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Educação e Pesquisa

ISSN: 1517-9702
revedu@usp.br
Universidade de São Paulo
Brasil

Portugues Rodrigues, Manoel


Educação de adultos presos
Educação e Pesquisa, vol. 27, núm. 2, jul/dez, 2001, pp. 355-374
Universidade de São Paulo
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=29827211

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Educação de adultos presos
Manoel Rodrigues Portugues
FUNAP – Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo

Resumo

Este artigo apresenta uma reflexão acerca das possibilidades e


contradições da inserção da edu cação escolar nos programas de
reabilitação do sistema penal do estado de São Paulo.
As prisões, suas normas, pro cedimentos e valores observam a
absoluta pri mazia na dominação e no controle da massa en car-
cerada. Decorre que a manutenção da ordem e disciplina in ter-
nas são transfiguradas pelo fim precípuo da or ganização pe nal.
Os programas e atividades considerados “reeducativos” in se-
rem-se nesta lógica de funcionamento, pa utando suas ações e
finalidades pela ne cessidade de subjugar os sujeitos punidos,
adaptando-os ao sistema soci al da prisão. Contudo, a re sis tên-
cia prisioneira ao controle é patente.
A educação, de forma alguma, permanece ne utra nesse pro ces-
so de subjugação e re sistência. Seus pressupostos me to do ló gi-
cos e suas práticas cotidianas podem contribuir para a se di-
mentação da escola en quanto recurso ulterior de preservação e
formação dos sujeitos, nos interstícios dos processos de do mi-
nação.
O artigo procura de linear as possibilidades para que as prer ro-
gativas da gestão penitenciária não intervenham nas práticas
educativas, prescrevendo suas ações, de forma a constituir uma
alternativa para que os sujeitos encarcerados, mes mo nas con-
dições hos tis em que se encontram, disponham de opor tu ni da-
de ulterior para produzir cultura e conhecimento, indicando
caminhos rumo ao seu desenvolvimento humano; que lhes pro-
porcione designar o mundo presente e fu turo, num ato con tí-
nuo de criação e recriação, significação e ressignificação.

Palavras-chave

Educação de adultos presos – Siste ma pe nal e educação – Re a-


bilitação penal.
Cor res pon dên cia:
Ma no el Ro dri gues Por tu gues
Rua Dr. Vila Nova, 268
1222-020 – São Pa u lo - SP
E-mail: ma ne du cult@ig.com.br

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 355
Education of adults in prison
Manoel Rodrigues Portugues
FUNAP – Sistema Penal de São Paulo

Abstract

This article presents a reflection about the possibilities and


contradictions of the insertion of school education in the
rehabilitation programs of the State of São Paulo Penal
System.
Prisons, their norms, procedures and values adhere to the
absolute primacy of domination and control of the incar-
cerated mass. It follows that the maintenance of internal
order and discipline are transfigured into the penal
organization’s primary purpose. The programs and activities
regarded as “re-educative” fit into this working logic, guiding
their actions and objectives by the need to subjugate the
punished persons, adjusting them to the social system of
prison. The inmate’s resistance to control is, however, pa tent.
Education does not, by any means, re main neutral in this
process (struggle) of subjugation and resistance. Its
methodological assumptions and its daily practices can
contribute to establish school as the succeeding re source in
the preservation and development of persons, in the
interstices of the domination process.
The article tri es to outline some possibilities of education so
that the prerogatives of penal management do not shat ter
educative practices, prescribing its ac tions. In doing that, it
seeks to indicate an alternative so that incarcerated per sons,
even under the hostile conditions they face, have the later
opportunity to produce cul ture and knowledge, showing paths
to a human development that allows them to de signate the
world present and future, in a continuous act of creation and
re-creation, signification and re-signification.

Keywords

Adult education – Penal system – Rehabilitation.


Cor res pon dence:
Ma no el Ro dri gues Por tu gues
Rua Dr. Vila Nova, 268
1222-020 – São Pa u lo - SP
E-mail: ma ne du cult@ig.com.br

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As prisões mostram-se presentes à so ci e- ta cri minosa e planos de lituosos, ao in vés de
dade, de forma mais abrangente, em mo men tos ser uma instituição (re)educativa. “Re co nhe-
em que sua rotina institucional é fortemente cida, inclusive pelo próprio poder públi co,
abalada, caso de rebeliões, motins, fugas e como espetáculo da violência e a ‘univer si da-
massacres de pri sioneiros. Uma variada gama de do crime’, dela não se pode esperar que
de sensações, sentimentos e percepções se pro- recupere; contudo, que reproduza a de lin-
lifera, configurando reações de repulsa, ódio, qüência” (Cas tro et al., 1984, p. 106).
vingança, cu riosidade, morbidez, compaixão e Punição/contenção ou reabilitação?
até solidariedade. Definitivamente a cor relação de forças que
Afora esses momentos, vi gora com maior disputam o controle e a hegemonia na for mu-
intensidade um distanciamento da questão pe- lação de políticas pú blicas pe nitenciárias en -
nitenciária, ca racterizando uma dupla ex clu- contra-se nesses dois pólos que con cebem a
são: de um lado a pri são, seus corpos dirigente finalidade da pena de privação da liberdade. O
e funcional que imprimem uma forma de ges- conflito entre eles não é uma ocorrência oca-
tão au tônoma e autocentrada, marcada pela sional ou fortuita. Antes é parte constitutiva
invisibilidade e impenetrabilidade, procurando da prisão e de sua or ganização.
manter-se independente em rela ção ao apa ra to Ao longo de sua existência, in va ri a vel-
do Estado e à influência da sociedade; por ou- mente, se sobressai a função de punir, afir -
tro lado, a própria sociedade, que procura dis- mando os procedimentos que lhe são
tanciar-se dessa realidade, exigindo da pri são necessários, os quais culminam por trans for-
apenas o aspecto referente à segurança do ci- mar a manutenção da ordem interna, a vi gi-
dadão, portanto, sem fugas e desordens (Fis- lância, a disciplina, a segurança, no fim
cher, 1996). precípuo da or ganização pe nal. Isso não sig-
As práticas efetivas que regulam o coti- nifica que os programas de reabilitação do
diano das prisões são absolutamente des co nhe- sistema penal são ausentes ou inexistentes,
cidas pela so ciedade, mantendo-se opa cas até mas que estão inseridos nesta lógica, cuja
mesmo com relação aos órgãos pú blicos que contenção transfigura-se enquanto aspecto
lhes são afins. central da prisão, afiançando-a:

Embora exista a Vara de Execuções Criminais e a Entre o discurso oficial e o modo de vida ins-
Coordenadoria dos Estabelecimentos Peni ten ciá- taurado pelas práticas de ressocialização pró-
rios do Estado, aos qua is os Estabelecimentos prias da prisão, estabelece-se um hiato: em bo ra
Penais es tão ligados legal e hierarquicamente, o se pretenda que o aprimoramento téc nico da
ordenamento nessas instituições tem au to no mia, equipe dirigente possibilite a humanização do
uma vez que suas práticas cotidianas escapam às tratamento, as técnicas ”criminiátricas” ado ta-
esferas superiores. (Castro, 1991, p. 61) das põem à mostra seu lado reverso, ao exer ce-
rem efeitos tão contraditórios quanto ines pe ra-
A sociedade civil, ao diri gir o foco de dos. A prioridade conferida à or dem e à dis ci pli-
atenção so mente para o ápice da crise institu- na, modo pelo qual, em última instância, se
cional da organização pe nitenciária, evidencia acredita poder concretizar o ideal de defesa so -
um des caso em rela ção à reabilitação dos in di- cial preconizado pelo Código Criminal, im põem
víduos pu nidos. Atesta-se, nesse sentido, a im- barreiras intransponíveis. No dilema en tre pu nir
pressão de que as prisões cons tituem-se e re cuperar, vence aquilo que pa rece ser o ter-
mormente como uma “universidade do crime”, mo ne gativo da equa ção: a prisão limita-se a
na qual os prisioneiros aprimoram uma con du- punir. (Cas tro et al., 1984, p. 112)

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À exis tência mesmo da pri são, é li miar primazia organizacional recai nos aspectos da
esse embate so bre suas finalidades. Basilar de punição, de controle e da vigilância?
sua constituição, o dilema que se lhe apresenta
não pode, de forma alguma, ser superado, pois A administração penitenciária no
significaria, no limite, acometer a própria pena estado de São Paulo
de encarceramento. Seus fins confessos, re a bi-
litar e punir, fornecem os pi lares para sua sus- Antes de adentrar à aná lise dos pro gra-
tentação. Subjugar um ou outro, portanto, mas de reabilitação em geral, e de educação
denotaria sua derrocada enquanto a forma por em particular, é necessário, mesmo que de
excelência de combate à cri minalidade. São forma sucinta, apresentar a administração pe-
duas forças que disputam o controle e a pri o ri- nitenciária em São Paulo, considerando a ci -
dade na formulação das políticas públicas pe- são entre estabelecimentos que se destinam à
nitenciárias e na or ganização de seus reabilitação dos indivíduos e aqueles cuja fi-
procedimentos de gestão, que não podem pres- nalidade é meramente de contenção.
cindir uma da outra, sob o risco de ambas de i- Identificados com esta última, es tão os
xarem de exis tir. distritos policiais e os “cadeiões”, ins tituições
Afinal, no Estado de mocrático de direito submetidas à Secretaria de Estado da Se gu-
o que possibilita o poder discricionário de pu nir rança Pública. Destinam-se ao encar ce ra men-
é a finalidade de reabilitação que se atri bui à to provisório: indivíduos presos em flagrante
prisão (Rodrigues, 1999). Entretanto, em sin to- delito, pro núncia ou sentença condenatória
nia com as ex pectativas so ciais acerca da pena recorrível no aguardo de sua sentença e os
de encarceramento, a organização pe ni ten ciá- presos por medida preventiva, de vendo per-
ria limita-se à contenção e à pu ni ção: manecer separados dos dema is (Lei de Exe cu-
ção Pena, Artigo 2º).
A despe i to de pro pó si tos refor ma do res e res so - Aos indivíduos já condenados à pena de
ci a li za do res em bu ti dos na fala dos go ver nan tes encarceramento apresentam-se os esta be le ci-
e na con vic ção de ho mens aos qua is está in cum - mentos penais pertencentes à Secretaria de
bi da a ta re fa de ad mi nis trar mas sas car ce rá ri as, Estado da Administração Penitenciária, aos
a pri são não con se gue dis si mu lar seu aves so: o quais se atribui a finalidade de reabilitar os
de ser apa re lho exem plar men te pu ni ti vo. (Ador - cri mi no sos.
no, 1991b, p. 70) Um grave problema que se verifica na
administração penal paulista é o da trans for-
A ope ração pe nitenciária, sua or ga ni za- mação dos distritos policiais e “cadeiões”,
ção, procedimentos, normas, programas e ati- com caráter eminentemente provisório, em
vidades, configurados para proporcionar a estabelecimentos para o cumprimento da
reabilitação dos criminosos, culminam por con- pena de reclusão, sem, contudo, possuírem
vergir suas ações para aprimorar a contenção e estrutura física, hu mana e or ganizacional ar-
o controle da massa en carcerada. rogadas como ne cessárias à reabilitação dos
Arrolada como aspecto cen tral na trans- condenados.
formação de criminosos em não-criminosos en- O estado de São Paulo pos sui pouco
contra-se a atividade de edu cação. Emerge, mais de 80 mil encarcerados, sendo 62,5% (50
assim, o problema crucial deste artigo, qual mil) na Secretaria da Administração Peni ten-
seja: quais são as possibilidades para se de sen- ciária e 31.724 nos distritos e cadeiões, dos
volver um processo educativo num ambiente quais 11.441 (36%) em situação ir regular, ou
altamente hostil como o das prisões, cuja seja, já condenados pela Justiça (Folha de S.

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Paulo, 20/agosto/2000, p. 3-4). Esse con tin- pasta exclusiva para a gestão pe nitenciária.
gente bastan te significativo de en carcerados Nos demais, as unidades para cumprimento
encontra-se em condições ab solutamente su- da pena privativa de liberdade estão sub me ti-
bumanas. A esse fato, por si só bastan te grave, das às secretariais de justiça ou de segurança
acrescenta-se um outro, que é o de policiais se - pública. Esta estrutura foi cri ada em 1994
rem transformados em carcereiros. Desde o fi - após a execu ção de 111 presos no complexo
nal do século XVIII e início do XIX, a justiça cri- do Carandiru pela Polí cia Mi litar durante um
minal passou por processos de racionalização, motim, como resposta às pressões de or ga nis-
que culminaram numa complexa mu tação no mos nacionais e internacionais vinculados à
que con cerne ao direito de punir (Fischer e proteção dos dire i tos humanos.
Abreu, 1987). Ao objetivo de proteção da so ci e- A administração penitenciária em São
dade acresceu-se o de reformar o indivíduo, Paulo é dividida em três órgãos, com competên-
procedendo-se para tanto à separação en tre os cias executivas: a) Coordenadoria dos Estabele-
atos de prender, julgar e pu nir. Em face deste cimentos Penitenciários – Coespe, aporte exe-
objetivo, constituiu-se um saber es pecializado cutivo da Secretaria, incumbe-se da implemen-
(técnico-científico) so bre es ses in di ví du os - tação das diretrizes político-institucionais nas
punidos, no sentido de transformá-los: psiquia- unidades; é de sua responsabilidade a estrutura
tria, psicologia, me dicina, pe dagogia, ar qui te- e manutenção física dos estabelecimentos, a se-
tura, assistência so cial e so ciologia ti veram, no gurança e disciplina, a movimentação de presos
sistema pe nitenciário, seu ponto convergente, entre as unidades, seja respeitando a progressão
tornando-o uma “empresa para mo dificar as de regime prevista em lei ou por medida de se-
pessoas” (Foucault, 1986, p. 196) – e, si mul ta- gurança; as áreas de saúde, reabilitação e pro-
neamente, seu pólo difusor, construindo pres- dução; b) a Escola da Administração Peniten-
supostos que passaram a ser válidos para todo ciária, cuja atribuição é a capacitação de todo
o cor po social. quadro funcional e dirigente das unidades
Por conseguinte, no que tange ao en car- prisionais; c) a Fundação Professor Doutor
ceramento, os distritos policiais e cadeiões não Manoel Pedro Pimentel – Funap, com a atribui-
são, sob quaisquer argumentos, ins tituições ção de proporcionar trabalho, formação profis-
destinadas ao cumprimento da pena privativa sional, educação e cultura para os prisioneiros
de liberdade. Há uma completa au sência de do Estado.
pessoal técnico minimamente especializado no Afora os arranjos for mais de seus or ga-
tratamento do recluso, conforme de termina a nogramas, uma característica indelével da or-
Lei de Execução Penal, em sintonia com o que ganização pe nitenciária, conforme cita do
apregoam os tratados e con venções in ter na ci o- anteriormente, é o embate diuturno en tre
nais, aos quais o Brasil acatou, in cor po ran- suas finalidades de punir e reabilitar. Esse em-
do-os à Constituição Federal e aos Programas bate é parte fundamental na composição pe-
Nacional e Estadu al de Direitos Humanos. E, nitenciária, no seu cotidiano, nos seus
principalmente, não só punir o crime mas re cu- procedimentos mais corriqueiros, na pro po si-
perar os criminosos, é o que caracteriza a pena ção de atividades, na sua rotina, na re lação
privativa de li berdade (Foucault, 1986). institucional entre diretorias, se ções e de par-
Concebidos para reabilitar os indivíduos tamentos, na avaliação da sua gestão, nas re-
punidos são os estabelecimentos sub metidos à formas físico-estruturais e mes mo na
Secretaria de Estado da Administração Peni ten- formulação de sua arquitetura, nos seus re gu-
ciária. São Paulo é o único es tado da Federação lamentos, na nomeação e atri buição de car-
que possui em sua estrutura de governo uma gos e fun ções.

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Emerge des se emba te a função de punir, da instituição e do siste ma soci al que lhe é
consolidando os de sígnios que lhe são per ti- ine ren te.
nentes. Dessa forma, o controle da massa en -
carcerada e a subjugação dos indivíduos A re sis tên cia pri si o ne i ra ao con tro le car ce rá rio
punidos ao sistema soci al do cárcere, às suas (...) é mu i to mais for te e pre sen te que seu raro
normas e valores, convertem-se na finalidade re gis tro na li te ra tu ra faz su por (...). As pes so as
da organização penitenciária. Essa perspectiva pre sas con se guem man ter a iden ti da de, os va -
materializa-se no cotidiano pri sional me diante lo res de ori gem e gru pa is, a pers pec ti va de vida
relações pac tuadas en tre os corpos funcional e e de li ber da de, a despe i to das lon gas con de na-
dirigente das unidades pri sionais e lideranças ções e de to dos os for tes e ri go ro sos me i os de
da po pulação carcerária. É um terreno pan ta- con tro le e su je i ção uti li za dos pela ins ti tu i ção
noso que proporciona um equilíbrio tênue e pe ni ten ciá ria. (Ro cha, 1994, p. 3)
sensível, obtido me diante negociações inin ter-
ruptas entre es tes segmentos, en tre as quais in- A educação formal não permanece, em
clui-se a distribuição de castigos, posições e absoluto, neutra nesse processo pleno de con-
privilégios (Coelho, 1987). tradições de subjugação e resistência. “A ca-
Essa nítida primazia da ges tão peni ten- racterística fundamental da pedagogia do
ciária prescreve de for ma inequívoca os pro gra- educador em presídios é a contradição, é saber
mas e atividades identificados com a rea bi li ta- lidar com conflitos, saber trabalhar as contra-
ção dos prisioneiros, que passam a pautar sua dições à exaustão” (Gadotti, 1993, p. 143).
organização e funcionamento pelos fun da- Por um lado, as rígidas normas e pro ce-
mentos da contenção, da vigilância, da sub ju- dimentos oriundos da necessidade de se gu-
gação dos indivíduos ao cárcere. rança, ordem interna e disciplina das uni da-
des que prescrevem as atividades es colares, a
Educação de adultos presos vigilância constante ou até mesmo a in ge nu i-
dade dos edu cadores, podem contribuir para
Presente desde os primórdios da pri são, a que a escola seja mais um dos instrumentos
educação é arrolada como atividade que visa a de dominação, sub jugando os indivíduos pu-
proporcionar a reabilitação dos indivíduos pu- nidos ao “sistema social da prisão” (Sykes,
nidos. Contudo, considerando que os pro gra- 1999, p. 9) e ao “mundo do crime” (Ramalho,
mas da operação pe nitenciária apresentam-se 1979, p. 163). Por outro lado, a escola pode
de forma premente a fim de adaptar os in di ví- apresentar-se como um espaço que se paute
duos às normas, procedimentos e valores do por desenvolver uma série de potencialidades
cárcere – afiançando, portanto, aquilo que se humanas, tais como: a autonomia, a crítica, a
tornou o fim precípuo da organização peni ten- criatividade, a reflexão, a sensibilidade, a par-
ciária: a manutenção da ordem interna e o con- ticipação, o diálogo, o estabelecimento de
trole da massa carcerária – quais são as vínculos afetivos, a tro ca de experiências, a
possibilidades para uma “educação autêntica, pesquisa, o respeito e a tolerância, ab so lu ta-
que não descuide da vocação on tológica do ho- mente compatíveis com a educação escolar,
mem, a de ser sujeito” (Freire, 1979, p. 66)? especificamente a des tinada aos jovens e
No in terior das prisões, as contradições adultos.
do processo de ajustamento materializam-se Nos estabelecimentos penais, a edu ca-
nas possibilidades concretas dos indivíduos pu- ção compõe a área de reabilitação, sendo a ela
nidos preservarem-se como sujeitos; na re sis- subordinada hierarquicamente. A manu ten-
tência a subjugarem-se plenamente aos va lo res ção de suas atividades, contudo, em todo o

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tempo, observou a participação de outras ins ti- Sua or ganização efetivou-se ob ser van-
tuições não pertencentes propriamente à do as diretrizes programáticas da Fundação
unidade prisional. Sua organização e fun ci o na- Mobral, posteriormente Fundação Edu car, no
mento são decorrentes, des sa for ma, das nor- que respeita ao ensino de 1ª à 4ª série. De no-
mas e diretrizes das instituições que as co or de- minado Programa de Educação Básica (PEB),
naram, ao lon go dos anos. foi subdividido em três etapas, PEB I, PEB II e
Até o final da década de 1970, as escolas PEB III, caracterizando, no sis tema pe nal, o
no interior das unidades pri sionais re gu la- Nível I. Para o ensino de 5ª à 8ª série – o Ní vel
vam-se observando a organização da rede re- II – con forme diretrizes da Fundação Ro berto
gular de ensino estadual. O ca lendário esco lar, Marinho, que pressupõem a organização de
o ma terial didático, os processos de avaliação e grupo de alu nos por disciplinas: Língua Por-
promoção de séries eram análogos aos do en si- tuguesa, Matemática, His tória, Geografia e
no destinado às crianças. Ciências, e o exercício da plu ri do cên cia.
A inadequação des sa proposta é patente. O calendário letivo em todas as escolas
O primeiro aspecto reside na renúncia em in se- do siste ma penal paulista é organizado de fe-
rir os encarcerados na educação destinada aos vereiro a julho. Após um recesso de quinze
adultos, corporificada no ce nário edu cacional dias, o reinicio ocorre em agosto, esten den-
brasileiro desde a década de 1930. Um se gun do do-se até meados de dezembro. Entretanto,
aspecto a acometer a qualidade des se ensi no os motivos para o can celamento das aulas não
relaciona-se à extrema ro tatividade da po pu la- são poucos, mormente por questões re lativas
ção carcerária en tre as uni dades do sistema pe- à segurança e disciplina.
nal. Um ensino de oito séries anuais, afo ra a Rotina da segurança em todas as uni da-
possibilidade de repetência dos alunos, pra ti ca- des do sistema são as blitz. Caracterizam-se
mente inviabiliza a conclusão des sa fase es co- por revistas em todas as ce las, normalmente
lar pelos en carcerados. planejadas em sigilo pela área de segurança,
Em 1979 cessaram as atribuições da Se- possuindo a prer rogativa de ser inesperada.
cretaria de Estado da Educação de ma nu ten ção Não existem pe ríodos sis temáticos para sua
da escola nas prisões. Tal interrupção oca si o- realização, que varia segundo ocorrências no
nou uma lacuna na re alização dessas ati vi da- estabelecimento. Esse desígnio paralisa todas
des, culminando na mobilização e aglutinação as atividades da unidade, pois os presos de-
de ins tituições es tranhas à educação es colar vem permanecer trancados nas celas para que
propriamente, que condensaram uma série de se cumpra a revista.
ações para viabilizá-las. Por vezes, a falta de agentes peni ten-
Proeminente, nesse sentido, foi a ini ci a ti- ciários também impede o fun cionamento da
va da Funap, ór gão da própria Administração escola. Os alunos pre sos são revistados quan-
Penitenciária, em firmar convênio com duas do saem do pátio para a escola e quando
instituições responsáveis pela educação de jo- retornam. A falta de funcionários em de ter mi-
vens e adultos: a Fundação Mobral – Movi men- nados dias e horá ri os impede a realização des-
to Brasileiro de Alfabetização – e a Fundação se procedimento, impedindo a locomoção dos
Roberto Marinho. Além de passar a de sem pe- presos na unidade.
nhar um pa pel importante na organização das Na grande maioria dos estabelecimentos
atividades es colares, a Funap pos sibilitou que o penais, a escola é o único local onde toda a po-
ensino nas prisões ocupasse um lu gar próprio pulação carcerária se encontra. No cotidiano
no ce nário edu cacional brasileiro de jo vens e permanecem separados nos raios onde estão
adultos. dispostas suas celas. São comuns boatos de que

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algum “acerto de contas” (o termo enseja o uso trabalhados, um a menos na sentença; c) na
da violência) entre os presos será efetuado na es- opção do aluno em não ir à aula em determina-
cola, oportunidade única para encontrar pessoas do dia; d) na concorrência da escola com ou-
que estão em outros raios. Esse fato igualmente tras atividades da unidade, principalmente as
acarreta a interrupção das atividades. esportivas. O registro de ausências é maior
Quando surgem ocorrências concretas na quando são realizados campeonatos. Nor mal-
escola, tais como a descoberta de um túnel para mente, sobre esses campeonatos, incide uma
fuga ou esconderijo de armas, as atividades es - rede de apostas dos encarcerados, daí então o
colares são suspensas por um período mu ito grande interesse em acompanhá-lo.
maior se comparado ao mesmo acon tecimento Em determinados es tabelecimentos pe-
em outro lo cal da prisão O motivo alegado pelo nais exis te a obrigatoriedade da freqüência à
corpo dirigente é o de que não se pode proibir o escola. Tal fato configura-se contrário à pro-
uso do pátio ou da cozinha, por exemplo, sem o posta de reabilitação penitenciária visto que o
risco de mo vimentos de mo tins ou rebeliões. êxito dessa terapêutica penal funda-se na
No caso da escola, seu fechamento não traz participação vo luntária do apenado nos pro-
conseqüências mais graves à or dem interna das gramas (Rodrigues, 1999). Ao pesso al pe ni-
prisões – pri oridade da or ga ni za ção. tenciário incumbe-se a motivação para tan to.
Afo ra os motivos de segurança, as aulas Concernente á obrigatoriedade da edu-
são paralisadas, inexoravelmente, uma vez por cação, contudo, a gran de mai o ria das uni da-
mês, no dia denominado como pecúlio. À po- des prisionais ado ta um pro cedimento que
pulação carcerária não é permitido manuseio consiste em não impor tal condição num pri-
de dinheiro. Aqueles que exercem alguma ati vi- meiro momento. Porém, uma vez ma tri cu la-
dade remunerada, apresentam uma lista de do, o aluno não pode ausentar-se sem
compras a ser efetuada pela penitenciária (Se- justificativa. Caso não possua o en sino fun da-
tor de Pecúlio), que repassa aos presos os pro- mental completo e, mesmo assim não queira
dutos. Nesse dia, a escola permanece sem estudar, deve assinar um “termo de res pon sa-
atividades. bilidade” que será anexado ao seu pron tuá rio,
A carga horária diária das aulas é de duas o qual, concretamente, transfigura-se na im-
horas para cada turma, de segunda a sexta-feira. posição, observando-se o receio dos en car ce-
A diretriz, no que respeita ao número de alunos, rados em assumir formalmente não tencionar
preconiza que sejam matriculados vinte para matricular-se na escola, pois que há um te mor
cada classe de PEB I e vinte e cinco para cada um que a Comissão Téc nica de Classificação, con-
das demais fases do ensino fundamental. forme veremos adiante, ao avali ar sua so li ci-
É bastante comum, contudo, os diretores tação de be nefício, leve em conta esse fato,
de educação das unidades excederem esse nú- negando-lhe a con ces são.
mero. Ocorre uma quantidade razoável de fal tas, Não obstante as dificuldades para o
principalmente nos locais em que a freqüência funcionamento regular da es cola, ob ser van-
não é obrigatória. As justificativas para as au- do-se os procedimentos da gestão peni ten ciá-
sências incidem: a) nos atendimentos de ordem ria, um aspecto relativo à qualidade do en si no
jurídica, médica ou social; b) no trabalho, pois destinado aos homens e mulheres presos se
apesar de os alunos serem dispensados para as sobressai. Trata-se da constituição da pro pos-
aulas, em momentos de picos de produção não ta de ensino su pletivo no sistema pe nal pa u-
há essa concessão, ocorrendo então a opção pe- lista, a qual ensejou a pos sibilidade de
las oficinas que, além da remuneração, possibili- ingresso do aluno encarcerado na escola a
ta a remição de pena, na proporção de três dias qualquer tempo, sem observar nenhum

362 Manoel Rodrigues PORTUGUES. Educação de adultos presos


período preestabelecido, atentando-se para a fases, o aluno é promovido à fase seguinte.
especificidade da organização penal. Esse critério encerra, ainda, a promoção do
Sua inclusão efetiva-se após diagnóstico Nível I para o Nível II.
do seu desenvolvimento e aprendizagem es co- No que tange à con clusão do Nível II, o
lares, re alizados pelos próprios educadores. De- ensino fun damental, a avaliação é realizada
nominado Processo de Triagem, constitui-se de por professores e instituições alheios ao pro-
três etapas, a saber: prova es crita de Língua cesso de ensino e aprendizagem pro pri a men-
Portuguesa e Matemática, entrevista e adap ta- te. Trata-se do Centro de Exames Supletivos
ção em sala de aula. (Cesu), órgão da Secretaria de Estado da Edu-
Esse processo de triagem deve ser realiza- cação, responsável pela realização dos Exa-
do apenas na primeira vez em que o aluno se mes Oficiais de Suplência em todo o esta do
matricula no programa de educação da Funap. A de São Pa u lo.
partir de então, os dados relativos ao seu grau As provas do Cesu, como são co nhe ci-
de aprendizado e respectiva etapa que está cur- das nas escolas das prisões, são realizadas
sando, seriam registrados no documento indivi- uma ou duas vezes por ano, sendo es tendida
dual do aluno, denominado Histórico Escolar, o aos alunos encarcerados. São organizadas por
qual é atualizado com as informações pertinen- disciplina e um conceito igual ou superior a
tes ao seu desenvolvimento escolar. Esse docu- cinco, habilita o aluno-candidato a receber
mento acompanha o aluno na movimentação um atestado de aprovação naquela disciplina.
pelas unidades do sistema penitenciário, de for- O certificado de conclusão do ensino fun da-
ma a permitir sua reinserção na escola. mental é obtido após a aprovação nas cinco
A estrutura do programa de educação: disciplinas que compõem o currículo, atu al-
Nível I – PEB I, II e III – correspondente ao en si- mente: Língua Portuguesa, História, Ge o gra-
no de 1ª à 4ª sé rie; e Nível II, de 5ª à 8ª série, fia, Ciências e Matemática. Essa for ma de
conforme já ci tado, permaneceu no sis tema pe- avaliação dos alu nos para certificação na edu-
nal do es tado de São Paulo, mesmo após a ex- cação fun damental en cerra um paradoxo. Du-
tinção da Fundação Educar, em 1990. A rante o percurso de en sino e aprendizagem, os
certificação, até en tão realizada por aquela processos de avaliação são contínuos, par ti ci-
Fundação, passou a ser constituída como uma pativos e qualitativos. Ao final do percurso,
“Declaração de Conclusão” fornecida pela Fu- para obter a certificação, o alu no é sub me ti do
nap, sem o reconhecimento do Ministério da a uma série de tes tes objetivos, identificados
Educação ou do Conselho Estadual de Edu ca- com conteúdos pro gramáticos (Secretaria de
ção. Essa Declaração possui um valor maior no Educação – Centro de Exames Supletivos,
interior das unidades pri sionais. Anexada ao 1989) diversos da queles constituintes dos
prontuário dos alu nos, tem a finalidade de atri- materiais di dáticos dos alu nos.
buir boa conduta carcerária ao seu portador, A estrutura e o funcionamento do pro-
quando for organizar a solicitação dos be ne fí- grama de educação de adultos presos so fre-
cios previstos em lei, prin cipalmente a pro gres- ram alterações, a partir de 1997, decorrentes
são de regime, cujo pare cer final cabe à da implementação do Telecurso 2000.
Comissão Téc nica de Classificação. O Programa de Educação Básica – PEB,
Tal modalidade de ensino, ca racterizada com três etapas, passou a ser denominado Pro-
como de suplência, não prevê a retenção do grama de Alfabetização, subdividido em apenas
aluno em qualquer de suas etapas. A avaliação duas: Alfabetização I e Alfabetização II (ALFA I
é realizada de for ma contínua e, ao atingir os e II). A fase subseqüente da educação funda-
objetivos mínimos previstos para cada uma das mental constituiu o Telecurso 2000,

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 363
correspondente ao programa de ensino de 3ª à 8ª bases para sua difusão às demais unidades do
série, e organizada segundo a divisão das discipli- sistema pe nal pa ulista, o que veio a ocorrer
nas que compõem o currículo: Língua Portugue- somente em 2001, devido à falta de re cursos
sa, Matemática, História, Geografia e Ciências. financeiros.
A pro posta curricular para alfabetização Desde 1987 a educação no sistema pe-
foi igualmente alterada. Os objetivos e con teú- nitenciário pa ulista é incumbência da Funap.
dos pertinentes a essa fase escolar foram extraí- Atualmente, contudo, uma variada gama de
dos e readequados da Proposta Cur ricular para parcerias foram arroladas no sentido de pos si-
o 1º Segmento do Ensino Fun damental de Jo- bilitar a organização e funcionamento das es-
vens e Adultos (São Paulo: Ação Educativa; colas nas prisões (Quadro 1). São 11 mil
Brasília: MEC, 1997), elaborada pela or ga ni za- alunos matriculados em 62 unidades pri si o-
ção não-governamental Ação Educativa, a par- nais do Estado.
tir de um amplo e de mocrático processo, que Um aspecto não propriamente di dá ti-
contou com a participação de organizações co-pedagógico, relacionado à organização e
educacionais pú blicas e da sociedade civil, vin- ao funcionamento das escolas, requer re le-
culadas à Educação de Jovens e Adultos, com o vância, pois sua interferência é de cisiva qua li-
apoio da Secretaria de Educação Fundamental tativamente para o programa de educação de
do MEC. A Funap esteve presente nesse per cur- adultos presos.
so. Ao final do processo, o MEC manifestou in- No interior das unidades prisionais, a
teresse em co-editar e distribuir os resultados educação é subordinada à área de rea bi li ta-
dos trabalhos, constituindo uma proposta cur- ção. Seu corpo técnico é o responsável pela
ricular basilar à elaboração de projetos vol ta- realização dos exames criminológicos e emis-
dos para educação de jovens e adultos no são do pare cer acerca da concessão dos be ne-
âmbito nacional. (São Pau lo: Ação Educativa; fícios so licitados pe los indivíduos presos.
Brasília: MEC, 1997, p. 5). Para essa concessão, conforme já men-
Fundamenta essa proposta curricular a in- cionado, incide uma primazia em avaliar a
tenção de concorrer para a estruturação e organi- adaptação do indivíduo pu nido ao sistema so -
zação de programas de educação destinados aos cial da prisão, a partir da qual infere-se so bre
jovens e adultos “O objetivo deste trabalho é ofe- sua reabilitação. Dessa forma, decorre que os
recer um subsídio que oriente a elaboração de encarcerados passam a organizar sua vida pri-
programas de educação de jovens e adultos e, sional e pa utar sua conduta de forma a apre-
conseqüentemente, também o provimento de sentar-se com um “bom preso” pois, do
materiais didáticos e a formação de educadores a contrário, os be nefícios lhes serão ne gados.
ela dedicados” (São Paulo: Ação Educativa; Bra- Esse proceder, invariavelmente, pre ju-
sília: MEC, 1997, p. 13). dica as atividades educativas, principalmente
A par tir dessa orientação e com o pro pó- devido ao fato de que o setor de educação
sito de manter a educação dos encarcerados in- deve enviar à Comissão Téc nica de Clas si fi ca-
serida no cenário educacional brasileiro de ção um relatório sobre a conduta do aluno.
jovens e adultos, a Fu nap de sencadeou um pro- O processo educativo requer a par ti ci-
cesso, envolvendo coordenação e educadores, pação ativa dos educandos nas aulas, numa
para a reorganização curricular destinada ao série de “erros” e “acertos” que se constituem
primeiro segmento do en sino fun damental (Fu- como parte do processo de aprendizagem. A
nap, 1997). Foram seis me ses para construção e necessidade de mos trar-se como um “bom
implementação do projeto, ca racterizado como preso” ao professor, com a intenção
piloto, a partir do qual foram constituídas as sub-reptícia de obter uma concessão, pode

364 Manoel Rodrigues PORTUGUES. Educação de adultos presos


Qu a dro 1. Insti tu i ções que atu am no Pro gra ma de Edu ca ção de Adul tos
Pre sos do es ta do de São Pa u lo e com po si ção do qua dro do cen te.

Insti tu i ções Nú me ro de do cen tes


Fu nap 244
• Mo ni to res con cur sa dos 104
• Mo ni to res pre sos 100
• Mo ni to res es ta giá ri os 40
Co es pe - Fun ci o ná ri os das uni da des pri si o na is em des vio de fun ção 08
Se cre ta ria de Esta do da Edu ca ção - Pro fes so res co mis si o na dos 06
Se cre ta ria de Esta do de Edu ca ção - Pro fes so res que as su mi ram a do cên cia nas uni -
36
da des pri si o na is na atri bu i ção de au las
Se cre ta ri as Mu ni ci pa is de Edu ca ção - Pro fes so res que as su mi ram a do cên cia nas uni -
10
da des pri si o na is na atri bu i ção de au las
Se nai - Pro fes so res cedi dos atra vés de par ce ria com Fu nap 10
Fu mec - Fun da ção Mu ni ci pal para Edu ca ção Co mu ni tá ria - Campi nas 18
TOTAL 332

inviabilizar o processo educativo, mormente aspecto aco metedor para a consecução des tas
organizado tendo em vista o desenvolvimento finalidades educativas.
de uma série de potencialidades dos alunos. O percurso que consolidou a or ga ni za-
Observando-se que “fica difícil de sen vol- ção e funcionamento das escolas no interior
ver efetivamente o pro grama de edu cação ou dos estabelecimentos penais evidencia, por-
de trabalho, se eles estiverem li gados ao es que- tanto, uma condensação de variados pro ce di-
ma de funcionamento da prisão” (Salla, 1993, mentos pertinentes, de um lado, à gestão
p. 95), a participação do corpo docente nos penitenciária e, de outro, ao fazer pe da gó gi co
exames e na elaboração dos pareceres percorre pro pri a men te.
uma direção contrária: transportar para o es pa-
ço da sala de aula os procedimentos per ti nen- O pri me i ro fato que po de ría mos ci tar acer ca da
tes à gestão pe nitenciária, suas normas, es pe ci fi ci da de da Edu ca ção de Adul tos Pre sos
procedimentos e valores. Não obstante, o pro- é o de que ela faz par te, en quan to pro ces so
grama de edu cação de adultos presos apre sen- me to do ló gi co, da His tó ria da Edu ca ção de
ta-se com os objetivos de: a) “criar condições Adul tos e tem, por tan to, seu de sen vol vi men to
para o de senvolvimento e aprendizagem dos pe da gó gi co in se ri do nes sa histó ria. O se gun do
alunos de forma participativa e crí tica”; b) “de- fato é o de ser um pro je to de edu ca ção que se
senvolver as potencialidades dos alunos, pre pa- de sen vol ve no in te ri or das pri sões e que, des sa
rando-os para o exercício pleno da ci dadania”; for ma, está in se ri do tam bém na histó ria das
c) “estimular e cons cientizar os alunos para a pri sões e das for mas de pu ni ção. (Rus che,
importância dos estudos, buscando al ter na ti- 1997, p. 13)
vas atrativas para a participação” (Rusche,
1995, p. 28), dos alunos em sala de aula na ava- Normas, valores e padrões identi fi ca dos
liação de sua conduta carcerária, torna-se com estes dois aspectos, que perpassam a

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 365
organização das atividades escolares des ti na- A proposta de reabilitação
das aos encarcerados, raramente são passíveis penitenciária: o dilema
de coadjuvarem-se. É no embate diuturno en - punir/educar
tre pressupostos e fi nalidades diferentes, até
opostas, que emergem a organização e o fun- Desde que a prisão tornou-se a pena por
cionamento das escolas no sistema penal excelência, relegando os castigos corporais,
paulista. os suplícios fí sicos, desonras, banimentos, es -
As possibilidades e as contradições de forços extenuantes, etc. (Rocha, 1994), re ca iu
uma “educação autêntica, que não descuide da sobre ela a dupla fun ção de pu nir e reabilitar.
vocação ontológica do homem, a de ser sujeito” Fundada nesta du pla finalidade a pena
(Freire, 1979, p. 66) configuram-se de forma de en carceramento se sedimentou e se pro li-
preponderante nos aspectos metodológicos. ferou des de os primórdios do século XIX, ini-
No in terior das prisões, a metodologia é o cialmente na Europa e, posteriormente, para
fator diferencial do trabalho educativo, na me- o restante do mundo.
dida em que possibilita, por um lado, o en ga ja- Considerando a ta refa de reabilitar os
mento da edu cação aos procedimentos da indivíduos pu nidos, áreas diversificadas do
gestão carcerária, pautados pelo princípio da conhecimento foram aglutinadas na insti-
punição e de manutenção da ordem interna das tuição carcerária para consecução des sa
prisões. Por outro, permite a cons tituição des se finalidade: arquitetura, sociologia, psiqui a-
trabalho, en quanto uma das possibilidades tria, serviço so cial, psicologia, pe dagogia e
concretas para a preservação dos indivíduos direito.
punidos à subjugação carcerária. A reabilitação dos indivíduos por meio
As possibilidades da metodologia em des- do encarceramento, fruto da aglutinação des-
vincular as atividades educativas do esquema ses saberes, funda-se em três grandes princí-
disciplinar das prisões materializam-se na práti- pios: o isolamento, o trabalho penitenciário e a
ca de sala de aula: nas relações estabelecidas en- modulação da pena (Foucault, 1986). A partir
tre os alunos e destes com os educadores, na deles tornou-se possível a edificação de um sa-
participação individual e em grupo nos traba- ber técnico–científico sobre os indivíduos, de-
lhos, no debate, nos questionamentos, na refle- clinando o foco de ação do crime, para aquele
xão, no respeito, na tolerância, no diálogo e nos que o cometeu. O indivíduo é o foco central da
conteúdos. A observação desses aspectos pode operação penitenciária, não o seu ato.
contribuir para a constituição do espaço escolar, O princí pio do isolamento efetiva-se,
diferenciando-o da técnica penitenciária. primeiro, em relação ao in divíduo trans gres-
Nos interstícios das contradições, pre sen- sor com o mundo exte ri or. Depois, mediante a
tes e inerentes a todos os processos de domina- classificação dos detentos, um em relação aos
ção e subjugação, arrogam-se as possibilidades outros, dispostos a par tir da função de in di vi-
concretas para a constituição da escola, como dualização da pena. Essa função é desenca-
espaço diferenciado da técnica penitenciária. O deada tendo em vista o indivíduo punido (não
confronto direto ou a mera sublevação ante os o infrator), objeto de transformação do apa-
procedimentos da gestão carcerária fatalmente relho carcerário.
acarretam a própria afirmação destes. Observan- Junto ao iso lamento, o trabalho é de fi-
do-se a nítida prioridade de manutenção da or- nido como parte constituinte da ação car ce rá-
dem interna das prisões, no cotejo avultam-se ria de transformação dos indivíduos.
os preceitos relativos aos esquemas disciplinares Impõe-se, não como atividade de pro dução,
e punitivos, solidificando-os na organização. mas pelos efeitos que faz desencadear na

366 Manoel Rodrigues PORTUGUES. Educação de adultos presos


mecânica humana, proporcionando a ordem e a cas que se pretendam utilizar para que se pro-
regularidade; o que cesse sua transformação, bem como suas
respectivas fa ses para ope rá-las; a pena deve
su je i ta os corpos a mo vi men tos re gu la res, ex clui ser não só individual, como individualizante;
a agi ta ção e a distra ção, im põe uma hi e rar quia e 3ª) Modulação das penas – a pena deve ser
uma vi gi lân cia que se rão ain da mais bem ace i- proporcional, de acordo com a individualida-
tas, e pe ne tra rão ain da mais pro fun da men te no de dos condenados e com os resultados da te-
com por ta men to dos con de na dos. (Fou ca ult, rapêutica penal, com vistas a se processar sua
1986, p. 203) transformação, prevendo progressos e reca í-
das inerentes deste processo;
Por fim, o princípio da autonomia pe ni- 4ª) Trabalho como obrigação e como direito –
tenciária que permite a modulação da pena, é considerado como uma das peças fun da-
ajustando-a àquela transformação, uma vez mentais para transformação e so cialização
que a duração do castigo não deve re la ci o- dos detentos, que devem aprender e praticar
nar-se diretamente à infração, mas sim à trans- um ofício, pro vendo com recursos a si e à sua
formação útil do indivíduo, no decorrer do família;
cumprimento da sentença. A operação peni ten- 5ª) Educação pe nitenciária – deve ser pre o-
ciária é quem deve controlar os efeitos da cupação diuturna do poder públi co dotar o
pu ni ção. indivíduo da educação, no interesse da so ci e-
A fim de processar a transformação útil dade, pro vendo sua instrução geral e profis-
do indivíduo, a prisão deve, simultaneamente, sional;
ser o local de execução da pena e de uma sis te- 6ª) Controle téc nico da detenção – a gestão
mática e rigorosa observação dos indivíduos das prisões, seu regime, deve ser realizado por
punidos. É a partir desta que os rigores, ate- pessoal ca pacitado, que zele pela boa for ma-
nuantes, progressões e regressões da pena se- ção dos condenados;
rão aplicados. 7ª) Instituições anexas – o indivíduo deve ser
Tais princípios, desde o surgimento da acompanhado por medidas de controle e as-
pena de encarceramento, formaram os fun da- sistência, até que se processe sua re a dap ta ção
mentos a par tir dos quais foram edificadas as definitiva na sociedade.
máximas para uma adequada ad ministração A partir de tais pressupostos, com bi-
penitenciária, ou seja, que lhe propor ci o na ri am nando seus efeitos pu nitivos à operação cor-
a consecução das finalidades de punir e re a bi li- recional, a prisão apresenta-se como a
tar o indivíduo transgressor. “Princípios de que, instituição de combate ao crime. A cons ta ta-
ainda hoje, se esperam efeitos tão ma ra vi lho- ção de que ela não reduz a criminalidade é tão
sos, são conhecidos: cons tituem há 150 anos as antiga quanto a própria pri são. Exceto pelos
sete máximas uni versais da boa ‘condição pe ni- números, as críticas ao seu fracasso per ma ne-
tenciária’” (Foucault, 1986, p. 221). São elas: cem idênticas nos mais de cento e cinqüenta
1ª) Correção – a prisão deve ter como função anos de sua existência. Antes de contribuir
essencial a transformação do comportamento para a extinção do comportamento crimi no-
do indivíduo; a recuperação e reclassificação so, a prisão pro duz a reincidência. Afinal, a
social do condenado; prisão propicia a organização dos de lin qüen-
2ª) Classificação – o indivíduo condenado deve tes, na medida em que desencadeia uma for-
ser isolado, pri meiro em relação à sociedade, ma de socialização em seu submundo,
depois repartidos entre eles, a partir de crité ri os estabelecendo solidariedade, cumplicidade e
que envolvam idade, sexo, disposições e téc ni- hierarquia entre eles.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 367
De for ma bastante singular, entretanto, a A lenta for mação do delinqüente trans-
prisão, invariavelmente apresenta-se como a parece na investigação biográfica, fator de
solução para o problema da criminalidade que extrema importância na histó ria da pe na li da-
ela própria contribui para sedimentar. Sempre de, “porque faz exis tir o criminoso an tes do
acompanhada de planos de reformas, os quais, crime” (Foucault, 1986, p. 211). A biografia
em seu bojo, reafirmam as máximas que cons ti- marca o autor da transgressão com uma cri-
tuíram a prisão desde seu sur gi men to. minalidade que, portanto, exige as medidas
O que justifica a existência ca pilar da pri- da ação penitenciária. Nesse aspecto, con fun-
são na sociedade, não obstan te seu absoluto dem-se os discursos penal e psiquiátrico. No
fracasso em combater a criminalidade, antes ponto de intersecção desses discursos, surge a
que suprimir as in frações, é distingui-las, dis- noção de indivíduo perigoso, “que permite es -
tribuí-las e até utilizá-las: tabelecer uma rede de causalidade na escala
de sua bi ografia inteira e um veredicto de pu-
Orga ni zar as trans gres sões numa tá ti ca ge ral de nição – correção” (Foucault, 1986, p. 211).
su je i ções (...) É uma ma ne i ra de ge rir as ile ga li- Afora a perda da liberdade física (ou do
da des, de ris car limi tes de to le rân cia, dar ter re no direito de ir e vir), a prisão subjuga o detento
a al guns, de fa zer pres são sobre outros, de ex - ao comando de uma estrutura autoritária e de
clu ir uma par te, de tor nar útil ou tra, de ne u tra li- uma rígida rotina autocrática que opera como
zar es tes, de ti rar pro ve i to da que les. (Fou ca ult, uma grande máquina impessoal. O controle
1986, p. 226) sobre os indivíduos é exercido de for ma inin-
terrupta, regulando-se de modo minucioso
A operação penitenciária, portanto, ge- todos os momentos de sua vida. Com a nítida
rencia a delinqüência, inserida numa es tra té gia orientação de preservar a ordem, a dis ciplina,
global de dominação e disciplinarização - “Cor- evitar fugas e mo tins, a organização peni ten-
rigir as pessoas sempre foi um objetivo es tre i ta- ciária elege como forma eficaz submeter o re-
mente li gado ao uso que se quer fazer de las” cluso, cer cear quaisquer pos sibilidades do
(Rocha, 1994, p. 170). exercício de sua autonomia (Thompson,
Aspecto central nessa operação é a cons- 1976).
trução da delinqüência que ela faz desencadear Ao adaptar sua conduta e com por ta-
nos indivíduos punidos. O condenado – infrator mento às normas e padrões da instituição, o
na justiça penal – torna-se o objeto de saber da preso gradualmente passa a obter acesso a
técnica penitenciária que, em seu lugar, coloca determinados bens ou prerrogativas na pri-
um outro personagem: o delinqüente. O infrator são. Certas necessidades, procedimentos ou
se constitui por um ato (transgressor), o delin- vontades que na vida fora da prisão eram ab -
qüente se refere a toda uma vida do indivíduo, solutamente corriqueiras, no interior dela ad-
objeto de conhecimento da técnica punitiva: quirem a qualidade de privilégios: tomar um
café quente, ir a al gum lugar sem motivo apa-
A di fe ren ça en tre um in fra tor e um de lin qüen te rente, faltar ao trabalho ou à aula, sair com
está em que o que ca rac te ri za o delin qüen te não um grupo ou outro de pessoas, dormir ou
é o ato da infra ção, mas a sua vida. A jus ti ça acordar em horários di ferentes, etc.
con de na o in fra tor pelo ato da in fra ção, o sis te- Em contrapartida, essa adaptação ten de
ma car ce rá rio não ape nas faz com que a in fra- à despersonalização do suje i to apenado – a
ção o mar que pela vida toda, como re a li za a mortificação de seu eu (Goffman, 1996).
so ci a li za ção que o in se re de fi ni ti va men te no Quanto ma ior a in tensidade do ajustamento
mun do do cri me. (Ra ma lho, 1979, p. 163) ao sistema social da prisão, maiores as

368 Manoel Rodrigues PORTUGUES. Educação de adultos presos


possibilidades de se al cançar os privilégios de Indivíduo “re abilitado”, portanto, se ria
que ela dispõe. Ao contrário, mostrar-se re sis- o infrator plenamente ajustado ao aparelho
tente acarreta ao indivíduo punido um maior carcerário; es pecificado e patologizado téc ni-
rigor, severidade e endurecimento de seu ca e cientificamente em face da sociedade –
regime. “preso um dia, preso toda a vida” (Cas tro et
No que concerne à administração pe ni- al., 1984, p. 110).
tenciária, o sistema de privilégios é vital para Se não, vejamos.
sua gestão, cons tituindo-se num dos sus ten tá- A avaliação acerca da re abilitação dos
culos de seu modelo organizacional. Em face encarcerados no estado de São Paulo é rea li-
da importância que esse sistema representa aos zada pela Co missão Técnica de Classificação
reclusos, inexoravelmente, ele se encer ra como (CTC), que funciona no interior das unidades
uma forma eficaz de controle da massa en car- prisionais. É presidida pelo diretor e deve ser
cerada. Comportamentos e condutas não composta, no mínimo, por dois chefes de ser-
desejáveis pela organização significam o im pe- viço, um psiquiatra, um psicólogo e um as sis-
dimento em ob tê-los. Tal controle tende a in- tente soci al. Seu resultado é denominado
tensificar-se, pois, no interior das prisões, Exame de Per sonalidade e compõe o pron-
todas as esferas da vida do indivíduo inter pe ne- tuário criminológico dos indivíduos punidos
tram-se. Assim, ser recriminado ou avaliado ne - (Lei de Execução Penal, Artigo 7º).
gativamente em determinada atividade Esse Exame configura-se como um in-
influencia e re percute nas demais, sendo toda quérito so bre o indivíduo punido, e não sobre
sua conduta considerada como não adequada. o transgressor, a fim de possibilitar a gestão
É a partir desse pressuposto que o in di ví- da pena de encarceramento de for ma in di vi-
duo passa a organizar toda sua vida en car ce ra- dualizada. (Lei de Execução Penal, Art. 34 -
da. Mais que uma motivação, torna-se uma Exposição de Motivos). Não possui por fi na li-
obsessão, que se materializa na inserção em dade a questão jurídica, a informação so bre a
atividades que permitem a remição de pena – dinâmica do ato criminoso; não visa a ele-
trabalho penitenciário – ou nos programas que mentos de prova ou instrutórios do processo:
lhe atribuem a qualidade de uma boa conduta –
caso da educação e cursos em geral, cultura, es - Des lo ca-se a ên fa se do ato para o com por ta-
portes e grupos terapêuticos. Manifesta-se men to indi vi du al. O que im por ta, sob essa
também na sua forma de proceder e de re la ci o- pers pec ti va, é deslin dar a pes soa do in fra tor,
nar-se com outros presos, funcionários, téc ni- in qui rir-lhe pen sa men tos in con fes sá ve is, de -
cos e di rigentes. “Se o preso de monstra um se jos ocul tos, tendên ci as incons ci en tes com
comportamento adequado aos padrões da pri - vis tas a iden ti fi car-lhe um po ten ci al ”cri mi nó-
são, automaticamente merece ser considerado geo” que ex pli que seu com por ta men to de lin-
como readaptado à vida livre” (Thompson, qüen ci al, carac te ri ze sua res pon sa bi li da de
1976, p. 42). cri mi nal e jus ti fi que a apli ca ção da pe na li da-
Nesse sen tido, essa busca incessante de de, via de re gra priva ção da li ber da de” (Ador -
mostrar-se ade quado aos padrões da prisão no, 1991b, p. 66-67).
transforma-se em prin cípio e fim das ações dos
encarcerados. Os objetivos que, pressupõe-se, O exame re alizado pela CTC volta-se
deveriam ser inerentes às ati vidades, seja de para a pessoa, sua realidade integral e in di vi-
educação, cultura, es portes, profissionalização dual, sua história de vida, em detrimento da
ou terapêuticas, são declinados em favor des sa conduta criminosa. Como já referido, o su je i-
busca. to é o desígnio da ação carcerária, tor nan-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 369
do-se objeto de saber da técnica pe nitenciária, O pa recer da CTC compõe o Prontuário
que declina seu foco de ação do crime, para Criminológico do prisioneiro subdividido em
aquele que o cometeu: Dados de Observação Di reta e Exames Téc ni-
cos. Os primeiros são re latórios relativamente
Deve de fi nir o perfil do pre so, en quan to pes soa, padronizados, dos quais constam todos os as-
que tem uma his tó ria de pes soa, que tem ca rac- pectos da vida do indivíduo na prisão: tra ba-
te rís ti cas, ten dên ci as, de se jos, ap ti dões, in te res- lho, escola, rela ção com familiares (quando
ses, as pi ra ções de pes soa e que, como pes soa (e das visitas nos finais de semana), par ti ci pa ção
não só como cri mi no so), deve ser acom pa nha do nas atividades culturais, de lazer, esportivas e
e prepa ra do para seu re tor no ao con ví vio soci al. religiosas, relação com demais presos e com
(Sá, 1996, p. 210) funcionários, apresentação pes soal, obe diên-
cia ao regimento interno da uni dade, cu i da-
Regime fechado, semi-aberto ou aberto, dos com o patrimônio do Estado. Nor mal-
são as possibilidades para o cumprimento das mente pri orizam-se os aspectos disciplinares
penas pri vativas de liberdade no sistema pro- de sua conduta. São elaborados por cada um
gressivo, adotado pelo Brasil. A progressão, ou dos setores que organizam as respectivas ati-
seja, a transferência para um regime menos ri - vidades. Já os Exames Técnicos são com pos-
goroso, é determinada pelo juiz, quando cum- tos de: a) Estudo Ju rídico-penal; b) Estudo
pridos ao menos um sexto da pena no regime Social; c) Exame Psicológico; d) Exame Psi-
anterior e pelo mérito do preso (resultado da quiátrico. Esses exames efetivam-se medi an te
CTC). a realização de uma série de testes e en tre vis-
O parecer da Comissão Técnica de Classifi- tas com os prisioneiros no momento mesmo
cação deveria, assim, ser a avaliação de uma da ava li a ção.
proposição de programas, com o acompanha- A partir destas informações, a Co mis são
mento sistemático de seus resultados em face delibera acerca da reabilitação dos prisi o ne i-
dos indivíduos punidos. Em outros termos, uma ros. É patente uma certa hierarquia dos re sul-
avaliação longitudinal do indivíduo, de sua con- tados obtidos por meio dos Exames Técn icos
duta e participação nas atividades. Na dinâmica em relação aos Dados de Observação Di reta.
penitenciária atual, contudo, o que se verifica é Caso as avaliações sejam dissonantes, nor mal-
uma completa ausência desses procedimentos mente há prevalência daqueles. Ao final do
(Sá, 1996; Albergaria, 1990; Pitombo, 1985). Na Prontuário Criminológico, um tópico deno mi-
verdade, sua realização efetiva-se tão somente na do Conclusão traz uma sínte se dos exames,
mediante uma série de entrevistas, testes (psico- encerrando com a deliberação acerca da re a-
lógicos e psiquiátricos) e avaliações pontuais do bilitação do indivíduo, os quais indicam ni ti-
encarcerado, realizadas por profissionais das damente essa hi erarquização.
áreas anteriormente referidas, cujo tempo mé dio Com a intenção de ilustrar esse fato,
de duração não ultrapassa uma hora. apresento os resultados referentes a dois pri-
O corpo técnico das unidades prisionais sioneiros, cu jos pa receres foram desfavorá-
dedica-se quase que exclusivamente à realiza- veis, conforme atestam seus prontuários
ção dos exames e do respectivo parecer dos criminológicos 1.
indivíduos punidos, em detrimento da formula-
ção, proposição e implementação de programas
e atividades. Acentua-se, nesse sentido, a difu-
são dos aspectos de contenção e controle nos 1. Prisioneiros do Centro de Observação Criminológica – Complexo
pareceres da Comissão Técnica de Classificação. do Carandiru. Dados extraídos em outubro de 2000.

370 Manoel Rodrigues PORTUGUES. Educação de adultos presos


Prisioneiro 1 de valorização pesso al / agressividade e
impulsividades represadas graças a meca-
Dados da Observação Direta nismos ex ternos / mecanismos frenadores
repressivos e pouco confiáveis / autocrítica
Relatório das áreas de segurança, disciplina e
precária / movimentos internos com vista à
produção
regeneração não são satisfatórios;
• Sem registro de faltas disciplinares;
• Parecer: Desfavorável.
• Apresenta ótima condu ta carcerária;
• Apresenta-se responsável para com o pa tri-
Prisioneiro 2
mônio da uni dade;
• Apresenta-se respeitoso com os funcionários;
Dados da Observação Direta
• Apresenta-se amistoso com os demais sen-
tenciados; Relatório das áreas de segurança, disciplina
• Apresenta-se amistoso, afe tuoso e de mons- e produção
tra interesse pela família; • Sem registro de faltas disciplinares;
• Demonstra interesse e participa das ati vi da- • Apresenta ótima conduta carcerária;
des de lazer de for ma disciplinada; • Apresenta-se responsável para com o pa tri-
• Participa de atividade religiosa e demonstra fé; mônio da unidade;
• Apresenta aspecto pessoal cu idado, mos- • Apresenta-se respeitoso com os funcio-
trando-se barbeado, asseado e penteado; nários;
• Obedece passivamente ao regimento interno; • Apresenta-se amistoso com os de mais sen-
• Apresenta boa produtividade e bom de sem- tenciados;
penho no trabalho. • Apresenta-se amistoso, afe tuoso e de mons-
tra interesse pela família;
Relatório da área sociopedagógica • Participa das atividades de lazer de forma
• Analfabeto quando entrou na prisão; não disciplinada;
freqüentou es cola por que morava e tra ba lha- • Participa de atividade religiosa e de mons tra
va na área rural; fé;
• Na pri são con clui a dis ci pli na de Lín gua • Apresenta-se as pecto pessoal cu idado,
Por tu gue sa, atu al men te fre qüen ta o cur so mostrando-se barbeado, asseado e pen-
su ple ti vo, equi va len te da 5ª a 8ª sé ri es, nas teado;
dis ci pli nas de Ge o gra fia, Ciên ci as e Ma te- • Obedece passivamente ao regimento in-
má ti ca; terno;
• Interessado/ responsável; • Apresenta boa produtividade e bom de sem-
• Participa das atividades de teatro e música, penho no trabalho.
apresentando boa relação com o grupo/ uti li-
za-se da compreensão para aconselhar, pon- Relatório da área sociopedagógica
tuar e ajudar os integrantes/ engajado para • Quando foi para a prisão es tava ma tri cu la-
preservar união e harmonia do grupo/ pre sen- do na 7ª série do en sino fun damental;
ça marcante e rica na constituição do grupo. • Na prisão, concluiu o en sino fundamental.
Está cursando o en sino mé dio, do qual con-
Conclusão da Comissão Técnica de
clui Língua Portuguesa, His tória, Ge o gra fia
Classificação acerca de sua reabilitação
e Matemática. Cur sa atu almente Física e
• Apresenta ins tabilidade trabalhista / rigidez Biologia;
marcante / primitivismo / rude / necessidade • Interessado/ responsável/ assíduo/ sua úni-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.355-374, jul./dez. 2001 371
ca dificuldade deve-se a problemas fo no a u- demais esferas da unidade pri sional apon ta-
diológicos; vam uma série de esforços dos indivíduos:
• Participa das atividades de teatro e do curso bom desempenho e bons índices de produ ti vi-
de inglês, apresentando-se interessado/ res- dade no trabalho, participação e freqüência
ponsável/ preocupado com a disciplina e nas aulas, interesse para o aprendizado dos
comportamento; conteúdos programáticos da escola, in te gra-
• Atendimento psicológico individual por três ção com professores e de mais alunos e com-
vezes, apresentando re flexão sobre os as sun- promisso com os estudos, en tre outros.
tos abordados/ em penho/ procura sim bo li zar Esforços es tes sumariamente ignorados pela
e significar seus atos. Comissão, a qual possui a mais abso lu ta con-
vicção em seus resultados e procedimentos
Conclusão da Comissão Técnica de
criminológicos, cu jos fun damentos pro du zem
Classificação acerca de sua reabilitação
a anula ção e mortificação dos sujeitos.
• Apresenta certa estabilidade trabalhista / Dessa forma, os indivíduos cujas avalia-
contato pouco es pontâneo / motivado por ções indicam assiduidade, participação, en vol-
temores de de saprovação, crítica e re cri mi na- vimento e progressos, têm a solicitação de
ção / relata crimes buscando isen ção da pró- benefícios negada pela CTC e, ainda, vêem to-
pria culpa e responsabilidade, denotando lhidas suas possibilidades de ação no sentido
distanciamento afetivo marcante frente aos de obtenção daquele benefício, uma vez que
danos / busca de defesas para posicionar-se não são explicitados os motivos pelos quais
no meio de lidar com as demandas / rigidez / não foram considerados reabilitados. E, quan-
primitivismo / egocentrismo / avaliação su- do expostos, o são de forma absolutamente
perficiais e mo bilizadas pelo próprio so fri- sucinta e sem quaisquer orientações que pos-
mento / seus valores fogem do contexto sam reverter o parecer impingido. Evidencia-se
social; justamente o contrário: a reabilitação requer a
• Parecer: des favorável. anulação do ser, não um empreendimento pró-
prio para sua formação enquanto sujeito.
Independentemente da situação concreta A contradição en tre a educação e a re a-
de existência dos indivíduos, de seu desenvolvi- bilitação penitenciária incide pre pon de ran te-
mento e participação nos programas e ativida- mente nesse aspecto. A primeira almeja a
des proporcionados pela unidade, os membros formação dos sujeitos, a ampliação de sua le i -
da CTC arrogam-se a prerrogativa de, no de cur- tura de mundo, o des pertar da criatividade e
so de uma série de testes e entrevistas que não da participação para a construção de co nhe ci-
ultrapassam uma hora de duração, deliberar mentos, a trans formação e a su peração de sua
uma avaliação pertinente a toda uma vida, atri- condição. Já a segunda, atribui a absoluta
buindo aos indivíduos uma periculosidade la- primazia na anulação da pessoa, na sua mor-
tente e inscrita na escala de toda sua biografia, tificação en quanto sujeito, aceitando sua si-
prolongando sua permanência no cárcere. tuação e condição como imutáveis ou, ao
Os re sultados desses dois prontuários de- menos, cu jas possibilidades para modi fi cá-las
monstraram que as avaliações efetuadas pelas estão fora de seu alcance.

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Re ce bi do em 16.10.01
Apro va do em 05.12.01

Manoel Rodrigues Portugues é mestre em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e integrante
da equipe de coordenação dos programas de educação e cultura do Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo (Fundap).

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