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OS SUJEITOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Tema: Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas


Alunas: Fabiana Cristina da Silva
Luciane de Oliveira Penna
Lucilena de Luiz
Universidade Federal de São Carlos / Secretaria Municipal de Educação e Cultura

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a


posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da
leitura daquele (A palavra que eu digo sai do mundo que estou
lendo, mas a palavra que sai do mundo que eu estou lendo vai
além dele). (...) Se for capaz de escrever minha palavra estarei, de
certa forma transformando o mundo. O ato de ler o mundo implica
uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho
com esse mundo”.
(Paulo Freire – Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura –
Campinas, novembro de 1981).

Para iniciar o processo de alfabetização deve-se levar em conta o fato de que os


educandos, ao chegarem à sala de aula, já têm algumas familiaridades com a língua materna,
pois a utilizam constantemente através da comunicação verbal.
É preciso levar em consideração que a fala trazida pelos educandos está carregada de
variedades lingüísticas que acabam sendo trazidas para dentro da sala de aula. Não podemos
considerar o falar certo ou errado, devemos sim, ajudá-los a melhorar sua maneira de falar e
escrever nos diversos usos da língua e nas diferentes situações.
É necessário demonstrar aos educandos que o uso da linguagem depende da
circunstância, da familiaridade e do interlocutor. A linguagem serve para transmitir
informações, fazer promessas, tentar convencer, dar ordens, expressar desejos, opiniões,
raciocínios e também se faz presente em diversos meios de comunicação tais como: livros,
jornais, placas de sinalização, conversas informais, etc.
O educador, como um dos sujeitos envolvidos no processo de alfabetização, precisa de
uma preparação adequada, tanto na sua base teórica, pedagógica e metodológica, quanto na
questão da adequação da realidade vivida pelos educandos.
O que se busca no processo de alfabetização é uma leitura e escrita de forma crítica e
profunda. Essa leitura e escrita de uma maneira crítica é o trabalho de alfabetização
acompanhado de apreensão pelo educando. Este, nesse sentido, é visto como alguém que está
à margem de uma sociedade capitalista como a nossa.
Cabe ao educador a tarefa de alertar este educando. Mas também não podemos
reservar toda essa tarefa ao educador; o educando deve se conscientizar da realidade a qual
está inserido. A partir de então, podemos vir a criar cidadãos com uma visão crítica e
aprofundada da realidade.
Nesse sentido, o alfabetizador deve incentivar a leitura e a escrita em sala de aula. De
que modo? O professor alfabetizador deve organizar situações que sejam significativas, ou
seja, situações reais para estimular e, consequentemente, facilitar a aprendizagem.
Diante dessa constante convivência com a escrita, o alfabetizando entrará em contato
com o que chamamos de “conflitos cognitivos”. O conflito cognitivo é essencial na
aprendizagem, pois é ele que cria o interesse, o entusiasmo na procura de respostas às
questões que surgem.
Para dar início à alfabetização não devemos utilizar cartilhas nem atividades e palavras
descontextualizadas, mas sim, carregadas de significados que despertem nos educandos o
interesse e o gosto pela leitura. De acordo com Paulo Freire (1992, p.76.) “ler um texto é algo
sério (...) é aprender como se dão as relações entre as palavras na composição do discurso. É
tarefa de sujeito crítico, humilde e determinado. (...) Implica que o (a) leitor (a) se adentre na
intimidade do texto para aprender sua mais profunda significação”.
A leitura dos textos dever ser precedida de atividades que motivem os alunos a
levantar questões a respeito de temáticas que fazem parte de seus interesses, devem ser
relevantes a aprendizagem, para que desta forma possa provocar debates, buscando assim,
novos conhecimentos com o objetivo de enriquecer suas vivências, valores e atitudes.
Os textos podem e devem ser explorados em todos os seus aspectos para que
propiciem o desenvolvimento da língua falada e escrita, como também conhecimentos que
sejam significativos para a vida em sociedade.
Para um trabalho efetivo de leitura faz-se necessário que o educador leia e trabalhe
com certa freqüência diversos tipos de textos, como por exemplo, revistas, contos, livros,
jornais, poemas, propagandas, logotipos conhecidos pelos alunos, canções, parlendas, rótulos
de produtos, quadrinhas, correspondências, avisos, textos que se sabem de cor, etc...
Textos informativos e atuais também são importantes para ensinar aos alunos, pois
além de deixá-los informados dos fatos que acontecem na sociedade, podem também aprender
a utilizar a língua. Não se pode esquecer porém, dos textos literários, que trabalham com
símbolos, sentimentos e emoções, permitindo assim, a troca e o compartilhamento de
vivências, ampliando a visão do homem e do mundo que o rodeia.
O educando pode ainda não saber ler e escrever, mas com seu conhecimento de mundo
(imagem, foto ou logotipo) saberá identificar alguns elementos que o impulsionará a uma
primeira leitura e, posteriormente, a interpretação do texto.
A aprendizagem da leitura é fundamental no processo de aquisição de conhecimento,
tanto no nível da escola como fora dela. No mundo em que vivemos, a leitura é
imprescindível “a leitura é grande auxiliar da reflexão, da meditação, do voltar-se para
dentro de si” (CAGLIARI, L. C. , 1990, p. 148).
A leitura no processo de alfabetização deve começar desde o primeiro dia de aula,
mesmo que o aluno não conheça todas as letras. O que é válido, é deixar o aluno ter contato
com o material para que dessa forma ele busque, descubra e adivinhe um pouco do conteúdo
do texto.
A leitura para ser mais eficiente, deve partir de um contato individual do educando
com o texto, para que ele tente desvendá-lo, mantendo seu próprio ritmo; caso o aluno não
consiga ler, peça a ele que procure letras ou palavras que já conheça. Após esse primeiro
contato, o educador pode e deve ler o texto para os educandos, para que dessa forma eles
percebam a pronúncia das palavras e comecem a tomar um contato mais expressivo com o
que está escrito e como é lido.
Vale dizer que a leitura deve ser uma prática com o objetivo de entreterimento,
aquisição de gosto por essa atividade, sem cobrança por parte do educador.

“A leitura proporciona ao indivíduo uma autonomia em todos os segmentos da


sociedade, oferendo também acesso à cultura geral e ao entreterimento. A consciência disso
tudo faz com que o indivíduo provoque uma reação positiva, gerando estímulos à leitura no
meio em que vive.”( M. Emília Picciano)1
“Lendo um livro, você viaja com ele, vai para terras desconhecidas, recria situações e
cenas, vive um grande amor, desilusões, experiências, civilizações passadas. Sem a leitura
você conseguirá sobreviver, mas através dela, o seu mundo se tornará mais habitável. A
pessoa que não lê é como um peixe fora d’água, está à margem de todo o mundo escrito que
a rodeia, o que limita suas ações e perspectivas...”(Cristiane R. Geragi)2

11 e 2
Relato de professoras da Educação de Jovens e Adultos.
2
Concluindo, o educador deve trabalhar cotidianamente, visando à análise, por parte do
educando, da realidade em que vive. Somente assim, teremos como formar cidadãos críticos
para podermos driblar o fantasma do analfabetismo que assola nosso país.

Bibliografia:
CAGLIARI, L.C. Alfabetização & Lingüística, 2ª. Ed. Editora Scipione, São Paulo, 1990.
CENTRO CIDA ROMANO PARA FORMAÇÃO DE EDUCADORES. Capacitação de
Alfabetizadores Populares. Instituto Sedes Sapientiae, Rua Ministro Godoi, 1484, sala 24.
p.1-21.
CENTRO CIDA ROMANO PARA FORMAÇÃO DE EDUCADORES. Princípios Políticos
Pedagógicos. Instituto Sedes Sapientiae, Rua Ministro Godoi, 1484, sala 24. p. 20-30.
CENTRO CIDA ROMANO PARA FORMAÇÃO DE EDUCADORES. A Escrita. Instituto
Sedes Sapientiae, Rua Ministro Godoi, 1484, sala 24. p.1-4.
EQUIPE DE ALFABETIZAÇÃO DO INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE PROMAD E
CENTRO MUNICIPAL DE ENSINO SUPLETIVO. A leitura e a Escrita na Alfabetização de
Jovens e Adultos. Artigos, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Ed. Paz
e Terra, Rio de Janeiro,1992.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. In______ Col. Polêmicas do Nosso tempo, Editora
Cortez, São Paulo, 1985.

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