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Anuário da Produção APRENDIZAGEM: TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS1

Acadêmica Docente
Vol. III, Nº. 5, Ano 2009

RESUMO
Maria Cristina M. Barbosa
Faculdade Anhanguera de Valinhos Ao não percebermos que, em alguns momentos e em algumas situações o
nosso saber acadêmico nos aponta para um mundo e o senso comum nos
mcbarbosa@directnet.com.br
aponta para outro mundo, comprometemos o nosso desempenho
profissional. Torna-se necessário compreender o sentido, o significado e a
finalidade da nossa docência através do entendimento dos seus
pressupostos filosófico-pedagógicos. A presente reflexão sobre as várias
tendências pedagógicas (Tradicional, Cientificista e Interacionista) estabelece
parâmetros para que melhor entendamos a nossa prática docente naquilo
que a caracteriza: o ensinar e o aprender.

Palavras-Chave: tendências pedagógicas; pedagogia: tradicional;


cientificismo; interacionismo; ensino-aprendizagem.

ABSTRACT

When we realize that in some times and in some situations our academic
knowledge points us to a world and common sense points us to another
world, committed to our professional performance. It is necessary to
understand the meaning, the meaning and purpose of our teaching through
an understanding of its philosophical and pedagogical assumptions. This
reflection on the various pedagogical trends (Traditionally, Scientific and
Interactionist) establishes parameters to better understand our teaching
practice what characterizes it: the teaching and learning.

Keywords: educational trends; pedagogy: traditional; scientism;


interactionism; teaching-learning.

Anhanguera Educacional S.A.


Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
rc.ipade@unianhanguera.edu.br
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 1 Material da 2ª. aula da Disciplina Fundamentos Teóricos do Ensino
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Aprendizagem, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Didática e
Informe Técnico Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação
Recebido em: 30/05/2009 Docente. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009.
Avaliado em: 27/01/2010
Publicação: 21 de abril de 2010
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1. INTRODUÇÃO

Diferenças de concepção apontam para mundos distintos, também na Educação. Em


princípio, o cotidiano do educador, assim como o da quase totalidade dos Homens2, não
se fundamenta em reflexões criticamente construídas, e sim em um “senso comum que foi
adquirido, ao longo do tempo, por acúmulo espontâneo de experiências ou por introjeção
acrítica de conceitos, valores e entendimentos vigentes e dominantes no seu meio”
(LUCKESI, 1994, p. 93). São explicações que produzem uma visão de mundo fragmentada
e, por vezes, contraditória.

A compreensão do que seja a nossa prática pedagógica também se funda em


saberes do senso comum que, no dizer de Luckesi (1994), nos ensinam o que é o bom
professor (aquele que deve dominar algumas rotinas, tais como: saber e saber apresentar
conteúdos; controlar alunos, avaliar a aprendizagem e produzir o disciplinamento); o que
é o bom aluno (deve ser passivo; deve depender do saber do professor; deve fazer as
coisas como o professor quer); e o que é o Conhecimento (um conjunto de informações
apresentadas ou lidas no livro texto, que quase sempre se torna texto sagrado), devendo ser
retido e repetido.

É a partir desta concepção de senso comum que se instala grande parte da


contradição de nossa prática em sala de aula, pois nem mesmo nós, educadores,
percebemos que, em alguns momentos e algumas situações o nosso saber acadêmico nos
aponta para um mundo e o senso comum nos aponta para outro mundo, (afinal diferentes
concepções apontam para mundos distintos) o que se traduz em comprometimento do
nosso desempenho.

Só há uma saída: o sentido, o significado e a finalidade da nossa docência


precisam ser constantemente inventariados, através da compreensão dos seus
pressupostos filosófico-pedagógicos, os quais revelarão que nossos modelos de pensar e
de agir pedagogicamente são construídos na História por outros Homens. Portanto,
apesar de serem assim como são, não precisam continuar a sê-lo.

A presente reflexão sobre as várias tendências pedagógicas pretende nos fazer


compreender melhor nossa prática docente e aquilo que a caracteriza: o ensinar e o
aprender. As várias tendências pedagógicas nos mostram que diferenças de concepção
apontam para mundos distintos, também na Educação.

2A expressão Homem, neste texto, terá sempre o sentido de HUMANO, com todas as possibilidades de gênero constitutivas
da condição humana.

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2. AS PEDAGOGIAS: TRADICIONAL, CIENTIFICISTA E INTERACIONISTA

A partir do entendimento a respeito daquilo que constitui o Homem a ser educado


(antropologia); dos valores que a ele devem ser ensinados através dos conteúdos
(axiologia); e da maneira como este Homem aprenderá (epistemologia) a Pedagogia
estabeleceu as suas grandes tendências, em conformidade com os caminhos trilhados
pelas concepções filosóficas que as fundamentam3.

Assim sendo, a concepção filosófica essencialista fornecerá os pressupostos para


a Pedagogia Tradicional; a concepção filosófica naturalista, os da Pedagogia Cientificista e
a Concepção filosófico-histórica – social fundamentará a Pedagogia Interacionista. São
diferentes concepções. O mundo da educação para o qual orientam o nosso olhar docente
será diversificado, como também será a prática que dele se origina. Para bem inventariar o
nosso cotidiano, possibilitando a nossa saída do senso comum pedagógico para a
consciência crítica, como diz Saviani (1980) é preciso compreender melhor estas
pedagogias e seus desdobramentos na sala de aula.

2.1. Pedagogia Tradicional

Tendo por pressuposto filosófico a concepção essencialista (inatista / apriorística) a


Pedagogia Tradicional entenderá que: o Homem é portador, desde o seu nascimento, de
características essenciais, comuns a todos e é definido pelas características que
permanecem, não pelas que mudam.

Este entendimento se refletirá na concepção pedagógica tradicional que, ao


entender que todos os Homens são metafisicamente iguais, fundará uma prática de sala
de aula única para todos e repetitiva, pois as condições humanas da aprendizagem serão
essencialmente sempre as mesmas. Os Valores que presidem a ação do Homem serão os
valores ÉTICOS. O Homem não é responsável por suas características metafísicas, inatas,
mas é responsável pela sua ação moral.

O Conhecimento é apriorista, inato. O Homem nasce com características


espirituais que validarão o seu conhecimento a priori. O espírito racional do Homem
reconhece os modelos metafísicos universais em cada situação particular. Portanto, para
que este Homem aprenda ou conheça, será preciso uma boa metodologia.

3 Para melhor compreender esta inter-relação ver Barbosa, M.C.M. Ensino-aprendizagem: pressupostos histórico-filosóficos.

Material da 1ª. aula da Disciplina Fundamentos Teóricos do Ensino Aprendizagem, ministrada no Curso de Pós-Graduação
Lato Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação Docente.Valinhos, SP:
Anhanguera Educacional, 2009.

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Nesta epistemologia, o professor será sempre a figura central uma vez que ele é
aquele que já conseguiu aprender e por isso tem compromisso moral e político de tirar
seus alunos da ignorância. A Educação será inevitavelmente centrada na figura do
professor. Magistrocêntrica.

De modo esquemático4, a Pedagogia Tradicional poderá ser vista no Quadro 1.

Quadro 1 – Características da Pedagogia Tradicional.


Papel da escola - Preparar o Homem Culto e Virtuoso.
- A Escola deve preparar intelectual e moralmente o aluno para viver
em sociedade.
Conteúdos do ensino - Enciclopédicos-Clássicos.
- Não necessitam fazer parte da vida particular do aluno, mas devem
fazer parte da vida essencial de todos os homens.
Métodos de ensino - Expositivo-Dialogado (Maiêutica).
- Conteudista/-/ Verbalista.
- Repetitivo.
Relação Professor x aluno - O Professor é figura Modelar e Central.
- A Autoridade é do Professor que sabe.
- Ao aluno compete: Atenção / Silêncio / Repetição.
Pressupostos da aprendizagem - Todos os Homens possuem essencialmente o mesmo potencial de
aprendizagem. Por isso os programas podem ser iguais.
- Aprendizagem receptiva.
- Avaliação Quantitativa (Conteúdos) e Ética (não colar).
Manifestações na prática escolar - Modelo vigente ainda hoje na maioria das salas de aula, da maioria
das escolas.
Fonte: Elaboração e Organização: Profª Mª Cristina Mesquita Barbosa – 2009.
Baseando-se em Severino (1994); Aranha (2006b); Luckesi (1994).

Esta tendência pedagógica é objeto de muitas críticas pela sua naturalização


metafísica da realidade, o que se deve ao seu comprometimento histórico com as elites e
grupos hegemônicos ao afirmar o predomínio da permanência sobre as mudanças; o
predomínio daquele que foi à escola sobre aquele que não foi; ao conceber a educação
como adequação a modelos e estereótipos ideais que se aprende a reproduzir na escola,
ratificando privilégios uma vez que, desde a sua fundação, a escola não foi para todos.

Entretanto, se a pedagogia tradicional é a mais utilizada em nossas práticas,


talvez não o seja pelo fato de a maioria de nossas aulas serem expositivas e conteudísticas,
uma vez que este tipo de aula também tem o seu lugar adequado em específicas tarefas
didáticas, tais como: passar a maior quantidade de conceitos no menor espaço de tempo.

4 O recurso do esquema será utilizado para a melhor visualização das características geras das tendências pedagógicas.

Entretanto, é bom lembrar que este recurso é simplificador e reducionista, devendo ser visto como forma de compactar a

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Também não é o fato de se usar, por exemplo, um data-show que retirará da nossa prática
o seu caráter tradicional conteudístico. Não basta mudar apenas as ferramentas.

O caráter tradicional é o mais utilizado porque se sustenta em pressupostos


antropológicos, axiológicos e epistemológicos que estão sendo aceitos por nós, daí a nossa
prática. Estes pressupostos dirigem o nosso olhar e determinam as nossas posturas. É
sobre este olhar que devemos repensar nossas práticas escolares e pedagógicas.5

2.2. Pedagogia Cientificista (Positivista)

Tendo como pressuposto filosófico a concepção naturalista, a Pedagogia Cientificista /


Positivista entenderá que: o Homem é uma realidade natural, portador de uma Razão
Natural e pode ser explicado, portanto, pelas mesmas Leis Naturais que explicam toda a
natureza.

Os Valores que devem prevalecer sobre os demais devem ser os da realidade


natural, e estes valores deverão ter uma validação científica e técnica. O Conhecimento é
Empírico: é “naturalizado”. Nada mais de modelos espirituais, metafísicos. O Homem é
portador de capacidade natural (Razão Natural) que o levará ao conhecimento.

A Educação nesta concepção deverá ser laica e científica e, ao compreender a


natureza de qualquer coisa, o Homem a dominará. O saber se torna pragmático e político.
Também de modo esquemático a Pedagogia Cientificista poderá assim ser vista no
Quadro 2, na especificidade de suas subdivisões: Escola Nova; Não-Diretiva e Tecnicista.

Quadro 2 – Características das Pedagogias Naturalistas / Cientificistas / Positivistas.


Teorias/ Pedagogia Escola Nova Pedagogia não diretiva Pedagogia Tecnicista
Papel da escola • A Escola deve retratar a • Escola deve desenvolver • Escola deve modelar
vida. atitudes. comportamentos.
• Deve possibilitar • Principal preocupação: • Deve produzir Homens,
Experiências Reais. ambiente psicológico. competentes para o mundo do
trabalho.
• Deve preparar para o
trabalho. • Capital Humano.
Conteúdos de • Conteúdo • O mais importante são as • Informações, Princípios
ensino enciclopédico-científico. relações humanas e a Científicos, estabelecidos e
comunicação. escolhidos por especialistas.
• Valorização maior dos
Processos do que dos • Eficiência e Racionalidade.
Conteúdos.

informação e, em momento algum, como simplificação reducionista da concepção filosófico-pedagógica, pois, se isto
ocorresse, estaríamos produzindo um saber fragmentado e contraditório, próprio do senso comum.
5 Em Filosofia nem sempre o repensar significa mudar de idéia. Significa que entendi e escolhi conscientemente a minha

prática. Esta é a passagem do senso comum para a consciência filosófica, como diz Saviani (1980).

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continuação
Teorias/ Pedagogia Escola Nova Pedagogia não diretiva Pedagogia Tecnicista
Métodos de • Aprender Fazendo. • O trabalho escolar deve • Tecnologia Educacional.
ensino levar ao relacionamento
• Método do Centro de • Controle do Ambiente.
interpessoal e ao
Interesse.
crescimento pessoal. • Transmissão.
• Método da Pesquisa
• Recepção de Informações.
Científica.
• Objetivos, Procedimentos e
Avaliações Mensuráveis.
Relação • Vivência Democrática. • Professor é o facilitador. • Comunicação Técnica.
Professor
• Professor Colaborativo. • Professor Especialista em • Aluno Responsivo.
x Relações Humanas.
• Aluno Solidário. • Professor Estimulador.
Aluno • Educação centrada no
• Respeitadores das
aluno.
Regras Grupais.
Pressupostos • Motivação. • Motivação = Desejo de • O Ensino é um Processo de
da auto-realização. Condicionamento.
• Aprender é Descobrir.
Aprendizagem
• Auto-Avaliação. • Behaviorismo.
• Aprendizagem por
interesse. • Contratos de
Aprendizagem.
• Avaliação Continuada.
• Auto-Gestão.
Manifestações • Dificuldade para • Escola com • Adequação da Escola aos
na Prática enfrentar o aconselhamento. modelos de racionalização do
Escolar tradicionalismo. mundo do trabalho. (Taylor).

Principais • Durkheim, Dewey, • Carl Rogers, A.S. Neill. • B. Skinner, T. Schultz.


Autores Montessori, Freinet,
Anísio Teixeira.
Fonte: Elaboração e Organização: Profª Mª Cristina Mesquita Barbosa – 2009.
Baseando-se em Severino (1994); Aranha (2006b); Luckesi (1994).

Esta tendência pedagógica do naturalismo/positivismo é objeto de crítica em


duas perspectivas. Primeiramente na perspectiva política, uma vez que se trata do pensar
científico da sociedade burguesa que, se por um lado, produziu o maior e mais rápido
desenvolvimento científico e tecnológico da história, produziu também o ideário científico
da domesticação humana e do colonialismo ao transpor para a relação entre os Homens os
princípios justificadores da dominação de alguns povos ou grupos por outros “mais
desenvolvidos”, (darwinismo social) entendendo ser esta uma etapa natural para que todos
atingissem a ordem e o progresso. É a naturalização daquilo que é histórico – social. Foi a
transformação do projeto elitista das sociedades escravistas, teocráticas, metafísicas em
projeto elitista da sociedade capitalista, burguesa, racional-científica. Como diriam os
filósofos da Escola de Frankfurt, a Razão Científica se torna instrumento (Razão
Instrumental) a serviço do capital e da manutenção do status quo.

A segunda, na perspectiva pedagógica, pois o saber empírico racional, baseado nas


especializações, ensinou o Homem a dividir o que nunca poderia ser dividido, ou seja, o
seu entendimento da realidade que é dinamicamente complexa e foi mecanicamente

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retalhada. A escola ajudou neste projeto e hoje está sendo obrigada a repensar suas
práticas para que os saberes não separem, mas unam de forma inter e transdisciplinar,
como querem Edgard Morin e outros que serão também objeto de nosso estudo.

2.3. Pedagogia Interacionista

Tendo por pressuposto filosófico a concepção histórico-social, a Pedagogia Interacionista


entenderá que: o Homem é um ser Natural e Histórico, capaz de modificar estas
condições através da Práxis (ação consciente). O que distingue o Homem dos irracionais é
a sua capacidade de se libertar das necessidades através do trabalho.

Os Valores são definidos pelo tipo de relação de poder que os Homens estabelecem entre
si na sua prática real, que é política. O Conhecimento é interacionista, dialético. Esta é
uma situação indissolúvel: Sujeito e Objeto em permanente interação e construção de
sentidos. A Educação: “A educação é um processo individual e coletivo” (SEVERINO,
1994, p. 34).

Ainda de modo esquemático, a Pedagogia Interacionista6 poderá assim ser vista,


no Quadro 3, considerando a especificidade de suas subdivisões: Libertadora; Libertária,
Crítico–Social.

Quadro 3 – Características da Pedagogia Histórico-Social.


Teorias Pedagogia Libertadora Pedagogia Libertária Pedagogia Crítico-Social
Papel da Escola • Educação Não-Formal. • Deve criar grupos auto- • Deve difundir conteúdos.
gestionários.
• Transformadora Social. • Garantir bom ensino.
• Escola Cidadã.
Conteúdos de • Temas centrais tirados da • Grupo escolhe o que • Reavaliação dos conteúdos
Ensino vida dos alunos. aprender. humanistas e científicos através
da crítica e historicização.

Métodos de • Diálogo. • Vivência Grupal. • Relação do Conteúdo com a


Ensino Vicência concreta.
• Grupo de discussão. • Processo coletivo.
• Autogestão.
Relação Professor: também • Não há modelos. • Professor deve ser o adulto da
Professor APRENDE. relação: exigir esforço e propor
conteúdos.
x Aluno: também ENSINA.
• Aluno – Interação crítica.
Aluno

6 Pertencem ainda a esta concepção as teorias sócio-interacionistas e construtivistas que surgiram no bojo da Psicologia

Cognitiva e da Lingüística e, que devido à sua importância para as atuais teorias da aprendizagem, serão objeto de estudo
num momento posterior.

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continuação
Teorias Pedagogia Libertadora Pedagogia Libertária Pedagogia Crítico-Social
Pressupostos • Experiências concretas. • Motivação. • O conhecimento novo funda-se
da no antigo.
• O aluno deve falar a sua • O vivido, como ponto de
Aprendizagem
Palavra. partida. • Parte-se do que o aluno já sabe.
• ALEGRIA. • Sem avaliação.
Manifestações • Engajamento Político. • Estímulo à emancipação. • Ruptura com a ideologia
na Prática dominante.
• Educação Popular e de • Anarquismo.
Escolar
adulto. • Reflexão.
• Autogestão.
Principais • Paulo Freire / Miguel • Proudhon / Bakunin / • Saviani / Snyders.
Autores Arroyo. Ferrer i Guardia / Lobrot /
Silvio Gallo.
Fonte: Elaboração e Organização: Profª Mª Cristina Mesquita Barbosa – 2009.
Baseando-se em Severino (1994); Aranha (2006b); Luckesi (1994).

Esta tendência é bastante polêmica e recebe críticas ao seu arcabouço político–


pedagógico. Por se tratar de uma concepção filosófica fundada no marxismo, sofre as
críticas comuns a esta visão de mundo, que se iniciariam com a da politização excessiva de
todas as instâncias, inclusive as do ensinar e do aprender, coerente com a sua axiologia
que tem na política o seu valor referencial. Levada ao extremo, a concepção pode se tornar
doutrina, dificultando a relação com o seu contrário.

São também objetos de crítica: o entendimento de que o Homem, sua consciência


e sua subjetividade são construções histórico-sociais, coletivas o que levaria esta
concepção a perder de vista o Homem particular, as suas sutilizas subjetivas, o seu EU
mais íntimo, a individualidade. Perde-se com este entendimento a idéia de mérito
individual, tão benquista por metafísicos (o mérito é conquista moral, individual) e por
positivistas (o mérito é conquista individual, resultado de competências técnico-científicas).
Para a concepção histórico-social, o mérito ou o demérito resultarão de oportunidades
sociais (ou da falta delas) e esbarrarão necessariamente na concepção de classe social e do
jogo político das hegemonias (dominantes e dominados).

Do ponto de vista pedagógico, há uma discussão que permeia a própria


pedagogia interacionista, que é a dos conteúdos a serem ensinados. Houve momento em
que ao se politizar esta questão, considerou-se que os chamados conteúdos clássicos,
(humanos e científicos) por pertencerem a um mundo metafísico/positivista refletiriam a
sua origem elitista e serviriam para a dominação das massas que não se reconheceriam
nesta cultura. Numa postura ingênua, os conteúdos não mais seriam importantes, com a
sua narrativa triunfal, própria dos dominantes.

Snyders (França) e Saviani (Brasil) contestaram os seus pares. A partir da noção


de inclusão dos socialmente excluídos, observando os alunos da escola pública brasileira,

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Saviani argumenta que ao não querer ser conteudista a pedagogia interacionista produzia
uma dupla exclusão: reforçava a exclusão social já existente e criava a exclusão do saber
culto – reforçando politicamente a submissão social, através do fracasso real deste aluno
em situações que exigiam maior sofisticação do saber.

Propôs a Pedagogia crítico-social (dos conteúdos) para se contrapor a estas


ingenuidades políticas, incentivou a volta dos conteúdos às salas de aula, mas
historicizados, relativizado-se, portanto, criticamente transformados.

Se metafísicos e positivistas foram acusados de naturalizar o que seria histórico, a


concepção histórico–social/interacionista é acusada de historicizar e politizar o que pode
ser apenas natural.

3. AS NOVAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Na segunda metade do século XX, mais precisamente após o final da 2ª Guerra Mundial,
inicia-se o que seria chamado de a desconstrução do projeto iluminista da Modernidade.
Este projeto poderia ser sintetizado na seguinte verdade paradigmática: A fé na
Racionalidade do Homem e no Progresso Científico.

O Homem moderno conscientizou-se da sua capacidade racional para desvendar


os segredos da natureza (criou a Ciência Moderna); encontrar soluções para seus
problemas (saber pragmático). Entendia que saber é Prever (Ciência) é Prover
(Tecnologia) e é Poder (Política). O saber seria, portanto, emancipador. O controle e
progresso seriam as máximas deste Homem.

Para atingir tais objetivos a modernidade contaria com a ajuda da Escola que se
tornara pedagogicamente naturalista/positivista, pautada pela metodologia cientificista e
pelo domínio do saber especializado, dividido, fragmentado. Dividir para conhecer;
conhecer para dominar; este seria o poder do saber. Este projeto iluminista tinha o sonho
da vitória da racionalidade técnico-científica sobre todos os problemas, fossem sociais ou
humanos ou de outra ordem, o que levaria a humanidade ao progresso e à felicidade.

O sonho acabou, no confronto com as duas guerras mundiais, Auschwitz e


Hiroshima, o desequilíbrio ecológico, a ameaça do saber a serviço de uma Razão
Instrumental, podendo a tudo destruir. Como falar em saber emancipatório após estas
barbáries?

Autores e movimentos diversos, considerados demolidores dos paradigmas da


modernidade, começaram a se manifestar contra esta visão racional científica e contra a
Pedagogia Positivista que possibilitava, através das escolas, a manutenção dos mesmos

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paradigmas universalizantes que, segundo os mesmos, eram também carentes de


conteúdo humano, afetivo, real.

Estes pensadores denominados pós-modernos propuseram novos paradigmas que


deveriam se firmar:

• No primado da anti-razão (emoção).


• No primado dos contratos afetivos (tribos).
• No primado das diferenças e alteridades.
• No primado do saber para viver aqui e agora.
• No primado da mudança sobre a permanência.

Eram necessárias uma nova Pedagogia e uma nova Escola que dessem conta
destes novos tempos. Neste contexto surge a Pedagogia Holonômica ou Pedagogia da
Unidade que tem Edgard Morin o seu pensador referencial. No Brasil, alguns pensadores
como Ugo Assman e Leonardo Boff também defendem os seguintes princípios
pedagógicos:

• O princípio unificador do Saber é o próprio Homem, que é essencialmente


contraditório e complexo.
• Valorizam: o cotidiano, o vivido, o pessoal, a singularidade, o acaso, as
pequenas narrativas, a multiplicidade e o multiculturalismo.
• A complexidade é a própria realidade em permanente construção e
reconstrução.
• As categorias Interdiciplinariedade e Transdisciplinariedade são construídas
na complexidade do real através do convívio, diálogo e trabalho em
grupo.

Para Morin (2002) temos uma educação que nos preparou muito bem para
dividir e pouco nos diz a respeito do reunir. Segundo diz, isto é diabólico7, precisamos
aprender a religar8, pois esta deve ser a nova forma do pensar: o pensamento sistêmico ou
complexo9. Este é o fundamento do novo saber: o saber complexo, o saber em rede, o
saber sistêmico.

Para ensiná-lo será necessária uma nova escola que despertará o Homem para os
sete saberes que serão necessários para que viva o futuro e que, segundo Morin (2002),
são:

1) Ensinar a Conhecer.
2) Ensinar a Pensar.
3) Ensinar a Condição Humana.

7 diabolus – em latim – aquele que separa.


8 religare – em latim – ligar de novo.
9 complexus – em latim – O que está tecido, entrelaçado.

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4) Ensinar a Identidade Terrena.


5) Ensinar a Enfrentar as Incertezas.
6) Ensinar a Compreensão.
7) Ensinar a Ética do Gênero Humano.
Conclui Morin (2002) que a educação deve ser um despertar para a vida, os
saberes não devem assassinar a curiosidade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferenças de concepção apontam para mundos distintos que se traduzirão em práticas


diferenciadas no cotidiano docente do ensino-aprendizagem.

Este relato sobre os variados caminhos da Pedagogia através da História, o


privilegiar de alguns aspectos que se configuram nas pessoas do educador e do educando
e dos conteúdos a serem ensinados e aprendidos, nos dá a certeza de que educar, no
século XXI, não se fará sem a reflexão sobre: cidadania, planetariedade, sustentabilidade,
virtualidade, globalização, transdiciplinaridade, dialogicidade sob pena de sermos
soterrados pelos fragmentos do senso comum.

Educar para incertezas, este é o grande desafio do educador em um mundo em


que a mudança substitui as permanências e os outros olhares.

REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia. A história da educação e da pedagogia – geral e do Brasil. São Paulo.
Moderna. 2006. PLT – Curso de Pedagogia Anhanguera Educacional.
______. Filosofia da Educação. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
BARBOSA, Maria Cristina Mesquita. A formação do administrador de empresas na sociedade
global: perspectivas e contradições do ensino da filosofia e da ética. Faculdade de Educação -
UNICAMP . Campinas, SP. [s.n], 2002. Disponível em:
<http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000265196>.
______. Ensino-aprendizagem: pressupostos filosóficos. Material da 1ª. aula da Disciplina
Fundamentos Teóricos do Ensino Aprendizagem, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação
Docente.Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009.
CORTELA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 10.
ed. São Paulo: Cortez - Instituto Paulo Freire, 2006.
GADOTTI, M. et al. Educação no século XXI: perspectivas e tendências. São Paulo: Ed. Segmento –
Duetto, 2006. (Coleção Memória da Pedagogia, n. 6).
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos,
São Paulo, Loyola, 1985.
LUCKESI, C. Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
MORIN, E. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica. 8. ed. rev. ampl. Campinas, SP: Autores Associados,
2003.
______. Escola e democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1988.
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XX e as perspectivas atuais. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.

Maria Cristina Mesquita Barbosa


Graduada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras de Poços de Caldas, MG (1969) e
mestre em Educação pela Universidade Estadual de
Campinas (2002), é professor adjunta das Faculdades
Anhanguera nos campi da Valinhos e Campinas unidade
1, além de ministrar aulas no curso de Capacitação
Docente. Exerce, atualmente, a Coordenação do Projeto
de Extensão “Faculdade Aberta da Terceira Idade” na
Faculdade Anhanguera de Valinhos. Tem experiência na
área de Filosofia, com ênfase em Filosofia e Filosofia da
Educação atuando principalmente nos seguintes temas:
filosofia, educação, ética, sociologia, didática.

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 5, Ano 2009 • p. 97-108

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