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O estudo da cognição e da

metacognição como base para o


desenvolvimento de novas
técnicas de ensino-
aprendizagem
El estudio de la cognición y de la metacognición como
fundamento
para el desarrollo de nuevas técnicas de enseñanza-
aprendizaje
Carlos Magno Monteiro da
*Físico, Engenheiro Eletricista e de Telecomunicações Silva*
Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ
**Mestranda/o em ciência da motricidade Humana pela UCB/RJ Luciano Honório**
***Professor de Geografia da Universidade Iguaçu UNIG-RJ Marco Antônio Diniz***
Mestrando em ciência da motricidade Humana pela UCB/RJ. Sônia Almeida**
****Professor de Educação Física (Ph.D)
Pós-doutoramento em Neurociência Alessandro Carielo**
Coordenador do Laboratório de Neuromotricidade da Vernon Furtado da Silva****
Universidade Castelo Branco-RJ carlos.magno.silva@uol.com.br
(Brasil)
Resumo
O principal objetivo desse estudo foi o de verificar a importância da cognição e da metaconição sobre
um ponto de vista das técnicas de ensino/aprendizagem atualmente utilizadas nas escolas e determinar, através
da compreensão desses aspectos, se uma nova proposta pedagógica pode ser mais eficiente do ponto de vista
de melhorar a capacidade dos alunos de apreender conhecimento, tornando a aprendizagem muito mais
prazerosa aos alunos e aperfeiçoando a capacidade de multidisciplinaridade entre os diversos saberes. Este
artigo baseia-se em um estudo envolvendo a revisão de literatura passada e recente que corroborem com esse
ponto de vista e tem como foco o aumento da capacidade e desenvolvimento intelectual nas salas de aula.
Unitermos: Cognição. Metacognição. Aprendizagem

Abstract
The main objective of this study was to examine the importance of cognition and metacognition on a
point of view of teaching / learning currently used in schools and determine, by understanding these aspects, a
new pedagogical proposal may be more efficient point of view of improving the students' ability to grasp
knowledge, making learning more enjoyable for students and improving the capacity of a multidisciplinary
approach between different kinds of knowledge. This article is based on a study involving a review of past and
recent literature corroborating this view and focuses on increasing the capacity and intellectual development in
the classroom.
Keywords: Cognition. Metacognition. Learning
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

Estudos de Sociologia do Currículo, campo emergente da Sociologia da Educação, já nos


chamam a atenção para o lugar ocupado na hierarquia dos saberes escolares e da
metacognição no ensino.

De fato, não é de hoje, que com relação a escola, podemos lembrar Debortoli (1995, p. 157)
quando ressalta que para a escola “a brincadeira nunca passou de uma atividade inferior.
Pedagogicamente, quando o brincar chega a ter alguma importância, é porque se mostrou
como um meio eficiente para as outras aquisições.”

No tocante a esse lugar hierarquicamente inferior, Santin (1987) observa que quando a
Escola abriu as portas para um melhor entendimento dos aspectos metacognitivos e a
importância da compreensão de seus aspectos para melhor adequar as condições e técnicas de
ensino/aprendizagem historicamente praticadas, as portas abertas foram as dos fundos.

Assim, infelizmente, via de conseqüência, os docentes não dão o devido valor a forma como
seus alunos pensam e suas diferenças individuais.

Com isso, a modelagem dos processos de ensino/aprendizagem focada nas diferenças


metacognitivas individuais fica, em muitas dessas instituições, relegada a segundo plano.

Buscamos assim, aqui neste estudo, uma proposta de desmistificação destes conceitos,
contemplando, desta forma, ao mesmo tempo, o próprio aluno, o professor e o conhecimento a
ser transmitido/adquirido através de uma educação mais globalizada, levando em consideração
que a atuação em conjunto de conhecimento de cada disciplina através da transdisciplinaridade
e a melhor compreensão do que de fato consiste a metacognição, apontará para um melhor
resultado final do processo ensino/aprendizagem.

Esperamos que este estudo sirva como base para melhorar a atuação do professor em sala
de aula, mostrando ao mesmo que o entendimento, mesmo que superficial, do que é a
metacognição, possa levar a uma nova técnica de ensinar que seja mais prazerosa, eficiente e
compatível com os estudantes.

Revisão de literatura

Problemas relativos à aprendizagem humana são comuns em qualquer área de estudo e


podem, portanto, ser pensados como ligados ao organismo do aprendiz e/ou ao meio ambiente
no qual ele está inserido e em que o processo se desenvolve. Analisando-se o contexto
ambiental, a metodologia de ensino é um fator de grande importância, e, como tal, precisa
conter, em sua estruturação, técnicas que possam motivar a adesão dos aprendizes em um
sentido mais amplo.

Conseqüência natural da continuidade do ensino dito “tradicional”, a falta de inovação no


processo ensino-aprendizagem, em suas várias formas, é um problema cada vez mais sério
para a educação moderna, tanto pelos reflexos sobre o desempenho intelectual e cognitivo do
aluno em sala de aula, quanto pela decorrente e já comentada evasão escolar, fruto de um
ambiente sem maiores fatores motivadores. (SILVA, 2006)

Conforme Silva (2006), somos produto de um modelo educacional que muitas das vezes não
possui interação entre o aluno e o professor, que é visto pelo aluno como o detentor do saber,
aquele que deverá transmitir todo o conhecimento. O ensino-aprendizagem se torna ainda
mais inadequado devido à quantidade de conteúdos a serem transmitidos e ao excesso de
alunos por classe, somando-se a isso, a pouca interação entre professores de diferentes
disciplinas por considerarem não haver inter-relação entre elas.

Exemplo de atividades consideradas díspares e, por esse motivo, objeto principal desse
estudo, são as práticas planejadas e estruturadas de atividade física e a compreensão dos
assuntos pertinentes as ciências exatas. A primeira é normalmente considerada como um
exercício puro de motricidade e coordenação motora (associada à destreza e habilidades por
vezes inatas) e a segunda é considerada como de base puramente conceitual, cognitiva e
abstrata, necessitando de profundas horas de raciocínio, prática mental e desenvolvimento
intelectual para sua perfeita compreensão e aproveitamento escolar.

Entretanto, evidências na literatura têm demonstrado que existe uma relação entre
aprendizagem acadêmica e o nível de desenvolvimento cognitivo que o indivíduo se encontra.

A falta de certos estímulos sensórios-motores e o baixo rendimento motriz, por exemplo,


podem acarretar deficiências cognitivas essenciais a outras áreas do conhecimento.

A palavra cognição é muito antiga e tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles e
atualmente pode ser definida como o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção,
percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. (FERREIRA,
2009).

Desta forma, observa-se que a cognição é muito mais do que apenas a aquisição de
conhecimento e, consequentemente, a melhor adaptação ao meio. Ela é também um
mecanismo de conversão de tudo o que é percebido e captado para o modo de ser interno. É
um processo pelo qual o indivíduo interage com seus semelhantes e com o meio em que vive,
sem perder a sua identidade existencial. Esta se inicia com a captação dos sentidos e logo em
seguida ocorre a percepção, fator “gravado” no organismo sob forma de memória, somando-se
a conteúdos já cognizados ou formando novas cognições (GODOY, 2006).

Silva (2006) afirma que a deficiência de determinados aspectos cognitivos, pode levar o
aluno ao déficit de atenção e consequentemente, ao declínio do rendimento escolar. A
dispersão da atenção fatalmente resulta na não compreensão e interesse pelo conteúdo
proposto, no comprometimento da qualidade de trabalho do aluno e não participação em
atividades propostas em sala de aula, o que também compromete a relação interpessoal do
aluno com os demais.

Vista sob a perspectiva da didática que permeia a interface entre ensino e aprendizagem, ou
ainda, a partir de uma visão neurofisiológica, a percepção humana deve ser entendida como
associada a uma variedade de contextos cognitivos e, consequentemente, a vários tipos de
inteligência as quais Gardner (1995) nomeou em uma ampla extensão de termos exclusivos
associados a comportamentos inclusivos.

Howard Gardner (1995), em seu trabalho sobre inteligência humana, definiu vários aspectos
sobre aquilo que se pode chamar de inteligência. Abrangendo versáteis considerações sobre
Inteligências Múltiplas, o autor as categorizou, inicialmente, em sete modalidades. Estas foram
posteriormente ampliadas por ele e por outros autores, dentre os quais podemos aqui citar
Armstrong (2001) e Antunes, (2002). Gardner (2001) expandiu a noção comum de inteligência,
assumindo uma posição de que havia evidências de diversas competências intelectuais
humanas relativamente autônomas.

Como sugerido por Gama (1998) já ao final da década de noventa, a Teoria das Inteligências
Múltiplas era uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral
e única, que permite aos indivíduos um desempenho, maior ou menor, em qualquer área de
atuação. Devido a sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência
cujos objetivos eram mensurar as habilidades importantes para o sucesso escolar, Gardner
(1995) redefiniu a inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para solucionar
problemas. Através da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas e
do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções culturalmente
apropriadas para os seus problemas, Gardner (1995) trabalhou no sentido inverso ao
desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a
tais realizações.

Sendo assim, ele dividiu a inteligência em Lógico-matemática, Lingüística, Espacial, Musical,


Físico-Cinestésica (ou corporal), Intrapessoal, Interpessoal, Naturalista e Existencial.

Posteriormente, em seu livro Inteligência: um conceito reformulado (2001), o autor explica


que as inteligências não são objetos que podem ser contados, e sim, potenciais que poderão ou
não ser ativados, dependendo dos valores de uma cultura específica, de todas as oportunidades
disponíveis nessa cultura e das decisões pessoais tomadas por indivíduos e/ou seus familiares,
seus professores e outros.

Baseado na perspectiva alinhada acima, que confere uma possível existência de


interatividade entre conhecimentos, o presente estudo tem como objetivo alinhar- se a uma
perspectiva de que a partir dos conceitos desenvolvidos até os dias atuais sobre abrangências
cognitivas e metacognitivas se evidencia a necessidade das aulas planejadas e estruturadas
como um elo importante dentro da aquisição de várias habilidades, tanto “físicas” como
“mentais”, desde já deixando claro que não nos afiliaremos a esta visão dicotomizada de
Homem, que remonta “o idealismo de Platão - responsável pelo enaltecimento daquilo que
emana do campo das idéias em detrimento daquilo referente ao mundo corpóreo”, como
também o racionalismo cartesiano – “que afere a unidade do Homem à soma de suas partes
material e espiritual”, uma vez que a partir daí, o componente material apresenta-se subjugado
ao elemento espiritual, a ele servindo de suporte”. (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 2)

Destaca-se ainda, nos ensinamentos de Barros (2005), que o universo infantil deverá ser
muito rico de estímulos variados, sendo então de grande importância, que a criança
experimente diversas oportunidades que estimulem a cognição e a metacognição durante a
infância, para que seu organismo e seu cérebro se desenvolva adequadamente pois isto
constituirá base para vinculações cognitivas plurais, e de alta ordem de organização e ação.

Desta forma, faz-se necessário mudar os paradigmas pedagógicos a cerca da metodologia


utilizada para o ensino das matérias e aos conteúdos lecionados, já que os mesmos
apresentam-se ineficazes mediante a notória falta de interesse por parte do corpo discente, em
consequência de um ambiente escolar ultrapassado e sem grandes fatores motivadores ao
aperfeiçoamento do processo de ensino-aprendizagem. (SILVA, 2006)

Nas palavras de Silva (2006), a compreensão da metaconição traria uma nova perspectiva a
este cenário. Essa é, sem dúvida, uma visão mais globalizante, através da qual se busca uma
nova abordagem do ensino. Entretanto, o valor intrínseco de cada disciplina declara não haver
interdisciplinaridade sem a disciplinaridade. Além disso, remete-nos a reflexão sobre a
importância de considerarmos a articulação das atividades a serem realizadas com objetivos,
conteúdos e estratégias da formação de professor no projeto pedagógico da escola.
Prossegue o autor afirmando que a educação deve ir além do saber “conteúdista”, restrito ao
conhecimento de cada disciplina, o qual se mostra muito distante da realidade vivida pelo
educando. A função maior da escola é formar cidadãos críticos e conscientes de seus deveres e
direitos. Entretanto, se faz necessário que os educadores consigam articular seus
conhecimentos a fim de obter um todo bem organizado, dotado de significação mais ampla.

O esquema de ensino baseado em disciplinas, aparentemente independentes, prejudica o


entendimento do aluno, pois este não consegue perceber a relação existente entre elas. Assim,
o aluno as entende como realidades separadas, não assimilando seu conteúdo como uma única
realidade.

Em suma, a idéia de interdisciplinaridade é fundir as práticas como um trabalho integrado de


maneira que cada um contribua com sua experiência de forma a somar e não
compartimentalizar o saber que, consequentemente, torna-se um saber comum. (SILVA, 2006).

É preciso enfatizar que a teoria construtivista nos últimos anos está incorporada nas práticas
pedagógicas, e estas encontram respaldo não só nas idéias de Jean Piaget, como também nas
de Lev Vygostsky, além de em outras psicologias cognitivas que afirmam existirem diversos
modelos de conhecimento prévio. Neste sentido, é plausível supor que as Estratégias de
Aprendizagem que estão diretamente ligadas ao construtivismo e ao processo de metacognição,
oportunizam uma aprendizagem muito mais rica e concreta, como também são capazes de
provocar desafios e oportunidades, onde o aluno é levado a construir e reconstruir seu próprio
conhecimento. E ainda mais, essa construção deverá ser baseada numa prática reflexiva onde o
aluno refletirá sobre sua aprendizagem em si, o que fará com que ele desenvolva seu próprio
processo de metacognição.

Metacognição, entendida como a capacidade de planificar, de dirigir a compreensão e de


avaliar tudo o que foi aprendido. (FLAVELL, 1979).

Logo, a metacognição como proposta educacional incide sob um aspecto ainda pouco
trabalhado em termos do ensino-aprendizagem: a consciência.

Por muito tempo, estudos no âmbito da aprendizagem humana centraram-se nos fatores
motivacionais e nas capacidades cognitivas como os dois principais determinantes do bom
aproveitamento escolar. Após a década de 1970, surgiu uma terceira categoria de variáveis que
até hoje vem sendo extensivamente estudada, sendo esta denominada de Metacognição.
(FLAVELL; WELLMAN, 1977)

Segundo Ferreira (2009), Metacognição é a capacidade de saber o que se conhece: ter uma
habilidade e poder explicar como ela é realizada, sendo algo que vai um pouco além da
cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato.

Várias investigações nesta área também foram realizadas por autores como Brown (1978),
Pressley (1986), Weinert e Kluwe (1987), todos eles contribuindo de forma significativa para o
perfeito entendimento dos processos metacognitivos.
Pressley (1986) realçou que, em termos de aproveitamento escolar, para além da utilização
de estratégias, é importante o conhecimento sobre como e quando utilizá-las, fazendo uma
profunda análise sobre a sua utilidade, eficácia e oportunidade.

Para Ribeiro (2003) a falta de êxito de alguns estudos com o intuito de promover a utilização
de estratégias ou modificações e a verificação das diferenças significativas no desempenho
escolar observadas nos estudantes, ocorrem não apenas em função da utilização de estratégias
cognitivas, mas sim, de estratégias Metacognitivas.

Este conceito conduziu alguns autores a concluírem que alunos considerados bons
aprendizes são mais aptos na utilização dessas estratégias para adquirir, organizar e utilizar o
conhecimento adquirido, como na regulação do seu progresso cognitivo (RIBEIRO, 2003).

De um modo geral todo ser humano é capaz de receber, processar e armazenar informações
bem como corrigir e detectar erros. Todo tipo de comportamento que o indivíduo venha a exibir
envolve processos neurais específicos via sistema nervoso central, processos que acontecem
desde a percepção do estímulo até a efetivação da resposta selecionada. Desta forma, aprender
é mudar um comportamento em função da experiência e das trocas de informações com o
meio. Todo este evento só se torna viável através da plasticidade de processos neurais
cognitivos, que possibilitam o aprendizado de tarefas incorporadas em diferentes maneiras no
cérebro (CUNHA et.al.,2004).

Flavell (1979) demostrou que as condições que possuem as crianças de estimar


corretamente sua própria capacidade de memória melhora com a idade; desta forma, como a
possibilidade que têm de controlar seu tempo de estudo para, por exemplo, lembrar-se de uma
lista de palavras também melhora com o passar do tempo, indicando assim que as crianças
tendem a terminar o estudo de uma lista muito antes que sejam capazes de recordá-la. Este
exemplo denota que os estudos sobre a memória introduziram uma distinção importante que
logo se consolidaria nos estudos sobre metacognição.

Desde quando nascemos o sistema nervoso apresenta-se parcialmente maduro, condição


que possibilita os primeiros degraus de aprendizado progressivo de habilidades de uma forma
em geral. O prosseguimento do processo maturacional vem a permitir um avanço na eficiência
dos processos e das estratégias Metacognitivas, em correspondência com áreas cerebrais
determinadas, sendo condição mandatória a ocorrência de estímulos que potencializem certas
funções. De acordo com Andrade e Luft (2006) Através de determinadas áreas cerebrais,
emergem os processos cognitivos que envolvem planejamento, organização de seqüência de
estruturação motriz, com o envio das ações específicas aos movimentos planejados.

Foi visto até aqui que os termos cognição e metacognição se misturam de certa forma, mas
o que é cognitivo e o que é metacognitivo?

A resposta mais clara e objetiva pode ser vista no seguinte exemplo:

Nas aulas de matemática, antes da solução de um determinado problema, o fato de analisar


de forma consciente o seu enunciado para saber se deve multiplicar ou dividir para chegar a
busca da solução de um problema, é uma clara demonstração de atividade metacognitiva,
enquanto que o procedimento empregado para buscar a incógnita, ou seja, a aplicação das
operações matemáticas, constitui apenas a atividade cognitiva.

Pode-se então afirmar, como a maioria dos estudiosos deste tema como Flavell (1979),
Brown (1978), Pressley (1986), Ribeiro (2003) e Davis et al. (2005) que o termo metacognição
pode ser amplamente aplicado aos conhecimentos que as pessoas têm sobre a cognição,
enquanto estas estão solucionando uma determinada tarefa ou atividade. O que interessa é a
analise da relação entre os conhecimentos do indivíduo e a resolução efetiva da tarefa, e
também analisar a relação entre a forma de regular a própria atividade e a resolução que foi
dada a ela. Em ambas as situações, os conhecimentos e as atividades metacognitivas se
referem à cognição do mesmo indivíduo e não a cognição em geral ou a cognição de outras
pessoas.

Com relação à importância da Metacognição vinculada objetivamente a motricidade humana,


sabe-se que algumas áreas do cérebro são responsáveis por ajustes constantes durante a
execução de movimentos do nosso corpo, todavia, para a execução de novas habilidades
motoras, fazem-se necessários ajustes Metacognitivos que dependem, até certo ponto, da
competência abstrativa do executante. Ou seja, uma dependência de cognição de alto nível,
conseguida em função da prática e da experiência, correlatas a síntese de feedback efetivo
(CHIVIACOWSKY et al., 2007).

Uma participação sistemática em programas que estimulem a Metacognição pode ser


realmente efetiva em termos de desenvolvimento da motricidade mais ampla do seu praticante
e vice versa e ocorre de acordo com a divisão implícita no compêndio global da motricidade
humana, para tanto, no próximo tópico, abordaremos esta com maior profundidade, apenas,
neste momento, explicando que ela pode ser dividida em dois blocos, normalmente definidos
como bio-estrutural e bio-operacional. (CALOMENI et al,. 2009)

O desenvolvimento intelectual da criança ocorre em uma sequência ontogênica normalmente


mandatória em termos de pré-requisitos. Entretanto, a literatura, na linha, aponta algumas
atividades que tendem a acelerar certos processos e mecanismos neurais que se refletem sobre
a competência das mesmas. (RIBEIRO, 2009)

O estudo sobre metacognição é sem dúvida um dos caminhos para que o indivíduo conheça
suas capacidades e limitações com o objetivo de obter melhores resultados no seu processo de
aprendizagem e de posse desse conhecimento sobre Metacognição, fica evidente que o
processo de ensino/aprendizagem deveria tender, naturalmente, a oferecer meios que
incentivassem a prática e o envolvimento, bastando, ao professor, a sabedoria de compor as
suas aulas na forma mais atraente possível e atuar de forma harmônica em seu projeto
pedagógico, promovendo reforços, correções e feedback emocional de forma que o aprendiz
pudesse utilizá-los devidamente. Por conseguinte, um fator muito importante em relação à
função do educador físico é o entendimento pleno sobre os meios e fins do conteúdo a ser
ensinado. Para tanto, além da tarefa de ensinar, o mesmo precisa atrelar às suas funções
docentes, a referência da pesquisa em torno da efetividade do método utilizado. Perguntas tais
como, se outro método poderia resultar em uma melhor aprendizagem, ou se outro tipo de
instrumental poderia render mais são necessárias no dia-a-dia de suas aulas. (PORTILHO;
DREHER, 2009)
Observa-se que a eficácia da aprendizagem não é dependente apenas da idade e
experiência, mas também da aquisição de estratégias cognitivas e metacognitivas que
possibilitem ao aluno planejar o seu desempenho escolar, permitindo a tomada de consciência
dos processos que utiliza para aprender e a tomada de decisões apropriadas sobre que
estratégias utilizar em cada uma das tarefas e ainda, avaliar a sua eficácia, alterando-as quando
não produzem os resultados desejados (SILVA; SÁ, 1993).

Não basta fazer e saber, mas é preciso saber como se faz para saber e como se faz para
fazer. (GRANGEAT, 1999)

À medida que o sujeito atua em seu meio, vai criando uma rede de interações formada por
um conjunto de nós e ligações entre teorias, conceitos, crenças e idéias, em contínuo processo
de elaboração, no qual não há um nó ou entidade fundamental. Trata-se de um conhecimento
provisório, transitório, independente, inter-relacionado e interdisciplinar, sempre aberto a novos
nós e ligações que favorecem aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir
problemas parciais e locais. (MORIN, 2000: p.14).

Conclusão

A cognição e a metacognição, como vistas neste estudo, podem ser vistas como a
capacidade chave de que depende a perfeita aprendizagem e certamente a mais importante:
aprender a aprender, o que por vezes não tem sido contemplado pela escola.

É conveniente salientar que cabe à escola sim, formar o cidadão, entendido como aquele
que participa plenamente da sociedade, tomando decisões acertadas em função de um projeto
pessoal que se articula a um projeto social mais amplo. Nesses termos, a tarefa da escola
torna-se mais complexa do que meramente transmitir informações ou ensinar habilidades.

Aprender é uma estratégia de sobrevivência que envolve riscos e promete retornos. Exige a
capacidade de tolerar frustração e a confusão; de agir sem saber o que vai acontecer; de
enfrentar a incerteza sem ficar inseguro.

Chamamos a atenção para a forma que deverá acontecer a aprendizagem, vez que o
conhecimento deverá ocorrer à medida que o sujeito interage com o objeto e com o contexto
que esse está inserido. Para isto se é necessário que o conhecimento ocorra de uma forma
mais próxima da realidade do aluno.

Assim, a escola deixa de ser apenas um local onde se adquirem os conhecimentos


historicamente construídos pelo homem, para tornar-se um lugar de humanização.

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