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* O presente artigo foi escrito com base em um dos capítulos da dissertação intitulada “Da remição da
pena privativa de liberdade: pela máxima efetividade de um instituto de descarcerização”, defendida
e aprovada, em 26.03.2002, perante a banca examinadora composta pelos Professores Doutores
Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva (orientador); Jair Leonardo Lopes e José Cirilo de Vargas.
1
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Relatório de Atividades do
DEPEN, 1983, p. 83, citado por ALBERGARIA, Jason, Das penas e da execução penal, 1992, p. 110.
2
ALBERGARIA, Jason. Das penas e da execução penal, 1992, p. 121.
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posteriormente na Lei de Execução Penal (Lei no 7.210/84), não há qualquer
razão para com ele manifestar concordância, nesse ponto específico. Pelo contrário,
os avanços da ciência penitenciária demonstram a necessidade de se afastarem os
resquícios de uma visão clínica e correcionalista da criminologia e da execução
penal, revelada pela excessiva ingerência do saber médico-psicológico-psiquiátrico.
A óptica correcionalista vem sendo superada e cede espaço a um
entendimento sobre a execução penal que garanta ao condenado a dignidade
humana e que ilumine a sua indesejável estadia em um estabelecimento penal
com a chama da esperança de poder reconstruir sua vida fora do cárcere. Diante
desse quadro, sob que justificativa se poderia admitir que fosse obstado ao
condenado atingir uma dupla vantagem, consistente em aprender algo e, ao
mesmo tempo, abreviar o tempo de sua permanência em ignominioso local?
O Direito de Execução Penal não pode, hodiernamente, furtar-se a possuir
um caráter eminentemente mantenedor dos vínculos do apenado com o mundo
livre. O estudo, a instrução, o aprendizado, tudo isso constitui um dos elementos
fundamentais nesse sentido. Oxalá afastem-se cada vez mais os tempos de triste
memória nos quais o condenado era um mero objeto dos métodos correcionalistas
desumanos.
PAULO JOSÉ DA COSTA JR. 3 é um dos autores que mais
ardorosamente defendem a introdução, em nosso ordenamento jurídico, da
3
COSTA JR., Paulo José da. Curso de direito penal, 1991, p. 144. À procura de informação mais
precisa sobre quem teria, por primeiro, sugerido a implantação da remição pelo estudo, buscamos o
valioso auxílio do Prof. Maurício Kuehne, considerado por alguns o primeiro a ter feito tal
proposta. No entanto, este, demonstrando sua honestidade científica, revela não ter sido o autor
original da sugestão, e conta-nos, em correspondência, que, sobre a implantação de remição pelo
estudo, a primeira referência de que se tem conhecimento remonta ao VII Encontro Nacional de
Secretários Estaduais de Justiça, realizado em Porto Alegre/RS, entre 6 e 8 de dezembro de 1990,
ocasião em que se elaborou o documento denominado “Proposta de princípios para uma política
penitenciária de defesa do cidadão e da sociedade”. Uma das conclusões dos grupos de trabalho
reunidos ao longo do Encontro recebeu a seguinte redação: “5. O período em que o preso freqüentar
curso de ensino formal/profissionalizante, com carga horária mínima de quatro horas diárias e
comprovado aproveitamento, deverá ser computado para remissão [assim mesmo] da pena.” No
plano doutrinário, a primazia, salvo melhor juízo, deve ser mesmo atribuída a Paulo José da Costa
Jr., que, na edição de 1991 de seu Curso de direito penal, já dedicava certo espaço ao tema.
Mencione-se ainda a proposta feita por Dálio Zippin Filho, membro do Conselho Penitenciário do
Estado do Paraná, em 1993, em encontro promovido pela Associação dos Magistrados do Brasil e
pela Associação dos Magistrados Catarinenses (I Simpósio Nacional Sobre Execução Penal e
Privatização dos Presídios, 25-27 de março de 1993, sugestão no 2, aprovada por unanimidade: “O
tempo de estudo regular do interno, com efetivo aproveitamento, deve ser reconhecido como de
trabalho, para efeito de remição de pena”).
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remição pela instrução, ou, segundo sua terminologia, a “remição cultural”.
Destaca que a alfabetização traz enormes vantagens, as principais delas sendo a
facilitação do alcance da consciência da ilicitude e o reforço dos freios inibitórios.
Isso é tão verdadeiro que o próprio Código Penal (Parte Geral de 1984),
em seu art. 35, §2o (“O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a
cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior”),
permitiu ao condenado a freqüência a cursos profissionalizantes.
4
COSTA JR., Paulo José da, Curso de direito penal, 1991, p. 145.
5
Idem, Ibiden, p. 146. Permita-se-nos um pequeno reparo no que tange à última parte do pensamento
do citado autor. O condenado não pode ser considerado um peso social que a “sociedade” suporta
em suas costas, e do qual ela deve se livrar. Essa forma de visualizar as coisas distancia a sociedade
livre da sociedade cativa. Na verdade, o que a sociedade livre deve fazer é se reconhecer no cárcere,
ou, como prefere dizer Alessandro Baratta (“Resocialización o control social”, 1991, p. 254-255),
derrubar, ao menos simbolicamente, os muros das penitenciárias, para que os indivíduos livres
vejam que quem está lá dentro é uma pessoa como qualquer outra. No entanto, em atenção à
observação formulada pelo professor Jair Leonardo Lopes, por ocasião da defesa da dissertação da
qual se extraíram as idéias principais deste texto, é preciso dizer que a expressão “peso social”,
empregada por Paulo José da Costa Jr., pode ter outro sentido: a remição pela instrução, devolvendo
o indivíduo mais rapidamente à liberdade, representaria inegável vantagem econômica para o
Estado, que se furtaria de gastar com a manutenção do condenado do cárcere.
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Ademais, estar-se-ia atendendo aos objetivos consignados no art. 1o da
Lei de Execução Penal: a busca da integração social do condenado por meio da
instrução e da formação profissional: “a execução penal tem por objetivo efetivar
as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado”.
6
Realizada em Fortaleza/CE, em 20-22 de novembro de 1995.
7
Encontro realizado em 17-21 de agosto de 1998, pela AMB e pela AMAGIS/DF, e organizado pelo
juiz George Lopes Leite, p. 133.
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No I Seminário Sobre Sistema Penitenciário e Penas Alternativas,
Realidade Carcerária do Estado do Espírito Santo8, recomendou-se (item 8) “a
ampliação do instituto da remissão [assim mesmo] da pena para abranger trabalho
artístico e atividades educacionais.”
Poucos meses depois, no III Encontro Nacional de Execução Penal9, o
item no 6 da Carta ali formulada dizia: “recomendar aos juízes da execução
penal a concessão da remissão [assim mesmo] das penas por atividades
educacionais, culturais e científicas”.
A Carta de Goiânia, redigida pelos participantes do I Fórum Nacional de
Justiça e Sistema Penal, conteve a seguinte sugestão: “Item 6. Estabelecer a remição
da pena pelo estudo, qualificação profissional e atividades artístico-culturais.”10
A transcrição de duas das conclusões formuladas pelos participantes do
IV Encontro Nacional de Execução Penal11, realizado em Recife-PE, indica o
mesmo: “5. A remição da pena, direito do detento que trabalha, deve ser
estendida aos que se dediquem ao estudo e a cursos profissionalizantes, cabendo
a cada juiz de execução penal, na esfera de sua competência jurisdicional,
normatizar sobre a matéria, considerando a omissão legislativa existente”. “6. A
Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) deve ser reformada urgentemente,
implementando-se a remição da pena pela educação e facilitando a agilização na
tramitação de processos”.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária12 por sua vez,
revelando-se sensível ao antigo clamor dos juristas, expediu, em 1999, as
Diretrizes Básicas de Política Criminal e Penitenciária, em cujo art. 29, primeira
parte, recomenda-se “viabilizar, junto ao Congresso Nacional, a remição da
pena pela educação (...)”.
8
Realizado em Vitória/ES, em 9 de junho de 2000. Revista do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, Brasília, v. 1, no 14, jul./dez. 2000, p. 233.
9
Realizado em Belém/PA, em novembro de 2000. Revista do Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária, Brasília, v. 1, n o 14, jul./dez. 2000, p. 241-242.
10
Realizado em Goiânia/GO, em 1 o de setembro de 2000. Documento reproduzido na Revista do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Brasília, v. 1, no 14, jul./dez. 2000, p.
237-238.
11
Realizado em Recife/PE, entre 18-21.6.2001. Os anais ainda não foram publicados.
12
Resolução n o 5, de 19.7.1999, que “dispõe sobre as Diretrizes Básicas de Política Criminal e
Penitenciária e dá outras providências”. Publicada no DOU de 27.7.1999.
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Na Câmara dos Deputados e no Senado Federal tramitam diversos
Projetos de Lei, cujas respectivas ementas, abaixo reproduzidas, demonstram
a clara tendência político-criminal já apontada (atualização feita em setembro
de 2002): “Dispõe sobre o trabalho, o estudo e a reintegração social do
condenado e dá outras providências”, estabelecendo a jornada de trabalho de
6 horas para os condenados que estudem por pelo menos 4 horas diárias e
diminuindo a contagem do tempo para a remição de 1 dia de pena por 2 de
trabalho ou de trabalho e estudo13; “Introduz alterações no parágrafo único do
artigo 17 e no artigo 126 e parágrafo primeiro da Lei no 7.210, de 11.7.1984”,
fixando entre 3 e 4 horas a carga horária para preleção de aulas e incluindo o
estudo na redução do tempo de reclusão na proporção de 1 dia de pena para
3 de trabalho, 1 dia de pena para 5 de estudo e no caso de trabalho e estudo
4 dias para 1 de pena14; “Altera o art. 126 da Lei no 7.210, de 11.7.1984,
permitindo a remissão [assim mesmo] pelo estudo”, instituindo a remição da
pena para o condenado que estude em curso de formação profissional, de
primeiro ou segundo graus, ou universitário, sendo a contagem do tempo feita
à razão de 1 dia de pena por 12 horas de estudos15; “Altera o artigo 126 da
Lei no 7.210, de 11.7.1984, permitindo a remição pelo estudo”, instituindo a
remição da pena para o condenado que estude em curso de formação
profissional, de primeiro ou segundo graus, ou universitário, sendo a contagem
do tempo feita à razão de 1 dia de pena por 12 horas de estudos16; “Altera os
13
Projeto de Lei no 3.569, de 1993 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal José
Abrão (PSDB-SP). O Projeto está na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara
dos Deputados.
14
Projeto de Lei no 4.527, de 1994 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal Ivo
Mainardi (PMDB-RS). A proposição legislativa em referência foi arquivada.
15
Projeto de Lei n o 3.542, de 1997 (Câmara dos Deputados), apresentado pela Deputada Federal
Marta Suplicy (PT-SP), mas já arquivado.
16
Projeto de Lei no 37, de 1999 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal Paulo
Rocha (PT-PA). De acordo com o Projeto, a remição pelo estudo passaria a ser permitida, sendo
a contagem do tempo feita a razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) dias de trabalho ou por 12
(doze) horas de efetiva presença nas atividades do curso de primeiro e segundo graus, universitário
ou de formação profissional. Em apenso a este, estão os Projetos de Lei nos 1.036/99; 1.882/99;
2.502/00; 3.159/00; 4.102/01; 4.291/01; 5.002/01; 5.073/01; e 5.075/01. O projeto encontra-se
na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara, tendo como relator o Deputado
Federal Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG). Em seu parecer, lançado em 12.9.2001, o relator opinou
pelo apensamento deste projeto e de outros que tratam do mesmo tema ao Projeto de Lei no 5.075/
2001, de autoria do Poder Executivo.
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arts. 126, 129 e 130 da Lei no 7.210, de 11.7.1984, para permitir a remição
da pena por meio de estudo” 17; “Altera o disposto nos arts. 126, 127 e 129
da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para nela
incluir o estudo como forma de remição de parte do tempo de execução da
pena” 18; “Altera artigos da Lei no 7.210, de 11.7.1984, para permitir a remição
17
Projeto de Lei no 409, de 1999 (Senado Federal), apresentado pelo Senador Maguito Vilela (PMDB-
GO). Em 29.10.2001, o citado Projeto de Lei foi enviado ao Senador Sebastião Rocha, relator
designado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. De acordo com o texto do Projeto, a
contagem do tempo para o fim remicional dar-se-ia à razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de
trabalho, ou de 1 (um) dia de pena por 2 (dois) de estudo (art. 1o, §1o); a remição por estudo somente
seria concedida ao condenado regularmente matriculado em estabelecimento de ensino de primeiro
grau, de segundo grau, de curso técnico-profissionalizante ou de nível superior (art. 1o, §4 o); o
tempo de estudo de um período escolar não seria computado para fins de remição se o condenado
não lograr aprovação nesse período (art. 1 o, § 5 o ); e, finalmente, a remição por trabalho e a
remição por estudo seriam independentes e poderiam ser realizadas simultaneamente (art. 1o, § 6o).
18
Projeto de Lei no 1.036, de 1999 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal Léo
Alcântara. Tal Projeto foi objeto de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, da lavra do Conselheiro Eduardo Reale Ferrari (Processo SAL n o 08.001.008.421/
99-11), em 20.11.1999. O parecer foi aprovado na 259a Reunião do CNPCP, em 27-28.3.2000. O
Conselheiro consigna que a proposta legislativa está de acordo com a diretriz no 29 da Resolução no
5/99, do CNPCP. No entanto, opinou pela modificação na redação do Projeto. Transcreve-se, a
seguir, trecho do parecer citado: “O inciso I do artigo 126 da proposta, estabelece que o abatimento
da pena pelo estudo será de 1 (um) dia de pena por 1 (um) dia de trabalho, mais 20 (vinte) horas-
aula semanais. Pergunto: o que significa mais 20 (vinte) horas-aulas semanais? Por que tal acréscimo
ao abatimento da pena? Decorreria da cumulatividade do preso que estuda e trabalha? Se a resposta
for positiva, suficiente, ao meu ver, será definir um inciso para o abatimento pelo trabalho e outro
para o abatimento pelo estudo, permitindo-lhes a acumulatividade. Ora, se o preso trabalha e
estuda, possível será o duplo abatimento da pena face a ambas atividades, bastando retirar a
expressão ‘apenas’ dos incisos II e III do Projeto. Quanto ao inciso III – que viraria inciso II, face
a supressão do inciso I do Projeto – alteraria o critério de 40 (quarenta) horas-aula por 12 (doze)
horas-aula, limitando o máximo de horas-aulas a 4 (quatro) horas-aula por dia. A ser assim,
substituiria o 40 (quarenta) horas-aula por 12 (doze), limitando o máximo de estudo a 4 (quatro)
horas por dia, perfazendo que a cada 3 (três) dias estudados, teríamos as 12 (doze) horas-aulas
preenchidas, e conseqüentemente 1 (um) dia de pena abatido, tal como ocorre na remição de pena
pelo trabalho. Relativamente ao aproveitamento do preso à classe, entendo interessante condicionar
a remição da pena ao cumprimento das obrigações escolares, a demonstrar merecimento por parte
do condenado-estudante. Não se trata assim de condicionamento ao aproveitamento do preso em
classe, mas sim do cumprimento das tarefas ultimadas, sendo o esforço nas tarefas escolares critério
mais salutar que o subjetivo e discriminante ‘aproveitamento’. No que tange ao art. 127 do
Projeto, entendo pertinente a mera suspensão da remição, sendo salutar a não perda do tempo
remido, no caso do preso permanecer estudando mesmo quando suspenso o seu direito de remir,
sendo a continuidade no estudo prova do esforço e do envolvimento positivo do condenado.”
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também pelo estudo” 19; “Altera o art. 126 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
1984 - Lei de Execução Penal, para permitir a remição da pena pelo estudo”20;
“Altera dispositivo da Lei no 7.210, de 11.7.1984, que institui a Lei de Execução
Penal”, autorizando o condenado à pena de reclusão a remir parte da pena, pela
participação em atividade educacional21; “Dispõe sobre a remissão [assim
mesmo] da pena”, permitindo ao condenado que cumpre pena em regime fechado
ou semi-aberto remir, pelo estudo, parte do tempo de execução da pena22;
“Modifica o artigo 126 da Lei no 7.210, de 11.7.1984”, permitindo ao condenado
que cumpre pena em regime fechado ou semi-aberto remir, pelo estudo, parte
do tempo de execução da pena23; “Modifica o art. 126 da Lei no 7.210, de
11.7.1984”, permitindo a remição ao condenado que freqüentar curso regular
no estabelecimento prisional ou em instituição externa24; “Altera os arts. 126,
129 e 130 da Lei no 7.210, de 11.7.1984 – Lei de Execução Penal, para permitir
19
Projeto de Lei n o 1.882, de 1999 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal
Rubens Bueno (PPS-PR). Tal Projeto foi objeto de parecer do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, da lavra do Conselheiro Eduardo Reale Ferrari (Processo SAL n o
08.027.000.02/00-59), de 20.2.2000. O parecer foi aprovado na 259a Reunião do CNPCP, em 27-
28.3.2000. De acordo com o Projeto, o art. 126 da Lei de Execução Penal passaria a ter a seguinte
redação: “Art. 126. O condenado que cumpre pena em regime fechado ou semi-aberto poderá
remir, pelo trabalho ou pelo estudo regular ou profissionalizante parte do tempo de execução da
pena. § 1o A contagem do tempo, para fim deste artigo, será feita à razão de um dia de pena por três
de trabalho ou doze horas de curso. § 2o O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho ou no
curso, por acidente, continuará a beneficiar-se com a remição.” No parecer, o Conselheiro opinou
pela aprovação do Projeto, com ressalva referente à redação do art. 126, § 1 o, que deveria ser
escrito de forma a se estabelecer a razão de 12 (doze) horas de estudo por 1 (um) dia de trabalho,
limitando-se, todavia, o estudo diário a 4 (quatro) horas, a fim de se possibilitar o abatimento pelo
trabalho no restante do dia.
20
Projeto de Lei no 5.002, de 2001 (Câmara dos Deputados), apresentado pela Deputada Federal Iara
Bernardi (PT-SP). De acordo com o Projeto (art. 1 o , § 1 o ), a contagem do tempo para o fim
remicional seria feita na razão de um dia de pena por três de trabalho ou por oito horas de efetiva
presença nas atividades do ensino de alfabetização, fundamental, médio, universitário ou de formação
profissional, inclusive os cursos com a metodologia de educação à distância.
21
Projeto de Lei n o 3.159, de 2000 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal
Valdeci Oliveira (PT-RS). Tal Projeto foi alvo de parecer do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, da lavra do Conselheiro Maurício Kuehne (Processo SAL n o
08.027.000.492/00-20), que opinou pelo seu apensamento a outros Projetos de Lei que tratam do
mesmo tema.
22
Projeto de Lei no 4.102, de 2001 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal José
Aleksandro (PSL-AC).
23
Projeto de Lei n o 4.291, de 2001 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal
Nilton Capixaba (PTB-RO).
24
Projeto de Lei n o 4.704, de 2001 (Câmara dos Deputados), apresentado pelo Deputado Federal
Marcos Rolim (PT-RS).
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a remição de pena por meio do estudo”, estabelecendo que a remição pelo
estudo somente poderá ser concedida ao condenado regularmente matriculado
em estabelecimento de ensino fundamental, ensino médio, educação profissional
ou de educação superior25.
25
Projeto de Lei no 6.390, de 2002 (Senado Federal).
26
Anteprojeto de Lei que “dispõe sobre o trabalho penitenciário no Estado do Rio de Janeiro e dá
outras providências”, publicado na Revista Brasileira de Ciências Criminais, a. 9, no 34, abr./jun.
2001, p. 334-339.
150 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
anterior [1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho], observada a
regra de freqüência prevista no § 1o do art. 2o desta Lei”.
Para nós, entretanto, o brado pela adoção da remição pela instrução não
pode se limitar ao encaminhamento de sugestões de alterações legislativas.
Entendemos acertados os esforços dirigidos à utilização imediata de mecanismos
de interpretação jurídica, para que, dentro do quadro normativo atualmente
existente, conceda-se a remição cultural aos condenados que estudam nos
estabelecimentos penais.
27
O então Anteprojeto de Lei, posteriormente convertido em Projeto de Lei, foi publicado na
Revista Brasileira de Ciências Criminais, a. 9, no 34, abr./jun. 2001, p. 340-362.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 151
É de tal natureza a iniciativa registrada pela Secretaria da Administração
Penitenciária de São Paulo, que, por intermédio da FUNAP – Fundação
Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel, entidade de amparo ao trabalhador
preso, lançou, em setembro de 2000, a “Campanha da Remição Pela
Educação”28.
28
O programa busca permitir a redução de 1 (um) dia de pena para cada 18 (dezoito) horas de
participação em atividades educacionais. No estado de São Paulo, 10.500 presos estudam, por
iniciativa da FUNAP. Destes, 9.500 cursam o ensino fundamental (de 1a a 8a série), na base de 2
(duas) horas por dia. Criada pela Lei no 1.238/76 e regulamentada pelo Decreto n o 10.235/77, a
FUNAP também providencia trabalho interno para os presos, em suas 34 oficinas, e trabalho
externo (para condenados em regime semi-aberto), por meio de Termo de Cooperação com órgãos
do Estado e com empresas privadas. SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA,
2001, <http://www.admpenitenciaria.sp.gov.br/Orgaosvin.htm>
29
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2a ed. Nova
Fronteira, citado na sentença prolatada aos 26.10.1999, autos n o 25.732-0, Comarca de Ribeirão
das Neves – MG. Jornal do Advogado (OAB/MG), 2000, p. 9.
152 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
Acrescenta o prolator do referido julgado que a interpretação que confere
maior amplitude ao art. 126 da Lei de Execução Penal, “por um lado, não foge
à adequação típica imediata, e por outro não fere os princípios de integração
das normas jurídicas”30.
30
Jornal do Advogado (OAB/MG), 2000, p. 9.
31
Jornal do Advogado (OAB/MG), 2000, p. 9. Maria Tereza Uille Gomes e Mônica Louise de
Azevedo, em tese apresentada no XIII Congresso Nacional do Ministério Público, em 1999
(“Remição da pena privativa de liberdade pelo estudo e formação profissional”), defendem, da
mesma forma que o juiz prolator da decisão comentada, que o conceito de trabalho, em sentido
lato, envolve também o estudo, de modo que “não há necessidade, portanto, de nenhuma portaria
judicial ou resolução administrativa regulamentando a matéria, pois sua disciplina decorre da
inteligência do espírito da Lei de Execução Penal, bem como da aplicação de um de seus dispositivos
(art. 126), individualizado nos casos concretos, através do provimento jurisdicional.”
32
PENA – Remição – Freqüência a curso de suplência – Possibilidade – Inteligência do art. 126 da
LEP – Deve-se conceder a remição da pena ao sentenciado que comprove freqüência ao curso de
suplência, oferecido pelo estabelecimento prisional, desde que aferido o aproveitamento do
condenado-estudante e de acordo com a carga horária do curso, seguindo-se os mesmos critérios da
remição por dia trabalhado, pois, além de a tanto não se opor o sistema de execução penal pátrio,
o artigo 126 da LEP (Lei no 7.210/84) não distingue a natureza do trabalho para fins de se remir o
tempo de execução da pena. TJMG – 2a Câm. Crim. – RA 174.312-9/00 – j. 18.5.2000. v.u. – rel.
Des. Herculano Rodrigues. Minas Gerais, 23.8.2000, p. 1-2.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 153
Montesquieu, tem-se mostrado verdadeiramente a alma do
progresso jurídico, um artífice laborioso do Direito novo contra
as fórmulas caducas do Direito tradicional”, e atentando para o
paradoxo de se “reconhecer a remição pelo trabalho de ‘faxina’ e
simplesmente ignorar o esforço do educando.”33
33
Sentença publicada em 3.10.2000, nos autos do processo no 467.583 – Campinas/SP, e disponível
na internet em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/boletins/boletim52000/jurisprudencia/
execucao.htm>
34
Publicado no Boletim do IBCCrim – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, São Paulo, a. 9, no
110, jan. 2002, seção “O direito por quem o faz”, p. 573-575. O agravo em execução em tela foi
interposto pelo órgão do Ministério Público, nos autos do processo no 302.224, sob o argumento
de que a decisão monocrática não se ajusta ao texto do art. 126 da Lei de Execução Penal, que
somente prevê o trabalho como fator de diminuição da duração da pena imposta. A atividade
exercida pelo agravado foi escolar, na Penitenciária I de Hortolândia, durante 153 dias, alcançando
459 horas-aula, e obtendo a remição de 25 dias. Obteve aprovação em curso equivalente às quatro
primeiras séries do ensino fundamental e comprovou o alegado com atestado escolar subscrito pelo
diretor do Núcleo de Educação do Estado de São Paulo.
154 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
No mesmo sentido, outra ousada decisão foi tomada pelo Tribunal
de Justiça do estado do Rio Grande do Sul. De acordo com trecho do
voto do relator daquele acórdão, o então juiz de Alçada substituto
WALTER JOBIM NETO:
“Ora, a freqüência a aulas, no presídio, evidentemente que tem,
se devidamente assimilados os conteúdos ministrados, muito
mais condições de ressocializar um apenado do que o trabalho
em faxina, por exemplo. (...) Como negar-se, pois, o estímulo de
freqüência às aulas? Vale mais limpar latrinas do que se educar?
Tenho que, evidentemente, não. Se a Lei de Execução Penal
tem por finalidade recuperar, e por isso incentiva o
desenvolvimento de atividade útil – como o trabalho – porque,
em nome da correta política criminal, não se considerar o estudo
como trabalho?”35
35
LEI DE EXECUÇÃO PENAL – Tempo de freqüência a aulas, com aproveitamento escolar, deve
ser computado para efeito de remição. Agravo provido. TJRS – 4a Câm. Crim. – RA 697.011.393
– j. 19.3.1997 – v.u. – rel. juiz de Alçada Substituto Walter Jobim Neto. RJTJRS 183/101.
36
LEÃO, Nilzardo Carneiro. “Parecer sobre a remição”, 1999, p. 192.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 155
Considerando que, é objetivo da execução penal e obrigação do
Estado, proporcionar ao condenado condições necessárias a sua
integração social;
Considerando que, assim como o trabalho, a instrução comum ou
profissionalizante tem finalidade educativa e reabilitadora,
exercendo papel preponderante na reinserção social do
condenado, pois prepara-o para uma profissão;
Considerando que, o desempenho de atividade física (trabalho)
ou mental (educação) na prisão é direito-dever do condenado,
dada a sua natureza pedagógica e quando recompensado o esforço
é fator de incentivo, evita a ociosidade e inibe conflitos ‘intra
muros’;
Considerando a importância da educação nos nossos dias,
dada a competitividade do mercado de trabalho, haja vista
que, sem ter concluído o primeiro grau dificilmente alguém
consegue emprego e, não raro, condenados presos há anos
saem da prisão sem sabem ler ou escrever, sendo incerto o
seu futuro,
Resolve:
1. O condenado que enquanto preso, além de trabalhar interna ou
externamente, freqüentar a escola e concluir curso de instrução
comum (ensino regular do primeiro ou segundo grau) ou
profissionalizante, sob a direção ou coordenação do Departamento
Penitenciário – DEPEN, receberá de recompensa redução na sua
pena.
1.1. A cada 18 (dezoito) horas-aula, terá direito à redução de 01
(um) dia da pena.
1.2. O curso com carga horária inferior a 18 horas, não dá direito ao
benefício.
2. Iniciado o curso o Diretor da Unidade Penal fará a comunicação
a este Juízo, informando o nome do aluno, horário e período de
duração.
2.1. A ficha de freqüência contendo as horas-aula e o
aproveitamento do aluno será encaminhada a este Juízo após
encerrado o curso, juntamente com o atestado de trabalho do
período correspondente.
2.2. O condenado que só estudar e não trabalhar durante o curso,
não terá direito à redução da pena.
Cumpra-se.
Encaminhe-se cópia ao DEPEN.
156 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
Afixe-se no átrio do Fórum.
Curitiba, 30 de agosto de 1996.”37
37
A Portaria está transcrita em KUEHNE, Maurício, Lei de execução penal anotada, 2001, p. 290-
291. Com base em tal Portaria, foi concedida reiteradas vezes, pelo Magistrado que a editou, a
remição da pena pelo estudo, o que ensejou, também em diversas oportunidades, recurso de agravo
por parte do Ministério Público. O Tribunal de Alçada paranaense, entretanto, vem,
majoritariamente, mantendo as decisões de primeira instância: Remição pelo estudo – Recurso de
agravo – Decisão concessiva de remição de pena por estudo, de acordo com portaria do juízo da 2a
Vara de Execuções Penais – Recurso do Ministério Público, portaria inaplicável à espécie – Todavia,
aplicação da analogia in bonam partem – Atividade que guarda nítida semelhança com o trabalho,
pois ambas visam a atingir os objetivos da Lei de Execução Penal – Normas que regulam a remição
de pena pelo trabalho, aplicabilidade à remição de pena pelo estudo – Recurso improvido. TAPR –
1a Câm. Crim. – RA 0132364-8 – j. 27.5.1999 – rel. juiz Bonejos Demchuk. DJ 11.6.1999, p. 129.
Cf. ainda: Recurso de agravo – Remição da pena pelo estudo – Curso oficial com aproveitamento
– Portaria do juízo que define pressupostos e diretrizes ao seu deferimento divorciadas da legislação
existente – Lacuna da lei que deve ser preenchida pela analogia – Recurso provido. TAPR – 1a Câm.
Crim. – RA 119434-7 – j. 4.6.1998 – rel. juiz Wilde Pugliese. Por fim, em outra câmara do mesmo
pretório, cf.: Recurso de agravo – Remição da pena pelo estudo – Possibilidade. 2ª Câm. Crim. – RA
6025 – DJ 21.5.1999, p. 107 – rel. juiz Eli de Souza.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 157
Eis um breve apanhado:
b) PAULO JOSÉ DA COSTA JR.: para este autor, o critério seria duplo.
Em primeiro lugar, a redução seria escalonada, para que, quanto maior o grau
de escolaridade alcançado no cárcere, maior seja a redução da pena. Em segundo
lugar, o aproveitamento do condenado nos cursos seria também levado em
consideração. O autor não entra em detalhes sobre a proporção em que se
daria a redução, nem sobre a eventual possibilidade de cumulação da remição
cultural com a remição pelo trabalho;
38
CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Remição, 2001.
39
Carta de Goiânia, elaborada no I Fórum Nacional de Justiça e Sistema Prisional, com a presença dos
Secretários de Justiça de 23 estados brasileiros. O evento serviu, de acordo com documento disponível
em <http://www.sc.gov.br/websc/Noticias/noticiasset00.htm, para a discussão e análise do atual
sistema prisional brasileiro, e, principalmente, das propostas de alteração da legislação penal e
processual penal, com reflexos diretos na administração carcerária.
158 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
de Campinas/SP; e Desembargador WALTER JOBIM, do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul: o estudo é entendido como trabalho, em sentido amplo.
Portanto, a redução da pena pelo estudo se dá na mesma razão da diminuição
proporcionada pelo trabalho, a saber, para cada 3 (três) dias de estudo, com
carga horária variando entre 6 (seis) e 8 (oito) horas, desconta-se 1 (um) dia de
pena. Semelhante a essa, mas externada em termos diversos, é a proposta
elaborada em encontro promovido pelos magistrados gaúchos, em Bento
Gonçalves/RS,40 quando se formulou a seguinte conclusão: “10. A remição por
estudo é possível, devendo o número de horas-aula ser dividido por seis e depois
por três, assim se obtendo a equivalência com a remição pelo trabalho. Aprovada,
por unanimidade”;
40
Encontro de Execuções Criminais, realizado em Bento Gonçalves/RS, nos dias 19 e 20.4.2001,
tendo o documento que sintetiza os principais itens das conclusões sido publicado no Diário da
Justiça de 3.5.2001. Disponível em: <www.tj.rs.gov.br/comsoc/not03a-05-2001.htm>
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 159
i) Deputado Federal IVO MAINARDI: a carga diária de aulas, para efeitos
remicionais, deve ser fixada entre 3 (três) e 4 (quatro) horas, e a redução da
pena dar-se-ia na razão de 1 (um) dia de pena para 3 (três) de trabalho; ou 1
(um) dia de pena, para 5 (cinco) dias de estudo; ou, por fim, 1 (um) dia de pena
para cada 4 (quatro) dias de estudo e trabalho. Da mesma forma que o critério
exposto na alínea “h”, este possui elementos claros que permitirão ao intérprete,
caso vingue a proposta, delinear a forma de contagem do tempo remido pelo
estudo, pelo trabalho, ou por ambos.
160 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
vista que também devem ser definidas quais atividades de instrução, de educação
e culturais merecem ser levadas em consideração para efeitos de concessão ou
não da remição ao condenado.
Não nos parece ser razoável que, caso acolhida legislativamente a remição
pela educação, seja exigida do condenado a aprovação no período escolar.
Razoável que se lhe exija, entretanto, freqüência superior a 75% (setenta e cinco)
por cento das aulas ministradas.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 161
No Direito Comparado, o “Reglamento de los Servicios de Prisiones”
espanhol, desde a vigência do Código Penal de 1944 – hoje revogado pelo
Código Penal de 1995 – admitia a remição pelo esforço intelectual (art. 62).41
41
“Art. 62. La redención de la pena por el esfuerzo intelectual podrán obtenerla por los siguientes
conceptos: 1o Por cursar y aprobar las enseñanzas religiosas o culturales establecidas y organizadas
por el centro directivo. 2o Por pertenecer a las agrupaciones artisticas, literarias o científicas de la
prisión. 3 o Por desempeñar destinos intelectuales. 4o Por la realización de producción original,
artística, literaria o cientifica.” A redención da pena, versão espanhola da remição, foi extinta em
1995.
162 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
Em conclusão, pode-se afirmar que a Política Criminal dirige-se com firmeza
no sentido da adoção expressa em lei da remição pela instrução. No entanto,
enquanto não se movimenta o legislador, podem os operadores jurídicos –
mormente membros do Ministério Público e magistrados –, mediante interpretação
mais aturada do art. 126 da Lei de Execução Penal, estender o comando
normativo para as atividades educacionais de que participam os condenados à
pena privativa de liberdade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
42
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón, 2000 (publicado pela primeira vez em 1989), p. 696.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 163
4. BRASIL. Câmara dos Deputados. Proposições legislativas. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br>
11. COSTA JR., Paulo José da. Curso de direito penal: parte geral. v.1. 2. ed.,
aum. e atualiz. São Paulo: Saraiva, 1991.
13. FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoría del garantismo penal. 4. ed.
Trad. Perfecto Andrés Ibañez, Alfonso Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón
Mohino, Juan Terradilos Basoco, Rocio Cantanero Bandrés. Madrid:
Trotta, 2000. (Diritto e ragione: teoria del garantismo penale, 1989)
164 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002.
14. GOMES, Maria Tereza Uille, AZEVEDO, Mônica Louise de. “Remição da
pena privativa de liberdade pelo estudo e formação profissional (trabalho
intelectual)”. Tese no 81, apresentada e aprovada, com emenda
modificativa, no XIII Congresso Nacional do Ministério Público,
realizado em Curitiba-PR, em 26-29.10.1999. Em: Congresso Nacional
do Ministério Público: livro de teses: o Ministério Público social. v. 1, t.
II. Curitiba: Associação Paranaense do Ministério Público – Confederação
Nacional do Ministério Público, 1999. p. 585-589.
19. O DIREITO POR QUEM O FAZ. “Remição de pena pelo estudo: analogia
in bonam partem. Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais, São Paulo, a. 9, no 110, jan. 2002, p. 573-575.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, p. 142-165, jul./dez. 2002. 165