicos de cada matéria.
Cada matéria tem termos que cabem em quase toda questão. Nessa questão em
particular, busquei usar expressões e conceitos como “lógica de dependência
assimétrica”, “ensaios de autonomia”, “periferização”, “entropia regencial”, “metrópole
interiorizada”, enfim, termos correntes em livros e artigos que tratam de história das
relações exteriores. Em PI, parece-me importante usar termos frequentes em documentos
diplomáticos e discursos (articulador de consensos, ativa e altiva etc); em Direito e
Economia, jargões típicos da matéria; em Geografia, os seminais conceitos de Milton
Santos e Bertha Becker, além dos conceitos e geopolítica (pivô geográfico, heartland...).
São esses conceitos e princípios gerais que amarram a questão, dando unidade e ligando
exemplos e eventos específicos a fenômenos e estudos mais gerais.

- Responder as questões de maneira equilibrada. Não raro, uma pergunta incluirá, na


verdade, dois, três ou quatro questionamentos. Se a questão de prova estiver
perguntando, em verdade, três elementos (por exemplo, a questão 2 de História do Brasil
de 2013), deve-se dedicar o mesmo espaço a cada um desses elementos.
Nessa questão, havia apenas uma pergunta., então não apliquei esse princípio
aqui. Contudo, se houvesse três perguntas, eu faria uma divisão aritmética do espaço.
Dedicaria cerca de 13 linhas à introdução, 5 linhas à conclusão, e as 72 linhas restantes
dividiria em três, tentando dedicar cerca de 24 linhas para cada questionamento.

- Planejar a estrutura antecipadamente. É impossível fazer rascunhos na Terceira Fase,


mas me parece essencial definir antecipadamente o que escrever, em um pequeno
esquema a ser feito em 5 minutos.
Meu rabisco da estrutura era mais ou menos o seguinte:
- TESE: subordinação do interesse nacional para manter a coroa de bragança
(trabalhar isso em introdução de 10 a 15 linhas)
- 1a parte (1808-1822): bloqueio, transmigração, tratados desiguais (tarifas,
extraterritorialidade, tráfico), expedição militar contra Guiana. Ensaio de autonomia:
intervenções na Cisplatina e abertura dos portos às nações amigas) ( 2 parágrafos, 15 a
20 linhas cada)
- 2a parte (1822-1831): citar Amado Cervo e Clodoaldo Bueno (crítica aos termos
de negociação do reconhecimento), participação de mercenários britânicos na guerra de
independência, interesse britânico na independência x disposição de Dom Pedro em
sacrificar interesse nacional, novos tratados desiguais (tarifas, tráfico, não atrair colônias
africanas, independência enquanto concessão lusa), guerra da cisplatina ( 2 parágrafos,
15 a 20 linhas cada)
- 3a parte: consequências das relações: paradoxo fundamental -> subordinou
interesse nacional para manter Coroa, mas subordinação do interesse nacional contrariou
elites internas e ensejou a instabilidade e queda de Dom Pedro (1 parágrafo, 15 a 20
linhas)

Era basicamente assim: colocava a tese que orientaria a minha questão,


apresentando-a aos poucos na introdução; dividia a questão em grandes blocos mais ou
menos simétricos, em que trabalharia um período, os eventos que ocorreram e a ligação
de tudo isso com a tese; colocava uma palavra/expressão em cada grande bloco que
representa os eventos e exemplos que trabalharia em cada bloco. A partir daí, minha
questão estava basicamente pronta: era só seguir o roteiro e escrever
Considerações finais

Nessas cercas de 20 páginas, tentei resumir cerca de 3 anos e meio de estudos e


o que sobrou, na minha opinião, de mais eficaz após muitos avanços e recuos, muita
tentativa e erro. Todo mundo que se prepara para o CACD passa por esse tipo de
frustração, e é natural que percebamos as falhas com clareza apenas no final do
percurso. Não busquei aqui explicitar rigorosamente tudo que acho sobre o concurso (por
essa razão, pouco falei sobre estratégias específicas de TPS ou de 4a fase, porque eu
nunca tive uma estratégia específica para além da organização de estudos), mesmo
porque seria uma tarefa para a qual, atualmente, realmente falta tempo. A ideia foi colocar
as conclusões às quais cheguei ao longo da minha preparação e estratégias que,
acredito, foram o que me fizeram melhorar e alcançar a aprovação, e claro que esses que
considero pontos centrais da minha aprovação não envolvem a totalidade das variáveis
do concurso.
Peço desculpas se algumas partes estão confusas e mal escritas - sei que a grade
de estudos é uma questão desafiadora, por exemplo -, mas acredito que seja tanto
consequência da inevitável subjetividade da experiência de estudos quanto da pressa em
terminar logo. Assim, busquem suprir as lacunas com seus próprios estudos, outros
relatos, orientação de professores e bate-papo com outros candidatos, ou não hesitem em
me contatar para tirar eventuais dúvidas. Não prometo uma resposta rápida, mas farei um
esforço para tentar ajudar.
Novamente, faço votos de que este relato lhes seja útil na preparação para o
CACD. Espero que consigam extrair alguma coisa de relavante e que essas 20 páginas
não sejam perda de tempo no escasso cronograma que sei que todos seguem.
Um abraço, e bons estudos!

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