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NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA: COMO O
CÉREBRO APRENDE
3
venham a contribuir para uma ideia de mais igualdade social, de diversidade e até
mesmo de ruptura de hegemonias de todas as naturezas (Viana, 2016).
As considerações políticas nesse cenário histórico, ao menos no Brasil,
tendem a uma ideia de condicionamento, no qual a tradição e a cultura vigente de
épocas utilizaram-se da memória e de sua potência enquanto mecanismo de
repetição (com a máxima do neurônio que aprende), para a manutenção de um
status quo; esse exercício, embora biologicamente correto, pois aprendemos pela
memorização, assim como pela habituação, criou uma limitação de possibilidades
mais ampliadoras, como os do pensamento coletivo.
Para a libertação da prática pedagógica enquanto ato político, e não
somente de educação, uma vez que ato pedagógico já o é, há se de tecer muito
sobre a liberdade de expressão das pessoas, de professores e de alunos. É
necessário potencializar diferentes credos, diferentes formas de pensar, de se
predispor a exercícios de empatia, de literalmente colocar-se no lugar do outro,
para assim então perceber-se diferente, apoiar espectros de entendimentos e de
ideais novas, de linguagens novas, múltiplas; há de se ser múltiplo.
A educação, nessas perspectivas, torna-se um processo antes de mais
nada crítico, intervencionista nos contextos em que está inserida, ensinando o
estudante a ter uma postura crítica frente à realidade social. Segundo Viana
(2016), a educação deve propiciar a autonomia dos sujeitos, aparatando-o para
além de uma simples alfabetização, tornando-o autônomo intelectualmente para
intervir na própria realidade, contribuindo para sua produção/transformação.
E embora falemos aqui que uma prática pedagógica é um ato político, não
defende-se partidariamente ninguém, e muito menos considera-se que o fato de
ser um ato político deve vir carregado ideologicamente de qualquer coisa; aqui,
defende-se que a plasticidade humana é um ato humano, que deve vir sim
carregada de possibilidades para desenvolver e evoluir a espécie, a fim não
4
somente de sua manutenção ou sobrevivência, mas de sua transformação para
melhor, de forma reflexiva, consciente, crítica e intencional.
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uma boa educação; entretanto, essa neuroplasticidade está diretamente
associada a aspectos emocionais e sociais para seu desenvolvimento.
Na atualidade, um dos principais ofensores para uma educação de sucesso
está no stress gerado pelo excesso de tudo, desde as informações, aspectos
usualmente difundidos desde o advento internet, até os problemas ampliados
pelas perspectivas de coabitação de vários mundos, como o real, o digital e o
virtual, nos quais os jovens andam quase sempre imersos. "According to Jensen
and Snider (2013), these students’ brains are “often overwhelmed by risk factors
for academic or social impairment – poverty, parental separation, abuse, neglect,
poor nutrition, bullying, lack of housing stability, and health issues” (Barret et al, p.
67).
Na obra de Barret et al. (2005), a ideia de educação conecta-se fortemente
com Damásio, ao citar que funções cognitivas clássicas (como também
abordadas na nossa disciplina), assim como fatores externos, como o ambiente e
a situação social e psicológica dos alunos, são altamente interferentes em
qualquer apreensão do conhecimento.
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Nesse contexto, não se pode deixar de citar Luria e sua ideia de um
Sistema mais complexo para tratar do funcionamento do cérebro ou da
funcionalidade cognitiva do cérebro, o qual passou a ser uma tese mais evoluída
e menos fechada que a do Sistema funcional de outro autor chamado Pyotr
Kuzmicj Anokhin, na qual os sistemas cerebrais eram fechados e, talvez,
independentes. Para Luria, a função cerebral não pode ser entendida como a
função de uma área em particular, mas de todo o sistema ao qual o cérebro faz
parte, sem reducionismos a agrupamentos específicos neuronais ou algo similar.
Sua tese se organiza na ideia de função, localização e sintoma para os casos de
alguma doença.
Em uma linha mais construtivista, encontra-se Piaget com sua
Epistemologia genética, a qual irá focar em aspectos da aprendizagem com base
na evolução dos “Esquemas”, estruturas estas, mentais ou cognitivas, pelas quais
os indivíduos intelectualmente organizam sua aprendizagem ou novas tomadas
de decisão; nesse processo de tomada de decisão, encontram-se sistemas de
assimilação e de acomodação das novas informações como os responsáveis pela
evolução dos esquemas (sensório-motores) “da criança”, para os esquemas
cognitivos “dos adultos” (Garrido, 2005).
Segundo Viana (2016), ambos autores, Piaget e Vygotsky, concebem a
criança como um ser ativo, mas discordam quanto à sequência dos processos de
aprendizagem e de desenvolvimento mental.
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enfoques multifacetados de diversas naturezas, considerando os interesses da
criança, as relações com a própria natureza e a boa comunicação.
Assim, percebe-se que, mesmo estando na Idade Média, Comenius
enxergava a didática como uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento
sócio cognitivo e psicológico das crianças, contanto que fosse algo baseado no
tempo e no espaço, pois não existiria um padrão a ser seguido por todos.
É bastante atual a ideia de Comenius, uma vez que hoje, diante de
inúmeras perspectivas de busca de absorção das informações assim como de
linguagens e modelos, faz-se necessário uma adequação cada vez mais explícita
dos processos didáticos que iremos escolher como professores para chegarmos
em nossos alunos, assim como para impactarmos cognitivamente em seus
desenvolvimentos.
Já Vera Candau defende a didática em uma perspectiva intercultural crítica,
que vem a reforçar a ideia de que os processos de ensino e de aprendizagem
devem conter uma carga bastante grande dos aspectos culturais que cercam o
aprendiz, ao mesmo tempo que haja uma provocação de questionamento da
própria cultura, ou de reinvenção criativa do que se compreende e do que pode
vir a ser; nesse sentido, o professor tende a ser um facilitador dessa crítica.
Segundo Candau e Koff (2015, p. 7):
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A neurodidática surge como uma resposta a interpretações equivocadas do
tipo “estímulos corretos desenvolvem estilos de aprendizagem específicos”,
advindas de algumas teorias sobre estilos de aprendizagem como as inteligências
múltiplas, de Daniel Golemann ou a Learning Styles: Concepts and Evidences
(“Estilos de aprendizagem: conceitos e provas”), de Harold Pasher, de 2008.
Embora os estudos dos estilos de aprendizagem citados sejam importantes e com
boas bases científicas, muitas interpretações (de senso comum) acerca de
metodologias didáticas baseadas em um ou outro estímulo para um ou outro estilo
de aprendizagem proliferaram-se sem fundamentos comprobatórios na literatura
de didática ao longo da história, ocasionando grandes estragos sobre a ideia de
uma dicotomia entre os processos integrados do sistema cerebral cognitivo
humano.
Entretanto, a neurodidática surge justamente arraigada à premissa de que
o cérebro humano não aprende com base em um estímulo ou a partir de uma área
específica, mas sim do conjunto ou no tecido complexus (tomando emprestado o
termo de Morin), onde tudo se conecta a tudo e inclusive ao que desconhecemos,
ao que aprendemos.
Com base na ideia de uma neurodidática, as funções cognitivas humanas,
como a percepção, a memória, a abstração ou a imaginação, assim como todos
os artefatos emocionais dos seres humanos, andam juntos nos processos de
aprendizagem. Abordaremos aqui, a partir de diferentes vertentes, alguns
exemplos de desenvolvimento neurodidático enquanto metodologia ou ferramenta
de ensino e de aprendizagem.
Um delas é a Teoria das situações didáticas de Brousseau, bastante
difundida no terreno da matemática, devido à possibilidade de desenvolvimento
do mecanismo de abstração (de decomposição e estratégia). Trata-se de um
modelo teórico prático no qual há uma situação problema, usualmente uma
espécie de competição, da qual parte-se para as sugestões de soluções com
testagens com combinações e negociações entre as equipes; o método possui
uma série de fases, e o “erro" faz parte do processo.
Brousseau (2009) basicamente apresenta, em sua teoria, três situações
didáticas: situação de ação (fase em que se estuda propriamente a situação,
criam-se as estratégias e testa-se várias vezes tudo); situação de formulação
(fase em que os parceiros de uma equipe por exemplo precisam saber comunicar
sua formulação de estratégia); situação de validação (nessa fase, cada jogador
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posiciona-se em relação a um enunciado. Caso não haja consenso ou
concordância, pode-se demonstrar a formulação, refazer ou adaptar).
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realizar algo); avaliação (como se avalia esse "algo”) e referências
bibliográficas.
Diante disso, um bom planejamento é aquele em que há sinergia entre
todos esses aspectos, considerando, como premissa na ótica neurocientífica que
estamos tratando a disciplina, dos desenvolvimentos cognitivos associados, e
correlacionando-os aos conceitos das linhas teóricas acima mencionadas.
Assim, em um planejamento de atividade envolvendo educação a distância,
por exemplo, ou o uso de tecnologias digitais e virtuais, ao compararem-se dois
modelos, um tradicional conservador e outro, construcionista-interacionista, tem-
se:
Absorvição
Aprendizagem Desenvolvimento de habilidades e
passiva simulações
Trabalho
Trabalho em grupo Benefícios das ferramentas
individual colaborativas e correio eletrônico
Contexto de
Contexto estável
mudanças rápidas Requer redes e ferramentas de edição
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TEMA 5 – MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E O CÉREBRO
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pretendem atingir um manancial da população que será acessada somente se
houver diversificação e ampliação modal.
De acordo com Garrido et al (2015, p. 1):
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modalidade normalmente comporta e, infelizmente, a estatística negativa de
iniciativas de baixa qualidade por parte de algumas instituições de ensino.
Não se pode desconsiderar que o Brasil, sendo um país latino, carrega uma
cultura muito afetiva e que condiciona mais atributos subjetivos à aprendizagem do
que outros países, cujo traço afetivo não seja tão intenso; isso corrobora a uma
educação a distância com evasões mais altas, na medida em que essas lacunas
relacionais não estejam devidamente supridas através de metodologias e recursos
que deem conta de uma certa “presencialidade”, mesmo que virtualizada.
Já na perspectiva mais híbrida, há a possibilidade do contato presencial
professor-aluno e aluno-aluno, o que ativa psicologicamente o âmbito mais
relacional do aluno e o ajuda a manter condições de permanência nos cursos.
Ao se tratar de mundos presenciais e virtuais juntos, ou então híbridos,
surgem novos conceitos de presencialidade, pois podemos ter o que chamamos de
presença virtual, na qual o sujeito está virtualmente presente no mesmo tempo,
mas ausente no mesmo espaço. Para o cérebro humano, lidar com a sincronia de
tempo e de espaço é o que foi aprendido em toda a história humana. Entretanto, a
partir do momento em que se quebra essa sincronia e surge a assincronia, quando
uma das duas dimensões pode variar ou ambas, há uma perda de referencial e de
localização geográfica principalmente, que sempre remeteu o cérebro a um tempo
cronos (“cronológico”, ou seja, linear).
Em abordagens do tipo híbridas ou a distância, o Modus Operandi nos
remete a um novo modo de pensar e de executar as atividades, o que obriga a
percepção e a memória a serem funções mais flexíveis, assim como nosso próprio
planejamento; Isso se torna literalmente um desafio a ser vencido devido à
plasticidade que nos acompanha.
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REFERÊNCIAS
JENSEN, E. Teaching with the brain in min. 2. ed. Virginia: Association for
Supervision and Curriculum Development Alexandria, 2005.
LYMAN, L. L. Brain science for principals: what school leaders need to know.
London: Rowman & Littlefield, 2016.
17
SILVA, N. A.; FERREIRA, M. V. V.; TOZETTI, K. D. Um estudo sobre a situação
didática de Guy Brousseau. In: XII Educere: Congresso Nacional de Educação.
PUC PR, 2015, Curitiba. Anais..., Curitiba, PUC PR, 2015. Disponível em:
<https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18159_8051.pdf>. Acesso em: 10
set. 2019.
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AULA 2
NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA: COMO O
CÉREBRO APRENDE
TEMA 1 – COGNIÇÃO
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memórias, até tornar-se algo sináptico, de fato, e constituir-se como uma nova
rede cognitiva.
Compreender a cognição humana requer um entendimento anterior sobre
a complexidade, como sendo uma das teorias possíveis de explicação, ou, ao
menos, a que mais se aproxima da própria complexidade engendrada na
fenomenologia da cognição humana.
De acordo com Garrido (20016), a complexidade como teoria do
Complexus de Morin é um pensamento desprovido de certezas e verdades
científicas, uma abordagem não-linear que não condiciona efeitos a causas e nem
causas a efeitos. Dessa forma, ancora-se na diversidade e na complementaridade
dos conhecimentos, das pessoas e das culturas.
O cérebro cognitivo carregado dos condicionantes emocionais (memórias
e percepções), intuitivos (a relativização do tempo), dedutivos (abstrações) e
criativos (imaginações e ilusões) obriga-se a constantes tomadas de decisões, em
prol da sobrevivência a curto e longo prazos; a longo prazo, o que significa a
realização de sinapses; a curto prazo, a evocação das memórias previamente
construídas.
TEMA 2 – MEMÓRIAS
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arquivo classificam-se entre declarativas (explícitas e moduladas pelas emoções
e pela psique) e procedurais (implícitas, de habilidades motoras, hábitos, que não
necessitam de processamento cognitivo para ocorrerem). As memórias explícitas
exigem teor cognitivo consciente, pois utilizam comparações e avaliações. O
funcionamento das memórias explícitas e implícitas envolve um bom
desenvolvimento e funcionamento do córtex pré-frontal e da memória de trabalho.
Tanto Meyer (2002) quanto Kandel (2000) afirmam que a memória
procedural ou implícita não possui necessidade da existência de processos
cognitivos para ocorrer, pois funciona automática e reflexivamente como as
habilidades motoras e perceptivo-sensoriais. Forma-se no curso das repetições e
não é expressa em palavras. De um ponto de vista mais cognitivo, o
funcionamento dessa memória sugere que aspectos que facilitam o
condicionamento clássico nos indivíduos processam-se nela.
Um aspecto de extrema relevância no tema da Cognição é a consideração
de que a memória (no singular, em acordo ao senso comum) é uma entidade não
estática, não precisa e não exata, ou seja, não confiável em termos descritivos.
Isso significa que a recordação da realidade não é em si a própria realidade, como
um evento descritivo, uma vez que a própria percepção da realidade não o é
também; o cérebro faz ajustes nas informações para poder reconhecê-las. Pode-
se dizer que a linguagem humana está associada a essa memória (explícita), pois
no cérebro frontal, na região de Broca, há conexão para aquisição da linguagem,
permitindo sua repetição.
As memórias possuem inúmeras funções na cognição humana, uma delas
é o armazenamento de informações em geral, o que produziu durante muitos anos
de behaviorismo a correlação com a inteligência: quanto mais armazenamento
maior a inteligência; outra função das memórias é a capacidade específica de
aquisição de linguagens dos seres humanos.
A cognição, nas teorias behavioristas ou comportamentais da mente, utiliza
a memória para armazenamento e para evocação da informação, ou seja, a
explicitação do armazenamento. As expressões individuais tiveram pouco
desenvolvimento durante essa tendência histórica da educação, porque a
padronização cognitiva sempre fora o principal ensejo, e era possível por meio da
utilização da memória com a analogia da repetição.
Conforme Garrido (2005 e 2012), Piaget associa a memória à percepção
(definida neste cenário computacional como a “representação de uma sensação”),
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para o desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, as transformações de
percepção (ou o denominado movimento) dependem da existência da memória,
ou seja, um novo conhecimento precisa de um pré-conhecimento para ser
construído. Essa correlação é também muito pertinente nas ideias de Ausubel
para a teoria de Aprendizagem Significativa na denominação dos subsunçores,
que agem como ancoradouros para novas ideias.
TEMA 3 – PERCEPÇÃO
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visão, audição e tato, juntamente com os ruídos que emanam desse mundo e do
próprio sujeito, com todas as suas emoções e memórias. A partir disso, mobilizam-
se competências (inatas e adquiridas) para então, construir-se a representação.
Saiba mais
Assista ao vídeo sobre Funções cognitivas, presente no link
<https://youtu.be/lJEl2kAURjs>.
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TEMA 4 – PERCEPÇÃO VISUAL E ILUSÕES
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um olho não vê a mesma coisa que o outro, e por isso acaba tendo que ajustar a
imagem, para depois de fato, visualizá-la.
No estágio de percepção das formas, Piaget afirma:
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o cérebro é capaz de perceber e decifrar estas diferentes e tênues nuances de
cor, espessura, tamanho e/ou espectro da camuflagem.
TEMA 5 – ABSTRAÇÃO
Saiba mais
Assista às duas partes do vídeo Neurociências e Abstração para aprender mais
sobre essa função cognitiva. Acessos os links <https://youtu.be/XMkRtrvmtCI> e
<https://youtu.be/kHW2t_lP-pI>.
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REFERÊNCIAS
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MORIN, E. et al. Educar na era planetária - O pensamento complexo como
método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez,
2003.
PINKER, S. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 2000
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AULA 3
NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA: COMO O
CÉREBRO APRENDE
1.1 Introdução
O homem deve saber que, de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem
a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o
desânimo e a lamentação. E, por isso, de maneira especial, adquirimos
sabedoria e conhecimento [...] e pelo órgão tornamo-nos loucos e
delirantes, e medos e terrores nos assombram [...] Todas essas coisas,
suportamos do encéfalo, quando não está sadio […].(Garrido In Litto,
2014, p.61)
2
Quadro 1 – Histórica síntese das emoções.
3
auxiliam na adaptação às oportunidades e aos desafios que enfrentamos
durante eventos importantes de vida. É, também, um constructo
psicológico que une e coordena esses quatro aspectos da experiência
em um padrão sincronizado. (Reeve, 2006, p.191)
4
1.2 Emoções básicas
a. Primeiro, é usado para transmitir a noção de que "há uma série de emoções
separadas que diferem uma da outra deforma contundente;
b. Em segundo lugar, é usada para indicar que “a evolução desempenhou um
papel importante na formação de suas características e processos;
c. E por último, considera que as emoções não básicas são constituídas de
misturas de emoções básicas.
5
Quadro 2– Mapeamento amplo sobre os pensamentos possíveis das crianças.
6
O vídeo consistia em mostrar um grupo de 6 pessoas jogando basquete,
trocando passes, divididas em dois times, um time de fardamento branco e outro
time de fardamento preto, sendo cada equipe com uma bola. Aplicava-se um
evento inesperado (uma mulher fantasiada de gorila caminhava durante 5
segundos pelo espaço onde as pessoas estavam jogando; em outro momento,
uma mulher passeava com um guarda-chuva no meio das pessoas) – esse
processo durava em média 45 segundos de vídeo, e o estilo de vídeo
(parcialmente transparente em uma condição ou completamente nítida e opaca,
em outra) (http://scienceblogs.com.br/socialmente/2010/12/o-gorila-invisivel/).
No estudo, em síntese, identifica-se que cerca de 50% das pessoas
colocadas para assistir aos eventos, capta a atenção no “gorila”, e as demais, não
o percebem, ou seja, não o veem, pois, o foco de atenção está voltado para a
ideia do jogo em si.
Desse experimento concluiu-se que a atenção seria uma espécie de
artefato da consciência para o processamento mais eficaz de informações num
determinado contexto. Entretanto, a atenção está intimamente conectada à
emoção, e embora a emoção não seja necessariamente uma função consciente,
ela conduz a atenção; e a “emoção, por outro lado, representa a consequência ou
reações externas, perceptíveis, causadas pelos estímulos”. (DAMÁSIO, 2003, p.
254).
[...] os mecanismos básicos subjacentes à emoção não requerem
consciência, ainda que acabem por usá-la: a cascata de processos que
acarretam uma manifestação emocional pode ser iniciada sem que se
tenha consciência do indutor da emoção e muito menos das etapas
intermediárias que conduziram a ela. [...]. (Apud Degasperi, 2009, p. 3)
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(embora isso não signifique qualquer correlação com certo ou errado), pois em
muitos casos, incorremos nos reforços de algumas emoções sem termos noções
de que possam vir a prejudicar algum processo do tipo cognitivo.
Sherer (2001) autor citado por Armony e Vuilleumier (2013) vai dizer que
em muitas circunstâncias, o sentimento que está associado à emoção a faz ser
classificada por nós, como positiva (agradável) ou negativa (desagradável),
criando inclusive, uma certa sinonímia entre emoção e sentimento.
Nas neurociências afetivas, a noção de que os sistemas cerebrais
poderiam estar envolvidos diferencialmente no processamento de estímulos
positivos e negativos é fundamentada em várias linhas de pesquisa.
Lieberman e Eisenberger (2009), por exemplo, demonstraram que os
sistemas de dor e de prazer são sistema diferentes, e que envolvem áreas e
padrões de funcionamento também diferentes. Os mecanismos cerebrais
envolvidos em um sistema de dor/aversão concentram-se no córtex cingulado
anterior dorsal, córtex somatossensorial, tálamo e cinza periaquedutal, enquanto
um sistema de prazer/recompensa envolve as áreas tegmentar ventral, estriado
ventral, córtex pré-frontal ventromedial e amígdala.
Outra teoria hipotética (bastante debatida) que corrobora a ideia de
emoções positivas e negativas é a da assimetria hemisférica funcional, cuja
hipótese baseia-se mais precisamente na valência da assimetria hemisférica que
postula que exista um centro de sentimentos positivos no hemisfério esquerdo e
um centro de sentimentos negativos no hemisfério direito (Ahern; Schwartz, 1979
In: Armony E Vuilleumier, 2013).
Essas emoções também são chamadas de emoções autoconscientes ou
auto reflexivas ou emoções morais, e têm sido amplamente investigadas tomando
por teses a ideia da assimetria hemisferial como possível geradora dessas
diferenças de percepção do sentimento das emoções, o que são características
filogenéticas.
Nesse tipo de abordagem, das emoções autoreflexivas, como vergonha,
constrangimento, culpa, ou orgulho, o objeto da emoção é o "eu" ao invés de em
vez de um evento em si, o que é diferente no caso de algumas emoções básicas
como o medo por exemplo, no qual, sente-se medo de algo, como de uma cobra
ou de altura; já culpa ou vergonha, o indivíduo sente de si mesmo, assim como
outras emoções para as quais o self está em jogo, como por exemplo, humilhação,
gratidão, inveja ou ciúme (Fontaine, 2009).
9
Para o cérebro humano, nas questões de aprendizagem de conhecimentos
considerados mais difíceis, como as áreas de exatas por exemplo, estas emoções
corroboram na ineficiência das metodologias empregadas pelos professores, na
medida em que os estudantes usualmente estão em ambientes coletivos
submetidos a situações de testagens ou de exposição.
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aquilo que reconhecemos, a partir das memórias; assim, a utilização de
terminologias “ditas comuns” aos indivíduos, pode soar como algo completamente
inadequado a outros; a utilização da cor branca por exemplo, para o ocidente
representa a paz ou a pureza, mas para o oriente, o branco pode representar o
luto.
Assim, não há uma “receita ou melhor metodologia ambiental” para
estabelecer-se um processo cognitivo de aprendizagem, pois as co-dependências
entre as diversas variáveis irão estabelecer necessidades diferentes; assim, uma
atividade ao ar livre pode ser essencial para uma prática que requeira ativação
sensorial (tato, visão, olfato...) entretanto, se os sujeitos estiverem em algum
processo pós-traumático envolvendo a natureza, a mesma pode se tornar um
fracasso.
É fundamental para os professores – instrutores – ministrantes de cursos,
obterem um pré-conhecimento de seu público ou alunos, para uma imersão
ambiental adequada, na qual, as metodologias inovadoras utilizadas seja de fato,
de ativação cognitiva, assim como os recursos propostos; um exemplo bastante
elucidativo de uso inadequado é aquele em que programa-se uma atividade com
bastante uso tecnológico, seja de redes sociais, apps, quizz dentre outros, e o
público não está familiarizado ou devidamente alfabetizado para estes usos;
assim, o que poderia ser um grande sucesso, acaba representando-se como um
stress/estresse emocional para quem ensina assim como, uma frustração para
quem aprende, temas inclusive a serem tratados com base em Lyman no próximo
tema desta aula.
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A partir de 2015, “pela primeira vez em pelo menos cinquenta anos, a
maioria dos estudantes das escolas públicas norte-americanas - 51% -
vêm de famílias de baixa renda” (Strauss 2015). Muitos educadores
reconhecem os alunos que chegam às aulas com fome ou doentes ou
desabrigados, traumatizados ou vivendo em condições miseráveis,
incapazes de se concentrar totalmente nas tarefas escolares. A pobreza
afeta a cognição, o desempenho acadêmico e a saúde mental.
Pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro identificaram diferenças
nos sistemas neurais cognitivos e afetivos subjacentes a esses efeitos.
Estudos recentes de desenvolvimento e função cerebral mostram que a
pobreza afeta pessoas desde o nascimento até a idade adulta. (Lyman,
2016, p. 76)
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• Estado físico: privação de sono, dor de cabeça, dor no pescoço, dores
estomacais, doença crônica, respiração acelerada, coração acelerado
• Estado mental: perda de memória, incapacidade de concentração, falta de
discernimento, atitude pessimista, pensamentos acelerados, preocupação
constante.
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• Exemplo: Imagine que você está na praia - você sente o vento
soprando em seu cabelo, a areia está quente em seus pés, a água
está fria e molhada, e você ouve pássaros cantando no fundo e as
ondas batendo nas rochas. . .
• Antes de terminar, usando um cenário visual, peça aos alunos que
deixem seus problemas no local visual.
• Exemplo: Você está à beira do oceano, sente o peso pesado nas suas
costas. Você puxa e joga o que está incomodando nas suas costas.
O peso se foi e você está vendo o rock pesado afundar no oceano. . .
• Permita que os alunos compartilhem verbalmente ou em uma atividade
de jornal a experiência que sentiram durante a atividade.
Compartilhamento de pares
• os alunos têm a oportunidade de compartilhar pensamentos e
sentimentos dentro de uma atividade segura e estruturada.
• coloque os alunos em pares. O aluno 1 fala enquanto o aluno 2 ouve. Wilson e Conyers
Após cerca de 1 a 3 minutos, os alunos trocam de função. (2013)
• após a conclusão do compartilhamento, reagrupe os alunos em grupos
de três.
• O aluno 1 fala enquanto os alunos 2 e 3 escutam.
• Depois de 1 a 3 minutos, os alunos trocam de função.
Movimento para a “música dança congelada” (music freeze dance)
• os alunos encontram um local seguro para se movimentar / dançar em
sala de aula.
• Alunos se mudam para a música.
Wilson e Conyers
• os alunos congelam quando a música para.
(2013)
• quando a música começa novamente, os alunos se movem para
combinar com a música.
• Atividade envolve apenas movimento, sem falar.
• A ideia é passar de música em movimento rápido para música lenta e
calmante.
Fonte: Lyman, 2016, P.82-83.
18
Amaral ou de Di Cavalcanti, e há aqueles que não sentirão emoção alguma ao se
depararem com uma obra dessas.
Entretanto a neuroestética tem crescido em termos de investigações, e
áreas como as artes visuais e a música por exemplo, tem ganhado muito terrenos
para busca de subsídios que possam melhor descrever e interpretar os
mecanismos fisiológicos que possam circundar as percepções individuais e a
assim auxiliarem nos campos de desenvolvimento cognitivo, nosso interesse na
disciplina em questão.
Das neurociências cognitivas computacionais da mente, a percepção visual
é senão, a principal função cognitiva do desenvolvimento e evolução humana,
aquela que mais explica a adaptação pois é vantajosa para a seleção natural.
Dessa ideia vem toda a tese evolucionista contida na obra de Pinker (20000;
2005), a qual possui bases no conceito de visão de David Marr que menciona uma
correlação entre descrição e símbolos mentais.
Segundo Garrido (2005) a tese de Marr de uma descrição para a visão
está relacionada à produção de imagens do mundo externo, individualmente útil;
para tanto, segundo ele, deve haver a existência de símbolos mentais (quase
idealizações) para cada objeto localizados em algum lugar no cérebro. No entanto,
é preciso conceber essa descrição não como “literalmente de fora para dentro”,
mas como algo que se processa internamente em cada indivíduo.
Se não houvesse a ideia de descrição para a visão, certas faculdades
mentais (linguagem, andar, planejar, imaginar...) teriam de ter processos próprios
(isolados) para dedução de imagens e, portanto, o fato de se conhecer uma
determinada forma não seria o suficiente para se imaginar o que ou como utilizá-
la. Na verdade, o que ocorre é o contrário, ao se deduzir a forma, todas essas
“partes” das faculdades mentais já atuam em conjunto.
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o medo, como emoção básica, em uma o u outra situação, é o mesmo medo; mas
como isso é possível?
O fato de que podemos experimentar uma emoção, embora o evento
escolhido seja conhecido por ser irreal tem sido chamado de “o paradoxo da
ficção” e é o tema de um dos principais debates da pesquisa moderna sobre as
ligações entre ficção e emoção.
Nesse paradoxo, simulando-se uma situação na qual alguém possa
acreditar que um evento representado em uma foto é ficção em vez de um evento
real, mudam-se significativamente as respostas do córtex pré-frontal a este fator
emocional de imagem; ou seja, se a pessoa acreditar no irreal, ele se torna o que
ela quiser que seja.
Mais uma vez a abordagem de Marr e Biedermann aparece por aqui:
20
TEMA 5 – EMOÇÕES MORAIS E EMOÇÕES CONTRAFACTUAIS
21
forma ou pudessem de algum modo desfazer a coisa má que fizeram.
(p.10)
FINALIZANDO
22
REFERÊNCIAS
BERNETT, S., BIRD, G., MOLL, J., FRITH, C., Blakemore, S. J. Development
during Adolescence of the Neural Processing of Social Emotion. Journal of
Cognitive Neuroscience, 2009.
23
FONTAINE, J. R. J. Self-reflexive emotions. In D. Sander & K. R. Scherer (Eds.),
The Oxford companion to emotion and the affective sciences (pp. 357–59). New
York: Oxford University Press, 2009.
JENSEN, E. Teaching with the brain in mind. Association for Supervision &
Curriculum Deve. 2005.
LYMAN, L. Brain science for principals: what school leaders need to know?
London: Rowman & Littlefield, 2016.
24
TNH1. Mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo, diz estudo.
Disponível em: <http://www.tnh1.com.br/noticias/noticias-detalhe/mundo/mais-de-
800-milhoes-de-pessoas-passam-fome-no-mundo-diz-
estudo/?cHash=de5ffb4a34f3fcbceac36a4f98d6f3aa>. Acesso em: 11 out. 2019.
25
AULA 4
NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA – COMO O
CÉREBRO APRENDE
2
O mesmo autor tratou dos aspectos sociais da consciência e classificou as
emoções sociais (quase sempre vinculadas ao outro) em quatro tipos: indignação
moral, a qual explicita a violação de normas de conduta ou de convivência por
parte de outro indivíduo, que “precisa ser punido” (visão dessa emoção) –
biologicamente, as sensações de nojo e raiva são aparentes; o embaraço,
vergonha e culpa, emoções que ocorrem quando o próprio indivíduo viola as
normas de conduta mas tenta evitar a punição por parte dos demais, o que o
mantém em isolamento ou em autopreservação; biologicamente, provoca
sensações de medo ou tristeza; a simpatia e a compaixão, quando há um
reconhecimento automático do sofrimento do outro indivíduo e a ação é o conforto
e a tentativa de reconstruir um equilíbrio nele; biologicamente, causa tristeza, mas
também uma certa satisfação com o exercício do conforto; e a última, o espanto,
emoção associada ao altruísmo, cooperação, o que gera felicidade e alegria.
3
Além de seu papel na comunicação não verbal, as expressões faciais
podem ser consideradas estímulos condicionados com base em sua
história de reforço em situações sociais anteriores. Por meio de
interações entre a amígdala e o córtex pré-frontal (PFC), o
processamento de baixo para cima e de cima para baixo molda esse
aprendizado social. A conectividade pré-frontal da amígdala mais forte
gera melhores resultados comportamentais, e a interrupção da conversa
entre essas regiões está subjacente à desregulação da emoção em
populações saudáveis e clínicas. Além disso, a amígdala e suas
conexões com o PFC sofrem mudanças dinâmicas ao longo do
desenvolvimento, o que provavelmente contribui para mudanças no
desenvolvimento do comportamento emocional. (Gazzaniga; Mangun,
2014, p. 741)
4
1.3 Emoções epistêmicas
5
algo. E é através dessa relação entre a motivação e a prática que tem
início um círculo virtuoso muito favorável ao aprendizado: quanto mais
prática você tem, mais você melhora e, portanto, mais motivação
encontra para continuar aprendendo. E quanto mais motivação você
tem, mais você consegue se dedicar, mais vontade você tem de
continuar se dedicando ao aprendizado e, portanto, mais horas de
prática você adquire e acumula. Então, mais prática leva a mais
motivação, que leva a mais prática, que leva a mais motivação, e o
cérebro tem o que precisa para aprender de fato, para passar por todas
aquelas modificações que permitem o aprendizado. (p. 27)
6
Ativar o sistema de recompensa significa aumentar o funcionamento de
dois de seus componentes mais importantes: área tegmental ventral e o
núcleo acumbente. A primeira recebe dos sentidos informações sobre o
que está acontecendo com o corpo, e recebe do córtex pré-frontal, na
parte da frente do cérebro, informações sobre as intenções que guiarão
o comportamento atual. Se detectam que algo interessante acabou de
acontecer, os neurônios da área tegmental ventral despejam dopamina
sobre os do núcleo acumbente. A dopamina é uma substância
neuromoduladora, ou seja, é capaz de modificar a atividade elétrica dos
neurônios que a recebem. No nosso caso, a dopamina atua sobre o
núcleo acumbente. Quanto mais dopamina é liberada sobre os
neurônios do núcleo acumbente, maior é a ativação deste e, por
mecanismos ainda desconhecidos, maior é a sensação de bem-estar e
prazer que resulta daquele comportamento. (Herculano-Housel, 2010,
p. 32)
7
que dar recompensas ajudará a desenvolver grandes mentes, é provável que você
fique desapontado” (Jensen, 2005, p. 104). Há uma natureza intrínseca da
motivação.
Há contínuas variações naquilo que nos dá (ou não dá) prazer. Por
exemplo, temos prazer por antecipar e muito prazer quando a recompensa é uma
surpresa, o que é imediatamente registrado. O prazer recebido por uma
recompensa externa ou pela previsão de recompensa pode também declinar com
a repetição (por isso a surpresa se destaca), visto que o cérebro se adapta ou se
habitua rapidamente a recompensas, ou seja, o que funciona num dado momento
pode e provavelmente não funcionará em outro.
8
Explore recompensas abstratas, sem valor monetário, como
reconhecimentos (como elogios e certificados) ou celebrações (jogos,
atividades divertidas, privilégios) usadas de forma imprevisível;
Desenvolva a motivação intrínseca – permita que os alunos tomem
decisões e deixe que eles aprendam a se tornar responsáveis pelo
resultado de suas escolhas. Considerar o que é relevante, o que faz sentido
para os estudantes é crucial. O que não faz sentido não motiva! Construa
projetos em conjunto, considerando interesses, habilidades. Tomar
decisões em conjunto pode ser motivador. Só participa das decisões quem
tem valor, e sentir-se valorizado tende a ser um elemento motivador.
Procure “orquestrar” um ambiente com desafios significativos e com baixo
estresse;
11
TEMA 3 – ESTADO DE VIGÍLIA, ATENÇÃO PLENA E COMPORTAMENTO
INTENCIONAL
12
De acordo com Damásio (2015, p. 80), em um processo clássico de
consciência, a presença de atenção voltada a um objeto externo denota,
normalmente, a presença de consciência, mas não necessariamente, pois, para
ser um ato consciente de fato, a atenção deve perdurar por um tempo longo, e
não por segundos. Por exemplo, há casos de síndromes ou doenças neurológicas,
como o mutismo acinético, que ocorrem por alguns segundos, não sendo,
portanto, movimentos conscientes.
Entretanto, se não houver atenção diante de um objeto externo, isso não
significa que não haja consciência, mas que talvez a atenção esteja voltada para
um objeto interno, como os casos de concentração, de paixão e até mesmo de
reflexão. Isso também ocorre nos momentos de confusão, estresse ou sonolência.
Com relação aos comportamentos, há uma intrínseca e complexa relação
entre os pensamentos e a evocação de memórias, o que pode gerar emoções
falsas (em relação aos objetos) e, por sua vez, comportamentos baseados nas
observações (com base nesse repertório muito particular) que fazemos dos sinais
emocionais encontrados no comportamento das pessoas. Em suma, isso se
assemelha e muito ao mito da estereotipia de Pinker (1999), no qual,
principalmente para julgamentos, observamos algumas propriedades de um
determinado evento (do tipo: quando lembramos de um mafioso e citamos um
“italiano”) e determinamos uma categoria para essa propriedade, embora esta
poderia coabitar mais de uma categoria. Isso gera um comportamento.
Do ponto de vista cognitivo, relações entre emoções e consciência devem
ser observadas e cada vez mais estudadas, pois não é apenas o cérebro que
aprende, mas o todo, pois carregamos sensoriais biológicos que precisam ser
retroalimentados para termos continuidade como espécie; precisamos de
regulações emocionais para podermos avançar e ampliar atos cognitivos, não
somente para nossa sobrevivência, mas para um equilíbrio entre as demais
espécies, uma vez que, tendo o exercício da consciência de forma mais elevada
que outros animais, podemos potencializar um mundo melhor para todos.
13
A relação entre cognição e emoção é intrínseca e complexa. A cognição tende a
ser mais consciente, mas pode funcionar amplamente de forma automática, como
sugerem os modelos contemporâneos de processamento mental (Callegaro,
2011). Em contrapartida, o processamento emocional é mais inconsciente ou
automático, mas pode também ser, ao menos em parte, observado e controlado
conscientemente (Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2019).
A atenção parece ser um elemento crucial tanto para processos
emocionais, podendo regulá-los, como cognitivos, podendo melhorá-los. Ela pode
ser orientada/controlada por estímulos, como um som alto súbito, sendo chamada
de reflexa. Nesse caso é desencadeada de baixo (de estruturas subcorticais) para
cima (para estruturas corticais). Um evento emocional – um rosto que expressa
raiva, por exemplo – atrai e captura a atenção. Também é ativada por processos
metabólicos e ações instintivas, como a busca por água e alimento, proteção e
sexo. Nesse caso a atenção é automática, não voluntária. Sua contrapartida – a
atenção voluntária – é praticamente o oposto, tendendo a ser mais pela vontade
consciente.
Assim, é dirigida de cima para baixo, ou seja, coordenada por estruturas
corticais. Nossos objetivos, expectativas e recompensas orientam o que focamos.
Por exemplo, ao ler este texto você provavelmente está excluindo da sua atenção
estímulos distraidores, mas a qualquer momento um estímulo mais intenso ou
mais atrativo (emocionalmente) lhe captura a atenção, e você se distrai. Como
pode ser observado, há uma certa disputa pela orientação da atenção, entre
objetivos interna e voluntariamente definidos e demandas externas do ambiente
ou estímulos internos involuntários, como lembranças (Callegaro, 2011; Cosenza;
Guerra, 2011; Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2019; Marti; Garcia-Campayo; Demarzo,
2016).
Não podemos focar várias coisas ao mesmo tempo, então, ao focarmos
uma, desfocamos várias outras. Em nosso contexto educacional, isso pode ser a
diferença entre aprender ou não! Mesmo que o aprendizado ocorra também de
forma implícita, não consciente (Callegaro, 2011), a atenção é chave para que
possa ser maximizado:
14
especial, de maneira dedicada a cada instante. Isso quer dizer que, de
todas as informações disponíveis a cada instante, apenas uma sobrevive
a esse filtro, e todas as outras são eliminadas. Essas que são eliminadas
não ganham acesso ao que chamamos de memória de trabalho, o que
é a memória de curta duração que o cérebro tem, que permite que nós
trabalhemos com várias informações ao mesmo tempo. […] a atenção é
um grande filtro, é a porta de entrada que permite que a informação com
a qual você está lidando no momento seja transferida para memória de
trabalho, seja processada na sua memória de trabalho, quer dizer, seja
associada a outras informações, seja relacionada a outras coisas que
você está aprendendo. Dali, então, ganha acesso a outros sistemas de
memória mais duradouros. (Herculano-Housel, 2010, p. 28-29)
Segundo Barrett (2005), no cérebro humano existe uma estrutura que pode
ser considerada a estrutura das emoções (mesmo não sendo a única); é a
16
amígdala, com forma de amêndoa e se localiza no lobo temporal medial, antes
do complexo que compreende o hipocampo.
A primeira vez em que ela foi observada e associada às emoções foi num
experimento de Klüver e Bucy em 1939, quando eles observaram o
comportamento dos macacos após lesões do lobo temporal medial, que incluíam
a amígdala, o hipocampo e os córtices circundantes.
De acordo com as observações desses cientistas, os macacos exibiam um
padrão de comportamento denominado “cegueira psíquica”, marcado por reações
emocionais estranhas, como a aproximação de um objeto que lhes causava medo,
como uma cobra, e sob essas circunstâncias, não gerava mais. Aproximadamente
20 anos depois, o neurologista Weiskrantz (1956) identificou a amígdala como a
estrutura do lobo temporal medial cujo dano é diretamente responsável pela
cegueira psíquica.
Para Daniel Goleman (1995), que ficou famoso por seu trabalho sobre
inteligência emocional, se a amígdala assumir o controle do cérebro, ficamos
irracionais, pois perderemos o controle emocional, visto que sua principal função
é integrar as emoções com os padrões de resposta correspondentes a elas, seja
em nível fisiológico ou comportamental. Goleman denomina esse desequilíbrio
como “sequestro da amígdala”, e explica que isso ocorre quando, dependendo de
um determinado estímulo a que somos submetidos, a amígdala pode “roubar” as
ativações de outras áreas do cérebro, não só do sistema límbico, do qual faz parte,
mas, por exemplo, roubar do córtex frontal, responsável pelo raciocínio lógico e
planejamento.
Ainda segundo Goleman, em outras circunstâncias, após emoção intensa
normalmente gerada por situações de estresse, temos dificuldades em tomar
decisões (entre outras características), porque a amígdala “rouba a ativação” de
outras áreas responsáveis e inunda nosso corpo com adrenalina e cortisol, não
nos permitindo pensar.
Essas características que envolvem a amígdala e que Goleman aborda de
forma até engraçada se expressam dessa forma porque a amígdala é uma
estrutura muito primitiva do nosso cérebro, que nos coloca em constante estado
de alerta desde nossos ancestrais em situações de luta e fuga. Esses traços
instintivos nos mantêm em estado de sobrevivência.
É de extrema relevância conhecer o papel da amígadala na nossa vida, na
medida em que o senso comum normalmente infere que a tomada de decisão é
17
uma atitude muito mais racional do que emocional. Entretanto, está na deficiência
ou infericiência de um comportamento emocional a dificuldade em tomar decisões
racionais. Segundo Damásio (2010), a razão, por si só, não sabe quando
começar ou parar de avaliar custos e benefícios para uma tomada de
decisão.
É o quadro referencial das nossas emoções que seleciona as opções.
Damásio passa a apresentar uma série de argumentos anátomo-fisiológicos sobre
a formação e o processamento de imagens no cérebro, e defende que nosso
raciocínio é feito de sequências ordenadas de imagens. Esses dados apontam
para uma íntima relação entre as estruturas cerebrais envolvidas na gênese e na
expressão das emoções (o sistema límbico) e áreas do córtex cerebral ligadas à
tomada de decisões, como o córtex frontal (Tomaz; Giugliano, 1997, p. 409).
Ainda de acordo com os estudos de Damásio (2010), as emoções primárias
envolveriam disposições inatas para responder a certas classes de estímulo,
controladas pelo sistema límbico:
19
construção de autonomia, conforme o desenvolvimento proximal, oriundo de sua
teoria.
20
REFERÊNCIAS
_____. Cognitive neuroscience: the biology of the mind. 5. ed. New York: W. W.
Norton, 2019.
21
HERCULANO-HOUZEL, S. Neurosciências na educação. Belo Horizonte: Edic,
2010.
LOUGHTON, T.; MORDEN, J. Mindful nation UK: report by the mindfulness – All-
Party Parliamentary Group (MAPPG). London: Mindfulness Initiative, 2015.
LYMAN, L. L. Brain science for principals: what school leaders need to know.
London: Rowman & Littlefield, 2016.
PINKER, S. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
22
como-adapta%C3%A7%C3%A3o-evolutiva-um-resumo-sobre-as-ideias-de-
Steven-Pinker>. Acesso em: 19 set. 2019.
23
AULA 5
NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA: COMO O
CÉREBRO APRENDE
TEMA 1 – NEUROPLASTICIDADE
O cientista Tim White (2003) afirmou que o homem teria surgido há cerca
de 4 milhões de anos a partir do ancestral Ardipithecus ramidus (Ardi), na África,
o que confronta a tese anterior de que Lucy (nosso ancestral mais famoso) seria
o mais antigo, quando na verdade surgiu 1 milhão de anos depois do “Ardi”.
Certamente, mudanças de cunho pré-cognitivo foram sofridas por esse ancestral,
e de maneira significativa, pois geraram a evolução da espécie. Infelizmente,
ainda não possuem registros.
Se formos resgatar feitos cognitivos da história da humanidade, diversos
outros fenômenos são considerados altamente representativos da evolução
humana; um deles é a descoberta e o uso do fogo, que só ocorreu (de acordo com
marcações incluindo o carbono 14) há cerca de 500 mil anos e modificou todo o
destino da própria história, promovendo condições de adaptação e sobrevivência
da espécie no planeta (Garrido, 2016).
Considerando que a toda ação precede uma intenção, sendo esta
devidamente conectada à mente, às emoções e, obviamente, ao cérebro, a atitude
humana na descoberta do fogo deflagrou um dos piramidais feitos da espécie
como sendo uma atitude intencional, pois está atrelada a um conjunto de ações
químicas e elétricas, que geraram sinapses capazes de criar uma solução; isso já
é um ensaio pré-cognitivo.
Os aspectos sinápticos, ao gerarem redes, contribuem para o
desenvolvimento evolutivo da plasticidade cerebral que nos acompanha até os
dias de hoje, modificando-se intensamente conforme características individuais e
do meio em que se vive.
Para compreendermos melhor a ideia de plasticidade cerebral ou de
neuroplasticidade, faz-se relevante anteceder-se um pouco na História da
2
Psicologia e nas demais ciências que se utilizaram da inteligência, como a
biologia, a educação, a filosofia e até mesmo a medicina, para trazermos um
pouco da idea anterior de coeficiente de inteligência ou QI, um contraponto à isso
e fazer os um comparativo simples. De acordo com Allison Plunket Harris (citado
por Lymann, 2016, p. 15).
Many educators hold on to the traditional mindset that a child’s level of
intelligence is what he is born with and therefore his intelligence quotient is
relatively stagnant throughout life. (“Muitos educadores mantêm a mentalidade
tradicional de que o nível de inteligência de uma criança é o seu nascimento e,
portanto, seu quociente de inteligência é relativamente estagnado ao longo da
vida”).
Traduzindo e explicando: muitos educadores mantêm a mentalidade
tradicional de que o nível de inteligência de uma criança é o que ela nasceu e,
portanto, seu quociente de inteligência está relativamente estagnado ao longo da
vida; essa definição, além de determinista de um ponto de vista filosófico, sob um
prisma de uma corrente mais behaviorista da psicologia, denota a ideia de
“capacidade adquirida”, o que, na verdade, não pode ser modificado e nem
desenvolvido; ou nascemos com um alto QI ou com um baixo, e isso não altera
ao longo do tempo.
Entretanto, as neurociências cognitivas defendem o extremo oposto dessas
máximas que nos acompanharam durante décadas e fizeram estragos cognitivos
estupendos nas mentes de muitos de nós, seres humanos, que conviveram com
limitações de todas as ordens.
Algumas características consideradas para a inteligência de acordo com
Wilson e Conyers (2013, citado por Lymann, 2016, p. 15) consideram que,
independentemente da definição ou da crença que se tenha sobre a inteligência,
a educação mais flexível é um caminho para o desenvolvimento da própria
(inteligência), o que eles chamam de crescimento de mindsets.
Dissidentes desse entendimento de educação flexível apresentam algumas
características destas citadas pelos autores:
3
• O uso de avaliações formativas.
• Uma ênfase em habilidades de pensamento, como habilidades de
memória, pensamento analítico ou crítico, habilidades criativas, habilidades
práticas e competências.
4
que tem nos acompanhado (criada por nós mesmos, inclusive) por eras; por sua
vez, a ideia de “capacidades humlitoanas” fecha ou limita as possibilidades que
não são previstas no arcabouço histórico mapeado para cada tipo ou grau de
inteligência.
TEMA 2 – GAMIFICAÇÃO
5
• criação: envolve desenvolver a criatividade dos participantes para que eles
estejam aptos para desenvolver algo relevante;
• ponto de partida: abrange a ideia de partir de algo predefinido para que os
envolvidos possam buscar soluções;
• simulação: simula circunstâncias reais do cotidiano empresarial dos
jogadores para que eles possam decidir como reagirão a cada situação;
• pesquisa e documentário: promove a pesquisa sobre determinado assunto
a fim de registrar ou realizar uma explicação sobre o que foi aprendido.
6
como, por exemplo, o abraço, os trabalhos em grupo e as relações mais sociais,
aumentam-se os níveis de oxitocina.
Assim, como atividade que possa vir a gerar a felicidade, não se tem
dúvidas quanto à gamificação; entretanto, para ser eficaz realmente, deve
construir estratégias que se utilizem de lógicas de “problematizações”, a fim de
garantir-se os engajamentos necessários às ações que levarão ao que se
pretende.
Uma das ideias propulsoras da gamificação incumbe-se de facilitar a
questão “problema” de todas as naturezas e formas, ou seja, desde abordá-lo pela
“formulação à solução”, pois essa visão amplifica o cérebro na medida em que
tanto uma quanto a outra trata de cognição, seja pelo artefato de algumas funções
executivas como o planejamento e a memória (para a formulação), quanto da
abstração (para a solução), como outras:
TEMA 3 – JOGOS/GAMES
7
Outros resultados que indicam que os games interferem no
desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, aparecem também nos estudos de C. S.
Green e D. Bavelier (2006) e de T. Strobach (2012) os quais demonstram que
jogadores de vídeo games apresentam maior capacidade para a realização de
múltiplas tarefas ou de alterar de uma tarefa para outra com mais eficácia do que
os sujeitos que não jogam.
Inicialmente, vamos mostrar dois exemplos diferentes quanto ao uso de
jogos na aprendizagem, positivos e negativos (dependendo dos grupos de
análise) para termos a noção de que não basta utilizar o recurso (jogo) ou a
estratégia (gamificar) se não estivermos com o todos projetado de forma
sistêmica, considerando os aspectos emocionais subjacentes (e determinantes)
do grupo (o que já tratamos nas duas aulas de Emoções), assim como a clareza
das funções cognitivas pretendidas (o que também já vimos na aula de Funções
cognitivas), assim como os aspectos didáticos e de planejamento, também já
abordados na aula de neuroeducação e neurodidática.
Os estudos a serem apresentados a seguir sob forma de casos (cases) são
oriundos de uma Pesquisa de mestrado realizada na Universidade Tuiuti do
Paraná pela autora Anna Jungbluth. Em 2016, a autora Anna Jungbluth (2017)
realizou uma revisão integrativa sobre o tema da aprendizagem de adultos a partir
do uso de jogos e alguns resultados relato aqui para podermos analisar; uma das
pesquisas é chamada na dissertação como publicação T3 – Jogo de Empresas –
Técnica de Apoio ao Processo de Aprendizagem de Adultos na Área de Logística:
O Caso do SOLOG (Simulador de Operações Logísticas) (Lacerda, 2015 citado
por Jungbluth, 2017).
Esse jogo tratava de simulações de operações de logística para os alunos
de um curso de graduação e de um curso de mestrado.
8
Entretanto, embora haja ganhos perceptivos para o desenvolvimento
cognitivo de certas funções executivas, sob a perspectiva do objetivo em si, esse
jogo não necessariamente atingiu os resultados previamente pensados com os
dois grupos.
Provavelmente (pois não há essa extração de análise no estudo), os alunos
do curso de graduação, de uma forma hipotética não possuem um background de
conhecimentos anteriores para o tema em questão, e, portando, não conseguiram
ultrapassar o pré-conhecimento para seguimento; diríamos que em termos de
produção de hormônios, como as memórias não foram felizes, tanto as endorfinas
quanto a dopamina e oxitocina não tiveram aumentos; assim o jogo não chegou a
ser prazeroso.
Isso ocorre porque, independentemente de se estar diante de uma
metodologia como a do uso de jogos simplesmente, se não houver uma
sensibilização ou até mesmo uma preparação melhor dos participantes, como o
desenvolvimento do engajamento, uma das estratégias propiciadas pela
gamificação, de nada adianta utilizá-los, pois veja:
9
Os melhores resultados sobre o jogo, na percepção dos alunos, apontam
uma contribuição na aquisição e integração do conhecimento, para a resolução
de problemas e tomadas de decisões, no estímulo à criatividade e em associar
teoria e prática (Butzke, 2015, citado por Jungbluth, 2017). Ainda de acordo com
a análise de Jungbluth (2017), com relação aos piores resultados da contribuição
do jogo, os alunos apontaram tanto o trabalho em cooperação ou em colaboração
quanto o trabalho individual, na medida em que não houve mediação de conflitos
e tomada de decisões com informações incompletas. Os resultados coletados dos
depoimentos dos alunos apontam que eles consideram fortemente que o jogo
contribui na aprendizagem e na aplicação prática de teorias aprendidas em aula,
contribui para desenvolvimento do raciocínio, tomada de decisão, resolução de
problemas e associação de teoria e prática.
10
Dessa comparação, surge uma relação matemática que podemos intitular,
música; obviamente, a música não se reduz a uma relação matemática, mas
nasce como ciência nesse contexto de pensamento, o pensamento analógico.
Saiba mais
Para elucidar melhor essa passagem da história, assista ao vídeo do
personagem Pato Donald e Pitágoras no link a seguir:
<https://youtu.be/7S3iW_sbqsA>. Acesso em: 25 set. 2019.
11
a voz humana. Já na informação digital a representação de dados é
representada por 1s e 0s. A representação digital pode estar baseada
na discretização do sinal analógico. Um sinal analógico possui infinitos
valores de tensão em um intervalo de tempo qualquer. Já os sinais
digitais possuem apenas um número limitado de valores. Geralmente
tais sinais possuem uma representação em dois níveis. (Pereira, 2008,
p. 2, citado por Garrido, 2016)
13
REFERÊNCIAS
BREUNING, L. Gr. Habits of a Happy Brain: Retrain Your Brain to Boost Your
Serotonin, Dopamine, Oxytocin, & Endorphins Levels. Massachussets: Adam
Media Corporation, 2016.
CORREIO DO POVO. Pierre Lévy: a revolução digital só está no começo. Correio
do Povo, 12 abr. 2015. Disponível em:
<https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/pierre-l%C3%A9vy-a-
revolu%C3%A7%C3%A3o-digital-s%C3%B3-est%C3%A1-no-come%C3%A7o-
1.305512>. Acesso em: 25 set. 2019.
14
LYMAN, L. L. Brain science for principals: what school leaders need to know.
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15
AULA 6
NEUROEDUCAÇÃO E
NEURODIDÁTICA: COMO O
CÉREBRO APRENDE
2
• realização de múltiplos objetivos em um único período de tempo,
alternando-se tarefas;
• foco em um objetivo principal, mas periodicamente permitindo-se
realização de outras tarefas ou atendimento de objetivos secundários;
• quando, de forma consciente, divide-se o tempo atendendo a várias tarefas
essencialmente não exigentes, tais como monitorar e-mail, cuidar de algo
no forno ou ouvir um programa de rádio (Hattie; Yates, 2014, p. 187-188).
3
conditions, including diabetes, cardiovascular disease, obesity, and depression”,
ou seja, que “o sono insuficiente está conectado ao desenvolvimento de doenças
crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade e depressão”.
Vamos, novamente, mostrar dados alarmantes envolvendo crianças.
Segundo Lymann (2016), um estudo de 2014, realizado pela Fundação Nacional
do Sono estadunidense, descobriu que a análise da presença da tecnologia no
quarto onde se dorme é um fator-chave para saber se adultos e crianças estão
tendo um sono adequado. A tecnologia pode ser representada por uma televisão,
um videogame, um smartphone, um laptop, um tablet, um tocador de MP3 ou um
rádio. Uma televisão era a tecnologia de quarto mais comum. De acordo com o
estudo examinado, “[...] 72% das crianças entre 6 e 17 anos geralmente têm pelo
menos um desses cinco tipos de aparelhos no quarto. Quarenta e cinco por cento
dessas crianças têm pelo menos dois dos cinco tipos de dispositivos eletrônicos
em seus quartos, sendo que 27% delas têm três ou mais dispositivos” (Lymann,
2016, tradução nossa).
Mas, e os adolescentes? Ainda segundo o estudo (Fundação Nacional do
Sono, citada por Lymann, 2016), adolescentes na faixa dos 14 anos são os mais
prejudicados com a provação de sono, uma vez que estão com uma produção de
hormônios algébrica. As próprias alterações do padrão de sono nos adolescentes
são causadas por hormônios. Os cientistas descobriram que a melatonina, o
hormônio do sono, é liberado mais tarde na adolescência do que em adultos e
crianças. Em geral, corpos adultos começam a liberar melatonina entre 9 horas e
22 horas, enquanto corpos de adolescentes começam a liberar melatonina entre
as 23 horas e meio-dia. Portanto, há uma razão biológica pela qual os
adolescentes vão dormir mais tarde (Lymann, 2016).
Nesse sentido, dormir não só faz bem às pessoas, como é por demais
necessário para o desenvolvimento e a manutenção da saúde humana. Em
termos cognitivos, a falta ou a privação de sono podem provocar diminuição da
habilidade de aprender em cerca de 40%, de acordo com o Instituto Nacional de
Saúde norte-americano (citado por Hershner; Cervin, 2014).
Os processos de absorção de memórias entram, nesse cenário, para
explicar como essas modulações de aprendizagem ocorrem ou não. Assim, é
importante mencionar duas estruturas cerebrais, o hipocampo e o neocórtex. O
hipocampo armazena novas informações ou memórias de curto prazo e tem uma
quantidade limitada de capacidade de armazenamento de memória. O neocórtex
4
tem uma quantidade maior de capacidade de armazenamento de memória e
armazena memórias de longo prazo.
É mais provável que as informações armazenadas no hipocampo sejam
perdidas, enquanto as informações armazenadas no “[...] neocórtex serão mais
estáveis e terão maior probabilidade, se praticadas, de se tornarem memórias de
longo prazo” (Doyle; Zakrajsek, 2013, tradução nossa).
Portanto, o neocórtex e o hipocampo estão intimamente envolvidos com o
aprendizado e o sono. No processamento das memórias, como já visto na primeira
aula, há um movimento cognitivo intimamente ligado ao nosso sensorial, para
absorção das informações, e às percepções que temos com base em nossas
memórias anteriores. Assim, durante o sono, nossas memórias de curto prazo,
armazenadas no hipocampo, são transferidas para o armazenamento de memória
de longo prazo, no neocórtex, o qual mantém a memória de uma forma mais
estável. Na verdade, todo o movimento de estocagem de memórias, tanto o de
curto prazo, pelo hipocampo, quanto o de longo prazo, pelo neocórtex, dá-se
durante o sono.
A Figura 1 ilustra as regiões do neocórtex e do hipocampo, no cérebro
humano.
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TEMA 3 – A RELAÇÃO ENTRE COMER E MANTER O CÉREBRO SAUDÁVEL
Se você não tem uma dieta saudável e equilibrada e não come antes de
começar um novo aprendizado, estará privando seu cérebro da energia
necessária para ele funcionar adequadamente. (Doyle; Zakrajsek,
citados por Lymann, 2016, p. 45, tradução nossa)
A frase de Doyle e Zakrajsek (citados por Lymann, 2016, p. 45), por si, já
demonstra a necessidade de haver uma dieta balanceada e de cada um alimentar-
se antes de aprender, sob o risco de você privar seu cérebro da energia de que
carece a própria aprendizagem.
Uma das coisas mais interessantes sobre o cérebro humano é que ele
busca a sobrevivência. Conforme Enz e Stamm (2013, p. 45):
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pessoa que está desidratada pode, em última análise, sentir fadiga, falta de
concentração e habilidades cognitivas reduzidas (Lymann, 2016, p. 47).
Algumas iniciativas de instituições sem fins lucrativos – assim como do
próprio governo norte-americano, que fornece serviços de cuidados aos
estudantes das escolas americanas –, como instituições de cuidados infantis
residenciais, têm surgido e surtido efeitos positivos no rendimento escolar, em
todos os sentidos. A School Breakfast Program (SBP) e o Programa Nacional de
Almoço Escolar norte-americano (NSLP) fornece assistência em dinheiro aos
estados, para operarem programas de café da manhã. “Em 2014, cerca de 7,4
milhões de crianças, em mais de 72 mil escolas, começaram o dia na escola com
comida da SBP” (Lymann, 2016, p. 46, tradução nossa).
No Brasil, um dos pontos de partida da Organização Mundial da Saúde
(OMS) para garantirmos cérebros saudáveis e com condições cognitivas máximas
tem sido avaliar as práticas de aleitamento materno e de alimentação
complementar, o consumo alimentar, o estado nutricional antropométrico infantil
e durante a gestação e a deficiência de micronutrientes entre crianças brasileiras
menores de 5 anos (OMS, 2019).
Em face das dificuldades socioeconômicas por que cerca de 80% da
população brasileira passa, a OMS, em 2019, criou cinco metas para a
alimentação e nutrição saudável, as quais se descrevem como:
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para complementar a amamentação a partir dos 6 meses de idade dos
bebês; amamentar as crianças com leite materno até 2 anos de idade,
aproximadamente, complementando a alimentação; não adicionar açúcar
ou sal em alimentos para bebês e crianças pequenas (OMS, 2019).
Há uma frase máxima de John Medina que diz que “exercícios não fazem
você mais inteligente, mas fazem você normal”. O trabalho do psiquiatra de
Harvard, John Ratey, conforme Medina (citado por Lymann, 2016) sobre
exercícios e o cérebro, concentra-se em três maneiras pelas quais o exercício
pode melhorar o aprendizado: “Primeiro, ele otimiza sua mentalidade para
melhorar o estado de alerta, atenção e motivação; segundo, prepara e encoraja
as células nervosas a se ligarem umas às outras, o que é a base celular para o
registro de novas informações; e terceiro, estimula o desenvolvimento de novas
células nervosas com base em células-tronco, no hipocampo” (Medina, citado por
Lymann, 2016, tradução nossa).
A OMS, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças e a Fundação
Nacional do Sono estadunidenses recomendam, para crianças e adolescentes
entre 5 e 17 anos, cerca de mais de 60 minutos de exercícios aeróbicos diários,
dos tipos moderados a vigorosos.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças e a Fundação Nacional do
Sono (2014) recomenda ainda que os jovens de 6 a 17 anos de idade participem
de pelo menos 60 minutos de atividade física diária.
A atividade física é composta de três tipos – atividades aeróbicas, de força
muscular e fortalecimento ósseo.
Iniciativas simples, por exemplo a realização de alguns ensaios, em escolas
norte-americanas, que passaram a iniciar as aulas em horários mais tarde, por
volta de 8h30min e 8h40min, têm impactado positivamente os rendimentos
escolares, como são os casos das escolas Edina (em Minneapolis) e Milwaukee
High Schools. Os resultados são surpreendentes:
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Cada uma delas experimentou taxas de frequência mais elevadas,
aumentou as pontuações dos testes padronizados, reduziu as taxas de
depressão e melhorou as taxas de graduação. Inicialmente, houve
oposição à mudança; mas, depois de ver os resultados, ambas as
escolas mantiveram o início das aulas mais tarde, até hoje (Lymann,
2016, tradução nossa).
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ainda, com a neuroplasticidade. No caso das meninas, estas possuem seus
centros verbais cerebrais, áreas da linguagem, mais desenvolvidos antes mesmo
dos meninos, os quais necessitam mais dos movimentos para ativarem esses
centros e, portanto, as aprendizagens subsequentes. Assim, as metodologias que
privilegiam o ler e o ouvir facilitam a aprendizagem das meninas e não a dos
meninos, pois estes precisam do movimento, em que pese que,
independentemente de gêneros, ambos precisam de movimento para
continuarem o desenvolvimento da plasticidade de seus cérebros.
Atualmente, o movimento, associado a atividades físicas como o yoga e a
meditação, por exemplo, se relacionam, em nossa vida cotidiana, com exercícios
de desenvolvimento de plasticidade, por acionarem áreas cerebrais não só
motoras, mas de expansão do córtex, bem como ativações do sistema límbico,
equilibrando o aspecto emocional dos indivíduos.
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REFERÊNCIAS
CRIANÇAS do Brasil passam 50% mais tempo na internet do que a média global.
Redação E-Commerce Brasil, 18 out. 2018. Disponível em:
<https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/criancas-do-brasil-passam-50-de-
tempo-mais-na-internet-do-que-media-global/>. Acesso em: 11 out. 2019.
LYMANN, L. Brain sciences for principals. Lanham: Rowman & Littlefield, 2016.
OMS divulga 5 metas simples para alimentação mais saudável. Minha Vida
Editorial, 18 fev. 2019. Disponível em: <https://www.terra.com.br/vida-e-
estilo/minha-vida/oms-divulga-5-metas-simples-para-uma-alimentacao-mais-
saudavel,9796b33722d6cbaeb6687d2c337b1ea1lkv6oyoa.html>. Acesso em: 13
out. 2019.
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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
PLANO DE ENSINO
EMENTA
Fatores cognitivos e emocionais e sua interrelação. Exercício da atenção. Treino da memória. Repetição: é
preciso repetir? Motivação é fundamental. Papel do sono, da alimentação e da água na aprendizagem.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ATAGIBA, Diana de Castro. Neurociência educacional [livro eletrônico]. Curitiba: Intersaberes, 2022.
FREIRE, Kátia, Regina Lopes Costa. LAUTENSCHLAGER, Etienne (orgs.). Neurociêncua e educação: diálogos
possíveis. Jundaí, SP: Paco, 2021.
SILVA, Fábio Eduardo da. Neurociência e aprendizagem uma aventura por trilhas da neuroeducação [livro
eletrônico]. Curitiba: Intersaberes, 2021.
Bibliografia Complementar
CAMINHA, R; CAMINHA, M; GARRIDO, T. Regulação emocional na Infância. 2018. Porto Alegre.
MARTI, A. C. I.; GARCIA-CAMPAYO, J.; DEMARZO, M. Mindfulness e ciência: da tradição à modernidade. São
Paulo: Palas Athena, 2016.
SILVA, Fábio Eduardo da. Neurociência e aprendizagem: uma aventura por trilhas da neuroeducação.
Curitiba: InterSaberes, 2021.
PROCEDIMENTOS CRITÉRIOS
1. Atividade Pedagógica online. Atividade online: realizada individualmente, com ou sem a presença do
(peso 4) orientador educacional. Para realizar a atividade, acesse o LINK
AVALIAÇÕES na página da disciplina.
2. Participação nos fóruns. Fórum para discussão de assuntos referentes à disciplina. Momento de interação
entre os alunos de participação facultativa.
3. Tutoria. Entre em contato sempre que precisar para esclarecer dúvidas ou fazer solicitações
através do link Tutoria.
4. Prova objetiva online em polo Realizada individualmente, com a presença do orientador educacional no
presencial. (peso 6) polo de apoio presencial e sem consulta. Realização através do aplicativo
instalado no computador do polo. Verifique o cronograma na página inicial
do UNIVIRTUS.
Instruções importantes:
•A avaliação contém 10 questões objetivas, escolhidas pelo sistema
randomicamente;
•Confira se assinalou todas as questões;
•Para cada questão, escolha somente uma das alternativas de resposta;
•Você deverá concluir a avaliação em 1 (uma) hora;
•O seu gabarito será disponibilizado logo após o término do prazo para
realização desta avaliação.