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CONFIGURAÇÃO DA TRANSIÇÃO NA RELAÇÃO DOS NOVOS E VELHOS PARADIGMAS

EDUCACIONAIS À LUZ DA PRIMEIRA E SEGUNDA ORDEM DA CIBERNÉTICA


SISTÊMICA

Andressa Almeida Rodrigues*


Fernanda do Nascimento Peixoto**
Jaqueline Márcia Noronha Almeida Gomes***
Yasmin Ferreira Damasceno Teymeny****
Anna Lúcia Sampaio Marchesini*****

RESUMO

O cenário da educação teve grandes mudanças entre o momento dos velhos e novos paradigmas
educacionais e nota-se a importância sobre uma melhor compreensão da população educacional
sobre tais mudanças. Tendo em vista que o cerne dessas mudanças se deu acerca da relação do
sistema aluno-professor pois nos velhos paradigmas o aluno era visto como um “depósito de
informação” e nos novos paradigmas aluno e professor discutem gerando novos conhecimentos, o
presente artigo reflete sobre essa relação através da abordagem sistêmica de psicologia, que vê o
indivíduo a partir de suas relações e contexto, mais precisamente da Teoria Cibernética de 1 ª e 2ª
ordem que aborda respectivamente um sistema homeostático de constante de desempenho e um
sistema imprevisível, passível de mudanças e influências.
Palavras chaves: Cibernética, Paradigmas de Educação, Abordagem Sistêmica, Psicologia da
Educação

ABSTRACT
The educational scenario had great changes between the time of the old and new educational
paradigms and it is noticed the importance on a better understanding of the educational population on
such changes. Considering that the core of these changes was the relation of the student-teacher
system because in the old paradigms the student was seen as an "information deposit" and in the new
paradigms student and teacher discuss generating new knowledge, this article reflects on this
relationship through the systemic approach of psychology, which sees the individual from their
relationships and context, more precisely from the 1st and 2nd order Cybernetic Theory that
addresses respectively a homeostatic system of performance constant and an unpredictable,
changeable system and influences.
Keywords: Cybernetics, Education Paradigms, Systemic Approach, Educational Psychology

* Aluna do nono semestre do curso de Psicologia da Universidade Salvador (UNIFACS). E-mail:


andressa21.rod@gmail.com ** Aluno do nono semestre do curso de Psicologia da Universidade Salvador (UNIFACS).
E-mail: fernanda_nascpeixoto@hotmail.com *** Aluna do nono semestre do curso de Psicologia da Universidade
Salvador (UNIFACS). E-mail: jake_noronha@hotmail.com **** Aluna da nono semestre do curso de Psicologia da
Universidade Salvador (UNIFACS). E-mail: yfdt@hotmail.com ***** Professora Assistente Tempo Parcial do Curso
de Psicologia da Universidade Salvador (UNIFACS), Mestre em Psicologia Clínica – Práticas Clínicas Winnicottiana
pela PUC –SP E-mail: anna.marchesini@unifacs.br
1. INTRODUÇÃO

É possível encontrar mais de uma forma de explicação ou conceito sobre o que é um paradigma, mas
é possível dizer que é um pressuposto sobre algo, alicerçado em um conjunto de regras e leis, mas
assim como o pensamento sistêmico, ele não é estável e imutável. É um processo de transformação e
inovação quando um paradigma antigo deixa de ser válido a aquele contexto e passa a ser substituído
por um novo paradigma que agora, de certa forma, explica como o assunto em questão deve ser
pensado e praticado (SILVA NETO, 2012).

Diante às necessidades educacionais da contemporaneidade, sobretudo no que concerne à educação,


mostra-se a urgência de um enfrentamento educacional que perceba as novas mudanças
paradigmáticas provocada pela inoperância do antigo modelo de caráter mecanicista, vinculado a
racionalidade científica e impostas pelo paradigma cartesiano, herdado da ciência moderna.
(CALLEGARI, 2006).

De acordo com Morin (2010), a discussão de informações no contexto global pede uma verdadeira
articulação e organização dos saberes e consequente reforma do pensamento. A didática do futuro
está no confronto desta existência num viés multidisciplinar, transversal, multidimensional e global.
Sendo assim, refere-se a uma questão de mudança paradigmática.

Esse enfrentamento teórico será feito para relacionar a configuração dos velhos paradigmas com a
teoria da cibernética de primeira ordem e dos novos paradigmas com a teoria cibernética de segunda
ordem, permitindo uma nova visão desses dois quadros da educação a partir de uma abordagem
sistêmica, em uma área de atuação da psicologia onde não é tão comum vê-la, a qual compreende o
campo como um sistema.

Cada sujeito elabora as questões condicionantes das respostas, em que expressam um olhar que cada
um de nós tem do mundo e da realidade à sua volta. Mostraremos que a educação é
fundamentalmente um processo relacional e, por isso, sistêmico. (DELATTRE, 1981).

Fala-se de um questionamento bastante amplo e complexo que exige, além de coragem e ousadia, um
estudo abrangente da realidade e uma procura mediativa e sensata de novos caminhos, tendo a
certeza de que estes deverão ser construídos sobre bases sólidas capazes de reverterem os sintomas,
desequilíbrio imediato (ALMEIDA, 2007).
Nos velhos paradigmas da educação, o aluno assume um papel de total passividade pois ele está
naquele processo de aprendizagem apenas como um depósito de informações, um observador
externo e inerte a este processo que não reflete sobre o conhecimento (MOYSES et al., 2002).

Em plena Era da informação, onde podemos ter várias informações a palma da nossa mão por um
celular com acesso à internet, a escola deixa de ser um lugar onde o professor é o detentor do saber e
o responsável por passar as informações ao aluno. Atualmente busca-se que o professor atue nesse
processo de ensino como mediador, não só passando novos conhecimentos ao aluno, como nessa
relação, surgem novas formas de pensar, interpretar e utilizar a informação e o conhecimento que
está sendo gerado ali (CRUZ, 2008).

Evidenciando as relações que ocorrem entre aluno e professor nesses dois cenários da educação
como diferença entre um e outro, faz-se necessário uma leitura através da abordagem sistêmica. Mais
especificamente, essas relações podem ser estudadas através de uma das teorias da sistêmica, a
cibernética.

Denota-se a importância deste artigo através da necessidade de obter uma melhor compreensão e
conscientização quanto as mudanças do cenário da educação entre o que ocorria no modelo dos
velhos paradigmas, onde o aluno era um "depósito de informações" e dos novos, onde almeja-se uma
troca entre aluno e professor. Visando estes cenários como sistemas, essa melhor compreensão será
construída a partir do conhecimento e reflexão sobre a teoria cibernética de primeira e segunda
ordem da abordagem sistêmica da psicologia.

Na cibernética de primeira ordem, há um processo que objetiva a automanutenção do sistema,


mantendo-o como ele é, já a cibernética de segunda ordem se configura através de mudança,
podendo resultar em uma nova forma de atividade daquele sistema (VASCONCELLOS, 2003).

Contextualizada na prática clínica, na cibernética de primeira ordem o terapeuta é visto como um


observador externo ao fenômeno, na de segunda ordem, ele é inserido no fenômeno, gerando
instabilidade no sistema e novas informações (GUIMARÃES, 2014). Tal como o enquadramento dos
velhos e novos paradigmas da educação, onde antigamente o aluno ficava inerte ao processo de
ensino-aprendizagem, e hoje ele participa da construção do conteúdo de sala de aula se relacionando
e se comunicando com o professor.

Refletindo sobre como é organizado o sistema escolar dos velhos e novos paradigmas da instituição a
partir da teoria da cibernética sistêmica, este artigo tem a expectativa em analisar o pensamento
corrente acerca do antigo e atual momento em que vive a educação, caracterizado por uma crise
paradigmática revelada pela ineficaz do paradigma tradicional perante as importantes interrogações
da sociedade contemporânea, interligando com a Cibernética, objetivando promover informação e
conscientização sobre os cenários da educação, favorecer reflexão sobre o papel do aluno no
processo ensino-aprendizagem, verificar a pertinência de uma possível aplicação da teoria
cibernética no contexto escolar, permitir uma aproximação informativa entre a abordagem sistêmica
e a psicologia escolar analisando materiais previamente publicados acerca dos velhos e novos
paradigmas da educação a partir de um novo olhar.

Este artigo irá contribuir para a atualização do conteúdo científico sobre educação no Brasil com
uma nova perspectiva, a de contextualizar esses cenários da educação, seus arranjos e relações
interpessoais, com a visão de uma linha psicológica pouco abordada na pesquisa aliada a essa área
escolar.

REFERENCIAL TEÓRICO

O PENSAMENTO PARADIGMÁTICO

O progresso da evolução histórica apresenta que os paradigmas científicos vão se modificando


constantemente na humanidade. Segundo Assmann (1998), explica que, é inexistente a presença de
um paradigma duradouro pois eles são historicamente modificáveis, relativos e naturalmente
seletivos. O progresso da evolução da humanidade é continua e dinâmica, assim modificam-se os
preceitos, as religiões, os pensamentos e as ideias acerca da realidade. Portanto, essas transformações
paradigmáticas estão diretamente relacionadas ao olhar e à vivência do pesquisador.

A importância dos paradigmas no universo, é necessária, pois fornecem uma citação que viabiliza a
organização da sociedade, em especial da comunidade científica quando propõe continuamente
novos modelos para entender a realidade. Em contrapartida pode limitar nossa visão conforme o
universo, em que momento os homens e mulheres subsistem ao método de transformação e
prosseguem em se acondicionar no paradigma conservador. Anuência ou resistência a um paradigma
retrata de modo direto na abordagem teórica e prática do desempenho dos profissionais em todas às
áreas de conhecimento.
No dicionário e nos estudos intelectuais o termo paradigma é definido por palavras como arquétipo,
esquema, modelo, referência, regra, no entanto, a partir dos estudos sobre o funcionamento e os
mecanismos internos da prática científica, o filósofo e historiador Thomas Kuhn (1922-1996)
introduziu em seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, o conceito de paradigma no
trabalho metodológico da ciência, sendo um dos grandes avanços do século XX, que é amplamente
aproveitado e utilizado nos debates das Ciências Humanas.

A ciência se desenvolve a partir de descobertas da comunidade científica e não de descobertas


individuais, se constituindo basicamente pela aceitação de um paradigma que se configura como uma
unidade metodológica da ciência, composta por instrumentos, teorias, experiências, métodos, além
de fatores psicológicos e filosóficos que organizam e delimitam a área e o campo de estudo da
realidade e dos seus eventos (CAVALCANTE, 2016).

Da mesma forma foi reforçada por Cardoso (1995), comprovando que o desequilíbrio paradigmático
provoca mal-estar na comunidade científica, mas, por outro lado, erguer-se para alguns cientistas a
consciência do momento oportuno para uma profunda renovação de suas concepções. Modificações
paradigmáticas é um procedimento árduo, demorado e a adesão ao recente modelo não pode ser
imposta, pois implica na mudança e até na interrupção de concepções, conceitos e clássicos
princípios. Conforme Morin (2000, p. 25), a modificação da técnica ocasiona uma deterioração
completa de uma organização de conceitos, uma vez que “O paradigma efetua a seleção e a
determinação da conceptualização e das operações lógicas. Designa as categorias fundamentais da
inteligibilidade e opera o controle de seu emprego” e, insere “Assim, os indivíduos conhecem,
pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles”.

De acordo com Grinspun (2001 CAVALCANTE et al.; 2011), no pensamento Kuhniano fazer
ciência significa resolver quebra-cabeças, isto é, problemas teóricos e experimentais definidos pelo
paradigma, que dispõe de um conjunto de regras e de leis utilizadas pelos cientistas para solucionar
quebra-cabeças internos ao seu paradigma. Dessa forma, ao mesmo tempo em que os paradigmas
ordenam os fenômenos da realidade, enxergam neles também problemas, respondendo com certas
soluções modulares à estrutura dos próprios paradigmas.

Na Revolução Científica como é concebida por Khun, existem as fases pré-paradigmática


caracterizada por uma desordem racional, seguida pela fase paradigmática que é a sistematização do
estudo e depois vem a ciência normal que é cumulativa e trabalha em um esquema hegemônico de
regras, mas por essa não solucionar todos os problemas se gera uma crise que vai culminar na
substituição total ou parcial de um paradigma (SOUSA et al., 2008).

Porém as mudanças de paradigma não ocorrem como um processo mágico ao qual um paradigma
substitui o outro, mas envolvem processos de reestruturações que não se constituem no vazio, mas
diante de algo preexistente que se revela na construção da ciência e que implicam em desequilíbrios
e reequilíbrios (PIAGET; GARCIA, 1998 apud RIBEIRO; LOBATO; LIBERATO, 2010).

Dessa forma, as teorias estão sujeitas a períodos de anomalias e conturbações, devido ao surgimento
de determinados questionamentos, cujas respostas parecem difíceis de serem alcançadas através do
modelo vigente. Então se abre o caminho para novas discussões e demandas com o propósito de
levantar ideias e princípios que podem dar conta de solucionar os problemas emergentes. A crise
paradigmática constitui as mudanças conceituais que acabam surgindo por essas discussões
(RIBEIRO; LOBATO; LIBERATO, 2010).

PARADIGMAS EDUCACIONAIS

Os primórdios educacionais, conforme CUNHA 1998 (Aguiar et al., 2008), refere paradigmas como
um processo no qual a figura do professor é a de um sujeito central, responsável por respostas
prontas e sua competência “é medida através de suas habilidades de transferir informações com
precisão e segurança de forma que o aluno nunca perceba qualquer indecisão ou dúvida”. Esse
formato educacional limita o aluno na prática do pensamento reflexivo, sendo eximido de contribuir
com opiniões divergentes, induzindo ao aceitamento do que está posto.

Gallo (2001) mencionou que “nossa escola é de tal maneira disciplinar que nos parece impossível
pensar um currículo tão caótico, anárquico e singular”, o que valida à ideia de autoritarismo na
relação professor aluno, uma educação que deposita informações, avalia por nota e após essa
avaliação, inicia-se um novo processo análogo a tábula rasa.

O início do ensino tradicional é datado após a Revolução Industrial e mais precisamente se


estabelece com o surgimento do sistema nacional de ensino nas últimas décadas do século XX, que
trouxe uma política fortemente educacional, contribuindo para a implantação de redes públicas de
ensino na Europa e América do Norte. O direito à educação nesse momento decorre dos interesses e
do poderio da classe dominante burguesa que ergue a escola como um instrumento universal e
obrigatório para consolidar o contrato social (Saviani, 1991).

Saviani (1991) destaca que a ênfase do paradigma tradicional de ensino se organizou através do
método pedagógico expositivo, que corresponde ao mesmo método indutivo criado pelo filósofo
Francis Bacon, cuja matriz é dividida em passos formais e fundamentais como: observação dos fatos,
preparação, assimilação e conteúdos sistematicamente organizados para serem transmitidos para os
alunos, sendo essa configuração, a base do desenvolvimento da educação moderna.

Para Leão (2009) as práticas do paradigma tradicional de ensino-aprendizagem norteiam a educação


formal e instituições de ensino desde suas raízes e estando em evidência até hoje, mesmo passando
por grandes modificações necessárias através do tempo e pela manifestação acelerada de novos
modelos emergentes. Quando se fala em emergência de múltiplos paradigmas, significa dizer que, a
educação hoje precisa continuamente rever, apontar novos caminhos e talvez alterar de fato o modo
como é pensada, feita e refletida as práticas que vem sendo construídas dentro de todos os níveis da
educação.

Existem ainda hoje na comunidade educacional muitos docentes que acreditam vigorosamente na
eficiência do paradigma tradicional e continuam a persistir nas práticas, adotando uma postura de
forte resistência em abandonar o velho e adotar as novas possibilidades que se abrem para atender às
situações inconstantes do dia a dia, necessidades da formação e mudanças cada vez mais velozes
(SANTOS, 2009).

Segundo Dewey (1971), o ensino deveria dar-se pela ação e não pela instrução, no início do século
XX, com surgimento da nova escola, esse pensamento passa a aparecer, onde o aluno é parte
fundamental de seu aprendizado e o professor um estimulador do intelecto, surge aí o novo
paradigma.

Com essa nova visão o paradigma emergente tem como proposta: construir um modelo educacional
capaz de gerar novos ambiente de aprendizagem em que o ser humano fosse compreendido em sua
multidimensionalidade como um ser indiviso em sua totalidade, com seus diferentes estilos de
aprendizagem e suas distintas formas de resolver problemas. (MORAES, 1997, p.17). Essa proposta
do paradigma emergente traz a ideia do processo de ensino ter um olhar holístico sobre a relação
sujeito-aprendizagem.
A ciência está exigindo uma nova visão de mundo, diferente e não fragmentada, a atual abordagem
que analisa o mundo em partes independentes já não funciona. Por outro lado, acreditamos na
necessidade de construção e reconstrução do homem e do mundo, tendo como um dos eixos
fundamentais a educação, reconhecendo a importância de diálogos que precisam ser restabelecidos,
com base em um enfoque mais holístico e em um modo menos fragmentado de ver o mundo e nos
posicionarmos diante dele. Já não podemos prescindir de uma visão mais ampla, global, para que a
mente humana funcione de modo mais harmonioso no sentido de colaborar para a construção de uma
sociedade mais ordenada, justa, humana, fraterna e estável. (MORAES, 1997).

De forma nítida, todos os envolvidos na educação, professores, pesquisadores, intelectuais,


comunidade e alunos percebem hoje as grandes dificuldades e restrições na área de referência que
tem como suporte o saber teórico e prático do paradigma tradicional. Pensando sobre isso e tentando
entender as transformações complexas que emergem no cenário atual, é necessária com urgência e
responsabilidade a reavaliação de ideias, premissas e práticas daquilo que deve ser superado por não
contemplar todos os elementos que compõe a construção de um conhecimento mais humano,
interdisciplinar e diversificado em consonância com as necessidades multifatoriais do mundo.

TEORIA CIBERNÉTICA: PRIMEIRA E SEGUNDA ORDEM

A teoria sistêmica ganha vida através da teoria geral dos sistemas e da cibernética. A abordagem é
composta por várias teorias sendo aqui referenciado um pequeno recorte da cibernética.

A teoria Cibernética foi desenvolvida pelo Americano Norbert Wiener (1894-1964), na década de
1940, (apud, Guimarães; Nina, Origem e desenvolvimento da terapia familiar), Wiener se reunia na
faculdade de Harvard, para discutir o método científico, esses encontros eram frequentados por
professores e pesquisadores de várias áreas onde conheceu Walter Cannon e Arturo Rosenblueth
dando início ao pensamento cibernético.

Para Wiener, o objetivo principal era a evolução da linguagem e técnica que possibilitasse a
discussão sobre o problema da comunicação e do controle de forma geral, considerando a
importância da mensagem como elemento central da comunicação e do controle. A mensagem pode
ser transmitida por meios elétricos, mecânicos ou nervosos e é considerada uma sequência de
eventos mensuráveis, distribuídos no tempo (VASCONCELLOS, 2003).
Frente a importância dada a comunicação, um dos estudiosos, que participava das reuniões em
Harvard juntamente com Wiener, Gregory Bateson, desenvolveu a teoria da comunicação
contribuindo para melhoria das chamadas máquinas cibernéticas.

A teoria Cibernética é dividida em 1ª ordem e 2ª ordem. Sendo Cibernética de 1ª ordem subdividida


em 1ª e 2ª Cibernética. A primeira Cibernética remete a ideia de não modificar de se manter a mesma
forma, a esse processo é dado o nome de morfoestático, resultado da retroalimentação negativa o que
remete o sistema a seu equilíbrio homeostático. Assim, trata da capacidade de auto estabilização ou
de automanutenção do sistema (VASCONCELLOS, 2003).

Já a segunda Cibernética propõe novas formas ou processo morfogenético decorrente da


retroalimentação positiva ou ampliação de desvio, que permite ou erradicar o sistema ou
proporcionar uma transformação para um novo funcionamento.

A Cibernética de segunda ordem, também conhecida como Cibernética novo paradigmática nos
apresenta três pressupostos que definem essa ciência sendo eles a complexidade, instabilidade e
intersubjetividade. A noção de complexidade está ligada a sistemas, ecossistemas, causalidade
circular, recursividade, contradições e pensamento complexo. A ideia de instabilidade está
relacionada à desordem, evolução, imprevisibilidade, saltos qualitativos, auto-organização e
incontrolabilidade. O pressuposto da intersubjetividade envolve a inclusão do observador,
autorreferência, significação da experiência na conversação e coconstrução (VASCONCELLOS,
2003).

Ao longo de seu desenvolvimento, a Teoria Cibernética trouxe inúmeras contribuições para a


compreensão das relações comunicacionais e de controle que caracterizam os sistemas, e mais
recentemente um modelo que ultrapassa os pressupostos tradicionais da ciência, que é a Si
Cibernética ou Cibernética de Segunda ordem. Esta por sua vez, propõe a ampliação do conceito de
circularidade ao reconhecer o observador como parte atuante do sistema, para assim conseguir
explicar os processos cognitivos pela junção entre ambiente e agente, favorecendo a transformação
do sistema com o foco na aprendizagem e não apena para fins de controle e regulação.

O que nos remete a subdivisão da primeira cibernética, a cibernética de primeira ordem que tem por
base o seu processo morfoestático que propõe a manutenção da mesma forma.
Já a segunda cibernética traz a ideia do processo morfogenético que induz mudança, e a cibernética
de segunda ordem com os seus pressupostos de complexidade, instabilidade e intersubjetividade que
respectivamente representam a contradição, evolução e inclusão do observador.

2. MÉTODOS

O procedimento desse estudo foi de revisão bibliográfica, pois se deu através de um estudo de
materiais já publicados quanto os velhos e novos paradigmas da educação e quanto a teoria
cibernética da abordagem sistêmica, criando um diálogo entre esses dois temas e gerando uma nova
forma de entendê-los, sendo assim a pesquisa de natureza básica.

Para alcançar este diálogo entre os temas, a pesquisa se configurou como de ordem descritiva e
exploratória, expondo as características dos dois temas abordados aqui e proporcionando
familiarização com o problema através da construção de hipóteses sobre o mesmo.

Cabe contextualizar esse estudo na área da psicologia da educação e psicologia do ensino, pois as
características abordadas aqui quanto os velhos e novos paradigmas foram relacionadas a fatores
como relação aluno/professor e processos de ensino e aprendizagem. Esse estudo também está
contextualizado à abordagem sistêmica pois esses fatores foram estudados a partir desse viés teórico.

Construindo o diálogo entre um assunto da psicologia da educação e uma abordagem psicológica, a


pesquisa aconteceu através do método da dialética, visando analisar tanto a teoria cibernética quanto
os cenários de velhos e novos paradigmas da educação a partir de seus pontos comuns originando
novas formas de perceber esses temas e suas interligações.

Tendo em vista apenas o uso de revisão bibliográfica para obter os resultados desejados nessa
pesquisa, a mesma foi qualitativa, sendo delineada através da exploração e análise destes materiais.
Previamente foram escolhidos alguns materiais para dar início ao pensar na real viabilidade da
interação proposta entre os assuntos em destaque nessa pesquisa.

As amostras de coleta de dados foram oriundas de materiais como livros, artigos e/ou dissertações,
disponíveis na internet em sites como Pepsic, Scielo e portais de universidades brasileiras, ou no
acervo de biblioteca da UNIFACS – Universidade Salvador, que abordem os temas levantados no
problema deste projeto. Essas amostras tiveram sua origem no Brasil e pretendeu-se que fossem
datadas o mais recente possível, tendo em vista que não há tantos materiais recentes sobre os
assuntos aqui abordados.

Houve o respeito às autorias dos materiais aqui utilizados que serviram como embasamento para
novas ideias devidamente referenciadas ao longo do projeto, autenticando a conduta ética da
pesquisa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Teoria Cibernética foi criada e utilizada para comunicação e controle de sistemas, onde podemos
considerar esse sistema como uma máquina, como um organismo, um grupo ou um indivíduo. Neste
artigo, é possível fazer uma leitura do sistema aluno-professor e do seu processo de aprendizagem a
partir desta teoria que tem dois momentos (1ª e 2ª ordem) assim como os paradigmas educacionais
que são divididos entre os velhos e novos paradigmas da educação, abrindo espaço para novas
discussões e novos esquemas de se abordar determinado assunto, assim como é feito na construção
de novos paradigmas.

Assim como a Teoria Cibernética foi se desenvolvendo de primeira ordem, através da 1ª e 2ª


cibernética, até a segunda ordem, os paradigmas educacionais também foram rompendo barreiras e
incorporando novas formas de visão daquele processo até chegar aos novos paradigmas que
caracterizam essa nova forma de pensar, mas ainda não caracteriza totalmente a forma de educação
nas escolas do Brasil.

Na primeira ordem da cibernética, mais especificamente na 1ª cibernética, é considerado um


processo que busca apenas manter o equilíbrio, busca um constante desempenho sem possíveis
influências extrínsecas para manter o controle da situação. Baseado nesse cenário de simplicidade,
estabilidade e objetividade, a figura do professor dos velhos paradigmas educacionais é uma figura
de detentor do saber, especialista do processo, aquele que passa o conhecimento de forma objetiva
para o aluno apenas para que este aluno absorva e reproduza como lhe foi ensinado, exercendo assim
um maior controle através desta forma de comunicação.

Já a segunda ordem da cibernética, além de trazer a possibilidade da morfogênese como a 2ª


cibernética, também inclui os novos paradigmas da ciência: complexidade, instabilidade e
intersubjetividade, permitindo que o sistema seja contextualizado às relações por exemplo,
permitindo também que o processo seja imprevisível e indeterminado sobre o que pode ocorrer e que
a realidade seja influenciada por tudo que faz parte daquilo. Podemos relacionar essa teoria com o
início do processo de transformação pedagógica, onde começa a ser observada a necessidade de
entender o aluno como peça fundamental do seu processo de aprendizagem, considerando a sua
subjetividade e valorizando a sua contribuição.

Também é nítida a conexão entre a relação psicólogo-paciente no contexto clínico e professor-aluno


no contexto escolar através da teoria cibernética. Na atuação do psicólogo diante a 1ª ordem da
cibernética, este se porta como possessor do poder como quem irá de forma mais objetiva indicar o
caminho que o paciente deve seguir, tal como o professor se porta com o aluno no processo de
aprendizagem na situação de velhos paradigmas educacionais.

Nos novos paradigmas educacionais, o professor constrói junto ao aluno novas informações,
discussões que geram conhecimentos, gerando uma realidade única a partir da visão dos dois sobre
aquele fenômeno atendendo ao conceito novo paradigmático da intersubjetividade que também
ocorre na clínica no atendimento de um psicólogo que segue a 2ª ordem da cibernética e a partir do
momento que seu paciente divide sua história, o psicólogo se torna parte desse processo na terapia
igual a seu paciente.

Assim como a ciência não assume mais em seus novos paradigmas uma abordagem objetiva,
simplista e estável do objeto estudado, a articulação prevista no cenário novo-paradigmático da
educação permite a geração de uma gama diversa de novos conhecimentos pois a relação e
coconstrução do professor com seus alunos são únicas com cada um deles.

Embora o modelo educacional expositivo ainda seja usado na contemporaneidade, hoje o professor é
visto como ponto de transmissão de conhecimento sem colocar o receptor, o aluno, na condição de
ouvinte.

Com a teoria cibernética sistêmica no processo ensino aprendizagem é realizável de forma potencial
uma melhor compreensão das mudanças paradigmas da educação com o enfoque nas relações ali
existentes, pois até apenas a percepção do aluno e do professor influenciam na realidade construída
no momento em que o objeto de estudo é visto e posto em questão, já que nos novos paradigmas
educacionais é possibilitado o comportamento reflexivo por parte do aluno.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, nessa circunstância, pode-se considerar que os novos paradigmas educacionais começam a
encontrar ambientes para oferecer feedback mais interessante para a contrariedade do gênero
humano. No universo, tudo é alternado, assim, cabe meditar que a execução natural de incertezas da
humanidade, pode gerar a crise e o caos, mas concede em reconsiderar, reanalisar e compor novas
possibilidades. O nosso modelo de reestruturação necessita de restituição ao homem e, uma
ampliação, a natureza, o que foi sendo extraviado com a proposta do pensamento tradicional, do
capitalismo exacerbado e mais recentemente, com a multinacionalização descontrolada e exagerada.
Com a reunificação do universo com si mesmo e com o ambiente depende de uma interpretação
unificadora, em especial, apresentando propostas de processos que incluam o desenvolvimento
sustentável do planeta. Logo, o desafio posto para pesquisadores-educadores, na condição de
indivíduos e de coletividades, é o de engendrar transformações no modo de ser e agir, buscar um
saber que seja contextualizado e ético, bem como entender que a Educação não se restringe ao
ambiente escolar.

A procura por novidades e respostas provenientes de dificuldades complexas da realidade se dará por
meio de um quadro epistemológico mais amplo para justamente se construir um conhecimento mais
universal e diversificado em equilíbrio com o avanço do conhecimento científico e com as profundas
mudanças que ocorrem no mundo de hoje. Algumas atividades e ações importantes no mundo atual
globalizado – tais como a Informática, a Robótica, a Biotecnologia, as Telecomunicações e o intenso
hibridismo cultural – são realidades que exigem o diálogo de inúmeras habilidades multidisciplinares
e transdisciplinares em conciliação com um mundo dinâmico e interdependente.

Salienta-se os limites e dificuldades que tivemos na pesquisa para a construção desse artigo, como a
não existência de materiais antecedentes que correlacionassem a Teoria Cibernética da Psicologia
Sistêmica com a área da educação, e que novas possibilidades de estudo mais recentes sejam
exploradas para facilitar a discussão e elaboração de novos artigos com temas que futuramente sejam
mais abordados como: Novos Paradigmas da Educação e Psicologia Sistêmica, para enriquecer o
alcance da consciência e da cidadania planetária que percorre certamente por uma Educação,
esclarecimento desse processo para melhor compreensão do mesmo e uma ciência mais flexível e
ética, assim como a consciência da importância das relações em todos os contextos aos quais estamos
inseridos, o que proporciona a abertura de novos caminhos, na orientação do encontro universal e do
pertencimento recíproco de todos os elementos que constitui a vida.

REFERÊNCIAS

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