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Acadêmica Docente
Vol. III, Nº. 5, Ano 2009
RESUMO
Maria Cristina M. Barbosa
Faculdade Anhanguera de Valinhos Ao não percebermos que, em alguns momentos e em algumas situações o
nosso saber acadêmico nos aponta para um mundo e o senso comum nos
mcbarbosa@directnet.com.br
aponta para outro mundo, comprometemos o nosso desempenho
profissional. Torna-se necessário compreender o sentido, o significado e a
finalidade da nossa docência através do entendimento dos seus
pressupostos filosófico-pedagógicos. A presente reflexão sobre as várias
tendências pedagógicas (Tradicional, Cientificista e Interacionista) estabelece
parâmetros para que melhor entendamos a nossa prática docente naquilo
que a caracteriza: o ensinar e o aprender.
ABSTRACT
When we realize that in some times and in some situations our academic
knowledge points us to a world and common sense points us to another
world, committed to our professional performance. It is necessary to
understand the meaning, the meaning and purpose of our teaching through
an understanding of its philosophical and pedagogical assumptions. This
reflection on the various pedagogical trends (Traditionally, Scientific and
Interactionist) establishes parameters to better understand our teaching
practice what characterizes it: the teaching and learning.
1. INTRODUÇÃO
2A expressão Homem, neste texto, terá sempre o sentido de HUMANO, com todas as possibilidades de gênero constitutivas
da condição humana.
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3 Para melhor compreender esta inter-relação ver Barbosa, M.C.M. Ensino-aprendizagem: pressupostos histórico-filosóficos.
Material da 1ª. aula da Disciplina Fundamentos Teóricos do Ensino Aprendizagem, ministrada no Curso de Pós-Graduação
Lato Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação Docente.Valinhos, SP:
Anhanguera Educacional, 2009.
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Nesta epistemologia, o professor será sempre a figura central uma vez que ele é
aquele que já conseguiu aprender e por isso tem compromisso moral e político de tirar
seus alunos da ignorância. A Educação será inevitavelmente centrada na figura do
professor. Magistrocêntrica.
4 O recurso do esquema será utilizado para a melhor visualização das características geras das tendências pedagógicas.
Entretanto, é bom lembrar que este recurso é simplificador e reducionista, devendo ser visto como forma de compactar a
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Também não é o fato de se usar, por exemplo, um data-show que retirará da nossa prática
o seu caráter tradicional conteudístico. Não basta mudar apenas as ferramentas.
informação e, em momento algum, como simplificação reducionista da concepção filosófico-pedagógica, pois, se isto
ocorresse, estaríamos produzindo um saber fragmentado e contraditório, próprio do senso comum.
5 Em Filosofia nem sempre o repensar significa mudar de idéia. Significa que entendi e escolhi conscientemente a minha
prática. Esta é a passagem do senso comum para a consciência filosófica, como diz Saviani (1980).
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continuação
Teorias/ Pedagogia Escola Nova Pedagogia não diretiva Pedagogia Tecnicista
Métodos de • Aprender Fazendo. • O trabalho escolar deve • Tecnologia Educacional.
ensino levar ao relacionamento
• Método do Centro de • Controle do Ambiente.
interpessoal e ao
Interesse.
crescimento pessoal. • Transmissão.
• Método da Pesquisa
• Recepção de Informações.
Científica.
• Objetivos, Procedimentos e
Avaliações Mensuráveis.
Relação • Vivência Democrática. • Professor é o facilitador. • Comunicação Técnica.
Professor
• Professor Colaborativo. • Professor Especialista em • Aluno Responsivo.
x Relações Humanas.
• Aluno Solidário. • Professor Estimulador.
Aluno • Educação centrada no
• Respeitadores das
aluno.
Regras Grupais.
Pressupostos • Motivação. • Motivação = Desejo de • O Ensino é um Processo de
da auto-realização. Condicionamento.
• Aprender é Descobrir.
Aprendizagem
• Auto-Avaliação. • Behaviorismo.
• Aprendizagem por
interesse. • Contratos de
Aprendizagem.
• Avaliação Continuada.
• Auto-Gestão.
Manifestações • Dificuldade para • Escola com • Adequação da Escola aos
na Prática enfrentar o aconselhamento. modelos de racionalização do
Escolar tradicionalismo. mundo do trabalho. (Taylor).
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retalhada. A escola ajudou neste projeto e hoje está sendo obrigada a repensar suas
práticas para que os saberes não separem, mas unam de forma inter e transdisciplinar,
como querem Edgard Morin e outros que serão também objeto de nosso estudo.
Os Valores são definidos pelo tipo de relação de poder que os Homens estabelecem entre
si na sua prática real, que é política. O Conhecimento é interacionista, dialético. Esta é
uma situação indissolúvel: Sujeito e Objeto em permanente interação e construção de
sentidos. A Educação: “A educação é um processo individual e coletivo” (SEVERINO,
1994, p. 34).
6 Pertencem ainda a esta concepção as teorias sócio-interacionistas e construtivistas que surgiram no bojo da Psicologia
Cognitiva e da Lingüística e, que devido à sua importância para as atuais teorias da aprendizagem, serão objeto de estudo
num momento posterior.
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continuação
Teorias Pedagogia Libertadora Pedagogia Libertária Pedagogia Crítico-Social
Pressupostos • Experiências concretas. • Motivação. • O conhecimento novo funda-se
da no antigo.
• O aluno deve falar a sua • O vivido, como ponto de
Aprendizagem
Palavra. partida. • Parte-se do que o aluno já sabe.
• ALEGRIA. • Sem avaliação.
Manifestações • Engajamento Político. • Estímulo à emancipação. • Ruptura com a ideologia
na Prática dominante.
• Educação Popular e de • Anarquismo.
Escolar
adulto. • Reflexão.
• Autogestão.
Principais • Paulo Freire / Miguel • Proudhon / Bakunin / • Saviani / Snyders.
Autores Arroyo. Ferrer i Guardia / Lobrot /
Silvio Gallo.
Fonte: Elaboração e Organização: Profª Mª Cristina Mesquita Barbosa – 2009.
Baseando-se em Severino (1994); Aranha (2006b); Luckesi (1994).
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Saviani argumenta que ao não querer ser conteudista a pedagogia interacionista produzia
uma dupla exclusão: reforçava a exclusão social já existente e criava a exclusão do saber
culto – reforçando politicamente a submissão social, através do fracasso real deste aluno
em situações que exigiam maior sofisticação do saber.
Na segunda metade do século XX, mais precisamente após o final da 2ª Guerra Mundial,
inicia-se o que seria chamado de a desconstrução do projeto iluminista da Modernidade.
Este projeto poderia ser sintetizado na seguinte verdade paradigmática: A fé na
Racionalidade do Homem e no Progresso Científico.
Para atingir tais objetivos a modernidade contaria com a ajuda da Escola que se
tornara pedagogicamente naturalista/positivista, pautada pela metodologia cientificista e
pelo domínio do saber especializado, dividido, fragmentado. Dividir para conhecer;
conhecer para dominar; este seria o poder do saber. Este projeto iluminista tinha o sonho
da vitória da racionalidade técnico-científica sobre todos os problemas, fossem sociais ou
humanos ou de outra ordem, o que levaria a humanidade ao progresso e à felicidade.
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Eram necessárias uma nova Pedagogia e uma nova Escola que dessem conta
destes novos tempos. Neste contexto surge a Pedagogia Holonômica ou Pedagogia da
Unidade que tem Edgard Morin o seu pensador referencial. No Brasil, alguns pensadores
como Ugo Assman e Leonardo Boff também defendem os seguintes princípios
pedagógicos:
Para Morin (2002) temos uma educação que nos preparou muito bem para
dividir e pouco nos diz a respeito do reunir. Segundo diz, isto é diabólico7, precisamos
aprender a religar8, pois esta deve ser a nova forma do pensar: o pensamento sistêmico ou
complexo9. Este é o fundamento do novo saber: o saber complexo, o saber em rede, o
saber sistêmico.
Para ensiná-lo será necessária uma nova escola que despertará o Homem para os
sete saberes que serão necessários para que viva o futuro e que, segundo Morin (2002),
são:
1) Ensinar a Conhecer.
2) Ensinar a Pensar.
3) Ensinar a Condição Humana.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia. A história da educação e da pedagogia – geral e do Brasil. São Paulo.
Moderna. 2006. PLT – Curso de Pedagogia Anhanguera Educacional.
______. Filosofia da Educação. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
BARBOSA, Maria Cristina Mesquita. A formação do administrador de empresas na sociedade
global: perspectivas e contradições do ensino da filosofia e da ética. Faculdade de Educação -
UNICAMP . Campinas, SP. [s.n], 2002. Disponível em:
<http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000265196>.
______. Ensino-aprendizagem: pressupostos filosóficos. Material da 1ª. aula da Disciplina
Fundamentos Teóricos do Ensino Aprendizagem, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação
Docente.Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009.
CORTELA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 10.
ed. São Paulo: Cortez - Instituto Paulo Freire, 2006.
GADOTTI, M. et al. Educação no século XXI: perspectivas e tendências. São Paulo: Ed. Segmento –
Duetto, 2006. (Coleção Memória da Pedagogia, n. 6).
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos,
São Paulo, Loyola, 1985.
LUCKESI, C. Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
MORIN, E. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
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SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica. 8. ed. rev. ampl. Campinas, SP: Autores Associados,
2003.
______. Escola e democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1988.
______. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez - Autores
Associados, 1980.
SEVERINO, A.J. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.
SILVA, Marco. Educar em nosso tempo: desafios da teoria social pós-moderna. In: MAFRA, L.A.;
TURA, M.L.R. (Org.). Sociologia para educadores 2: o debate sociológico da educação no século
XX e as perspectivas atuais. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.
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