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CENTRO UNIVERSITÁRIO FACOL – UNIFACOL

CURSO DE PEDAGOGIA

Memorial:
Roda de Diálogo- Pedagogia e Pedagog@s: caminhos e perspectivas1

Cláudio Gomes da Silva Junior 1


Iolanda Maria de Souza 2

Como a educação pode se tornar uma forte aliada para a modificação dos conceitos já
adquiridos em nossa sociedade? Como os profissionais da educação podem se obter de
valores irremediavelmente aceitáveis para a radicalização da sociedade? São indagações que
sempre estiveram presentes em diversos centros acadêmicos e em diversas classes da
comunidade educacional. Entender a educação como um fenômeno social é resgatar as
origens mais profundas da racionalidade e da moral pedagógica, que sempre nos faz refletir
sobre os papéis pré-estabelecidos dentro das práticas pedagógicas. Uma das maiores reflexões
é a busca pelo entendimento sobre onde inicia o nosso limite como profissional formador de
vida e onde começa a nossa obrigação como estabilizador das práticas pedagógicas. Sempre
existirá dúvidas e momentos de debates (sejam eles interpessoais ou propriamente pessoais),
mas é de entendimento geral que, as áreas relacionadas a educação estarão sempre em
modificação e sempre alcançará novos rumos e é de “obrigação” moral e profissional, que
todos o agentes se atenuem e estejam sempre a disposição das revoluções ocasionadas pelas
constantes mudanças educacionais.

Na educação, como na vida, há um processo dialético constante


entre estabilidade e mudança, entre preservar ou modificar. Há
períodos em que predomina a estabilidade, com determinadas
normas ou modelos predominantes. Em outros períodos há
efervescência, inquietação, agitação, desconforto,
experimentação [...] . Estamos em transição, entre os modelos
estáveis, consolidados, e os novos, ainda em construção.
Sentimo-nos inquietos, inseguros, sem saber o que por no lugar
dos que já temos. (MORAN, 2018, p. 3)

A educação exala transformações e suas perspectivas são entoadas como novas


metodologias a serem alcançadas dentro dos contextos educacionais e é de extrema
importância, levá-los com certa clareza através dos fatos que são incorridos. Utilizar-se de
momentos de debates e diálogos como formas de inspiração tem sido de extrema significância
1
Atividade interdisciplinar envolvendo os componentes curriculares :a) Introdução à Pedagogia, sob orientação
da professora Lindinalva Queiroz e; b) Introdução à metodologia do estudo e do trabalho acadêmico, sob
orientação do professor Isaias da Silva, no contexto do primeiro período de Pedagogia/UNIFACOL.
dentro dos institutos acadêmicos e tem sido grandes aliadas tanto no currículo comum das
instituições quanto na formação pessoal de cada estudante que ruma nos caminhos da
educação.
No dia 18 de março de 2023, o curso de graduação em Pedagogia do Centro
Universitário da Vitória de Santo Antão. pôs em prática uma reflexão em roda de conversa
com o tema: Pedagogia e Pedagog@s: caminhos e perspectivas. Fugindo dos modelos
padrões ocorridos em algumas instituições, a roda de diálogo nos tirou de zonas de conforto
até brevemente desconhecidos por graduandos do primeiro período regular. Por ocorrer em
um sábado, dia excepcionalmente exclusivo para os descansos da semana que já é bastante
acelerada por contas das aulas explicitadas e para muitos, um dia de trabalho e isso gerou
diversas dúvidas e particularidades exclusivas dentro de cada “universo” nas mentes de cada
discente. Sair da zona de conforto é pertinente para os que almejam alcançar novos níveis de
solidez intelectual e que desejam sempre estar aptos para qualquer fundamento desenvolvido
pela área da Pedagogia. A mudança de atitude se torna fundamental para os caminhos
trilhados pelas práticas educativas e para as estruturas da educação.

As mudanças nas atitudes sociais, éticas e


comportamentais [...] em função da capacitação podem
ser compreendidas à luz da teoria da dissonância
cognitiva. Partindo do pressuposto de que os seres
humanos procuram um estado de equilíbrio entre suas
cognições, todos devem sempre ter buscado reduzir ou
eliminar essa dissonância e evitar seu aumento.
(FESTINGER, 1957, p. 730)]

A Pedagogia nos exige uma fundamental dedicação em todos os termos possíveis, tanto
para os estudos de suas teorias quanto para a prática em recintos educativos. É necessário
entender quais os fundamentos expressivos das áreas específicas da Pedagogia e quais delas
nos faz querer redirecionar os nossos posicionamentos pessoais e profissionais. A Pedagogia
nunca pode ser vista como algo monótono ou pragmático pois, assim como a completude da
educação, ela é adaptável e consegue ultrapassar barreiras que podem ser impostas e se
demonstrando de forma eficaz sobre o processo de integralidade política.
A roda de diálogo teve início com a apresentação da professora Daiany Santos, filha da
UNIFACOL, moldada por excelentes mestres e dotada de uma oratória mansa e que
impactou todos os que participavam do momento. Iniciando sua fala com o “portfólio da
pedagogia”, foi incisiva em criar um paradoxo entre a Pedagogia e a educação, tentando
levar o discurso para área das práticas educativas como esquema alinhado com a prática
humana. A explicitação do contexto, pode ser vista nas crenças sobre a Pedagogia como
elevação da prática humana em:
A Pedagogia não pode se limitar ao entendimento de
como se dão as relações educativas de fato e ao
estabelecimento de diretrizes gerais para a educação nos
horizontes ampliados da emancipação humana e da
maioridade dos sujeitos. A ela incumbe, em
conseqüência de sua função hermenêutica e
crítico-reflexiva, presidir a organização e condução da
instituição educativa, no sentido de como se vão dar as
relações internas de poder, mediadas pela infra-estrutura
de recursos e controles, e de como se vão relacionar a
gestão institucional, a dinâmica das relações
interpessoais e a produção/circulação dos
conhecimentos. (MARQUES, 1990, p. 24)

A prática educativa nunca poderá ser dominada unicamente por sua integralidade , mas
em sua dialeticidade e nos movimentos da prática social (PIMENTA, 2006, p. 58). Sempre
devemos observar as práticas com olhar afetivo e efetivo de forma com que, todas as
diferenças vistas em sala de aula possam ser ultrapassadas e niveladas com o caráter crítico do
educador, levando também em consideração que, cada aluno possui o seu conhecimento
prático e a dinamicidade social infere nas manifestações individuais dos alunos e que devem
sempre ser reconhecidos e avaliados de forma integral.
Além disto, Dayane continuou suas explanações orientando-nos com os reconhecimentos
das práticas e de como elas possuem diversas possibilidades dentro dos contextos educativos
e profissionais. Os âmbitos relacionados às práticas educativas são bastante vastas e não
possuem limitações em prol do processo de formação e de profissionalização. A ação
educativa se estende das salas de aula, abrangendo ciclos de especialização e de formação
continuada, e disto, tiramos a conclusão de que a singularidade da educação nunca pode estar
resumida a simples atos dentro das salas de aula e que ela possui diversas práticas e
possibilidades e é certo que, a vivência da teoria deve sempre ser levada em conta nos
processos práticos da educação. Educar é impregnar sentido em tudo que fazemos (FREIRE,
1963)

Dando continuidade a rodo de diálogo, a professora Gerlange da Conceição, outra filha


da UNIFACOL, deu-nos uma visão concreta da importância da práxis pedagógica da noção de
atitude dentro do currículo pedagógico. O desafio de formar um educador que seja capaz de
colaborar na construção de conhecimentos socialmente significativos, como uma síntese entre
as experiências e o conhecimentos produzidos nas condições sociais e culturais dos processos
de vida e de trabalho dos educandos e os conhecimentos universais elaborados pelo conjunto
da humanidade, torna-se central em uma proposta de formação. Pois somente uma filosofia da
práxis pode realizar esse movimento permanente de articulação das vivências do senso
comum e o do saber elaborado tendo como objetivo a superação da consciência ingênua e
naturalizada. Assim como observa Gramsci sobre o respectivo tema:

“Uma filosofia da práxis só pode apresentar-se,


inicialmente, em uma atitude polêmica e crítica, como
superação da maneira de pensar precedente e do
pensamento concreto existente (ou mundo cultural
existente). E, portanto antes de tudo, como crítica do
“senso comum” (e isto após basear-se sobre o senso
comum para demonstrar que “todos” são filósofos e
que não se trata de introduzir ex-novo uma ciência na
vida individual de “todos”, mas de inovar e tornar
“crítica” uma atividade já existente)” (GRAMSCI,
1981, p. 18).
Somente a ação refletida para a prática em todos os processos educativos é fundamental
para o desenvolvimento intelectual e integral de todos os componentes da sociedade. Ao
percorrer, somos levados aos processos de ação e de suas influências sobre a educação da
emancipação, defendida de forma total por Paulo Freire, patrono da educação e referência em
rodas de diàlogos pedagógicas. Na obra Pedagogia do Oprimido (2002), Freire aponta e
defende uma pedagogia para todos e que possam se emancipar, mediante uma luta libertadora,
que “só faz sentido se os oprimidos buscarem a reconstrução de sua humanidade e realizarem
a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos, libertar-se a si e os opressores”
(FREIRE, 2002, p. 30).
Além disso, ou seja, continuar uma luta pela transformação social, visando emancipação, o
projeto emancipatório defendido por Freire também chama atenção para o multiculturalismo,
clareando que o direito de ser diferente, significa sociedade democrática. Para identificar mais
claramente aquilo que Freire defende como projeto emancipatório, é condição fundamental
que se busque uma sociedade igualitária. Não existe educação sem processos de humanização
e sem o entendimento de que a docência não é uma mera profissão ou dever motor organizado
por sistemas sociais e sim, uma missão exclusiva para a transformação e transmissão do saber
pela doce palavra que partilha o saber. (CORTELLA, 2016).

Dando prosseguimento aos caminhos da roda de diálogo, fomos honrados em termos duas
expressões fortemente esclarecedoras, principalmente para as especificidades futuras e para os
caminhos que podem surgir durante o decorrer do curso. A princípio, a professora Malcicleide
da Silva trouxe consigo, uma abrangente bagagem sobre a atuação do pedagogo em clinicas
multiplidisciplinares e a importância de uma educação especial fortemente na compensação
de dificuldades decorrentes da sociedade e de suas transformações. O pedagogo também se
transformou, adequando-se a essa nova realidade, apresentando-se como profissional
capacitado junto à sociedade. É necessário separar o que é escolar do que é educativo. O
pedagogo pode desempenhar suas funções em todas as áreas que requerem trabalhos
educativos, que envolvam processos de ensino-aprendizagem, portanto, pode atuar tanto nas
escolas, quanto em organizações que valorizem a qualificação profissional. O importante é ter
um conhecimento sólido a respeito da atividade que será exercida. Qualquer que seja a área
em que haja a necessidade de conhecimentos do currículo escolar, o pedagogo poderá atuar.
Vale destacar também que essas diretrizes enumeram as competências que um pedagogo deve
ter. Enfatizamos as que comprovam a possibilidade de o pedagogo atuar em grupos
multiprofissionais de atendimentos, conforme a Resolução CNE/CP nº 1 (BRASIL, 2006):

IV- trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na


promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes
fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e
modalidades do processo educativo;
V- reconhecer e respeitar as manifestações e
necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas
dos educandos nas suas relações individuais e coletivas;
[...]
IX- identificar problemas socioculturais e educacionais
com postura investigativa, integrativa e propositiva em
face de realidades complexas, com vistas a contribuir
para a superação de exclusões sociais, étnico-raciais,
econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; X-
demonstrar consciência da diversidade, respeitando as
diferenças de natureza ambiental-ecológica,
étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes
sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas
sexuais, entre outras.

Dar ênfase aos cuidados com as observações de forma humana dentro das salas de aulas e
dos espaços dedicados à especificidades educacionais é extremamente importante, sabendo
que, o “ser pedagogo” é ser ponte de transformação, transmissão de socialização entre as mais
diversas áreas e classes da sociedade. Ser pedagogo, independentemente da área de atuação, é
ser mobilizador de causas, utilizando todas as armas disponíveis para o ato de transmitir
(BOUCHERVILLE, 2019).

Em finalização da roda de diálogo, a professora Márcia Maria de Lima, trouxe uma nova
perspectiva sobre os desafios encontrados e impostos nos caminhos da educação. É de
entendimento que durante o percurso da profissão, os desafios são naturalmente levados em
conta e um dos enormes desafios é em relação ao pedagogo e o conflito de identidade. Pode
ser que ainda de forma errônea, existam interpretações que diferem das verdadeiras
representações práticas da atuação profissional e pessoal do pedagogo.
A responsabilidade da transformação e da transmissão é uma atitude e essa atitude gera um
desafio que deve ser sempre tomado como o diferencial profissional. O papel do professor
(pedagogo) é estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem; em que professor, ao
passo que ensina, também aprende. Juntos, professor e estudante aprendem juntos, em um
encontro democrático e afetivo, em que todos podem se expressar. (FREIRE, 1989)

Tendo em vista todos os pontos analisados, é certo que houveram grandes transformações
e manifestações de todos os aspectos por toda a turma. Ao final da roda de diálogo, surgiram
dúvidas, opiniões e expressões que levaremos sempre em nossos corações. A oportunidade de
participar de uma roda de diálogo que nos retirou do conformismo e do pragmatismo natural
de cada aluno, é referência para a formação integral dos profissionais da educação. Somente
pela e na educação que haveremos métodos eficazes de transformação social e de uma nova
oportunidade de abraçar todos os envolvidos.

“⁠Um dia perguntaram a um sábio quantas luzes é necessário para iluminar a noite e um
homem, então ele respondeu: a noite é necessário várias luzes, o homem apenas uma,
educação.” (MARX, 1889)

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso


de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de
2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf. Acesso em: 31
ago. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com
Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília-DF, 2014.

FREIRE, Paulo, 1963. Conscientização e Alfabetização: uma nova visão do Processo.


Estados Unidos. Revista de cultura da Universidade do Recife, nº 4, abr-jun.

FREIRE, Paulo, 1979. “Conscientização: Teoria e Prática da Libertação – Uma


Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes.

FESTINGER, L. (1957). Uma teoria de dissonância cognitiva. Stanford: Stanford


University Press.

GRAMSCI, Antonio. A Concepção Dialética de História. Rio de Janeiro, Civilização


Brasileira, 4ª. Edição, 1981

MORAN, José. Silicon Schools. O ato de ensinar em um ambiente de ensino híbrido -


repensando o papel do professor. Silicon Schools. 2014.

PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: identidade e saberes da docência.


In: PIMENTA, Selma Garrido (org). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo:
Cortez, 1999.

LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão da Escola. Goiânia: Alternativa, 2001.

LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e Pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1998.

LIBANEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação de profissionais da


educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Disponível em: . Acesso em:
30/07/2010.

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