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os apparátchiki te detestam
poesia
prima pobre
(veja-se a conversa de benjamin
com brecht/
sobre lukács gabor kurella/
numa tarde de julho
em svendborg)
poesia
fêmea contraditória
te detestam
multifária
mais putifária que a mulher de
putifar
mais ofélia
que hímen de donzela
na ante-sala da loucura de hamlet
poesia
que desvia da norma
e não se encarna na história
divisionária rebelionária visionária
velada/ revelada
fazendo strip-tease para teus prórpios (duchamp)
celibatários
violência organizada contra a língua
(a míngua)
cotidiana
os apparátchiki te detestam
poesia
porque tua propriedade é a forma
(como diria marx)
e porque não distingues
o dançarino da dança
nem dás a césar o que é de césar
/não lhe dás a mínima (catulo)
sais com um poema pornó
quando ele pede um hino
walter benjamin
que esperava o messias
saindo por um minúsculo
arco da história no
próximo minuto
certamente te conheceu
anunciada por seu angelus novus
milimetricamente inscrita num grão de trigo
no museu de cluny
adorno te exigiu
negativa e dialética
hermética prospréctica emética
recalcitrante
poesia
te detestam
materialista idealista ista
vão te negar pão e água
(para os inimigos porrada!)
–és a inimiga
poesia
só que um dervixe ornitólogo khlébnikov
presidente do globo terrestre
morreu de fome em satalov
num travesseiro de manuscritos
encantado pelo riso
faquirizante dos teus olhos
e jakobson roman
(amor/ roma)
octogenário plusquesexappealgenário
acarícia como delícia
tuas metáforas e metonímias
enquanto abres de gozo
as alas de crisoprásio de tuas paronomásias
e ele ri do embaraço austero dos savants
poesia pois é
poesia
te dtestam
lumpenproletária
voluptuária
vigária
elitista piranha do lixo
porque não tens mensagem
e tu conteúdo é tua forma
e porque és feita de palavras
e não sabes contar nenhuma estória
e por isso és poesia
como cage dizia
ou como
há pouco
augusto
o augusto
o colibri colibrisa
e a poesia poesia
[1980]