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02/10/2016 Sociedades Limitadas – obrigações, responsabilidades e direitos dos sócios segundo o nCC ­ Migalhas de Peso

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Domingo, 2 de outubro de 2016

Sociedades Limitadas – obrigações, responsabilidades e direitos dos sócios
segundo o nCC
J. Miguel Silva

O eminente e saudoso tratadista Waldemar Ferreira, logo após a edição do Decreto nº. 3.708, de 10 de janeiro de 1919, norma até
então reguladora das sociedades limitadas, em tom ácido e profético, lecionou que o mesmo seria uma sementeira de decepções e
de demandas.

segunda­feira, 17 de julho de 2006

Sociedades  Limitadas  –  obrigações,  responsabilidades  e  direitos  dos  sócios  segundo  o


nCC

J. Miguel Silva*

O eminente e saudoso tratadista Waldemar Ferreira, logo após a edição do Decreto nº. 3.708, de 10 de janeiro
de  1919,  norma  até  então  reguladora  das  sociedades  limitadas,  em  tom  ácido  e  profético,  lecionou  que  o
mesmo seria uma sementeira de decepções e de demandas.

É voz superlativa da doutrina que ocorreram demandas, porém, decepções não prevaleceram, ao contrário, o
esguio  decreto  perseverou  por  mais  de  oitenta  anos,  e  entre  virtudes  e  desalentos  pela  sua  simplicidade  o
velho, mas consistente, normativo partiu e deixou saudades, pois incluir na codificação privada o regramento
da sociedade limitada, não pertine louvá­la, como prova, encontra­se já no Congresso Nacional, projeto de lei
que  visa  estabelecer  em  norma  própria  o  modelo  societário  mais  empregado  na  órbita  dos  negócios,  onde
mais de 95% das empresas constituídas no país, são constituídas sob o regimento das sociedades limitadas.

Há de ressaltar que seja qual for o instrumento aplicado para balizar as sociedades de pessoas, específico ou
no  tratado  de  direito  privado,  como  hoje  encontra­se,  as  demandas  não  se  furtarão,  pois  na  esfera  da
sociologia, estas encontram­se justificadas no pensamento de que o ser humano é um projeto de que não deu
certo, daí sua inquietude de per si e com os demais.

Feito  este  intróito,  nesta  oportunidade  vamos  tratar  das  obrigações,  responsabilidades  e  direitos  dos  sócios
nas  sociedades  limitadas,  matéria  que  sempre  suscitou  acirrados  debates  em  face  da  complexidade  das
relações  jurídicas  decorrentes  do  contrato  de  sociedade  e  dos  conflitos  de  interesses  que  surgem,  no  dia­a­
dia,  entre  os  sócios  ou  entre  esses  e  a  sociedade  ou  terceiros.  Não  temos  a  pretensão  de  aqui  esgotar  o
assunto,  até  porque  tal  completude  não  se  comportaria  dentro  dos  limites  deste  espaço.  Nos  ateremos  à
análise de aspectos pontuais e relevantes da matéria.

Os  direitos  e  obrigações  dos  sócios  das  sociedades  limitadas  não  estão  contemplados  no  Código  Civil  de
2002 de forma sistematizada, em segmento próprio, de modo que, para identificá­los mister se faz percorrer as
normas que compõem o regramento desse modelo societário.

1 ­ Obrigações dos sócios

1.1 ­ Obrigação de realizar o capital subscrito

A primordial das obrigações do sócio é a de realizar (pagar) a sua participação no capital social, no montante
que tenha subscrito na constituição da sociedade ou em aumentos de capital, observadas as condições (forma

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e prazo) previstas no contrato social ou na alteração contratual.

Caso  o  sócio  não  cumpra  essa  obrigação,  passa  a  ser  considerado  remisso,  o  que  significa  estar  ele
inadimplente para com a obrigação de pagar à sociedade a sua parte para a formação do capital social. Se a
inadimplência  perdurar  por  mais  de  trinta  dias  da  notificação  pela  sociedade,  o  sócio  ficará  constituído  em
mora  e  responderá  pelos  danos  que  a  sociedade  sofrer  em  decorrência  da  mora.  Nesta  hipótese,  de
conformidade com os arts. 1.004, 1.031 e 1.058 do CC/2002:

I  –  a  sociedade  poderá  entrar  com  ação  judicial  contra  o  sócio  inadimplente,  para  compeli­lo  a  pagar  o
valor  das  quotas  subscritas  ou  a  parcela  que  falta  para  a  sua  total  integralização  ou,  quando  for  o  caso,
para haver a propriedade de bem que o sócio remisso prometeu incorporar ao capital social;

II – os demais sócios poderão:

a)  por  decisão  da  maioria,  excluir  o  sócio  remisso,  mediante  a  liquidação  das  quotas  por  ele  já
realizadas e a redução proporcional do capital social, ou reduzir o número de quotas do sócio remisso
ao montante já realizado, reduzindo proporcionalmente o capital social;

b) tomar para si as quotas do sócio inadimplente ou transferi­las a terceiros, excluindo o primitivo titular
e  devolvendo­lhe  o  que  houver  pago,  deduzidos  dos  juros  de  mora,  de  outras  prestações  ou  danos
assumidos pela sociedade em virtude da inadimplência e das despesas realizadas com a cobrança do
pagamento necessário à integralização do capital.

1.2 ­ Dever de lealdade

Os  sócios  têm  o  dever  de  lealdade  para  com  a  sociedade  e  os  demais  sócios,  que  é  inerente  à  affectio
societatis e se insere como condição básica para a realização do objeto social.

A esse respeito, importa observar que o CC/2002 dispõe:

I  –  em  seu  art.  1.010,  §  3º,  que  responde  por  perdas  e  danos  o  sócio  que,  tendo  em  alguma  operação
interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças ao seu voto;

II  –  em  seu  art.  1.030,  que  o  sócio  pode  ser  excluído  judicialmente,  mediante  iniciativa  da  maioria  dos
demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações.

2 ­ Responsabilidades dos sócios

2.1 ­ Responsabilidade solidária pela integralização do capital social

Embora na sociedade limitada a responsabilidade de cada sócio seja restrita ao valor de suas quotas, todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social (art. 1.052 do CC/2002).

Portanto,  enquanto  não  integralizado  o  capital  social,  os  sócios  assumem  responsabilidade  solidária  pela
integralização  da  parte  restante,  significando  isso  que  poderá  vir  a  ser  exigido  de  qualquer  dos  sócios  a
integralização  das  quotas  de  sócio  remisso,  ficando­lhe  assegurado  o  direito  de  regresso  contra  o  sócio
inadimplente.

2.2 ­ Realização de capital em bens

Na  hipótese  de  realização  de  capital  em  bens,  todos  os  sócios  respondem  solidariamente,  perante  a
sociedade  e  terceiros,  pela  exata  avaliação  de  bens  conferidos  ao  capital  social,  até  o  prazo  de  cinco  anos
contados do ato constitutivo da sociedade (art. 1.055 do CC/2.002). No caso conferência de bens em aumento
de capital, esse prazo é contado da data de registro da alteração contratual.

O  sócio  que  integralizar  as  suas  quotas  em  bens  responde  pela  evicção  e  pelas  indenizações  e  custas
judiciais dela decorrentes. Evicção é a perda ou desapossamento do bem por causa jurídica, determinante e
preexistente à alienação, reconhecida por decisão judicial em favor de outrem. Portanto, se, posteriormente à
conferência  de  bens  à  sociedade,  a  propriedade  desse  vier  a  ser  reivindicada  por  terceiro,  reconhecido
judicialmente como o seu legítimo proprietário, o sócio que conferiu o bem responde pelos danos sofridos pela
sociedade.

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No caso de integralização de capital mediante cessão de créditos, o sócio cedente responde pela solvência do
devedor.

2.3 ­ Responsabilidade por dívidas tributárias

Conforme pacificado na jurisprudência, o sócio não responde, pela simples condição de
sócio,  por  dívidas  tributárias  da  sociedade  limitada,  porque  o  art.  135,  inciso  III,  do
Código  Tributário  Nacional,  impõe  responsabilidade  pelas  referidas  dívidas  aos
diretores,  gerentes  ou  representantes  de  pessoas  jurídicas  de  direito  privado,  em
relação a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes
ou infração de lei, contrato social ou estatutos.

Portanto, o sócio­gerente pode ser responsabilizado por débitos fiscais, nas condições
mencionadas, não pelo fato de ser sócio, mas por ter exercido a administração da sociedade. A jurisprudência
nesse sentido está consubstanciada em inúmeras decisões do STJ, como as proferidas no REsp 86439/ES e
no REsp 184458/MA, ambos julgados pela Primeira Turma, em 10/6/96 e em 11/3/01, respectivamente.

Também não se aplica aos sócios não­administradores das sociedades limitadas o disposto no art. 134, inciso
VII,  do  CTN,  o  qual  dispõe  que  nos  casos  de  impossibilidade  de  exigência  do  cumprimento  da  obrigação
principal  pelo  contribuinte,  respondem  solidariamente  com  este  nos  atos  em  que  intervierem  ou  pelas
omissões  de  que  forem  responsáveis,  os  sócios,  no  caso  de  liquidação  de  sociedades  de  pessoas.  A  não­
pertinência  dessa  disposição  aos  sócios  quotistas  que  não  tenham  função  de  dirigente  foi  confirmada  por
diversas decisões judiciais, como, por exemplo, a proferida pela 1ª Turma do STJ no REsp 27.234­5/RJ.

Todavia, importa observar que os sócios, independentemente de ser ou não administradores, podem vir a ser
responsabilizados  por  dívidas  tributárias  da  sociedade,  no  caso  de  encerramento  de  atividades  com  o
fechamento do estabelecimento, sem dissolução e liquidação, visto que, nos termos dos arts. 1.071, inciso VI,
1.072 e 1.076, inciso I, do Código Civil, a dissolução da sociedade limitada deve ser deliberada por sócios que
representem  mais  de  75%  capital  social,  em  reunião  ou  assembléia,  na  qual  hão  de  tomar  conhecimento  da
situação fiscal da sociedade.

Veja  que  no  julgamento  de  um  caso  enquadrado  na  situação  focalizada  no  parágrafo  anterior,  a  1ª  Câmara
Cível  do  Tribunal  de  Alçada  do  Rio  Grande  do  Sul  decidiu  que  os  sócios  não  poderão  exonerar­se  de
responsabilidade,  posto  que  “A  dissolução  irregular  de  sociedade  por  quotas  de  responsabilidade  limitada
acarreta  a  responsabilidade  solidária,  pessoal  e  ilimitada  dos  sócios”,  tendo  sido  mencionado  na  referida
decisão  que  “nesta  Casa  já  se  assentou  que  a  dissolução  de  fato  de  sociedade  limitada,  sem  sua  formal
liquidação,  a  transforma  em  irregular,  e,  como  tal,  passando  a  responder  seus  sócios  de  forma  solidária,
pessoal e ilimitada pelas obrigações assumidas perante terceiros”.

2.4 ­ Responsabilidade por dívidas trabalhistas

A  jurisprudência  do  Superior  Tribunal  do  Trabalho  pacificou­se  no  sentido  da  aplicação  da  teoria  da
desconsideração da personalidade jurídica em relação às sociedades limitadas, quando esse for o único meio
de  garantir  a  satisfação  de  direitos  dos  empregados,  ou  seja,  os  sócios  poderão  vir  a  ser  responsabilizados
por  dívidas  trabalhista,  na  hipótese  de  não  existir  bens  em  nome  da  sociedade  ou  o  valor  desses  for
insuficiente para saldar as referidas dívidas.

Cite­se,  por  exemplo,  a  decisão  no  ROAR  545348,  proferida  pela  Subseção  II  especializada  em  dissídios
individuais, do TST, em 27/3/01, nos seguintes termos:

“Responsabilidade  Solidária  –  Sócio  Cotista  –  Teoria  da  Desconsideração  da  Pessoa  Jurídica  –
Encerramento  das  atividades  da  sociedade  sem  quitação  do  passivo  laboral.  Em  sede  de  direito  do
trabalho, em que os créditos trabalhistas não podem ficar a descoberto, vêm­se abrindo uma exceção ao
princípio  da  responsabilidade  limitada  do  sócio,  ao  se  aplicar  a  teoria  da  desconsideração  da
personalidade jurídica (“disregard of legal entity”) para que o empregado possa,verificando a insuficiência
do  patrimônio  societário,  sujeitar  à  execução  os  bens  dos  sócios  individualmente  considerados,  porém
solidária  e  ilimitadamente,  até  o  pagamento  integral  dos  créditos  dos  empregados,  visando  impedir  a
consumação de fraudes e abusos de direito cometidos pela sociedade."

2.5 ­ Penhorabilidade das quotas sociais

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Antes do advento do CC/2002 sempre se discutiu sobre a possibilidade de penhora de quotas de sociedade
limitada, sendo conhecidos acirrados debates entre autores dos mais conceituados.

Basicamente,  o  argumento  contrário  era  no  sentido  de  que,  sendo  a  sociedade  formada  intuitus  personae,
contendo  o  contrato  social  cláusula  restritiva  da  cessibilidade  de  quotas  a  terceiros,  inadmissível  seria  a
penhorabilidade dessas posto que poderia permitir a intromissão na sociedade de um estranho não desejado,
quebrando assim a affectio societatis.

Entretanto,  na  linha  oposta  de  pensamento,  que  era  majoritária,  prelecionavam  os  defensores  da
penhorabilidade que o fato de o credor arrematar a quota do sócio devedor em leilão judicial não lhe permite
assumir status de sócio em substituição ao sócio executado.

A sustentação da tese da penhorabilidade de quotas apoia­se na lição do mestre Carvalho de Mendonça, no
sentido  de  que  o  direito  do  sócio  se  desdobra  em  duas  partes,  a  saber:  um  direito  patrimonial  e  um  direito
pessoal.  O  direito  patrimonial  é  o  direito  de  crédito  consistente  em  perceber  o  quinhão  de  lucros  durante  a
existência  da  sociedade  e  em  participar  na  partilha  do  patrimônio  líquido  residual,  depois  de  liquidada  a
sociedade. E o direito pessoal é o de participar da administração da sociedade diretamente como gerente ou
como simples conselheiro, fiscalizando os atos de administração, ou seja, todos os que as leis asseguram aos
sócios.

Assim, na esteira dessa doutrina, a penhora da quota do sócio devedor autoriza apenas a execução do direito
patrimonial.  Ou  seja,  executa­se  a  parcela  dos  lucros  líquidos  disponíveis  que  pertençam  ao  executado  e,
caso esses forem insuficientes para saldar a dívida, procede­se a liquidação da quota pertencente ao devedor
(liquidação  parcial  da  sociedade)  e,  com  o  valor  apurado  efetua­se  o  pagamento  do  crédito  do  devedor­
exeqüente, caso a execução não seja remida pela sociedade ou pelos demais sócios.

Portanto, embora a penhora recaia sobre a quota social a execução alcança somente o direito patrimonial do
sócio executado, de modo que o credor exeqüente assume a titularidade tão somente de um direito de crédito,
relativamente  aos  lucros  líquidos  e  aos  haveres  apurados  na  liquidação  da  quota,  não  se  investindo  na
condição de sócio, ficando preservada, assim, a affectio societatis.

Cabe observar que se a sociedade tiver feição nitidamente capitalista, por estar previsto no contrato social a
livre  cessibilidade  de  suas  quotas,  nada  impede  que  a  execução  alcance  tanto  o  direito  patrimonial  como  o
direito  pessoal  do  devedor  executado,  de  modo  que  o  credor­exeqüente  pode  ingressar  na  sociedade,  com
todos os direitos e obrigações inerentes à condição de sócio.

Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002 essa discussão ficou encerrada, posto que o seu art. 1.026,
encampando a doutrina da permissibilidade da penhora de quota de sócio, dispõe:

“Art. 1.026.  O  credor  particular  de  sócio  pode,  na  insuficiência  de  outros  bens  do  devedor,  fazer  recair  a
execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.

Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do
devedor,  cujo  valor,  apurado  na  forma  do  art.  1.031,  será  depositado  em  dinheiro,  no  juízo  da  execução,
até noventa dias após aquela liquidação.”

Esse  dispositivo,  embora  inserido  no  Capítulo  que  trata  das  sociedades  simples,  aplica­se  às  sociedades
limitadas,  ainda  que  o  contrato  social,  no  uso  da  permissão  do  parágrafo  único  do  art.  1.053  do  CC/2002,
preveja  a  aplicação  supletiva  das  normas  da  sociedade  anônima,  porque  essas  normas  não  contemplam
nenhuma disposição que trate da matéria.

3 – Direitos dos sócios

3.1 – Considerações preliminares

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Quando  contratam  a  constituição  de  uma  sociedade  limitada  ou  ingressam  em  uma  sociedade  preexistente,
mediante  a  subscrição  ou  aquisição  de  quotas  do  capital  social,  os  sócios,  a  par  de  obrigações  e
responsabilidades, passam a ser titulares de uma série de direitos, tais como:

I ­ participação nas deliberações sociais;

II ­ fiscalização da gestão da empresa;

III ­ participação nos resultados sociais;

IV ­ preferência na subscrição de aumentos de capital;

V ­ retirada da sociedade.

Importa  observar  que  os  sócios  gozam  desses  direitos  pelo  simples  fato  de  participarem  do  capital  social,
sendo  os  limites  e  condições  para  o  exercício  desses  direitos  pactuados  entre  eles  e  definidos  no  contrato
social.

3.2 – Participações nas deliberações sociais

3.2.1 ­ Direito de votar

O direito de participar das deliberações sociais é exercido por meio de voto nas assembléias ou reuniões dos
sócios,  importando  salientar  que,  nos  termos  do  art.  1.072  do  CC/2002,  as  deliberações  sociais  serão
tomadas, conforme dispuser o contrato social, em reunião ou assembléia dos sócios, observando­se que:

I ­ se a sociedade tiver até dez sócios, as deliberações poderão ser tomadas em simples reunião; e

II ­ caso o número de sócios for superior a dez, as deliberações deverão ser tomadas em assembléia dos
sócios.

O  peso  do  voto  de  cada  sócio  é  proporcional  à  sua  participação  no  capital  social,  de  modo  que  o  sócio  que
detiver  mais  de  50%  do  capital  social  controla  a  sociedade,  ressalvando­se  as  deliberações  para  as  quais  é
exigido quorum qualificado, das quais tratamos no subitem 3.7.

O  exercício  do  direito  de  voto  não  está  disciplinado  nas  normas  do  CC/2002  que  regulam  as  sociedades
limitadas,  de  modo  que:  se  o  contrato  social  prever  a  aplicação  supletiva  da  Lei  das  Sociedades  por  Ações
(Lei  nº  6.404/76),  o  exercício  do  direito  de  voto  fica  submetido  às  regras  previstas  nessa  lei;  caso  contrário,
não  havendo  previsão  contratual  da  aplicação  supletiva  da  Lei  das  S/A,  o  exercício  do  direito  de  voto  fica
submetido às disposições previstas para o exercício desse direito nas sociedades simples.

A  diferença  entre  as  normas  da  Lei  das  S/A  e  as  previstas  no  CC/2002  para  as  sociedades  simples  está  na
solução a ser adotada em caso de empate nas deliberações.

Pelas  normas  aplicáveis  às  sociedades  simples,  em  caso  de  empate  pelo  critério  de  voto  proporcional  à
participação no capital, prevalece a vontade do maior número de sócios (art. 1.010 do CC/2002) e, se por esse
segundo critério, permanecer o empate, a decisão caberá ao Poder Judiciário.

Já a Lei das S/A não contempla esse critério de desempate com base na vontade do maior número de sócios.
O  art.  129,  §  2º,  dessa  lei  dispõe  que,  no  caso  de  empate  na  votação,  se  o  estatuto  não  estabelecer
procedimento  de  arbitragem  e  não  contiver  norma  diversa,  a  assembléia  será  convocada,  com  intervalo
mínimo de dois meses, para votar a deliberação; se permanecer o empate e os acionistas não concordarem
em cometer a decisão a um terceiro, caberá ao Poder Judiciário decidir, no interesse da companhia.

3.2.2 ­ Matérias que dependem de deliberação em reunião ou assembléia

A  realização  de  reunião  ou  assembléia  de  sócios,  regularmente  convocada  e  instalada,  é  necessária  para
deliberar sobre as seguintes matérias (art. 1.071 do CC/2002):

I ­ aprovação das contas da administração;

II ­ designação dos administradores, quando feita em ato separado;

III ­ destituição dos administradores;
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02/10/2016 Sociedades Limitadas – obrigações, responsabilidades e direitos dos sócios segundo o nCC ­ Migalhas de Peso

IV ­ modo de remuneração dos administradores, quando não estabelecido no contrato;

V ­ modificação do contrato social;

VI ­ incorporação, fusão ou dissolução da sociedade, ou cessação do estado de liquidação;

VII ­ nomeação e destituição dos liquidantes e julgamento das suas contas;

VIII ­ pedido de concordata.

Além  dessas  matérias  relacionadas,  o  contrato  social  pode  indicar  outras  matérias  que  dependem  de
deliberação dos sócios em reunião ou assembléia.

3.2.3 ­ Periodicidade de reunião ou assembléia

A assembléia dos sócios deve realizar­se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término
do exercício social, com o objetivo de (art. 1.078 do CC/2002):

I ­ tomar as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações contábeis anuais;

II ­ designar administradores, quando for o caso;

III ­ tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.

3.2.4 ­ Convocação da reunião ou assembléia

Em princípio, a convocação da reunião ou assembléia dos sócios compete aos administradores, sempre que
for necessária a sua realização, por imperativo legal ou por disposição do contrato social.

Mas a reunião ou assembléia poderá também ser convocada (arts. 1.069, V e 1.073, do CC/2002):

I  –  por  qualquer  sócio,  independentemente  da  sua  participação  no  capital  social,  quando  os
administradores  retardarem  a  convocação,  por  mais  de  sessenta  dias,  nos  casos  previstos  em  lei  ou  no
contrato social;

II –  por  sócios  titulares  de  mais  de  20%  do  capital  social,  quando  os  administradores  não  atenderem,  no
prazo  de  oito  dias,  pedido  de  convocação  por  eles  formulado  e  devidamente  fundamentado,  com  a
indicação das matérias a serem tratadas;

III  –  pelo  conselho  fiscal,  caso  houver  esse  órgão,  se  a  diretoria  retardar  por  mais  de  trinta  dias  a
convocação anual ou sempre que ocorrerem motivos graves e urgentes.

3.2.5 ­ Modo de convocação

A assembléia ou reunião dos sócios deve ser convocada por anúncios publicados no Diário Oficial do Estado
da sede da sociedade e em outro jornal de grande circulação na localidade em que a sociedade for sediada.
Se  a  empresa  for  sediada  no  Distrito  Federal,  os  anúncios  serão  publicados  no  Diário  Oficial  do  Distrito
Federal e em outro jornal de grande circulação local.

Os  anúncios  deverão  ser  publicados  por  três  vezes  (em  cada  jornal),
devendo  a  primeira  publicação  anteceder,  no  mínimo,  em  oito  dias,  a
data  marcada  para  a  assembléia,  se  em  primeira  convocação,  sendo
essa  antecedência  de  cinco  dias,  em  caso  de  segunda  convocação
(art. 1.152, § 3º, do CC/2002).

Se  todos  os  sócios  comparecerem  à  assembléia  ou  à  reunião  ou


declararem  por  escrito  estarem  cientes  do  local,  data  e  hora  da  sua
realização  e  da  ordem  do  dia,  fica  sanada  a  falta  de  publicação  dos
anúncios (art. 1.072, § 2º, do CC/2002).

3.2.6 ­ Quórum para instalação

A assembléia dos sócios instala­se com a presença, em primeira convocação, de titulares de, no mínimo, 75%
do capital social e, em segunda convocação, com qualquer número (art. 1.074 do CC/2002).
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O sócio pode ser representado na assembléia por outro sócio, ou por advogado, mediante outorga de mandato
com especificação dos atos autorizados, devendo o instrumento ser levado a registro, juntamente com a ata
da assembléia ou reunião.

A assembléia será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes (art. 1.075 do CC/2002).

3.2.7 ­ Quorum de deliberação

O  CC/2002  estabelece  quorum  qualificado  para  a  deliberação  sobre  determinadas  matérias,  dispondo  que
deve ser aprovado:

I –  por  unanimidade,  a  designação  de  administrador  não  sócio,  se  o  capital  social  não  estiver  totalmente
integralizado (art. 1.061);

II – por sócios que representem 75% do capital social, a alteração do contrato social, a incorporação, fusão
e a dissolução da sociedade ou a cessação da liquidação (arts. 1.071, V e VI e 1.076, I);

III – por sócios que representem 2/3 (dois terços) do capital social:

a)  a  destituição  de  administrador  sócio  nomeado  no  contrato  social,  se  o  contrato  social  não  previr
quorum diferente, maior ou menor (art. 1.063, § 1º);

b)  a  designação  de  administrador  não  sócio,  se  o  capital  social  estiver  totalmente  integralizado  (art.
1.061);

IV  –  pela  maioria  absoluta,  ou  seja,  pelos  sócios  que  representem  mais  de  50%  do  capital  social  (arts.
1.071, II, III, IV e VIII, 1.076, II e 1.085):

a) a designação de administrador sócio, feita em ato separado;

b) a destituição de administrador, excetuada a hipótese referida na letra “a” do nº III;

c) a remuneração dos administradores;

d) a impetração de concordata;

e) a expulsão extrajudicial de sócio por justa causa.

Afora essas hipóteses nas quais é exigido quorum qualificado, a deliberação sobre outras matérias poderá ser
por  maioria  simples  de  votos  dos  presentes  à  assembléia  ou  reunião,  como  por  exemplo,  a  aprovação  de
contas dos administradores.

3.2.8 ­ Ata da assembléia ou reunião

Dos trabalhos e deliberações da assembléia ou reunião será lavrada uma ata, devendo cópia dela ser levada
a arquivamento na Junta Comercial, no prazo de 20 dias (art. 1.075, § 2º, do CC/2002).

A ata deve ser lavrada em livro específico, mas no caso de sociedade com até dez sócios, se o contrato social
previr que as deliberações serão tomadas em reunião dos sócios pode também dispensar a existência desse
livro.

Ao sócio, que a solicitar, deverá ser entregue cópia autenticada da ata (art. 1.075, § 3º, do CC/2002).

3.2.9 ­ Dispensa de reunião ou assembléia

A  reunião  ou  a  assembléia  tornam­se  dispensáveis  quando  todos  os  sócios  decidirem,  por  escrito,  sobre  as
matérias que seriam objeto delas (art. 1.072, § 3º, do CC/2002).

Neste caso, o documento em que ficar registrado a deliberação dos sócios deverá ser levado a arquivamento
na Junta Comercial, no prazo mencionado no primeiro parágrafo do subitem 3.2.8.

3.3 – Fiscalização da gestão da empresa

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02/10/2016 Sociedades Limitadas – obrigações, responsabilidades e direitos dos sócios segundo o nCC ­ Migalhas de Peso

O art. 1.021 do CC/2002 concede ao sócio, independentemente da sua participação no capital social, o direito
de  examinar  os  livros  e  documentos,  o  estado  da  caixa  e  da  carteira  da  sociedade,  dispondo  que,  salvo
estipulação no contrato que determine época própria para esse exame, ele poderá ser feito a qualquer tempo.

Portanto, o contrato social pode determinar época própria para os sócios examinarem os livros e documentos
mas, se não o fizer, o sócios podem, a qualquer tempo, exercer esse direito.

Até trinta dias antes da data marcada para a realização da assembléia ou reunião dos sócios para a prestação
anual de contas, os administradores devem colocar à disposição dos sócios não administradores, por escrito,
a  prestação  de  contas  e  as  demonstrações  contábeis  relativas  ao  exercício  anterior  (art.  1.078,  §  1º,  do
CC/2002).

É  facultada,  nas  sociedades  limitadas,  a  instalação  de  conselho  fiscal,  compondo­se  esse  órgão  de,  no
mínimo,  três  membros  efetivos  e  seus  suplentes,  eleitos  em  assembléia  ou  reunião  anual  dos  sócios,  com
mandato até o ano seguinte, observado o seguinte (arts. 1.066 e 1.069 do CC/2002):

I  ­  não  podem  ser  membro  do  conselho  fiscal:  as  pessoas  legalmente  impedidas  de  fazer  parte  da
administração de sociedades empresárias, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por
ela  controlada,  os  empregados  de  quaisquer  delas  ou  dos  respectivos  administradores  e  o  cônjuge  ou
parente destes até o terceiro grau;

II  ­  caso  seja  instalado  o  conselho  fiscal,  os  sócios  minoritários  que  representarem,  no  mínimo,  20%  do
capital social, podem eleger, separadamente, um membro do conselho fiscal e o respectivo suplente;

III ­ além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho fiscal
incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes:

a)  examinar,  pelo  menos  trimestralmente,  os  livros  e  papéis  da  sociedade  e  o  estado  da  caixa  e  da
carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar­lhes as informações solicitadas;

b) lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos na letra “a”;

c) exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as
operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base as demonstrações financeiras;

d) denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade.

3.4 – Participações nos resultados sociais

A participação nos resultados de empresa é, sem dúvida, o maior atrativo que levam uma pessoa a participar
de uma sociedade empresária.

Caso  o  contrato  social  não  disponha  de  forma  diversa,  os  lucros  cabem  aos  sócios  na  proporção  da
participação  de  cada  um  no  capital  social.  O  contrato  social  pode  prever  participação  nos  resultados  não
proporcional  à  participação  no  capital.  Por  exemplo,  numa  sociedade  com  de  sócios,  participando  cada  um
com  50%  do  capital  social,  pode  ser  prevista  para  um  a  participação  em  60%  nos  resultados  e  40%  para  o
outro.

O  que  é  vedado  é  atribuir  a  totalidade  dos  lucros  a  um  a  alguns  sócios,  privando  os  demais  de  qualquer
participação.

Mas  veja  que  o  direito  de  participar  dos  resultados  não  significa,  necessariamente,  que  em  todo  exercício
social no qual for apurado lucro o sócio terá garantido o recebimento do seu quinhão. Depende do que estiver
previsto no contrato social. Se o contrato previr, por exemplo, que caberá aos sócios deliberar a destinação do
resultado apurado em cada exercício social, os sócios majoritários têm poder para reter todo o lucro apurado,
podendo,  inclusive,  decidir  capitalizá­lo  integralmente.  Na  hipótese  de  capitalização  dos  lucros,  serão
atribuídas novas quotas aos sócios, na proporção da participação a que cada um tem direito.

3.5 – Preferência na subscrição de aumento de capital

Se for deliberado aumentar o capital social mediante subscrição, o que somente é permitido se o capital atual
estiver totalmente integralizado, os sócios terão direito de preferência na subscrição do aumento, na mesma
proporção das quotas de que sejam titulares.

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Para tanto, o sócio interessado deverá manifestar a sua preferência à administração da sociedade, dentro dos
30 dias seguintes à deliberação do aumento de capital (art. 1.081 do CC/2002).

O  contrato  social  pode  prever  a  preferência  dos  demais  sócios  na  subscrição  de  sobras  de  quotas,  fixando
prazo para a manifestação da nova preferência. Se o contrato for omisso sobre a questão, a cessão do direito
à subscrição a terceiros não sócios somente será admitida se não houver oposição de sócios titulares de mais
de 25% do capital social (art. 1.081, § 2º, c/c o art. 1.057 do CC/2002).

3.6 – Cessão de quotas a sócios ou a terceiros

O contrato social deve dispor sobre o modo e os critérios que devem ser observados na cessão de quotas a
sócios ou a terceiros, podendo fixar direito de preferência aos demais sócios na proporção das quotas de que
já sejam titulares.

Caso  o  contrato  seja  omisso  sobre  o  assunto,  o  sócio  pode  transferir  a  suas  quotas  a  outro  sócio,
independentemente  do  consentimento  dos  demais  sócios.  Mas  a  transferência  a  terceiros  dependerá  da
concordância de sócios que representem, no mínimo, 75% do capital social (art. 1.057 do CC/2002).

Essa concordância poderá ser expressa (por escrito) ou tácita, ocorrendo essa segunda hipótese pelo término
do  prazo  concedido  aos  demais  sócios  para  exercerem  a  sua  preferência,  sem  que  esses  tenham  se
manifestado.

3.7 – Direito de retirada

O  art.  1.077  do  CC/2002  confere  ao  sócio  o  direito  de  retirar­se  da  sociedade,  quando  ele  discordar  de
deliberação de modificação do contrato social, de fusão da sociedade, de incorporação de outra sociedade ou
da  sociedade  por  outra,  devendo  esse  direito  ser  manifestado  nos  30  dias  subseqüentes  à  data  da
deliberação.

Se exercer o direito de retirada, o sócio será reembolsado do valor das suas quotas, determinado com base no
patrimônio líquido da sociedade, verificado em balanço especialmente levantado na data da manifestação do
direito de retirada (art. 1.031 do CC/2002). Se o contrato social não dispuser ou os sócios não acordarem de
forma  diversa,  o  reembolso  deverá  ser  pago,  em  dinheiro,  no  prazo  de  noventa  dias,  a  contar  da  data  do
balanço especial (art. 1.031, § 2º, do CC/2002).

Embora o CC/2002 não incluiu, expressamente, a deliberação de transformar ou cindir a sociedade entre as
causas  que  justificam  o  direito  de  retirada  de  sócio,  considerando  que  esses  eventos  implicam  alteração  do
contrato  social,  também  facultam  ao  sócio  dissidente  retirar­se  da  sociedade  mediante  reembolso  das  suas
quotas.

Afora  essas  hipóteses  de  dissidência,  se  o  prazo  de  duração  da  sociedade  for  indeterminado,  o  sócio  pode
retirar­se dela, sem necessidade de justificativa, mediante notificação aos demais sócios, com a antecedência
mínima de 60 dias (art. 1.029 do CC/2002). Caso a sociedade seja por prazo determinado, o sócio somente
poderá dela se retirar provando judicialmente justa causa.

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*
Advogado do escritório Miguel Silva Associados

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