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FICHAMENTO

Curso de Direito Civil: Contratos

Referência: FARIAS, Cristiano Chaves de & ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil:
contratos – 7. ed. rev., e atual. – Salvador: Ed. JusPodivim, 2017. 1136 p.

CAPITULO VIII – CONTRATO DE DEPÓSITO (pp 931-961)


1. Generalidades sobre o depósito

“[...] ‘aquele que se apropriava do depósito que lhe fora confiado era estigmatizado pela
opinião pública irritada contra sua vilania e, a cada momento, devia esperar um rude golpe
vibrado pela cólera divina’, como relata Clóvis Beviláquia, em obra histórica.1” (p. 931)

“Naquele tempo, a legislação não cominava nenhuma sanção para o depositário


descumpridor de suas obrigações, o que causava uma grande insegurança.2” (p. 931)

“[...] o contrato era, exclusivamente, gratuito, não possuindo o depositário qualquer direito
à remuneração, tratando-se de uma espécie de favor prestado a um amigo [...].” (p.932)

“[...] até tempos contemporâneos, [...] o depósito é, realmente, um contrato baseado na


fidúcia (confiança). Bem por isso, caracteristicamente, o depósito é um negócio jurídico
personalíssimo (intuitu personae), porque é estabelecido a partir da probidade e da
honestidade de quem assume a guarda e conservação da coisa.” (p. 932)

“[...] o vocábulo depósito, também no âmbito da ciência jurídica, é plurívoco (não


unívoco, comportando diversos significados. Assim, além de designar uma relação
contratual (pela qual uma pessoa assume o dever de guarda e posterior restituição de um
bem a outra), também é utilizada para identificar o local em que se explora a atividade de
guarda e armazenamento.” (p. 932)

“[...] o contrato de depósito [...] caracteriza relação consumerista, disciplinada pelo


Código de Defesa do Consumidor, submetendo o fornecedor às regras da responsabilidade
objetiva. É, exatamente, o caso das relações bancárias.” (p. 933)
CAPITULO VIII – CONTRATO DE DEPÓSITO (pp 931-961)
2. Noções conceituais e características fundamentais
“O Contrato de depósito tem conceito óbvio: é aquele pelo qual uma parte (depositante ou
tradens) entrega uma coisa para ser guardada e conservada (de regra, sem utilização) por
outra (depositário ou accipiens), com posterior restituição, quando solicitada ou pelo
advento do prazo estipulado.” (pp 933-934)

“De regra, é possível pensar que o depositante tem de ser o proprietário do bem. Todavia,
observando que ordinariamente, haverá a necessidade de restituição da mesma coisa
entregue, os administradores em geral (como o usufrutário e o locatário) também podem
celebrar o depósito.” (p. 934)

“A primeira característica do depósito é, sem dúvida, a necessidade de efetiva entrega da


coisa ao depositário (tradição) – o que demonstra a natureza real deste negócio jurídico.
Partindo dessa premissa, tem-se que o contrato somente se aperfeiçoa com a entrega do
bem.” (pp. 934-935)

“Outra nota distintiva do depósito é a obrigação de custódia (guarda e conservação)


imposta ao depositário. Aliás, no ponto, convém ressaltar que este dever de guarda da
coisa é de tal monta específico que o depositário não pode dela se servir sem licença
expressa do depositante (CC, art. 640).” (p. 935).

“Entretanto, havendo licença expressa do depositante, permite-se ao depositário a fruição


da coisa e mesmo sem possibilidade de estipulação de subcontratação com terceiro, sem
que reste desnaturado o depósito.” (p. 936)

“[...] não caracteriza o depósito o recebimento de um bem como ato de tolerância ou


benevolência, sem a assunção de dever jurídico de custódia.” (p. 936)

“O dever de restituição é, sem sombra de dúvidas, característica precípua deste negócio


jurídico, acarretando como corolário, a temporariedade deste contrato. Com isso detecta-
se que o depósito não é translativo de propriedade do bem, não transferindo a sua
titularidade, que se mantém com o depositante – aliás, bem por isso, o depositante não
precisa ser o titular da coisa, podendo ter mero direito real ou pessoal sobre ela.” (p.936)
“[...] mesmo que o depositante abandone a coisa, não exigindo a sua restituição e, pior, se
recusando a recebe-la de volta, há previsão legal (Lei nº 2.313/54, arts. 1º e 2º) no sentido
de que após o prazo de vinte e cinco anos o contrato de depósito voluntário será extinto,
sendo o bem recolhido ao Tesouro Nacional, salvo renovação expressa da avença pelas
partes. Já no Tesouro Nacional, o bem permanece por mais cinco anos à espera do
legítimo titular. Findo o lapso temporal, a coisa será incorporada ao patrimônio nacional.”
(p. 937)

CAPITULO VIII – CONTRATO DE DEPÓSITO (pp 931-961)


3. Classificação do contrato de depósito

“[...] consideramos que o depositário passa a ser o possuidor direto do bem – e não um
mero detentor – na medida em que o desdobramento da posse decorre, exatamente, de
uma relação jurídica base, de direito real ou obrigacional, como aqui no depósito. [...] O
fato de não usar ou fruir da coisa, mas apenas conservá-la, não afasta a prática de atos
possessórios [...]” (p. 938)

“[...] o depósito é um negócio jurídico eminentemente unilateral, impondo obrigações


somente a uma das partes: o depositário, que assume o dever de guardar e restituir.” (p.
938)

“[...] o depósito se apresenta, a rigor, como um negócio gratuito, não se impondo ao


depositante dever jurídico remuneratório. No entanto, por força de disposição expressa
dos interessados ou de atividade profissional, o depositário pode fazer jus a uma
retribuição, tornando o contrato oneroso. A presunção estabelecida em lei, destarte, é de
gratuidade e merece fundadas críticas. No mais das vezes, o depósito é exercido por
atividade profissional ou por interesse econômico subjacente, tornando-se oneroso na
maior parte da prática cotidiana.” (p. 939)

“No tocante a forma do contrato de depósito, a redação do artigo 646 do Texto Codificado
não deixa dúvidas: a forma escrita é necessária ad probationem (ou seja, para sua prova),
mas não é solenidade essencial, a ponto de influir na validade do contrato de depósito
voluntário. Por isso cuida-se de negócio informal, não solene. Melhor explicando: o
depósito é válido seja por escrito ou verbalmente.” (p. 940)
“[...] para fins probatórios, o contrato pode ser celebrado de forma pública e de forma
particular, independente do seu valor.” (p. 940)

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4. Objeto do depósito

“Nada impede que o depósito tenha como objetos bens incorpóreos, materializados, por
exemplo, em títulos representativos, como ações de empresas e apólices.” (p. 941)

“É importante frisar que os deveres de sigilo, lealdade e respeito (desdobramentos da boa-


fé objetiva) impõe que se o objeto depositado foi entregue fechado, colado, selado ou
lacrado, neste mesmo estado deve ser mantido e devolvido (CC, art. 630).” (p. 941).

“Portanto, salvo autorização expressa do depositante, caberá ao depositário o total respeito


ao dever do sigilo, responsabilizando-se civilmente pela inexecução do dever de
abstenção, pelo simples fato de abertura da caixa ou do lacre, independentemente de
qualquer avaria que ou dano que concretamente a coisa tenha sofrido.” (p. 942)

“No mais das vezes o depósito é irregular quando traz consigo uma destinação econômica,
na medidade em que, em se tratando de bens fungíveis, há transferência de domínio ao
depositário, como sucede no mútuo.” (p. 942)

“Tradicional exemplo irregular pode ser lembrado com o depósito bancário, na qual a
Instituição Financeira é depositária de quantia em dinheiro (bem fungível), utilizando-a
em suas transações, podendo o depositante retirar ou movimentar os valores depositados a
qualquer tempo.” (p. 942)

“O depositante arcará com as despesas provenientes de restituição da coisa; preserva-se


assim, o equilíbrio ou justiça contratual, haja vista que o negócio jurídico foi realizado
objetivando precipuamente a satisfação do titular, não sendo razoável ampliar os
sacrifícios do depositário a ponto de fazê-lo responder pelo transporte e acondicionamento
da coisa.” (p. 944)

“Permite-se ao depositante efetuar a entrega da coisa ao depositário no interesse de


terceiro e não em proveito próprio. Trata-se de terceiro beneficiado pelos interesses de
terceiro e não em proveito próprio.” (p. 944)

“[...] o herdeiro do depositário que, de boa-fé, vendeu a coisa depositada é obrigado a


assistir o depositante na reivindicação e a restituir ao comprador o preço recebido.” (p.
945)

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5. Espécies de depósito

“Duas categorias de depósito estão tratadas em nosso ordenamento jurídico: (i) o depósito
voluntário ou convencional; (ii) o depósito necessário ou obrigatório, que, por seu turno,
se subdivide em (ii.1) depósito legal; (ii.2) depósito miserável e (ii.3) depósito hoteleiro
ou do hospedeiro” (p. 945)

“O depósito voluntário resulta da celebração de negócio jurídico, a partir da vontade


manifestada pelas partes. Decorre, pois, da autonomia privada com espeque na
manifestação volitiva dos interessados.” (p. 946)

“[...] o depósito necessário é configurado por imposição legal ou por circunstâncias


imperiosas, independentemente da vontade do depositário.” (p. 946)

“O depósito legal é consequente ao desempenho de uma obrigação imposta pela norma


jurídica (não necessariamente a lei, podendo ser, por exemplo, um Decreto ou um
Regulamento).” (p. 946)

“Por sua vez, o depósito miserável resulta de situações extraordinárias que justificam a
necessidade de uma pessoa socorrer a quem se encontra em perigo, diligenciando a guarda
de bens que estão na iminência de serem destruídos por uma calamidade.” (p. 947)

“Em qualquer contrato de hospedagem remunerado, o proprietário do estabelecimento é


tido como depositário das bagagens e pertences do hóspede” (p. 948)

“Por outro lado, o conceito de bagagem, [...] deve abranger ‘todas as coisas que um
hóspede, normalmente, porta consigo, seja ou não o proprietário, levando em
consideração o tipo de viagem, o nível do hotel e a situação econômica do consumidor’,
[...].” (p. 948)

“Apesar do silêncio da norma, lembramos que no Código Civil (Art. 932, IV) vem
estabelecida a responsabilidade objetiva do hospedeiro pelos danos causados aos seus
hóspedes (ou ao patrimônio deles), inclusive, decorrentes de atos praticados por outros
hóspedes ou por frequentadores que transitam pelo local”. (p. 949)

“Todavia, é razoável o reconhecimento de limites a esta responsabilidade do hospedeiro,


restringindo-se a indenização aos bens que, ordinariamente, são conduzidos pelo hóspede
ao estabelecimento. É o caso das roupas, dos acessórios de limpeza e de quantias
pecuniárias razoáveis para o uso habitual. Nos dias de hoje, afirmamos com tranquilidade
e convicção, que é objeto de uso habitual (e, por conseguinte, deflagrando
responsabilidade objetiva do hotel) os notebooks e iPods, que já se incorporaram ao dia a
dia de muitas pessoas.” (pp. 949-950)

“No que concerne a veículos estacionados na garagem do estabelecimento, a


jurisprudência, louvando-se da compreensão expressa nos Códigos Civis do Peru (art.
1.726) e da Itália (art. 1.785), reconhece a responsabilidade do estabelecimento, chegando
o tema a merecer assento na Súmula 130 do Superior Tribunal de Justiça:” (p. 950)

“Vale frisar que, se por um lado, o hoteleiro assume a posição jurídica de depositário, com
diversas responsabilidades; de outra banda, é compensado pelo próprio sistema, que lhe
defere o direito de penhor legal (CC, art. 1.467) sobre as bagagens, os bens móveis, as
joias e o dinheiro de propriedade de seus consumidores inadimplentes, em função das
despesas da pessoa do devedor e dos seus familiares.” (p. 951)

CAPITULO VIII – CONTRATO DE DEPÓSITO (pp 931-961)


6. Aplicação da teoria dos riscos
“Assim como a titularidade do bem depositado não foi transferida, a toda evidência, é o
depositante quem suporta os eventuais riscos de perda ou deterioração da coisa, por
eventos externos, sem qualquer culpa do depositário.” (p.

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